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3ª Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Feira de Santana - BA 


 
AUTOS: 1001104-31.2017.4.01.3304
CLASSE: AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (64)
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (PROCURADORIA)
REU: EVERALDO OLIVEIRA CALDAS, JACQUELINE SILVA DO BOMFIM

  

SENTENÇA

I.

Trata-se de ação civil pública por ato de improbidade administrativa ajuizada pelo
Ministério Público Federal em face do  ex-prefeito do município de Elísio Medrado/BA,
Everaldo Oliveira Caldas, e da ex-Secretária de Saúde do município supra, Jacqueline Silva
do Bonfim.

Alega o requerente, em suma, que fora instaurado inquérito civil n. 1.14.004.000121/2014-


84, no qual se apurou a  malversação  das verbas públicas federais  do Fundo Nacional de
Saúde - FNS - pelos demandados, e irregularidades em procedimento licitatório (Tomada
de Preços nº 11/2012)  realizado  pelo município de Elísio Medrado/BA, para reforma e
ampliação das Unidades Básicas de Saúde, no exercício de 2012, por ocasião da gestão do
então prefeito, Everaldo Oliveira Caldas.

Sustenta o MPF que houve indícios de violação ao caráter competitivo da licitação e


apropriação indébita de recursos do Fundo Nacional de Saúde - FNS, referentes ao
Programa de Requalificação de Unidades Básicas de Saúde.

Assim, pugna pela condenação dos réus nas penas do art. 10, caput, e artigo 11, inciso I, da
Lei de Improbidade Administrativa, sendo que, subsidiariamente, postula a aplicação das
penas previstas do art. 12, inciso III, do mesmo diploma legal.

Para lastrear a sua pretensão, junta as peças do inquérito civil n°  1.14.004.000121/2014-
84.

A União manifestou não ter interesse em ingressar no feito (4437216).

Os demandados foram notificados, tendo a acionada, Jacqueline Silva do


Bonfim,  apresentado manifestação (49996480), alegando, preliminarmente, a inépcia da
petição inicial, em razão da ausência de individualização de condutas dos requeridos. No
mérito, pugnou, em suma, pela inexistência de ato de improbidade, e, subsidiariamente,
pela  ausência de dolo na conduta. Por fim, arguiu exorbitância no valor da causa,
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requerendo sua  retificação.  Já o acionado Everaldo Oliveira Caldas,  deixou transcorrer  in


albis o prazo do art. 17, § 7º, da Lei 8429/92 (209517855).

Em juízo de prelibação, as preliminares foram afastadas, a inicial recebida e determinado o


prosseguimento do feito (217533887 - Decisão).  

Em sede de contestação, a ré Jacqueline Silva do Bonfim  requereu  assistência judiciária


gratuita e impugnou o valor da causa. Preliminarmente, sustentou a ausência de descrição
dos fatos; vagueza e inespecificidade das imputações. No mérito, pugnou pela rejeição dos
pedidos, ante ausência da comprovação de conduta dolosa (743593477 - Contestação).

Já  o réu  Everaldo Oliveira Caldas requereu  assistência judiciária gratuita,  defendeu a
existência de litisconsórcio passivo necessário e impugnou o valor da causa. No
mérito,  sustentou  a rejeição dos pedidos, em razão de ausência de improbidade
administrativa, de prejuízo ao erário e de dolo (758145505 - Contestação (01 Defesa
Everaldo ACP 1001104 31.2017)).

Réplica às contestações (786509967 - Petição intercorrente).

Na fase de especificação de provas, o Ministério Público pugnou pelo julgamento


antecipado da lide.

A requerida Jacqueline Silva do Bonfim, em razão da Lei 14.230/2021, sustentou  a


improcedência da ação, com base no art. 17, § 11, da LIA; subsidiariamente, a extinção do
feito  sem resolução do mérito (884967556 - Petição intercorrente (Manifestação
superveniente !).

Autos conclusos.

É o relatório.

II.

Inicialmente, cumpre registrar a inexistência de inépcia da petição inicial, já que a petição


inicial narra suficientemente as condutas supostamente praticadas por cada réu, de forma a
permitir a fruição do direito de defesa.

Quanto à concessão da AJG requerida pelos réus, a atividade pública outrora exercida por
estes  não sugere  a insuficiência econômica justificadora da concessão da gratuidade da
justiça, além de não haver nos autos documentação que comprove o atendimento aos
requisitos para a concessão da justiça gratuita.

Além disso, a preliminar de litisconsórcio passivo necessário deve ser afastada, conforme
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.

Afasto também a alegada incorreção do valor da causa, já que, nos termos do art. 212, II, do
CPC, o valor da causa deve refletir o valor total do ato tido por  fraudulento, no caso,  R$
443.743,87, oriundos da contratação da JANAÚBA CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO LTDA
através da Tomada de Preços n. 11/2012 (3964155  p. 3/20).

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Em relação ao mérito, inicialmente, cumpre registrar que inexiste controvérsia acerca do


repasse de verbas ao município de Elísio Medrado/BA - 3964203 p. 35.

Assim, resta a este juízo analisar a efetiva prática de ato de improbidade por parte dos
requeridos.

Neste particular, restou comprovado, através da documentação acostada, notadamente do


Inquérito Civil n° 1.14.004.000121/2014- 84, quanto à requalificação das Unidades Básicas
de Saúde –  dos Postos de Saúde do Serrote (R$ 107.490,00), do Alto São José (R$
121.995,00), do Tabuleiro de Pedra Branca (R$ 112.425,00) e de Souza Peixoto (R$
108.000,00), o repasse de 20% (vinte por cento) da totalidade do valor liberado, ou seja R$
89.982,00, em 26/06/2012 (UBS Ampliação -  3964164  p. 16), os quais foram
posteriormentes transferidos da CC 19888-9 para a CC 18543-5 e sacados contra recibo na
mesma data, ou seja, em 18/07/2012, pela ré  Jacqueline do Bonfim Farias, conforme se
comprova pela documentação acostada do IC (3964164  p. 8/22 e 3964174 - Documento
Comprobatório (IC 1.14.004.000121 2014 84 Volume I Parte 03)).

Apesar de a requerida ter impugnado os recibos de saque, pela baixa qualidade da


digitalização, é possível identificar, pela similaridade das assinaturas, bem como dos dados
elencados (3964174 - Documento Comprobatório (IC 1.14.004.000121 2014 84 Volume I
Parte 03)  - p. 3, 13, 21, 29, 37 e  45), que os valores foram sacados pela demandada
Jacqueline, que subscreveu os aludidos documentos, tornando-se desnecessária, portanto,
a prova pericial.

Além disso, o relatório de auditoria do DENASUS, datado de 11/06/2013, demonstra que as


obras de ampliação dos quatro postos de saúde sequer haviam sido  iniciadas (Constatação
n. 263151 -  3963986  p. 10), fatos que comprovam a não utilização devida dos recursos
repassados pelo Fundo.

A respeito das irregularidades apontadas pelo Ministério Público e devidamente


identificadas nos autos, tais como: a) ausência de publicação do extrato da Tomada de
Preços 11/2012 no Diário Oficial da União; b)  participação de apenas uma empresa no
certame, em razão da restrição indevida à publicidade; c) utilização de certidões com prazo
de validade expirado pela empresa JANAÚBA CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO LTDA, as
quais foram irregularmente admitidas; d) ausência de comprovação da divulgação do
resultado da licitação e do extrato  do contrato, observa-se que, em conjunto com as
evidências já descortinadas, ou seja, de saques "na boca do caixa" e ausência de início das
obras, permite-se concluir pela comprovação dos fatos narrados na inicial.

Nos casos que envolvem a prática de atos ímprobos, assim como no direito penal, o
elemento subjetivo nem sempre é de fácil verificação. Isso porque as intenções
normalmente situam-se no pensamento, no íntimo das pessoas, e ali permanecem. Assim, o
dolo é aferido através de processo lógico, em razão das circunstâncias objetivas
comprovadas no caso concreto. 

Entretanto, no caso dos autos, a atuação dolosa dos réus é de simples constatação, na
medida em que as evidências levantadas apontam para a simulação de procedimento
licitatório, levada a efeito pelo ex-gestor, bem como pelo saque indevido de valores efetuado
pela ex-secretária municipal de saúde. 

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A despeito da alteração da tipificação apresentada na petição inicial, em razão da


superveniência da Lei 14.230/2021, o enquadramento segue permitido, pois demonstrada
nos autos a efetiva perda patrimonial do ente público:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas
no art. 1º desta Lei, e notadamente:         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)

[...]

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para


celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente,
acarretando perda patrimonial efetiva;       (Redação dada pela Lei nº 14.230, de
2021) 

Ainda em razão da alteração legislativa, o art. 12, II, da Lei 8.429/92 passou a cominar as
seguintes sanções: 

Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano patrimonial, se efetivo, e das


sanções penais comuns e de responsabilidade, civis e administrativas previstas na
legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a
gravidade do fato:        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)

[...]

II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao
patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos
direitos políticos até 12 (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano
e proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais
ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos;        (Redação dada pela Lei
nº 14.230, de 2021)

A proibição de contratar com o Poder Público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais


ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos, não guarda pertinência com o caso, por não
haver notícias de os requeridos exercerem atividade empresária. Fica também afastada a
pena de bens ou valores, por não haver prova de enriquecimento ilícito.

Por fim, as sanções devem ser proporcionais à participação/importância dos réus no


processo causal, sendo a reprovabilidade da conduta do ex-gestor diferenciada em razão de
se tratar do então chefe do Poder Executivo.

III.

Ante o exposto, acolho os pedidos para: 

condenar  EVERALDO OLIVEIRA CALDAS pela prática do ato de improbidade


administrativa que causa lesão ao erário (art. 10, VIII, da Lei 8.429/92), aplicando-
lhe as cominações de pagamento de multa civil, equivalente ao valor do dano, ou seja,
R$ 89.982,00 (oitenta e nove mil novecentos e oitenta e dois reais), em valores
históricos; suspensão dos direitos políticos, pelo prazo de 06 (seis) anos; 

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condenar JACQUELINE SILVA DO BOMFIM pela prática do ato de improbidade


administrativa que causa lesão ao erário (art. 10, VIII, da Lei 8.429/92), aplicando-
lhe as cominações de pagamento de multa civil, equivalente a 20% (vinte por cento)
do valor do dano, ou seja, R$ 17.996,40 (dezessete mil novecentos e noventa e seis
reais), em valores históricos; suspensão dos direitos políticos, pelo prazo de 03 (três)
anos;. 

Condeno os réus, ainda, solidariamente, ao ressarcimento ao FNS da importância de R$


89.982,00 (oitenta e nove mil novecentos e oitenta e dois reais), com correção monetária e
juros de mora, estes a partir da citação, na forma do Manual de Cálculos da Justiça Federal,
sem prejuízo do disposto no § 6º do art. 12 da Lei 8.429/92.

Arcarão os réus com o pagamento das custas processuais.

Sem honorários de sucumbência. 

Intimem-se. 

Após a certificação do trânsito em julgado: 

1. intimar os réus para pagamento das custas processuais, no prazo de 15 (quinze) dias, a
contar da intimação, nos termos do art. 16 da Lei n. 9.289/96; 

2. intimar o MPF para requerer o que for do seu interesse, em 15 (quinze) dias;

3. comunicar ao Tribunal Regional Eleitoral da Bahia, acerca da suspensão dos direitos


políticos dos réus, através do Infodip;

4. proceder ao cadastramento do nome dos réus  no Cadastro Nacional de Condenados


por Ato de Improbidade Administrativa e por Ato que implique Inelegibilidade –
CNCIA no sítio do Conselho Nacional de Justiça – CNJ na internet, nos termos da
Resolução 44/2007.

Feira de Santana/BA, data e hora registradas no sistema.

[assinatura eletrônica]
Juiz(a) Federal

Assinado eletronicamente por:


MARCEL PERES DE OLIVEIRA
17/10/2022 09:17:52

http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam

ID do documento:
1352405268

22101015054651300001340895451

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