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PROJUDI - Processo: 0012020-43.2022.8.16.0030 - Ref. mov. 1.

1 - Assinado digitalmente por Marcelo Camargo de Almeida


10/05/2022: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ
15ª Promotoria de Justiça de Foz do Iguaçu
__________________________________________________
EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA

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VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE FOZ DO
IGUAÇU.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por


seu representante adiante assinado, com fundamento nos artigos 127, 129, inc. II
e 227, caput, da Constituição Federal, artigo 120, inciso III, da Constituição
Estadual; artigos 5º, 101, caput, 201, inciso V, 208, 210 e 213, todos da Lei nº
8.069/90; artigos 2º, 3º, 5º, 11 e 12, todos da Lei n.º 7.347/85; e Lei
Complementar Estadual n.º 85/99, artigos. 57, inciso IV, alíneas “a”; 68, inciso
II, item 2, vem respeitosamente perante Vossa Excelência propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


com pedido de tutela provisória de urgência

em face de ALDEIAS INFANTIS SOS BRASIL, pessoa jurídica de direito


privado inscrita no CNPJ n.º 35.797.364/0027-68, com sede na Rua João
Rouver, n° 314 – Centro, representada por Alex Priver Decian Thomazi, pelas
razões de fato e de direito que passa a expor:

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10/05/2022: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial

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I. DOS FATOS

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Em meados de março de 2022 foi realizada inspeção semestral na
entidade ré por esta Promotoria de Justiça, ocasião em que foram solicitadas
informações a respeito do calendário vacinal de todos os acolhidos, notadamente
em relação à imunização com a vacina contra COVID-19, tendo sido informado
pelo coordenador, Sidney Ribeiro, que temia que eventuais reações adversas da
vacina poderiam recair sobre sua responsabilidade, já que se trata do guardião
dos acolhidos. Neste viés, foi orientado a encaminhar documento formal a
respeito de suas considerações a esta Promotoria de Justiça para análise das
providências cabíveis.

Em 21 de março de 2022 o referido coordenador encaminhou o Ofício


n.º 090/2022, o qual foi submetido a análise do Centro de Apoio Operacional às
Promotorias de Justiça com atribuição na área da infância e juventude que
exarou parecer, o qual, em suma, concluiu que a guarda decorre do estrito
cumprimento do seu dever legal e que eventuais responsabilidades decorrentes
da ação ou omissão do Estado recaem sobre o próprio Estado, que, por meio das
suas autoridades sanitárias, possuem o dever de realizar as medidas de
precaução adequadas para verificar os riscos à saúde pública que a vacina pode
acarretar.

Diante disso foi expedida a Recomendação Administrativa n.º 02/22


em face da entidade ré e das demais que executam serviço de acolhimento
institucional nesta comarca com o fim de providenciarem a imunização contra
COVID-19 de todos as crianças e adolescentes acolhidos institucionalmente,
desde que dentro da faixa etária de mais de 05 (cinco) anos de idade completos,

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conforme preconizado pelo Ministério da Saúde. A referida Recomendação foi

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encaminhada aos cuidados das entidades no dia 12/04/2022 e aposto o prazo de
05 (cinco) dias corridos para eventuais questionamentos/discordâncias quanto ao
seu conteúdo. Ocorre que, às 21h28min do dia 20/04/2022 a entidade ré, através
de seu coordenador Sidney Ribeiro apresentou documento solicitando que as
crianças abaixo de 11 (onze) anos de idade não fossem vacinadas pois, no seu
entendimento, não havia eficácia da imunização, além de alegar riscos à saúde.

O conteúdo do ofício foi integralmente rechaçado em razão de seus


próprios termos e por já se encontrar fora do prazo de 05 (cinco) dias corridos
para manifestação, sendo então concedido o prazo até dia 29/04/2022 para
apresentação dos comprovantes de vacinas. Entretanto, na data aprazada, o
coordenador, insistindo em sua conduta, encaminhou documentos que contém
atestados emitidos por médico (não pediatra) oriundo de São José dos Campos
que contraindica a vacinação das crianças, sem análise clínica ou de exames,
com base em estudos próprios, bem como, emitiu guia de solicitação de exames,
os quais foram transcritos pelo médico da Unidade Básica de Saúde da Vila
Iolanda e, portanto, atualmente, as crianças aguardam agendamento de tais
exames, para posterior emissão de laudo a respeito da possibilidade de
vacinação, o que vai contrário à Recomendação Administrativa.

Convém ressaltar que os exames solicitados pelo referido médico são


D-Dímero, pesquisa das mutações C677T e A1298C no gene MTHFR, Ferritina,
Fibrinogênio, Alumínio sérico, Anticorpos anti-TPO, Anticorpos Anti-
tireoglobulina e Dosagem de Anticorpos Neutralizantes Anti-SARS-CoV-2, dos
quais D-Dímero, Pesquisa de Mutações e Dosagem de Anticorpos não estão
cobertos pelo SUS.

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As crianças aptas à vacinação atualmente acolhidas na instituição ré e
que ainda não foram imunizadas contra a COVID-19 são as seguintes:

EMANUEL SHOSEK DE OLIVEIRA – D.N 28/05/2013;


CLAIR NEVES DA SILVA - D.N 10/01/2013;
GABRIELLA DE SOUZA PETRESCU - D.N 13/05/2016;
VITÓRIA GABRIELE FELIX HUBNER - D.N 04/03/2013;
VITOR GABRIEL FELIX HUBNER - D.N 02/06/2011;
NATAN DE SOUZA PEREIRA – D.N 21/12/2013;
PIETRO MIGUEL VIANA - D.N 10/06/2014;
LEIA FERREIRA DOS SANTOS - D.N 04/08/2011;
LUIZA HELENA BECKER GONÇALVES MEDEIROS - D.N
18/02/2015;
ELLEN CAROLINA BECKER GONÇALVES MEDEIROS - D.N
18/02/2015;
LEONARDO DA SILVA DOS SANTOS - D.N 23/06/2011.

A Recomendação também foi encaminhada à Secretaria Municipal de


Saúde para fins de ciência, tendo a mesma se manifestado à disposição para
articular estratégias com a equipe da Diretoria de Assistência Social para
cumprimento do esquema vacinal das crianças em questão.

Os motivos pelos quais tais crianças foram acolhidas


institucionalmente podem ser consultados nos processos individuais em trâmite
perante esse Juízo, porém, é importante ressaltar que se tratam de inúmeras
negligências praticadas por seus responsáveis que culminaram na sua retirada

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deste meio nocivo para colocação em local seguro e saudável ao seu

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desenvolvimento, o que não está ocorrendo devido à conduta daquele que
deveria zelar pela vida e saúde dos mesmos, por esta razão, necessária a
intervenção do Poder Judiciário para adoção das providências cabíveis no
sentido de determinar a imediata imunização de todas as crianças acolhidas
institucionalmente na entidade ré, contra COVID-19.

II. DA LEGITIMIDADE ATIVA

Inquestionável a legitimação ativa do Ministério Público


para pugnar judicialmente pela defesa dos interesses difusos relativos à infância
e à adolescência, eis que como guardião da defesa da ordem jurídica e dos
interesses indisponíveis da sociedade, compete-lhe zelar pela fiel observância da
Constituição e das leis, defendendo os interesses de crianças e adolescentes,
sejam eles individuais, coletivos ou difusos.

Nesta seara, o Estatuto da Criança e do Adolescente


reconhece expressamente a possibilidade do Ministério Público ajuizar a
competente ação civil pública, buscando tutelar os interesses relacionados à
criança e ao adolescente, conforme se constata do disposto no artigo 208, inciso
I e 210, ambos da Lei n° 8.069/90.

É função do Ministério Público, de acordo com o Estatuto


da Criança e do Adolescente, no seu art. 201, VIII: “zelar pelo efetivo respeito
aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes,
promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis.”

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Destarte, vem o Ministério Público, valendo-se de um

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dever-poder, propor a presente Ação Civil Pública, a fim de garantir o direito
pleno à saúde e vida das crianças acolhidas institucionalmente.

III. DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

Não há dúvida que a competência absoluta para o processo


e julgamento desta causa é da Vara da Infância e da Juventude.

Com efeito, o artigo 148, inciso IV, do Estatuto da Criança


e do Adolescente (Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990), estabelece que:

“Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é


competente para:
[…]
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses
individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao
adolescente, observado o disposto no art. 209;”

O artigo 209, por seu turno, dispõe que “as ações previstas
neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a
ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa,
ressalvada a competência da Justiça Federal e a competência originária dos
Tribunais Superiores.”

Vale dizer, apenas a competência da Justiça Federal e dos

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Tribunais Superiores prefere a da Vara da Infância e da Juventude. Destarte, a

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análise dos artigos em questão demonstra com segurança a competência absoluta
em razão da matéria do Juízo da Infância e da Juventude.

IV. DA FUNDAMENTAÇÃO

Tendo em mira as diretrizes dos documentos


internacionais garantidores dos direitos infantojuvenis, notadamente a
Convenção sobre os Direitos da Criança de 1950, a Constituição da República
de 1988 contemplou a doutrina da proteção integral, segundo a qual às crianças
e aos adolescentes devem ser asseguradas todas as necessidades de um ser
humano para o pleno desenvolvimento de sua personalidade.

Com efeito, pela mencionada doutrina da proteção


integral, são resguardados aos menores de idade, à vista da peculiar condição de
pessoas em fase de desenvolvimento biopsicossocial, direitos e garantias
específicos, além daqueles que são a todos assegurados.

O escopo maior da Constituição Federal é preservar todos


os direitos inerentes ao ser humano, com especial atenção aos direitos afetos à
infância e juventude, pois tratam-se de direitos subjetivos que visam o completo
e sadio desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social de crianças e
adolescentes, preservando-se, assim, sua dignidade e liberdade.

O Constituinte também não deixou de fazer expressa


referência àquele direito fundamental quando tratou da “Doutrina da Proteção

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Integral à Criança e ao Adolescente”, dispondo no art.227, caput, de nossa

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Carta Magna que:

“Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.” (grifo acrescido)

A integridade física, moral, o respeito e a dignidade de


crianças e adolescentes também devem ser protegidos da simples ameaça de
lesão, até porque, nesta fase, considerando a condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento, a lesão certamente acarreta prejuízo maior. Tal lição se extrai
dos artigos 17 e 18 da Lei n° 8.069/901.

Ainda, visando a proteção dos direitos de crianças e


adolescentes, determina o Estatuto da Criança e do Adolescente:

“Art. 15. - A criança e o adolescente têm direito à


liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas

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“Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral
da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores,
ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.”

“Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.”

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humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos

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de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.”

Assim, considerando que dentre os direitos assegurados à


proteção das crianças e adolescentes encontra-se a saúde, e para concretização
desse direito, pressupõe-se o acesso aos serviços públicos (artigo 7º do ECA)
que deve ser executado, preferencialmente, mediante políticas públicas de
caráter preventivo (conforme artigo 198, inciso II da Carta Magna), com
destaque para os programas de imunização (vacinação) previstos na Lei Federal
6.259/75 (recepcionada pelo sistema constitucional estabelecido em 1988).

Sobre esta ótica, a ANVISA expediu a Resolução RE nº


4.678/20211 2 e o Comunicado nº 01/2021, aprovando a indicação da vacina
Pfizer/Comirnaty para imunização contra COVID-19 em crianças de 5 a 11
anos, bem como recomendando que “as crianças com idade entre 5 e 11 anos em
risco de desenvolver a forma grave da COVID-19 devem ser consideradas como
grupo prioritário para vacinação”. Neste mesmo sentido, a Secretaria
Extraordinária de Enfrentamento à COVID-19 (SECOVID/MS) – órgão do
Ministério da Saúde, criado pelo Decreto nº 10.697/2021, responsável por
“definir e coordenar as ações do Plano Nacional de Operacionalização da
Vacinação relativas às vacinas COVID-19, no âmbito do Programa Nacional de
Imunizações”, emitiu a Nota Técnica nº 02/2022-SECOVID/GAB/MS3,
recomendando a inclusão da vacina Comirnaty, para a aludida faixa etária.

E para consolidar de vez o entendimento, em decisão


plenária unânime do STF, no RE 1.267.879/SP, julgado em 17/12/2020, do Rel.

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Min. Luís Roberto Barroso, na qual a imunização de crianças, quando

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recomendada pelas autoridades sanitárias, após atestada a segurança e eficácia
da vacina, é considerada legalmente uma providência essencial à saúde/vida e,
portanto, inquestionavelmente, direito fundamental da criança e dever da
família, da sociedade e do Estado e fixou a seguinte tese: É constitucional a
obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de
vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa Nacional de
Imunizações, ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei ou (iii)
seja objeto de determinação da União, Estado, Distrito Federal ou Município,
com base em consenso médico-científico. Em tais casos, não se caracteriza
violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou
responsáveis, nem tampouco ao poder familiar.

Assim, resta devidamente caracterizada a necessidade de


vacinação dos acolhidos, sob pena de risco a saúde deles e até de morte, bem
como, que o Ministério da Saúde e a ANVISA já atestaram a eficácia da vacina
em crianças, não há discussão, ainda mais por estudos aleatórios, sobre a
necessidade de vacinação das mesmas, desde que atingida a faixa etária e,
portanto, cabe a adoção das providências necessárias para providenciar a
imediata imunização dos acolhidos, sem considerar a vontade ou interesses do
coordenador da entidade ré.

V. DA TUTELA DE URGÊNCIA

Dispõe o art. 300 do Código de Processo Civil que “A


tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do

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processo”.

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Tal previsão encontra respaldo no art. 213, §1º do Estatuto
da Criança e do Adolescente:

“Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento


de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a
tutela específica da obrigação ou determinará
providências que assegurem o resultado prático
equivalente ao do adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, é
lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após
justificação prévia, citando o réu.”

Outrossim, estabelece o art. 12 da Lei da Ação Civil


Pública (Lei Federal n.º 7.347/85) que: “poderá o juiz conceder mandado
liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”.

Com efeito, a presença da probabilidade do direito está


evidenciada através das inúmeras normas constitucionais e infraconstitucionais
que consagram à criança e ao adolescente a proteção integral dos seus direitos
com absoluta prioridade, em especial, o direito à saúde, sendo absolutamente
injustificável a omissão do réu em providenciar a imunização das crianças
acolhidas institucionalmente, acarretando aos menores graves prejuízos à saúde
e vida. Encontra-se fartamente demonstrado ainda, através da flagrante violação
aos direitos das crianças, os quais por se encontrarem inseridos em programa de

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acolhimento institucional encontram-se em acentuada situação de risco (artigos

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98 e 101, inciso VII, do ECA), notadamente nos tempos atuais de pandemia,
uma vez que a estrutura destas unidades favorece, em muito, os riscos de
contágio, considerando o número de crianças e adolescentes em um mesmo
local, a alta rotatividade das equipes que favorecem o contato com o vírus.

Resta presente, também, o perigo de dano ou o risco ao


resultado útil do processo, visto que os fatos comprovam ser insustentável e de
extremo risco à vida não imunizar imediatamente as crianças institucionalizadas,
pois é da responsabilidade do Estado assegurar o bem estar e a saúde desses
infantes, nos termos do artigo 227, CF/88 e artigos 4º, 92, §1º e 94, incisos I e
IX, da Lei 8.069/90, haja vista que se encontram sob guarda do Estado, a qual é
exercida na pessoa do dirigente da entidade, que desenvolve o programa de
acolhimento, que por determinação legal equipara-se ao guardião, para todos os
efeitos de direito (artigo 92, §1º do ECA).

Resta crível que a entidade ré tem violado os direitos dos


acolhidos, pois é responsabilidade do dirigente da entidade de acolhimento,
enquanto guardião, promover os direitos das crianças e adolescentes sob sua
guarda, notadamente o direito à vida, à saúde e à educação, o que evidentemente
tem faltado.

Em face disso, o Parquet entende ser imprescindível a


concessão de medida liminar inaudita altera pars – como forma de remoção do
ilícito e abstenção de prática ilegal – para que se determine que a entidade
promova imediatamente o encaminhamento de EMANUEL SHOSEK DE
OLIVEIRA, CLAIR NEVES DA SILVA, GABRIELLA DE SOUZA

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PETRESCU, VITÓRIA GABRIELE FELIX HUBNER, VITOR GABRIEL

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FELIX HUBNER, NATAN DE SOUZA PEREIRA, PIETRO MIGUEL
VIANA, LEIA FERREIRA DOS SANTOS, LUIZA HELENA BECKER
GONÇALVES MEDEIROS, ELLEN CAROLINA BECKER GONÇALVES
MEDEIROS e LEONARDO DA SILVA DOS SANTOS para que tomem a
primeira dose da vacina contra a COVID-19.

Por fim, deve ser fixada multa diária no valor de R$


1.000,00 (mil reais) em caso de descumprimento e não apresentação de
comprovantes da vacina em prazo a ser fixado pelo Juízo.

VI. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO


ESTADO DO PARANÁ requer o que segue:

1) A concessão de medida liminar inaudita altera


pars, determinando que a ré promova imediatamente o encaminhamento de
EMANUEL SHOSEK DE OLIVEIRA, CLAIR NEVES DA SILVA,
GABRIELLA DE SOUZA PETRESCU, VITÓRIA GABRIELE FELIX
HUBNER, VITOR GABRIEL FELIX HUBNER, NATAN DE SOUZA
PEREIRA, PIETRO MIGUEL VIANA, LEIA FERREIRA DOS SANTOS,
LUIZA HELENA BECKER GONÇALVES MEDEIROS, ELLEN CAROLINA
BECKER GONÇALVES MEDEIROS e LEONARDO DA SILVA DOS
SANTOS para que tomem a primeira dose da vacina contra a COVID-19, sob
pena de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) em caso de
descumprimento e não apresentação de comprovantes da vacina em prazo a ser

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PROJUDI - Processo: 0012020-43.2022.8.16.0030 - Ref. mov. 1.1 - Assinado digitalmente por Marcelo Camargo de Almeida
10/05/2022: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ
15ª Promotoria de Justiça de Foz do Iguaçu
__________________________________________________
fixado pelo Juízo;

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJLWG RACPD XLDX6 DVLMU


2) Seja a presente ação recebida, autuada e processada na
forma e no rito preconizado, com a citação da ré, na pessoa de seu representante
legal, para, querendo, apresente resposta à presente demanda e produzir as
provas que tiver em sua defesa, na forma da Lei Processual Civil;

3) Seja o presente feito instruído e julgado com a mais


absoluta prioridade, conforme estabelece o art. 227, caput, da Constituição
Federal, arts. 4º, caput e par. único, alínea “b” e 152, par. único, da Lei nº
8.069/90 e itens 2.3.2.1, 2.3.2.2 e 5.2.7, do Código de Normas da Corregedoria
Geral de Justiça do Estado do Paraná;

4) A produção de todas as provas admitidas em direito,


especialmente inquirição de testemunhas, juntada de documentos e laudos que
se fizerem necessários;

5) A dispensa do pagamento de custas, emolumentos e


outros encargos, nos termos do art. 18, da Lei Federal nº 7.347/85;

6) seja aplicada a multa prevista no artigo 249 do ECA em


face da entidade ré, tendo em vista o descumprimento doloso dos deveres da
guarda, mesmo após devidamente orientado pela Recomendação Administrativa;

7) A procedência dos pedidos, confirmando-se a liminar


concedida, para efeito de se compelir a ré a proceder o encaminhamento de
todos os acolhidos, mesmo aqueles que vierem a ser acolhidos no futuro e não
apresentarem vacinação completa contra a COVID-19, para tomarem todas as
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PROJUDI - Processo: 0012020-43.2022.8.16.0030 - Ref. mov. 1.1 - Assinado digitalmente por Marcelo Camargo de Almeida
10/05/2022: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial

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doses preconizadas pelo Ministério da Saúde e ANVISA, fixando-se para isto

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prazo para o seu cumprimento, bem como cominação de sanção pecuniária, para
o caso de descumprimento no prazo estipulado, nos termos do artigo 11 da Lei
nº 7.347/85;

Por fim, dispensa-se realização de audiência de conciliação, eis


que a demanda envolve direito individual indisponível, que não é passível de
composição, razão pela qual o ato processual citado seria desnecessário, não
havendo interesse da parte autora em eventual audiência conciliatória a ser
designada pelo Juízo.

Dá à causa, para efeitos fiscais, o valor de R$ 1212,00


(novecentos e cinquenta e quatro reais), eis que de valor inestimável.

Foz do Iguaçu, 10 de maio de 2022.

(assinatura eletrônica)
Marcelo Camargo de Almeida
Promotor de Justiça

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