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João Egmont
Gabinete do Des. João Egmont
DECISÃO
Trata-se de mandado de segurança, com pedido liminar, impetrado por B. R. K., representado por seus
genitores, P. R. K e P. L. K, contra ato do SECRETÁRIO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL.
De acordo com a inicial o impetrante pede: a) liminarmente, a garantia da segurança a fim de receber a 1ª
e a 2ª dose da vacina da PFIZER, porquanto se trata da entrega de terapia medicamentosa para proteção e
integral realização do tratamento como cidadão, que se postergado, poderá leva-lo a experimentar mais
graves problemas de saúde; b) no mérito, a confirmação da medida liminar para que a autoridade coatora
efetive o fornecimento da vacina ComirnatyTM da PFIZER, como prescrito em relatório médico; e c) em
caso de recalcitrância e imotivado descumprimento da ordem, que sejam bloqueadas e sequestradas as
verbas públicas para o fiel atendimento da obrigação, em consonância com o art. 536, do CPC.
Sustenta, em síntese, que desde seu nascimento suporta inúmeras deficiências que o impedem de gozar de
plena saúde e total acompanhamento social em consonância com a sua idade, trazendo limitações
imensuráveis. Diz que no decorrer do acompanhamento médico despendido, deficiências foram sendo
diagnosticadas, porém outras ainda são desconhecidas. Alega ter sido diagnosticado com quadro
sindrômico, de origem genética, até o momento desconhecida. Trata-se de síndrome dimórfica sistêmica,
caracterizada por aneurisma de septo interatrial do coração, deficiência auditiva bilateral com
malformação do ouvido médio e interno, malformações cerebrais (má rotação da formação hipocampal
esquerda e do labirinto, hipoplasia/agenesia dos componentes do complexo VII e VIII pares craniano),
malformação de membro superior esquerdo com hipoplasia radial, lagoftalmo à esquerda, hipotrofia
muscular generalizada, cifose, hipogonadismo hipogonadotrófico (ausência de desenvolvimento puberal
espontâneo por deficiência de testosterona) com microrquidia bilateral e sobrepeso. Há ainda história
pregressa de infecções virais e bacterianas de repetição, sendo referidas pelos pais até 4 episódios que
necessitaram de uso de antibiótico no ano de 2019. Aduz ser deficiente, perante a medicina e a lei vigente
(Decreto nº 3.298/99).
Destaca que o plano de vacinação da SARS-CoV-2 só abarca pessoas deficientes e com comorbidades de
18 a 54 anos. Frisa que o referido lapso temporal era justificável quando tínhamos disponíveis apenas as
vacinas da AstraZeneca e CoronaVac, que, supostamente não possuem eficácia em pessoas com faixa
etária menor que 18 anos. Ressalta que, atualmente, possuímos disponíveis doses da vacina Pfizer, que
pode ser aplicada em pessoas com idade igual e superior a 16 anos. Afirma que não faz qualquer sentido,
no plano de vacinação do Distrito Federal, limitar a aplicação para deficientes e para os que suportam
comorbidades, até 18 anos e vacinar pessoas saudáveis a partir de 55 anos.
Instruiu o feito com os documentos de ID’s 26230949, 26230935, 26230938, 26230940, 26230934,
26230950, 26230941/26230944, 26230948, 26230946.
É o relatório.
Decido.
Segundo dispõe o art. 5º, LXIX, da Constituição Federal, conceder-se-á mandado de segurança para
proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público.
Nesse mesmo sentido também é a disposição contida no art. 1º da Lei nº 12.016/09, em que prevê a
concessão de mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas
corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou
jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria
for e sejam quais forem as funções que exerça.
Ressalta-se, ainda, que a ação constitucional de mandado de segurança para ser manejada, precisa ser
lastreada com provas pré-constituídas do direito líquido e certo vindicado.
Logo, a via estreita desse remédio constitucional não prescinde da demonstração inequívoca do direito
líquido e certo alegado pelo impetrante.
Feitas essas breves considerações iniciais, passo a análise da situação fática e dos argumentos deduzidos
pela impetrante.
Cinge-se o presente writ em verificar se o impetrante, menor impúbere (16 anos), faz jus a receber a 1ª e a
2ª dose da vacina da PFIZER.
Dispõe o art. 7º, III, da Lei nº 12.016/09, que o deferimento da liminar em sede de mandado de segurança
exige fundamento relevante, e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja
finalmente deferida.
Explico.
Nos termos do art. 300 do Código de Processo Civil, a concessão da tutela de urgência depende da
presença de elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
Para tanto, é necessário que o magistrado identifique na demanda elementos fáticos (alegações
verossímeis e/ou provas) que permitam, em sede de cognição sumária, estabelecer um convencimento
acerca da probabilidade de existência do direito do demandante.
Igualmente, deve estar caracterizada a urgência, consubstanciada na constatação de que a demora para a
concessão da tutela definitiva poderá expor o direito a ser tutelado, ou o resultado útil do processo, a
(grave) prejuízo, o que justificaria o deferimento da medida excepcional.
Em consulta ao site da Secretaria de Estado da Saúde é possível constatar que a previsão de vacina para as
pessoas com comorbidades restringe-se àqueles cidadãos com idade superior a 18 anos. Confira-se:
“[...] Apresenta-se a seguir os critérios de priorização para vacinação dos grupos de pessoas com
comorbidades, pessoas com deficiência permanente e gestantes e puérperas:
(https://www.conasems.org.br/wpcontent/uploads/2021/04/PLANONACIONALDEVACINACAOCOVID19_ED0
pág. 29)”
“7.1. A definição dos grupos prioritários para vacinação foi realizada com base nas análises
epidemiológicas, evidências científicas e nas discussões com especialistas com expertise em imunização e
as principais sociedades científicas, no âmbito da Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças
Transmissíveis, pautada também nas recomendações do SAGE - Grupo Consultivo Estratégico de
Especialistas em Imunização (em inglês, Strategic Advisor Group of Experts on Immunization), da
Organização Mundial da Saúde; em parceria triparte, com os Conselhos Nacionais de Secretários de
Saúde e de Secretarias Municipais de Saúde (Conass e Conasems).
7.2. Diante do quantitativo ainda limitado na disponibilidade das vacinas para oferta à população-alvo
da Campanha Nacional de Vacinação contra a Covid-19 2021, o PNI ratifica a importância das
disponibilizadas serem destinadas àqueles grupos pré-determinados, que, inicialmente, já apresentam
maior risco de exposição, complicação e óbito pela covid-19, conforme prioridades elencadas no Plano
Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO)".
Cabe ressaltar que o PNO é elaborado pelo Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de
Imunizações, tem por objetivo instrumentalizar as instâncias gestoras na operacionalização da vacinação
contra a covid-19.
Desse modo, infere-se que, conquanto o Ministério da Saúde reconheça a necessidade de vacinação das
pessoas com deficiência permanente, elas precisam estar cadastradas no BPC e serem maiores de 18 anos.
Ademais, o Distrito Federal vem observando as diretrizes estabelecidas pelo Governo Federal, como é
possível notar nas informações prestadas pela Diretoria da Estratégia Saúde da Família (ID 26521496):
“Diante disso, restituímos o presente expediente para informar que o Ministério da Saúde não
recomenda a vacinação de crianças e adolescentes com idade menor de 18 anos de idade por não terem
sido inclusos nas fases de teste dos imunobiológicos.
Assim, a vacinação contra a Covid-19 no Distrito Federal é recomendada somente para as pessoas com
idade igual ou superior a 18 anos de idade.”
Desse modo, em que pese a solicitação médica (ID 26230950), não há justificativa para a antecipação dos
efeitos da tutela, com preterição de outras pessoas, com prioridade clínica e previsão no plano de
vacinação, que também aguardam na fila da rede pública de saúde para se submeterem ao mesmo
procedimento de vacinação pleiteada pelo impetrante.
Nesse contexto, inviável reconhecer, nesta fase de análise perfunctória, a probabilidade do direito
invocado.
Publique-se. Intimem-se.
Relator