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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO – FREQUÊNCIA 5.12.

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Capítulo I – A subjetividade internacional

NOÇÃO DE DIP

Conjunto de normas de natureza jurídica e princípios gerais definidos no quadro da


ordem jurídica global que visam regular a existência e o funcionamento da
comunidade internacional.

Personalidade Jurídica Internacional

Suscetibilidade por ser destinatário de normas e princípios de DI, dos quais decorre a
oportunidade ser titular de direitos e ficar adstrito a obrigações (capacidade de ser
titular direitos e deveres internacionais, dependendo estes dos objetivos e funções
atribuídos à organização, sejam eles enunciados, implicados por seu ato constitutivo
ou desenvolvidos na prática).

Capacidade Jurídica Internacional

Conjunto de direitos e deveres inscritos na esfera jurídica internacional de uma


entidade.

Pessoa Jurídico-internacional

Entidade singular/coletiva suscetível de ser titular de direitos e deveres internacionais.


(Estados soberanos, Santa Sé, Organizações Internacionais: possuem capacidade
jurídica de figurar em relações jurídicas internacionais: celebrar contratos, acordos,
convenções. Serem titulares de direitos e deveres no plano do DIP).

CONTEÚDOS DA SUBJETIVIDADE INTERNACIONAL

Ius Tractum – Poder de celebrar tratados internacionais.

Ius Legationis (imunidades diplomáticas) - poder de receber/enviar representantes


diplomáticos.

Ius Congens - normas inderrogáveis, que exprimem a existência de obrigações perante


a com. int. globalmente considerada. Direito imperativo de maior dignidade
hierárquico normativa (escravatura, pirataria, genocídio, crimes de guerra e crimes
contra a humanidade).

Ius Belli – é o direito que rege a maneira como a guerra é conduzida, este tem fins
puramente humanitários, buscando limitar o sofrimento causado pela guerra.
RECONHECIMENTO DA SUBJETIVIDADE INTERNACIONAL

Teoria do reconhecimento Constitutivo/Declarativo

Reconhecimento configura um ato de mera certificação formal quanto ao prévio


aparecimento do sujeito internacional.

Reconhecimento do Estado

Meramente declarativo, visto importância do aparecimento dum estado impõe por si


mesmo, não frequente haver dúvidas quanto à aos seus requisitos constitutivos.

Reconhecimento do Governo

Declarativa e não constitutiva. Os sujeitos internacionais não devem interferir nos


assuntos internos dos estados nem na mudança dos respetivos sistemas
constitucionais. É um ato unilateral, discricionário, não-obrigatório, irrevogável e
incondicionado.

DIVERSIDADE DOS SUJEITOS INTERNACIONAIS

Divide-se nos que têm substrato estadual (Estado) e os que não têm (representações
não estaduais):

Estados: sujeitos mais antigos do DI (é o principal), assumem diversas configurações.


(confederados, vassalos, protegidos, neutralizados, federados)

Entidades para-estaduais: próximas da realidade estadual, mas sem esse teor


(Beligerantes, Insurretos, Minorias nacionais)

Estruturas interestaduais: agrupam realidades estaduais mais simples (Confederações,


Uniões Reais, Associações de Estados)

Coletividades não estaduais: não se filiam em qualquer pertença estadual (Santa sé,
Ordem de Malta, Cruz Vermelha)

Pessoa Humana: sujeito internacional de forma insipiente e limitada.


Capítulo 2 – Estados, Organizações Internacionais e Entidades Para-Estaduais

População

A população de um estado inclui os seus nacionais e os estrangeiros que estão


presentes no território. Desde que estejam presentes no território estão submetidos à
jurisdição, à competência de um estado. Habitualmente existem mais nacionais do que
estrangeiros num estado.

Povo

O povo vai designar um conjunto de pessoas questão ligadas por um vínculo de


cidadania, existindo nacionais que vivem no território e nacionais que vivem noutro
território.

Nação

É também um grupo de indivíduos ligados por elementos comuns.

▪ Temos a existência de elementos comuns objetivos: etnia, língua (idioma), religião,


cultura comum (modo de viver).

▪ Temos a existência de elementos subjetivos: tradições comuns; o desejo de viver


juntos

Os critérios de atribuição da nacionalidade

Existem 2 critérios para atribuir a nacionalidade ao nascimento. Cada estado aplica o


que quiser, às vezes até uma mistura entre os dois.

Um critério é o jus sanguinis (direito do sangue) ou então aplica-se o critério do


território onde o indivíduo nasceu – jus solo, direito do solo.

Além destes critérios de aquisição da nacionalidade ao nascimento pode haver


também durante a vida de um individuo onde ele pode ter uma nacionalidade, desde
logo a naturalização, que vai permitir ao individuo ter uma nacionalidade.

O Estado, uma componente totalmente exclusiva, mas o Direito Internacional vai exigir
que esse vínculo seja efetivo. O estado é livre de dar a nacionalidade a quem quiser,
mas essa nacionalidade para ser reconhecida no estrangeiro, para ser oponível tem de
ser efetiva. Se não for efetiva os outros países têm o direito de não a reconhecer.
Apátrida

Pessoa sem nacionalidade, sem cidadania.

Devia haver poucos casos desses, mas infelizmente há́ mais, cerca de 10 milhões de
pessoas. O problema de não ter nacionalidade é que não se pode trabalhar, não se
pode ir à escola. Há erros administrativos. Há́ questões de incompatibilidades de
nacionalidades que não permitem a transmissão da nacionalidade. Em alguns países só
os homens transmitem nacionalidade. Se não tiverem a mulher não pode transmitir.
Pessoas que nascem sem identidade em países em guerra, em estados falhados. Às
vezes são decisões de países.

Pluripatridia

Pessoas com mais de 1 nacionalidade.

Há ainda casos de plurinacionalidade, há indivíduos que têm 2, 3 nacionalidades. A


única dificuldade que causa é obrigações militares ou fiscais.

Território

Um território vai designar um espaço terrestre, aéreo, marítimo. O território é


importante no sentido em que vai ser o suporte físico da existência do estado e é ali
que vai ser exercida a soberania.

Espaço terrestre

É o espaço geográfico que compreende o solo e o subsolo. O território pode ser


fragmentado. Não é necessário haver tamanho específico, o tamanho é irrelevante.

Espaço aéreo

Regula a entrada dos aviões e dos misseis.

Espaço marítimo

Para os que têm uma costa, há uma delimitação de 12 milhas náuticas.


Forma; tamanho e fronteiras

O território vai ser delimitado por fronteiras.

A fronteira é uma linha fictícia que permite saber a soberania que se exerce. As
fronteiras não precisam de ser bem delimitadas para ser considerado um estado.

Vamos aplicar o princípio da inviolabilidade das fronteiras. Quer dizer que esse
princípio visa garantir o respeito pelos limites territoriais de um estado no momento
da sua independência.

Dentro dos países federais, as repúblicas federadas tinham o direito a proclamarem a


independência, mas tinha de respeitar a inviolabilidade das fronteiras. Em princípio
isto só se aplica às repúblicas porque já têm uma constituição e uma soberania interna
o que facilita o reconhecimento de uma soberania externa.

Soberania internacional

A soberania (elemento funcional): temos duas definições possíveis interna e


internacional.

Na esfera interna corresponde ao poder máximo de auto-organização, quer dizer que o


governo tem a competência e na esfera internacional traduz-se na igualdade e na
independência perante as outras entidades.

Aliás isto está previsto no art.º 2 da Carta das Nações Unidas. Não têm soberania
internacional os Estados Federados. Os Estados Federados têm soberania interna pois
têm uma constituição, mas não tem vertente internacional, não podem participar em
organizações internacionais, celebrar tratados, etc.

Uma vez que o Estado é formado a soberania internacional vai implicar direitos e
deveres. Os direitos é a independência e a soberania reconhecidos e protegidos pelo
direito internacional. Os deveres é respeitar o direito internacional, proibição das
ingerências nos assuntos internos, proibição do uso da força.

Pode haver casos em que os estados vão ter uma capacidade do exercício de soberania
limitado. Os estados neutralizados não têm jus belli. São estados que decidiram por um
ato interno não ter o jus belli.

Temos ainda os estados neutros. São aqueles que vão tomar uma opção momentânea
que num conflito vai decidir não intervir nem a favor de um lado nem a favor de um
outro. Mas é momentâneo não quer dizer que noutro conflito não possa intervir.
Quando um estado é membro de uma organização internacional vai ter capacidade
limitada. Ao mesmo tempo que exerce a sua soberania, delega competências na
organização internacional.
Sucessão dos estados

É a questão de um estado que vai suceder a outro. Temos aqui uma convenção de
Viena sobre sucessão de estados em matéria de tratados que rege essas questões, a
prática não é bem seguida assim como vamos ver, mas vamos simplificar. Esta questão
coloca-se em duas situações quando há uma fusão de estados ou se há um
desmembramento, ou uma desintegração vamos guardar os tratados e o estado
sucessor vai continuar os tratados em virtude do princípio de continuidade informando
que é o estado que vai suceder.

Estes novos estados que acederam à independência no âmbito da descolonização


costumam reger-se pelo princípio da tabua rasa. Vão fazer tábua rasa e vão negociar
novamente pois não participaram nos tratados. Estes dois princípios, o da
continuidade ou o da tábua rasa, podem ser aplicados.

Há duas exceções em que não se pode aplicar o princípio da tábua rasa:

Ex.: Tratados objetivos, desde logo tratados de delimitação as fronteiras. Aqui não
pode haver princípio da tábua rasa pois haveria um conflito. Tem de se aceitar o
tratado objetivo assinado pela potência anterior. Depois tenta-se negociar.

Outro tipo de tratados que não podem ser postos em causa são os tratados-lei
(tratados que protegem os direitos dos indivíduos). Tudo o que tem que ver com
Direitos Humanos. Ex.: um estado que tenha aceitado a convenção de genebra.

Vicissitudes do Estado

As estruturas estaduais não permanecem para sempre. Da mesma forma que um


indivíduo nasce um estado pode passar por vicissitudes, são acontecimentos que vão
ali alterar a sua estrutura, o seu território, os parâmetros da sua relevância
internacional. As modificações do território podem intervir de várias formas.

Há vicissitudes aquisitivas, modificativas e extintivas:

 Aquisitivas: são as modalidades que vão permitir o nascimento do estado. A


mais clássica é a descolonização. Pode haver um nascimento de um novo
estado a partir de uma fusão.
 Modificativas: vão fazer o que o território possa ser alterado. Aquisição de
parcelas territoriais: antigamente havia a questão de ocupação de terras nullus,
terras desocupadas ou até adjudicação onerosa (compra de novos territórios).
 Extintivas: quando há um desaparecimento do território em todo ou em parte.
Isto vai ser um dos assuntos que está a ser debatido.
Organização internacional

É uma associação de vários estados reunidos numa nova entidade internacional com
base num tratado.

Para os Estados a base é a constituição, para as OI temos um tratado internacional


com vista a defender alguns interesses comuns tendo uma ação em comum.

Os estados reúnem-se no seio de uma organização internacional para defender alguns


interesses comuns e ter uma ação em comum. A ideia é favorecer a cooperação
internacional entres os estados, mas não temos uma dimensão territorial (é diferente
do estado) e também são diferentes das ONG’s (estas não têm dimensão estadual,
defendem outros interesses da sociedade civil). Uma vez fundadas pelos estados essas
novas entidades são sujeitas de direito internacional. Vamos ter aqui entidades
permanentes que são reguladas pelo direito internacional e que vão exercer
atribuições que foram delegadas pelos estados em órgãos próprios.

A atribuição de uma personalidade jurídica internacional é atribuída às OI. Esta


personalidade é diferente da do estado porque o estado tem soberania. Os estados
são só direitos originários do DI, existem, mas não devem a sua criação a ninguém,
enquanto as organizações internacionais devem a sua existência aos estados que as
criam. São sujeitos derivados e sem soberania.

Classificações das OI, critérios:

1. Conforme as atribuições: gerais (aquelas que desenvolvem múltiplas


atribuições) ou especiais (prosseguem finalidades especificas, sejam militares,
económicas, jurídicas, culturais...);
2. Conforme os membros: universais ou quase universais (conseguem albergar a
quase a totalidade dos Estados; têm uma vocação universalista) e regionais ou
até sub-regionais (organizações fechadas, apenas vão ter atividades num
continente ou numa zona);
3. Conforme o acesso: membros determinados (fechadas; podem admitir só
certos estados específicos nomeadamente só́ os do tratado constituinte) e
abertos (têm mais finalidades – ex.: ONU quer-se universal, quer abranger o
maior número de estados possível);
4. Conforme os poderes – organizações intergovernamentais (aquelas que só têm
o papel e cooperar com os estados que muitas das vezes vão agir com base na
unanimidade; nessas organizações ou é unanimidade ou maioria reforçada) ou
supranacionais (organizações de subordinação, onde temos mecanismos de
impor as decisões aos membros porque a base de funcionamento vai ser a
maioria)
5. Conforme a duração: permanentes (não têm data final) ou por outro lado
temporárias (vai ter uma vigência limitada por ter um objetivo e assim que ele
é atingido a organização desaparece).
ONU: emendas à Carta das Nações Unidas (art. 108-109 CNU); fins e princípios (art.
1-2 CNU); membros (art. 4 CNU); suspensão (art. 5 CNU), expulsão (art. 6 CNU),
retirada; estrutura (art. 7 CNU), especialmente a AG (art. 9-10 CNU) e o CS (art. 23-
24 CNU)

Assembleia Geral: A Assembleia Geral da ONU é o principal órgão deliberativo da


ONU. É lá que todos os Estados membros da Organização (193 países) se reúnem para
discutir os assuntos que afetam a vida da comunidade internacional. Na Assembleia
Geral, todos os países têm direito a um voto, ou seja, existe total igualdade entre
todos seus membros.

Assuntos em pauta: paz e segurança, aprovação de novos membros, questões de


orçamento, desarmamento, cooperação internacional em todas as áreas, direitos
humanos, etc. As resoluções – votadas e aprovadas – da Assembleia Geral funcionam
como recomendações e não são obrigatórias.

Votação das resoluções: conforme o artigo 18 da CNU, “1. Cada membro da


Assembleia Geral terá um voto. 2. As decisões da assembleia Geral, em questões
importantes, serão tomadas por maioria de dois terços dos membros presentes e
votantes. Essas questões compreenderão: recomendações relativas à manutenção da
paz e da segurança internacionais; à eleição dos membros não permanentes do
Conselho de Segurança; à eleição dos membros do Conselho Económico e Social; (...); à
admissão de novos membros das Nações Unidas; à suspensão dos direitos e privilégios
de membros; à expulsão dos membros; (...) questões orçamentárias. 3. As decisões
sobre outras questões, inclusive a determinação de categoria adicionais de assuntos a
serem debatidos por uma maioria dos membros presentes e que votem”.

Principais funções da Assembleia Geral:

 Discutir e fazer recomendações sobre todos os assuntos em pauta na ONU;


 Discutir questões ligadas a conflitos militares – com exceção daqueles na pauta
do Conselho de Segurança;
 Discutir formas e meios para melhorar as condições de vida das crianças, dos
jovens e das mulheres;
 Discutir assuntos ligados ao desenvolvimento sustentável, meio ambiente e
direitos humanos;
 Decidir as contribuições dos Estados membros e como estas contribuições
devem ser gastas;
 Eleger os novos Secretários-Gerais da Organização.

Conselho de Segurança: o Conselho de Segurança é o órgão da ONU responsável pela


paz e segurança internacionais. Ele é formado por 15 membros: 5 permanentes, que
possuem o direito a veto – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China – e 10
membros não-permanentes, eleitos pela Assembleia Geral por dois anos. Este é o
único órgão da ONU que tem poder decisório, isto é, todos os membros das Nações
Unidas devem aceitar e cumprir as decisões do Conselho.
Votação das resoluções: conforme o artigo 27 “1. Cada membro do Conselho de
Segurança terá um voto. 2. As decisões do Conselho de Segurança, em questões
processuais, serão tomadas pelo voto afirmativo de nove membros. 3. As decisões do
Conselho de Segurança, em todos os outros assuntos, serão tomadas pelo voto
afirmativo de nove membros, inclusive os votos afirmativos de todos os membros
permanentes, ficando estabelecido que (...) aquele que for parte em uma controvérsia
se absterá de votar”.

Principais funções:

 Manter a paz e a segurança internacional;


 Determinar a criação, continuação e encerramento das missões de paz, de
acordo com os capítulos VI, VII e VIII da Carta;
 Investigar toda situação que possa vir a se transformar em um conflito
internacional;
 Recomendar métodos de diálogo entre os países;
 Elaborar planos de regulamentação de armamentos;
 Determinar se existe uma ameaça para a paz;
 Solicitar aos países que apliquem sanções económicas e outras medidas para
impedir ou deter alguma agressão;
 Recomendar o ingresso de novos membros na ONU.
 Recomendar para a Assembleia Geral a eleição de um novo Secretário-geral.

Estados Beligerantes

O reconhecimento de beligerantes é quando já controlam uma parte significativa do


território do Estado no qual desenvolvem a sua luta e dispuserem de um governo
estável e de um exército organizado e se mostrarem dispostos, na condução das
hostilidades, a respeitar o direito da guerra e os deveres de neutralidade.

Estados Insurretos

O reconhecimento de insurretos precede habitualmente ao reconhecimento de


beligerantes, e ocorre num contexto de incerteza e fluidez da situação política, que, de
modo algum, recomenda um reconhecimento prematuro de Estado. Motivado por
razões de ordem pragmática, pretende-se colocar os membros do grupo sob a alçada
do Direito Internacional humanitário, que tem a consequência imediata de deixarem
de ser tratados como delinquentes comuns.

Capítulo III – A Responsabilidade Internacional dos Estados


Pressupostos da responsabilidade internacional

A responsabilidade é o mecanismo pelo qual a violação das obrigações do Direito


Internacional é verificada e o restabelecimento da legalidade alcançada.

(art. da CDI de 2001 sobre a responsabilidade do Estado por Atos internacionalmente


ilícitos – 1,2,3)

Ato internacional ilícito

Art.1 - “Todo ato internacionalmente ilícito de um Estado acarreta sua


responsabilidade internacional”.

Imputação do ato ilícito ao Estado

Art.2 - “Há um ato internacionalmente ilícito do Estado quando a conduta, consistindo


em uma ação ou omissão:
a) é atribuível ao Estado consoante o Direito Internacional; e
b) constitui uma violação de uma obrigação internacional do Estado”.

Art.3 - “A caracterização de um ato de um Estado, como internacionalmente ilícito, é


regida pelo Direito Internacional. Tal caracterização não é afetada pela caracterização
do mesmo ato como lícito pelo direito interno”.

Questão da dualidade do regime da responsabilidade internacional dos Estados

CAPÍTULO III. VIOLAÇÕES GRAVES DE OBRIGAÇÕES DECORRENTES DE NORMAS


IMPERATIVAS DE DIREITO INTERNACIONAL GERAL

Artigo 40. Aplicação deste Capítulo

1. Este Capítulo se aplica à responsabilidade que é acarretada por uma violação


grave por um Estado de uma obrigação decorrente de uma norma imperativa
de Direito Internacional geral.
2. Uma violação de tal obrigação é grave se envolve o descumprimento flagrante
ou sistemático da obrigação pelo Estado responsável.

Artigo 41. Consequências particulares da violação grave de uma obrigação consoante


este Capítulo
1. Os Estados deverão cooperar para pôr fim, por meios legais, a toda violação grave
no sentido atribuído no artigo 40.
2. Nenhum Estado reconhecerá como lícita uma situação criada por uma violação
grave no sentido atribuído no artigo 40 nem prestará auxílio ou assistência para
manutenção daquela situação.

3. Este artigo não prejudica as demais consequências referidas nesta Parte bem como
outras consequências que uma violação a qual se aplique este Capítulo possa
acarretar, de acordo com o Direito Internacional.

A. Estado (artigos 4, 5, 8, 11)

Regra: o Estado não pode ser considerado responsável pela conduta de particulares,
uma vez que as suas ações não lhe podem ser atribuídas.

Artigo 4: “1. Considerar-se-á ato do Estado, segundo o Direito Internacional, a conduta


de qualquer órgão do Estado que exerça função legislativa, executiva, judicial ou outra
qualquer que seja sua posição na organização do Estado, e independentemente de se
tratar de órgão do governo central ou de unidade territorial do Estado.

2. Incluir-se-á como órgão qualquer pessoa ou entidade que tenha tal status de acordo
com o direito interno do Estado”.

Exceções: artigos 5, 8, 11

Jurisprudência internacional
TIJ interpretação restritiva da atribuição de responsabilidade

Acórdão Pessoal Diplomático e consular dos EUA em Teerão (EUA c. Irão) de 1980

O Estado tem uma dupla obrigação de prevenir e punir os danos causados pelos seus
nacionais ou por qualquer pessoa residente no seu território: o Estado só é
responsável se exercer um controlo efetivo sobre os indivíduos e se tiver ordenado as
violações.

Acórdão Atividades Militares e Paramilitares na e contra a Nicarágua (Nicarágua c.


Estados Unidos) de 1986: controlar os rebeldes e dar-lhes ordens

TPIJ: interpretação mais flexível da atribuição de responsabilidade Acórdão Tadic de


1999:
“Para atribuir a responsabilidade por atos cometidos por grupos militares ou
paramilitares a um Estado, deve ser estabelecido que o Estado exerce o controlo
global sobre o grupo, não só o equipando e financiando-o, mas também coordenando
ou ajudando no planeamento global das suas atividades militares. Só nesta condição é
que a responsabilidade internacional do Estado pelas ações ilegais do grupo poderá́ ser
assumida.
Não é necessário, contudo, exigir, além disso, que o Estado dê instruções ou diretivas
ao líder do grupo ou aos seus membros para cometerem atos específicos contrários ao
Direito internacional”.

B. Organização internacional

3. Causas de exclusão da ilicitude (artigos 20-27)

Secção II. Efeitos da responsabilidade internacional

1. Conteúdo da responsabilidade internacional

A. Obrigação de reparar (artigos 31 e seguintes)

Artigo 31: “1. O Estado responsável tem obrigação de reparar integralmente o prejuízo
causado pelo ato internacionalmente ilícito.
2. O prejuízo compreende qualquer dano, material ou moral, causado pelo ato
internacionalmente ilícito de um Estado”.

As formas de reparação que podem ser utilizadas "separadamente ou em conjunto”


(art. 34) são:

 restituição (art. 35) (restabelecimento da situação);


 indemnização (art. 36) (perda, lucros cessantes, juros);
 satisfação (art. 37).

B. Obrigação de cessação e de não repetição (artigo 30)

Artigo 30: “O Estado responsável pelo ato internacionalmente ilícito tem a obrigação
de: a) cessar aquele ato, se ele continua; b) oferecer segurança e garantias apropriadas
de não repetição, se as circunstâncias o exigirem”.

2. Implementação da responsabilidade internacional Artigo 33 CNU: meios de


solução pacífica de litígios
A. Proteção diplomática

 Condições: vínculo de nacionalidade entre o indivíduo e o Estado protetor (TIJ,


caso Nottebohm (Liechtenstein c. Guatemala), 1955), esgotamento dos
recursos internos, mãos limpas;
 Procedimento: endosso da reclamação do indivíduo, internacionalização do
litígio, reparação

B. Meios jurisdicionais e quase-jurisdicionais

 TIJ, tribunais arbitrais

C. Contramedidas

Medidas de retorsão => medidas lícitas, mas hostis

Contramedidas => medidas ilícitas, mas que perdem essa ilicitude quando respondem
a outro ato ilícito (no respeito do DI: princípio da proporcionalidade + normas
imperativas).

✓ Artigos 49-53 dos Artigos da CDI de 2001

Capítulo IV – Responsabilidade Penal Internacional

Responsabilidade penal internacional

Responsabilidade de punir aqueles que infrinjam os mais altos valores protegidos pelo
Direito Internacional como por exemplo crimes internacionais. Se houver crimes
internacionais temos este mecanismo. Esta é uma responsabilidade individual que
recai sobre as pessoas que cometeram comportamentos criminais destacando a
pessoa humana como sujeito passivo de direito internacional público.

Afirmação progressiva da responsabilidade penal internacional

1. Qualificação consuetudinária de algumas condutas como crimes internacionais


- competência universal

A competência universal pode ser definida como um dever do Estado em perseguir os


autores de certos crimes considerados da mais alta gravidade, qualquer que seja o
local onde o crime foi cometido ou a nacionalidade do autor ou da vítima.

O princípio encontra fundamento na necessidade de proteger um valor de caráter


universal, expresso pela máxima aut dedere aut judicare. Significa que os Estados
assumem a obrigação de extraditar ou de julgar os responsáveis pelos crimes
previstos. O que não pode ocorrer, aos olhos do direito internacional, é deixar impune
o autor de um crime cuja gravidade viola os padrões aceitos pela comunidade
internacional.

2. Tribunais de Nuremberga e de Tóquio


3. Celebração de diversos instrumentos sobre crimes internacionais
4. TPI ad hoc (TPIJ e TPIR) e tribunais internacionalizados (ou mistos)

TPIJ: Tribunal ad hoc estabelecido em 1993 pela Resolução 827 do CSNU (adotada no
âmbito do capítulo VII da CNU), como sede em Haia (Holanda), com vista a processar e
julgar os principais responsáveis de graves violações do DIH (crimes de guerra,
genocídio, crimes contra a humanidade) cometidos no território da antiga Jugoslávia
desde 1 de janeiro de 1991.

TPIR: Tribunal ad hoc estabelecido em 1994 pela Resolução 955 do CSNU (também
com embasamento no capítulo VII da CNU), com sede em Arusha (Tanzânia). Foi uma
resposta ao genocídio e outras graves violações que haviam ocorrido no Ruanda, com
vista a processar e julgar os principais responsáveis de atos de genocídio, crimes contra
a humanidade e outras graves violações do DIH cometidos no território nacional ou
por cidadãos ruandeses em territórios de países vizinhos no período entre 1 de janeiro
e 31 de dezembro de 1994.

A jurisdição destes dois TPIs é concorrente com a dos tribunais nacionais para
processar os acusados. Contudo, em virtude do princípio da primazia, podem solicitar,
em qualquer fase do processo que os tribunais nacionais renunciam à respetiva
competência a seu favor, se isso se mostrar de interesse da justiça internacional.

Hoje, um Mecanismo Residual dos extintos TPIs é responsável pelo rastreamento e


processo de fugitivos remanescentes; pela preservação e gerenciamento dos arquivos;
pela proteção de vítimas e testemunhas; pelo monitoramento de casos encaminhados
a jurisdições nacionais; e outros procedimentos jurídicos (apelação, revisão).

Tribunais internacionalizados (mistos ou híbridos): têm como característica a


interação entre as forças locais e os recursos materiais e humanos internacionais. A
criação é fruto de negociação entre os governos atuais (interessados em se distanciar
do passado de crimes) e a ONU, sendo assim estabelecidos com o consentimento do
Estado em questão, por via de um acordo internacional. Combinam elementos
internacionais e nacionais a nível dos juízes e das normas aplicáveis.

5. TPI – Estatuto de Roma de 1998

Princípios estruturantes: permanência e obrigatoriedade


Artigo 1. O Tribunal é criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal
Internacional («o Tribunal»). O Tribunal será́ uma instituição permanente, com
jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance
internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será́ complementar das jurisdições
penais nacionais. (...)

Artigo 12. Condições prévias ao exercício da jurisdição


1 - O Estado que se torne Parte no presente Estatuto aceitará a jurisdição do Tribunal
relativamente aos crimes a que se refere o artigo 5.
2 - (...) o Tribunal poderá́ exercer a sua jurisdição se um ou mais Estados a seguir
identificados forem Partes no presente Estatuto ou aceitarem a competência do
Tribunal de acordo com o disposto no n.º 3:
a) Estado em cujo território tenha tido lugar a conduta em causa, ou, se o crime tiver
sido cometido a bordo de um navio ou de uma aeronave, o Estado de matrícula do
navio ou aeronave;
b) Estado de que seja nacional a pessoa a quem é imputado um crime.
3 - Se a aceitação da competência do Tribunal por um Estado que não seja parte no
presente Estatuto for necessária nos termos do n.º 2, pode o referido Estado, mediante
declaração depositada junto do secretário, consentir em que o Tribunal exerça a sua
competência em relação ao crime em questão. O
Estado que tiver aceitado a competência do Tribunal colaborará com este, sem
qualquer demora ou exceção (...).

Competência do TPI

 Ratione materiae

Artigo 5. Crimes da competência do Tribunal

1 - A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves que afetam a


comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o
Tribunal terá competência para julgar os seguintes crimes:
a) O crime de genocídio;
b) Os crimes contra a humanidade;
c) Os crimes de guerra;
d) O crime de agressão.

 Ratione temporis
Artigo 11. Competência ratione temporis

1 - O Tribunal só terá competência relativamente aos crimes cometidos após a


entrada em vigor do presente Estatuto.
2 - Se um Estado se tornar Parte no presente Estatuto depois da sua entrada em vigor,
o Tribunal só poderá exercer a sua competência em relação a
crimes cometidos depois da entrada em vigor do presente Estatuto relativamente a
esse Estado, a menos que este tenha feito uma declaração nos termos do n.o 3 do
artigo 12.

 Ratione personae

Artigo 25. Responsabilidade criminal individual

1 - De acordo com o presente Estatuto, o Tribunal será competente para julgar as


pessoas singulares.

2 - Quem cometer um crime da competência do Tribunal será considerado


individualmente responsável e poderá ser punido de acordo com o presente Estatuto.

Artigo 26. Exclusão da jurisdição relativamente a menores de 18 anos

O Tribunal não terá jurisdição sobre pessoas que, à data da alegada prática do crime,
não tenham ainda completado 18 anos de idade.

Artigo 27. Irrelevância da qualidade oficial

1 - O presente Estatuto será aplicável de forma igual a todas as pessoas, sem distinção
alguma baseada na qualidade oficial. Em particular, a qualidade oficial de Chefe de
Estado ou de Governo, de membro de Governo ou do Parlamento, de representante
eleito ou de funcionário público em caso algum eximirá a pessoa em causa de
responsabilidade criminal, nos termos do presente Estatuto, nem constituirá de per si
motivo de redução da pena.
2 - As imunidades ou normas de procedimento especiais decorrentes da qualidade
oficial de uma pessoa, nos termos do direito interno ou do direito internacional, não
deverão obstar a que o Tribunal exerça a sua jurisdição sobre essa pessoa.

Princípios jurídico-penais universais:


✓ Non bis in idem (art. 20 ETPI)

✓ Nullum crimen sine lege (art. 22 ETPI)

✓ Não retroatividade da aplicação das penas (art. 11 ETPI)

✓ Nulla poena sine lege (art. 77 e art. 78 ETPI)

Complementaridade:

✓ Preâmbulo: o Tribunal Penal Internacional criado pelo presente Estatuto será


complementar das jurisdições penais nacionais.

✓ Artigo 17. Questões relativas à admissibilidade

Processo perante o TPI:

Artigo 13. Exercício da jurisdição

O Tribunal poderá exercer a sua jurisdição em relação a qualquer um dos crimes a que
se refere o artigo 5, de acordo com o disposto no presente Estatuto, se:

a) Um Estado Parte denunciar ao procurador, nos termos do artigo 14, qualquer


situação em que haja indícios de ter ocorrido a prática de um ou vários desses crimes;
b) O Conselho de Segurança, agindo nos termos do capítulo VII da Carta das Nações
Unidas, denunciar ao procurador qualquer situação em que haja indícios de ter
ocorrido a prática de um ou vários desses crimes;
c) O procurador tiver dado início a um inquérito sobre tal crime, nos termos do
disposto no artigo 15.

Capítulo V - O uso da força em direito internacional

Tivemos uma primeira secção sobre a condenação internacional da guerra, onde vimos
como é que no início tínhamos uma teoria conforme a qual podia fazer tudo. A
doutrina da guerra justa tentou por ali um enquadramento mas ficou por ali, não teve
muito impacto na prática, depois, no modelo de Vestefália, o uso da força era um dos
poderes dos estados; depois tivemos uma preocupação para limitar esse uso da força,
sobretudo a partir do séc. XX onde vamos distinguir o que é o jus ad bellum que vai
deixar de existir (a não ser autorização do Conselho de Segurança ou em Legitima
Defesa) e o outro ramo é o jus in bellum que é o Direito Internacional Humanitário,
direito que se deve respeitar em termos de regras durante uma guerra. Vimos os
vários momentos para se chegar a uma proibição da ONU, vimos a Convenção Drago-
Porter de 1907, o Pacto da SDN de 1919, o Pacto Briand-Kellogg de 1928 e, sobretudo,
o artigo mais importante é o 2, n.o 4 da Carta das Nações Unidas de 1945 que proíbe o
uso da força. Depois tivemos uma secção dedicada ao papel do Conselho de
Segurança. Vimos que é um órgão muito importante porque tem um papel essencial
na manutenção da paz que quando ele se encontra paralisado há uma resolução que é
a Acheson que pode servir para desbloquear esse impasse, onde a AG pode se reunir e
perante uma situação de ameaça à paz pode adotar resoluções para tomar medidas,
inclusive medidas que vão no sentido do uso da força e esta resolução está a ser
implementada no contexto atual (tivemos a utilização desta Resolução no caso da
guerra da Ucrânia que permitiu à AG adotar 3 resoluções que condenam o que a
Rússia está a fazer). A partir do momento em que o Estado usa o veto vai ser
convidado a explicar-se perante a AG e até hoje os Estados que usaram o veto que são
a Rússia e a China fizeram-no, foram sempre explicar o porquê do uso do veto, mesmo
não sendo obrigados.

O Art.º 7 da CNU é o mais importante do tema uso da força porque vai explicar-nos
como é que o CS vai tomar sanções. Vai tomar iniciativa, vai avaliar a situação, vai
deliberar e vai ponderar se é preciso ou não tomar medidas que vão no sentido de
autorizar ou não o uso da força.

A última matéria é a exceção da legítima defesa que está no art. 51 da Carta. O uso da
força fora da autorização do CS só é possível se um estado estiver a defender-se de
uma agressão. O que quer dizer que se um estado for atacado, for invadido, for
bombardeado, o estado vai poder defender-se, tem é de imediatamente alertar o CS
para que este tome as medidas necessárias adequadas (o facto de poder haver um
veto pode complicar as coisas). Ultimamente houve na doutrina a vontade de alargar a
legítima defesa não só́ quando há́ um ataque atual, que já́ se concretizou, houve uma
tentativa de alargamento que era para haver uma legítima defesa preventiva, caso que
se verifica quando de acordo com uma interpretação subjetiva do próprio estado há́
indícios de que virá a sofrer um ataque. Quando se age com o uso da força devemos
respeitar o princípio da necessidade e o princípio da proporcionalidade, algo que não é
possível num ataque futuro. O Putin alegou legítima defesa preventiva quanto ao facto
da Ucrânia querer aderir à NATO, temendo um ataque da sua parte. Mas isso não é
aceite, daí as 4 resoluções da AG que vieram condenar.

O que eventualmente hoje é aceite, motivado pelo facto de haver armas nucleares,
bacteriológicas e químicas, o que permite antever ataques eminentes, é a legitima
defesa preemptiva.

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