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Professor Doutor Adlezio Agostinho

UNIVERSIDADE METODISTA DE
ANGOLA

MANUAL DE DIREITO
INTERNACIONAL PÚBLICO

Prof. Doutor: Adlezio Agostinho

Luanda 2019
Professor Doutor Adlezio Agostinho

CAP. II – SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

SUMÁRIO: 1. Conceito de personalidade internacional - 2. O Estado - 3. Organizações


Internacionais - 4. A Santa Sé e o Estado do Vaticano - 5. O individuo - 6. Como Organizações Não-
Governamentais (ONG) - 7. As empresas - 8. Beligerantes, insurgentes e Nações em luta Pela
Soberania - 9. Os blocos Regionais. BIBLIOGRAFIAS

1 - Conceito de personalidade internacional

A personalidade refere-se à aptidão de obter a titularidade de direitos e de obrigações. A


personalidade associa-se à capacidade, que é a possibilidade efetiva de que uma pessoa, natural ou
jurídica, exerça direitos e cumpra obrigações. Na doutrina internacionalista, o exame da
personalidade internacional alude, em regra, à faculdade de actuar diretamente na sociedade
internacional, que comportaria o poder de criar as normas internacionais, a aquisição e o exercício
de direitos e obrigações fundamentadas nessas normas e a faculdade de recorrer a mecanismos
internacionais de solução de controvérsias. Aqueles que possuem a capacidade de praticar os actos
acima citados seriam os sujeitos de Direito Internacional.

Entre tais sujeitos do direito internacional, o Estado é o sujeito tradicionail das relações
internacionais. Somente num momento sucessivo é que o status do direito internacional começõu a
expandir-se a outros sujeitos. Foi normal dar um status jurídico as organizações internacionais, no
medida que os Estados aceitaram auto-limitaram a soberania para conceder às organizações
internacionais a gestão de algumas tarefas em nome e no interesse dos da organização como Unão
de Estados.

Hoje o planeta com uma população mundial de (7 bilhões de pessoas), estão repartidos entre
200 Estados. E aos Estados se unem outros sujeitos que porém tem uma diferente e mais limitada
capacidade jurídica a nível de relações internacionais, dentre os quais destacamos: as organizações
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internacionais, Santa Sé e o Estado do Vaticano, individuo, organizações não-governamentais


(ONG), empresas, beligerantes, insurgentes e os blocos Regionais.

Entretanto, o tema da personalidade internacional é objeto de polêmica na doutrina, dentro


da qual se opõem dois entendimentos.

O primeiro entendimento mantém a concepção do Direito Internacional clássico, de carácter


interestatal, pela qual apenas os Estados e as organizações internacionais seriam sujeitos de Direito
Internacional, contando com amplas possibilidades de atuação no cenário jurídico externo, que
incluiriam a capacidade de elaborar as normas internacionais e a circunstância de serem seus
destinatários imediatos.

O segundo entendimento baseia-se na evolução recente das relações internacionais, que tem
levado a que a ordem jurídica internacional passe a regular situações que envolvem outros entes,
que vêm exercendo papel mais activo na sociedade internacional e que passaram a ter direitos e
obrigações estabelecidas diretamente pelas normas internacionais.

Para esta teoria, é evidente que a sociedade internacional já não tem mais nos entes estatais e
nos organismos internacionais seus únicos actores relevantes. Uma doutrina mais recente vem
admitindo a existência de outros sujeitos de Direito Internacional, que são o indivíduo, as empresas
e as organizações não-governamentais (ONGs), que podem invocar normas internacionais e que
devem cumpri-las, dispondo, ademais, da faculdade de recorrer a certos foros internacionais.

Entretanto, cabe destacar que nenhuma das novas pessoas internacionais detém todas as
prerrogativas dos Estados e organismos internacionais, como a capacidade de celebrar tratados,
contando, outrossim, com possibilidades muito restritas de recorrer a mecanismos internacionais de
solução de controvérsias. Por conta dessas limitações, parte da doutrina classifica os indivíduos,
empresas e ONGs como “sujeitos fragmentários” do Direito das Gentes e, pelos mesmos motivos,
há quem não reconheça sua personalidade internacional.

NOTA BENE: em qualquer caso, os sujeitos de Direito Internacional não se confundem


com seus órgãos, meras unidades dos respectivos arcabouços institucionais internos,
encarregados de manifestar a vontade das entidades que representam. Exemplos de órgãos:
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Ministério das Relações Exteriores, Conselho de Segurança das Nações Unidas etc.

Entendemos que a polêmica relativa aos sujeitos de Direito Internacional não afecta a
evidência de que as normas internacionais podem efetivamente vincular condutas de vários actores
sociais, os quais também já contam com crescentes possibilidades de atuação direta em foros
internacionais.

Em todo caso, defendemos que indivíduos, empresas e ONGs possuem personalidade


jurídica internacional, não obstante não reúnam todas as prerrogativas dos Estados e organismos
internacionais.

A dinâmica da sociedade internacional conta também com a participação de coletividades


não-estatais peculiares, como a Santa Sé, os beligerantes, os insurgentes e, em alguns casos, as
nações em luta pela soberania.

Por fim, o final do século XX marcou a consolidação dos blocos regionais como importantes
actores internacionais, que foram paulatinamente adquirindo, em diversas partes do mundo, a
personalidade jurídica de Direito das Gentes, assumindo, aliás, todas as prerrogativas típicas dos
tradicionais sujeitos de Direito Internacional, como o poder de celebrar tratados.

NOTA BENE: há questões de concursos que ainda adoptam o entendimento clássico,


exigindo que os candidatos reconheçam a personalidade de Direito Internacional apenas nos
Estados, nas organizações internacionais e na Santa Sé e negando qualquer capacidade
jurídica no âmbito externo a indivíduos, empresas e ONGs.

A guisa de conclusão, é importante também ressaltar que os indivíduos, as empresas e as


ONGs não são pessoas de direito público, mas sim de direito privado. Com isso, surge a expressão
“sujeitos de direito público externo”, que vai abranger as pessoas que tradicionalmente são
consideradas sujeitos de Direito Internacional, como os Estados, as organizações internacionais, os
blocos regionais, a Santa Sé, os beligerantes, os insurgentes e, se for o caso, as nações em luta pela
soberania, que terão amplas possibilidades de actuação como sujeitos de Direito das Gentes.

A seguir, examinaremos brevemente a situação de cada uma das pessoas que aparecem na
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doutrina como sujeitos de Direito Internacional.

2 . O Estado como sujeito de direito internacional

Se definirmos o Direito Internacional Público, como o direito da comunidade dos Estados,


devemos especificar o que entendemos por Estado, porque a nível de difinição, podemos distinguir
Estado-comunidade ou em Estado organização ( Estado-aparato ou Estado-governo): O primeiro
sentido refere-se a um conjunto de indivíduos, portanto numa comunidade que se instala em uma
parte da superfície da Terra e está sujeito às regras que os mantem unida. O segundo, no entanto, é o
conjunto de governantes, isto é, órgãos que exercem sobre o indivíduo associado o poder de
império.

Ambos os fenómenos são reiais e vem definidos da teória geral do direito.

Status de sujeito de direito internacional no entanto, toca ao Estado organização ou aparato.


são os órgãos estaduais que partecipam na formação das normas internacionais, os mesmos são os
distinatários das normas internacionais e são sempre os mesmos que respondem por eventuais
violações internacionais. Obviamente quando falamos de órgãos estaduais, fizemos referência a
todos os órgãos, seja aquele com poder centralizados como aqueles com o poder descentralizado.

O Estado-organização deve apresentar, no entanto, os requisitos para ser considerado como


tal:

1. A primeira é a efectividade (requisito essencial) do seu poder sobre uma comunidade


territorial. Portanto, o status de sujeito internacional deve ser negado aos governos no exílio
(um fenômeno que teve o seu evento mais significativo durante a Segunda Guerra Mundial,
quando muitos dos governos territórios ocupados pelos nazistas buscaram refúgio em
Londres), embora tenham sido reconhecidos pela parte do anfitrião certa prerrogativas
soberanas por motivos políticos, as organizações ou frentes, ou às comissões de libertação
internacionais que estejam estabelecidas em um território estrangeiro, onde tenham formado
uma espécie de organização de governo. Típico exemplo de Comissões de libertação no
exterior foi por muito sanos a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), com sede
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em Tunis também depois de 1988, quando foi proclamado o Estado da Palestina apesar de
não ter base territorial;
2. O segundo requisito essencial para a subjetividade internacional de um determinado Estado
é a 'independência ou soberania externa. Isto significa que a organização do governo não
depende de outro Estado.

Nesse sentido, não são sujeitos de direito internacional os estados membros dos Estados
Federais ( porque, embora às vezes possam ser autorizados pela Constituição Federal a celebrar
acordos com países terceiros, deve normalmente ter o consentimento do governo central), nem as
Confederações que é uma 'união de Estados totalmente independente e soberano, tipicamente
criados para fins de defesa que ainda devem chegar a uma decisão conjunta para isso é (talvez)
descarada a independência e de consequência a subjetividade internacional.

O requisito da independência deve ser entendido com cautela: não coincidem com a perfeita
possibilidade de determinar-se por sí, porque a interdependência é hoje uma das características
sempre mais marcantes nas relações internacionais (Estados satélites, Estados fracos, estados com
tropas estrangeiras .. .).

Deve-se portanto entender no sentido formal: é independente um Estado qual ordenamento é


originário, isto é, toma a sua força jurídica da própria Constituição e não da Constituição de um
outro Estado. O dado forma cede porém de fronte ao dado real, quando na verdade a interferência
da parte de um outro Estado no exercício do poder do governo é total e portanto o Governo indígena
é um governo fantoch, é o caso da república cipriota turca.

Na presença dos dois requisitos, a organização do governo adquir o status de sujeito


internacional automaticamente: não é ncessário o reconhecimento. O reconhecimento, como
também o não-reconhecimento, é um acto meramente lícito que pertencem à esfera da política, mas
não produzem consequências jurídicas.

Geralmente o reconhecimento da parte dos Estados preexistente, revela a intenção de forjar


relações amistosas para troca de representantes diplomáticos e de dar seguimento a formas mais ou
menos intensas de cooperação através celebrações de acordos. A maior ou menor intensidade que
deseja transmitir para a colaboração é geralmente sublinhado, respectivamente, com a fórmula de
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jure, isto é, completa e o de reconhecimento de facto.onalidade internacional.

Quando necessita-se outros requisitos desnecessária como o novo Estado não deve constituir
uma ameaça à paz e segurança para a paz, que o seu governo goze de um consenso do povo e que
respeite os direitos humanos, estes não são necessários para adquiri a subjetividade internacional,
mas servem apenas para avaliações políticas dos outros Estados para avaliar se forjar amizades. Na
comunidade internacional atual não falta temporariamente ou permanentemente ameaçam a paz ou
violar os direitos humanos, embora os princípios do direito internacional que obriga os estados a
qualquer coisa, mas também é verdade que essas obrigações não afectam, mas assumir a
personalidade jurídica do Estado mesmo.

4. Santa Sé e Estado da Cidade do Vaticano

Inicialmente, cabe advertir que a Santa Sé e o Vaticano são dois entes distintos, que têm em
comum, fundamentalmente, o vínculo com a Igreja Católica Apostólica Romana e a controvérsia
em relação à personalidade jurídica internacional de ambos. A Santa Sé é a entidade que comanda a
Igreja Católica Apostólica Romana. É chefiada pelo Papa e é composta pela Cúria Romana,
conjunto de órgãos que assessora o Sumo Pontífice em sua missão de dirigir o conjunto de fiéis
católicos na busca de seus fins espirituais. É sediada no Estado da Cidade do Vaticano, e seu poder
não é limitado por nenhum outro Estado.

A Santa Sé é um sujeito de Direito Internacional, status adquirido ao longo de séculos de


influência na vida mundial, que remontam à época em que o poder temporal do Papado era amplo e
abrangia a capacidade de estabelecer regras de conduta social válidas para o mundo inteiro, de
resolver conflitos internacionais e de governar os Estados Pontifícios.

Na actualidade, o Santo Padre ainda goza de status e prerrogativas de Chefe de Estado e


continua a ter certa ascendência na sociedade internacional, como provam suas reiteradas
manifestações em assuntos de interesse internacional. Além disso, a Santa Sé pode celebrar tratados,
participar de organizações internacionais e exercer o direito de legação (direito de enviar e receber
agentes diplomáticos), abrindo missões diplomáticas (chamadas de “nunciaturas apostólicas”)
chefiadas por “Núncios Apostólicos” e compostas por funcionários de nível diplomático,
beneficiários de privilégios e imunidades diplomáticas.
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A personalidade internacional da Santa Sé passou a ser contestada com a incorporação dos


Estados Pontifícios à Itália. Entretanto, a polêmica a respeito diminuiu a partir do Tratado de
Laterano, celebrado entre a Itália e a Santa Sé em 1929, que cedeu a esta um espaço em Roma onde
foi criado o Estado da Cidade do Vaticano, dentro do qual a autoridade suprema da Igreja Católica
se encontra instalada.

O Vaticano é um ente estatal e, portanto, tem personalidade jurídica de Direito Internacional.


Conta com um território de 0,44 km², com nacionais e com um governo soberano, cuja maior
autoridade também é o Papa. O principal papel do Vaticano é conferir o suporte material necessário
para que a Santa Sé possa exercer suas funções.

Parte da doutrina não considera o Vaticano como Estado, apoiada fundamentalmente na


suposta incompatibilidade de seus fins com os típicos propósitos temporais de um ente estatal. De
nossa parte, não concordamos com esse entendimento, visto que o Estado da Cidade do Vaticano
possui os três elementos clássicos que configuram os entes estatais (território, povo e governo
soberano).

Outrossim, não é o porte do território, a quantidade de nacionais ou o rol de poderes


enfeixados por um Estado que o define como tal. Em todo caso, o Vaticano reúne capacidade de
atuação internacional, podendo celebrar tratados e participar de organismos internacionais. Tem
ainda direito de legação, o qual no entanto, é exercido pela Santa Sé, que age em nome do Estado da
Cidade do Vaticano, ocupando-se, na prática, da diplomacia vaticana. Aliás, pela estreita vinculação
entre ambos, é certo que os compromissos internacionais assumidos pelo Vaticano influenciam os
destinos da Santa Sé, e vice-versa.

5. O indivíduo

Durante muito tempo, a doutrina não conferia ao indivíduo o caráter de sujeito de Direito
Internacional. Partia-se da premissa de que a sociedade internacional era meramente interestatal, e
que apenas os Estados podiam criar normas, as quais só se referiam diretamente a estes. A pessoa
natural, por sua vez, era mero objeto das normas internacionais e da ação estatal no cenário externo
e, quando pudesse atuar no cenário internacional, o faria estritamente dentro do marco estabelecido
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pelos Estados.

Entretanto, a doutrina vem paulatinamente rendendo-se à evidência de que o indivíduo age


na sociedade internacional, muitas vezes independentemente do Estado, começando a reconhecer na
pessoa natural o caráter de sujeito internacional.

A personalidade internacional do ser humano ainda é contestada. Em todo caso, não é mais
possível negar que há um rol significativo de normas internacionais que aludem diretamente a
direitos e obrigações dos indivíduos, como evidenciado, por exemplo, pelos tratados de direitos
humanos, que visam a proteger a dignidade humana, e de Direito Internacional do Trabalho, que
tutelam as relações laborais.

Além disso, existe a possibilidade de que os indivíduos exijam em foros internacionais a


observância de certos direitos que lhes foram conferidos pela ordem jurídica internacional, de forma
direta e independentemente da anuência do Estado onde se encontrem ou do qual sejam nacionais. A
título de exemplo, um brasileiro pode reclamar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
pela violação de um direito previsto na Convenção Europeia dos Direitos Humanos, e o português
poderá ser responsabilizado internacionalmente pelo facto.

Por outro lado, uma pessoa natural também está obrigada a observar as normas
internacionais e, caso não o faça, pode responder pelo acto em foros internacionais, como o
Tribunal Penal Internacional (TPI), órgão competente para processar e julgar indivíduos por
determinados crimes definidos em preceitos de Direito Internacional.

Recorde-se que o ser humano não pode celebrar tratados e, nesse sentido, as normas
internacionais que lhe dizem respeito continuam sendo criadas pelos Estados e organizações
internacionais. Ao mesmo tempo, suas possibilidades de acesso direto aos foros internacionais são
ainda mais restritas que as dos Estados.

6 - As organizações não-governamentais (ONGs)

As organizações não-governamentais (ONGs), são entidades privadas sem fins lucrativos


que actuam em áreas de interesse público, inclusive em típicas funções estatais. Embora existam há
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muitos anos, as ONGs adquiriram maior notoriedade, inclusive na sociedade internacional, apenas a
partir da década de 90 do século XX.

As ONGs cumprem o papel de promover a aplicação de normas internacionais em


vários campos, como os direitos humanos e o meio ambiente. Ao mesmo tempo, suas
apreciações sobre os acontecimentos na sociedade internacional podem contribuir para a expansão
ou cumprimento do arcabouço normativo internacional. Algumas ONGs participam de organizações
internacionais como observadoras. Por fim, podem recorrer a determinados foros internacionais em
defesa de direitos ou interesses vinculados a suas respectivas áreas de atuação.

Entretanto, as ONGs não podem celebrar tratados.

Exemplos da ONGs notórias na sociedade internacional são a Anistia Internacional, o


Comitê Olímpico Internacional (COI), o Greenpeace, a Human Rights Watch e os Médicos sem
Fronteiras (MSF)

7. As empresas

É notório o papel empresarial no actual cenário internacional, gerando fluxos expressivos de


comércio, de investimentos e de capitais. Com isso, começa a admitir-se a personalidade
internacional das empresas, mormente as multi- e transnacionais.

As empresas, também referidas frequentemente como “pessoas jurídicas”, beneficiam-se


diretamente de normas internacionais, a exemplo daquelas que facilitam o comércio internacional e
os fluxos de investimentos. Ao mesmo tempo, têm obrigações fixadas pelo Direito das Gentes,
como os padrões internacionais mínimos, estabelecidos em tratados, em matérias como trabalho e
meio ambiente. Em alguns casos, as empresas têm acesso a mecanismos internacionais de solução
de controvérsias, como no Mercosul. Por fim, suas demandas podem contribuir para o
desenvolvimento do Direito Internacional.

Em todo caso, as empresas também são sujeitos fragmentários de Direito Internacional,


fundamentalmente porque não podem concluir tratados.
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NOTA BENE: as empresas podem celebrar instrumentos jurídicos com Estados e


organizações internacionais, que não serão, porém, tratados, mas apenas contratos, como aqueles
concluídos internamente entre entes privados e o Estado, ou instrumentos não vinculantes, como
protocolos de intenções.

8 - Beligerantes, insurgentes e nações em luta pela soberania

Os beligerantes são movimentos contrários ao governo de um Estado, que visam a


conquistar o poder ou a criar um novo ente estatal, e cujo estado de beligerância é reconhecido por
outros membros da sociedade internacional.

Celso de Albuquerque Mello afirma que o “reconhecimento como beligerante é aplicado às


revoluções de grande envergadura, em que os revoltosos formam tropas regulares e que têm sob o
seu controle uma parte do território estatal”, como nas guerras civis, fundamentando o instituto no
princípio da autodeterminação dos povos e nos valores humanitários que perpassam as relações
internacionais.

Exemplo histórico de beligerantes foram os Confederados da Guerra de Secessão dos EUA


(1861-1865).

O reconhecimento de beligerância é normalmente feito por uma declaração de neutralidade e


é acto discricionário. Com as sensibilidades existentes nas relações internacionais, é normal que o
primeiro Estado a fazê-lo seja aquele onde actue o beligerante. A prática do acto, porém, não obriga
outros entes estatais a fazer o mesmo.

As principais consequências do reconhecimento de beligerância incluem a obrigação dos


beligerantes de observar as normas aplicáveis aos conflitos armados e a possibilidade de que
firmem tratados com Estados neutros. O ente estatal onde actue o beligerante fica isento de eventual
responsabilização internacional pelos actos deste, e terceiros Estados ficam obrigados a observar os
deveres inerentes à neutralidade.

Os insurgentes também são grupos que se revoltam contra governos, mas cujas acções não
assumem a proporção da beligerância, como no caso de acções localizadas e de revoltas de
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guarnições militares, e cujo status de insurgência é reconhecido por outros Estados. Exemplo de
movimento insurgente foi a Revolta da Armada (1893).

O reconhecimento de insurgência é acto discricionário, dentro do qual são estabelecidos seus


efeitos, que normalmente não estão pré-definidos no Direito Internacional e que, portanto,
dependem do ente estatal que a reconhece. Em regra, o reconhecimento do caráter de insurgente
exime o Estado onde ocorre o movimento de responder internacionalmente pelos actos dos
revoltosos e impõe, a todos os lados envolvidos em uma revolta, a obrigação de respeitar as normas
internacionais de caráter humanitário.

Há uma clara semelhança entre a beligerância e a insurgência. Entretanto, aquela reveste-se


de maior amplitude do que esta. Em suma, segundo Alfred Verdross, os insurgentes são
“beligerantes com direitos limitados”

As nações em luta pela soberania são movimentos de independência nacional, que acabam
adquirindo notoriedade tamanha que fica impossível ignorá-los nas relações internacionais. É o
caso, por exemplo, da antiga Organização para a Libertação da Palestina (OLP), actual Autoridade
Palestina, que, sem contar com a soberania estatal, exercia e ainda exerce certas prerrogativas
típicas dos Estados, como a de celebrar tratados e o direito de legação (direito de enviar e receber
representantes diplomáticos). Podem ter origem na beligerância ou na insurgência, e sua
personalidade de Direito das Gentes com a plenitude das prerrogativas dependerá do
reconhecimento de outros integrantes da comunidade internacional, como os Estados e as
organizações internacionais.

Em todo caso, independentemente do reconhecimento de beligerância ou de insurgência,


ninguém pode eximir-se de respeitar as normas internacionais de Direitos Humanos, de Direito
Humanitário e de outros ramos do Direito aplicáveis a qualquer conflito armado ou situação
instável. Afirmar o contrário seria negar a universalidade dessas normas, que visam a proteger todas
as pessoas em qualquer circunstância.

9 - Os blocos regionais

Os blocos regionais são, sucintamente, esquemas criados por Estados localizados em uma
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mesma região do mundo, com o intuito de promover a maior integração entre as respectivas
economias e, eventualmente, entre as suas sociedades nacionais.

Os blocos regionais são também conhecidos como “mecanismos de integração regional”.


Surgem a partir de tratados, celebrados entre os Estados que os criaram, e funcionam não apenas no
âmbito do marco dos atos internacionais que os constituíram, como também de acordo com regras,
fixadas por outros tratados e por modalidades normativas peculiares, concebidas no bojo de suas
actividades, como as diretrizes do Mercosul e os regulamentos, diretivas e decisões da União
Européia.

Exemplos notórios de blocos regionais são a União Européia, o Mercosul e a Área de Livre
Comércio da América do Norte (NAFTA). Dependendo do nível de aproximação entre seus
Estados-membros, os blocos regionais organizam-se de modo a agirem autonomamente nas relações
internacionais, ganhando personalidade jurídica própria e passando a empregar poderes típicos de
sujeitos de Direito das Gentes, como celebrar tratados, comparecer a mecanismos de solução de
controvérsias internacionais e exercer o direito de legação.

Normalmente, a personalidade jurídica de Direito Internacional dos blocos regionais é


conferida por meio de tratados celebrados entre seus Estados-membros. Com isso, a atribuição de
personalidade jurídica internacional a um bloco regional dependerá dos interesses dos integrantes
desses mecanismos e de suas peculiaridades.

NOTA BENE: nesse sentido, é possível que nem todos os blocos regionais tenham
personalidade jurídica de Direito das Gentes.

Exemplo de bloco regional que tem personalidade jurídica de Direito Internacional é o


Mercosul, nos termos dos artigos 34º a 36º do Protocolo Adicional ao Tratado de Assunção sobre a
Estrutura Institucional do Mercosul (Protocolo de Ouro Preto), de 1994. (Decreto 1.901, de
19/03/1996). Esse é também o caso da União Europeia e da União das Nações Sul-Americanas
(UNASUL).
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BIBLIOGRAFIAS

B. CONFORTI, Diritto internazionale, V ed. con aggiornamenti, Editoriale Scientifica, Napoli,


1999, Introduzione e Parte I.

B. CONFORTI, Diritto internazionale, V ed. con aggiornamenti, Editoriale Scientifica, Napoli,


1999, Parte II, III, IV e V.
B. CONFORTI, Nazioni Unite, II ed. con aggiornamenti, Editoriale Scientifica, Napoli, 2010, Parte
II, III, IV e V.
VERILLI, Codice del diritto e delle organizzazioni internazionali, IV ed., Edizioni
giuridiche Simone, Napoli, 2001.

REZEK, Francisco. Direito Internacional Público. Curso Elementar 11. Ed. São Paulo. Saraiva,
2008.
PORTELA Paulo Henrique Conçalves, Direito Internacional público e privado, 2014 in
“https://d24kgseos9bn1o.cloudfront.net/editorajuspodivm/arquivos/169%20a%20180.pdf”

Parecer a respeito do Caso Bernadotte em: CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA. Reparation


for Injuries Suffered in the Service of the United Nations. Disponível em: . Acesso em: 24/01/2012.
Em inglês. Tradução livre: Reparação de danos sofridos a serviço das Nações Unidas.

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