Você está na página 1de 17

Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais

SUJEITOS DO
DIREITO INTERNACIONAL
PÚBLICO

Prof. Osvaldo Ngola


NOÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

A natureza fundamental das normas jurídicas corresponde a imputação de


Direitos e Deveres aos sujeitos envolvidos. Ninguém numa sociedade
contratual, está isento de exigir os seus direitos e cumprir com os seus
deveres, salvo sob condicionalidade da própria norma.

No plano internacional, o entendimento sobre os sujeitos destinatários da


norma não é tão simples quanto no plano interno, existe uma
conectividade directa entre os mesmos que uma análise extensiva nos
colocaria novamente no ponto de partida. O Estado posiciona-se em grande
medida como o coordenador de qualquer projecto internacional e sem ele,
questionar-se-ia a efectividade dos outros sujeitos. Mas, a própria evolução e
o posicionamento firme das organizações internacionais, coloca em cheque a
soberania dos Estados.
Visão histórica
Os sujeitos do Direito Internacionalista Público na tradição internacionalista afigura-
se como um processo dinâmico.

•O direito das gentes conforme desenvolvido por Gaio, dirigia-se mais aos
homens do que aos Estados.

•No final da idade média, a relevância do corpo político no plano internacional


aumenta, consolidando-se na idade moderna o monopólio do Estado.

• No século XX, reintroduz-se a figura dos indivíduos como sujeito da norma


internacional e, em função das grandes guerras mundiais, os Estados acabam criando
um novo sujeito: as organizações Internacionais.

Até aqui ainda não definimos o que são sujeitos do Direito Internacional Público,
nem avançamos sobre a ideia da doutrina sobre o assunto. Antes, percebe-se por
sujeito aquele cuja a acção lhe é atribuída.
É sujeito do Direito Internacional aquele que adquirir ou ser
susceptível da aquisição de direitos e obrigações resultante da
interacção directa e imediata com a norma. (Pereira e Quadro,
p. 299)

Esclarecimento

Um sujeito de direito internacional tem direito na quadro das garantias


internacionais e tem dever de contribuir para o processo de alcance das metas
internacionais;

Por outra, é imperioso que a sua actuação se encontre comungada com o dispositivo
normativo, princípio da vinculação.

O determinante fundamental para aferir a titularidade de direito e deveres de um


sujeito internacional ocorre nos mesmos termos que no contexto interno, onde:
A CAPACIDADE DE GOZO E A CAPACIDADE DE EXÉRCÍCIO definem o
campo de actuação do sujeito.

O QUE ISTO SIGNIFICA?

Dois conceitos Distintos: Personalidade Jurídica e Capacidade Jurídica

Personalidade Jurídica: é a aptidão que nos confere direito e deveres, sendo eles,
absolutos (dever do respeito), genérico (não discriminatório, aplicado a todos pelo
facto de existirem).

Capacidade Jurídica: é a medida que nos legitima a agir em nome próprio,


fazendo uso pleno dos nossos direitos e deveres.

Plano 1. Capacidade plena


Internacional 2. Capacidade limitada
Paragem Obrigatória

É NECESSÁRIO PERCEBERMOS O SEGUINTE:


• Os sujeitos do Direito Internacional são determinados pelo próprio
direito, não o são por direito próprio;

• A forma como nasce a personalidade jurídica dos seus sujeitos são estabelecida pelo
próprio direito (Automático/Estado e actos especiais/demais organizações);

• Só são sujeitos aqueles que encontram ligados directa e imediatamente com a


norma, fundamento vinculativo estabelecido pela teoria voluntarista;

• personalidade jurídica pode ser considerada como ampla ou restrita. Na


ampla, temos os Estados e na restrita temos os demais Sujeitos. Por exemplo as
organizações internacionais devem unicamente seguir os seus objectivos
Classificação dos Sujeitos de Direito Internacional Público (Visão Pereira e
Quadros)

Sujeitos com capacidade Estados soberanos


Jurídica Plena
1648 - 1945

Beligerantes: refere a um grupo que se


encontra numa guerra em busca de
poder, sobre pretextos de várias ordens
Com base territorial
contra quem governa;
Estados semi-soberanos: são aqueles
sem representações externas, ocorridas
Sujeitos com capacidade por uma delegação a outrem.
jurídica limitada
Interesses espirituais: Santa Sé;

Sem base territorial Interesses políticos:


movimentos de libertação nacional,
governo no exílio, indivíduo e
Organizações Internacionais
“RECONHECIMENTO DOS SUJEITOS DO DIP”
Conforme o seu grau de relevância, quer no âmbito da actuação, como do interesse
das discussões académicas, importa-nos estudar os sujeitos do Direito Internacional
de acordo a apresentação abaixo.
É importante perceber:
a) Como nasce a personalidade jurídica internacional;
b) De que maneira o ente se torna sujeito do Direito Internacional.

Estados Organizações
Santa Sé Indivíduos
Soberanos Internacionais

Declaratória: a personalidade jurídica nasce


independentemente reconhecimento. O Estado declara.se
como sujeito do DIP na constatação dos seus elementos
Teorias constitutivos: povo, território e o poder político soberano.

Constitutiva: o DIP resultada da vontade dos Estados,


logo, logo, são eles que devem admitir um novo membro na
comunidade internacional.
O que se percebe?

Se com a teoria declaratória apoiada pela corrente anti-voluntarista,


o reconhecimento de um Estado é um acto livre pelo qual um ou mais
Estados atestam a existência, sobre um território determinado, na qual
consta a presença de uma sociedade humana politicamente
organizada.

A teoria constitutiva, baseada na tese voluntarista defende que o


surgimento de um novo sujeito da comunidade internacional “Direito
Internacional”, passa pela aceitação ou reconhecimento dos Estados já
existentes. Assim, a personalidade jurídica torna-se dependente do
reconhecimento.
Individual ou Colectivo: é um acto pelo qual um novo Estado é

1 reconhecido por um único Estado ou por um grupo de Estados. Apesar do

de Reconhecimento
reconhecimento ser um acto livre, quer do novo como do Estado já
existente, é preciso que o mesmo não surja de um comportamento de má
fé, sob pena de produzir efeitos retroactivos.

Expresso ou tácito: o reconhecimento é expresso quando através de


Formas

2
uma nota diplomática escrita ou verbal, um Estado manifesta o seu
reconhecimento do nascimento de um novo Estado. Enquanto que o tácito
ocorre quando de forma implícita um Estado mantem relações de
cooperação com o outro, sem necessariamente fazer um pronunciamento
público sobre a condição do novo Estado.

De facto e de Iure: o reconhecimento de facto apresenta-se como

3
provisório, revogavel e produz efeitos limitados. Surge quando dentro de
um Estado novo ainda verifica-se lutas políticas que colocam o bom
funcionamento das instituições do Estado. Entretanto, terminada a
instabilidade, o reconhecimento deixa de ser facto, passando para a de
iure, considerado como definitivo, irrevogável, pleno e de eficácia total.
Estados soberanos: requisitos da personalidade
internacional

De acordo com a teoria do Estado em Direito internacional, o Estado Soberano nasce


como novo sujeito quando reúne os três elementos.

A criação do Estado Soberano resulta do exercício do direito da autodeterminação de um povo


que, no território que é seu, institui o próprio poder político.

A soberania do Estado atribui-lhe:


1- A independência internacional;
2- A supremacia interna.
Da personalidade internacional do Estado Soberano derivam dois factores: a unidade e a
permanência.
UNIDADE: implica que a actuação do Estado é de âmbito geral, abrange todo o seu território;
PERMANÊNCIA: significa que apesar das mudanças internas do seu governo, o Estado permanece o
mesmo no plano Internacional e, o novo governo vincula-se aos compromissos do seu antecessor.
“Consequência da personalidade jurídica do
Estado Soberano”

Competência Interna Competência Internacional

O Direito Internacional reconhece os seguintes


direitos aos Estados Soberanos.
O Estado é o único sujeito com
a plenitude da competência a) Direito de legação: enviar e receber agentes
interna, exercendo de forma diplomáticos;
exclusiva a sua gestão
b) Direito de celebrar tratados internacionais
territorial e;
(Já não é um direito exclusivo);
é por excelência o único com c) Direito de reclamação internacional (Art.
direito de atribuir
34º CIJ);
nacionalidade a pessoas
singulares colectivas d) Direito de fazer a guerra (ius belli – Art. 2º;
54º Carta da ONU).
Causas que originam o aparecimento dos Estados
Soberanos

1. Separação: ocorre quando um território colonial se desvincula do Estado


Metropolitano. O exemplo mais evidente é um fenómeno da descolonização.

2. Desmembramento: acontece quando há secessão ou a criação concertada


de um Estado novo. Na secessão, o surgimento do novo Estado pode fazer
desaparecer o antigo Estado. Ex. Federação Jugoslava (Croácia, Eslovénia,
Bósnia – Herzegovina e a Macedónia). É igualmente o que aconteceu com a
URSS e com o desaparecimento da antiga República Checoslováquia e a sua
substituição pela República Checa e pela República Eslovaca.
3. Fusão: é a união entre dois Estados, como sucedeu com o Tanganika e
Zanzibar em 1964, dando origem à Tanzânia como novo Estado.
O território pode desaparecer em
virtude dos fenómenos naturais:
cataclismo físico.
Desaparecimento do
A hipótese do desaparecimento do povo
Estado Soberano:
é a mais difícil. Para o efeito, deveria
Perda de um dos seus
acontecer um genocídio total de um
elementos constitutivos
povo

O poder político soberano


desaparece nas seguintes
situações

Incorporação Fusão Divisão


Indivíduo enquanto sujeito do Direito Internacional

As notas avançadas sobre a situação do indivíduo ser ou não sujeito do Direito


Internacional permitem-nos corroborar com as ideias apresentadas pelos
Professores Pereira e Quadro, segundo a qual, o vocábulo indivíduo não pode
limitar-se numa análise limitada. É preciso quando se estiver a falar de indivíduo,
entenda-se, pessoa singular, pessoa colectiva (de direito público e privado) ou
até mesmo quando se tratar das minorias.

Hans Kelsen, defende que o indivíduo é sujeito do Direito Internacional, na medida


em que para ele derivam directamente obrigações, cuja sanção lhe é imputada.
(Crime de pirataria).

Também, é inegável que a matéria do Direito Internacional Humanitário, torna sem


dúvidas no indivíduo um sujeito do DIP.
O Direito Internacional tem prestado bastante atenção na questão das minorias

étnica, por se tratarem de grupos que pela sua condição apresentam um certo grau
de exposição. O genocídio do Ruanda e tantos outros registados no mundo,
ofereceram lições suficiente para uma melhor protecção deste grupo.

Nos dias actuais, é importante não relegar a força da comunidade LGBT, na


emancipação dos seus direitos.

Outro caso especial é o das organizações não governamentais, pessoas colectivas


sem fim lucrativo, criadas por iniciativa privada ou mista, cujo objectivo fundamental
é o de influenciar ou corrigir a actuação dos sujeitos do Direito Internacional,
especialmente Estados Soberanos e das Organizações Internacionais.

Dentro das ONG merecem realce, pela sua importância, a Cruz Vermelha (domínio
humanitário), o Comité Olímpico Internacional…

Conclui-se com a ideia de ser também o indivíduo um sujeito do


DIP.
“A água que não corre forma um
pântano e a mente que não pensa
forma um tolo”
Victor Hugo, poeta e romancista francês

Você também pode gostar