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Noções e Fundamentos

do Direito Internacional
DISCIPLINA: DIREITO INTERNACIONAL
PROFESSORA: LUA MARINA MOREIRA GUIMARÃES
Conceitos de Direito Internacional
Público
“Conjunto de regras e princípios que regem as relações jurídicas
entre Estados” ( Posição clássica-positivista )

“um sistema de princípios e normas que regulam as relações


de coexistência e de cooperação, frequentemente institucionalizadas,
além de certas relações comunitárias entre Estados, dotados de
diferentes graus de desenvolvimentos socioeconômico e de poder”
( Díez de Velasco )
Conceitos de Direito Internacional
Público
“o conjunto de normas jurídicas que regulam as relações mútuas
dos Estados e, subsidiariamente, as das demais pessoas
internacionais, como determinadas Organizações, e dos indivíduos”
(Hildebrando Accioly)

“Ramo do Direito Público que regula as normas convencionais,


pactos e costumes jurídicos, visa o ordenamento através de acordo
realizado por Estados independentes “ ( Miguel Reale)
Conceitos de Direito Internacional Público

Das várias definições, o que se deve observar:


1) Abrange os sujeitos do Direito Internacional hoje aceitos?
2) As fontes do direito são referenciadas?
3) Reflete não só o ordenamento, mas o Direito como um todo?
Conceitos de Direito Internacional
Público
“Pode assim ser definido o direito internacional como o conjunto de
normas jurídicas que rege a comunidade internacional, determina
direitos e obrigações dos sujeitos, especialmente nas relações mútuas dos
estados e, subsidiariamente, das demais pessoas internacionais, como
determinadas organizações, bem como dos indivíduos. Justamente aí se
inscreve a característica essencial deste direito internacional em mutação,
que pode ser chamado de direito internacional pós-moderno: a
emergência e o papel crescente do ser humano, no contexto
internacional. A crise da pós-modernidade não surge no direito, mas
atinge em cheio o direito internacional e terá de ser enfrentada por este”.
(Hildebrando Accioly)
Natureza do Direito Internacional Público
o“Direito internacional”: ramo do Direito ou das Relações
Internacionais?

oDireito: forma técnica de ordenação das relações humanas (solução de


conflitos + antecipação) → diferentes objetos (relações privadas, penais,
governamentais)
oRelações Internacionais: entendimento das formas de relação entre
Estados → diferentes perspectivas (política, força, economia, normas
jurídicas)
Natureza do Direito Internacional
Público
o“Direito internacional”:
oSistema baseado em enunciados e racionalidades com caráter jurídico:
•Neutralidade formal: obrigação → sanção
•Direito subjetivo (“demanda válida”)
•Consistência e lógica interna (hierarquia, validade)
•Não se preocupa com: moralidade, justiça, boas relações
oCaráter internacional:
• Normas que afetam um Estado perante outros Estados
• ≠ “Direito doméstico (nacional)”: relações dentro do Estado
• Principal objeto: Estados nacionais e seus comportamentos / relações entre si
Natureza do Direito Internacional
Público

Direito internacional público (DIP) vs. privado (DIPr):


o DIP: “conflito entre Estados”
o DIPr: “conflito de leis e relações privadas” → lei aplicável, jurisdição
competente
O direito internacional é DIREITO?
o Sistema jurídico típico: o Direito internacional:
• Interesses conflitantes • Estados soberanos
• Normas pré-existentes e coerentes • Caráter fragmentário, fontes diversas
(hierarquia)
• Solução legitimada por sistema neutro • Jurisdição voluntária, fragmentação e
e abrangente: Competência exclusiva e ausência de hierarquia
obrigatória; Independência em relação
às partes
• Não há monopólio do poder de
• Plena executoriedade: monopólio do
sanção (uso da força)
poder de sanção (uso da força)
O direito internacional é DIREITO?
o Não há monopólio do uso da força no sistema internacional
• Conselho de Segurança
 Somente em determinadas circunstâncias (cap. VII – Carta nas Nações Unidas)
 Não exclusivamente militar (e.g. sanções econômicas)
• Ações unilaterais
 Auto-defesa
 Legalidade não é necessariamente controlada
O direito internacional é DIREITO?
o Problema: visão simplista do Direito
• Sanção é característica fundamental? Exemplo:
• o “Violar uma obrigação não elimina o seu senso de obrigatoriedade” Conflito EUA X
Iraque
o Qual o papel do Direito nas relações internacionais?
• Discurso de legalidade = legitimidade técnico-racional
• Patamar comum de diálogo entre nações culturamente distintas
• Paz e segurança como objetivos últimos: papel de coordenação prevalece sobre dissuasão
de ilícitos/injustiças → estabilidade e previsibilidade
• Violação é uma exceção fática (L. Henkin)
 “A exceção que chama atenção” (M. Shaw)
 Normas internacionais são raramente invocadas, mas frequentemente obedecidas (Koh) →
motivos: tendência à internalização / reciprocidade / fortalecimento reputacional
Fundamento do direito internacional
o Fundamento geral: princípios comuns de convívio reconhecidos pelos Estados
soberanos
o Estados são a fonte precípua e direta das normas: não há órgão de
representação
• Tratados
• Costumes
o Natureza contratual e horizontal → relativização do conceito de “império da
lei” (rule of law)
o Se o fundamento do DIP é o Estado, este pode se desobrigar de toda e
qualquer norma internacional?
Fundamento do direito internacional
Senso de obrigatoriedade no direito internacional
1) Teoria Voluntarista
o Teoria da autolimitação: Estados estão apenas obrigados às normas que
expressamente consentiram → fragilidades?
o Teoria do consenso:
• Sistema Internacional é formado por influência da maioria dos Estados
• Estados não podem se desobrigar de uma regra consentida, mas podem
tentar influenciá-la na sua alteração ou desaparecimento
Fundamento do direito internacional
Senso de obrigatoriedade no direito internacional
2) Teoria jusnaturalista
o “Justiça objetiva” (Cançado Trindade)
o Direito internacional com uma identidade própria, independente da vontade dos
Estados e dotada de primazia → “normas cogentes” (jus cogens)
• “Norma imperativa de direito internacional geral, aceita e reconhecida pela comunidade
internacional dos Estados no seu conjunto, da qual nenhuma derrogação é permitida e
que só pode ser modificada por norma de direito internacional geral da mesma natureza”
(Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, art. 53)
• “Norma na qual se assume que todos os Estados têm interesse na sua proteção”
(Barcelona Traction, Corte Internacional de Justiça, 1970)
• Exemplos: “pacta sunt servanda”, costume, leis de guerra, genocídio, tortura,
autodeterminação
Fundamento do direito internacional
Senso de obrigatoriedade no direito internacional
o Pode se fiar em senso de justiça? OBS.: questões humanitárias?

o Caso Sudoeste Africano (Etiópia e Libéria vs. África do Sul), CIJ (1960): “It is
a court of law, and can take account of moral principles only in so far as these
are given a sufficient expression in legal form. Law exists, it is said, to serve a
social need; but precisely for that reason it can do so only through and
within the limits of its own discipline. Otherwise, it is not a legal service that
would be rendered.”
Desenvolvimento histórico
Períodos históricos (divisão didática)
1) O direito internacional até os tratados de Vestfália;
2) De Vestfália (1648) até Viena (1815);
3) De Viena (1815) até Versalhes (1919);
4) De Versalhes (1919) ao contexto presente.
Desenvolvimento histórico
• Formação embrionária: acordos políticos gerais
o Integridade territorial
o Cessação de hostilidades e alianças defensivas
o Juridicidade primitiva: cerimoniais, ritualismos e interesse direto das
lideranças
o Forte influência de princípios morais/religiosos de convivência
o Guerra com justa causa ou “guerra justa”
o Marco inicial: 3100 a.C - Fixa as fronteiras entre as cidades-estado de Lagash e
Umma, na Mesopotâmia
Desenvolvimento histórico
Direito Consuetudinário
 a) da inviolabilidade de arautos e mensageiros;
 b) da obrigatoriedade, se não mais, da santidade dos tratados (pacta sunt
servanda), incluindo a boa-fé na interpretação e aplicação destes;
 c) do estatuto jurídico dos estrangeiros e estas, na medida em que se intensificam
os intercâmbios, resultam em regras a respeito de comércio internacional, asilo e
relações familiares (commercium et connubium);
 d) das sanções de direito internacional e especialmente em matéria de guerra e
conflitos armados.
Desenvolvimento histórico
• Grandes civilizações
o Grécia/Roma: primeira percepção e regulação do
conceito de “estrangeiro”; primeiras concepções de
universalidade de direito (ius gentium)
o Império persa/Islã: reconhecimento de representantes
estrangeiros
o Sacro Império Romano Germânico:
mecanismos de universalização e
harmonização
Tratado de Kadesh, tratado de Paz Egípcio-Hitita
 Direito canônico assinado entre o Rei hitita Hatusil III e o faraó
 Código civil, comercial, marítimo Ramisés IV, em 1.259 a.C.
Desenvolvimento histórico
Tratado de
Tordesilhas,
assinado na
povoação
castelhana de
Tordesilhas em
7 de junho de
1494
Desenvolvimento histórico
 Idade Moderna: transição do feudalismo para o capitalismo, conquista da
América, formação dos Estados-nacionais
 Jean Bodin, teórico renascentista
 Desenvolvimento do comércio marítimo: lex mercatória
 Colonização e humanismo: Bartolomé de Las Casas X Guinés de La
Sepúlveda
 Reforma protestante e guerras religiosas: quebra da autoridade papal
 Tráfico internacional de pessoas escravizadas
Desenvolvimento histórico
• Centralizações teóricas Pré-Vestfália
o Francisco de Vitória: “justa causa” → limitações às ações do Império Espanhol
na América, teoria da guerra justa
o Francisco Suarez: ius gentium – sociedade internacional
o Alberico Gentili: “De Jure Belli”. Diplomata, jurista, escritor mais antigo do DIP.
o Zouch:  jus inter gentes, costume como fonte de normas, distinção
positivismo/naturalismo
o Hugo Grócio: Leis de agressão, direito à auto-defesa, Direito do mar e res nullius
Desenvolvimento histórico

Tratados de Paz de Münster e Osnabrück - 1648


Desenvolvimento histórico
• Vestfália (1648)
o Pufendorf:
 Jusnaturalismo > voluntarismo (tratados)
 Precursor do Realismo: amoralidade dos Estados
o Bynkershoek: direitos e deveres dos neutros em situação de guerra, mar
territorial e alto-mar, imunidade diplomática
o Wolff: conceito de “comunidade internacional”, precursor da LN/ONU
o Vattel/Burlamaqui: igualdade jurídica dos Estados (povos) e direito de
soberania
o Martens: ascendência do direito positivo, direito natural como último
recurso
Desenvolvimento histórico
o princípio da igualdade jurídica dos estados;
o princípio do equilíbrio europeu;
o regulamentação internacional positiva;
o conceito de neutralidade na guerra
o Princípio da determinação da religião do estado pelo governante
(ponto de partida do princípio contemporâneo da não ingerência
nos assuntos internos dos estados)
Desenvolvimento histórico
• Congresso de Viena (1815)
o Guerras napoleônicas: equilíbrio de poder na
Europa, princípio do consenso
o Independências e nacionalismos: tratamento de
escravos, auto-determinação
o Forte dominação de valores europeus na formação
do DIP
o Crescente institucionalização:
 Comitê Internacional da Cruz Vermelha
 Convenções de Genebra: direito humanitário
 Corte Permanente de Arbitragem
o Primeiros embates teóricos monismo vs. dualismo
Desenvolvimento histórico
o Tratado de Versalhes (1919) → Liga das
Nações
• Fim da concepção anárquica e
institucionalização das RIs → pacto de
segurança coletiva
• Mecanismo de Solução de controvérsias:
Corte Permanente de Justiça
Internacional
• OIT
• Sistema de mandatos (neocolonialismos)
Desenvolvimento histórico
Carta de São
Francisco, criação da
ONU, em 1945.
Desenvolvimento histórico
o ONU
o Ascendência do ser humano como condição
central do direito internacional (Cançado
Trindade)
o Universalização do sistema: independências
coloniais
o Divisões político-ideológicas: DCP vs. DESC /
Norte vs. Sul
o Proliferação temática e organizacional →
universalidade vs. Fragmentação
o Direitos humanos e direito de
autodeterminação dos povos: limitações à
soberania dos Estados?

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