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ESPÉCIE: Representação
DOCUMENTO: Relatório de Instrução nº 109/2021
FASE: Única
PROCESSO N°: 27133/2021-0
ENTE: Município de Saboeiro
UNIDADE JURISDICIONADA: Prefeitura Municipal
RESPONSÁVEIS: Sr. Marcondes Herbster Ferraz, Sra. Gabriella Romeyk Braga de Castro
Cavalcante e Sra. Maria Iranilda Leite
INTERESSADO: F. DENILSON F. DE OLIVEIRA EIRELI (CNPJ no 22.523.994/0001-63)
EXERCÍCIO: 2021
EMENTA. Fase Única. Representação. Prefeitura Municipal de
Saboeiro. Pedido de medida cautelar. Revogação do certame.
Proposta de encaminhamento: arquivamento dos autos e ciência
aos interessados.
1. INTRODUÇÃO
2. HISTÓRICO PROCESSUAL
2. Após o protocolo dos autos nesta Corte, a Relatoria do processo coube ao Conselheiro
Substituto David Matos que, mediante o Despacho no 01054/2021 (seq. 16), determinou a oitiva prévia
do Prefeito de Saboeiro, da Secretária de Saúde e da Presidente da Comissão de Licitação, com base
no art. 21-A da Lei Estadual no 12.509/1995 (LOTCE), concedendo o prazo de 5 (cinco) dias úteis para
que se pronunciassem acerca do fatos levantados pelo representante e encaminhassem cópia integral
do certame.
4. Ato contínuo, foi emitida a Certidão de Acompanhamento de Prazo no 24729/2021 (seq. 58) e,
por fim, os autos foram encaminhados a esta Diretoria de Fiscalização de Atos de Gestão II para
análise, mediante o Despacho no 01094/2021 (seq. 59).
3. EXAME DE ADMISSIBILIDADE
5. Em juízo de admissibilidade, vê-se que a Representação, ora sob análise, tem amparo na Lei nº
8.666/1993, que estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos relativos a obras,
serviços, compras, alienações e locações na esfera dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios.
6. Em especial, o teor do § 1º, art. 113, da referida lei federal, confere legitimidade à empresa
requerente para formular a presente demanda, in verbis:
SEÇÃO III
APURAÇÃO DE DENÚNCIAS E REPRESENTAÇÕES
Art. 6º Os processos utilizados para a apuração de denúncias e representações serão
compostos pelas seguintes espécies:
(…)
II – representação: processo autuado com a finalidade de apurar possíveis
ilegalidades ou irregularidades praticadas na gestão de recursos públicos sujeitos à
fiscalização do TCE/CE, identificadas e comunicadas por meio das Unidades
Técnicas, do Ministério Público Especial que atua junto ao Tribunal, dos Órgãos de
Controle Interno, em cumprimento ao § 1º, do art. 74 da Constituição Federal, da
Assembleia Legislativa, das Câmaras Municipais e do Ministério Públicos Estadual,
dos outros órgãos, entidades ou pessoas que detenham essa prerrogativa por força de
lei específica, dos agentes públicos que tiveram conhecimento em virtude do exercício
do cargo, emprego ou função; ou de qualquer pessoa física ou jurídica quando a
irregularidade for na aplicação das normas gerais de licitação e contratação da
administração pública. (…).
8. Registre-se ainda que, a exemplo dos requisitos intrínsecos exigidos para que a Denúncia seja
acolhida, conforme o art. 57, da Lei Orgânica deste Tribunal de Contas, abaixo transcrito, a
Representação, por analogia, deverá, também, seguir tais preceitos regimentais visando a assegurar a
sua admissibilidade processual.
10. Desta feita, esta Unidade Técnica prossegue com a presente instrução processual.
4. EXAME TÉCNICO
11. A empresa representante informa que foi inabilitada do certame sob o fundamento de que havia
apresentado atestado de capacidade técnica desacompanhado de notas fiscais, o que seria em seu
entendimento uma desclassificação equivocada por suposto descumprimento da cláusula 7, “E”,
parágrafo primeiro do edital (seq. 10, fl. 15).
12. O representante alega que não lhe foi dado direito de defesa, pois sua manifestação de interesse
em apresentar recurso foi indeferido sem fundamentação, tendo sido argumentando pelo Pregoeiro que
a intenção seria apenas protelatória e a empresa, ao participar da licitação, havia concordado com todas
as cláusulas do Edital (seq. 12).
13. No entendimento da empresa, o argumento do Pregoeiro não seria suficiente, pois se assim
fosse, não haveria necessidade de existir direito de recurso, pois “todos que participassem de licitação
automaticamente estariam aceitando todas as barbaridades que, porventura, viessem a acontecer no
decorrer do certame”, também afirma que a intenção da empresa não seria protelatória, estando
fundamentada na tese que seria usada no recurso, que a exigência era ilegal.
14. Aponta que, de acordo com os itens 9.2 e 9.2.1 do Edital, caberia o Pregoeiro analisar a
existência de motivação e admissibilidade do recurso, mas não entrar no mérito, portanto a comissão
do pregão não teria agido de boa-fé e com razoabilidade. Informa também que, apesar dos fatos
narrados, a empresa protocolou suas razões de recurso junto à Prefeitura Municipal de Saboeiro, mas
não obteve resposta
15. Continua discorrendo sobre a exigência ilegal do edital de exigir que o atestado de capacidade
técnica viesse acompanhado de notas fiscais, contrariando o art. 30 da Lei no 8.666/93 e a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ, do Tribunal de Contas da União – TCU, bem
como julgados do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará – TJ-CE e outras Cortes estaduais,
transcritas na petição inicial.
16. Levanta que, caso houvesse dúvida quanto a fidedignidade do documento apresentado pela
empresa, a comissão deveria ter feito diligência e solicitado as referidas notas fiscais, conforme
previsto no item 19.3 do Edital, mas não poderia exigir os documentos fiscais para fins de habilitação,
por não haver previsão legal para tal.
17. Conforme argumentado pelo representante, a Lei de Licitações prevê, em seu art. 30, a
necessidade de apresentação de atestado de capacidade técnica, mas não há previsão de que venha
acompanhado de notas fiscais, portanto, ainda que exista a exigência no edital, esta seria indevida,
entendimento em consonância com a jurisprudência apresentada nos autos.
18. O representante alega também que a decisão de inabilitar a empresa se pauta em formalismo
extremo, sendo desarrazoada e desproporcional, novamente transcrevendo jurisprudência, bem como
entendimento da doutrina, para corroborar a afirmação.
19. Aponta que a exigência de notas fiscais no Edital poderia até mesmo comprometer a
competitividade do certame, ressaltando que “as exigências do edital devem estar voltadas à seleção
da proposta mais vantajosa, sem, no entanto, restringir injustificadamente a competitividade”.
20. Também reforça que “é irregular a exigência de notas fiscais junto ao atestado de capacidade
técnica para fins de habilitação, tendo em vista que esta exigência não está contemplada no rol
taxativo constante do art. 30 da Lei 8.666, de 1993”.
21. Finaliza afirmando estarem presentes o fumus boni juris e o periculum in mora, requisitos
necessários a concessão de medida cautelar e requer, in verbis:
representação;
f) após o regular processamento do feito, caso confirmadas as irregularidades
apontadas, e na impossibilidade de declarar habilitada esta empresa, que seja
determinado aos gestores do município de Saboeiro que promovam a anulação do
PREGÃO ELETRÔNICO n.o 25.10.001/2021, e de todos os aotos dele decorrentes.
22. Como já mencionado neste Relatório de Instrução, o Sr. Marcondes Herbster Ferraz, Prefeito
de Saboeiro/CE, a Sra. Gabriella Romeyk Braga de Castro Cavalcante, Secretária de Saúde, e a Sra.
Maria Iranilda Leite, Presidente da Comissão de Licitação, apresentaram sua manifestação em
conjunto (seq. 22 a 57), na qual informam a revogação do Pregão Eletrônico nº 25.10.001/2021, tendo
anexado o Termo de Revogação e suas publicações (seq. 57, fls. 8-13), e requerem o arquivamento do
processo.
25. Registre-se que, de acordo com os autos, a referida revogação foi fundamentada nos critérios
estabelecidos pelo art. 49 da Lei nº 8.666/1993 e na Súmula no 473 do Superior Tribunal Federal,
considerando a necessidade de incluir um novo recurso através de nova portaria, destinados à
aquisição de equipamentos odontológicos para o Município de Saboeiro.
26. Quanto à irregularidade/impropriedade verificada, esta unidade técnica entende que a relação
de documentos de habilitação presente nos artigos 27 a 31 da Lei n o 8.666/93 é taxativa. Sobre a
matéria, segue jurisprudência do TCU:
27. Sendo assim, esta Diretoria sugere que seja dada ciência aos responsáveis sobre a ocorrência da
irregularidade, para que, em futuros certames, se abstenham de exigir, para fins de habilitação,
documentos que não estejam previstos no rol taxativo constante dos artigos 27 a 31 da Lei n o 8.666/93,
prática considerada ilegal.
28. Portanto, diante dos documentos e informações trazidos pelos gestores do Município de
Saboeiro, esta Unidade Técnica entende pela perda do objeto da medida cautelar requestada,
aplicando-se ao caso a regra prevista no art. 28 – A, da Lei nº 12.509/1995 (LOTCE), in verbis:
5. CONCLUSÃO
29. Ante o exposto, a Diretoria de Fiscalização de Atos de Gestão II, no uso de suas atribuições
regulamentares, em especial ao disposto no inciso IV, do § 2º, do art. 91 do Regimento Interno, ressalta
que o presente documento reúne o conteúdo examinado neste processo e corresponde à opinião da unidade
técnica sobre a matéria, a qual conclui:
6. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
30. No ensejo, submete ao juízo deliberatório do Relator competente, sugerindo, de acordo com os
fatos, argumentos, dados e evidências apresentados, que:
c) no mérito:
c.1 a presente Representação seja considerada Procedente, nos termos do art. 3º, inciso III, da
Resolução Administrativa TCE-CE nº 07/2021;
c.2 seja dada ciência, nos termos da Nota Técnica SECEX no 05/2019, ao Sr. Marcondes Herbster
Ferraz, Prefeito de Saboeiro/CE, à Sra. Gabriella Romeyk Braga de Castro Cavalcante, Secretária de
Saúde, e à Sra. Maria Iranilda Leite, Presidente da Comissão de Licitação, da ilegalidade de exigir, como
requisito para habilitação, documentos que não estejam previstos no rol taxativo constante dos artigos 27 a
31 da Lei no 8.666/93, de modo a evitar a repetição da falha identificada neste processo em futuros
certames promovidos pelo município;
c..3 sejam comunicados da decisão que vier a ser proferida por esta Corte de Contas os
responsáveis e interessados neste processo, bem como seus representantes legais devidamente
constituídos; e
c.4 seja arquivada a presente Representação, com fundamento no art. 28-A da Lei nº
12.509/1995.