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O Estado em Direito Internacional

Para ser considerado Estado no âmbito do Direito Internacional Público se faz necessário a
existência de cinco elementos constitutivos: povo (conjunto de indivíduos unidos por laços
comuns); território (base física ou o âmbito espacial do Estado, onde ele se impõe para
exercer, com exclusividade, a sua soberania); governo autônomo e independente (é a
instância máxima de administração executiva, geralmente reconhecida como a liderança de
um Estado ou uma nação); finalidade (traduz na idéia de o Estado deve sempre perseguir
um fim) e; a capacidade para manter relações com os demais Estados.

1. INTRODUÇÃO

O Estado é um tipo de pessoa jurídica reconhecida pelo Direito Internacional. Todavia,


uma vez que existem outros tipos de pessoas jurídicas reconhecidas como tais, a posse da
personalidade jurídica não é em si, uma característica suficiente que marque a qualidade de
Estado. Além disso, o exercício das capacidades jurídicas, mais do que uma prova decisiva,
é uma consequência normal da personalidade jurídica: um Estado fantoche pode ser todos
os aprestos característicos de uma personalidade distinta e, no entanto, não passar de um
representante de uma potencia.

O conceito de Estado vem evoluindo desde a Antiguidade, a partir da Pólis grega e da


Civitas romana. Até o limiar a denominação “Estado” era desconhecida sendo empregadas
diversas expressões como, por exemplo, rich, imperium etc. O termo tem origem no
latim status, reportando-se ao entendimento de “estar firme”, sendo empregado pela
primeira vez com sentido jurídico e político , no século XVI, por Maquiavel, em sua obra O
Princípio, quando indicou a organização de comunidades denominadas “cidades-estado”. 

O significado de Estado varia do ponto de vista de cada doutrina, de cada autor e de qual
enfoque se pretende dar sobre ele, ou seja, sob o aspecto político, sociológico,
constitucional, filosófico, no campo internacional, tornando, portanto, extremamente difícil
estabelecer os reais contornos para o termo Estado.

Norberto Bobbio afirmar que “o conceito de Estado não é um conceito universal, mas serve
apenas para indicar e descreve uma forma de ordenamento político surgida na Europa a
partir do século XIII até os fins do século XVIII ou inícios do século XIX, na base dos
pressupostos e motivos específicos da história européia e apos esse período se estendeu,

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libertando-se, de certa maneira,das suas condições originarias e concretas de nascimento, a
todo mundo civilizado.”

A Convenção Pan-Americana sobre Direitos e Deveres dos Estados (Montevidéu, 1933)


considera que o Estado é pessoa internacional deve ter os seguintes requisitos: a) povoação
permanente; b) território determinado; c) governo; d) capacidade de entrar em
relações com os demais Estados. Celso Albuquerque de Mello citando Verhoeven observa
que há uma tendência do Estado do DIP ser o Estado das Nações Unidas. Diz ele que ser
Estado é um efeito do ingresso de uma coletividade na ONU e não uma condição para
ingressar na ONU.

Elementos Constitutivos (Essenciais) do Estado

O conceito de Estado em Direito Internacional não é o mesmo que lhe atribui a Teoria
Geral do Estado, sendo mais restrito e com particularidades diversas. Em ambas as
disciplinas, porém se tem a certeza de que, pois critérios da qualidade de Estado devem ser
enunciados pelo Direito. Se assim não fosse, um Estado poderia pretender não saldar
eventual dívida para com outro pelo simples dato arbitrário de ao reconhecer o outro como
Estado.

De toda sorte, não tendo a pretensão de alargar por demais o assunto, pois vários
entendimentos e conceitos podem ser suscitados para Estado, apresenta-se a idéia para
nortear o presente estudo, como sendo uma organização política destinada a manter a ordem
social, política e jurídica, zelando pelo equilíbrio, paz, harmonia, num sentido maior, pelo
bem-estar social dos administrados, devendo ser levada em conta a existência dos elementos
constitutivos.

Segundo Valério de Oliveira Mazzuoli, Estado é “um ente jurídico, dotado de


personalidade internacional, formado de uma reunião (comunidade) de indivíduos
estabelecidos de maneira permanente num território determinado, sob a autoridade de um
governo independente e com a finalidade precípua de zelar pelo bem comum daqueles que o
habitam”. 

Para ser considerado Estado no âmbito do Direito Internacional Público se faz necessário a
existência de cinco elementos constitutivos: povo (conjunto de indivíduos unidos por
laços comuns); território (base física ou o âmbito espacial do Estado, onde ele se impõe
para exercer, com exclusividade, a sua soberania); governo autônomo e independente (é

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a instância máxima de administração executiva, geralmente reconhecida como a liderança
de um Estado ou uma nação); finalidade (traduz na idéia de o Estado deve sempre perseguir
um fim) e; a capacidade para manter relações com os demais Estados. 

2. Análise dos Elementos constitutivos do Estado

2.1. Povo

Há que distinguir povo, que é o conjunto dos nacionais, natos e naturalizados, de


população, que é o povo mais os estrangeiros e apátridas. O princípio das nacionalidades
propõe que o Estado é o conjunto de indivíduos unidos por laços comuns (raça, idioma,
etc.). Tal princípio levou a regimes totalitários e racistas.

Hoje se defende que o Estado é formado pela comunidade de indivíduos que habite
permanentemente o território com ânimo definitivo. Diferença entre Nação e Estado. Nação
é a comunidade moldada por uma origem, uma cultura, uma história e uma ideologia
comuns, constituída por pessoas de mesma ascendência, ainda não organizada na forma de
Estado. Já este é o órgão controlador criado pela Nação e que a personifica.

2.2. Território

O segundo elemento é o território fixo e determinado, que corresponde à fração do planeta


em que o Estado se assenta com a população, delimitada por faixas de fronteiras formadoras
dos limites, mas, ele não precisa ser completamente definido, sendo que a ONU tem
admitido Estados com questões de fronteira, por exemplo, Israel. É o elemento material,
base física ou âmbito espacial do Estado.  Sobre este território o Estado exercerá a
soberania em duplo aspecto:

a) imperium: exercício de jurisdição sobre a grande massa daqueles que nele se encontram;

b) dominium: regência do território, por sua própria e exclusiva vontade. O direito que o
Estado tem sobre seu território exclui que outros entes exerçam ali qualquer tipo de poder e
lhe atribui amplíssimo direito de uso, gozo e disposição.

O território inclui:
a) o solo, dentro dos seus limites reconhecidos;
b) o subsolo e as regiões separadas do solo;
c) os rios, lagos e mares interiores;

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d) os golfos, baías e portos;
e) a faixa de mar territorial e a plataforma submarina, para os Estados que têm litoral;
f) o espaço aéreo correspondente ao solo.

O território não precisa estar perfeitamente demarcado para ser elemento do Estado. Basta
que haja um mínimo de estabilidade territorial e sua delimitação. Hugo Grotius defendia
que a embaixada era uma extensão do território do seu Estado. Esta teoria, chamada de
teoria da extraterritorialidade, que depois foi estendida também aos navios e aeronaves
militares, foi sendo abandonada hodiernamente.

Tais locais gozam apenas de imunidade de jurisdição em relação ao Estado reditante, mas
continuam sendo parte do seu território (os navios e aeronaves militares quando ali
estejam).

A zona contígua moçambicana compreende uma faixa que se estende das doze às vinte e
quatro milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a
largura do mar territorial. Na zona contígua, o Brasil poderá tomar as medidas de
fiscalização necessárias para: I – evitar as infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros,
fiscais, de imigração ou sanitários, no seu territórios, ou no seu mar territorial; II – reprimir
as infrações às leis e aos regulamentos, no seu território ou no seu mar territorial.

2.3. Governo Autônomo e independente

O conceito de governo autônomo e independente leva à ideia de Estado soberano.


Soberania é o poder supremo que não reconhece outro acima de si (suprema protestas
– superiorem non recognoscens).

Hoje já não se pode falar em soberania absoluta dos Estados, enquanto poder ilimitado e
ilimitável, já que a soberania hoje encontra limites nas próprias regras de Direito
Internacional Público. Na verdade a noção de soberania nunca significou autonomia
absoluta”, mas colocava “limites à legitimidade das interferências dos Estados entre eles

Nos dias hoje se entende soberania como:

a) o poder que o Estado tem de impor e resguardar, dentro das fronteiras do seu território e
em último grau, as suas decisões (soberania interna);

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b) a faculdade que o Estado detém de manter relações com Estados estrangeiros e de
participar das relações internacionais, em pé de igualdade com os outros atores da sociedade
internacional (soberania externa).

Os variáveis conceitos de Soberania

Tal governo autônomo e independente deve ter autocapacidade, ou seja, atuar com
liberdade interna e internacionalmente. Os Estados que têm um governo autônomo,
independente e com autocapacidade, têm soberania (ou capacidade internacional) plena.

2.4. Finalidade

A finalidade é o elemento social do Estado. Não é reconhecido por toda a doutrina. Traduz-
se na ideia de que o Estado deve perseguir uma finalidade, que deve ser o bem comum dos
indivíduos que o compõe.

A formação dos Estados, que ocorre quando seus elementos constitutivos se integram,
interessa ao Direito Internacional Público por suas consequências no plano internacional.
Tal integração leva à soberania.

Segundo Valério de Oliveria Mazzuolli não se pode mais entender que o

“Estado tem por única e exclusiva finalidade extrair se sua coletividade humana o máximo
de proveito em prol de si mesmo, sem se preocupar com o bem-estar de sua população.
Portanto, não são os indivíduos que existem para o Estado, mas este que se forma em
relação àqueles, e por isso tem o dever de proteger-lhes e garantir-lhes os meios necessários
para a sua plena realização pessoal”.

2.5. Capacidade para manter relações com os demais Estados

A capacidade para manter relações com os demais Estados este conceito é representa a


independência do Estado. A independência foi realçada por muitos juristas como o critério
decisivo da qualidade de Estado. Podendo a independência ser encarada por dois prismas:

– O Estado possui um grau de centralização dos seus órgãos que não se encontra Ana
comunidade mundial.

– Numa determinada área, o Estado é a única autoridade executiva e legislativa.

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Em outras palavras o estado deve ser independente das outras ordens jurídicas estatais, e
qualquer interferência dessas ordens jurídicas ou de uma representação internacional deve
basear-se num título de Direito Internacional.

3. Formação dos Estados

Segundo Valério de Oliveira Mazzuoli a formação dos Estados, faticamente, pode se dar
por: 

a) Fundação direta: consistente no estabelecimento permanente de uma população em um


dado território sem dono (res nullius), com a instituição de um governo organizado e
permanente;

b) Emancipação: por meio do qual um Estado se liberta de ser dominante ou do jugo


estrangeiro, seja de forma pacífica, seja em virtude de rebelião;

c) Separação ou desmembramento: ocorre quando um Estado se separa ou se desmembra,


para dar lugar à formação de outros. Chama-se sucessão o desmembramento estranho à
processo de descolonização, retirando daí sua diferença com a emancipação.

d) Fusão: por meio do qual um Estado-núcleo absorve dois ou mais Estados, reunindo-os
em um só ente para a formação de um só Estado, ou ainda pela junção de territórios
formando um Estado novo.

Por atos jurídicos, um Estado pode se formar por:

a) uma lei interna;

b) um tratado internacional (Irlanda, 1921);

c) decisão de um organismo internacional (Israel, 1947).

Surgido o novo Estado, surge o problema de seu reconhecimento.

O reconhecimento de um Estado é o “ato livre pelo qual um ou mais Estados reconhecem a


sua existência, num território determinado, de uma sociedade humana politicamente
organizada, independente de qualquer outro Estado existente e capaz de observar as
prescrições do Direito Internacional”.

O reconhecimento do Estado tem dupla característica:

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a) demonstra a existência do Estado como sujeito de Direito Internacional Público;

b) constata que o Estado possui as condições necessárias para participar das relações
internacionais e que a sua existência não contrasta com os interesses dos Estados que o
reconhecem.

A natureza jurídica do reconhecimento é explicada por duas correntes distintas:

a) teoria constitutiva, para a qual o reconhecimento é que atribui ao Estado a condição de


sujeito de Direito Internacional Público;

b) teoria declaratória, para a qual o reconhecimento apenas declara que o novo Estado é
sujeito de Direito Internacional Público.

A segunda corrente é a mais aceita, estando inclusive positivada no art. 13 da Carta da


OEA. Há uma divergência teórica acerca da obrigatoriedade ou não do reconhecimento de
um novo Estado.

Para alguns, o reconhecimento é acto voluntário e unilateral dos Estados, que decidem
politicamente se querem ou não reconhecer o novo Estado. 

Para outros, entretanto, o reconhecimento de um Estado novo é um direito deste, desde que
reúna todos os elementos de um Estado, e um dever dos demais atores da sociedade
internacional. O não-reconhecimento só pode ter lugar quando o novo Estado tenha sido
criado em desacordo com o Direito Internacional Público.O ato de reconhecimento pode ser
classificado de forma, individual ou coletiva, conforme seja feito por um Estado ou por
vários deles em conjunto em um único documento diplomático.

Atualmente se entende que o admissão de um Estado na ONU representa o reconhecimento


deste Estado por todos os seus membros.

Também quando a ONU não-reconhece um Estado, manifestando-se no sentido de que um


Estado é fruto de ato ilegal, há o chamado não-reconhecimento colectivo de direito (de jure)
ou de fato (de facto): é de direito o reconhecimento resultante quer de uma declaração
expressa, quer de um ato positivo que indique com clareza a intenção de conceder esse
reconhecimento, que será definitivo e irrevogável. É de fato o reconhecimento decorrente
de um fato que implique a intenção de conceder esse reconhecimento, que será provisório e

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revogável expresso ou tácito: é expresso o reconhecimento que consta de documento
escrito.

É tácito o reconhecimento que se puder inferir, pela prática e pela atitude implícita dos
demais membros estatais da sociedade internacional, a vontade de reconhecer como ente
soberano o novo Estado, por serem tais práticas incompatíveis com a vontade de não-
reconhecimento Incondicionado ou condicionado: é incondicionado e irrevogável o
reconhecimento feito sem a imposição de condições. É condicionado o reconhecimento
feito com a imposição de certas condições que, se desrespeitadas, o reconhecimento. O
reconhecimento condicionado contraria a teoria declaratória do reconhecimento.

A forma mais comum de se dar o reconhecimento é por ato do órgão das relações
exteriores do Estado, geralmente por nota diplomática ou decreto do Chefe de Estado.

4. Classificação dos Estados

Os Estados podem ser classificados de um ponto de vista puro, quanto à sua estrutura, em
Estados Simples e Estados Compostos.

Os Estados simples não apresentam maiores problemas para o DI, vez que apresentam um
poder único e centralizado. É o caso dos Estados unitários, por exemplo, a França. A
personalidade internacional é uma única.

Os Estados compostos apresentam uma estrutura complexa, e a centralização do poder não


é tão grande. É esta categoria que apresenta dificuldades para o nosso estudo, pois faz surgir
a questão de sabermos se os Estados-membros de um Estado composto possuem ou não
personalidade internacional.

a) Estados Compostos por Coordenação: “associação de Estados soberanos ou pela


associação de unidades estatais que, em pé de igualdade, conservam apenas uma autonomia
de ordem interna, enquanto o poder soberano é investido num órgão central.”

“- União Pessoal (reunião acidental e temporária; autoridade de um soberano


comum); União Real (conservação da autonomia interna; delegação a um órgão único da
representação externa); Confederação de Estados (associação de Estados; conservação da
autonomia e personalidade internacional; cessão permanentemente de parte da liberdade de
ação a um órgão central – Dieta).

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– União Federal, Estado Federal ou Federação de Estados (união permanente; preservação
da autonomia interna dos membros da federação; soberania externa exercida por um órgão
central). V. arts. 1.º; 21; 60, § 4.º; 84, VII (CF/1988).”

b) Estados Compostos por Subordinação: Estados vassalos (autonomia interna; dependentes


de outro Estado na condução dos negócios externos; pagamento de tributo); protetorados –
Estados protegidos (cessão de parte dos direitos soberanos – soberania externa à
subordinação voluntária), Estados clientes (defesa de alguns negócios ou interesses
executada por outro Estado). Obs.: atualmente não há nenhum exemplo desses três tipos de
Estado.

5. Reconhecimento de Estado

O reconhecimento é um ato unilateral através do qual um sujeito de direito internacional,


sobretudo o Estado, constatando a existência de um fato novo (Estado, Governo, situação
ou tratado), cujo evento de criação não teve sua participação, declara, ou admite
implicitamente, que o considera como sendo um elemento com quem manterá relações no
plano jurídico. Trata-se, portanto, de ato afirmativo que introduz o fato novo nas relações
jurídicas entre os sujeitos de direito internacional.

As características do Reconhecimento: formulação de pedido da parte interessada; ato


unilateral (exceção: proibição por parte do Conselho de Segurança da ONU), irrevogável e
discricionário daquele que reconhece o novo Estado ou Governo; pode
ser tardio ou prematuro.

A Natureza Jurídica: constitutiva, ou atributiva (o reconhecimento é requisito fundamental


na constituição do fato novo), e declarativa (o fato novo independe de intenções ou
apreciações de terceiros).

– Teoria constitutiva: ato individual, ato discricionário, ato condicionado a modalidades, ato
político;

– Teoria declarativa: ato coletivo, ato obrigatório, ato puro e simples, ato jurídico.

No entanto, de acordo com o art. 3.º da Convenção de Montevidéu sobre Direitos e Deveres
do Estado (1933), “a existência política do Estado é independente de seu reconhecimento
pelos outros Estados”.

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São modalidades de reconhecimento:

6. Sucessão e Extinção dos Estados

A sucessão de Estados ocorre quando o Estado sofre transformações que atingem a sua
personalidade no mundo jurídico internacional.  A Convenção de Viena sobre sucessão de
Estados a respeito de tratados (1978) estabelece que a “sucessão de Estados significa a
substituição de um Estado por outro no tocante à responsabilidade pelas relações
internacionais do território”.

Sucessão de Estados é uma teoria em relações internacionais quanto ao reconhecimento e


aceitação de um novo Estado criado por outros Estados, baseado em uma relação histórica
percebida que o novo Estado possui com o Estado anterior. A teoria tem suas raízes na
diplomacia do século XIX.

Sucessão pode se referir a transferência de direitos, obrigações, e/ou propriedade de um


Estado anteriormente bem estabelecido (o Estado predecessor) ao novo (o Estado sucessor).
Transferência de direitos, obrigações, e propriedade podem incluir ativos estrangeiros
(embaixadas, reservas monetárias, artefatos de museus), participação em tratados,
organizações internacionais, e dívidas. Frequentemente um Estado escolhe aos poucos se
quer ou não ser considerado o estado sucessor.

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Conforme leciona Seitenfus:

“O reconhecimento é o ato unilateral através do qual um sujeito de direito internacional,


sobretudo Estado, constando a existência de um fato novo (Estado, Governo, situação
ou tratado), cujo evento de criação não teve sua participação, declara, ou admite
implicitamente, que o considera como sendo um elemento com quem manterá relações
no plano jurídico. Trata-se, portanto, de um ato afirmativo que introduz o fato novo nas
relações jurídicas entre os sujeitos de DIP”.

O surgimento de novos Estados e suas transformações políticas ou territoriais, sejam


pacificas ou litigiosas, constituem eventos que afetam a estrutura e o funcionamento da
sociedade internacional. Reconhecer um novo Estado trata-se de ato diplomático livre
pelo qual um ou mais Estados reconhecem a existência, em um território
determinado, de uma sociedade humana politicamente organizada, independente
de qualquer outro Estado existente e capaz de observar as prescrições do Direito
Internacional, bem como de manter relações com os demais atores da sociedade
internacional.

 Ao reconhecer um novo Estado, a sociedade internacional lhe condede:


i) condição de sujeito de direitos no direito internacional e

ii) condições necessárias para participar das possíveis relações políticas e


econômicas com outros Estados e organismos internacionais.

O não reconhecimento é justamente dizer, ainda que implicitamente, que o surgimento


deste novo Estado decorre de um ilícito internacional, ou seja, está em desacordo com
as normas do direito internacional. Dito isso, este Estado não estaria apto a manter
relações com os outros entes internacionais.

QUAIS SÃO AS NATUREZAS JURÍDICAS DO RECONHECIMENTO


DE ESTADO?

Existem duas concepções jurídicas possíveis acerca do reconhecimento de Estado,


quais sejam:

Teoria “atributiva” ou “constitutiva”: considera o reconhecimento pelos demais


actores internacionais como um elemento constitutivo da formação do novo Estado.
Ou seja, sem o reconhecimento, a formação do Estado permaneceria incompleta. Neste
caso, a personalidade jurídica internacional do Estado é atribuída (por isso teoria
atributiva) justamente pelo acto político do reconhecimento.

Teoria “declaratória”: considera que o nascimento de um Estado novo não depende


das apreciações dos outros Estados existentes. Ou seja, o reconhecimento do Estado
tem exclusivo alcance declaratório, pois verifica o preenchimento dos requisitos
formais de sua existência, sem lhe conferir qualidades jurídicas. A teoria declaratória
tem efeito retroativo, uma vez que seu alcance inicia-se na data do nascimento do
Estado.

Curiosidade: A maior parte da doutrina apoia a teoria declaratória, defendendo


que o Estado como tal já existe antes de seu reconhecimento, de modo que sua

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existência não depende de reconhecimento. Ao contrário, acredita-se que seu
reconhecimento só é possível vez que o Estado já existe. Na prática, a recusa do
reconhecimento não impede a existência de um Estado. O mesmo não ocorre na
situação inversa; vez que se os demais elementos constitutivos não se verificam, o
reconhecimento, por si só, não tem legitimidade de criar um novo Estado.

A diversidade das relações internacionais autorizam várias modalidades de


reconhecimento de Estado. Segundo a doutrina, quais são as principais?

a) individual ou coletivo:   trata-se de reconhecimento realizado por um Estado ou por


vários, mediante uso de mesmo instrumento diplomático. Neste caso, inclusive, pode
ocorrer manifestação que identifique ilícito internacional no surgimento de determinado
Estado.

b) de direito  ou de fato:  o reconhecimento de direito ocorre de forma definitiva e


irrevogável, através de declaração expressa ou de ato positivo que manifeste
objetivamente a intenção de conceder esse reconhecimento. Já o reconhecimento de
fato caracteriza-se por ser provisório e revogável. Reconhecimento de fato é, por
exemplo, se um Estado exerce funções diplomáticas plenas em território do Estado
novo.

c) expresso ou tácito: É o que se define quando o reconhecimento se da por documento


escrito, oriundo do Estado concedente, podendo apresentar-se como uma nota
diplomática, decreto, tratado, regulamento, entre outros. Já o reconhecimento tácito se
evidencia nos casos em que os países existentes podem intervir através de praticas ou
atitudes que impliquem na vontade de reconhecer esta nova entidade estatal. Um
exemplo é o envio de agentes diplomáticos para celebração de tratados.

d) incondicionado ou condicionado: conforme dependa ou não de condições impostas


para a concessão do reconhecimento. Normalmente, o reconhecimento
é incondicionado.

 Curiosidade: por se tratar de assunto de política internacional, a autoridade


competente para fazer o reconhecimento, geralmente, é o órgão do governo que dirige
as relações exteriores. 

Perante o Direito Internacional Público, o Estado é um sujeito de direito pleno,


portanto, é necessário entendermos em que momento este adquire a sua capacidade,
tanto no âmbito interno quanto no externo.

Após seu reconhecimento como Estado, será necessário o reconhecimento de seu


governo, pois será através dele que o Estado conseguirá manter suas relações
diplomáticas com os demais países.

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Entender a necessidade de tais reconhecimentos, é entender que o poder do Estado
nada mais é que a validade e a eficácia da ordem jurídica nacional.

Reconhecimento de Estado

Quando um novo Estado emerge, faz-se necessário seu reconhecimento pelos demais
membros da comunidade internacional. Será através do reconhecimento que este novo
Estado estará sob a aplicação das normas do direito internacional. As doutrinas,
delimitadas pelas normas do Direito Internacional Público, apontam três requisitos
clássicos que devem ser preenchidos a fim da obtenção do reconhecimento pelo
Estado. São eles: território, população e governo. Deve-se entender o território como
espaço demográfico no qual o Estado exerce a soberania de forma exclusiva e
completa. A população, no conceito jurídico, é a comunidade que possui vínculo com
o Estado, geralmente, através da nacionalidade. A autonomia para elaborar as suas
próprias regras é o que conceitua o governo. Marcelo Varella aponta que o
preenchimento dos três requisitos citados seria uma forma de reconhecimento interno
do Estado, e não elementos para o reconhecimento pela comunidade internacional. Em
1950 a ONU começa a aconselhar os Estado para que eles busquem outros requisitos
com a finalidade de reconhecer os novos Estados, como por exemplo, que estes
possuam institutos democráticos, respeite os Direitos Humanos e que adotem formas
de solução pacífica de controversas.
Observando o reconhecimento pelo lado histórico da comunidade internacional,
percebe-se que muitas vezes ele era usado prematuramente, com o intuito de
pressionar o Estado em seu movimento de independência. Entretanto, Celso Mello
afirma que o reconhecimento pode ser dado a partir do momento em que o Estado
começa a atuar na esfera internacional, não sendo necessário, portanto, a sua
independência, como foi o caso da Índia. Consequentemente, nesse período é possível
perceber que o reconhecimento era mais um ato político, com o propósito de
demonstrar que aquele novo Estado não estava mais sobre as ordens de qualquer outro
país.

A respeito da natureza jurídica, a doutrina majoritária é bastante clara de que o


reconhecimento constitui efeito declaratório e não constitutivo. Durante um período, a
União Soviética declarava que o fato de reconhecer ou não um novo Estado era uma
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ato de ingerência e, portanto, desrespeitava a soberania desse Estado. Essa teoria,
batizada de Teoria Soviética, usou por base a Carta da Organização dos Estados
Americanos, no qual afirmava que o ato deveria ser apenas declaratório, ou seja, o
Estado existiria independente do reconhecimento. Observando o reconhecimento com
efeito declaratório, este passa a ser ato unilateral e discricionário, uma vez que é uma
declaração emanada de um único Estado e, não é um ato obrigatório.

A teoria constitutiva afirma que a personalidade do Estado só é constituída com a


declaração do reconhecimento pela comunidade internacional. Com esse pensamento
o reconhecimento derivaria de um ato bilateral partindo do pressuposto de ser um
consenso mútuo entre os Estados. Pode-se afirmar que o efeito constitutivo fará com
que o Estado possua um nascimento histórico diferente do nascimento da
personalidade internacional.

Celso Mello ainda pontua um efeito misto do reconhecimento, que seria uma terceira
teoria. “A teoria mista considera que o reconhecimento constata um fato (efeito
declaratório), mas que ele constitui, entre o Estado que reconhece e o reconhecido,
direito e deveres (teoria constitutiva)”.

As formas de reconhecimento do Estado podem ocorrer de duas formas: expressa ou


tácita. O reconhecimento expresso decorre de modo formal, ou seja, por meio de uma
declaração ou notificação pública. O reconhecimento tácito poderá se dar de três
formas: diplomática, de jure ou de facto. A diplomática será o envio ou recepção de
agentes diplomáticos pelos Estados. O reconhecimento de jure ocorre quando há uma
formalização de tratado com o novo Estado. O de facto será a cooperação
internacional.

Por fim, deve-se entender que o não reconhecimento de um novo Estado não significa
que este não exista. Significa apenas que inexiste a pessoa jurídica de direito
internacional.

Reconhecimento de Governo

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Irá ocorrer quando um Estado já reconhecido pela comunidade internacional muda o
seu governo, ou seja, seu grupo político, com a violação do sistema constitucional do
Estado, como ocorre, por exemplo, em golpes e revoluções. Celso Mello classifica
este tipo de governo como de facto, ou seja, seria aquele que conseguiu subir ao poder
em desavença com o estabelecido na constituição , terá órgãos que não são previstos
na Carta Magna e a autoridade em seu Estado será mantida pelo uso da força.
Entretanto, quando o golpe é feito pelo governo que já se encontra no poder e, para
que ele continue no poder, mesmo que ocorra a alteração da constituição , nesse caso,
não será necessário o reconhecimento internacional. Essa é a ideia adotada no EUA
com a Resolução 205 do Senado, no qual afirma que “o reconhecimento não será
necessário quando o novo governo é facção do antigo já reconhecido”.
Em contra ponto, quando há a troca de governo seguindo o que estabelece a
constituição do Estado, o reconhecimento pela comunidade internacional não será
necessário. Este tipo de governo, para Mello, seria o de jure. Isso porque essas
modificações serão baseadas na constituição  e terão repercussão somente no direito
interno. Necessário ressaltar também que a mudança no governo não irá gerar
qualquer alteração no reconhecimento do Estado.
Deve-se entender que o reconhecimento do novo grupo político não é referente a sua
legitimidade. Oportuno salientar que a legitimidade interna do governo é diferente da
legitimidade do governo perante o Direito Internacional Público. A legitimidade
interna seria alcançada no caso do governo atingir os valores existentes na sociedade
em que ele se instala. A legitimidade perante o D. I. P. Seria o governo que segue o
princípio da efetividade, ou seja, significa dizer que o novo governo poderá dirigir o
Estado e representa-lo internacionalmente. Alguns requisitos são impostos para que os
demais membros da comunidade internacional deem o reconhecimento ao novo
governo no Estado. São eles: a) Efetividade: como visto anteriormente, seria o
controle da autonomia pelo novo governo em conjunto com a anuência da população
para que ele permaneça no poder; b) Cumprimento das obrigações internacionais do
Estado: o novo governo deverá assumir as obrigações contraídas pelo antigo governo;
c) Democracia e eleições livres; d) Aparecimento do novo governo conforme o Direito
Internacional: deve-se observar se o novo governo não é imposto por intervenção
estrangeira.

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O reconhecimento do novo grupo político irá gerar efeitos ao Estado, como por
exemplo, o estabelecimento de relações diplomáticas entre os países, imunidade de
jurisdição, capacidade para que o Estado demande em tribunal estrangeiro e admissão
da validade das leis e dos atos do governo.

O reconhecimento do governo poderá se dar das mesmas formas que ocorrem o


reconhecimento de Estado, expresso ou tácito. Lembrando que o expresso acontece
por meio formal e, a tácita pode acontecer por meio diplomático, de jure ou de facto.

Doutrina Tobar

Carlos Tobar, Ministro das Relações Exteriores do Equador, em 1907, visando


diminuir as revoluções que eram tão frequentes na época, sustentava o pensamento de
que não deveria ser reconhecido o governo que fosse oriundo de golpe de estado ou
revoluções. Para ele os governos só deveriam ser reconhecidos se possuíssem
legitimidade constitucional, através de representantes livremente eleitos pela
população. Com isso, buscava-se proteger o princípio da legitimidade democrática
através da ratificação popular.

Tobar, através da Teoria das Condicionalidades, procurava evitar o reconhecimento de


regimes acidentais, decorrentes de revoluções e golpes de Estado, até que o novo
governo pudesse demonstrar sua aprovação popular, como destaca Marcelo Varella.
Ou seja, os Estados que iriam reconhecer o novo governo, poderiam estipular
condições a fim de se evitar que o novo grupo político fosse ilegítimo.

“Por meio mais eficaz para acabar com essas mudanças violentas de governo,
inspiradas pela ambição, que tantas vezes têm perturbado o progresso e o
desenvolvimento das nações latino-americanas e causado guerras civis sangrentas,
seria a recusa, por parte dos demais governos, de reconhecer esses regimes acidentais,
resultantes de revoluções, até que fique demonstrado que eles contam com a
aprovação popular”, como declarou Tobar.

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Doutrina Estrada
Genaro Estrada, secretário de Estado das Relações Exteriores do México, em 1930
declarou que o ato de reconhecer ou não um novo governo seria ato de ingerência nos
assuntos internos do Estado. Estrada observou na época que as potências europeias se
utilizavam do artifício de reconhecer o novo governo para, então, reconhecer ou não
um novo Estado. Isto porque o governo era um dos requisitos a serem preenchidos
para que o Estado conseguisse o seu reconhecimento pela comunidade internacional e,
assim, tornar-se sujeito de direito perante o direito internacional.

Os princípios da não intervenção e da liberdade soberana são a base dessa doutrina,


que ressalta que nenhum Estado deve se pronunciar sobre um novo governo em outro
Estado. Para ele o Estado estrangeiro não possui poder para declarar se há ou não
legitimidade no novo grupo político. A Resolução 2625 (XV) da Assembleia Geral da
ONU afirma que: “Todo Estado tem o direito inalienável de escolher seu próprio
sistema político, econômico, social e cultural sem nenhuma forma de ingerência da
parte de outro Estado”. De acordo com essa doutrina, a única alternativa que o Estado
reconhecedor teria em relação àqueles que passaram por rupturas políticas profundas é
optar por manter ou não relações diplomáticas com o novo governo.

Entretanto há uma grande crítica quanto a esse ponto de vista de manter as relações
diplomáticas ou não com um novo governo sem que isso enseje no seu
reconhecimento. Para a doutrina majoritária a permanência de agentes diplomáticos
em território estrangeiro, seria uma forma tácita de reconhecimento, tanto de Estado
quanto de governo, como foi trabalhada nos tópicos a cima. Outra crítica a ser
pontuada e de que o reconhecimento do governo, se seguindo as orientações do
Direito Internacional Público, não constitui intervenção nos assuntos internos do
Estado.

Em uma de suas declarações, Estrada considera que “o México não se pronuncia no


sentido de outorgar reconhecimento, pois estima que essa prática desonra, além de
ferir a soberania das nações, deixa-as em situação na qual seus assuntos internos
podem qualificar-se em qualquer sentido por outros governos, que assumem de fato

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uma atitude crítica quando de sua decisão favorável ou desfavorável sobre a
capacidade legal do regime”.

Para finalizar, como evidência Accioly, a respeito da Doutrina Estrada, a legitimidade


do novo governo e, por conseguinte, seu reconhecimento, são assuntos internos de
estado em que não cabe intervenção de terceiros.

Doutrina Rezek

O professor Francisco Rezek afirma que as práticas contemporâneas de


reconhecimento de um novo governo não possui mais como base a legitimidade deste,
mas sim, se esse novo governo é efetivo. Entende-se que ter um governo efetivo em
um Estado é saber se ele possui controle sobre seu território, se honra os tratados e
demais normas do Direito Internacional e outros requisitos que a sociedade possa
considerar importante.

Quanto à forma de se reconhecer um novo governo, Rezek vai de acordo com os


pensamentos de Estrada. Pontua que o reconhecimento expresso por meio formal,
naturalmente cairá em desuso e que a suspensão das relações diplomáticas entre os
Estados será uma forma de não convalidar com o novo governo estabelecido.

Reconhecimento de jure

O que é Reconhecimento de jure: O Reconhecimento de jure é um reconhecimento


incondicional de que um novo governo ou Estado é independente, exerce poder…

O que é Reconhecimento de jure

A expressão Reconhecimento de jure, utilizada no direito internacional, é um


reconhecimento unilateral e incondicional de que um novo governo ou Estado é
independente, exerce poder efetivo no território sob sua jurisdição e está disposto e apto
a cumprir as suas obrigações internacionais. O reconhecimento de um regime como
governo de facto é provisório, mas o reconhecimento como governo de jure dá-lhe o
direito a relações diplomáticas totais e confere aos seus representantes a imunidade
diplomática

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