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AULA 03: PESSOAS INTERNACIONAIS E

FONTES DO DIP
 Há aqueles que afirmam que sem coercibilidade e
poder de sanção o direito internacional público não é
direito, baseados na doutrina de Rudolf Von Ihering,
a qual postula que "norma sem sanção é como fogo
que não queima". Sustentam que somente um
"Governo Mundial" com normas revestidas de
legitimidade em dimensão espacial capaz de abarcar
o planeta seria a solução para garantir a certeza e
segurança nas relações internacionais. Afirmam a
necessidade de imposição, independente de
aceitação dos sujeitos internacionais em tratados ou
costume. Explique de forma bem fundamentada por
que o Direito Internacional é sim direito, explicando
que características o tornam diferente do direito
nacional:
 DIANTE DAS AFIRMATIVAS ABAIXO, MARQUE O GABARITO CORRETO.

 I - O Direito Internacional tem como premissa básica a


soberania dos Estados, o que implica maior dificuldade na
aplicação das regras jurídicas. Ao contrário do que ocorre no
ordenamento interno dos países, nos quais os indivíduos
estão subordinados a regras constitucionais e ao poder de
jurisdição do Estado, na ordem internacional não há força
superior, capaz de determinar condutas. Podemos dizer que
os Estados soberanos se encontram no mesmo nível
hierárquico e que as relações entre eles se manifestam
mediante coordenação, oriunda de acordos de vontade.
 II - Não existe um poder supranacional dotado de poder para
definir regras ou aplicar sanções sem a concordância dos
envolvidos. Essa característica do direito internacional tem
sido, ao longo dos anos, objeto de diversas críticas, no
sentido de que a ausência de normas abrangentes e
coercitivas poderia invalidar ou até mesmo tornar
desnecessário o estudo da matéria. O grande desafio do
direito internacional diz respeito à eficácia das regras
jurídicas. Os Estados soberanos submetem-se apenas às
obrigações que tiverem assumido, dentro de parâmetros que
considerem razoáveis. A ausência de uma força externa e
superior exige que o direito internacional tenha algum
elemento de vinculação entre as partes, capaz de atribuir
obrigações e conferir direitos recíprocos. O princípio que
garante a coerência do tecido normativo internacional é
conhecido como pacta sunt servanda, que pode ser traduzido
como "o que foi pactuado deve ser obedecido".
 III - O pacta sunt servanda está diretamente relacionado à boa-fé, mediante a qual
uma parte se compromete a cumprir as regras que aceitou, ante a expectativa de
que a outra parte proceda da mesma forma. O vínculo formado entre os Estados
normalmente se consolida com a celebração de um tratado, documento que
representa o acordo de vontades soberanas destinado a estabelecer normas
recíprocas e obrigatórias para os signatários. Existe, ainda, a possibilidade de
comprometimento mediante a aceitação de costumes, práticas reiteradas e
dotadas de validade jurídica, que possuem grande relevância, em razão do baixo
nível de codificação do direito internacional.
 IV - As organizações internacionais são criadas pelos Estados, nos termos do seu
tratado de constituição, e possuem personalidade jurídica própria, distinta da dos
seus membros. Contudo, não possuem capacidade para celebrar tratados,
participar de conferências internacionais e postular, em nome próprio, perante
tribunais internacionais.

 A) Se todas as afirmativas estiverem falsas.
 B) Se todas as afirmativas estiverem corretas.
 C) Se as afirmativas I, II, III estiverem corretas.
 D) Se as afirmativas I, III e IV estiverem corretas.
 GABARITO: letra c
 1.3.3. As pessoas internacionais
 A) Noção:
 Pessoa Internacional: “A pessoa física ou jurídica
a quem a ordem internacional atribui direitos e
deveres é transformada em pessoa internacional,
isto é, sujeito de DI”. (Celso Mello)
 O Estado manteve-se como o centro das
atenções da sociedade internacional do século
XX, sendo o mais importante ente de DI. No
século XX, em virtude das sérias transformações
ocorridas no cenário internacional, o Estado
passa a partilhar a vida internacional com outros
entes, as organizações internacionais e o
homem.
 1.3.3.1 Conceito de pessoa: personalidade
 A) Correntes sobre a Personalidade Jurídica Internacional:
 Existem duas correntes sobre a existência de personalidade jurídica internacional:
uma admite a existência de personalidade, defendendo que existem normas
gerais que estabelecem condições para que determinados entes adquiram
personalidade jurídica e assim tornem-se sujeitos de direito, e outra corrente que
nega a existência dessas normas gerais como condição.
 Segundo Celso Mello tais condições seriam:
 “Fins compatíveis” com a sociedade internacional,
 Ter uma organização que lhe permita entrar em relações com os demais sujeitos
de DI,
 Ser responsável pelos seus atos (direitos e deveres)

 Ex: Estados e a Convenção Pan-americana sobre Direitos e Deveres dos Estados


(Montevidéu, 1933):
 Artigo 1
 O Estado como pessoa de Direito Internacional deve reunir os seguintes
requisitos.

 I. População permanente.
 II. Território determinado.
 III. Governo.
 IV. Capacidade de entrar em relações com os demais Estados.
 Obs: Crítica ao modo de participação dos Estados na SI.
 1.3.3.1 Conceito de pessoa: personalidade
Segundo Rezek tais condições seriam:
 Relação imediata e direta com o direito
internacional que habilita a titularidade de
direitos e deveres internacionais e garante a
personalidade jurídica de direito das gentes.
 1.3.3.1 Conceito de pessoa: personalidade e capacidade

 Personalidade Jurídica- requisitos que tornam um ente, sujeito de DI.


 Capacidade - realização de atos válidos no plano jurídico internacional.
Também chamada de capacidade de agir.

 Artigo 34 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça:


 Só os Estados poderão ser partes em questões perante a Corte.

 É POSSÍVEL TER PERSONALIDADE JURÍDICA INTERNACIONAL E NÃO TER


CAPACIDADE?
 Nas hipóteses de incapacidade, o DI já reconhece o instituto da
representação, que seria “a manifestação de vontade de um sujeito
internacional produz efeitos que são imputados a outros sujeitos de DI” e
cujos elementos, segundo Sereni, seriam: a) o representante, o representado
e os terceiros devem ser sujeitos de DI; b) ela deve ser exercida no campo de
DIP, c) o representante tem o poder de agir para o representado, e isto em
nome e por conta deste.

 Ex: indivíduos e Tribunais Internacionais, Conselho de Tutela da


ONU.
 1.3.3.2 Classificação das pessoas
internacionais segundo Rezek:

 Estados Soberanos: equiparando-se a Santa


Sé.
 Organizações Internacionais.
 1.3.3.2 Classificação das pessoas internacionais segundo Celso
Mello:
 As PI seriam classificadas, segundo Celso Mello, em:
 A) Coletividades estatais: Estados.
 B) Coletividades interestatais: são formadas pelas
Organizações Internacionais, criadas por acordos constitutivos e
que têm personalidade jurídica distinta das de seus membros.
Sua existência deriva de seu tratado constitutivo.
 C) Coletividades não estatais:
 a) Beligerantes- Decorrência do Princípio da Autodeterminação
dos povos, se caracteriza quando um movimento revolucionário
ganha grande força, com tropas regulares e domínio sobre parte
do território estatal. O reconhecimento do movimento
revolucionário como beligerante obriga seus participantes, por
exemplo, a respeitar as leis de guerra, firmar tratados
internacionais, comprar armas. Ex: O Pacto Andino reconheceu o
movimento sandinista como beligerante em 1979.
Reconhecimento de países da África no conflito de Biafra.
 b) Insurgentes- também chamados de “estado de insurgência”.
Ocorre em revoltas que não assumem a proporção de uma
guerra civil. Os efeitos do reconhecimento da insurgência são
mais restritos além de não gerarem direitos e deveres
automaticamente, como no reconhecimento dos beligerantes. O
ato de reconhecimento é que fixa os efeitos.
 c) Vaticano- Após muitos conflitos políticos a questão ficou
resolvida no Acordo de Latrão, que reconheceu a soberania da
Santa Sé no domínio internacional, com o seu direito à plena
propriedade e à jurisdição soberana sobre o Vaticano. A
personalidade internacional, é da Santa Sé e não do Vaticano. A
Santa Sé é a reunião da Cúria Romana com o Papa. Alguns
autores sustentam que a personalidade internacional é da Igreja
Católica. Esta posição é minoritária pois o Acordo de Latrão fala
expressamente em Santa Sé. Não tem povo.
 d) Outros – Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Soberana
Ordem de Malta...
 D) Indivíduos.
 Organizações Internacionais:
 Organizações Interestatais: formadas por
Estados (Ex: entes dos quais vários Estados
participam). É sujeito de DI.

 Organizações Não Governamentais: tem ação


no direito internacional, mas não são sujeitos
de direito internacional. Algumas possuem
status consultivo em organismos
interestatais. Ex: Ong’s.
 XIII EXAME DE ORDEM UNIFICADO O sistema global de Direitos Humanos foi
pensado para proteger as vítimas de violações ou ameaças de violações dos
direitos humanos. Daí os variados mecanismos que buscam proteção ou
reparações em face de diferentes violências. Contudo, dentro do sistema global há
um tratado internacional que instituiu um órgão de caráter permanente e
independente voltado especificamente para o julgamento e a punição de
indivíduos agressores e não diretamente para a proteção das vítimas. Assinale a
opção que indica esse órgão.


 A)Corte Internacional de Justiça “Corte de Haia” instituída pela Carta das Nações
Unidas.

 B) Conselho de Segurança da ONU, instituído pela Carta das Nações Unidas.

 C) Tribunal Penal Internacional, instituído pelo Estatuto de Roma.

 D) Corte Europeia dos Direitos dos Homens, instituída pela Convenção Europeia
dos Direitos do Homem.
 FCC - 2012 - TRT - 4ª REGIÃO (RS) - Juiz do
Trabalho - Pela doutrina tradicional, qual dos
entes abaixo NÃO é considerado sujeito de
direito internacional:
 a) Estados
 b) Organizações Internacionais
 c) Santa Sé
 d) Empresas multinacionais
 Caso concreto 2
 Analise o texto abaixo retirado do voto de A.A. Cançado Trindade, proferido na
Corte Interamericana de Direito Humanos no caso da Comunidade Indígena
Sawhoyamaxa versus Paraguay:
 “...No universo do Direito Internacional dos Direitos Humanos, é o indivíduo quem
alega ter seus direitos violados, quem alega sofrer os danos, quem tem que
cumprir com o requisito do prévio esgotamento dos recursos internos, quem
participa ativamente da eventual solução amistosa, e quem é o beneficiário (ele ou
seus familiares) de eventuais reparações e indenizações.
 (...). No presente domínio de proteção, todo jus internacionalista, fiel às origens
históricas de sua disciplina, saberá contribuir para o resgate da posição do ser
humano como sujeito de direito das gentes dotado de personalidade e plena
capacidade jurídicas internacionais".
 Responda a pergunta abaixo:
 No que se refere ao trecho do voto de Antônio Augusto Cançado Trindade,
responda:
 - Com base no conceito de sujeito de direito internacional e no de uma sociedade
internacional aberta, como defende Celso Mello, discorra sobre a posição do ser
humano como sujeito de Direitos, refletindo sobre sua personalidade e sobre sua
capacidade para agir no plano internacional.
 NORMA INTERNACIONAL:
 Regras + Princípios (manifestação da consciência
jurídica dos povos).

 A norma internacional tem natureza costumeira


ou convencional.

 Crescente importância do Jus Cogens no DIP


MODERNO (normas imperativas, de autoridade
absoluta que outras não podem derrogar). Ex:
proibição do genocídio, tortura, escravidão.
 Características:
 Ordem pública para a satisfação do interesse comum dos
integrantes da SI;
 Não admite derrogação (*), a não ser por nova norma
imperativa;
 Para sua aceitação basta uma ampla maioria abrangendo
os diferentes “tipos” de Estados (diversidade);
 Anti-positivista, pois aniquila os tratados “injustos”,
mesmo que formalmente válidos;
 Criam obrigações internacionais erga omnes (para todos);
 Problema da identificação (conteúdo);
 Ragazzi: a matéria a qual ela se relaciona contém
considerações de ordem moral e não apenas legal.
(valores)
“É nulo um tratado que, no momento de sua
conclusão, conflite com uma norma imperativa
de Direito Internacional geral. Para os fins da
presente Convenção, uma norma imperativa de
Direito Internacional geral é uma norma aceita e
reconhecida pela comunidade internacional dos
Estados como um todo, como norma da qual
nenhuma derrogação é permitida e que só pode
ser modificada por norma ulterior de Direito
Internacional geral da mesma natureza.”
Questão 17
Com relação à chamada “norma imperativa de Direito Internacional
geral”, ou jus cogens, é correto afirmar que é a norma:
(A) prevista no corpo de um tratado que tenha sido ratificado por
todos os signatários, segundo o direito interno de cada um.

(B) reconhecida pela comunidade internacional como aplicável a


todos os Estados, da qual nenhuma derrogação é permitida.

(C) aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas e


aplicável a todos os Estados membros, salvo os que apresentarem
reserva expressa.

(D) de direito humanitário, expressamente reconhecida pela Corte


Internacional de Justiça, aplicável a todo e qualquer Estado em
situação de conflito.

 1.3.4. As fontes do Direito Internacional
 1.3.4.1. Fontes e fundamentos: distinção
 Parte minoritária da doutrina apresenta uma confusão entre os
fundamentos e as fontes do Direito Internacional. Os fundamentos do
Direito Internacional são os pontos de onde o DIP retira sua legitimidade
e sua obrigatoriedade os motivos e fatos que justificam e dão causa a
essa legitimidade e obrigatoriedade, quais as razões jurídicas da
aceitação e obrigatoriedade do Direito Internacional por parte de toda a
sociedade internacional enquanto as fontes determinam do que se
compõe o Direito Internacional Público buscam determinar de onde
provêm as regras jurídicas internacionais.

 FUNDAMENTOS SUBJETIVISTAS X OBJETIVISTAS X JUSNATURALISTAS


 Os fundamentos subjetivistas se baseiam na vontade dos próprios
Estados (concepção moderna, Estado soberano). Ex: tratados.
 Os fundamentos para os objetivistas está para além da vontade. Ex:
Kelsen. Existência de norma superior que vincula...
 Os fundamentos para os jusnaturalistas surge do elemento sociável do
Estado, desde sua criação, da natureza dos povos.

 1.3.4.2. Fontes formais e materiais:
 Fontes Formais do DIP: lugar onde surge o
Direito. Processos de formulação do conteúdo
de certa regra. Fato ou ato que tem a
capacidade de produzir regras. Ex: Tratados.
 Fontes Materiais do DIP: Elementos históricos,
econômicos, sociais, ou seja, tudo que
influencia ao aparecimento das fontes
formais que são responsáveis pela formação
das regras do DIP.
 1.3.4.3. O Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça
 O Artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça tornou-se
referência no estabelecimento das fontes do DIP.
 Artigo 38
 A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as
controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará:
a. as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que
estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados
litigantes;
 b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita
como sendo o direito;
 c. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;
 d. sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a
doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como
meio auxiliar para a determinação das regras de direito.
 A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir
uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem.

 Outros: atos unilaterais como fonte.


 Ex: Crise dos Mísseis de 1962 e o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares de 1968.
 QUESTÃO OBJETIVA 32 EXAME OAB/RJ.
 Segundo o Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional
de Justiça, são fontes do direito internacional as
convenções internacionais;
 a. o costume, os atos unilaterais e a doutrina e a
jurisprudência, de forma auxiliar.
 b. o costume internacional, os princípios gerais de
direito, os atos unilaterais e as resoluções das
organizações internacionais.
 c. o costume, princípios gerais de direito, atos
unilaterais, resoluções das organizações
internacionais, decisões judiciárias e a doutrina.
 d. o costume internacional, os princípios gerais de
direito, as decisões judiciárias e a doutrina, de forma
auxiliar, admitindo, ainda a possibilidade de a Corte
decidir ex aequo et bono, se as partes concordarem.
 Gabarito: d.
 Tratados (Convenções) –
 Os tratados são considerados atualmente a fonte mais
importante do DI, não só devido à sua multiplicidade mas
também porque geralmente as matérias mais importantes são
regulamentadas por eles. É hoje considerado a fonte do DI mais
democrática, porque há participação direta dos Estados na sua
elaboração (Bedjaoui). Os tratados só podem ser definidos pelo
seu aspecto formal, porque todos os assuntos podem ser
regulamentados por normas convencionais internacionais.

 A convenção sobre direito dos tratados concluída em Viena, em


1969 dá a seguinte definição:

 "tratado significa um acordo internacional concluído entre
Estados em forma escrita e regulado pelo DI, consubstanciado
em um único instrumento ou em dois ou mais instrumentos
conexos qualquer que seja a sua designação específica" .
 1.3.4.3. Costume internacional: fundamento,
elementos constitutivos, características e
interpretação.

 O costume internacional surge do fato de que os


Estados adotavam certas atitudes porque eram
cômodas ou respondiam a uma necessidade.
Gradativamente, foi se tomando consciência de que a
repetição da prática era boa para a ordem social.
 O costume é lento e assim vem perdendo força
atualmente, já que as mudanças estão ocorrendo com
muita rapidez. No entanto, o DI surgiu sob a forma
de costume internacional, o que comprova sua
importância como fonte de DI.
 O costume internacional pode ser geral (utilizado por
um amplo número de sujeitos internacionais) ou local
(por exemplo, entre dois países).

 1.3.4.3. Costume internacional: fundamento, elementos constitutivos,
características e interpretação.

 Elemento Constitutivo material e subjetivo dos Costumes:
 A doutrina assevera que o costume e formado por um elemento material
e outro subjetivo.
 O Elemento material – Também chamado de objetivo. Seria o uso geral
seguido por uma parcela da SI, a repetição de atos (precedentes).
 O elemento subjetivo- Também chamado de psicológico. Seria a
convicção de que aquela conduta segue uma regra costumeira presente
no DIP. Tal elemento ficou conhecido pela expressão opinio juris sive
necessitatis (convicção sentida pelos Estados de que o DI exige um
determinado tipo de conduta).O elemento subjetivo é muito criticado
por parte da doutrina, por ser de difícil análise, contudo, ainda é
utilizado pois quando se trata de um ato que segue o costume, este
precisa ser realizados com" a convicção de que os mesmos, de acordo
com o Direito Internacional, são obrigatórios" (Accioly). Este elemento
tem a vantagem de distinguir o costume do uso, isto é, de diferençar
uma norma jurídica obrigatória que, quando violada, acarreta a
responsabilidade internacional, de uma prática não obrigatória e que, se
violada, não acarreta a responsabilidade.
 Para Celso Mello, é a aceitação do costume como um novo Direito. Este
tem sido o elemento mais importante, desde que represente a convicção
de uma grande parcela dos Estados (represente o consenso coletivo) e
de condições sociais e econômicas diversas. Seria um dever ser.

 Caso Concreto 1
 O litígio se dá entre Portugal e Índia. O primeiro Estado aparelhou perante a Corte
Internacional de Justiça procedimento judicial internacional contra o Estado indiano, relativo a
certos direitos de passagem pelo território deste último Estado de súditos portugueses
(militares e civis), assim como de estrangeiros autorizados por Portugal com a intenção de
dirigir-se a pontos encravados situados perto de Damão, para acesso aos encraves de Dadra e
Nagar-Aveli. O Estado português alega que havia um costume [internacional] local que
concedia um direito de passagem pelo território indiano a seus nacionais e às forças armadas
até Dadra e Nagar-Aveli. A alegação de fundo é a de que o Estado indiano quer anexar estes
dois territórios portugueses, ferindo seus direitos soberanos sobre eles. Os indianos
sustentam que, segundo o Tratado de Pooma, realizado em 1779 entre Portugal e o
governante de Maratha e posteriores decretos exarados por este governante, os direitos
portugueses não consistiam na soberania sobre os mencionados encraves, para os quais o
direito de passagem é agora reclamado, mas apenas num "imposto sobre o rendimento".
 Quando o Reino Unido se tornou soberano naquele território em lugar de Maratha,
encontraram os portugueses ocupando as vilas e exercendo um governo exclusivo. Os
britânicos aceitaram tal posição, não reclamando qualquer tipo de soberania, como sucessores
de Maratha, mas não fizeram um reconhecimento expresso de tal situação ao Estado
português. Tal soberania foi aceita de forma tácita e subseqüentemente reconhecida pelo
Estado indiano, portanto as vilas Dadra e Nagar-Aveli foram tidas como territórios encravados
portugueses, em território indiano.
 A petição portuguesa coloca a questão que o direito de passagem foi largamente utilizado
durante a soberania britânica sobre o Estado indiano, o mesmo ocorrendo no período pós-
britânico. Os indianos alegam que mercadorias, com exceção de armas e munições, passavam
livremente entre o Porto de Damão (território português) e ditos encraves, e que exerceram
seu soberano poder de regulamentação impedindo qualquer tipo de passagem, desde a
derrubada do governo português em ditos encraves. (Pereira, L. C. R. Costume Internacional:
Gênese do Direito Internacional. Rio de Janeiro: Renova, 2002, p. 347 a 349 – Texto adaptado).
 Diante da situação acima e dos dados apresentados, responda:
 1) De acordo com entendimento da Corte Internacional de Justiça, qual a fonte de direito
internacional Público é aplicável a fim de dar solução ao litígio?
 2) Como ela é definida?
 3) Qual o elemento que a torna norma jurídica?
 1.3.4.3. Costume internacional: fundamento, elementos constitutivos,
características e interpretação.

 Fundamento:
 Duas teorias divergem sobre a questão do fundamento: voluntarismo e
objetivismo.
 Voluntarismo –
 Consentimento tácito dos Estados (Grocius, Vattel, Anzilotti e outros
positivistas).
 Objetivismo -
 1) consciência jurídica coletiva
 Consciência social do grupo: convicção comum que os Estados têm de
que devem respeitar os costumes, conforme a razão, o direito objetivo,
à noção de Justiça, solidariedade econômico-social ou um sentimento
jurídico dos homens.
 Criticada por ser vaga e imprecisa.
 2) Sociológica: (C. Rousseau)
 O costume é um produto da vida social que visa atender às necessidades
sociais. O costume não é "a aplicação de uma regra preexistente, de
uma convicção"; pelo contrário, é a regra criada após um "determinado
comportamento" (Sereni).. É a mais aceita. A prática constante de atos
cria certo equilíbrio social. É a mais aceita.

 1.3.4.3. Costume internacional: fundamento,
elementos constitutivos, características e
interpretação.

 Características dos Costumes:
 a) "prática comum" - no sentido de que ele
resulta da repetição uniforme de certos atos
na vida internacional;
 b) "prática obrigatória" - ele é direito que, em
consequência, deve ser respeitado pelos
membros da sociedade internacional;
 c) "prática evolutiva" - o costume possui
uma" plasticidade" que lhe permite se adaptar
às novas circunstâncias sociais;
Derrogação  regra geral dos conflitos de lei no
tempo. O costume geral é derrogado pelo particular se
dispõe sobre a mesma matéria, a não ser que o
costume geral seja norma jus cogens.
Hierarquia  não existe hierarquia entre fontes de DI.
Tratado pode revogar costume (raro) e vice-versa.
Término  Tratado que o codifica ou revoga /novo
costume /pela dessuetude.
 1.3.4.3. Costume internacional: fundamento, elementos
constitutivos, características e interpretação.

 Prova:
 O costume se prova pelas declarações políticas,
correspondência diplomática, etc. Atualmente defende-se que as
recomendações das organizações internacionais expressariam
um costume, não pela repetição de atos, mas pela
simultaneidade e multiplicidade dos Estados que participam em
sua votação. O costume surge neste caso de modo consciente. A
ONU tem tido um papel centralizador na formação do costume.
Quem alega é que deve provar.

 Interpretação:
 O costume não possui métodos precisos de interpretação, o que
permite uma grande "liberdade política" para os seus intérpretes
(Serge Sur). Para Carlos Fernández Casadevante Romaní o
processo de interpretação tem três fases:
 a) determinação da sua existência;
 b) a qualificação das práticas como costume;
 c) a determinação do conteúdo.

 1.3.4.4. Atos unilaterais (enquanto atos auxiliares)
 Conceito: Manifestação de vontade de um sujeito de
DI, que surte efeitos jurídicos. Têm sua eficácia
condicionada a ser público e ao fato de que o Estado
que a elabore tenha intenção de se obrigar.

 Soft Law: Com relação aos atos unilaterais é relevante


discorrer sobre a importância dos atos unilaterais das
Organizações Internacionais na contemporaneidade e
seus efeitos na nova corrente do Direito Internacional
Público. Soft law, droit doux (direito flexível).
 Ex: declarações, resoluções, recomendações,
decisões.



Costume instantâneo X Costume selvagem

- No costume selvagem, exige-se os elementos prática repetida no TEMPO e


a opinio juris. Há que existir a prática para que se forme a opinio juris.

- No costume instantâneo: o elemento opinio juris vem antes da prática e


independe do tempo. Essa ideia surgiu da reivindicação de países novos de
que resoluções de órgãos como a Assembleia Geral da ONU fossem
considerados costumes.
EX: “Declaração sobre o a independência dos países e dos povos coloniais”, a “Estratégia para a
primeira década das Nações Unidas para o desenvolvimento”, e a “Resolução sobre a
soberania permanente sobre os recursos naturais”.
Costume instantâneo X Costume selvagem

- No costume selvagem, independentemente do


momento do surgimento, se existentes os
elementos, há norma. Verifica-se a existência da
norma.
- No costume instantâneo, verifica-se o momento
de seu nascimento.
 Jurisprudência: As decisões judiciárias a que
se refere o art. 38 do Estatuto da Corte da
Haia significam, em sentido estrito, o
conjunto das decisões arbitrais que se têm
proferido, há séculos, no deslinde de
controvérsias entre Estados; e ainda o
conjunto das decisões judiciárias proferidas,
com igual propósito, a partir do início do
século XX.
 1- Qual é o conceito de pessoa de direito internacional?
 2-Comente as mudanças ocorridas quanto ao papel dos Estados
no Direito Internacional Púbico antes e após a Segunda Guerra
Mundial:
 3-Que novos sujeitos apareceram na sociedade internacional
durante o século XX? Qual o motivo da inserção desses novos
atores como sujeitos de direito internacional?
 4- Aponte as duas correntes sobre a Personalidade Jurídica
Internacional:
 5- Segundo Rezek tais condições para a existência de
personalidade jurídica internacional seriam:
 6- O que é personalidade jurídica e capacidade jurídica no
Direito Internacional?
 7- É possível ter personalidade jurídica e não ter capacidade no
DIP? É possível a representação no DIP? Explique:
 8- Qual é a diferença de classificação das pessoas internacionais
levando-se em consideração o posicionamento de Rezek e Celso
Mello?
 9- É comum a presença de notícias sobre o “Estado do Vaticano”
nos diferentes meios de comunicação. Segundo a doutrina
majoritária é correta a denominação do Vaticano enquanto
“Estado”? Explique a posição do Vaticano na sociedade
internacional:
 10- Qual diferença entre Organizações Internacionais (também
chamadas de organizações transnacionais, intergovernamentais)
e as Organizações não governamentais?
 11- Qual a natureza das normas de Direito Internacional?
 12- A doutrina mais atual vem discutindo a inserção do conceito
de jus cogens no Direito Internacional Público, muito embora
alguns doutrinadores façam críticas quanto à difícil identificação
do conteúdo do jus cogens. Diante de tais afirmativas, descreva
o conceito de jus cogens:
 13- Conceitue fontes formais e fontes materiais do Direito
Internacional Público:
 14- Segundo o Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de
Justiça, aponte quais as fontes do Direito Internacional Público?
 15- Qual a fonte subsidiária do Direito Internacional presente no
Art. 38 da CIJ segundo a doutrina?
 16- Segundo os doutrinadores do Direito Internacional as fontes
apontadas no Art. 38 da CIJ que se tornou paradigma para a
identificação das fontes do DIP, não apresentam a característica
da taxatividade. Explique esta afirmativa relacionando-a com
pelo menos uma das características da sociedade internacional
(as características da sociedade internacional estão presentes na
aula 02):
 17- Qual é a definição de tratado presente na convenção sobre
direito dos tratados concluída em Viena (CVT), em 1969 dá a
seguinte definição:
 18- Qual é o elemento material (objetivo) e subjetivo do
costume?
 19- Qual é a diferença entre costume e uso? Qual é a relação
entre esta diferenciação e a presença do opinio jures?
 20- Quais as características do costume?
 21- Descreva resumidamente o opinio jures:
 22- Existe hierarquia entre as fontes do Direito
Internacional?
 23- A quem cabe a prova da existência de um
costume em determinada relação jurídica?
 24 – Quais os elementos necessários para a eficácia
dos atos unilaterais enquanto fontes do Direito
Internacional?
 25- Doutrina “novíssima” é a que postula a existência
da “soft law” no Direito Internacional Público bem
como do “costume instantâneo”. O que seria a “soft
law” ou direito flexível e o costume instantâneo?
 26- Segundo o Art. 38 da CIJ, o que seria
jurisprudência enquanto fonte de Direito
Internacional?

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