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Ana Beatriz Fernandes Willemann

abwillemann@outlook.com | Advogada | (61) 99962-2719

Excelentíssimo Senhor Presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios

FRANCISCO DOMINGOS DOS SANTOS, popularmente conhecido como “Chico


Vigilante”, brasileiro, vigilante e Deputado Distrital, casado, portador da Cédula de Identidade
nº 522.772 – SSP/DF, inscrito no CPF/MF sob o nº 297.313.721-72, residente e domiciliado na
QNP 18, Conjunto E, Casa 29, Setor P-Sul, Ceilândia, Brasília/DF, CEP 72231-805, e-mail
chico@chicovigilante.com.br, por sua advogada ANA BEATRIZ FERNANDES
WILLEMANN (OAB/DF 54.624; telefone: 61 99962-2719), e-mail
abwillemann@gmail.com), vem a Vossa Excelência, com base na Lei nº 12.016, de 7/8/2009,
impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA
Com pedido de liminar

contra ato omissivo do Senhor Governador do Distrito Federal e de seu Secretário de Estado de
Saúde por, até o momento, não terem divulgado o plano distrital de vacinação contra a
pandemia causada pelo COVID-19.

As autoridades coatoras exercem suas atribuições, respectivamente, no Palácio do


Buriti e no Edifício-sede da Secretaria de Saúde, localizado no Setor de Áreas Isoladas Norte -
SAIN - fim da Asa Norte Bloco B - (antigo prédio da Câmara Legislativa) - CEP: 70770-200,
sendo desconhecidos seus telefones e e-mails.

I – DO AMPARO LEGAL

1. Segundo a Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009, reproduzindo o art. 5º, LXIX,


“conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer
pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de
impetrante, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.”

2. A presente pretensão não está amparada por habeas corpus, nem por habeas data.
Todas as provas são pré-constituídas. E a falta de um plano distrital de vacinação, de

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responsabilidade das autoridades coatoras, acarreta o justo receio do impetrante de não ser
vacinado contra a COVID-19, por o Distrito Federal não estar tomando as providências
necessárias para adquirir as vacinas, armazená-las e distribuí-las à população, tendo em vista
que a procura pela vacina atingiu escala mundial, e os próprios laboratórios vêm informando a
impossibilidade de atender a todos.

3. Nesse sentido, é líquido e certo o direito do impetrante, na qualidade de cidadão, de


exigir do Governo do Distrito Federal o plano distrital de vacinação contra a pandemia causada
pela COVID-19, especialmente porque outros entes da federação já divulgaram seus planos e,
inclusive, com data para iniciar a imunização de seus residentes.

4. É também direito do impetrante, em razão da omissão dos governantes, de pedir


providências ao Poder Judiciário para que determine ao Governo do Distrito Federal a adoção
de medidas para implementar, na Capital da República, um plano de vacinação que possa
beneficiá-lo, aos membros de sua família e a toda população, tendo em vista tratar-se de matéria
de interesse geral, inclusive dos membros do Poder Judiciário.

II – DAS AUTORIDADES COATORAS

5. As autoridades coatoras são o Governador do Distrito Federal e o seu Secretário de


Saúde, os quais têm sido omissos quanto à elaboração de um plano distrital de vacinação para
enfrentamento da pandemia da COVID-19, conforme informado pelos meios de comunicação.1

6. Enquanto em outras unidades da federação, tem havido intensa mobilização dos


governos estaduais para criar as condições necessárias à vacinação de seus residentes, as
autoridades locais do Distrito Federal encontram-se absolutamente silentes, sem qualquer
manifestação sobre tratativas para contratos com laboratórios produtores da vacina, criação de
logística para armazenamento e distribuição e cronograma para vacinar a população.

III – SÍNTESE DOS FATOS

7. Conforme fartamente noticiado todos os dias, a pandemia da COVID-19 tem tirado


o sossego da população e levado dor e sofrimento a muitas famílias, além de sobrecarregar o
sistema de saúde, quer o público, quer o privado, com inúmeras internações e, por

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Doc 02 - G1 DF falta plano de vacinação.

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consequência, com adiamento de outros procedimentos médico-hospitalares igualmente


importantes.

8. Às recomendações iniciais de distanciamento e isolamento sociais, uso de máscaras


e higienização com álcool em gel, o mundo vive a expectativa de uma vacina capaz de imunizar
a população e devolver-lhe o modo de vida que, de repente, lhe foi ceifado.

9. Nesse sentido, diferentes iniciativas de grandes laboratórios de diversos Países


empreenderam uma corrida desenfreada para desenvolver uma vacina em tempo recorde,
mobilizando os mais diversos cientistas e os mais variados meios tecnológicos para a
empreitada.

10. Paralelamente, os diversos governos de países estrangeiros desenvolvem estratégias


e planos para vacinar sua população. Alguns, inclusive começaram nesta semana.

11. No Brasil, o Governo Federal tem sido omisso no papel que lhe cabe de coordenar
o enfrentamento da pandemia, tendo o Supremo Tribunal Federal buscado remediar essa
omissão, com a concessão de diversas medidas judiciais para obrigar a União a agir. Em
9/12/2020, o Painel de Ações Covid-19 do STF registrou a tomada de 7.587 decisões em 6.387
processos.

12. Atualmente, está em discussão, com previsão de serem votadas ainda neste mês,
duas Ações de Descumprimento de Preceito Fundamental contra o Governo Federal, as de nº
754 e 756, de relatoria do Ministro Ricardo Lewandowski, que, inclusive, já divulgou seu voto
no sentido de:

Em face do exposto, e tendo em vista, especialmente, os impactos positivos que as


campanhas de vacinação têm no Brasil e no mundo, contribuindo para conservar a
saúde e salvar vidas de milhões de pessoas e, ainda, para minorar os custos dos
tratamentos médico-hospitalares, julgo parcialmente procedente as presentes ADPFs
de maneira a determinar ao Governo Federal que:
(i) no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da intimação desta decisão, apresente a esta
Suprema Corte um plano compreensivo e detalhado acerca das estratégias que está
colocando em prática ou pretende desenvolver para o enfrentamento da pandemia
desencadeada pelo novo coronavírus, discriminando ações, programas, projetos e
parcerias correspondentes, com a identificação dos respectivos cronogramas e
recursos financeiros, de maneira a assegurar a oferta e distribuição tempestiva,
universal e gratuita de vacinas, em qualidade e quantidade suficiente para a
imunização de toda a população brasileira, segundo critérios técnicos e científicos
pertinentes, assegurada a maior cobertura vacinal possível, no limite de suas
capacidades operacionais e orçamentárias;
(ii) atualize o plano em questão a cada 30 (trinta) dias, até o final do ano de 2021;

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e (iii) remeta o mencionado plano e respectivas atualizações periódicas ao Congresso


Nacional para os fins de fiscalização e controle a que se referem os arts. 49, X, 70 e
71 da Constituição Federal, estes últimos mediante o auxílio do Tribunal de Contas
da União.
13. Os governos de alguns estados, como o de São Paulo e Espírito Santo, e prefeitos
de algumas capitais, como o de Porto Alegre, já possuem planos para vacinar sua população.
Outros governadores estão emprenhados em elaborar um plano próprio também, como no caso
do Maranhão.

14. No Distrito Federal, porém, o Governo encontra-se silente, sem criar estratégias
para vacinar a sua população, conforme divulgado pelos meios de comunicação. E isso inquieta
os moradores da Capital Federal, entre os quais está o impetrante, que correm o risco de ficar
sem a vacina, porque o Governo do Distrito Federal está ficando para trás nessa busca pela
vacinação, que tem mobilizado diversos outros governantes.

15. Os laboratórios vêm informando a existência de excesso de demanda e alerta para


a possibilidade de não haver doses suficientes na velocidade necessária. O presidente da Pfizer
Brasil, Carlos Murillo, por exemplo, em audiência pública realizada em 8/12/2020 na comissão
externa da Câmara dos Deputados sobre a Covid-19, disse que quanto mais se demora para
assinar o contrato e aprová-lo, "menos segurança temos dessas doses lá na frente”.

16. Isso evidencia o atraso do Distrito Federal na adoção de providências para vacinar
sua população e caracteriza o justo receio de não haver vacina disponível, se não forem adotadas
providências imediatas para a questão.

IV – DO DIREITO
4. 1 – Do direito à vida

17. Nas suas disposições sobre a saúde, a Constituição Federal determina ao Poder
Público adoção de políticas capazes de reduzir o risco de doença, com atividades preventivas:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.

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18. No Distrito Federal, sua Lei Orgânica traz várias atribuições ao Poder Público com
o intuito de identificar e se antecipar aos fatores que podem causar prejuízos à saúde individual
ou coletiva de sua população:

Art. 207. Compete ao Sistema Único de Saúde do Distrito Federal, além de outras
atribuições estabelecidas em lei:
I – identificar, intervir, controlar e avaliar os fatores determinantes e condicionantes
da saúde individual e coletiva;
XIX – executar a vigilância sanitária mediante ações que eliminem, diminuam ou
previnam riscos à saúde e intervir nos problemas sanitários decorrentes da
degradação do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de
serviços de interesse da saúde;
XX – executar a vigilância epidemiológica, mediante ações que proporcionem o
conhecimento, detecção ou prevenção dos fatores determinantes e
condicionantes de saúde coletiva ou individual, adotando medidas de prevenção
e controle das doenças ou agravos;
19. A Lei do Sistema Único de Saúde (Lei nº 8.080, de 19/9/1990), por sua vez, também
determina ao Poder Público distrital a adoção de medidas necessárias e urgentes para enfrentar
situações como da pandemia advinda com a COVID-19:

Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde


(SUS):
I - a execução de ações:
b) de vigilância epidemiológica;
VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e
outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção;
§ 2º Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que
proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos
fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a
finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças
ou agravos.
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou
conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de
acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo
ainda aos seguintes princípios:
VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação
de recursos e a orientação programática;
20. Além das questões insertas no ordenamento jurídico, que por si sós já asseguram o
direito da população, aqui incluído o impetrante, a vacinação em massa de todos os habitantes
tem sido a tônica que domina o noticiário local, nacional e internacional, como forma de poupar
as dores, as ansiedades e as angústias de todos os atuais viventes, que não veem a hora de se
livrar da pandemia para voltar a uma vida normal, sem os riscos existentes em todos os
quadrantes do universo.
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21. O ser humano contemporâneo acredita na ciência e na sua capacidade de resolver


os mais variados problemas enfrentados pela humanidade, especialmente nas questões
relacionadas com a saúde humana. E, nesse sentido, os cientistas e demais especialistas em
epidemiologia são unânimes em reforçar diariamente a necessidade de vacinação em massa da
população.

22. A vacinação contra a COVID-19 passou a ser um direito público subjetivo de todo
cidadão, cabendo aos governos a adoção das providências para sua efetivação. Parte
significativa das pessoas atendeu aos apelos do Governo local para ficar em casa. Tem ela agora
o direito de exigir do mesmo Governo a sua vacina.

23. Diante desse cenário, fica claro o direito de todo o cidadão de cobrar das autoridades
públicas, especialmente do Governador do DF e do seu Secretário de Saúde, a adoção de um
plano distrital de vacinação.

24. Por isso, assim como votou o Ministro Ricardo Lewandowski no STF em relação
ao Governo Federal, também cabe a esse Eg. Tribunal determinar que o Governo do Distrito
Federal apresente, com urgência, um plano para vacinar os habitantes da Capital da República.

V – DO FUMUS BONI IURIS e do PERICULUM IN MORA

25. Como visto, a assistência à saúde é um direito básico de todo cidadão, baseado na
dignidade da pessoa humana. Em casos de pandemia, como esta que causa sofrimento em toda
a humanidade, a vacinação em massa tem sido apresentada pelos mais renomados especialistas
em infectologia e pela OMS como solução para evitar o contágio pela COVID-19.

26. Não cabe às autoridades distritais aguardar a boa vontade do Governo Federal. Elas
exercem um múnus público e têm o dever de agir segundo esse múnus, expresso nos princípios
e normas que asseguram à população o direito de receber o tratamento recomendado pela
ciência.

27. A falta de um plano claro e bem definido sobre a vacinação contra a COVID-19
pode deixar o Distrito Federal sem vacina para sua população, o que é inconcebível, ante o
cristalino direito à preservação da saúde e das medidas eficazes de prevenção a doenças.

28. Quanto ao perigo da demora, os fatos relacionados com a pandemia COVID-19


falam por si. Até o presente momento, o distanciamento e isolamento sociais vinham sendo as
recomendações mais seguras para evitar o contágio da doença. Mas agora surgiu também a

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esperança da vacina. Não é concebível que outros entes da federação, com menos recursos
orçamentários e financeiros, consigam vacinar sua população, deixando o Distrito Federal para
trás.

29. Urge, então, que se determine ao Governo do Distrito Federal a manutenção da


metodologia de divulgação dos dados epidemiológicos sobre a COVID usada até o dia
17/8/2020.

VI – DO PEDIDO

30. Diante do exposto, o impetrante requer seja determinado liminarmente ao


Governador do Distrito Federal e ao Secretário de Estado de Saúde do Distrito Federal que
apresentem ao Poder Judiciário, bem como à população do Distrito Federal, no prazo de 30
dias, o plano de vacinação contra a COVID-19.

Dá-se à causa, para efeitos processuais, o valor de R$ 100,00.


Pede-se deferimento.
Brasília, 9 de dezembro de 2020.

ANA BEATRIZ FERNANDES WILLEMANN


OAB/DF 54.624

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