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Direito Internacional Público – 2º Semestre – 2º Ano

04/03/2021

Capítulo III. A força da norma internacional: Hard Law e Soft Law; Ius cogens; Direito dos tratados

• Em que reside a força da norma internacional? - Existem muitos exemplos de estados que não cumprem as
normas dos tratados, que começam guerras, desrespeitam os direitos humanos. A força da norma
internacional reside na vontade dos estados ou em algo mais? - A doutrina tem duas conceções de entender
esta força da norma internacional ou como é que nasce a norma internacional. Podemos ter uma conceção
voluntarista da norma internacional e uma conceção solidária.

• A conceção voluntarista da norma internacional - Significa que as normas de direito internacional nascem da
vontade dos estados - é na vontade dos estados que reside a força da norma internacional. Esta conceção dá
ênfase a um princípio importante do direito internacional público que é o princípio da soberania dos estados.
Quando os estados têm interesses territoriais ou sobre recursos naturais etc e provocam até muitas vezes as
guerras etc e violam o direito internacional, então a vontade dos estados por si só não confere a força à norma
internacional porque muitas vezes a vontade dos estados é contrária ao próprio direito internacional. Esta
conceção voluntarista é um bocado limitada, claro que as normas de um tratado resultam da vontade dos
estados mas também o fim de um tratado em prejuízo por exemplo da humanidade ou retirar-se de um
tratado em prejuízo da humanidade também resulta da vontade livre dos estados, tem de haver aqui algo
mais, não pode ser uma mera conceção voluntarista da norma que confere força ao direito internacional. A
vontade dos estados tanto fragiliza como dá força à norma.

• A outra conceção é a conceção solidária - As normas de direito internacional existem em virtude das
exigências da comunidade internacional para prosseguir os fins reconhecidos como vitais pela humanidade.
Isto significa que a força da norma internacional ela assenta em quê ? - em certos valores que são comuns à
humanidade e que a humanidade entende como sendo fundamentais para à sua existência e que não podem
ser violados nem pela vontade dos estados. Esta conceção acaba por ser um limite à soberania do próprio
estado. Neste contexto então surge o conceito de direito cogente ou ius cogens.

• O ius cogens é direito vinculante, direito imperativo que limita o poder dos estados e é composto por normas
fundamentais para a comunidade internacional, é a ordem pública internacional. Ele pode ser um princípio
com origem no costume como pode ser um princípio com origem num tratado. Importa perceber que seja
resultante do costume seja resultante de um tratado se é ius cogens está no topo da hierarquia das fontes de
direito internacional. Os princípios do ius cogens estão acima de normas consuetudinárias que não são ius
cogens porque o ius cogens são os valores da humanidade, é ordem pública internacional. Exemplos de ius
cogens: liberdade dos mares, autodeterminação dos povos, proibição do genocídio, proibição do uso da força,
tudo isto é ius cogens com origem no costume internacional. A dignidade da pessoa humana, a proibição da
tortura, escravatura e discriminação, também são ius cogens, tanto podem ter origem no costume como nos
tratados, e tanto pode ser regional como universal. Este direito cogente, não é apenas universal, estando
também presente em tratados regionais, por exemplo a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, a Carta
Africana, etc. Nós temos ius cogens que está nos tratados, mas essas disposições nos tratados têm origem no
costume. Se o direito cogente está no topo da hierarquia, este direito cogente só pode ser modificado ou
revogado por uma norma que é direito cogente. Por exemplo, uma norma de direito cogente não pode ser
modificada ou revogada por uma disposição de um tratado que não é direito cogente nem por um costume
que não é direito cogente.
• Há duas disposições da convenção de Viena sobre o direito dos tratados:
• Artigo 53 da Convenção de Viena - Um tratado que viole o ius cogens, é nulo, porque há normas de ius cogens
que estão nos tratados, mas há normas que não o são. Um tratado que viole qualquer princípio do direito
humanitário (são todos ius cogens), um tratado que viole o princípio da repulsão seria nulo. A forca do direito
internacional justifica-se pelo ius cogens.humanitário (são todos ius cogens), um tratado que viole o princípio
da repulsão seria nulo. A forca do direito internacional justifica-se pelo ius cogens.

• Artigo 64 da Convenção de Viena - Significa que o direito cogente é evolutivo, ou seja, no início do século XX
ninguém falava em desenvolvimento sustentável, em equidade ou justiça intergeracional e esses princípios
fazem parte agora do ius cogens, nenhum tratado pode violar estes princípios, porque o desenvolvimento
sustentável e a justiça entre gerações, depende da existência do ser humano.

• O direito cogente é um direito em evolução, o que justifica a força do DI, pode brotar das necessidades da
humanidade ao longo dos tempos.

Soft law e Hard Law:


• Quando falamos em fontes de DI ou nas fontes principais de DI: costume, princípios, tudo isto tem caráter
vinculante.

• Existem um conjunto de normas que estão patentes em declarações, todas estas declarações não são
vinculativas. Se não são, os estados podem não cumprir ? - os estados demoram muito tempo a chegar a um
consenso, um acordo. Para o tratado entrar em vigor é também necessário que seja ratificado por um
conjunto de estados. Os estados criam normas através de declarações que apesar de não ter força vinculante
serve como guia do seu próprio ordenamento e até pode dar origem a um costume internacional, se começar
a ser praticado de forma reiterada, passar de soft law para costume, entre não ter nada e ter alguma coisa é
melhor a segunda hipótese. Os tratados, costumes e princípios têm natureza obrigatória, são vinculantes, os
estados têm de os cumprir, no entanto, o DI não é composto apenas por normas vinculantes, existem normas,
incluindo princípios que não têm natureza vinculante, o designado soft law. Este soft law compreende
declarações, decisões, recomendações, resoluções aprovadas pelos Estados em conferências das partes aos
tratados (quando se reúnem para discutir sobre um tratado multilateral) ou emitidas por organizações
internacionais que não têm a força jurídica de um tratado, e não sendo obrigatórias podem ser utilizadas pelos
Estados, para a interpretação do próprio DI, para o preenchimento de lacunas, podem inspirar as decisões
políticas, legislativas e judiciais e até podem estar na origem do nascimento de uma norma ou de um princípio
internacional.

• Apesar de não ser juridicamente obrigatório, o soft law não é desprovido de força legal porque o soft law fixa
parâmetros dos comportamentos esperados dos Estados, sem que exista uma ordem a guiá-los. Ele
representa o conjunto de valores conhecidos como vitais para a humanidade mas não tem a força jurídica do
ius cogens, no entanto, tem alguma força legal, até porque podem dar origem a disposições de tratados e aí
passarem a ser vinculantes (hard law) ou então algo que não era obrigatório mas que passou a ser prática
reiterada por vários estados de um determinado comportamento que não era considerado obrigatório mas
que passou a ser considerado como tal, este soft law pode dar origem a uma norma de tratado e passar a ser
hard law, passar a ser fonte de DI.

• Exemplos de soft law: A declaração de princípios da Conferência de Estocolmo de 1972; a Declaração do Rio
de Janeiro de 1992 - o princípio 10 desta sobre o dever de informação é incorporado na Convenção das Nações
Unidas.
• O princípio de desenvolvimento sustentável antes de ser princípio foi um conceito de soft law. Nenhuma
nação do mundo pensa que é impossível subsistir sem desenvolvimento sustentável. Todos os Estados o
aceitam como princípio. Transformou-se numa norma vinculante.

• A soft law faz referência a princípios do DI. O princípio da cooperação surge do costume internacional e não de
uma soft law. O princípio da prevenção de danos tem origem no costume. O princípio da precaução é mais
recente, a sua origem, surge no soft law, mas transformou-se em costume. O soft law, pode conter princípios
que não são soft law, o instrumento é soft law, mas dá ênfase a certos princípios que não o são.

• Quando um estado não cumpre uma norma de um tratado, costume ou desrespeita o hard law, existe uma
consequência legal, jurídica, se violam o princípio geral de direito, um tratado é nulo, se viola um princípio
geral de direito, ao declarar a guerra sem conselho do Conselho de Segurança justificado em legítima defesa
ou estado de necessidade, o Conselho de segurança pode adotar medidas coercivas contra esse Estado, o que
normalmente não é muito eficiente pois há estados com assento permanente. Há consequências legais mas,
às vezes, não existem consequências legais nenhumas quando há violação do hard law.

• As decisões do TIJ são obrigatórias, a aplicação do direito é obrigatória, mas se um estado não cumpre uma
decisão deste, o Conselho de Segurança das Nações Unidas obriga esse estado a cumprir, mas se esse estado
for a Rússia ou os EUA, não irá valer a pena, pois ninguém vai punir o seu próprio país.

• O hard law é vinculante e tem força legal, no entanto, há um incumprimento deste.

• O incumprimento do soft law não decorre como consequência legal, mas pode até haver uma consequência
política ou até moral, como por exemplo a comunidade internacional de um país exercer pressão política para
se respeitar uma norma de soft law. O desenvolvimento sustentável, as cimeiras de 82, 92 e 2002, tiveram não
só a participação dos estados, mas também de ONG’s, povos indígenas, há uma participação de sociedade
civil nestas cimeiras, e há pressão política para o hard law que não é cumprida como também para se ir mais
longe, para certos princípios que não são vinculantes se tornarem vinculantes.

• Há uma perspetiva clássica de interpretar o DI e quando interpretamos por esta não se pensa em colocar o
soft law como fonte de DI, mas há quem pense que pode ser, pois pode-se transformar num costume ou
princípio e aí é uma fonte de DI.

Direito dos Tratados (ver sebenta):

• Página 3 - Existem duas convenções muito importantes - instrumentos jurídicos são eles que contêm as regras
que os Estados têm de obedecer na conclusão dos tratados, os tratados são a ferramenta mais utilizada como
fonte de DIP, e esses instrumentos são a Convenção de Viena, assinada em 1969 que entrou em vigor em 80,
Portugal aderiu posteriormente através da ratificação do Presidente da República, através de um decreto, em
2004. Esta Convenção regula a Convenção de tratados entre estados. Este direito dos tratados é o mais
importante.

• Existe outra Convenção de Viena sobre direitos dos tratados, mas é entre estados e organizações
internacionais ou apenas entre organizações internacionais, é posterior.

• Só vamos analisar a primeira, porque as regras que se aplicam são as mesmas com algumas diferenças que
resulta da outra parte ser uma organização internacional, mas a lógica jurídica é igual e a segunda não está em
vigor até à data.
Noção de tratado (artigo 2 nº1 a) da CVDTE)

• «Um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer esteja
consignado num instrumento único, quer em dois ou mais instrumentos conexos, e qualquer que seja a sua
determinação particular» - No entanto, a doutrina também admite que os tratados possam ser verbais, mas os
estados não cumprem o que está escrito quanto mais cumprirem o que é verbal, mas não se proíbe que seja
verbal. Nós podemos ter um tratado que o seu regime jurídico está em vários instrumentos, a Convenção
sobre as alterações climáticas, o regime jurídico foi sendo desenvolvido por vários outros tratados, um tratado
pode ser acordo, pacto, concordata, convenção, não deixa de ser tratado. Pode ser um instrumento único,
mas pode ser desenvolvido em vários instrumentos ligados ao tratado principal.

Elementos essenciais do tratado:


1. Elemento material

• Acordo de vontades plurilateral: expressão de uma vontade, produto de uma intenção de criação de normas
jurídicas/manifestação intencional combinada entre dois (bilateral) ou mais sujeitos (multilateral).

2. Elemento subjetivo
• Acordo de vontades entre sujeitos de direito internacional (Estados e Organizações internacionais).

3. Elemento formal

• Acordo Formal firmado em determinado momento histórico, com um articulado bem definido.
• Acordo Escrito.
• Vontade normativa dirigida à criação de disposições normativas.
• Vontade que se destina à produção de efeitos jurídicos (criação de deveres e obrigações para os sujeitos de
direito internacional).
• “A produção de efeitos de direito é essencial ao tratado, que não pode ser visto senão na sua dupla qualidade
de ato jurídico e de norma. O acordo formal entre Estados é o ato jurídico que produz a norma, e que,
justamente por produzi-la, desencadeia efeitos de direito, gera obrigações e prerrogativas, caracteriza enfim,
na plenitude de seus dois elementos, o tratado internacional. É conhecida em direito das gentes a figura do
gentleman’s agremeent, que a doutrina uniformemente distingue do tratado, sob o argumento de não haver
ali um compromisso entre Estados, à base do direito, mas um pacto pessoal entre estadistas, fundado sobre a
honra, e condicionado, no tempo, à permanência de seus atores no poder.” (Francisco Rezek, 42).

• Significa que um tratado não é a mesma coisa que um acordo de cavalheiros, neste há um pacto fundado na
honra, se não for comprido, não honraram compromisso, um tratado é mais do que isso, há uma vontade de
criar normas, de produzir efeitos normativos.

• Um tratado pode utilizar o termo “Constituição”, é um tratado, a de uma organização internacional. Também
se utiliza o termo “Carta”, por exemplo das Nações Unidas. “Estatuto”, por exemplo o Estatuto do Alto
Comissariado das Nações Unidas. “Convenção ou Acordo”, é um texto declarativo dos direitos do homem,
Convenção das Nações Unidas sobre o direito do mar. “Pacto” também se pode utilizar, Pacto de Varsóvia por
exemplo. Utiliza-se o termo “Concordata” quando é entre a Santa Sé e um estado. “Protocolo” também é um
tratado. “Ata geral ou Ata final”, também pode ter um valor de conferência internacional.
Classificações de tratados (página 7):
1. Classificação Subjetiva: Sujeitos, estados, podemos classificar do ponto de vista subjetivo quanto:

Ao número de partes:
• Tratados bilaterais e multilaterais.

Qualidade das partes:


• Tratados entre estados, tratados entre organizações internacionais e tratados entre estados e organizações
internacionais.

Abertura a sujeitos terceiros:


• Podemos ter tratados abertos - Permite a adesão de um estado que não participou na negociação do texto do
tratado, são sempre multilaterais, permitem a adesão de um estado que não participou na negociação de um
texto de um tratado, por exemplo a CVDT, é um tratado aberto, estes podem ser limitados - por razões
históricas, geográficas ou até de interesses económicos, só permite a adesão a certos estados, por exemplo da
União Europeia ou ilimitados - permitem a adesão de qualquer Estado, todos os tratados multilaterais
ambientais são abertos ilimitados, pois os problemas ambientais são globais, não podem ser resolvidos a nível
regional.

• Tratados fechados - Não permitem a adesão ao tratado, o tratado só tem como estados partes aqueles que
negociaram o texto do tratado e que o ratificaram no momento devido e não posteriormente. Atualmente
praticamente nenhum tratado é fechado.

11/03/2021

2. Classificação material: Diz respeito ao conteúdo, às matérias do tratado.


Abrangência das matérias:
• Tratado geral - Abrange uma generalidade de matérias.
• Tratado especial - É um tratado que apenas abrange uma determinada matéria ou apenas um aspeto
material. Por exemplo o acordo de Paris sobre as alterações climáticas.

Tipo de efeitos:
• Tratado-lei - Contém normas de conduta, ou seja, direitos e obrigações. Praticamente todos os tratados são
tratados-leis ou tratados normativos.

• Tratado-contrato - É um tratado que estipula determinados direitos e obrigações mas que tem um fim, que se
esgota com o cumprimento dessas prestações.

Natureza institucional ou material:


• Tratado constitucional - Aquele que cria uma organização internacional, a constituição de uma organização
internacional.
• Tratado material - Todos os outros tratados, contém normas e muitas vezes procedimentos.
Tipo de exequibilidade:
• Tratados auto-exequíveis - Obtêm plena eficácia por si mesmos, ou seja, a sua efetividade não depende de
outro tratado, ou de nenhuma lei, a Carta das Nações Unidas, por exemplo, impõe-se aos EP sem haver
necessidade de criar novos tratados para que os estados implementem o que está escrito na Carta das Nações
Unidas.

• Tratados hetero-exequíveis - Aqueles que carecem de implementação legislativa, administrativa, financeira


por parte dos estados para se tornarem exequíveis. Muitos tratados como a Convenção sobre a diversidade
biológica, contém disposições, que estão redigidas da seguinte forma: “os estados devem adotar todas as
medidas a nível interno, legislativas, administrativas, financeiras, económicas, sociais para tornar exequível as
disposições do presente tratado”. Para se tornar exequível é necessário que os EP adotem medidas a nível
interno.

Aplicabilidade circunstancial:
• Tratados imediatamente aplicáveis - Aqueles que não carecem de um procedimento interno para as suas
disposições serem aplicadas aos EP. Tratados solenes são mediatamente aplicáveis ou alguns acordos
simplificados. Os tratados ultra-simplificados, a sua aplicação é imediata após a assinatura do texto do
tratado.

• Tratados mediatamente aplicáveis - Aqueles cuja aplicação das duas disposições nos EP, depende de um
procedimento interno de cada Estado, previsto na sua própria constituição. Em regra geral, a maior parte dos
tratados são todos mediatamente aplicáveis porque a maior parte para estarem em vigor nos EP, para as
disposições no tratado fazerem parte do ordenamento jurídico interno dos estados, é necessário que os
Estados respeitem um determinado procedimento interno previsto na constituição, que será, no nosso caso
em Portugal, os tratados não se tornam aplicáveis se em alguns casos não forem aprovados pela Assembleia
da República e ratificados ou assinados pelo Presidente da República, isto é um procedimento formal previsto
na constituição, a sua aplicação num EM depende desse procedimento interno.

Duração:
• Tratados perpétuos - Aqueles que o tratado não impõe uma duração definida, a Carta das Nações Unidas.
• Tratados temporários - O tratado impõe um fim, um limite, nomeadamente os tratados-contrato.

Conexão com outros tratados:


• Tratados principais - Definem o que é um regime jurídico de base e são sempre anteriores aos tratados
acessórios. As Convenções-Quadro, o seu tratado acessório é aquele que se destina a desenvolver o conteúdo
do tratado principal.

3. Classificação formal:

Complexibilidade procedimental: Procedimento interno previsto na lei fundamental de cada estado a que é
necessário obedecer para que o tratado produza efeitos, nesse Estado.

• Tratado solene - Aqueles tratados que para entrarem em vigor num determinado Estado carecem de
ratificação do chefe de estado. As alterações climáticas também podem ser um tratado solene, porque vai
mexer com a existência de alguns estados. Carece de aprovação do Governo, Assembleia da República e a
ratificação do Presidente da República. Artigo 161 i) da constituição, podemos ter tratados solenes sobre
matérias que não estão aqui incluídas, tudo depende se os órgãos de soberania com competência nestas
matérias entendem que é uma matéria que mexe com questões de soberania.
• Tratados não solenes ou em forma simplificada - Não carecem da ratificação do chefe de estado, mas
apenas de um procedimento mais simplificado, com a assinatura do chefe de estado. Podemos ter tratados
não solenes, os acordos simplificados, que são aqueles que carecem da assinatura do governo, da aprovação
da Assembleia da República e apenas de uma mera assinatura do Presidente da República e não da ratificação
do Presidente da República, podemos ter os acordos ultra-simplificados que não carecem de aprovação da
Assembleia da República, apenas do governo e depois a assinatura do Presidente da República, não é
necessário que ela se pronuncie sobre esses tratados. Esta diferenciação é feita pelo Professor Jorge Miranda,
mas há quem não faça esta distinção.

Procedimento Geral de Conclusão de Tratados

1. A negociação do texto do tratado


• Na CVDTE, diz que o procedimento geral de conclusão dos tratados começa com a fase da adoção, mas a
adoção do tratado, a doutrina entende que seja outra fase, porque a convenção, prevê um conjunto de normas
sobre a forma como vão recorrer as negociações dos tratados e só interessa que o tratado exista. O tratado
começa com a negociação do texto do tratado e só depois de já existir um texto é que se dá a assinatura do
texto do tratado, no entanto, os estados podem não chegar a nenhum acordo do texto do tratado, por isso é
que na doutrina começamos por falar da negociação do texto que pode dar origem a um texto que será
adotado como a nenhum texto. A CVDTE não faz esta distinção porque ela visa regular todas as fases da
conclusão do tratado, para esta já existe a negociação com a adoção, mas nem sempre a negociação gera um
tratado. Diz que a negociação e adoção são a mesma coisa, porque a convenção estipula as regras de
negociação que depois dá origem ao texto do tratado.
• Esta hierarquia, aparece nos livros, mas nos livros estrangeiros, anglo-saxónicos eles muitas vezes estão de
acordo com as fases previstas na Convenção de Viena. Não obedecemos a essa lógica, fazemos a distinção
entre adoção e negociação.
• A fase da adoção faz parte da negociação e assinatura do texto do tratado. Nem sempre da negociação resulta
a adoção de um texto de tratado por os estados não concordarem, então os livros, fazem esta distinção entre
negociação e adoção, mas do ponto de vista teórico a adoção faz parte da negociação.

Desta fase de negociação temos: (não sai no teste)

• Fase da pré-negociação: Determinação das regras do processo negocial (identificação das partes envolvidas
na negociação e do objeto da negociação).
• Fase do quadro da negociação: Definição dos sub-temas e do esquema da negociação e sua calendarização.
• Fase da particularização da negociação: Consulta direta, recíproca e pormenorizada entre negociadores
(discussão dos diversos assuntos de acordo com o esquema e a calendarização definida na segunda fase) com
vista à redação de um texto escrito.

Habilitação funcional e específica:


Quem é que tem competência para negociar o tratado? - Apesar de existir uma lógica a nível interno, há uma
disposição que se impõe aos estados, artigo 7 da CVDTE, de acordo com a doutrina de DI, podemos enquadrar as
entidades habilitadas em duas categorias:
1. Entidades habilitadas em razão das funções ou cargos que exercem num determinado Estado ou
Organização Internacional:
• Habilitação funcional geral: Os Chefes de Estado, os Chefes de Governo e os Ministros dos Negócios
Estrangeiros (em função do sistema de governo, Presidencialismo vs. Parlamentarismo e
Semipresidencialismo): artigo 7 nº2 a).
• Habilitação funcional específica diplomática: Os chefes de missão diplomática, artigo 7 nº2 b).
• Habilitação funcional específica institucional: Os representantes acreditados dos Estados (secretários de
estado, subsecretários de estado, e outros ministros, conforme as suas funções) numa conferência
internacional ou junto de uma organização internacional, ou de um dos seus órgãos, quanto a tratados
celebrados nessas instâncias. Artigo 7 nº2 c).

2. Habilitação específica: Quando um sujeito internacional (regra geral o chefe de estado) confere uma carta de
plenos poderes a alguém (exemplo: diplomata fora da habilitação funcional ou um servidor público de uma área
que não os negócios estrangeiros, chefe de uma delegação nacional) para, em seu nome, negociar a elaboração
de um texto de tratado internacional. Artigo 7 nº1 a). Uma carta que lhe confere poderes. Não é obrigatória
desde que aquela pessoa mesmo não mostrando a carta é representante daquele estado.

2. A adoção do texto do tratado (página 11):


• Quando as negociações não caem por terra ou são interrompidas passamos à fase da aprovação do texto e,
seguidamente, à autenticação do texto.

A aprovação do texto do tratado:


• Acordo dado, entre as partes negociadoras, quanto a um texto escrito, que foi sendo redigido durante a fase
da negociação, nada mais havendo a dizer sobre o mesmo, que se dá por concluído (artigo 9 da CVDTE). Os
estados são soberanos e podem afastar muitas disposições da CVDTE, todas as regras aqui afixadas podem
ser afastadas pelos Estados pois escolhem outro meio alternativo. Os estados podem sempre decidir de outra
forma.

Qual o corpus do projeto do tratado? (Jorge Bacelar Gouveia)


• Parte preambular: Composta por um preâmbulo (conjunto de considerandos a respeito da razão de ser do
tratado, bem como das intenções dos Estados que o negociaram, incluindo a sua própria identificação, que,
porém, não possui valor diretamente normativo, ainda que possa ser elemento hermenêutico não
despiciendo). É importante para a interpretação do tratado. Não tem um efeito normativo, mas acaba por o
fazer indiretamente, pois serve para se interpretar o tratado. Muitas vezes são recordados princípios que são
normativos, apesar de o preâmbulo não ter um efeito normativo ele é importante para a interpretação do
tratado, acaba por ter um efeito normativo indireto.
• Parte dispositiva: Que tem o articulado ou o clausulado, conforme seja redigido por artigos ou por cláusulas,
o qual consiste num conjunto de preceitos, separadamente para cada uma das matérias, distinguindo-se entre
disposições materiais e cláusulas finais.
• Parte complementar: Composta pelos anexos, podendo aparecer com um sentido técnico ou geográfico,
embora possuindo o mesmo valor normativo do articulado.

O texto do tratado pode ser rectificado?


• Sim (artigo 79 CVDTE). Corrigir erros materiais ou lapsos do tratado sem modificar esse mesmo tratado.
Autenticação do texto do tratado:
De que forma se autêntica um texto de um tratado? (Artigo 10 CVDTE)
• Assinatura (definitiva) - Não existe por via de adesão, o estado que adere não participa na negociação, apesar
de poderem ser admitidas reservas formuladas, aquando da adesão. Quando um estado não concorda com
todas as disposições de um tratado, pode fazer reservas, tanto se adere como se negoceia. Todos podem fazer
reservas.
• Assinatura ad referendum e a rubrica - Provisórias realizadas por um representante do estado, mas a eficácia
que lhe está inerente fica sempre dependente de confirmação ulterior por parte do estado representado. De
acordo com o sistema português, alguém com uma carta de plenos poderes assina, mas é necessário que o
Governo assine para que esta autenticação seja eficaz, é um procedimento que pode ser exigido pelos
ordenamentos jurídicos de cada estado, em função do representante do estado na conferência. É no nosso
caso uma assinatura superior que valida esta autenticação.
• Qualquer outro procedimento estabelecido nas negociações : O que os estados quiserem, o que escolherem.

Quais os efeitos da autentificação?


• «A assinatura ou processo equivalente não obrigam o Estado-parte, salvo nas convenções ultra-simplificadas:
uma vez produzida, aos órgãos constitucionais competentes cabe aprovar e ratificar ou só aprovar, o tratado
(ou não). A consequência principal da assinatura é outra. Consiste em, fixado o texto, os Estados contratantes
ficarem adstritos, por imperativo de boa-fé, a abster-se de atos (ou omissões) que privem o tratado do seu
objeto ou do seu fim (artigo 18º CVDTE) = Responsabilidade pré-contratual. O tratado ultra-simplificado
vincula o estado com autenticação, mas há um efeito pré-contratual, os outros EM não podem exigir o tratado
mas pode exigir que Portugal não adote comportamentos que ponham em causa a proteção do Rio Tejo, por
exemplo.
• Quando um tratado é solene, ou apenas simplificado (de acordo com a perspetiva de Jorge Miranda), quando
autenticado, assinado pelo membro do governo responsável, não vincula automaticamente o estado, porque
para que o Estado português fique vinculado ao tratado solene, é necessária a ratificação do chefe de estado e
nos casos dos simplificados é necessária a aprovação da Assembleia da República, desta forma, um outro
estado parte, não pode exigir o cumprimento desse tratado ao Estado que não ratificou ou não aprovou o
tratado. O estado pode assinar o texto do tratado e nunca ratificar o texto do tratado, mas, em virtude do
princípio da boa fé, um estado que assina um texto de tratado está a criar uma expectativa nos outros estados
de que têm vontade de se vincular ao tratado. No entanto, de acordo com o Professor Jorge Miranda, nestes
casos, o estado embora não possa ser responsabilizado pelo não cumprimento das disposições do tratado,
pode ser responsabilizado de acordo com uma responsabilidade pré-contratual, ou seja, se pelas suas ações
comprometer a existência do objeto do tratado ou do fim do tratado, por exemplo, um estado que polui um
rio quando o objeto é proteger esse rio, ele não cumpre a consulta mútua com outro estado, mas adota
comportamentos que põe em causa o rio, sem a qual o tratado não existe. Em relação aos acordos ultra-
simplificados, a autenticação, pelo membro do governo responsável, faz com que o estado português fique
vinculado ao tratado, Portugal tem de cumprir o tratado. A maior parte dos tratados ou são solenes, ou
simplificados, por isso normalmente são raros os acordos ultra-simplificados.

3. A vinculação ao texto do tratado

Em que momento se considera produzida a vontade dos Estados se vincularem internacionalmente ao


tratado?

• Nos bilaterais, assina-se o texto do tratado, há troca dos textos e das cartas de ratificação se forem solenes.
• Com o depósito dos instrumentos internacionalmente vinculativos junto do depositário (artigo 77º da CVDTE)
= tratado multilateral = depósito junto do governo designado ou depósito de um tratado multilateral
celebrado no contexto da ONU ou de outra organização = Sede da Organização +
• Com a notificação da emissão dos instrumentos, se assim for convencionado.
• Outra forma estabelecida na convenção.

Quando entram em vigor internacionalmente os tratados?


• Os Tratados entram em vigor na data e nos termos que ficaram combinados nas respetivas disposições finais.
Exemplo: Convenção quadro das Nações Unidas sobre as alterações climáticas artigo 23 nº1 «A Convenção
entrará em vigor no 90.º dia após a data do depósito do 50.º instrumento de ratificação, aceitação, aprovação
ou acessão» (março 1994)
• Se Portugal apenas assinou o texto do tratado, e 50 estados ratificaram a convenção, esses 50 estados não
podem exigir a Portugal o cumprimento do tratado, pois cumpre o requisito para ela já estar em vigor.

• Portugal ratificou o tratado solene e a convenção exige as 50 ratificações e até ao momento só foram
depositadas 30 ratificações, o tratado não está em vigor, Portugal pode até adotar medidas a nível interno
para se adiantar no cumprimento do tratado, mas não pode exigir que outros estados cumpram as disposições
do tratado porque ele não está em vigor.
• Entram em vigor quando o último sujeito que adotou o texto tenha também emitido o ato de vinculação ao
mesmo. Quando existir um depósito de ratificação e após o decorrido prazo afixado no artigo 23.

Formas de vinculação:
• A assinatura: No caso de na adoção do texto também ter sido estabelecida a possibilidade de uma simultânea
vinculação aquando da autenticação = acordos simplificados: quando o direito interno respetivo permite que,
no ato da assinatura da autenticação, o representante do Estado também manifeste a vontade em vincular-se
ao mesmo. No nosso caso só se for ultra-simplificados.

• Troca de instrumentos constitutivos - Entrega recíproca de textos, assinados por ambas as partes em
representação dos respetivos sujeitos outorgantes. Acontece nos bilaterais.
• Ratificação - Praticada pelos chefes de Estado (artigo 135 b) da constituição - Presidente da República ratifica
os tratados internacionais (tratados solenes), depois de devidamente aprovados pela Assembleia da República
(artigo 161 i) da constituição).

• Aprovação - Efeitos iguais ao da ratificação. A utilização destes termos tem a ver com a diversidade de
sistemas jurídicos. Alguns países, utilizam o termo aprovação. Este termo é também utilizado quando
organizações são parte num tratado internacional, como por exemplo a União Europeia.

• Adesão ou Aceitação - Quando está em causa a vinculação de um sujeito que não adotou o texto, não
participou na fase de negociação. Manifestou de vontade posterior à adoção do texto do tratado (fase b)). Por
exemplo, cinco estados discutem e adotam um tratado. Posteriormente um sexto estado pretende fazer parte
desse tratado (faz parte do tratado por meio da adesão). Nota: os tratados não produzem efeitos retroativos
(artigo 28 in fine CVDTE).

20/03/2021

Questões (V/F):
1. O acordo internacional é uma forma de ato unilateral - (F) Um acordo implica (pode ser chamado de tratado)
pelo menos duas partes.

2. O elemento material é sempre necessário para dar nascença a uma norma costumeira - (F) Nem sempre
assim é. Explicar costumes selvagens.

Capítulo III. A subjetividade internacional

Secção I. A construção da subjetividade internacional

• Este tema alterou-se profundamente porque a sociedade internacional também se diversificou, temos mais
sujeitos de DI, a construção da subjetividade teve também que se adaptar. Em direito interno, já vimos que
existem 3 elementos essenciais: personalidade, capacidade e pessoa jurídica.

• Personalidade: Designa a faculdade para se ser destinatário de normas e princípios jurídicos. Vamos ter
sujeitos titulares de direitos, num aspeto ativo e adstrito a deveres também, numa vertente passiva.

• Capacidade jurídica: Conjunto dos direitos e dos deveres de que cada pessoa é titular. Podendo distinguir-se a
capacidade de gozo (titular) e a capacidade de exercício (utilização prática).

• Pessoa jurídica: A entidade na qual se combina a possibilidade para se ser sujeito de direito possuindo sempre
personalidade e, tendo capacidade jurídica.

• Especial enquadramento: Adequar estas definições ao DI, em primeiro lugar, a fonte da respetiva
determinação do que é ou não sujeito é o DI, que tem a sua própria autonomia e vai conferir essa
personalidade jurídica apenas a algumas entidades, essa determinação deve ser direta e imediata, nunca é
mediada por outras fontes. Não se requer uma total capacidade de gozo ou de exercício de DI, tem a ver com
heterogeneidade da SI. Há alguns com mais poder do que outros no cenário internacional.

Secção II. Os conteúdos da subjetividade internacional

Em DI temos 3 conteúdos fundamentais da subjetividade:


1. Ius tractuum - A faculdade para celebrar tratados internacionais, que podem ser protocolos, pactos, acordos,
etc. O DI não é formalista aqui. São tratados que vão criar normas convencionais, faculdade para celebrar
tratados. Todos os poderes que estão em causa, pode dizer-se que esta contratação afigurara-se fundamental,
pois vamos aqui criar direitos e obrigações, é a via mais explícita, no entanto, este não é um poder que seja
identicamente atribuído à generalidade dos sujeitos internacionais, apenas os sujeitos clássicos (estados, século
XVI XVII e OI, a partir do século XX). Este poder mostra-se relevante para os sujeitos pois permite-lhes garantir
um peso na sociedade internacional e ser autores de normas e destinatários das mesmas.
2. Ius legationis (direito das legações) - A diplomacia compreende todos os meios pelos quais os estados
estabelecem ou mantêm relações mútuas. Estabelecimento de dois tipos de relações, diplomáticas e consulares.
Espalha a preocupação com o relacionamento político entre os sujeitos internacionais. É importante para
acalmar as tensões.
• Privilégios e imunidade de missões diplomáticas: Representação do estado acreditante junto do estado
acreditador. Um diplomata para representar o seu país noutro, tem de receber a acreditação de ambos os
países. A proteção do estado acreditador dos interesses do estado acreditante. Há uma obrigação de proteger
a embaixada e os seus diplomatas. Tarefas de negociação internacional em todos os planos.
• Consulares: Aspetos administrativos, tratam da proteção dos respetivos nacionais residentes num país
estrangeiro. Uma atividade mais burocrática no sentido de emissão de documentos no estrangeiro. Relações
económicas, sociais e culturais. Implementa as decisões dos diplomáticas.
• O estabelecimento de relações diplomáticas não é uma obrigação. Não há obrigação de que todos os países
do mundo têm de ter relações. Tudo depende da vontade bilateral dos sujeitos em causa. Em qualquer altura
pode-se romper as relações diplomáticas. Em Portugal, o estabelecimento de relações diplomáticas, resulta
do governo, mais precisamente o ministério dos negócios estrangeiros, que é o órgão dedicado à política a
nível internacional. Artigo 135 a) - PR nomear os embaixadores e acreditar os representantes.
• As relações diplomáticas e consulares vão beneficiar de um conjunto de imunidades e privilégios, justificam-se
por razões funcionais, porque, essas pessoas são agentes do estado, representam outro estado e é importante
que beneficiem destas imunidades. São prerrogativas especiais reconhecidas às missões diplomáticas e aos
consulados, seus agentes e funcionários, e também às OI. Para que estes exerçam as suas funções, quem
recebe não deve agir negativamente. A CVRD, reconheceu um conjunto de privilégios, o estado anfitrião deve
mostrar um cuidado especial para o pessoal diplomático, não devem ser perseguidos nem submetidos a
pressão.
• O que engloba as imunidades e privilégios? - Inviolabilidade pessoal, o Estado deve garantir a segurança dos
agentes diplomáticos e imunidade de jurisdição; é muito ampla, porque vale no campo penal, civil e
administrativo - sejam atos fora ou dentro da função, a pessoa não pode ser perseguida. Essa imunidade é
tradicional para que não haja pressão, e é preciso que não haja também abusos nessas imunidades.
• Os agentes diplomáticos beneficiam de uma imunidade absoluta, qualquer atividade que eles façam seja
dentro ou fora de funções, a única entidade que pode levantar essa imunidade é o próprio Estado, o ministro
dos negócios estrangeiros tem que solicitar os levantamentos da imunidade.
• Imunidade parcial - só vale para os atos praticados dentro do exercício da função.
• O estado aceita levantar a imunidade, e assim vamos ter um processo no país onde se encontra. Mesmo que o
agente seja culpado, existe também uma imunidade de execução - para depois aplicar a pena, é preciso
novamente voltar a pedir ao estado para ele aceitar a aplicação da pena. Mesmo que o diplomata seja
sancionado, o julgamento só se aplicará se houver levantamento da imunidade de execução. Se não for
levantada, o julgamento é uma mera sentença moral.

3. Ius belli - Possibilidade de se usar a força ao abrigo do DI. Há um antes e um depois, antigamente este ius belli,
simbolizava a dimensão militar das relações internacionais. A guerra era um instrumento de relacionamento
como qualquer outro. Enquanto hoje, tem uma configuração bem restrita. Hoje, este ius belli não pode incluir um
poder ilimitado de recorrer à força, antes podia-se usar a qualquer momento, hoje já não existe nenhum poder
ilimitado de recorrer à força: legítima defesa e autorização do conselho de segurança da ONU, para recorrer à
força, fora disto, não é possível recorrer à força. Artigo 135 c).

4. Outros poderes - Esta trilogia são as 3 manifestações mais emblemáticas da subjetividade, mas tivemos
mudanças enormes que pouco a pouco emergiram outros tipos de poderes que assim também pertencem aos
sujeitos internacionais.
• O poder de participar no funcionamento de OI - Inclusive num estatuto de mera observação. Importante,
porque os estados, criados na CI procuram entrar em OI, porque eles percebem que é melhor estar dentro do
que fora, mesmo que seja caro monetariamente. Se estivermos fora, não temos peso nenhum na CI. É
interessante para outras entidades, que não são reconhecidas como estados, ou apenas de forma contestada,
a Palestina, entre outros. Não são reconhecidos e têm interesse em entrar nas OI mesmo com estatuto de
mero observador.
• Intervir junto de tribunais internacionais - TIJ, e imensos tribunais internacionais, imensas oportunidades de
resolver conflitos. Eficaz para o estado, para proteger os interesses do estado, em estado de pressão com
outro estado. Em Portugal, verifica-se uma articulação entre vários órgãos, os três principais órgãos intervêm
e partilham o poder em relação a Portugal como internacional, partilha de poderes entre o chefe de estado, a
Assembleia da República e o Governo. O chefe de estado, na cena internacional, quando há uma cimeira é
este que representa o país, é ele que nomeia os embaixadores portugueses e acredita os que vêm de fora, é ele
que proclama a guerra. A Assembleia da República, em relação aos tratados solenes, tem um papel de
aprovação, em relação à guerra, é ela que autoriza. O governo tem também diversos poderes, mas, de
iniciativa. Ele pode negociar as convenções internacionais, a iniciativa de declaração de guerra, o
estabelecimento das relações diplomáticas é o governo que decide também e o chefe de estado escolhe os
embaixadores, mas é sob proposta do governo. Artigo 182 da constituição.

Secção III. O reconhecimento da subjetividade internacional


• Mecanismos que existem e conduzem ao reconhecimento.
• O reconhecimento é um exemplo de ato unilateral, pelo qual um estado constatando uma dada situação de
facto ou de direito, aceita que esta lhe seja oponível, obriga-se a admitir os seus efeitos jurídicos. Este ato cria
relações, meramente bilaterais, entre o seu autor e a entidade que é reconhecida, o estado que vai reconhecer
outro estado, obriga-se a admitir os efeitos jurídicos da existência do outro estado, e este reconhecimento cria
relações bilaterais aquele que reconhece e o que é reconhecido.
• Quando se diz que um vai obrigar-se a admitir efeitos jurídicos quer dizer que vai impedir de adotar
comportamentos contraditórios. Uma vez que se reconhece, não se pode contradizer.

• São variadas as situações que podem ser objeto de reconhecimento, um estado pode unilateralmente
conhecer qualquer situação de direito, não há nada que impeça um estado de reconhecer o que quer que seja.
O exemplo mais típico é o aparecimento de um novo estado, o reconhecimento de mudanças ocorridas num
governo, a emergência de um estado reconhecer outros beligerantes na guerra, estas precisam de ser
reconhecidas, para poder depois estabelecer relações políticas. Apesar das diversas factualidades que podem
ser objetos de reconhecimento vamos interessar-nos pelo reconhecimento pelos sujeitos.

Existem 2 teorias opostas baseando-se nos efeitos dados ao reconhecimento:


• Teoria do reconhecimento constitutivo - Esta teoria implica que a emergência de um novo sujeito, está
sempre dependente da formulação de uma vontade positiva por parte dos outros sujeitos internacionais.
Como é um ato discricionário, temos um estado que declara que reconhece outro estado, a personalidade e
plena capacidade dos estados só aparecem como o ato de reconhecimento por parte dos outros estados. O
reconhecimento surge assim como um quarto elemento constitutivo do estado.
• Teoria do reconhecimento declarativo - Muito menos exigente, é um ato de mera certificação formal, quanto
ao prévio aparecimento de uma nova entidade de direito internacional, a emissão deste reconhecimento nada
acrescenta à entidade. Pode ser útil, mas o estado existe, mesmo que não seja reconhecido. O estado é uma
pessoa jurídica a partir da sua formação. A personalidade jurídica do estado não depende de um ato de
reconhecimento.
• São duas teorias opostas e perante este dilema, a dificuldade é que raras são as disposições que se
pronunciam. Na prática, o reconhecimento declarativo, é de longe a posição mais seguida. Porque o
reconhecimento declarativo, não entra em conflito com princípios fundamentais do DI, autodeterminação dos
povos e igualdade dos povos, a teoria constitutiva entra em conflito com estes dois temas, porque seriam os
estados antigos que teriam o privilégio a reconhecer os estados novos e isto implica uma arbitrariedade. Se os
povos quiserem criar o seu estado, isto tem de ser mais do que respeitado.
Prática internacional:
• Reconhecimento do estado como sujeito internacional é tido por meramente declarativo, não acrescenta
nada e os seus efeitos não incidem sobre a personalidade, mas sim com a capacidade de agir, o estado existe
como pessoa jurídica, mas a verdade é que vai ter uma capacidade de agir limitada se não for reconhecida por
muitos estados. Apesar de não ser necessário, os estados vão buscar o seu reconhecimento, pois a vantagem é
de ter uma capacidade de agir muito mais alargada. O reconhecimento não é útil para existir, mas com este,
vai ter uma existência extrovertida. Vai conseguir celebrar tratados, aderir a novos tratados, entrar em
organizações, relações com outros estados, embaixadas, etc.
• Reconhecimento do governo deve seguir e segue o regime declarativo do reconhecimento do estado. Em
respeito dos governos existe uma evolução da prática internacional. Desta, pode retirar-se como fundamento
de legitimidade de um novo governo a efetividade do seu poder. A efetividade tem um peso forte, se o
governo for efetivo sobre o território e a população do estado, então podemos reconhecê-lo como governo,
independentemente do modo como ele adquiriu o governo. Desde os anos 1990, em virtude do princípio da
não ingerência dos assuntos internos, os estados deixaram de reconhecer expressamente governos, os
estados deixaram de reconhecer governos, limitando-se a reconhecer estados, por causa da não ingerência
dos assuntos internos. Os estados limitam-se a manter relações diplomáticas com o novo governo. Isso vale
como reconhecimento tácito. Quando a alteração do governo resulta do cumprimento das normas nacionais
não há necessidade de reconhecimento.
• A questão do reconhecimento só se coloca quando ocorre uma situação de rotura clara na ordem
constitucional de um estado.
• Outros sujeitos internacionais - Beligerantes, os movimentos de libertação nacional. Tem uma natureza
constitutiva, porque relativamente a estes sujeitos, o reconhecimento aparece como um elemento atributivo
da personalidade jurídica, se eles não forem reconhecidos eles não têm existência. Só vão ter capacidade de
agir se forem reconhecidos como pessoas jurídicas, em relação à capacidade é sempre limitada pelos fins que
estes perseguem. Só os estados têm soberania, capacidade ilimitada, em princípio não há nenhum outro
sujeito com esta característica. Reconhecimento como elemento atributivo da personalidade jurídica e,
consequentemente, também da capacidade a agir destes sujeitos.

Modalidades do reconhecimento:
• O DI não prescreve nenhuma modalidade específica, não é formalista, não exige formalidades particulares, o
reconhecimento pode ser expresso ou implícito.

Pode ser:
• Individual - Um sujeito reconhece outro numa base bilateral.
• Coletivo - Grupo de estados que concordem em reconhecer outros estados.
Ele é:
• Discricionário - Não é impunível, não há obrigação, o que não quer dizer que não há deveres, não é por não o
reconhecer que se pode invadir.
• Não é arbitrário - Deve respeitar regras de maneira a evitar reconhecimentos que violem regras
fundamentais.
• Pode ser prematuro como tardio.
• Pode ser condicional, aceitam reconhecer mas se o governo for um regime democrático.
• Em princípio, não é revogável.

Secção IV. A diversidade dos sujeitos internacionais


Quadro tipológico:
- A grande divisão é entre os sujeitos que tenham um substrato estadual e aqueles que não oferecem esse
estrato. Estados e o resto. Conforme essa divisão os sujeitos internacionais são os seguintes:
• Estados - Primários, originários, mais antigos e únicos a ter soberania.
• As OI, as estruturas interestaduais - São sujeitos derivados, derivam de pactos concluídos pelos estados.
• As coletividades não estaduais - A todas as que não tem substrato estadual.
• A pessoa humana - Um sujeito do DI porque é titular de direitos. Esta também tem deveres, se cometer
crimes internacionais ela é responsável em direito internacional.

A comunidade internacional:
• Há duas formas de a ver, ou é o conjunto de todos os sujeitos internacionais, ou então, um órgão sobreposto
aos outros sujeitos internacionais.
• Se vamos analisar os diversos instrumentos internacionais podemos concluir que sem dúvida a CI é
destinatária de diversas normas de DI:

1. O direito imperativo, ius cogens, visa proteger valores fundamentais para a CI.
2. A exploração do espaço exterior é realizada tendo em conta a humanidade.
3. O regime da área é atribuído em favor da humanidade.
• No entanto, a CI é um sujeito menor, nomeadamente:

1. Por falta de uma personificação num organismo identificado.


2. Por falta de capacidade de exercício.

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