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Respostas para o 1º teste de DIP

Grupo I
Definições:

1- Distinga Tratado-lei de tratado-contrato: Os tratados-leis são geralmente celebrados entre


muitos Estados com o objetivo de fixar as normas de Direito Internacional. As convenções
multilaterais como as de Viena são um exemplo perfeito deste tipo de tratado. Os tratados-
contratos procuram regular interesses recíprocos dos Estados, isto é, procuram regular
interesses recíprocos e são geralmente de natureza bilateral, mas, existem diversos exemplos
de tratados multilaterais restritos.

Já os tratados-contratos podem ser executados ou executórios. Os primeiros, também


chamados transitórios ou de efeito limitado, são os que devem ser logo executados e que,
levados a efeito, dispõem sobre matéria permanentemente, como ocorrem nos tratados de
cessão ou de permuta de territórios. Os tratados executórios ou de efeito sucessivo são os que
preveem atos a serem executados regularmente, sempre que apresentem as condições
necessárias, como nos tratados de comércio e nos de extradição.

2 – Território do Estado: O Território é um elemento constitutivo do Estado. Por um lado,


marca o domínio dentro do qual o Estado exerce a sua soberania. Em segundo lugar, e
referindo-se agora a sua extensão, é fator de defesa militar e de defesa económica, sobretudo
quando à extensão se alia a fertilidade do solo ou a riqueza do subsolo. Todo o Estado deve
obstar a que o seu Território seja utilizado para a prática de atos contrários aos direitos de
outros Estados.

3 – Soft Law primaria: A soft law primária é um dos tipos da soft law (conjunto de normas
(standards normativos) de categoria residual 6 cujo escopo é criar vinculações exortatórias, em
oposição clara às vinculações obrigatórias próprias da hard law criando, deste modo, uma
expectativa de cumprimento baseada na autonomia da vontade e na boa-fé típica dos acordos
convencionados cuja raiz é o mútuo consentimento) e teve um impacto inovador ao constituir
o pilar estruturante da génese de novas áreas do direito internacional, como sucedeu nos
casos da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 em relação ao direito
internacional dos direitos humanos e da Declaração de Estocolmo de 1972 relativamente ao
direito internacional do ambiente. *

4- Jus Cogens: Jus Cogens consiste em normas imperativas, aceites como tal, pela comunidade
internacional no seu todo. Uma norma imperativa de direito internacional geral é uma norma
aceite e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu todo como norma cuja
derrogação não é permitida e que só pode ser modificada por uma nova norma de direito
internacional geral com a mesma natureza.

O Jus Cogens só se realiza com recurso a normas e princípios que sejam portadores dos
grandes valores da comunidade internacional.

5- Mar Territorial: Zona marítima adjacente às costas do Estado, que vai desde a linha da maré
baixa, até às 12 milhas marítimas. No Mar Territorial, o Estado exerce a sua soberania quase
completa, na medida em que goza dos direitos exclusivos de pesca, de navegação e de
regulamentação alfandegária. No entanto, no Mar Territorial, a soberania dos Estados sofre
algumas limitações no que se refere ao direito de passagem inofensiva. O Estado Português,
no Mar Territorial, goza de direito exclusivo de pesca, exploração e extração do leito e subsolo,
de cabotagem, de regulamentação, de exercício da jurisdição penal.

6- Soft Law e os seus tipos: A soft law é o conjunto de normas (standards normativos) de
categoria residual, cujo escopo é criar vinculações exortatórias, em oposição clara às
vinculações obrigatórias próprias da hard law criando, deste modo, uma expectativa de
cumprimento baseada na autonomia da vontade e na boa-fé típica dos acordos
convencionados cuja raiz é o mútuo consentimento. A soft law tem vários tipos, sendo eles: a
Soft Law Legal, a Soft Law delegada ou secundária (prática e declarações que se desenvolvem à
volta de um tratado e que têm natureza suplementar em relação ao mesmo), a Soft Law
primária (inovadora definindo os princípios e regras estruturantes de novas áreas do Direito
Internacional), e a Soft Law autónoma (desenvolvida por ANS sem o envolvimento de Estados).

7 – Processo de deliberação do conselho de Segurança da ONU: O conselho de segurança é


um órgão principal das Nações Unidas que é constituído por 15 membros, sendo que 5 são
membros permanentes e 10 membros não permanentes.

Nos termos do artigo 27º da Carta, o conselho de segurança delibera por maioria qualificada
e é necessário para deliberar um quórum de 9 votos. Este artigo ainda estabelece dois
procedimentos: um procedimento de deliberação para as questões processuais e um
procedimento de deliberação para as questões não processuais. No nº2 do artigo 27º, as
decisões do conselho de segurança em questões processuais devem ser tomadas por voto
afirmativo de 9 membros. Não pode ser aprovada por menos de 9 votos (não interessa saber
quem votou). Nº3: as decisões do Conselho de Segurança sobre quaisquer outros assuntos
serão tomadas por voto favorável de nove membros, incluindo os votos de todos os membros
permanentes, e aquele que for parte numa controvérsia se absterá de votar (ou seja, o voto é
a abstenção, estamos perante um veto).

Existindo um veto, a decisão não pode ser adotada. Sem duplo veto não há veto, isto é, serias
fácil tornear o veto estabelecendo que não é processual e adotando a votação desse tipo. A
abstenção de um membro permanente ou a ausência da votação, não está presente na
votação, não correspondem a um veto.

8 – Distinga soberania positiva de soberania negativa: A soberania negativa situa os Estados


soberanos como poderes paralelos uns aos outros. A soberania positiva consiste na capacidade
de o Estado impor sua vontade a outros que a ela são submetidos, esta é neutralizada na
ordem jurídica internacional, onde, em suma, ser soberano significa estar revestido do direito
de resistir à ingerência em assuntos da sua competência pré-determinada

9 – Parecer TIJ Reparations for Injuries

10 – Doutrina dos poderes implícitos: Doutrina dos poderes implícitos é a que provê à
organização internacional a competência jurídica para executar certas atividades, as quais não
foram nem permitidas nem proibidas pela carta constitutiva, desde que elas sejam
indispensáveis para a realização dos seus propósitos e funções e na extensão necessária.

Dessa forma, dotam-se as organizações internacionais de poderes que não aqueles concedidos
diretamente pelos seus Estados criadores.
11- Regras de Deliberação do Conselho de Segurança

12 – Distinga personalidade jurídica objetiva de personalidade jurídica qualificada: A


personalidade jurídica objetiva diz respeito aos Estados soberanos e Organizações
Internacionais intergovernamentais. Têm um conteúdo uniforme e fixo, é irreversível e o seu
exercício potencial não é afetado pelo não exercício. É também oponível Erga Omnes, ou seja,
os efeitos de algum ato ou lei atingem todos os indivíduos de uma determinada população ou
membros de uma organização.

A personalidade jurídica qualificada diz respeito a empresas multinacionais e a ONG’s


Internacionais. Tem uma oponibilidade restrita apenas a quem a reconhece, um conteúdo
variável e assimetria entre atores com a mesma natureza. É reversível e, portanto, pode
extinguir-se. O seu exercício efetivo é essencial para a manutenção e consolidação.

13 - Tratado Internacional: Tratado designa um Acordo Internacional, quer esteja consignado


num instrumento único, quer em dois ou vários instrumentos conexos, e qualquer que seja a
sua denominação particular. Quer dizer, o ato jurídico plurilateral, concluído entre sujeitos de
Direito Internacional e submetido por estes à regulamentação específica deste Direito, tanto
pode ter a designação de carta, acordo, estatuto, pacto, convenção, tratado, protocolo,
declaração, etc. o que define, portanto, esta Fonte de Direito é o seu carácter plurilateral, a
submissão da sua regulamentação ao Direito Internacional e a sua conclusão entre sujeitos
deste ramo de Direito, que nada importando, internacionalmente, a designação que lhe seja
atribuída, em cada caso concreto.

Grupo II
1 – Discuta os requisitos essenciais para a existência de um Estado Soberano nos termos do
Direito Internacional (critérios de Statehood) e analise os efeitos da existência de estados
frágeis e falhados incapazes de exercerem a soberania.

R: Os Estados são as pessoas jurídicas internacionais por excelência. Ao contrário de outros


sujeitos de Direito Internacional, cuja personalidade é criada e cuja capacidade é delimitada
por Tratado e muito raramente pelo Costume Internacional, “os Estados são sujeitos imediatos
ou primários da ordem jurídica internacional”. O Estado é hoje a forma política essencial por
meio da qual toda a coletividade tem acesso à vida internacional. O reconhecimento é um ato
unilateral e livre pelo qual um Estado manifesta ter tomado conhecimento da existência de
outro, como membro da comunidade internacional.

A Doutrina admite o carácter meramente declarativo do reconhecimento do Estado, ou seja, o


Estado nasce como sujeito de Direito Internacional assim que reunir os três elementos
constitutivos: População permanente, Território definido, Governo, e Capacidade de entrar em
relações com outros Estados.

O Estado É dirigido por um governo que possui soberania determinada tanto interna como


externamente.

A importância do Território como elemento constitutivo do Estado é muito grande. Por um


lado, marca o domínio dentro do qual o Estado exerce a sua soberania. Em segundo lugar, e
referindo-se agora a sua extensão, é fator de defesa militar e de defesa económica, sobretudo
quando à extensão se alia a fertilidade do solo ou a riqueza do subsolo.
Os regimes políticos caracterizam-se pela sua diversidade. Temos assim regimes democráticos,
autoritários, parlamentares, presidenciais, semi-presidenciais, federais, etc. O Direito
Internacional não se pronuncia sobre o regime político que deve vigorar nos Estados. No
entanto, o Direito Internacional admite o direito dos povos à autodeterminação e a adoptar o
seu próprio regime político. O Estado deve revelar a sua capacidade em exercer as suas
funções estaduais incluindo a manutenção da ordem pública, a segurança interna e o
cumprimento dos compromissos.

Todo o Estado deve obstar a que o seu Território seja utilizado para a prática de atos
contrários aos direitos de outros Estados. Podemos dividir o Território em Domínio Terrestre,
Domínio Fluvial, Domínio Marítimo, Domínio Lacustre e Domínio Aéreo.

A população de cada Estado é objeto da jurisdição deste. Assim, todas as pessoas residentes
num Território estão submetidas, em princípio, à competência do respetivo Estado.

Portanto, a jurisdição do Estado exerce-se sobre os seus nacionais. A nacionalidade pode


definir-se como a “pertença permanente e passiva” de uma pessoa a determinado Estado, sob
cuja autoridade direta se encontra, reconhecendo-lhe estes direitos civis e políticos e dando-
lhe proteção quando se encontra além-fronteiras.

A nacionalidade pode classificar-se em originária e adquirida. É originária, aquela que o


indivíduo toma pelo nascimento. É adquirida a que resulta de facto posterior ao nascimento. A
nacionalidade originária pode obter-se segundo o ius sanguinis, isto é, o indivíduo receba a
nacionalidade dos seus pais independentemente do local em que nasceu; e pode obter-se
segundo o ius soli, ou seja, o local do nascimento é que determina a nacionalidade. Os
estrangeiros e os apátridas que se encontrem ou residam em Portugal gozam dos direitos e
estão sujeitos aos deveres do cidadão português.

Como consequências de se ser Estado, existem direitos e deveres: Capacidade de celebrar


tratados internacionais (jus tractum); Responsabilidade pela violação ilícita do direito
internacional; Direito de reclamação internacional e demandar judicialmente junto tribunais
internacionais; Privilégios e imunidades face às ordens jurídicas nacionais, imunidade de
jurisdição.

Relativamente aos Estados catalogados como falhados (ente estatal caracterizado pela
condição de enfraquecimento das instituições estatais responsáveis pela ordem pública e pela
condição de inobservância das regras internacionais, adotando-se como referência, para efeito
das duas aceções, o modelo de Estado oriundo do contrato social há que destacar dois
fenómenos: um relacionado com a ameaça à segurança e à paz internacionais decorrentes do
desempenho precário das instituições estatais dos países em desenvolvimento e de natureza
ditatorial ou autoritária; outro referente aos danos causados aos seus cidadãos em virtude da
inobservância dos direitos humanos e da não-provisão de serviços básicos.

o falhanço do Estado-nação ocorre: em virtude da ausência de segurança, fenómeno


decorrente da violência continuada; quando a infraestrutura é deteriorada e já não há o
controlo fronteiriço; quando não há a concretização de políticas públicas para a população em
decorrência da ganância dos governantes; em razão da ilegitimidade do governo; em virtude
da baixa atividade económica.
O reconhecimento de Estado é um ato unilateral, expresso ou tácito, pelo qual um Estado
constata a existência de um outro Estado na ordem internacional, dotado de soberania, de
personalidade jurídica internacional e dos demais elementos constitutivos do Estado. O
reconhecimento é indispensável para que o novo Estado se relacione com seus pares na
comunidade internacional.

2 – Discuta as relações possíveis entre o costume internacional e tratados internacionais à


luz do acórdão North Sea Continental Shelf do TIJ, salientando se é possível existirem
normas paralelas fundadas em fontes diferentes com o mesmo conteúdo e qual a diferença
fundamental em termos dos seus efeitos jurídicos.

O Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) define o direito consuetudinário como


“uma prática geral aceite como de direito”

Como declarou o Tribunal Internacional de Justiça no caso da Plataforma Continental, é natural


que a matéria de direito internacional consuetudinário deva ser procurada antes de mais na
prática reiterada e na opinio juris dos Estados.

O elemento objetivo do costume é a prática dos sujeitos de direito internacional, com


destaque à conduta dos Estados, que continuam a ser os sujeitos internacionais primários46. A
prática consiste em atos e omissões que são atribuíveis a um Estado, no exercício de suas
atividades no âmbito executivo, legislativo ou judicial.

A prática dos Estados deve ser tida em conta de acordo com duas perspetivas: em primeiro
lugar, determinar que prática contribui para a criação de direito internacional consuetudinário
(seleção da prática do Estado) e, em segundo lugar, determinar se essa prática cria uma norma
desse direito (avaliação da prática estatal).

No Caso da Plataforma Continental do Mar do Norte, diz que uma prática estatal com “[...]
uma participação muito ampla e representativa [...] pode ser suficiente, desde que entre os
Estados participantes dessa prática figurem aqueles cujos interesses são especialmente
afetados”. Em outro excerto desse mesmo julgamento, afirmou-se que “[...] a prática estatal,
incluindo a dos Estados cujos interesses são especialmente afetados, deve ser extensiva e
praticamente uniforme no sentido da afirmação invocada.” Assim, segundo a C.I.J., uma
prática generalizada já seria suiciente para criar normas consuetudinárias.

No Caso da Plataforma Continental do Mar do Norte revela que a formação do costume não
segue apenas elementos quantitativos de prática estatal, mas também qualitativos, isto é, a
questão não é somente saber quantos Estados devem participar da prática, mas também quais
Estados dela participam.

Os atos dos Estados, tanto os materiais como os verbais, contribuem para a criação do direito
internacional consuetudinário. Os atos materiais compreendem, por exemplo, o
comportamento no campo de batalha, a utilização de certas armas e o tratamento dado às
diversas categorias de pessoas. Os atos verbais incluem o direito interno, a jurisprudência
nacional, as instruções às forças armadas e de segurança, as comunicações militares durante
uma guerra, os comentários dos Governos sobre projetos de tratados, as decisões e
regulamentos executivos, as declarações em organismos e conferências internacionais e as
tomadas de posição dos Governos sobre as resoluções de organizações internacionais

Para determinar se a prática dos Estados é suficientemente “densa” para criar uma norma de
direito internacional consuetudinário, há que analisá-la. Para criar uma norma de direito
internacional consuetudinário, a prática estatal tem de ser virtualmente uniforme,
generalizada e representativa. O primeiro requisito para que a prática dos Estados crie uma
norma de direito internacional consuetudinário é que seja virtualmente uniforme. O segundo
requisito para que se crie uma norma geral de direito internacional consuetudinário a prática
estatal respetiva terá de ser generalizada e representativa.

Os tratados são também pertinentes para a determinação da existência do direito


internacional consuetudinário, uma vez que ajudam a avaliar o que pensam os Estados de
certas normas de direito internacional.

Nos casos da Plataforma Continental do Mar do Norte, o Tribunal Internacional de Justiça


sublinhou claramente que o grau de ratificação de um tratado é importante para avaliar o
direito consuetudinário.

Inclusivamente, pode dar-se o caso de uma disposição convencional refletir o direito


consuetudinário, embora o tratado não esteja ainda em vigor, desde que haja uma prática
idêntica suficiente, em especial dos Estados especialmente afetados, de maneira que a
probabilidade de que haja uma oposição significativa à norma em questão seja escassa

O Tribunal reconheceu, pois, que os tratados podem codificar o direito internacional


consuetudinário preexistente, mas que também podem lançar as bases para o
desenvolvimento de novos costumes fundados nas normas contidas nesses tratados.

Ao contrário de tratados, que vinculam unicamente os Estados que expressaram o seu


consentimento, uma vez que uma norma jurídica é estabelecida como costume internacional,
essa norma vinculará a todos os Estados. Além disso, ainda que uma norma possa coexistir em
tratados e no costume, esse último pode expandir o alcance das regras convencionais para
aqueles Estados que não sejam partes do tratado em questão ou para vincular as ações dos
Estados partes antes que esses tenham ratificado o tratado ou antes que esse tenha entrado
em vigor. Ademais, os Estados que ainda não existiam quando a norma costumeira se formou,
como colônias ou ex-partes de um Estado, também se vinculam a esse costume, ainda que
nunca tiveram a chance de expressar a sua posição ou consentimento com essa regra.
Finalmente, ao contrário dos tratados, que podem ser denunciados, suspensos ou extintos, o
direito consuetudinário internacional não permite que um Estado, unilateralmente, se
desvincule dele.

Além disso, embora se assuma que o direito consuetudinário se desenvolve muito lentamente,
em contraste com a formação rápida dos tratados, a prática real dos Estados demonstra que
essa é uma presunção infundada.

Finalmente, é comum afirmar-se que tratados são mais eficientes do que as normas
costumeiras, pois aqueles oferecem maior clareza e precisão na descrição das obrigações
legais neles listadas. Contudo, esse não é sempre o caso. As disposições de certos tratados,
especialmente os multilaterais, também podem adotar uma linguagem imprecisa, objetivando
conciliar no tratado posições e interesses culturais, jurídicos e políticos divergentes entre os
diversos Estados signatários

Em certos casos, regras consuetudinárias proporcionam maior exatidão, precisamente porque


podem evoluir a partir de situações concretas ou decisões escritas de cortes internas e
internacionais.
3 – Analise as funções das organizações internacionais salientando o caso da ONU e refira a
relevância e implicações da doutrina dos poderes implícitos para a ação desta organização.

As organizações internacionais são entidades instituídas por um tratado internacional, sendo


esse o ato criador mais utilizado pelos Estados, podendo em determinadas ocasiões, ser
designado por estatuto, carta ou até mesmo constituição da organização internacional. Esse
tratado cumpre uma função constitucional regulamentar de todos os atos unilaterais internos
das organizações. O ato instituidor consiste em um acordo de vontades, conforme o Direito
Internacional, feito por alguns sujeitos de Direito Internacional e pelo qual estes decidem criar
uma Organização Internacional. Devendo no ato, fixar o fim da organização, funções da nova
entidade, até mesmo os meios pelos quais ela poderá usufruir para definir os aspetos
importantes do seu sistema de funcionamento.

As organizações internacionais desempenham um papel importante no atual sistema


internacional e, gradualmente, foram encarregues de funções que eram tradicionalmente
atribuídas aos Estados soberanos. Essas entidades ocupam três funções principais na
comunidade internacional. Designadamente servem como um instrumento para a execução de
objetivos comuns aos Estados membros, ocasionalmente, constituem as arenas ou fóruns nos
quais as relações entre os Estados membros são averiguadas. E ainda, desempenham um papel
de ator independente no sistema global.

Nascendo do agrupamento de Estados e/ou outros sujeitos, onde esse tem um objetivo em
comum e decidem agir em conjunto, colocando diretrizes e regras para o bom convívio na
relação, que são os contratos internacionais. Regras que todos os Estados membros de uma
organização internacional precisam respeitar.

As Organizações Internacionais quando fundadas, são novas entidades jurídico internacionais,


onde irão desenvolver atribuições instituídas a elas, possuindo para a execução de suas
atividades, órgãos próprios, cada um deles com seu respetivo regulamento, no qual, cada um
irá interpretar o interesse dos Estados membros. Essas entidades têm dois elementos
fundamentais, o elemento organizacional e o elemento internacional. O primeiro atende à
formação de uma nova pessoa coletiva de fundo associativo e com carater de permanência.
Outro elemento tem em foco, que a nova entidade será regulada pelo Direito Internacional
não é primeiramente criada por direito interno.

As Organizações internacionais podem ser dotadas de poderes de intervenção internacional,


tendo que fazer a distinção de competências normativas e competências operacionais,
diferentemente dos Estados, as Organizações não possuem nenhum poder originário. Os
tratados internacionais têm a necessidade da sua aceitação integral, além disso, podem prever
reservas. As suas atribuições podem ser interpretadas de forma particular, conhecido como a
teoria dos poderes implícitos.

Os poderes implícitos “designam aquelas competências que, não estando enunciadas de forma
directa na norma tipificadora da competência, são inerentes ou necessárias à realização eficaz
dos fins da entidade jurídica ou das respectivas competências expressas”.

A doutrina dos poderes implícitos da ONU recebeu reconhecimento judicial, pelo qual se
impôs, definitivamente na TIJ no parecer Reparations for Injuries, onde afirmou que os direitos
e deveres de uma entidade, como a Organização das Nações Unidas, devem depender dos
seus propósitos ou funções, especificados ou implícitos nos seus documentos constitutivos e
desenvolvidos na prática e, também que, de acordo com o direito internacional, deve-se
considerar a Organização como possuidora de poderes que, embora não expressamente
constantes na Carta das Nações Unidas, são-lhes atribuídos pela necessária implicação de que
são essenciais ao desempenho das suas tarefas.

4 – Tendo em conta o Parecer do TIJ Reparations for injuries, discuta o fundamento e


natureza da personalidade jurídica das Organizações Internacionais.

As Organizações Internacionais são sujitos internacionais detentoras de direitos e deveres na


esfera internacional, ou seja, possuem personalidade jurídica. A personalidade jurídica nasce
com o acordo de vontade dos Estados membros no momento do ato constitutivo. a
personalidade jurídica das organizações internacionais29 tem um caracter sui generis, ou seja,
uma personalidade única.

A distinção da personalidade jurídica dos Estados membros e das organizações mostra-se


evidente na separação de direitos e deveres, que são pertinentes a um e a outro. Importante
frisar que as organizações internacionais não são Estados mais desenvolvidos. Apenas se
considerou a ideia de que na medida em que os Estados criam uma organização estão a
transferir a ela atribuições e poderes, assim como, criando meios para que as organizações
possam estabelecer e manifestar a sua própria vontade. Não obstante, ainda há a possibilidade
de acontecer, que quando os Estados reunidos e em comum acordo para estabelecer uma
nova organização, constem no ato constitutivo de forma expressa a atribuição de
personalidade internacional para a recentemente criada entidade

E no seu ato instituidor também há previsto a criação de órgãos subsidiários necessários para a
sua funcionalidade.

À parte dos Estados, as organizações internacionais, como o caso das organizações


intergovernamentais (por exemplo, as Nações Unidas, a UE ou a Organização Mundial do
Comércio), são hoje pacificamente consideradas como sujeitos de Direito Internacional desde
que preencham certas condições, como a capacidade para intentar ações sobre o Direito
Internacional, estabelecido pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) na sua opinião
Reparations for Injuries de 1949, tal como os indivíduos, e não apenas como meros objetos da
regulação internacional, visto que estes gozam de direitos diretamente no âmbito do Direito
Internacional, em particular na forma de critérios de Direitos Humanos, sobre o Direito
Internacional Humanitário e o Direito Internacional dos Refugiados, como também podem ser
responsabilizados por violações de obrigações internacionais com a emergência do Direito
Internacional Penal.

O parecer sobre as Reparações de Lesões sofridas veio reconhecer a personalidade jurídica


internacional da ONU.

Os seus órgãos possuem atividades especiais, com capacidade legal, privilégios e imunidades.
Esses foram os elementos essenciais que levaram o Tribunal Internacional de Justiça na
Opinião Consultiva de 11 de abril de 1949, relativa à Reparação de Lesões sofridas no Serviço
das Nações Unidas a concluir e confirmar que, a organização era uma pessoa jurídica
internacional. Para além do variado leque de direitos de uma organização, ela também é
detentora de deveres, podendo ter reclamações contra ela, principalmente quando um delito
internacionalmente ilícito possa lhe ser atribuído.
De acordo com o parecer consultivo do Tribunal Internacional de Justiça, a maioria dos Estados
tem a possibilidade de, alinhados com o Direito Internacional, poderem criar uma entidade
que adquira uma personalidade jurídica internacional objetiva, e não apenas com o
reconhecimento entre os Estados que criaram a instituição. Com isso podemos concluir que a
personalidade jurídica de uma organização internacional possui eficácia.

5 – Analise os critérios de Statehood definidos pelo Direito Internacional e discuta a natureza


e potencial relevância do reconhecimento internacional. -------------------------

6- Considere o acórdão North Sea Continental Shelf do TIJ e discuta a questão das relações e
interação entre costume internacional e tratados internacionais e quais as implicações da
existência em paralelo de normas jurídicas. -------------------------

7 – Caracterize os traços dominantes da fase positivista de evolução do direito internacional


e os pontos fundamentais de rutura introduzidos pela nova fase pós-Carta da ONU,
salientando as tendências dominantes de desenvolvimento do direito Internacional neste
período.

8 – Analise os principais contributos da obra “O príncipe” de Maquiavel na evolução do


pensamento político e na estruturação do Estado Soberano.

9 – Analise a relevância da soft law primaria para a consolidação do Direito Internacional,


salientando o tipo de relações que se podem desenvolver com a hard law, e refira em que
medida considera que esta possa ser considerada uma fonte de direito internacional.

10 – Quais as condições para que um Estado Fique vinculado a um tratado Internacional?


Pode um Estado que não ratifique um tratado Internacional ficar vinculado de algum modo a
esse tratado?

R: Somente aos sujeitos de direito internacional se reconhece o chamado direito


convencional (ou treaty-making power). Em outras palavras, como regra geral, apenas
os Estados nacionais, as Organizações Internacionais  a Santa Sé e os beligerantes e
insurgentes podem celebrar tratados. Os estados federados (membros de
uma federação) somente podem concluir tratados caso estejam autorizados para tanto
pela respetiva União federal.
Os sujeitos de direito internacional concedem uma autorização formal para que seus
agentes negociem e concluam um tratado, chamada "plenos poderes". Os agentes
signatários também são chamados de "plenipotenciários". Os atos relativos ao tratado,
tomados por pessoa sem plenos poderes, não têm efeito legal, a não ser que o respetivo
Estado os confirme.
A "carta de plenos poderes" é o instrumento que contém esta autorização e deve ser
trocada pelos agentes signatários, no caso de um tratado bilateral, ou depositada junto a
um Estado ou organização internacional (“depositário”), no caso de tratado multilateral.
Os chefes de Estado e de Governo e os Ministros do Exterior estão dispensados da
apresentação dos plenos poderes. Considera-se que os chefes de missão diplomática
dispõem de plenos poderes para os tratados negociados e concluídos com o Estado junto
ao qual estão acreditados. O mesmo se aplica aos chefes de delegações acreditados a
uma conferência internacional, para os tratados originados naquela conferência.
A convergência das vontades das Partes é essencial à existência do tratado (da mesma
forma que para um contrato em direito civil ou comercial). A vontade das Partes deve ser
expressa de maneira formal, motivo pelo qual é obrigatória a forma escrita.
Também essenciais à conformação do tratado são os efeitos jurídicos que as Partes
desejam produzir com a sua celebração. O tratado só é tratado se gerar direitos e
obrigações para as Partes Contratantes, no que os juristas chamam de animus
contrahendi, a vontade de obrigar-se ou de vincular-se.
Evidentemente, a vontade das Partes deve estar livre de qualquer vício, como o erro,
o dolo e a coação. Qualquer destes vícios pode ser invocado como causa de nulidade de
um tratado
Se devidamente celebrado e ratificado, o tratado gera direitos e obrigações para as Partes
Contratantes, no plano internacional. Ou seja, a partir da ratificação, o tratado é obrigatório
para as Partes. Em alguns países, o seu direito constitucional exige ainda um passo
adicional para que os termos do tratado sejam aplicáveis pelos órgãos internos do Estado:
a promulgação.
Como regra geral, o tratado não pode aplicar-se a Estados que dele não fazem
parte: pacta tertiis nec nocent nec prosunt.
Os juristas usualmente identificam as seguintes fases para a conclusão de um tratado
internacional: negociação, assinatura, aprovação, ratificação, promulgação, publicação e
registo.
A negociação é a primeira fase do processo de conclusão de um tratado, da competência
exclusiva do poder executivo. Ao término desta fase, existe um texto escrito que é
consensual e que pode ser rubricado pelos negociadores. A rubrica não é assinatura, mas
apenas autentica o texto negociado.
Nesta fase inicial, as Partes procuram elaborar o texto convencional, por meio de
propostas de redação.
A assinatura é um ato que autentica o texto do tratado, mas não o torna imediatamente
obrigatório para as Partes. A assinatura faz-se, via de regra, sob reserva de ratificação,
i.e., é necessário um ato adicional e posterior (usualmente chamado “ratificação”) que
comunique a vinculação do Estado aos termos do tratado. A critério da Parte Contratante,
a sua assinatura pode desde já vinculá-la juridicamente (sempre que o seu direito
constitucional o permitir). A assinatura marca o início do prazo (se houver) para depósito
dos instrumentos de ratificação.
A assinatura sob reserva de ratificação (a mais comum) permite o início do procedimento
interno de aprovação do tratado. É a fase na qual os órgãos internos do Estado apreciam o
teor do tratado e o aprovam ou o rejeitam. Em determinados Estados, o seu direito
constitucional exige que o tratado seja submetido à apreciação do Poder
legislativo (Congresso, Parlamento, Senado etc.); em outros, não há este tipo de
exigência e o Poder Executivo é livre para ratificar o tratado quando lhe convier; em outros
Estados, ainda, a necessidade de aprovação legislativa existe para alguns tipos de tratado,
e não para outros.
A ratificação é o ato pelo qual uma Parte Contratante informa à(s) outra(s) que se
considera doravante obrigada aos termos do tratado no plano internacional. Pode ocorrer
que o tratado não entre em vigor neste momento, caso o seu texto estipule uma condição
adicional para tanto (número mínimo de ratificações, para um tratado multilateral; ou um
prazo após a entrega do segundo instrumento de ratificação, para um tratado bilateral).
A ratificação é um ato discricionário, isto é, a Parte Contratante decide livremente sobre a
sua conveniência e oportunidade. No plano interno dos Estados, costuma ser ato (também
discricionário) do Poder Executivo. Uma vez concluídos os procedimentos internos (ver
acima), o Executivo costuma ter a prerrogativa de decidir quando ratificar o tratado e o fará
se assim o desejar.
No caso dos tratados bilaterais, as Partes Contratantes trocam os respetivos instrumentos
de ratificação; no caso dos tratados multilaterais, os instrumentos de ratificação são
depositados junto a uma das Partes ou a uma organização internacional para tanto
designada
O direito constitucional de alguns Estados exige, ainda, para que o tratado seja obrigatório
para os seus órgãos internos, a promulgação. Esta é o ato juridico, de natureza interna,
pelo qual o governo de um Estado atesta a existência de um tratado devidamente
ratificado e ordena a sua execução no seu território. [35] A partir de então, o tratado é
obrigatório também no plano interno.
Um Estado que não ratifique pode ficar vinculado ao tratado na medida em que tenha
aceito e participado nas fases de negociação e assinatura.
Conforme o art. 11º da Resolução da Assembleia da República n.º 67/2003 Convenção
de Viena sobre o Direito dos Tratados, “O consentimento de um Estado em ficar
vinculado por um tratado pode manifestar-se pela assinatura, a troca de instrumentos
constitutivos de um tratado, a ratificação, a aceitação, a aprovação ou a adesão, ou por
qualquer outra forma acordada”, a ratificação, portanto, é uma opção livre do Estado.
A forma de vinculação por um tratado pode não ser a ratificação, mas também pode ser a
aceitação ou aprovação. A ratificação é considerada um ato político. Não se pode obrigar um
estado a ratificar um tratado. E é um ato indicável, quer dizer que não é sucessível de ser
controlado pelos tribunais. É um ato livre. Só não será um ato livre quando o estado assina e se
compromete e diz: nós assinamos e temos o dever de ratificar, jurídico ratificar.

11 – Analise os requisitos essenciais para a existência de um Estado Soberano nos termos do


Direito Internacional (critérios Statehood) e o estatuto do reconhecimento, e discuta em que
medida a dinâmica da globalização e o poder dos atores não-estatais colocam em causa a
soberania positiva dos Estados. --------------------------------------------------------

12 – Tendo em conta as funções das organizações internacionais, analise a doutrina dos


poderes implícitos e explique a sua relevância para a consolidação das operações de
manutenção de paz na ONU, fundamentando com o parecer do TIJ Certain Expenses.

Grupo III
1 – Organizações internacionais, personalidade internacional e funções na regulação
internacional.

As organizações internacionais são sujeitos secundários do Direito Internacional Público, isso


significa que são entidades criadas a partir da vontade de Estados, para defender os seus
interesses, e só então adquirem personalidade jurídica derivada dos mesmos.
São instituições regidas por meio de tratados, que procuram através da cooperação a melhoria
das condições econômicas, políticas e sociais dos associados.

Têm como função: Fórum para identificação, debate e deliberação sobre questões de
interesse comum; Instrumentos para ação e resolução de problemas internacionais; Criação e
desenvolvimento de regras de direito internacional quer pela via da hard law quer da soft law;
Monitorização e supervisão do cumprimento pelos Estados das regras acordadas e obrigações
internacionais; Resolução de conflitos e diferendos internacionais entre Estados.

Uma organização internacional é uma organização com membros, adesão ou presença


internacional. Existem dois tipos principais:

Organização internacional não governamental: Organizações não governamentais que operam


internacionalmente. Incluem organizações sem fins lucrativos que atuam a nível internacional
e empresas como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e Médicos sem Fronteiras, que
atuam em diversos países.

Organização intergovernamental: O tipo de organização mais associado com o termo


"organização internacional", composta principalmente de Estados soberanos. Exemplos
notáveis incluem a Organização das Nações Unidas (ONU).

 a respeito das características de uma organização chega-se à conclusão que esta possui: a-)
associação voluntaria de sujeitos do DI; b-) que o ato institutivo da organização é internacional;
c-) personalidade internacional; d-) possui ordenamento jurídico interno; e-) existência de
órgãos próprios; f-) e por fim possui exercício de poderes próprios.

Qualquer que seja a organização internacional, ela não possuirá base territorial própria, assim
sua sede dependerá que um Estado soberano conceda parte de seu território para ali se
constituir a instalação física dessas organizações.

O ato do Estado em ceder parte de seu território para instalação da sede de uma organização
internacional é tido como acordo de sede.

2 – Kant “Tratado de Paz Perpétua” e a sua influência na Carta das Nações Unidas.

A procura pela paz é reflexo do exercício da razão. Pois, para Kant, os Estados possuem
racionalidade, a racionalidade do Estado. Tal como o cidadão, o Estado deve ser considerado
uma pessoa moral, na medida em que internamente assume um sistema que reflete a vontade
coletiva e imprime uma moral, obedecendo à lei do seu dever, da constituição da sua moral.

Assim, tal como os indivíduos através do exercício da sua razão sabem o que é melhor para si e
para a coletividade, através do dever, os Estados também devem saber o seu dever, o seu
imperativo categórico. E a razão, para Kant, não traria outro fim que não a paz para as relações
entre Estados

Kant não vislumbrava a paz perpétua a não ser através de uma federação de estados
soberanos, com a ideia de um contrato social original entre os Estados, negando, contudo, a
criação de um ordenamento jurídico entre eles.
Por isso, a composição de uma federação mundial de Estados seria um imperativo moral para
os objetivos da paz perpétua. Kant compreende que a paz perpétua pode ser garantida com a
abrangente aceitação de normas que direcionam para a paz, dessa compreensão nota-se a
crença dele no direito. Porém, acima de tudo, Kant acredita na necessidade de uma ética
moral dos Estados nas relações internacionais, pois a ética e a moralidade dão mais eficácia ao
próprio direito escrito quando assumem o caráter de imperativo categórico.

Diz também Kant no tratado que, nenhum Estado pode intervir violentamente nos assuntos
internos e externos de outro país. Tal princípio está intrinsecamente ligado ao princípio da
soberania dos Estados.

Para Kant, mesmo estando em guerra, deve-se estabelecer uma relação de confiança entre os
Estados para que possa efetivamente solucionar o conflito e atingir a paz. Para Kant, tal fato
não é impensável, pois os Estados ainda que em conflito devem, pelo imperativo categórico,
querer a solução deste e instaurar a paz.

A filosofia kantiana proporcionou inspirações de grande impacto no âmbito do direito


internacional. Diversas organizações internacionais tiveram influência direta, e algumas,
inclusive, fazem referência explícita às ideias kantiana. A exemplo disso a Organização das
nações unidas (ONU) tem a totalidade dos seus princípios fundamentais ancorados no
pensamento de Kant.

A imediata relação que existe entre a obra de Immanuel Kant e a Carta que instituiu a
Organização das Nações Unidas é que ambos procuram a paz duradoura e mundial.

A Organização das Nações Unidas, pela sua própria estrutura, traduz-se na ideia de
“federalismo de Estados livres”, instituída por Kant no segundo artigo definitivo para a “paz
perpétua”.

Os dois primeiros propósitos contidos no artigo 1º da Carta: “Manter a paz e a segurança


internacionais [...]” e “Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito
ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras
medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal” demonstram claramente a finalidade
de preservar a autonomia dos Estados que compõem a organização, tal como Kant previu a
Federação de Estados livres, soberanos e de igual importância

O preâmbulo da Carta das Nações Unidas converge em diversos pontos com a filosofia
kantiana, como por exemplo, ao afirmar que pretende “preservar as gerações vindouras do
flagelo da Guerra”, dessa forma, afirmando a procura pela paz perpétua, tal como Kant.

O 3º artigo preliminar para a “paz perpétua” defende o desaparecimento gradativo dos


exércitos permanentes. Tal afirmação é corroborada na Carta da ONU no seu preâmbulo
quando é afirmada a intenção de “garantir, pela aceitação de princípios e a instituição dos
métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum”

Outra ligação fundamental entre a Carta da ONU, documento que a instituiu, e a filosofia
kantiana é a deontologia kantiana. A ONU trabalha Kant e a sua ética universal (através do
imperativo categórico) quando defende e se propõe a trabalhar os princípios de solidariedade
e comunhão dos povos

3 - As visões de Maquiavel e Grotius sobre a guerra e a soberania dos estados.


Para Maquiavel a guerra é definida como uma estratégia na arte militar de planejar e executar
movimentos na luta pela conquista do poder. Maquiavel reconhecia na guerra um instrumento
para se chegar ao poder. Costumava recorrer às experiências e aos ensinamentos dos antigos,
as suas batalhas e conquistas, para pensar em estratégias de ação que pudessem superar as
tensões e os desafios do seu tempo, com a atenção sempre virada para a união e a fundação
de um Estado-nação. Compreendia a guerra como um fenômeno político, um meio de
conquista do Estado e não uma fatalidade histórica.

O autor sugeriu, nesta obra, as condições necessárias para que um soberano absoluto fosse
capaz de conquistar, reinar e, principalmente, manter o seu poder, já que, o mais complexo
para um soberano, na visão de Maquiavel, era a manutenção do poder de um rei.

O Príncipe  de Maquiavel apresentava a possibilidade de um governante atuar sobre um povo


sem unidade, despertando e organizando sua vontade coletiva. Maquiavel acreditava na
importância da península itálica como uma unidade, uma só, defendendo um Estado laico,
regido por um único príncipe, inflexível e dotado de inteligência no ato de governar,
defendendo assim um regime absolutista.

Para Maquiavel o príncipe deveria deter como modelo um personagem histórico que tivesse
sido alvo de glória e honra. Ao seguir o modelo de um príncipe do passado, o governante atual
poderia saber como manter a submissão daqueles que colaboraram para a sua ascensão e, ao
mesmo tempo, diminuir o apetite destes pelo poder. Deveria acabar com a oposição,
submeter os conquistados à sua autoridade, defender o seu território de ataques estrangeiros
e ser capaz de governar na condição que fosse exigida. O governante não poderia fazer algo
pautado no voluntarismo porque julgasse ser certo, justo e racional, mas, sim, na conceção da
unidade do Estado e no que seria o mais racional e necessário aos seus súditos.

De acordo com Hugo Grotius, o homem possui, naturalmente, um desejo de viver em


sociedade, não uma sociedade qualquer, mas uma sociedade pacífica e ordenada segundo
sua recta ratio. O homem, através do exercício de sua racionalidade, constrói um direito
internacional que promove a sociabilidade entre os Estados e permite que convivam, ainda
que sem alcançar a paz. Ao argumentar pelo estabelecimento de regras mínimas
necessárias para o mínimo de sociabilidade, Grotius conjuga tanto aqueles que acreditam
na justiça do direito natural quanto aqueles que o aceitam por razões de auto-interesse. A
violação dessas regras mínimas autoriza uma guerra justa.

O que Grotius entende por sociedade não implica em qualquer obrigação de ajudar os outros,
mas apenas o mínimo necessário para que esta sociedade exista, pois é difícil imaginar uma
sociedade em que as regras mínimas necessárias para assegurar o básico para vida não
existam. Mesmo o homem guiado apenas pelo interesse egoísta deve aceitar certas regras
válidas universalmente para conviver em sociedade e efetivar seus próprios interesses. Nesta
perspectiva, a obrigação de respeitar os direitos alheios, regra mínima requerida para a vida
em sociedade, pode ser entendida em termos de auto-interesse. Também qualquer forma de
altruísmo necessário para se estabelecer a sociabilidade pode ser entendida em termos de
auto-interesse.

Independentemente do que Grotius de fato acreditava, o argumento do jurista para aceitação


de regras mínimas é importante na medida em que conjuga tanto aqueles que acreditam na
justiça do direito natural quanto aqueles que o aceitam por razões de auto-interesse. Seja qual
for a motivação dos Estados para aceitar essas regras mínimas, é obtida a cooperação dos
Estados para a formação de uma sociedade internacional. O argumento de Grotius foi
importante para inspirar entre os teóricos das relações internacionais a noção de solidarismo
dos Estados para formar a sociedade internacional.

Qualificando a guerra como um estado, Grotius considera a guerra uma situação global,
localizando as hostilidades no tempo e no espaço. Isso permite considerá-la como uma noção
técnica que será definitivamente amplificada para uma situação propriamente jurídica através
da idéia de estado de guerra.

Na concepção de Grotius a guerra tem um caráter eminentemente jurídico, uma extensão de


um processo judicial. Quando as vias judiciais se esgotam a guerra é o caminho adotado para
que as contendas sejam resolvidas.

4 – As fases de evolução do Direito Internacional

R: O Direito Internacional Público teve a sua génese na Antiguidade Clássica, onde já existiam
regras morais e políticas que se aplicavam ás relações entre Estados. Mas foi só com o Direito
Romano que aquelas relações passaram a ser disciplinadas por normas jurídicas.

O Direito Romano estabeleceu muito cedo a distinção entre o ius civilis e o ius gentium. Tanto
um como outro eram direito interno, mas enquanto o ius civilis só disciplinava as relações
entre os sujeitos que gozavam da cidadania romana (cives) o ius gentium consistia na parte do
Direito interno Romano que regulava as relações entre cidadãos romanos e estrangeiros
(peregrini), ou apenas entre estes últimos.

Há ainda a dizer, no que se refere ao ius gentium romano, que se tratava de um Direito
universal, no sentido que possuía aceitação generalizada, porque se destinava a satisfazer
necessidades comuns a todos os homens.

O conceito moderno de Direito Internacional Público nasce com a Escola Clássica Espanhola,
através de Francisco de Vitória, Francisco Suarez e Domingo Soto. Para estes autores o
conceito de D.I.P. parte de uma base objectiva: a existência de uma Comunidade Internacional,
que transcende os limites da República Cristiana. Segundo os

Francisco de Vitória, autor clássico espanhol, dizia que o Direito das gentes tem força de lei, e
que o mundo inteiro era de certa forma uma comunidade internacional política, pois tem o
poder de emitir leis justas que se aplicam a todos, como é o caso do Direito das gentes.

Tanto para Francisco Suarez bem como para Francisco de Vitória o termo “ius gentium”
designa normas que não são de Direito romano, i.e. de direito interno, mas que são
formalmente normas internacionais que transcendem o Estado e o vinculam do exterior,
aplicando-se não às relações internas entre indivíduos, mas às relações dos Estados entre si.

Entre os finais do séc. XV e 1648 (Vestefália) sucedem-se grandes eventos históricos. Muito
especialmente os Descobrimentos dão origem a problemas até aí desconhecidos. São os que
se reportam à delimitação da ação e das esferas do domínio das potências europeias em
expansão, os que se ligam à definição do modo de entender o encontro entre esses
povos e os povos de outros continentes e os que contendem com o regime jurídico do mar
e da liberdade de navegação (mare clausum ou mare liberum). É Hugo Grócio o considerado
primeiro grande cultor do Direito Internacional. Os tratados de Vestefália reconhecem o
princípio da soberania como princípio da independência dos Estados europeus entre si e de
exclusão de qualquer poder que lhes seja superior.

As grandes revoluções do séc. XVIII, a americana e francesa, determinam sensíveis alterações.


Com a independência dos EUA, pela primeira vez um Estado geograficamente não europeu
entra para o campo dos Estados reconhecidos como sujeitos de Direito Internacional. No
entanto, é a revolução francesa que introduz ou pretende introduzir mais significativas
novidades, ao afirmar que a soberania reside no povo, e não nos monarcas; que o Direito
Internacional não é o Direito das relações entre os soberanos, mas o Direito das relações entre
os povos; que todos os povos são livres e iguais.

O Direito Internacional Clássico manteve assim a sua definição até ao fim da 1ª Guerra
Mundial. Após a 1ª Guerra Mundial surgiu a ideia de que se podia pôr em causa a soberania
indivisível dos Estados, ficando para trás a ideia de soberania absoluta que reinara até ao fim
da 1ª Guerra Mundial.

Progressivamente a Comunidade internacional absorve não só matérias sobre a Paz e a Guerra


como também matérias de índole económica e social, que até então, constituíam monopólio
dos Estados soberanos.

O Direito Internacional evolui a seguir à Primeira Guerra Mundial em três fases: A primeira
fase, de1939, até à segunda Guerra Mundial – é a fase decorrente do Tratado de Versalhes
e marcada pelo malogro da institucionalização tentada através da Sociedade das Nações;
Uma segunda, após 1945, traduzida juridicamente na Carta das Nações Unidas e assinalada
por aquilo a que se chamaria ‘’Guerra Fria’’; Uma terceira fase, aberta pela queda do Muro
de Berlim, em 1989;

A derrota e o desmembramento dos chamados Impérios centrais levam à reafirmação dos


princípios da autodeterminação dos povos e das nacionalidades. Em anexo ao Tratado de
Versalhes, é criada a Sociedade das Nações, a primeira organização internacional de caráter
político. Ao mesmo tempo, institui-se a Organização Internacional do Trabalho, a qual irá
desempenhar uma função decisiva no progresso social. De registar, igualmente, a criação de
um Tribunal Permanente de Justiça Internacional (primeira formação de uma instância
jurisdicional de um órgão de solução de litígios internacionais de harmonia com critérios
estritamente jurídicos).

Hoje, o Direito Internacional existe na sua diversidade e heterogeneidade dos seus sujeitos e
domínios de aplicação. É certo que o Estado não deixa de ser o sujeito originário do Direito
Internacional, na medida em que ele dispõe de uma plenitude de competências internas, ao
contrário das Organizações Internacionais que dispõem de competências especializadas.

O Direito Internacional deixou de se destinar apenas aos sectores tradicionais da competência


do Estado, tais como a paz, a resolução pacífica de conflitos, os privilégios e imunidades
diplomáticas, para se alargar a outros domínios mais técnicos como a saúde, a economia, o
ambiente, o espaço marítimo, etc.

As primeiras Organizações Internacionais criadas foram as organizações técnicas que


estabeleceram regras de navegação para os rios Reno e Danúbio, no séc. XVII.

Existem organizações políticas como a OMC, que pretendem fomentar o comércio. A ONU
criou todo um sistema de organizações que versam variados objectivos. Existem ainda
instituições que vão fazer surgir ramos especiais do Direito Internacional. Ex. Cruz Vermelha-
Direito Internacional Humanitário.

O Direito Internacional apresenta algumas lacunas, pois alguns Estados entendem que as
regras não se aplicam a si.

4.1 – A fases de evolução do Direito Internacional e as teorias das relações internacionais.

Existem várias teorias das relações internacionais: o Realismo, o Liberalismo, o Marxismo.

Nas teorias realistas das relações internacionais, que reivindicam um caráter objetivo, empírico
e pragmático, o Estado é colocado no centro das discussões, pois considera-se que o Estado é
o principal responsável das relações internacionais. Esse Estado atua sempre a servir ao
interesse nacional, que na sua forma mais básica é o desejo de sobreviver, mas que também se
traduz no acúmulo e na manutenção do poder. O poder é tido como um instrumento por meio
do qual os Estados garantem a sua sobrevivência no meio internacional. Este último é
considerado, de acordo com os realistas, anárquico, não no sentido de ausência completa de
ordem, mas por não haver a possibilidade de existir uma hegemonia global - apenas
hegemonias regionais - que garanta a sua proteção. Os realistas não se preocupam com a
origem histórica dos Estados, aceitam somente como dados (“naturais”), além de
homogêneos, e geralmente pensam na natureza humana de forma pessimista, tendo como
ideias-base as obras de Maquiavel e Hobbes.

O Liberalismo, nas relações internacionais, é uma corrente teórica alicerçada principalmente


na obra de Immanuel Kant. Normalmente considerados como “idealistas” pelos expoentes das
escolas realistas, os liberais têm uma visão predominantemente positiva da natureza humana,
e veem o Estado como um mal necessário. Para os liberais, as relações internacionais podem
envolver cooperação e paz, possibilitando o crescimento do comércio livre e a expansão dos
direitos universais dos homens. Os liberais enfatizam as relações internacionais como um palco
em que atua uma multiplicidade de personagens, como os Estados, as organizações
internacionais, as empresas transnacionais e os indivíduos. Eles acreditam que as relações
internacionais podem assumir um aspeto mais otimista e sem guerras, motivado basicamente
pelo livre comércio.

No Marxismo, vários autores de inspiração marxista (entre eles Lenine e Trotsky) efetivaram


algumas generalizações teóricas a respeito da relação entre os Estados. Segundo a teoria
do materialismo histórico do próprio Marx, o sistema capitalista de produção tenderia a se
universalizar, chegando a se tornar o modo de produção dominante em todo o mundo
(portanto, internacional). Na teoria marxista, o capitalismo seria uma fase histórica de
desenvolvimento econômico caracterizada por algumas contradições, entre elas o surgimento
de duas classes sociais antagônicas, a burguesia e o proletariado, a primeira gerando lucro a
partir da exploração do trabalho desta última. Nessa teoria, o papel do Estado seria o de
assegurar a ordem burguesa garantindo que os trabalhadores seguissem as normas
do capitalismo.

4.2 – A evolução do Direito Internacional e relevância das perspetivas jusnaturalistas e


positivista.
As teorias jusnaturalistas, na linha esboçada por Vitória e Suarez, desenvolvida por Grócio e
internacionalistas ulteriores, orientam-se no sentido de que o Direito Internacional se baseia
em princípios superiores acima da vontade dos Estados. A dificuldade coloca-se com relação à
aferição de quais sejam tais princípios e como determinar o conteúdo deste.

A Convenção sobre o Direito dos Tratados, ao aceitar a noção do jus cogens nos seus arts. 53 e
64, deu outra demonstração de aceitação dos preceitos derivados do Direito natural. Com
efeito, o artigo 53 declara nulo o tratado que no momento de sua conclusão conflite com
norma imperativa de Direito Internacional geral e dá a definição de jus cogens: norma aceita e
reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu conjunto, como norma da qual
nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma de Direito
Internacional geral da mesma natureza.

O positivismo (dados, fatos) não tolera a metafísica, o transcendente, o suprassensível.


Dos diversos filósofos positivistas do direito contemporâneo, avulta Hans Kelsen, tentou que o
direito se livrasse da influência de outras ciências ao estabelecer que o objeto da ciência do
direito é a norma jurídica, seja no estudo estático ou dinâmico.
Trata-se de uma ordem normativa que procura produzir uma conduta humana determinada
pelo fato de ela prescrever uma conduta e, no caso de uma conduta oposta, denominada
antijurídica, dever- se aplicar um ato de coerção, designado por sanção.
A sua existência expressa-se na validade, e a positividade revela-se na validade da norma
jurídica condicionada pelos fatos. E é essa validade que revela a existência da norma, que nada
mais é, que o sentido atribuído ao fato.
No positivismo, há a prevalência da soberania do Estado e declínio do Jusnaturalismo; a
soberania absoluta como modelo dominante; o Declínio do Direito Internacional encarado
como “law between States not the law above States”, mera função de coordenação de
soberanias. O Direito Internacional é instrumento técnico, neutro, não tem dimensão
axiológica, não reflecte valores; há Restrição do âmbito de regulação do DI, Jus ad bellum deixa
de ser regulado pelo DI, e conteúdo eminentemente técnico (Liberdade de os Estados fazerem
a guerra como manifestação da sua soberania).

Foi “Hugo Grácio o primeiro autor a defender que o Direito Internacional tinha fundamento no
Direito Natural, mas o seu Jusnaturalismo aparecia ligado ao voluntarismo, á força obrigatória
do Direito Internacional que resulta tanto do Direito Natural como do consentimento dos
Estados (ex. direito á vida).

Nos finais do sec. XVII, Pufendorf foi o fundador da Escola de Direito Natural, para ele a lei
natural aplica-se tanto aos indivíduos como aos Estados, quando se aplica aos Estados nesse
caso chama-se Direito Internacional.

As duas variantes mais importantes da Escola Universal de Direito Natural são a do


Jusnaturalismo Católico e a do Jusnaturalismo dos Valores. No primeiro caso o Direito Natural
só pode ser apreendido pela revelação. No segundo caso pode ser apreendido através de uma
consciência moral dos valores. A tese jusnaturalista tem sido a corrente tradicional dominante
na doutrina da explicação do fundamento do Direito Internacional.

A fase positivista surge com Hans Kelsen. Kelsen afirma que há obrigatoriedade da norma
jurídica não depender da vontade mas da sua conformidade com uma norma superior que
regula as suas condições de produção. No topo da pirâmide de Kelsen situa-se a norma
fundamental que confere unidade ao sistema e garante o carácter jurídico ás normas de grau
inferior.

-Várias razões jurídicas impuseram que se considerasse o Direito Internacional superior ao


Direito Interno, a norma de Direito Internacional ocupa o lugar da norma jurídica na tal
pirâmide das normas. É assim que Kelsen propôs para o efeito a regra “pacta sunt servanda”
(os contratos devem-se cumprir nos termos acordados ou respeito pela palavra dada) que
impõem aos Estados o respeito pela palavra dada, assim na ordem jurídica interna a norma
fundamental seria a Constituição enquanto na ordem jurídica Internacional é a norma
consuetudinária “pacta sunt servanda” o fundamento de obrigatoriedade do Direito de origem
convencional.

5 - Teorias de Interpretação dos tratados Internacionais e Convenção de Viena

O princípio geral do Direito Internacional é o da boa fé. Deste princípio geral resultam certas
regras, a regra do efeito útil, a regra da boa fé, art.º 31º da C. Viena.

A interpretação pode ser feita por um Estado, por uma Organização Internacional ou por um
Juiz Internacional.

Cada Estado tem o direito de fazer a sua própria interpretação do Tratado em que é parte. Em
regra geral, as jurisdições nacionais abstêm-se de interpretar os Tratados, solicitando muitas
vezes o parecer do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

As organizações internacionais também podem interpretar as Convenções Internacionais


através dos seus órgãos competentes, o próprio Tribunal Internacional de Justiça não deixa de
recorrer à Assembleia Geral e ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para interpretar a
Carta das Nações Unidas.

Quanto à competência do Juiz Internacional, o art.º 36º do ETIJ, reconhece ao Tribunal


competência para interpretar um Tratado, a União Europeia atribui essa competência ao
Tribunal de Justiça e das Comunidades Europeias (art.º 234º- Tratado de Amsterdão) e
também o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

Todos seguem o princípio da boa fé. Os métodos tradicionais utilizados são o elemento literal,
elemento sistemático, elemento histórico e o elemento teleológico.

Relativamente a terceiros, De acordo com o art.º 34º da Convenção de Viena, um Tratado não
inclui direitos nem obrigações para um Estado terceiro sem o seu consentimento.

No caso do Tratado produzir efeitos para o Estado terceiro, este deverá manifestar o seu
consentimento de forma expressa e por escrito.

As obrigações de um Estado terceiro podem derivar de um Acordo colateral pelo qual ele
aceite expressamente aquelas obrigações. É o que resulta do art.º 35.º Convenção de Viena,
como ainda podem derivar de uma disposição de um Tratado desde que aceite expressamente
essa obrigação. Existem Tratados que criam direitos para Estados terceiros, ao abrigo de
cláusula de nação mais favorecida.

Em termos de interpretação de convenções internacionais, o art. 31º da CV, manda interpretar


de Boa Fé, segundo o sentido comum atribuível aos termos da Convenção no seu contexto e à
luz dos respetivos objeto e fim.
Como meio complementar de interpretação, as partes podem lançar mão dos trabalhos
preparatórios e das circunstâncias em que foi concluída a Convenção, desde que a utilização
dos meios descritos tenha conduzido a um sentido ambíguo, absurdo ou não razoável.

https://www.studocu.com/pt/document/universidade-lusiada-de-lisboa/direito-
constitucional/resumos/apontamentos-direito-internacional-publico/3981541/view

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