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1. A Personalidade Internacional
Ter personalidade jurídica significa possuir aptidão genérica ou condição para ser titular
de direitos e contrair obrigações ou deveres. A personalidade relaciona-se com a
capacidade jurídica, que é a aptidão para efetivamente exercer direitos e cumprir
obrigações, praticando atos válidos no ordenamento jurídico nacional.
Cabe destacar que a doutrina não é uníssona quanto aos sujeitos que possuem
personalidade jurídica internacional.
Parte da doutrina, mais tradicionalista, entende que são sujeitos de DIP apenas os
Estados e as Organizações Internacionais. Os Estados seriam os sujeitos primários, ou
originários, com capacidade jurídica plena de direito internacional, e a personalidade
jurídica das organizações internacionais derivaria da personalidade jurídica de seus
membros, conformando, assim, uma personalidade jurídica derivada.
Ressalta-se que nem todo sujeito de DIP possui a mesma medida de direitos e
deveres frente a sociedade internacional. Os indivíduos, por exemplo, não podem
celebrar tratados nem acessar diretamente todas as cortes internacionais1. Na realidade,
cada espécie de sujeito de direito internacional público tem um conjunto próprio, e distinto,
de direitos e deveres.
Protocolo de Ouro Preto, Art. 34: “O Mercosul terá personalidade jurídica de Direito
Internacional.”
É importante não confundir a personalidade jurídica no âmbito interno dos Estados, com a
personalidade jurídica na sociedade internacional.
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Progressivamente, os indivíduos estão conseguindo ter acesso direto a mecanismos de jurisdição
internacional, como na Corte Europeia de Direitos Humanos. Entretanto, o jus postulandi, direito de se dirigir
diretamente ao judiciário, é uma exceção.
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No direito, o termo sui generis indica que a situação ou condição é uma exceção. Portanto, quando se diz
que a personalidade jurídica é sui generis, quer dizer que ela foge à regra geral ou possui particularidades.
No Brasil, a pessoa jurídica pode ser de Direito Público, interno e externo, e de Direito
Privado. Consoante o Art.41 do Código Civil, são pessoas jurídicas de direito público
interno a União, os Estados da federação, o Distrito Federal, os territórios, os municípios,
as autarquias, inclusive as associações públicas, e demais entidades de caráter público
criadas por lei. ONGs, empresas, indivíduos e o CICV seriam pessoas de direito privado.
Os sujeitos de direito público externo são alguns dos entes considerados sujeitos de
DIP: Estados e Organizações Internacionais. No Brasil, a República Federativa do Brasil é
sujeito de direito público externo, representando a União no exercício de suas
competências internacionais.
2. O Estado
É possível também que um Estado surja de uma nação, como ocorreu com Israel.
Cabe destacar que os Estados formam as Organizações Internacionais e são
responsáveis pela maior parte das normas que regem a sociedade internacional.
Inclusive, princípios essenciais para as relações internacionais derivam do
reconhecimento do papel central dos Estados, como a igualdade jurídica entre Estados e
a própria soberania.
Artigo 1
O Estado como pessoa de Direito Internacional deve reunir os seguintes requisitos.
I. População permanente.
II. Território determinado.
III. Governo.
IV. Capacidade de entrar em relações com os demais Estados.
Mas quem faz parte da população? Para a doutrina, a comunidade nacional é formada
pelos nacionais, as pessoas com um vínculo de pertencimento com o Estado. Nesse
sentido, diz-se que a nacionalidade é o vínculo jurídico-político entre um Estado e
um indivíduo.
Cabe destacar que para um indivíduo ser nacional de um Estado, essa nacionalidade
deve ser efetiva, como confirmado pela CIJ no caso Nottebohm3.
O Estado também deve possuir um território determinado, ainda que possam haver
pendências relativas à determinação de fronteiras, como ocorre em diversos países. Se a
população permanente é a dimensão pessoal, o território é a dimensão física de um
Estado.
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Ainda que emblemático, o Caso Nottebohm, que trouxe à tona o conceito de “nacionalidade efetiva”,
atualmente, deve ser relativizado quanto aos requisitos necessários, de acordo com o Projeto de Artigos da
CDI de 2006 e com o corrente costume internacional.
Entende-se por território o espaço geográfico no qual o Estado exerce sua soberania.
Isto é, o território delimita a área onde o ordenamento jurídico nacional de um Estado é
observado.
O governo soberano é a estrutura central que exerce controle efetivo sobre o território,
consoante o ordenamento jurídico nacional. Isto é, o governo exerce funções para a
manutenção da administração e da ordem jurídica. Um ponto importante é que o DIP não
delimitou uma forma específica de governo, podendo o Estado ser uma monarquia ou
uma república.
Para que um governo seja soberano, ele deve ser absoluto, indivisível e incontestável.
Nesse sentido, a soberania implica a não submissão a outra autoridade. No plano interno
de um Estado, o poder soberano é, em tese, um poder sem limites jurídicos, que apenas
pode ser restringido por princípios de direito natural. Já no plano externo, o limite da
soberania é a coexistência pacífica com outros Estados soberanos, ideia fundamentada
na igualdade jurídica.
3. O território
Por fim, a subjugação (conquista ou uso da força) é a aquisição de um território por meio
de uma agressão ilegítima. Apesar de haver na doutrina o entendimento pelo não
reconhecimento de Estados criados por atos ilegais, a sociedade internacional tem aceito,
por meio do reconhecimento, as consequências da conquista, especialmente quando há o
controle do território e quando é improvável a reintegração ao antigo soberano.
A posse britânica das Ilhas Malvinas baseia-se na conquista. Apesar dos protestos
argentinos, grande parte da comunidade internacional reconhece seu status como posse
britânica.
O DIP considera ilegítima a anexação de território pela força, como disciplina o art.2(4)
da carta da ONU.
Relaciona-se à aquisição de território o princípio do uti possidetis4, que, para o DIP
atual, significa que um novo Estado possui as fronteiras da entidade antecessora, isto é,
as fronteiras coloniais existentes na data da independência devem ser respeitadas.
Esse princípio foi muito utilizado para delimitar as fronteiras dos países resultantes dos
processos de descolonização em meados do século XX, sendo princípio aplicado pela
CIJ em disputas territoriais e fronteiriças envolvendo antigas possessões coloniais,
territórios da ex-URSS e ex-Iugoslávia. No caso Burkina-Faso contra Mali na CIJ, a
resolução do conflito entre os dois países teve por base o respeito à intangibilidade das
fronteiras herdadas da colonização, ilustrando a importância do uti possidetis para a
delimitação das fronteiras.
O limite territorial é uma linha divisória que separa o território de um Estado do território
dos Estados vizinhos ou de áreas internacionais. Ele indica até onde vai o território de um
Estado, portanto, até onde um Estado exerce soberania exclusiva.
A fronteira, por sua vez, indica os contornos do território de um Estado, uma zona
espacialsendo menos precisa que o limite territorial.
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Na formação do território brasileiro, o princípio do uti possidetis referia-se ao reconhecimento da posse de
um território a partir da ocupação. Diferia-se da ocupação presumida, com base em título (o uti possidetis
juris)
As fronteiras também podem ser definidas por decisões arbitrais. Nesse caso, por meio
de uma decisão arbitral comprova-se ou confirma-se um direito de propriedade, gerando
uma obrigação para os Estados partes da decisão.
Uma vez estabelecida a fronteira, esta passa a ser vinculante para terceiros e a existir
independentemente da validade do próprio tratado que a definiu, consoante o
princípio da estabilidade das fronteiras. Em tese, a mudança nas circunstâncias, o rebus
sic stantibus, não se aplica a tratados sobre fronteiras.
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Artigo 31 Regra Geral de Interpretação
1. Um tratado deve ser interpretado de boa fé segundo o sentido comum atribuível aos termos do tratado
em seu contexto e à luz de seu objetivo e finalidade.
2. Para os fins de interpretação de um tratado, o contexto compreenderá, além do texto, seu preâmbulo e
anexos:
a)qualquer acordo relativo ao tratado e feito entre todas as partes em conexão com a conclusão do tratado;
b)qualquer instrumento estabelecido por uma ou várias partes em conexão com a conclusão do tratado e
aceito pelas outras partes como instrumento relativo ao tratado.
3. Serão levados em consideração, juntamente com o contexto:
a)qualquer acordo posterior entre as partes relativo à interpretação do tratado ou à aplicação de suas
disposições;
b)qualquer prática seguida posteriormente na aplicação do tratado, pela qual se estabeleça o acordo das
partes relativo à sua interpretação;
c)quaisquer regras pertinentes de Direito Internacional aplicáveis às relações entre as partes.
4. Um termo será entendido em sentido especial se estiver estabelecido que essa era a intenção das partes.
4. A nacionalidade
É importante observar que a perda de direitos políticos, por outro lado, não implica
necessariamente a perda da nacionalidade. Nos casos dos incisos seguintes, o
indivíduo continua sendo nacional, mesmo que tenha seus direitos políticos
extintos ou suspensos.
5. Improbidade Administrativa.
4.2. Exceção para portugueses no Brasil
De acordo com o Artigo 12 da Constituição Federal: "Aos portugueses com residência
permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os
direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição."
No entanto, mais tarde, Nottebohm alegou que seus direitos haviam sido violados pela
Guatemala. Como resultado, Liechtenstein decidiu interpor uma ação perante a CIJ em
seu nome, buscando a proteção diplomática de Nottebohm contra as ações do governo
guatemalteco.
Como resultado, a CIJ não analisou o mérito das alegações de violação dos direitos de
Nottebohm pela Guatemala. A decisão da Corte baseou-se na falta de um vínculo efetivo
entre o indivíduo e o Estado cuja proteção diplomática estava sendo invocada.
1. Ius Soli (Direito do Solo): De acordo com o princípio do ius soli, os indivíduos que
nascem no território de um Estado adquirem automaticamente a
nacionalidade desse Estado. Esse critério enfatiza o local de nascimento como
fator determinante para a nacionalidade.
2. Ius Sanguinis (Direito do Sangue): O princípio do ius sanguinis estabelece que a
nacionalidade é transmitida aos filhos por meio do sangue, ou seja, de acordo
com a nacionalidade dos pais. Isso significa que uma pessoa pode adquirir a
nacionalidade de seus pais, independentemente de onde tenha nascido.
Destaca-se que um mesmo ordenamento jurídico pode adotar os dois critérios, como
ocorre no Brasil, em que a nacionalidade é concebida tanto pelo fato do nascimento em
território nacional quanto pela nacionalidade dos genitores.
1. Ius Laboris (Direito do Trabalho): Este critério determina que os indivíduos que
trabalham em território nacional podem adquirir a nacionalidade desse Estado. A
ideia subjacente é que a contribuição para a economia e a sociedade do país pode ser
reconhecida por meio da concessão de nacionalidade.
2. Ius Domicilii (Direito do Domicílio): Pessoas que estabelecem um domicílio em
território nacional também podem adquirir a nacionalidade derivada. Isso ocorre quando
alguém estabelece residência permanente em um país e demonstra um compromisso
com essa nação por meio do domicílio.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas em 1948, estabelece princípios fundamentais relacionados à
nacionalidade. Os artigos relevantes incluem:
1. Artigo XV (1): "Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade". Este artigo reconhece a
nacionalidade como um direito inerente a todas as pessoas. Ele enfatiza que todos
têm o direito de pertencer a uma nação e serem reconhecidos como seus membros.
O Brasil não apenas reconhece o ius soli como condição de naturalização de um apátrida,
como também a seção II da lei da migração, que trata da proteção da pessoa apátrida e
da redução da apatridia, prevê um mecanismo simplificado de naturalização em seu
artigo 26. Uma vez reconhecida a condição de apátrida, o solicitante será consultado
sobre o desejo de adquirir a nacionalidade brasileira. Caso não opte pela naturalização
imediata, terá a autorização de residência outorgada em caráter definitivo. Além disso,
caberá recurso contra decisão negativa de reconhecimento da condição de apátrida.
Um grande exemplo de apatridia com relação ao Brasil é o das irmãs Mamo. Maha e Souad
Mamo foram as primeiras apátridas a receberem a nacionalidade brasileira pelo processo
simplificado descrito na Lei de Migração. Elas nasceram no Líbano, país que adota o ius
sanguini, de pais sírios. Por não serem filhas de libaneses, não puderam ser registradas no
Líbano. Tampouco na Síria, já que seus pais não eram oficialmente casados, o que impossibilita
o registro de acordo com a lei local.
Por outro lado, nos casos de anexação ou dissolução, a nacionalidade do Estado que
deixa de existir deixa de existir junto com ele, o que, em tese, poderia resultar em
apatridia. Para evitar isso, a prática internacional presume que os residentes do território
afetado adquirem automaticamente a nacionalidade do Estado que sucede aquele
território como seu local de residência habitual.
5. A nacionalidade brasileira
Para exemplificar, vamos considerar que o filho de dois diplomatas japoneses, a serviço
do Japão, tenham seu filho em território brasileiro. A criança não será automaticamente
brasileira. No entanto, se os pais japoneses estiverem no Brasil representando os
interesses dos Estados Unidos, nesse caso o seu filho, nascido no Brasil, irá adquirir
automaticamente a nacionalidade brasileira.
Além disso, a CF prevê que, para que um filho nascido no estrangeiro de pai brasileiro ou
mãe brasileira adquira a nacionalidade brasileira originária, ele deve ser registrado em
repartição brasileira competente ou, alternativamente, venha a residir na República
Federativa do Brasil e opte, em qualquer momento após atingir a maioridade, pela
nacionalidade brasileira. Esse requisito visa a garantir um nexo efetivo com o país,
permitindo que o indivíduo decida conscientemente sobre sua nacionalidade ao atingir a
idade adulta.
A nacionalidade brasileira originária, portanto, é atribuída de forma automática com base
nos critérios de jus soli e jus sanguinis estabelecidos pela Constituição Federal. Esses
princípios refletem a abertura do Brasil à inclusão de pessoas que nascem em seu
território ou que têm vínculos de sangue com cidadãos brasileiros, promovendo a
diversidade e a integração na sociedade brasileira.
Os portugueses com residência permanente no Brasil têm direitos equiparados aos dos
brasileiros, desde que haja reciprocidade em favor dos brasileiros em Portugal. No
entanto, a Constituição estabelece exceções específicas, ou seja, alguns direitos que são
exclusivos de brasileiros natos, que analisaremos mais adiante.
A lei 13.445/2017, conhecida como Lei de Migração de Migração, em vigor desde 2017,
complementa a CF/88, estabelecendo e aprimorando as condições e procedimentos para
a naturalização de estrangeiros que desejam se tornar cidadãos brasileiros. A
naturalização é um ato pelo qual o Estado concede a nacionalidade brasileira a um
estrangeiro, permitindo-lhe gozar dos direitos e deveres de um cidadão brasileiro. A lei
prevê quatro formas de naturalização, cada uma com seus requisitos específicos:
Naturalização Ordinária, Extraordinária, Especial e Provisória.
5.3. A nacionalidade brasileira derivada: as formas de naturalização
Além disso, a lei estabelece condições especiais para estrangeiros oriundos de países de
língua portuguesa. Para esses indivíduos, o requisito de residência é reduzido para
apenas um ano ininterrupto, e a idoneidade moral ainda é necessária.
O solicitante não pode ter qualquer condenação penal em seu histórico. Isso significa
que ele deve apresentar uma conduta exemplar e não ter antecedentes criminais que
comprometam sua idoneidade moral.
A naturalização extraordinária é caracterizada pelo fato de que, uma vez que os critérios
são cumpridos, a pessoa tem o direito à nacionalidade brasileira. Diferentemente de
outras formas de naturalização, essa modalidade não está sujeita à discricionariedade
do Estado. Portanto, se um estrangeiro atender aos critérios estabelecidos na lei, ele tem
o direito legal à naturalização brasileira.
O Artigo 12, Parágrafo 2º, da Constituição Federal é claro ao afirmar que a lei não pode
estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos na
própria Constituição. Os principais casos são os cargos reservados a brasileiro nato e
regras de extradição.
A Constituição Federal de 1988, no Artigo 12, Parágrafo 3º, estabelece uma série de
cargos públicos que são privativos de brasileiros natos. A reserva de cargos públicos para
brasileiros natos é uma precaução destinada a garantir que as funções mais sensíveis do
Estado sejam exercidas por indivíduos com uma ligação profunda e inquestionável com o
Brasil, protegendo assim a soberania e os interesses nacionais.
O cargo de Presidente da República deve ser ocupado por um brasileiro nato em todas as
situações. Nos termos do art. 80, em caso de impedimento do Presidente e do
Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados
ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado
Federal e o do Supremo Tribunal Federal. Logo, todos os cargos acima citados devem
ser ocupados por brasileiros natos para assegurar a continuidade do governo caso
seja eventualmente necessário.
IV - Ministro do Supremo Tribunal Federal: Não apenas o presidente do STF, que está
na lista para substitutos eventuais do chefe do executivo, mas todos os magistrados que
integram o mais alto tribunal do país igualmente devem ser brasileiros natos.
5.5. Extradição
A extradição é um processo legal que incorre no envio de um indivíduo para ser julgado
por crime cometido na jurisdição de outro Estado, ou para no estrangeiro cumprir pena.
No entanto, o Artigo 5º, Inciso LI, da Constituição Federal é claro ao afirmar que nenhum
brasileiro nato poderá ser extraditado em qualquer circunstância. Isso significa que
os cidadãos brasileiros que nasceram no país têm o direito absoluto de não serem
entregues a outro Estado, independentemente do crime que possam ter cometido ou das
acusações que enfrentam no exterior.
Vale se atentar que, consoante Portela, “nas hipóteses em que um brasileiro, nato ou
naturalizado, não puder ser extraditado, é indiferente a circunstância de o indivíduo ter
também a nacionalidade do Estado que pede a extradição. Nesse sentido, a extradição
não será concedida”.
Atenção! Não confundir extradição com a entrega ao Tribunal Penal Internacional, realizado sob
os auspícios do Estatuto de Roma. Qualquer indivíduo está sujeito à entrega, independente de
ser brasileiro nato ou naturalizado.
De acordo com o artigo 12, § 4º, inciso I, da Constituição Federal, será declarada a perda
da nacionalidade do brasileiro que tiver sua naturalização cancelada por sentença
judicial, em virtude de fraude relacionada ao processo de naturalização ou de
atentado contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de fraude relacionada
ao processo de naturalização ou de atentado contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático;
Antes, o artigo 12, § 4º, inciso II, agora modificado, estabelecia que a aquisição de outra
nacionalidade, salvo algumas exceções, resultava na perda da nacionalidade brasileira.
Por seus termos, se um brasileiro adquirisse outra nacionalidade por meio do
reconhecimento da nacionalidade originária pela lei estrangeira, ele não perderia
automaticamente a nacionalidade brasileira. A nacionalidade brasileira também não seria
perdida quando um brasileiro residente em estado estrangeiro fosse obrigado a se
naturalizar de acordo com as normas desse país, como condição para permanecer em
seu território ou exercer direitos civis. Nesse caso, a manutenção da nacionalidade
brasileira era permitida, reconhecendo a situação de coerção imposta pelo Estado
estrangeiro.
A Constituição Federal, em seu artigo 12, § 4º, inciso II, prevê a perda da nacionalidade
brasileira em caso de pedido expresso pelo nacional perante autoridade brasileira
competente, ressalvadas situações que acarretem apatridia
Vale ressaltar que o sistema brasileiro não prevê a aquisição automática da nacionalidade
brasileira como efeito direto e imediato do casamento civil.
É importante mencionar que quando uma empresa não possui atividades econômicas
substanciais no Estado onde foi constituída, e o gerenciamento e controle financeiro da
empresa estão localizados em outro Estado, o último Estado pode ser considerado como
o Estado da nacionalidade da empresa.
No caso Barcelona Traction, Light and Power Company (Bélgica vs. Espanha) de 1970, a
CIJ deu um passo importante na discussão sobre a nacionalidade de empresas e as
implicações da proteção diplomática. A Barcelona Traction, Light and Power Company era
uma empresa que operava na Espanha. No entanto, a maioria de seus acionistas era de
nacionalidade belga. Quando ocorreram disputas e alegações de violações de direitos dos
acionistas belgas em relação à remessa de lucros da empresa, a Bélgica buscou exercer
a proteção diplomática em nome de seus nacionais.
A CIJ adotou o critério da incorporação como base em sua decisão, determinando que a
nacionalidade da Barcelona Traction é vinculada à lei do Estado onde foi constituída, ou
seja, o Canadá. A Corte argumentou que não eram os interesses dos acionistas que
estavam sendo protegidos, e sim da empresa canadense. Portanto, deveria ser o Canadá
e não a Bélgica a exercer a proteção diplomática sobre os trabalhadores da empresa.
Destarte, o caso foi extinto sem causa de mérito.
O artigo 5º, parágrafo 2º, do Código Penal Brasileiro estipula que a lei penal brasileira se
aplica a crimes cometidos a bordo de embarcações e aeronaves brasileiras, sejam elas
de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, independentemente de sua
localização geográfica.
O antigo Estatuto do Estrangeiro, que vigorou por muitos anos, estava pautado por uma
lógica soberanista. Sob essa perspectiva, via-se o estrangeiro como "o outro", quase
como um inimigo, sob a ótica de Carl Schmitt. A principal ênfase desse estatuto estava na
contribuição que o estrangeiro poderia fazer para a economia local, proporcionando
mão-de-obra especializada aos diversos setores da economia nacional. Essa abordagem
tinha um viés utilitarista, buscando trazer trabalho e conhecimento especializado ao
país, sendo criado sob a lógica do interesse nacional.
Por outro lado, a nova Lei de Migração, promulgada em 2017, representa uma mudança
significativa. Ela foi criada sob a lógica dos direitos humanos e se baseia em princípios
fundamentais, como a universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos
humanos, o repúdio e a prevenção à xenofobia, a não criminalização da migração, a
acolhida humanitária, a garantia do direito à reunião familiar, a igualdade de tratamento e
de oportunidade ao migrante e a seus familiares, bem como a inclusão social, laboral e
produtiva do migrante por meio de políticas públicas.
1. Visto de Visita: Este tipo de visto é concedido a estrangeiros que desejam entrar
no Brasil sem a intenção de estabelecer residência. Pode ser utilizado para fins
de turismo, negócios, trânsito, atividades artísticas ou desportivas, entre outros. É
importante ressaltar que a estada no país com esse visto é temporária.
2. Visto Temporário: Este visto é destinado a estrangeiros que pretendem
estabelecer residência no Brasil por um período determinado. Pode ser
concedido para finalidades como pesquisa, tratamento de saúde, acolhida
humanitária, entre outros. Os vistos temporários são fundamentais para aqueles
que desejam residir temporariamente no país.
A concessão de visto pode ser negada a estrangeiros que tenham sido previamente
expulsos do Brasil. Essa medida visa garantir a segurança e a ordem interna do país.
Outra hipótese envolve estrangeiros que são acusados ou respondem por crimes do
Tribunal Penal Internacional, incluindo crimes contra a humanidade, crimes de guerra
ou crimes de agressão. O Brasil, como signatário do Estatuto de Roma, coopera com o
TPI em questões relacionadas a tais crimes.
Os estrangeiros condenados por atos de terrorismo ou crimes de genocídio, bem
como aqueles que estão respondendo a processos por tais crimes, podem ter a
concessão de visto negada. Isso está alinhado com os compromissos internacionais do
Brasil na luta contra o terrorismo e a promoção da justiça.
A Lei de Migração também prevê que a concessão de visto também pode ser negada a
estrangeiros que estão respondendo a processos por crimes dolosos que são
passíveis de extradição. Essa medida visa garantir que o Brasil não se torne um refúgio
para pessoas que estão fugindo da justiça em seus países de origem.
É importante realçar que o artigo 44 conta com um importante parágrafo único que gera
uma obrigação negativa ao Estado:
Lei nº 13.445/2017. Artigo 45, parágrafo único: Parágrafo único. Ninguém será impedido de
ingressar no País por motivo de raça, religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou
opinião política.
Para facilitar a livre circulação dos residentes fronteiriços, a legislação migratória brasileira
prevê a possibilidade de conceder uma autorização para a realização de atos da vida
civil. Isso é particularmente importante nas áreas de fronteira, onde a interação entre
comunidades de ambos os lados da fronteira é frequente e necessária para atividades
cotidianas. Compras, negócios e visitas familiares podem ser realizados sem a
necessidade de obter um visto de entrada completo, promovendo relações amistosas
e interações benéficas entre as comunidades dos países vizinhos.
A migração ilegal é uma questão séria e está intrinsicamente ligada com graves ilícitos
transfronteiriços como o tráfico de pessoas e pode resultar em penalidades severas para
aqueles que a promovem. Visando combater essa prática, a legislação migratória
brasileira considera ilegal a promoção, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem
econômica, da entrada ilegal de estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país
estrangeiro.
Também têm acesso aos benefícios da seguridade social, incluindo saúde, educação e
previdência social, em condições equivalentes às dos brasileiros, entre outros direitos
sociais.
Apesar da extensa gama de direitos civis, sociais, culturais e econômicos garantidos aos
migrantes, eles não têm direitos políticos no Brasil. Isso significa que os estrangeiros
não podem votar em eleições nacionais ou exercer cargos políticos, e também não podem
participar de atividades que envolvam direitos políticos, como referendos e plebiscitos.
Lei nº 13.445, Art. 47: A repatriação, a deportação e a expulsão serão feitas para o país de
nacionalidade ou de procedência do migrante ou do visitante, ou para outro que o aceite, em
observância aos tratados dos quais o Brasil seja parte.
6.5.1. Repatriação
6.5.2. Deportação
É importante ressaltar que a deportação não pode ser usada como um disfarce para a
extradição, ou seja, não pode ser utilizada como uma maneira de enviar uma pessoa de
volta ao seu país de origem quando a extradição não é admitida pela legislação brasileira.
6.5.3. Expulsão
A legislação migratória brasileira também estabelece que a expulsão não será realizada
se houver razões para acreditar que a medida poderá colocar em risco a vida ou a
integridade pessoal do estrangeiro. Além disso, não são permitidas expulsões coletivas.
Bibliografia
DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado - Parte geral. 9. ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 2008.
BBC News Brasil. Abrigo a Zelaya é situação sem precedentes, diz jurista. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/09/090923_honduras_rezek_ac>
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso Elementar. 15.ed. São Paulo:
Saraiva, 2014