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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE CAIEIRAS
FORO DE CAIEIRAS
1ª VARA
AVENIDA DR. ARMANDO PINTO, 360, Caieiras - SP - CEP 07700-175
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1003242-88.2021.8.26.0106 e código 8F2EC62.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1003242-88.2021.8.26.0106


Classe - Assunto Mandado de Segurança Cível - Garantias Constitucionais
Impetrante: Ggmix Caieiras Artefatos de Concreto Ltda
Impetrado: Gilmar Soares Vicente e outros

Tramitação prioritária

Juiz(a) de Direito: Dr(a). BRENO COLA ALTOÉ

Vistos.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por BRENO COLA ALTOE, liberado nos autos em 07/01/2022 às 10:39 .
Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por GGMIX CAIEIRAS
ARTEFATOS DE CONCRETO LTDA contra o Prefeito do Município de Caieiras e o
Secretário de Obras.
A impetrante alegou, em síntese, que é empresa do ramo de fabricação de
artefatos de cimento para uso na construção, constituída em 13/05/2021, tendo ingressado
com projeto de aprovação de construção civil em 21/06/2021.
Porém, em 02/08/2021, foi entregue na sede da empresa a Notificação nº
36022, para Gerson Moreira Romero, ex prefeito de Caieiras, “imediatamente paralizar a
edificação E apresentar projeto da mesma”, sob pena de multa e embargo.
Alega que o ato carece de embasamento legal, pois foi dirigida a pessoa não
integrante do quadro social da empresa, em contradição com a existência de pedido de
Alvará mediante protocolo de projeto de construção, e decorridos mais de 20 (vinte) dias
sem aprovação do projeto por embaraço da própria administração municipal, que
movimentou o processo nº 9119/2021 sem decisão conclusiva.
Afirma ainda que, diante da inexistência de deliberação de aprovação do
projeto de construção civil no prazo legal de 20 dias (art. 10 da Lei nº 274/1963) e por ter
atendido o comunique-se, prosseguiu com a edificação pretendida. Porém, em 21/10/2021,
outra Notificação de nº 36613 para apresentar licença da Cetesb, Projeto de Construção e
outros.
Diante dessa contrariedade, o Engenheiro da Impetrante compareceu ao
setor com documentos e esclareceu que não há movimentação de terra, nem terraplanagem,

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que já apresentou projeto de construção, inclusive com manifestação do Setor sobre a
licença ambiental. Entretanto, as autoridades coatoras determinaram a aplicação de multa,
que foi efetivada por meio do AIME nº 03942 de 21/10/2021, embora o processo
municipal nº 14018/21 que tratou do assunto somete tenha sido aberto no dia 22/10/2021.
Impetrante ter interposto recurso em 27/10/2021 contra a aplicação do
AIME nº 03942, as autoridades coatoras, em 05/11/2021, sem decisão do recurso
impetrado, ordenaram o EMBARGO E LACRAÇÃO da sede da empresa por meio do
AIME nº 03944.
Pleiteia, então, a anulação das notificações nº 36022 e 36613 e os Autos de

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Imposição de Multa e Embargo, sobretudo o AIME nº 03942 e o AIME nº 03944, e, por
via de consequência, levantar o embargo, garantir a continuidade das atividades da
empresa, a liberação do VRE nº SPP2130664627, e a conclusão da obra de construção civil
requerida e instruída no processo nº 9119/2021 por meio de projeto de aprovação. Juntou
documentos (fls. 14/52).
O Ministério Público apresentou parecer (fls. 57/58), declinando de intervir
no feito.
Foi deferida a tutela de urgência para suspender os AIMEs n. 03942 e 03944
e das notificações 36022 e 36613 até decisão final (fls. 59/60).
Os impetrados, apesar de notificados (fls. 72 e 75), não prestaram
informações.
Devidamente cientificada (fls. 63/64.), a Fazenda Pública Municipal
apresentou informações e defendeu a legalidade dos atos praticados (fls. 76/82). Juntou
documentos (fls. 83/289).
A impetrante manifestou-se a fls. 294/297, requerendo a decretação de
revelia e a concessão da segurança pleiteada.
É, em síntese, o relatório. Fundamento e decido.
A segurança deve ser denegada, pois, finda a instrução processual
simplificada do writ, não restou demonstrado o direito afirmado, nem tampouco a prática,
pelas autoridades, de ato revestido de ilegalidade ou de abuso de poder.
O artigo 5º, inciso LXIX, dispõe que o mandado de segurança será

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concedido para proteger direito líquido e certo.
Por sua vez, o artigo 1º da Lei 12.016/09 dispõe que o mandado de
segurança deve ser concedido para proteger direito líquido e certo, não amparado por
habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer
pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de
autoridade, seja de que categoria for, independentemente das funções que exerça.
Tais normas exigem que o direito a ser amparado se apresente com todos os
requisitos para seu reconhecimento e exercício no momento da impetração. Em última
análise, direito líquido e certo é direito comprovado de plano, ou seja, dotado de prova pré-

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constituída (documental) do seu suporte fático.
Além disso, a não apresentação de informações pela autoridade coatora não
enseja os efeitos da revelia porque, no mandado de segurança, o ônus da prova do direito
líquido e certo incumbe ao impetrante. E, no caso dos autos, a manifestação da pessoa
jurídica a qual vinculadas as autoridades coatoras (fls. 76/82) englobou tanto as
informações a serem prestadas por elas quanto a defesa do ato administrativo.
Com efeito, a impetrante sustentou a ilegalidade das notificações nº 36022 e
36613 e dos Autos de Imposição de Multa e Embargo nº 03942 e 03944, atos que
redundaram no embargo de sua obra, sob a alegação que a falta de licença de construção
foi acarretada pela própria municipalidade ao descumprir o prazo previsto no art. 10 do
Código Municipal de Obras.
Afirmou, ainda, que não há supressão de vegetação nem terraplanagem
como afirmado pelo Município na notificação.
Contudo, em que pesem as alegações da impetrante, nota-se que a autuação
teve amparo, em princípio, na situação fática identificada e na legislação vigente.
Primeiro, apesar de a impetrante afirmar que o Município descumpriu o
prazo de 20 dias úteis para análise do projeto de construção, previsto no artigo 10, da Lei
274/1963, o que lhe conferiria o direito de prosseguir com a obra, não foi demonstrada nos
autos a comunicação prévia exigida:
ARTIGO 10 - O prazo máximo para aprovação do projeto é de 20 dias
úteis, a contar da entrada do requerimento no protocolo da Prefeitura. Se
findo este prazo o interessado não tiver obtido solução para o seu
requerimento, poderá dar início à construção, mediante Comunicação

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prévia à Prefeitura; com obediência às prescrições deste Código,
sujeitando se a demolir o que tiver sido feito em desacordo.

No caso, conforme documentos apresentados pelo Município, o projeto não


ficou simplesmente sem análise, tendo sido exigidas providências complementares por
parte do impetrante, como apresentação de novos documentos.
Além disso, apesar de afirmar ter cumprido com os “Comunique-se”, não
demonstrou a impetrante o cumprimento das exigências apontadas pelos órgãos municipais
para prosseguimento do processo administrativo.
Ainda, o fato de a primeira notificação ter sido endereçada a Gerson Moreira

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Romero, ex-prefeito de Caieiras, em vez de constar o nome da impetrante, foi justificada
por se tratar do proprietário do terreno, e não constitui circunstância que impede o
exercício dos direitos da impetrante frente à municipalidade.
Quanto à questão ambiental mencionada, o relatório de fiscalização
ambiental de fls. 237/269 demonstra efetivamente a existência de movimentação de terras e
terraplanagem no local, além da supressão de vegetação próxima ao Rio Juquery, bem
como outras infrações ambientais, o que motivou a exigência da apresentação das licenças
ambientais.
Também fora constatado pelo Município que o projeto apresentado para
aprovação não contemplava a supressão de vegetação, a movimentação de terras e a
construção de silos que foram constatados apenas na fiscalização in loco.
Apesar de a impetrante afirmar ser inexistente tais fatos, as fotografias
apresentadas pelo Município no relatório de fiscalização indicam a legalidade dos atos
administrativos questionados (fls. 240/245 e 255/268).
Logo, diante de tal quadro, somente se poderia cogitar de concessão da
segurança se, por meio da prova exclusivamente documental, única admitida, o impetrante
tivesse logrado demonstrar, cabalmente, os fatos constitutivos de seu direito, bem como a
ilegalidade das condutas da administração, o que não se verificou.
O material apresentado pela impetrante não se prestou a essa finalidade,
enquanto os documentos apresentados pelo impetrado indicam a legalidade dos atos
praticados, sendo, de outra banda, inviável a produção de provas adicionais.

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Ademais, a título de reforço, os atos impugnados, por consubstanciarem
típicos atos administrativos, revestem-se de presunção relativa de legitimidade e
veracidade, que somente cede diante da prova segura de sua impropriedade, prova não
apresentada.
Em suma, não se identificando ilegalidade a ser corrigida, e não havendo
mais argumentos aptos a, em tese, infirmar o sentido desta decisão, sem prejuízo da
renovação da discussão em outra ação, dotada de cognição plena, a denegação da ordem se
impõe.
Ante o exposto, DENEGO a segurança pleiteada, revogando a tutela de

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urgência concedida às fls. 59/60, e dou por extinto o processo, com resolução do mérito.
Suportará a parte vencida as custas, descabida a imposição de verba
honorária.
P. I., arquivando-se oportunamente.

Caieiras, 07 de janeiro de 2022.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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