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Universidade Lusíada de Angola

FACULDADE DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Aula de DIP
1 – Consideração inicial
2 – Conceito do Direito Internacional
3 – Fundamento do Direito Internacional Público
4 – Direito Internacional e Direito Interno: Teorias em
confronto.
5 – A inserção do Direito Internacional no Direito
Interno angolano.
CONCEITO

• Sinteticamente, o Direito Internacional Público pode


ser definido como a disciplina jurídica da sociedade
internacional.

• Direito Internacional Público ou direito das gentes é o


conjunto de princípios que regulam as relações mútuas
dos Estados e, subsidiariamente, das demais pessoas
internacionais, como determinadas organizações
intergovernamentais e dos indivíduos. (Hildebrando
Pompeu Pinto Accioly)
Direito Internacional Público é o conjunto de
princípios e regras jurídicas (costumeiras e
convencionais) que disciplinam e regem a actuação e a
conduta da sociedade internacional (formada pelos
Estados, pelas organizações internacionais
intergovernamentais e também pelos indivíduos),
visando alcançar as metas comuns da humanidade e, em
última análise, a paz, a segurança e a estabilidade das
relações internacionais. (Valerio de Oliveira Mazzuoli)
CRITÉRIO DE DEFINIÇÃO

• Critério de sujeitos intervenientes - O Direito


Internacional Público disciplina e rege a actuação
e a conduta da sociedade internacional (formada
pelos Estados, pelas organizações internacionais
intergovernamentais e também pelos indivíduos);
• Critério das matérias reguladas – O Direito
Internacional Público visa alcançar as metas comuns da
humanidade e, em última análise, a paz, a segurança e
estabilidade das relações internacionais;

• Critério das fontes normativas – O Direito Internacional


Público consubstancia-se num conjunto de princípios e
regras jurídicas, costumeiras e convencionais.
Denominação
- Direito Internacional Público, Direito Internacional ou
Direito das Gentes;

- A expressão mais apropriada seria Direito Internacional


(Jeremias Bentham em 1789, na sua obra international
law)

- Existem várias denominações dada a esse ramo do direito como:


Direito dos Estados, Direito Plurinacional, Direito Intergrupal,
Direito Transnacional, Direito Público Internacional, Direito
Supranacional e Direito Público Exterior etc
• Esta consolidade a expressão Direito Internacional Público
(diferenciando do DIPri – um conjunto de normas do direito
público interno que busca, por meio dos elementos de conexão,
encontrar o direito aplicável, nacional ou estrangeiro, quando
a lide comporta opção entre mais uma ordem jurídica para
solucionar o caso.

• Daí é que nos países de língua inglesa o DIPri é identificado por


“conflict of laws”

• Direito das gentes ( a ideia é que o direito internacional não é


somente um direito vinculado a entes específicos, mas um direito
de todo mundo, a englobar não somente os Estados, mas também
os povos e pessoas)
Fundamento do Direito Internacional Público

• Saber o fundamento do DIP significa desvendar de


onde vêm a sua legitimidade e sua obrigatoriedade.

• Aqui se busca as razões jurídicas capazes de explicar o


por quê da aceitação e obrigatoriedade do DIP por parte
de toda a Sociedade Internacional.

• Não se pode confundir o fundamento do DIP com as


suas Fontes.
• Fundamento - ----- onde o DIP extrai a sua legitimidade e
obrigatoriedade

• Fontes ----- onde o DIP extrai as suas normas.

• O fundamento antecede as fontes, e é onde se justifica a


legitimidade e obrigatoriedade do DIP. Ou seja, qual é a origem
da obrigatoriedade de os Estados se sujeitarem a ordem
jurídica internacional, assim como os motivos pelos quais os
Estados soberanos se submetem voluntariamente aos tribunais
internacionais.
Doutrina
• A questão do fundamento do DIP tem sido objeto de estudo desde
longo tempo, existindo assim, várias doutrinas que buscam
demonstrar o fundamento jurídico de sua legitimidade e
obrigatoriedade.

• De acordo com James Leslie Brierly (Professor britânico de Direito Internacional),


existem duas correntes que levam os Estados a aceitarem a norma internacional: a
doutrina dos direitos fundamentais e a doutrina positivista.

• 1 - doutrina dos direitos fundamentais: Parte da ideia de que os Estados, desde a sua
existência, usufruem de certos direitos fundamentais – direitos de conservação, a
independência, de igualdade, ao respeito recíproco ou mútuo e ao comércio
internacional - , dos quais se concluiriam as normas de Direito Internacional.

• 2 - doutrina positivista: consiste na ideia que o DI é um conjunto de normas a que os


Estados consentem em se vincular, sendo essa adesão expressa, como no caso dos
tratados, ou implícita, ocorrendo concordância do Estado a uma norma costumeira.
• Para Jean Touscoz (Professor Frances de Direito Internacional),

são 4 correntes relativas ao fundamento do DIP:


• Jusnaturalismo ( fundamento na natureza humana, com duas
correntes, a razão e a inspiração divina);

• Voluntarismo (vontade dos sujeitos, nos acordos que celebram);


vontade colectiva dos Estados, os quais impõem a eles
próprios obrigações.

• Objetivismo (objeto da observação cientifica, de leis de


funcionamento); e

• Positivismo (processos instituídos, como tratados e decisões


arbitrais).
• Para o Professor brasileiro Albuquerque Mello
duas doutrinas são mais importantes,

• a voluntarista (o fundamento do DI está na


vontade dos Estados) e a

• objetivista (norma ou princípios acima dos


Estados).
• Dentre as doutrinas acima referenciadas pode-se destacar três
como fundamentais:

• 1 – Corrente voluntarista – de índole subjectivista, não explica o


fundamento do Direito Internacional, cujas normas existem
independentemente da vontade dos Estados e, em vários casos,
contra essa própria vontade.

• - Essa doutrina encontra grande obstáculo nos tratados


internacionais de protecção dos direitos humanos, nascidos em
decorrência do terror e da barbárie advindo da Segunda
Guerra Mundial, que impõem limites a actuação do Estado nos
cenários internos e internacional.

• Normas de direitos humanos são imperativas e há a obrigação


dos Estados de cumprir, mas reconhece-se que nem todos os
Estados cumprem.
• 2 – Corrente objetivista

• A legitimidade e obrigatoriedade do DIP devem ser procuradas


fora do âmbito de vontade dos Estados, ou seja, na realidade da
vida internacional e nas normas que disciplinam e regem as
relações internacionais que são autonomas e independentes de
qualquer decisão estatal.

• Essa doutrina é criticada na medida em que minimiza (e, a


vezes, até aniquila) a vontade soberana dos Estados, que
também tem o seu papel contributivo na criação das regras do
DIP.

• 3 – Corrente “pacta sunt servanda”

• A corrente mais apoiada é a “pacta sunt servanda” porque é


considerada uma teoria objetivista temperada, enquanto que a
voluntarista tende cada vez mais ser abandonada.

• A ideia do consentimento (pode ser perceptivo) é que os Estados


consentem em torno de normas que fluem inevitavelmente da
pura razão humana, ou que se apoiam em maior ou menos
medida, num imperativo ético.

• Pacta sunt servanda – o princípio segundo o qual o que foi


pactuado deve ser cumprido – é um modelo de norma fundada no
consentimento perceptivo. Por sua vez, o consentimento criativo
são aquelas das quais a comunidade internacional poderia
prescindir.
Direito Internacional e Direito Interno:
Teorias em confronto.
• Um problema antigo, mas particularmente importante para o DI,
diz respeito a situação (eficácia e aplicabilidade) do Direito
Internacional na ordem jurídica interna dos Estados.

• Esse problema apresenta dois aspectos:

• Teórico - consistente no estudo da hierarquia do Direito


Internacional frente ao Direito Interno;

• Prático - relativo a efectiva solução dos conflitos porventura


existente entre a normativa internacional e as regras de Direito
doméstico.
• Teorias em confronto: Dualista e a monista.
• Procura-se discutir nessas teorias se o Direito Internacional e o
Direito Interno são duas ordens jurídicas diferentes e
independentes (teoria dualista) ou, ao contrário, se são dois
sistemas que derivam um do outro (teoria monista).

• DUALISMO –
• Foi Alfred von Verdross quem, em 1914, cunhou a expressão
“dualismo”, a qual foi aceita por Carl Heinrich Triepel, em
1923, seguido por Strupp, Walz, Listz, Anzilotti, Balladore Pallieri
e Alf Ross.

• Para os defensores dessa teoria, o Direito Interno de cada Estado


e o Direito Internacional são dois sistemas independentes e
distintos, ou seja, constituem círculos que não se interceptam,
embora sejam igualmente válidos.
• Para os defensores desta corrente, as fontes e normas do
Direito Internacional (notadamente os Tratados) não têm
qualquer influência sobre questões relativas ao âmbito do
Direito Interno e vice-versa, de sorte que entre ambos os
ordenamentos jamais poderia haver conflitos.

• Duas vertentes:

• Dualismo radical – para a vigência e eficácia da norma


internacional exige lei especifica para incorporação
(possibilidade de transformação do DI em Direito interno).
Ex: Lei interna

• Dualismo moderado – dispensa lei especifica (não há uma


fórmula legislativa), mas exige procedimento interno de
incorporação. Ex: Um decreto ou um regulamento executivo.
• Crítica a doutrina dualista

• Reconhecer diversidade de fontes entre DI e Direito


Interno, é uma questão contraditória aceitando
consequências fatais para a concepção geral do Direito.

• Se ambos os sistemas são contrapostos, um deles


inevitavelmente será não jurídico. Assim, não é possível
entender como jurídico, dois sistemas antagônicos e
divergentes.

• Se o Direito é uno e anterior a vontade dos Estados, não se


pode entender de outra maneira senão como estando o
Direito interno inserido no Direito Internacional.
• MONISMO

• Hans Kelsen é o seu maior expoente

• Os monistas partem de ideia oposta a concepção dualista,


ou seja, a uma unidade (ou unicidade) do conjunto das
normas jurídicas, internas e internacionais.

• Para os defensores dessa doutrina, o Direito Internacional


e o Direito interno são dois ramos do Direito dentro de
um só sistema jurídico.

• Em outras palavras considera-se que há um só sistema


jurídico, cujo direito interno e o internacional são dois
ramos coexistentes e interdependentes
• Uma vez aceite essa doutrina, nasce um problema
hierárquico a ser resolvido, qual seja, o de saber qual
ordem jurídica deve prevalecer em caso de conflito,
se é a interna ou a internacional.

• Em outras palavras, uma vez aceite a teoria monista,


surge o questionamento em relação à hierarquia entre as
normas internas e internacionais, o que não acontece
quando se aceita a doutrina dualista, que vê as duas
ordens jurídicas distintas e sem influencia entre elas (a
menos que o Direito Internacional seja transformado
em Direito interno)
• TRÊS VERTENTES QUANTO A HIERARQUIA

• MONISMO NACIONALISTA – primazia do direito


interno sobre o internacional;

• Ou seja, o Direito Internacional não seria mais que uma


consequência do Direito Interno.

• Trata-se de uma doutrina constitucionalista nacionalista,


cujas bases filosóficas encontram-se sustentada no sistema
de Hegel (1770 – 1831) – onde o Estado um ente cuja
soberania seria irrestrita e absoluta.

• Os defensores dessa corrente dão, assim, especial atenção a


Soberania de cada Estado, levando em consideração o
princípio da supremacia da Constituição.
• PRINCIPIAS ARGUMENTOS

• A) – a ausência, no cenário internacional, de uma autoridade


supra-estatal capaz de obrigar o Estado ao cumprimento dos seus
mandamentos, sendo cada Estado o competente para determinar
livremente suas obrigações internacionais, pois é ele, em
princípio, juiz único da forma de executá-las.

• B) – O fundamento puramente constitucional dos órgãos


competentes para concluir tratados em nome do Estado,
obrigando-o no plano internacional.
• MONISMO INTERNACIONALISTA – as normas
internacionais possuem hierarquia superior.

• Desenvolvida pela Escola de Viena (Kelsen, Verdross e Josef Kunz, Séc.


XX);

• Monismo com primazia do Direito Internacional sustenta a unicidade da


ordem jurídica sob o primado do direito externo, a que se sujeitariam
todas as ordens internas (maior expoente Kelsen);

• O Direito interno deriva do Direito Internacional, que representa


uma ordem jurídica hierarquicamente superior;

• No ápice da pirâmide das normas encontra-se, pois, o Direito


Internacional (norma fundamental: pacta sunt servanda), do qual provem
o Direito interno.
• MONISMO INTERNACIONALISTA CONCILIATÓRIO –

• Em aparente conflito de norma internacional e


norma interna, prevalecerá aquela que ofereça
proteção aos direitos humanos. Propõe diálogo
entre as normas.
A inserção do Direito Internacional no
Direito Interno angolano.
• Em Angola, vigora a cláusula de recepção automática
(Doutrina Monista com Primazia do Direito Internacional)

• Segundo o Prof. Franca Van-Dúnem, em Angola, o


direito positivo mostra sinais de se ter optado pelo
Monismo com primazia do Direito Internacional.

• O Prof. Paulino Lukamba também compartilha do


mesmo entendimento de que o nosso sistema jurídico
acolheu a doutrina monista onde há uma cláusula de
incorporação automática do Direito Internacional
Geral ou Comum… Ver o artigo 13° da Constituição da
República de 2010.
• Artigo 13° n° 1 e 2 da CRA/2010
• N°1 – O direito internacional geral ou comum, recebido
nos termos da presente Constituição, faz parte integrante
da ordem jurídica angolana.

• N°2 – Os tratados e acordos internacionais regularmente


aprovados ou ratificados vigoram na ordem jurídica
angolana após a sua publicação oficial e entrada em
vigor na ordem jurídica internacional e enquanto
vincularem internacionalmente o Estado angolano.

• Significa que as normas convencionais vigoram na


ordem jurídica angolana, desde que atendem os seguintes
requisitos: aprovação, ratificação e publicação
• Apesar de que não haja uma regra afirmando expressamente que o DI
tem primazia sobre o Direito interno, algumas cláusulas da CRA/2010,
dão a entender que, em certas matérias, sobretudo as ligadas aos direitos
humanos, o Direito Internacional tem superioridade sobre o Direito
Interno.

• Artigo 26° da CRA/2010 (existência de uma paridade de grau entre os


direitos e liberdades constitucionais e as normas de direitos humanos)

• Artigo 236° da CRA/2010

• Artigo 9° n° 2 da CRA/2010

• Artigo 6° da Lei n° 1/05 de 1 de julho

• Significa que em caso de conflitos de nacionalidade e em matéria de


direitos humanos, as normas do Direito Internacional têm primazia sobre
as normas de Direito Interno.
• OBS: Caro, estudante! A matéria de DIP não se
exaure nos slides. As explicações e complementos
feitos durante as aulas serão igualmente exigidos em
prova.

• Bons estudos!

• Bibliografía base do programa da disciplina.

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