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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO COORDENADOR DO CENTRO

JUDICIÁRIO DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS E CIDADANIA – CEJUSC - DA CAMARCA DE


GOVERNADOR VALADARES/MG.

PROCEDIMENTO Nº: 5011911-91.2022.8.13.0105

SARAH SODRE CROT, devidamente qualificada nos autos do procedimento em


epígrafe, não se conformando com a sentença cujo registro de ciência da Autora no
sistema eletrônico (PJE) se deu na data dia 24/08/2022, vêm, tempestiva e
respeitosamente perante este Douto Juízo, por meio das procuradoras regularmente
constituídas, com arrimo nos artigos 1.003, § 5º, 1.022, inc. I e parágrafo único inciso I
C/C art. 489 §1º, V, todos do NCPC, opor EMBARGOS DE DELARAÇÃO, a fim de suprir
pontos omissos, e pela excepcionalidade do caso, sejam-lhe imprimidos efeitos
modificativos, mediante as razões de direito adiante articuladas:

I. DA TEMPESTIVIDADE

Conforme dispõe o Código de Processo Civil em seu artigo 1.022 e seguintes, o prazo
para oposição de Embargos Declaratórios é de 05 (cinco) dias, vejamos:

Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo de 5(cinco)


dias, em petição dirigida ao juiz, com indicação do erro,
obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a
preparo.

Considerando, portanto, que a publicação da r.sentença que extinguiu o procedimento


sem julgamento do mérito, foi registrada pelo sistema eletrônico (PJE) em 24/08/2022,
tem-se como início do cômputo a data de 25 de agosto de 2022, (quinta feira), e,
encerra-se o quinquídio legal, nesta data, 31 de agosto de 2022. Portanto, considera-se
o presente recurso plenamente tempestivo.
II. DO CABIMENTO

A jurisprudência admite a utilização dos Embargos de Declaração para a correção de


defeitos decorrentes de erro de fato, quando o julgador se equivoca acerca de fato
relevante, podendo portanto ensejar na modificação equivocada da constante
Sentença de ID 9580903684, levando-se em consideração o princípio da celeridade
processual, introduzido pelo art. 5.º, LXXVIII, da CF, razão pela qual resta mais que
justificado o seu cabimento.

III. SINOPSE FÁTICA E PROCESSUAL

O presente procedimento, trata-se de ALVARÁ JUDICIAL, interposta pela Embargante


para a liberação dos valores residuais oriundos do benefício de auxílio doença,
percebidos pela sua mãe, Sra. ELIANA LOPES SODRÉ, falecida em 01/12/2020.

Em 24/08/2022, ID. 9580903684, o MM. Magistrado proferiu r.sentença, que extinguiu


o feito sem resolução de mérito, por ter reconhecido a incompetência do CEJUSC para
dirimir a questão, no seguinte teor:

Trata-se de procedimento de ALVARÁ JUDICIAL requerido por


SARAH SODRE CROT, o qual objetiva levantar o saldo remanescente
do benefício previdenciário percebido pela de cujus, com os devidos
acréscimos legais.
A certidão de óbito de ID 9464046533 demonstra que a de cujus
deixou bens a inventariar, cujo inventário tramita perante a 5ª Vara
Cível desta comarca sob o n° 5003782-34.2021.8.13.0105.
A respeito do CEJUSC, verifica-se que:
A Resolução nº 125/2010, com alteração da Emenda nº 01/2013,
ambas do Conselho Nacional de Justiça, implementou a criação dos
Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC).
Os CEJUSCs tratam de reclamações pré-processuais e de processos
judiciais; cabendo a mediação e a conciliação, visando a solução de
conflitos de forma simplificada e célere.
A possibilidade de atuação do CEJUSC abrange várias matérias, como
por exemplo: divórcio, alimentos, reconhecimento de paternidade,
desapropriação, inventário, partilha, guarda de menores, acidente de
trânsito, dívidas em bancos e etc.
Por outro lado, existem algumas matérias que não podem ser
tratadas no CEJUSC, como os casos mais complexos que necessitam
de instrução, perícia, oitivas de testemunhas, avaliação judicial, etc.
No caso dos autos, vislumbra-se manifesta violação aos critérios de
competência no ato de ajuizamento desta demanda, pois conforme
art. 173, §2º, do Provimento n° 355/2018 do TJMG, em casos de
existência de inventário ou arrolamento, o requerimento do alvará
deverá ser juntado nos próprios autos, o que foge da competência
do CEJUSC, in verbis:
§ 2º Em caso de existência de inventário ou de arrolamento, o
requerimento do alvará formulado por inventariante, herdeiro ou
sucessor deverá ser juntado aos próprios autos, vedada a sua
distribuição e observado o disposto no art. 349 deste Provimento.
Ante o exposto, reconheço a incompetência do CEJUSC para dirimir a
questão, tendo em vista clara afronta à instrução normativa presente
no Código de Normas da CGJ-MG, sugerindo-se à parte interessada o
ajuizamento de demanda perante a Justiça Comum, nos autos do
próprio inventário supramencionado.
Após as formalidades legais, arquive-se o presente procedimento.
Sem custas, na forma da lei.
Publique-se. Registre-se. Intime-se. Cumpra-se. (G.N)

Contudo, data vênia, houve erro de fato na decisão proferida, haja vista que a
fundamentação da decisão não demonstrou a pertinência no presente caso, além do
mais, o direito pleiteado no presente auto foi deferido em outro nas mesmas
condições, em procedimento de n° 5011912-76.2022.8.13.0105.

Deste modo, não restou alternativa a Embargante senão a oposição dos presentes
embargos de declaração, devendo a mesmo ser reformada, com base nas razões bem
delineadas a seguir:

IV. DO MÉRITO

IV.1. DO ERRO DE FATO

Conforme se verifica a r.sentença de ID 9580903684 pautou-se estritamente na regra


procedimental do art. 173, §2º, do Provimento n° 355/2018 do TJMG, sendo extinto pela
incompetência do CEJUSC para dirimir acerca de pedido de alvará quando existente
Ação de Inventário envolvendo as mesmas partes em curso na Justiça Comum.

Todavia, a aplicação da norma jurídica tem vetores interpretativos que não podem ser
ignorados na hora de interpretar e aplicar o direito.

Na presente norma processual supracitada, o legislador ao criar o instituto da


prevenção visa evitar decisões conflitantes.

Ocorre que, na presente demanda, a titularidade do direito é pessoal, pois a de cujus,


Sra. Eliana Lopes Sodré, gozava de benefício previdenciário auxílio-doença quando veio
a falecer, deixando 03 (três) filhos, sendo a Embargante, menor na ocasião e única
beneficiária, não havendo que se falar, portanto, em possibilidade de decisões
conflitantes, tendo em vista que os demais herdeiros não fazem jus ao benefício de
auxílio-doença.

Segundo o artigo 16 do Decreto nº 3048/1999:


Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na
condição de dependentes do segurado:
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não
emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos
ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o
torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado
judicialmente; (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011) (G.N.)

Dispõe também o art. 624, caput, da IN n. 128/2022 e o art. 165 do Decreto n.


3.048/1999, que diz:

Art. 624. O valor devido até a data do óbito e não recebido em vida
pelo segurado será pago aos seus dependentes habilitados à pensão
por morte, independentemente de inventário ou de arrolamento.

O valor residual a que se deva receber, não se trata de um bem pessoal deixado pela de
cujos, que deve ser discutido sua partilha em processo de inventário, mas o pagamento
residual previdenciário e a materialização de um direito já assegurado ao dependente.

Além do mais, o direito de receber o benefício é dado aos dependentes habilitados à


pensão por morte ou, na falta deles, aos sucessores, independentemente de inventário
ou arrolamento, conforme o artigo 624, §1°, da IN n° 128/2022, e artigo 165 do
decreto n°3.048/1999.

Sendo assim, encontram-se presentes os requisitos para reforma da sentença, tendo


em vista que a Embargante sempre esteve habilitada como única dependente de sua
mãe no processo administrativo de pensão por morte, como se pode verificar:
Neste sentido, requer que seja declarado o erro de fato, levando em consideração que
a fundamentação da decisão não demonstrou a pertinência presente no presente
procedimento, conforme artigo 489 §1º, V, do CPC.

IV.2. DA CONTRADIÇÃO

Consta da sentença, ora embargada, na parte dispositiva, que o processo fora extinto,
sem julgamento de mérito pela incompetência do CEJUSC para dirimir à questão, por
suposta afronta à instrução normativa 173, §2º, do Provimento n° 355/2018 do TJMG.

Por outro lado, no procedimento de n° 5011912-76.2022.8.13.0105, tendo as mesmas


partes da sentença embargada e pedidos semelhantes, foi julgado procedente o alvará.

Consta-se, sem qualquer hesitação, a existência de contradição interna corporis no


desiderato do decisum enfrentado.

V – DOS PEDIDOS

Diante do exposto, motivado pelos efetivos elementos dos autos e das normas que
regem a matéria, requer que os presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO sejam
CONHECIDOS E ACOLHIDOS, imprimindo-lhes efeito modificativo, para que seja
reformada a r. sentença, suprindo o erro de fato e a contradição, tendo em vista que a
fundamentação da decisão não demonstrou a pertinência no presente procedimento.

Nesses termos,

Pede deferimento

Governador Valadares/MG, 29 de agosto de 2022.

Halda Lilian Sathler Vidal Otoni Aline Moreira Brasileiro

OAB/MG 99711 OAB/MG 172.574

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