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AULA 8

TEORIA GERAL DO DIREITO


SOCIETÁRIO
8.1 CONCEITO:
• A sociedade é uma reunião de pessoas com o
objetivo de unir esforços e recursos para realizar
uma atividade econômica.
• Na relação das pessoas jurídicas descritas no art.
44 do Código Civil de 2002, as sociedades figuram
junto com as associações, fundações, organizações
religiosas, partidos políticos.
• Mas é importante ressaltar que a existência das
pessoas jurídicas só começa com o registro, como
veremos a seguir.
A sociedade constitui-se por meio de um contrato
entre duas ou mais pessoas, que se obrigam
a combinar esforços e recursos para atingir fins
comuns (art. 981 do Código Civil de 2002).
Como regra, os sócios contribuem para a
formação do patrimônio social, mas em algumas
sociedades é possível que o sócio apenas contribua
com a prestação de serviços, como é o caso de
algumas cooperativas (dependendo dos critérios de
adesão presentes no estatuto social) e das
sociedades simples, que não adotam nenhum tipo
societário específico, como veremos posteriormente.
Na sociedade limitada e na sociedade por ações, o
sócio necessariamente deve contribuir
com dinheiro ou com bens, existindo vedação
expressa para o ingresso de sócio que apenas
contribua com o trabalho (art. 1.055, § 2º, do
Código Civil de 2002 e art. 7º da Lei n. 6.404/76).
8.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS:
a) Sociedades pluripessoais e unipessoais:
• Na regra geral, a quantidade de pessoas necessárias
para a constituição de uma sociedade é de ao menos
duas pessoas – pluripessoais.
Entretanto, o ordenamento prevê a existência de
sociedades unipessoais, ou seja, sociedades que
existem com a presença de apenas uma pessoa. São
elas:
1) a subsidiária integral (art. 251 da Lei n.
6.404/76), que é um tipo de sociedade anônima, cujo
capital social está totalmente nas mãos de uma pessoa
jurídica brasileira, sem duração predeterminada;
2) qualquer S.A., que pode permanecer por até um ano com apenas
um acionista. Note-se que na Lei consta que a unipessoalidade pode se
manter de um exercício para o outro (art. 206, I, d, da Lei n. 6.404/76);
3) de qualquer sociedade regida pelo Código Civil, que pode
permanecer por até 180 dias com apenas um sócio (art. 1.033, IV, do
Código Civil de 2002);
4) a sociedade unipessoal de advocacia, que está prevista no art. 15
da Lei n. 8.906/94, segundo alteração da Lei n. 13.247/2016, na qual
é possível que apenas um advogado constitua a sociedade, desde que
efetue o registro no Conselho Seccional da OAB. Nessa sociedade, o
sócio e o titular da sociedade individual de advocacia respondem
subsidiária e ilimitadamente pelos danos causados aos clientes por ação
ou omissão no exercício da advocacia (art. 17 da Lei n. 8.906/94);
5) a Sociedade Unipessoal Limitada (SUL), estabelecida a partir da
Lei n. 13.874/2019, que permite a criação de uma sociedade limitada a
partir de um único sócio (art. 1.052, § 1º, do CC).
Obs.1: Ressalte-se que até abril de 2019 a única
sociedade que podia existir originariamente como
unipessoal era a de advocacia, mas, com a Lei n.
13.874/2019, a sociedade limitada também pode ser
unipessoal, sem se sujeitar a qualquer prazo.
Obs.2: Além disso, em alguns casos, existe a
exigência de que apenas pessoas físicas possam
compor o quadro societário, como é o caso da
sociedade em nome coletivo e dos sócios
comanditados na sociedade em comandita simples.
Obs.3: Nas demais sociedades, o quadro societário
pode ser composto de pessoas físicas ou jurídicas.
b) Nome empresarial:
• O nome empresarial é o termo registrado na Junta
Comercial pelo empresário individual e sociedade
empresária.
• Só se pode falar em proteção desse nome empresarial
se houver o registro. Por ser registrado nesse órgão,
a proteção do nome empresarial ocorre apenas no
território estadual, já que a circunscrição da Junta
Comercial é estadual (art. 1.166 do CC).
•  É necessário que se respeitem os princípios da
veracidade, da novidade (art. 33 da Lei n. 8.934/94)
e da exclusividade, de que tratamos anteriormente.
Adaptando a compreensão desses princípios ao
nome empresarial adotado pela sociedade:
1) o princípio da veracidade indica que o nome deve
expressar o ramo de atividade, a espécie societária, a
responsabilidade dos sócios;
2) o princípio da novidade indica que só pode ser
escolhido um nome empresarial diverso dos já
registrados na Junta Comercial daquele Estado e em
determinado ramo de atividade;
3) o princípio da exclusividade, por sua vez,
esclarece que quem primeiro registrou o nome possui
a exclusividade do uso do termo naquele ramo de
atividade.
O instrumento processual usado para impugnar um
nome empresarial que não respeite os princípios
acima é a ação de anulação de nome empresarial,
prevista pelo art. 1.167 do Código Civil, que seguirá
pelo procedimento comum.
O nome empresarial pode ser redigido sob a forma
de firma individual, firma social (razão social) ou
denominação social.
Na razão social, o nome empresarial será redigido
pelo patronímico dos sócios (sociedade em nome
coletivo, sociedade em comandita simples,
sociedade limitada, sociedade em comandita por
ações).
Na denominação social, o nome empresarial é
composto por um nome inventado, contendo sempre
que possível o ramo de atividade (sociedade limitada,
sociedade anônima, sociedade em comandita por
ações).
Obs.1: No caso da sociedade limitada e da sociedade
em comandita por ações, podem utilizar a razão social
ou a denominação social, e a forma de responsabilidade
dos sócios será definida pela lei, como será explicado
adiante.
Obs.2: O nome empresarial, como regra, não pode ser
objeto de alienação, a não ser que seja adaptado de
acordo com a nova composição societária (art. 1.164 do
Código Civil de 2002).
RAZÃO SOCIAL OU FIRMA
DENOMINAÇÃO SOCIAL
SOCIAL

Nome empresarial é composto pelo


Nome empresarial é inventado
patronímico dos sócios

Sociedade em nome coletivo, sociedade


em comandita simples, sociedade Sociedade anônima, sociedade limitada,
limitada, sociedade em comandita por sociedade em comandita por ações
ações
c) Sociedade conjugal:
• No Código Civil de 2002, é proibida a sociedade
constituída entre marido e mulher, se forem casados sob o
regime de comunhão universal ou separação
obrigatória de bens (art. 977).
• A ideia do legislador era proteger o interesse dos herdeiros
ou de terceiros que contratam com a sociedade. No caso do
regime da separação obrigatória, o legislador pretende a
não comunicação de bens entre os cônjuges, preservando
o patrimônio dos herdeiros. Nesse caso, se a sociedade
fosse constituída, os bens se comunicariam na sociedade.
• No caso do regime de comunhão universal, o objetivo é a
proteção dos credores, já que se encontrariam duas
pessoas, mas com o patrimônio de uma só.
• Essa proibição atinge apenas os cônjuges que participam da
mesma sociedade. 
Enunciado n. 205 do CJF, que dispõe que “a
vedação à participação de cônjuges casados nas
condições previstas no artigo refere-se unicamente a
uma mesma sociedade”, abrangendo “tanto a
participação originária (na constituição da
sociedade) quanto a derivada, isto é, fica vedado o
ingresso de sócio casado em sociedade de que já
participa o outro cônjuge”.
A proibição só atinge sociedades constituídas ou
alteradas a partir da vigência do Código Civil de
2002, portanto as sociedades constituídas antes de
2002, quando não havia nenhuma proibição, podem
se manter da mesma forma. A sociedade praticou
um ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, da CF/88).
Enunciado n. 204 do CJF dispõe “A proibição de
sociedade entre pessoas casadas sob o regime da
comunhão universal ou da separação obrigatória só
atinge as sociedades constituídas após a vigência
do Código Civil de 2002”.
d) Contribuição para o capital social:
• O capital social é o fundo inicial das sociedades, já
que para exercerem a atividade econômica é
necessário algum investimento inicial. 
• Esse lastro for alterado ao longo do tempo, será
necessária uma modificação no contrato social e a
respectiva averbação no órgão competente.
• O capital social é a soma do dinheiro ou dos bens
com que os sócios se comprometem a contribuir
para a sociedade. Todos os sócios são obrigados a
contribuir para integralizar o capital na forma
estabelecida no contrato social (art. 1.004 do
Código Civil de 2002).
Essa contribuição pode ser em dinheiro, créditos ou
em bens sujeitos à avaliação, já que o capital social
é necessariamente expresso em moeda nacional.
A contribuição do capital social
feita exclusivamente em serviços é admitida
apenas em algumas sociedades, como veremos a
seguir, quando forem sociedade
simples ou cooperativa (arts. 997, V, e 1.094 do
Código Civil de 2002).
Na sociedade limitada e na sociedade anônima, a
contribuição não pode consistir exclusivamente em
prestação de serviços (art. 1.055, § 2º, do Código
Civil de 2002 e art. 7º da Lei n. 6.404/76).
Enunciado n. 222 do Conselho de Justiça Federal,
na III Jornada de Direito Civil, dispõe: “O art. 997,
V, não se aplica à sociedade limitada na hipótese de
regência supletiva pelas regras das sociedades
simples”.
8.3 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES:
8.3.1 SOCIDADES SIMPLES OU EMPRESSÁRIAS:
• As sociedades podem ser simples ou empresárias
dependendo da definição legal ou do objeto social
realizado, já que ambas exercem atividade econômica.
• Por decisão do legislador, as sociedades por ações
(sociedade anônima e sociedade em comandita por
ações) serão sempre empresárias, enquanto
as cooperativas e as sociedades de advogados serão
sempre sociedade simples (arts. 982, parágrafo único,
do Código Civil de 2002 e 15 da Lei n.
8.906/94). Nessas duas situações não importa o objeto
social realizado.
Fora essas quatro sociedades, definidas previamente
pelo legislador, as demais serão sociedades simples
ou empresárias dependendo do objeto social
realizado.
art. 982 do Código Civil de 2002, que afirma que se
considera “empresária a sociedade que tem por objeto
o exercício de atividade própria de empresário sujeito
a registro (art. 967); e, simples, as demais”.
a sociedade que é empresária terá como objeto social
a atividade empresarial, ou seja, a atividade é
econômica, exercida com profissionalismo e
organizada, de prestação de serviços, circulação de
bens ou produção (art. 966 do CC).
Por outro lado, se o objeto social for de natureza
científica, literária ou artística, exercida
normalmente por profissionais intelectuais,
também chamadas de sociedades uniprofissionais,
teremos uma sociedade simples (art. 982, caput, do
Código Civil de 2002).
A sociedade empresária pode adotar as seguintes
formas societárias: em nome coletivo, em comandita
simples, limitada, anônima e comandita por ações.
A sociedade simples pode admitir as seguintes
formas: puramente simples, em nome coletivo, em
comandita simples, sociedade limitada e
cooperativa.
Independentemente da relevância prática das
sociedades simples (art. 997, CC), precisamos
estudá-las, pois suas regras são aplicadas
subsidiariamente às sociedades empresárias
regidas pelo Código Civil.
Essas regras representam uma verdadeira “teoria
geral” do Direito Societário, mas a aplicação é
sempre subsidiária.
Outra questão importante é saber que as sociedades
simples não sofrerão falência e nem terão direito
à recuperação de empresas, por não exercerem
atividade empresarial (arts. 1º e 48 da Lei n.
11.101/2005).
8.3.2 SOCIEDADES PERSONIFICADAS E NÃO
PERSONIFICADAS:
• Distinguem-se as sociedades personificadas das não
personificadas pela existência ou não de
personalidade jurídica, respectivamente.
A personalidade jurídica surge com o registro (arts.
45 e 985 do Código Civil de 2002), que não pode
ser realizado em qualquer órgão, visto que são três
os órgãos que têm a capacidade de fazer surgir a
personalidade jurídica:
1) Registro Público de Empresas Mercantis a
cargo das Juntas Comerciais (sociedades
empresárias e cooperativas);
2) Cartório de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas (sociedades simples em geral);
3) Conselho Seccional da OAB (sociedade de
advogados e sociedade unipessoal de advocacia).
A constituição da personalidade jurídica é
importante, na medida em que cria uma
personalidade e patrimônio distintos dos sócios, com
titularidade negocial e processual autônomas.
Além disso, nos casos em que os sócios puderem ser
responsabilizados pelas dívidas da pessoa jurídica,
essa responsabilidade será sempre subsidiária em
relação à sociedade (art. 1.024 do Código Civil de
2002).
A personalidade jurídica não terá fim com a
dissolução da sociedade, mas apenas com a
liquidação da sociedade, que é o procedimento
destinado ao pagamento dos credores e à eventual
partilha entre os sócios (art. 59, CC/02).
Nas sociedades não personificadas, não há a
constituição de personalidade jurídica, e, portanto,
não há o registro em nenhum dos três lugares
mencionados anteriormente (Junta Comercial,
Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas e
OAB).
É possível, entretanto, que exista algum contrato
registrado, por exemplo, no Cartório de Títulos e
Documentos, e nem por isso a sociedade se tornará
personificada.
PERSONIFICADAS NÃO PERSONIFICADAS

Com personalidade jurídica Sem personalidade jurídica

Sem registro na Junta Comercial, na


Com registro OAB ou no Cartório de Registro Civil
de Pessoas Jurídicas

• Junta Comercial – Sociedade


Empresária
• Cartório de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas – Sociedades Simples
• Conselho Seccional da OAB –
Sociedades de Advogados
8.3.3. SOCIEDADES NACIONAIS OU
ESTRANGEIRAS:
• As sociedades podem ser estrangeiras ou
brasileiras, dependendo da localização de sua
sede. Se a sede está no exterior, a sociedade é
estrangeira; se está no Brasil, é brasileira. 
• As sociedades brasileiras serão regidas pelas leis
nacionais (art. 1.126 do Código Civil de 2002).
• A sociedade estrangeira, para se estabelecer no Brasil,
depende de autorização do representante do Poder
Executivo Federal, cujo ato autorizante tem validade
por 12 meses. Dentro desse prazo deverá ocorrer a
constituição da empresa autorizada (art. 1.134 do
Código Civil de 2002), caso contrário a autorização
caducará (art. 1.124 do Código Civil de 2002).
A sociedade estrangeira, autorizada, será
registrada na Junta Comercial ou no Cartório de
Registro Civil de Pessoas Jurídicas competente,
com os documentos essenciais para o registro,
juntamente com a autorização federal.
O nome empresarial será o mesmo do seu país de
origem acrescido das palavras “do Brasil” ou “para
o Brasil”. Além disso, a sociedade estrangeira
constituída no Brasil obedece à legislação brasileira
(arts. 1.136 e 1.137 do Código Civil de 2002).
Importante mencionar que a sociedade estrangeira,
devidamente autorizada, deve manter
permanentemente um representante no Brasil,
capaz de resolver os assuntos administrativos ou
judiciais (art. 1.138 do Código Civil de 2002).
8.3.4 SOCIEDADES DEPENDENTES DE
AUTORIZAÇÃO:
• Algumas sociedades, por decisão do legislador, precisam
de autorização do Poder Executivo Federal para o
exercício de sua atividade no Brasil.
• É o caso das mineradoras (art. 176, § 1º, da CF/88), das
seguradoras (art. 74 do Dec.-Lei n. 73/66), das
instituições financeiras (art. 18 da Lei n. 4.595/64), das
empresas que exerçam atividade jornalística ou de
radiodifusão (art. 222 da CF/88), das sociedades que
tenham por objeto a subscrição para revenda e a
distribuição no mercado de títulos ou valores mobiliários
(art. 11 da Lei n. 4.728/65), dos bancos de investimento
de natureza privada (art. 29 da Lei n. 4.728/65), das
operadoras de planos e seguros privados de assistência
à saúde (art. 8º da Lei n. 9.656/98), dentre outras.
8.3.5 SOCIEDADES INSTITUCIONAIS OU
SOCIEDADES CONTRATUAIS:
• De acordo com o regime de constituição, as
sociedades podem ser constituídas por
um contrato social ou por um estatuto social.
• No primeiro caso, estamos diante das sociedades
contratuais, nas quais o objetivo de buscar o fim
social e a preservação do interesse dos sócios são
compatíveis.
• São contratuais as sociedades simples, em nome
coletivo, em comandita simples e a sociedade
limitada.
As sociedades institucionais são constituídas por
um estatuto social e têm por objetivo a manutenção
do fim nele descrito. São sociedades institucionais:
as sociedades anônimas, as sociedades em
comandita por ações e também as cooperativas.
8.3.6 SOCIEDADES DE PESSOAS OU DE
CAPITAL:
• Nas sociedades de pessoas, além do fim social, a
relação de confiança e de colaboração entre os sócios
para alcançar o fim social são indispensáveis. A esse
vínculo de cooperação e lealdade mútua chamamos
de affectio societatis.
• Como consequência da importância dessa relação
pessoal, normalmente o contrato ou estatuto social traz
cláusulas de controle para a entrada de terceiros.
• São exemplos de sociedades de pessoas: as sociedades
em nome coletivo, as sociedades em comandita
simples, as sociedades puramente simples.
Nas sociedades de capital, a relação de confiança
entre os sócios não é essencial. Apenas
a manutenção do fim social é imprescindível.
A entrada de terceiro estranho à sociedade é livre,
assim como a sucessão e a penhora de cotas ou
ações são livres. São exemplos de sociedades de
capital: as sociedades por ações, especialmente as
S.A. abertas, já que nas S.A. fechadas é possível que
se redija um estatuto social mais voltado ao
interesse dos acionistas, que algumas vezes são em
número bem reduzido.
No caso da sociedade limitada, o posicionamento
majoritário é que ela pode ser de pessoas ou de
capital dependendo da aplicação subsidiária das
regras de sociedades simples (sociedade simples) ou
da aplicação supletiva da LSA (sociedade de
capital), permitidas pelo art. 1.053 do Código Civil.
Nosso posicionamento, entretanto, é o de que a
sociedade limitada é de pessoas, em virtude das
possibilidades legais de retirada, exclusão e do
controle na entrada de terceiros. Neste último caso,
o legislador prevê a aplicação legal, quando o
contrato não tratar o assunto de forma diferente,
como é o caso da cessão de cotas (art. 1.057 do CC).
8.4 DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA:
• A constituição da personalidade jurídica viabiliza a
realização de algumas atividades que seriam
inexequíveis sem ela, seja pelo montante investido
ou simplesmente pelo risco assumido.
• O princípio da autonomia patrimonial, entendido
como distinção entre o patrimônio da pessoa
jurídica e o dos sócios, norteia a atividade
empresarial, permitindo que se conquiste a
finalidade econômica almejada.
A existência da personalidade jurídica resulta,
portanto, na separação patrimonial. Como
anteriormente dito, os bens da pessoa jurídica
respondem ilimitadamente pelas obrigações
sociais, e os bens dos sócios poderão ser atingidos
dependendo do tipo societário, mas somente depois
de esgotado o patrimônio da pessoa jurídica (art.
1.024 do Código Civil de 2002).
Entretanto, se a autonomia patrimonial da pessoa
jurídica for usada de forma abusiva, lesando
credores ou violando a lei, será necessário afastar o
privilégio da autonomia patrimonial.
Em virtude dessa possibilidade de atingir os bens
dos sócios, esta teoria também é chamada de teoria
da penetração.

8.4.1 A aplicação da desconsideração da


personalidade jurídica no Brasil
• No Brasil, o primeiro doutrinador a tratar da
desconsideração da personalidade jurídica foi
Rubens Requião.
• Na desconsideração ocorre um afastamento da
personalidade jurídica da empresa para se alcançar
o patrimônio do sócio, a partir do requerimento do
interessado e por meio de decisão judicial.
Esse afastamento será aplicado a determinados atos, sem
anular, encerrar, liquidar a pessoa jurídica, que será
mantida nos demais atos realizados por ela.
a) A desconsideração no Direito do Consumidor:
• A primeira previsão a respeito da desconsideração aparece
no Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90),
que acaba por prever duas situações de aplicação: a
do caput do art. 28 do CDC e a do § 5º do art. 28.
• O caput do art. 28 da Lei n. 8.078/90 dispõe: “o juiz
poderá desconsiderar a personalidade jurídica da
sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver
abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato
ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato
social.
A desconsideração também será efetivada
quando houver falência, estado de insolvência,
encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração” (grifos nossos).
O problema é que, na maioria das hipóteses descritas
no caput do art. 28 do CDC, não seria necessária a
desconsideração, já que seria possível a
responsabilidade direta dos sócios e administradores
pela prática dos atos ilícitos.
No § 5º do art. 28 do CDC: “Também poderá ser
desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados aos
consumidores” (grifos nossos).
A essa possibilidade da desconsideração foi dado o nome de teoria
menor. Nesse sentido, a Min. Nancy Andrighi, no REsp 279.273: “A
teoria menor da desconsideração, acolhida em nosso ordenamento
jurídico excepcionalmente no Direito do Consumidor e no Direito
Ambiental, incide com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica
para o pagamento de suas obrigações, independentemente da
existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. Para a
teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não
pode ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica,
mas pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que estes
demonstrem conduta administrativa proba, isto é, mesmo que não exista
qualquer prova capaz de identificar conduta culposa ou dolosa por parte
dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica. A aplicação da teoria
menor da desconsideração às relações de consumo está calcada na
exegese autônoma do § 5º do art. 28, do CDC, porquanto a incidência
desse dispositivo não se subordina à demonstração dos requisitos
previstos no caput do artigo indicado, mas apenas à prova de causar, a
mera existência da pessoa jurídica, obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados aos consumidores”.
b) A desconsideração no direito ambiental:
• A reparação dos danos ambientais, seguindo a
mesma regra do § 5º do art. 28 do CDC, adota
a teoria menor. O art. 4º da Lei n. 9.605/98 prevê:
“poderá ser desconsiderada a pessoa
jurídica sempre que sua personalidade for
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados
à qualidade do meio ambiente” (grifamos).
• Os sócios responderão pelo risco da atividade.
c) A desconsideração na infração à ordem
econômica:
• O art. 34 Lei n. 12.529/2011, que trata da reparação
nas infrações à ordem econômica, repetiu o texto
do caput do art. 28 do CDC.
d) A desconsideração no direito do trabalho:
• A desconsideração da personalidade jurídica no
Direito do Trabalho não tem previsão legal, mas a
teoria adotada é a teoria menor, ou seja, basta o
não pagamento por parte da sociedade reclamada
para que a desconsideração seja determinada. A
exigência da prova do abuso da personalidade seria
muito difícil de ser produzida pelo trabalhador.
d) A desconsideração no Código Civil:
• O Código Civil de 2002 adota a teoria maior ao
prever, no seu art. 50, a partir da Lei n.
13.874/2019: “Em caso de abuso da personalidade
jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade,
ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir,
a requerimento da parte, ou do Ministério Público
quando lhe couber intervir no processo, que os
efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares
dos administradores ou sócios da pessoa jurídica
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso”.
Para a teoria maior, a desconsideração só pode
ocorrer se houver abuso da personalidade jurídica,
caracterizada pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial.
Min. Nancy Andrighi, no mesmo REsp 279.273,
explica: “A teoria maior da desconsideração, regra
geral no sistema jurídico brasileiro, não pode ser
aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa
jurídica insolvente para o cumprimento de suas
obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova de
insolvência, ou a demonstração de desvio de
finalidade (teoria subjetiva da desconsideração),
ou a demonstração de confusão patrimonial (teoria
objetiva da desconsideração)” (grifos nossos).
O desvio de finalidade significa que a pessoa
jurídica foi usada para praticar atos diferentes do
seu objeto social, ou seja, a pessoa jurídica foi
utilizada para praticar algum ato fraudulento.
A confusão patrimonial se configura pela ausência
da clareza do que é patrimônio da pessoa jurídica e
o que faz parte do patrimônio dos sócios.
8.4.2 DESCONSIDERAÇÃO INVERSA:
• Na desconsideração inversa, a obrigação é do sócio,
que utiliza a pessoa jurídica para proteger bens que
fariam parte de seu patrimônio, transferindo-os ou
até mesmo já os adquirindo em nome da pessoa
jurídica. Previsão no art. 133, § 2º, do CPC.
• A desconsideração inversa vem sendo usada
normalmente nas questões referentes ao direito de
família, como a partilha de bens, na separação ou no
divórcio, ou ainda numa prestação alimentícia, mas
nada impede que, se evidenciada a confusão
patrimonial com o objetivo de lesar os credores da
pessoa física, seja declarada a desconsideração inversa
pelo juiz.
finalidade maior da disregard doctrine contida no
preceito legal em comento é combater a utilização
indevida do ente societário por seus sócios. 
Enunciado n. 283 do Conselho de Justiça Federal,
aprovado na IV Jornada de Direito Civil, dispõe: “É
cabível a desconsideração da personalidade jurídica
denominada “inversa” para alcançar bens de sócio
que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou
desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros”.
8.4.3 PROCEDIMENTO PARA A
DESCONSIDERAÇÃO:
• A desconsideração da personalidade jurídica, de
acordo com o art. 50 do Código Civil de
2002, depende de requerimento do interessado ou
do Ministério Público, e como regra, portanto, não
poderia ser declarada de ofício, afinal sempre se
trata de uma situação excepcional.
• Apesar de a regra ser essa, na Justiça do Trabalho
é comum a declaração da desconsideração,
independentemente do pedido das partes, como
uma proteção ao trabalhador que, como princípio, é
a parte vulnerável da relação de trabalho.
Para que a desconsideração seja declarada, não é
necessária uma ação autônoma; ela deve ser
requerida incidentalmente, como determinam os
arts. 133 e seguintes do CPC/2015, em um
processo de conhecimento, de execução, num
cumprimento de sentença e até num processo
falimentar.
8.5 QUESTÕES:
01. (CESPE/PC-PE/Delegado de
Polícia/2016) Assinale a opção que apresenta,
respectivamente, as espécies societárias que somente
podem ser consideradas, a primeira, como sociedade
empresária e, a segunda, como sociedade simples,
em razão de expressa imposição legal.
a) sociedade comandita por ações / sociedade
comandita simples.
b) sociedade anônima / sociedade cooperativa.
c) sociedades estatais / associações.
d) sociedade anônima / sociedade limitada.
e) sociedade em nome coletivo / sociedade limitada.
02. (VUNESP/TJ-SP/Titular de Serviços de
Notas e de Registros – Provimento/2016) As
sociedades empresariais podem ser:
a) anônimas ou ilimitadas.
b) simples e cooperativas.
c) personificadas e não personificadas.
d) simples e limitadas.
03. (MPE-SP/2015) Em razão da personalização das
sociedades empresárias, os sócios têm, pelas
obrigações sociais:
a) responsabilidade solidária.
b) responsabilidade direta.
c) responsabilidade subsidiária.
d) responsabilidade negocial.
e) responsabilidade supracontratual.
04. (FCC/MPE-AL/2012) NÃO são empresárias:
a) as sociedades cooperativas.
b) as sociedades por ações que tenham por objeto a
prestação de serviços.
c) quaisquer sociedades limitadas.
d) apenas as sociedades não personificadas.
e) as sociedades em nome coletivo, qualquer que seja
o seu objeto.
05. (CONSULPLAN/TJ-MG/Titular de Serviços
de Notas e de Registros/2017) Os cônjuges podem
contratar entre si sociedade,
a) independentemente do regime de casamento
adotado.
b) desde que não tenham casado no regime de
separação de bens, seja este obrigatório ou voluntário.
c) em nenhum caso, independentemente do regime de
casamento adotado.
d) desde que não tenham casado no regime de
comunhão universal de bens ou no de separação
obrigatória
06. (FCC/TRT 15ª REGIÃO/2015) São sociedades
personificadas:
a) sociedade em conta de participação e sociedade
limitada.
b) sociedade anônima e sociedade em comum.
c) sociedade em comandita simples e sociedade em
nome coletivo.
d) sociedade em conta de participação e sociedade em
comandita simples.
e) sociedade em nome coletivo e sociedade em
comum.
07. (TRT 14ª REGIÃO/2014) O Código Civil brasileiro prevê e
regula, dentre outros temas, a figura da sociedade estrangeira no Brasil.
Dentre as afirmações abaixo, qual delas está INCORRETA?
a) A sociedade estrangeira, qualquer que seja o seu objeto, não pode,
sem autorização do Poder Executivo, funcionar no País, ainda que por
estabelecimentos subordinados, podendo, todavia, ressalvados os casos
expressos em lei, ser acionista de sociedade anônima brasileira.
b) A sociedade autorizada pode iniciar sua atividade antes de inscrita
no registro próprio do lugar em que se deva estabelecer.
c) A sociedade estrangeira autorizada a funcionar é obrigada a ter,
permanentemente, representante no Brasil, com poderes para resolver
quaisquer questões e receber citação judicial pela sociedade.
d) Qualquer modificação no contrato ou no estatuto dependerá da
aprovação do Poder Executivo, para produzir efeitos no território
nacional.
e) Nenhuma das anteriores.
08. (CONSULPLAN/TJ-MG/2015) À luz do Código
Civil (Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002), são
sociedades personificadas, EXCETO:
a) Sociedade em comandita simples.
b) Sociedade em conta de participação.
c) Sociedade em comandita por ações.
d) Sociedade anônima.
09. (VUNESP/TJ-SP/2014) As sociedades empresariais
regulares, no Direito Brasileiro, podem adotar os seguintes
tipos:
a) sociedade simples, sociedade em nome coletivo, sociedade
em comandita simples e por ações, sociedade limitada,
sociedade por ações.
b) sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita
simples e comandita por ações, sociedade limitada, sociedade
por ações.
c) sociedade em nome coletivo, sociedade em comum,
sociedade cooperativa, sociedade limitada, sociedade por
ações.
d) sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita por
ações, sociedade limitada, sociedade de propósito específico,
sociedade por ações.
09. (VUNESP/TJ-SP/2014) As sociedades empresariais
regulares, no Direito Brasileiro, podem adotar os seguintes
tipos:
a) sociedade simples, sociedade em nome coletivo, sociedade
em comandita simples e por ações, sociedade limitada,
sociedade por ações.
b) sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita
simples e comandita por ações, sociedade limitada, sociedade
por ações.
c) sociedade em nome coletivo, sociedade em comum,
sociedade cooperativa, sociedade limitada, sociedade por
ações.
d) sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita por
ações, sociedade limitada, sociedade de propósito específico,
sociedade por ações.
10. (FCC/TRT 1ª REGIÃO (RJ)/Juiz do Trabalho/2011) A aplicação
da doutrina da desconsideração da personalidade jurídica implica:
a) excluir os bens da pessoa jurídica de constrição judicial, para atingir
o patrimônio de seus sócios ou administradores, quando eles agirem
com abuso ou excesso de poderes.
b) a dissolução e liquidação da sociedade para pagamento de seus
débitos, e, não sendo suficientes os seus bens, atingir o patrimônio de
seus sócios ou administradores.
c) estender aos bens particulares dos administradores ou sócios da
pessoa jurídica, quando verificado o abuso da personalidade jurídica,
os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações.
d) a imposição de responsabilidade solidária aos sócios ou
administradores da pessoa jurídica, por suas dívidas, quando o
patrimônio desta for insuficiente para atender a todos os credores.
e) estender aos bens particulares dos administradores ou sócios da
pessoa jurídica os efeitos das obrigações decorrentes dos contratos por
eles firmados na condições de representantes da pessoa jurídica.
11. (TRT 21ª REGIÃO/RN/2010) De acordo com o
Código Civil, a desconsideração da personalidade
jurídica consiste em:
a) não considerar os efeitos da personificação para
atingir a responsabilidade dos sócios.
b) declarar nula, de pleno direito, a personificação.
c) tornar a personalidade jurídica ineficaz para todos
os atos praticados pela sociedade.
d) na extinção da personalidade jurídica por via
judicial.
e) todas as alternativas estão incorretas.
12. (TJ-MG/FUNDEB/2014) Analise as afirmativas seguintes.
I. Quando fundada no desvio de finalidade, a aplicação da teoria da desconsideração
importa na anulação e supressão da personalidade jurídica do ente societário,
permitindo que os credores invadam o patrimônio pessoal dos sócios que o
compõem.
II. Pela via incidental, somente os efeitos patrimoniais, e não o estado de falido,
podem ser estendidos aos sócios, administradores e terceiros que causaram prejuízo
à massa falida.
III. Na sociedade em comum, de natureza não personificada, todos os sócios
respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do
benefício de ordem aquele que contratou pela sociedade.
IV. A sociedade anônima responde pelos atos ultra vires (praticados por seu
administrador com extrapolação dos limites e poderes que lhe foram outorgados pelo
correspondente estatuto) e sua ratificação pela assembleia geral exime o
administrador da responsabilidade pelos prejuízos deles decorrentes.
A partir da análise, conclui-se que estão INCORRETAS.
a) I e IV apenas.
b) II e III apenas.
c) I e III apenas.
d) II e IV apenas.
QUESTÕES:
1. Conceitue sociedade:
2. Em quais formas societárias o sócio só pode contribuir com dinheiro ou
bens e em quais formas pode contribuir com serviços?
3. As sociedades podem ser pluripessoais ou unipessoais. Cite 3 exemplos
de sociedades unipessoais existentes em nosso ordenamento jurídico:
4. Quais os princípios norteadores para a composição do nome empresarial?
5. Quais formatos de sociedade podem ser redigidos em forma de razão
social e denominação social?
6. Cônjuges podem constituir sociedade entre si? Explique:
7. O que é o capital social de uma sociedade?
8. Quais são as formas societárias possíveis de uma sociedade simples e de
uma sociedade empresária?
9.É possível aplicar as regras da sociedade simples à sociedade empresária?
Explique:
10. O registro de sociedades simples e empresárias podem ser feitos em três
órgãos, cite:
11. Quais sociedades precisam de autorização do Poder
Executivo Federal para funcionarem no Brasil?
12. A sociedade estrangeira autorizada a funcionar no
Brasil precisa fazer registro? Onde?
13. O que são sociedades institucionais ou sociedades
contratuais? Quais modelos de sociedade podem ser
institucionais e contratuais?
14. Qual a diferença entre sociedade de “pessoas” e de
“capital”? Exemplifique:
15. O que é a desconsideração da pessoa jurídica?
16. Explique a teoria maior da desconsideração da pessoa
jurídica?
17. Explique a teoria menor da desconsideração da pessoa
jurídica?

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