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Índice
1) Definição:
2) Regime jurídico do estabelecimento individual de responsabilidade limitada
(EIRL):
3) Vantagens do estabelecimento individual de responsabilidade limitada (EIRL):
3.1) Responsabilidade limitada pelas dívidas da empresa-estabelecimento:
3.2) Contornar a restrição de as pessoas singulares só poderem constituir uma única
sociedade unipessoal por quotas:
4) Desvantagens do estabelecimento individual de responsabilidade limitada (EIRL);
diferenças face à sociedade unipessoal por quotas (SUQ):
5) Exemplos de EIRL’s em funcionamento:
6) Número de EIRL’s registados em Portugal:
7) Firma:
8) Uma pessoa só pode ser titular de um único EIRL:
9) Natureza jurídica do EIRL – é uma pessoa coletiva rudimentar:
Notas:
– doravante, todas as disposições legais indicadas sem menção expressa da respetiva
fonte reportam-se a este diploma legal;
– ver bibliografia sobre o EIRL na presente nota de rodapé [2].
Definições:
Empresário em nome individual (ENI) – é a pessoa singular que explora uma empresa
(em sentido objetivo: empresa-estabelecimento ou empresa-organização de fatores de
produção destinada ao exercício de uma atividade económica) por conta própria (isto
é, sem o recurso a uma pessoa coletiva nem a um património autónomo: os efeitos
jurídicos decorrentes dessa exploração repercutir-se-ão diretamente na sua esfera
jurídica pessoal).
Ora, o EIRL vem responder precisamente a este problema e a esta velha ambição dos
comerciantes e empresários em nome individual de terem a sua responsabilidade
limitada. Com efeito, com o EIRL, pelas dívidas relacionadas com a atividade
compreendida no objeto do estabelecimento individual de responsabilidade limitada
(fornecedores, banca, trabalhadores, etc…) respondem, via de regra, apenas os bens
a este afetados (art. 10.º).
Com o surgimento das sociedades unipessoais por quotas em 1996, o EIRL perdeu uma
boa parte da sua importância prática: passou a existir um instrumento jurídico mais
apto e adequado para o exercício de uma atividade económica com o benefício da
responsabilidade limitada.
Contudo, nos dias de hoje, o EIRL ainda pode ter alguma utilidade, uma vez pode ser
usado (como expediente jurídico) para contornar licitamente a restrição de as
pessoas singulares só poderem constituir uma única sociedade unipessoal por quotas.
De facto:
Restrições:
1 – Uma pessoa singular só pode ser sócia de uma única sociedade unipessoal por
quotas.
2 – Uma sociedade (unipessoal) por quotas não pode ter como sócio único uma (outra)
sociedade unipessoal por quotas.
Existem várias formas de contornar licitamente estas duas restrições. Ora, uma
dessas formas é precisamente através da constituição de um EIRL. Com efeito, uma
pessoa singular pode, por exemplo, constituir uma sociedade unipessoal por quotas e
posteriormente constituir um EIRL obtendo, assim uma separação/segregação do seu
real património em três esferas jurídicas/patrimónios:
EIRL:
SUQ:
Inversamente, as sociedades unipessoais por quotas podem ser constituídas tanto por
pessoas singulares como por pessoas coletivas (como outras sociedades comerciais ou
sociedades civis sob forma comercial que, por exemplo, adotem o tipo de sociedade
por quotas, ou o tipo de sociedade anónima) determinando-se, contudo, que:
– uma pessoa singular só pode ser sócia (única) de uma única sociedade unipessoal
por quotas; e
– uma sociedade unipessoal por quotas não pode ter como sócio único uma (outra)
sociedade unipessoal por quotas (art. 270.º-C, nºs 1 e 2 do CSC [4]).
EIRL:
Nota: o n.º 2 deste artigo estabelece uma inversão do ónus da prova, que é
manifestamente desnecessária e desproporcional e que atenta contra os mais
elementares princípios do Estado de Direito (arts. 2.º e 18.º da Constituição da
República Portuguesa [5]). Esta norma parece-nos, por isso, claramente
inconstitucional (não vale tudo para arrecadar receita fiscal. Mais haveria por
dizer…)
SUQ:
Ora, não vigora um regime semelhante para os sócios únicos das sociedades
unipessoais por quotas, enquanto tal (enquanto sócios únicos).
Trata-se de uma falsa exceção à responsabilidade limitada dos sócios; com efeito, a
reversão fiscal incide apenas sobre gerentes ou administradores, de Direito ou de
facto. Na verdade, os gerentes das sociedade unipessoais por quotas não têm
necessariamente que ser os respetivos sócios únicos: podem ser designados um ou
mais sujeitos que não o sócio único (arts. 253.º, n.º 1 e 270.º-G do CSC [7]).
Porém, na prática, na maioria das sociedades unipessoais por quotas o sócio único
exerce diretamente a gestão desta, cumulando assim a qualidade de sócio único com o
cargo de gerente (também único). São os chamados sócios-gerentes.
EIRL vs SUQ:
Tendo em conta que o incumprimento de dívidas fiscais por parte de um devedor surge
muitas vezes associados à declaração da sua insolvência, o regime do EIRL e o da
SUQ acaba por conduzir, na prática, aos mesmos resultados. Porém, formalmente, o
regime que vigora para o titular do EIRL é mais gravoso.
4.3) Capital social mínimo: 5000,00€ (5k) no EIRL vs 1,00€ nas SUQ:
SUQ: por sua vez, as sociedades unipessoais por quotas têm um capital social mínimo
de 1,00€ (um euro) (arts. 201.º, 219.º, n.º 3 e 270.º-G do CSC.
4.4) Autonomia patrimonial no EIRL é mais fraca do que a autonomia patrimonial nas
sociedades unipessoais por quotas:
EIRL:
Por outro lado, se o EIRL tiver sido administrado por outras pessoas que não o seu
titular ou simultaneamente pelo seu titular e por outras pessoas, também esses
terceiros respondem de forma ilimitada com todo o seu património se, durante essa
administração, tiver havido confusão de patrimónios (art. 11.º, n.º 3).
Por sua vez, nas sociedades unipessoais por quotas (constituídas originariamente
por apenas um sócio ou resultantes de transformação) não vigora este regime.
4.5) O EIRL não é uma pessoa coletiva (não tem personalidade jurídica); ao
contrário da sociedade unipessoal por quotas:
EIRL – tem autonomia patrimonial, mas não tem personalidade jurídica (plena). Pelo
que, o EIRL não é um novo sujeito de Direito autónomo e separado face ao sujeito do
respetivo titular; não é uma entidade autónoma com suscetibilidade ou aptidão para
ser titular, em nome próprio, de direitos e obrigações. Tem, contudo, personalidade
jurídica rudimentar ou mera subjetividade jurídica.
7) Firma:
A firma do estabelecimento individual de responsabilidade limitada é composta:
i) pelo nome do seu titular (firma-nome);
ii) acrescido ou não de uma referência ao objeto do comércio nele exercido (firma-
denominação, firma-objeto ou firma particular); e,
iii) incluirá sempre o aditamento «Estabelecimento Individual de Responsabilidade
Limitada» ou a sigla «E. I. R. L.» (art. 2.º, n.º 3 do Decreto-Lei n.º 248/86, de
25 de agosto e art. 40.º, n.º 1 do Regime Jurídico do Registo Nacional de Pessoas
Coletivas, constante do Decreto-Lei n.º 129/98, de 13 de maio, com as alterações
subsequentes [10]).
O nome do titular pode ser abreviado, mas a sua abreviação não pode reduzir-se a um
só vocábulo, a menos que a adição efetuada o torne completamente individualizador
(arts. 40.º e 38.º, n.º 3 2ª parte).
O EIRL que não use como firma apenas o nome completo ou abreviado do respetivo
titular tem direito ao uso exclusivo da sua firma desde a data do registo
definitivo e no âmbito do concelho onde se encontra o seu estabelecimento comercial
principal.
Como já foi referido, vigora uma solução semelhante para as sociedades unipessoais
por quotas (cfr. art. 270.º-C, n.ºs 1 e 2 do CSC [11]).