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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 63533 - SP (2020/0113213-4)

RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER


RECORRENTE : ERIVONALDO EDUARDO DA SILVA
ADVOGADOS : TATIANA FREIRE DE ANDRADE DIOGENES ALVES -
SP158339
FERNANDO DIOGENES ALVES SANTOS - SP412867
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

DECISÃO

Trata-se de recurso ordinário em mandado de segurança interposto por


ERIVONALDO EDUARDO DA SILVA, contra v. acórdão proferido pelo eg.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, nos autos do Mandado de Segurança n.
2232818-26.2019.8.26.0000.

Depreende-se dos autos que o recorrente insurgiu-se contra ato do d. Juízo de


Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de Santo Amaro/SP, que embora tenha
determinado a baixa do nome do recorrente dos sistemas de informações, tal medida não
foi implementada e ainda consta dos resultados de consulta pública por terceiros.

Inconformado, impetrou o referido mandado de segurança perante o eg.


Tribunal de origem, que julgou prejudicada a impetração, nos termos do v. acórdão de fls.
83-88, assim ementado:

"Mandado de Segurança - Pleito de determinação de


expedição de ofícios ao Distribuidor e ao IIRGD para a exclusão
definitiva de anotação criminal envolvendo o Impetrante - Providencia
já adotada pelo MM. Juízo a quo - Impetração prejudicada."

Opostos embargos de declaração, foram rejeitados, nos termos do v. aresto de


fls. 100-107:

"Embargos de declaração - Alegação de 'omissão' -


Inocorrência, R. decisum que se lastreou em todos os elementos de
prova amealhados aos autos e analisou a tese aventada no mandado de
segurança - Caráter meramente infringente - Impossibilidade -
Rediscussão de mérito que não deve ser realizada nesta via recursal -
Prequestionamento - Desnecessidade de menção expressa aos textos da
lei em que se baseia o Acórdão - Prequestionamento Implícito -

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: sexta-feira, 26 de junho de 2020


Documento eletrônico VDA25889682 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
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Embargos rejeitados."

Daí o presente recurso ordinário, no qual afirma, em breve síntese, que após
cumprir condições impostas e período de prova de revogação condicional de processo
com o qual foi beneficiado, nos termos do art. 89 da Lei n. 9.099/1995, sem revogação,
foi declarada extinta a sua punibilidade, com expedição dos devidos ofícios para baixa
das anotações em nome do recorrente.

Alega que, entretanto, seu nome ainda consta de registros públicos, os quais
podem ser acessados, violando sua vida privada e intimidade, sendo que o recorrente
possui o direito líquido e certo a que os dados sejam excluídos dos cadastros do IIGRD e
dos sistemas dos cartórios de distribuição.

Aduz que qualquer pessoa que tenha em seu ciclo de amizades um agente
público, pode ter acesso a essa informação e divulgar indevidamente.

Salienta que em virtude da sua atividade profissional é constantemente


abordado por policiais e tem que fornecer informações de sua vida pretérita, sendo
submetido a constrangimento desarrazoado.

Assevera que "se a existência dessas informações não é suficiente e nem pode
fundamentar o conceito de 'maus antecedentes' tanto pelo decurso do tempo como
porque não houve sentença penal condenatória, não é crível manter tais registros apenas
a pretexto de justificar a memória fática e integrar o acervo histórico do poder
judiciário" (fl. 120).

Requer, ao final, o conhecimento e provimento do recurso a fim de que "seja


dado provimento ao presente recurso ordinário constitucional determinando-se a
expedição de oficio ao Distribuidor junto ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
e ao Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt - IIRGD para a exclusão
definitiva da anotação aposta em nome do recorrente relativa ao feito discutido nestes
autos" (fl. 124).

Não houve pedido liminar.

Contrarrazões do Parquet estadual às fls. 127-129.

Despacho de admissibilidade à fl.131.

O Ministério Público Federal, às fls. 141-145, manifestou-se pelo


desprovimento do recurso, em parecer assim ementado:

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"RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. PEDIDO DE EXCLUSÃO DE DADOS RELATIVOS AO
PROCEDIMENTO CRIMINAL EM QUE O ORA RECORRENTE TEVE
EXTINTA A SUA PUNIBILIDADE. IMPOSSIBILIDADE. REGISTOS
QUE COMPROVAM FATOS E SITUAÇÕES JURÍDICAS.
INFORMAÇÕES PROTEGIDAS PELO SIGILO, MAS DISPONÍVEIS
AO PODER JUDICIÁRIO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E
CERTO A SER AMPARADO PELO MANDAMUS. PELO
DESPROVIMENTO DO RECURSO."

É o relatório.

Decido.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Em síntese, pleiteia e Defesa a exclusão definitiva da anotação aposta em


nome do recorrente, relativa ao feito passado, dos sistemas do eg. Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt - IIRGD, à
alegação de inviolabilidade da vida privada do recorrente.

Com efeito, o eg. Tribunal a quo julgou prejudicado o Mandado de


Segurança impetrado na origem, ao argumento de que o d. Juízo responsável pelo
processo noticiou que já havia sido expedido ofício aos órgãos para devida exclusão nos
termos legais, em decisão assim fundamentada (fls. 85-88 - grifei):

"A meu ver a impetração encontra-se prejudicada.


Isso porque, o pleito de determinação de “expedição de ofício ao Distribuidor
e ao IIRGD para a exclusão definitiva da anotação aposta em nome do IMPETRANTE”
já foi cumprido.
Consta da certidão de fls. 61, destes autos, acostada juntamente com as
informações do MM. Juízo a quo, que:

“CERTIFICO E DOU FE, que tendo em vista que os autos encontram-se


indisponíveis na presente data para nova solicitação de desarquivamento (fls. 45/50),
cumpre-me informar à Vossa Excelência que de acordo com a base de dados do SAJ-
PG5 e SAG-SGC, a parte encontra-se baixada (fls. 53/54) e o processo extinto (fls.
55/56), consequentemente para fins civis, caso seja solicitada nova certidão
de distribuição, o apontamento se dará como NADA CONSTA. Nos termos do art. 926
das Normas da Corregedoria.
Vale ressaltar, que quando da migração da base de dados da Prodesp para o
SAJ no ano de 2005, todos os processos foram ativados, sendo que desde então a baixa
da parte e a extinção do processo, tem sido feito manualmente pelos cartórios, na medida
em que as partes solicitam, o que foi feito nos presentes autos em 21/10/19.
No tocante às anotações junto ao IIRGD, verifica-se que esta também já foi

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providenciada, conforme FA de fls. 57/58, onde consta a anotação de extinção da
punibilidade ocorrida em 11/03/2004, conforme determina o art. 393 das Normas da
Corregedoria:
Art. 393. O ofício de justiça obrigatoriamente comunicará ao IIRGD, para as
anotações cabíveis, juntamente com a qualificação completa do acusado: I - o
recebimento ou rejeição da denúncia ou da queixa; II - o aditamento da inicial; III a
inclusão, nas denúncias, de pessoas não indiciadas nos inquéritos policiais e nos autos
de prisão em flagrante delito; IV - a não inclusão, nas denúncias, de pessoas indiciadas
nos inquéritos policiais e nos autos de prisão em flagrante delito; V - o desfecho do
inquérito ou da ação penal (arquivamento, absolvição, extinção da punibilidade,
condenação, etc); VI - a suspensão do processo, nos termos do art. 366 do Código de
Processo Penal; 1 Prov. CGJ 01/2019. 2 Prov. CGJ 01/2019. 3 Prov. CGJ 01/2019. 4
Prov. CGJ 01/2019. 5 Prov. CGJ 2/2001. 6 Prov. CGJ 2/2001. VII - a homologação de
transação realizada no Juizado Especial Criminal, para o fim de cumprir o disposto no
art. 76, § 2º, II, da Lei nº 9.099/1995, bem como o seu desfecho; VIII - a suspensão do
processo, a revogação ou extinção da punibilidade, previstas no art. 89 da Lei nº
9.099/1995; IX o cumprimento do mandado de prisão quando se der no ato da audiência
admonitória;1 X a prisão informada pelo juízo do cumprimento do mandado de prisão,
nos termos do § 3º do art. 289-A do Código de Processo Penal, na hipótese da
deprecação prevista no art. 289 do Código de Processo Penal.2 § 1º As comunicações
serão individualizadas, referindo-se a cada acusado isoladamente. § 2º A comunicação
referida no inciso I deste artigo poderá, se for o caso, ser substituída pelo ofício de
requisição da folha de antecedentes dirigido ao IIRGD, que contém os mesmos dados a
respeito do réu e da ação penal.3 § 3º A comunicação referida no inciso VII deste artigo
somente constará na folha de antecedentes judicialmente requisitada, mantendo-se a sua
exclusão nas certidões expedidas para efeitos civis”. (Destaquei).
No mais, por oportuno, consigno que o simples fato do registro criminal do
Impetrante constar no sistema do “IIRGD” e em outros sistemas “não-judiciais”, não
viola nenhum direito constitucionalmente garantido, tendo em vista que esses dados
são sigilosos, não passíveis de consulta pelo público em geral.
Em outras palavras, a existência de informações sobre os antecedentes
criminais do Impetrante nos sistemas considerados “não judiciais” não lhe podem
causar prejuízo de fato de modo a afetar sua vida em qualquer esfera, pois elas não são
abertas ao público, sendo que somente o Estado terá esse registro e somente o acessará
se necessário.
Nesse sentido, ressalte-se que o acesso de informações por pessoas não
habilitadas constitui violação a direito, passível de aplicação de punição para quem o
transgrida a fim de se evitar abusos.
Note-se que o art. 20, parágrafo único, do Código de Processo Penal dispõe
que: “Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não
poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os
requerentes”.
Além desse dispositivo, outros também garantem proteção às informações ora
questionadas.
Portanto, não haveria que se falar em violação a direito líquido e certo.Ante
do exposto, pelo meu voto, julgo prejudicada a impetração."

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Na r. decisão integrativa dos embargos de declaração, o eg. Tribunal de
orgiem esclareceu que (fls. 102-105 - grifei)

"Não prospera o inconformismo quanto à alegada 'omissão', pois, restou


evidente no v. Aresto que o simples fato do registro criminal do Impetrante constar no
sistema do "IIRGD", e em outros sistemas "não judiciais", tal como os sistemas
policiais, não viola nenhum direito constitucionalmente garantido, tendo em vista que
esses dados são sigilosos.
Foi ressaltado expressamente, inclusive, que o acesso de informações por
pessoas não habilitadas constitui violação a direito, passível de aplicação de punição
para quem o transgrida a fim de se evitar abusos.
Em outras palavras, a pretensão do Impetrante ora embargante de exclusão
de informações referentes a processo criminal a ele relacionado junto às Polícias e ao
Judiciário não é cabível, não havendo qualquer fundamento legal que justifique sua
pretensão.
As informações presentes nos sistemas dos órgãos do Estado, tal como nos
Policiais e do Judiciário, repita-se, não podem causar prejuízo de fato de modo a afetar
a vida do embargante em qualquer esfera, já que somente aqueles autorizados pelo
próprio Estado é que terão direito às informações.
No mais, conforme foi registrado na certidão de fls. 61, a qual foi transcrita
no v. Acórdão embargado, a pretensão do Impetrante de ver seu registro criminal
apagado para fins extrajudiciais foi totalmente cumprida, motivo pelo qual o writ foi
julgado prejudicado.
Nesse sentido, não há falar em "acesso relativizado" das informações para
fins extrajudiciais. A meu ver, data venia, não que se falar que o acesso a uma certidão
do distribuidor criminal é um "acesso relativizado". Por óbvio, em toda certidão criminal
solicitada, constará a anotação referida na impetração, sendo que apenas nas certidões
solicitadas para fins civis é que nada constará.
Ou seja, em certidões criminais, Folhas de Antecedentes, sistemas Policiais e
afins, sempre constará a anotação criminal em desfavor do ora embargante. Por outro
lado, a aludida informação não estará presente em nenhuma certidão emitida para fins
civis.
O simples fato de o registro criminal do impetrante constar no sistema do
IIRGD" e em outros sistemas "não-judiciais", não viola nenhum direito
constitucionalmente garantido, tendo em vista que esses dados são sigilosos, não
passíveis de consulta pelo público em geral.
A existência de informações sobre os antecedentes criminais do impetrante
nos sistemas considerados "não judiciais" não lhe podem causar prejuízo de fato de
modo a afetar sua vida em qualquer esfera, pois elas não são abertas ao público,sendo
que somente o Estado terá esse registro e somente o acessará se necessário.
O art. 20, parágrafo único, do Código de Processo Penal dispõe que: "Nos
atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá
mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os
requerentes".
A exclusão definitiva dos registros implicaria na impossibilidade de

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recuperação destes, o que seria inadmissível, visto que referidos dados são
imprescindíveis para o atendimento de requisições judiciais que visam a formar a
convicção do Magistrado sobre a vida pregressa do pesquisado."

Acerca do tema, no que tange à reabilitação criminal, dispõe o art. 93 do


Código Penal que "A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença
definitiva, assegurando ao condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e
condenação."

Na mesma esteira, o art. 748 do Código do Processo Penal determina que "A
condenação ou condenações anteriores não serão mencionadas na folha de antecedentes
do reabilitado, nem em certidão extraída dos livros do juízo, salvo quando requisitadas
por juiz criminal."

Dessarte, deve o Poder Judiciário impedir que o público em geral tenha


livre acesso aos registros penais do reabilitado, desses não podendo nem a autoridade
policial nem os serventuários da justiça fornecer certidão ou atestado senão quando
requeridos pela autoridade judicial.

No caso dos autos, em que se trata de suspensão condicional do processo e


que foram cumpridas as condições impostas, bem como transcorrido o período de prova
sem revogação, sendo declarada extinta a punibilidade, se mostra ainda mais imperativo
que se tome as devidas providências para preservar a dignidade e a intimidade do
requerente.

Ademais, esta Corte Superior de Justiça tem entendimento sedimentado, há


tempos, que, por analogia ao que dispõe o art. 748 do Código do Processo Penal,
é assegurado ao reabilitado o sigilo das condenações criminais anteriores na sua folha de
antecedentes, devendo ser excluídos dos terminais dos Institutos de Identificação
Criminal os dados relativos a inquéritos arquivados e a processos em que tenha
ocorrido a reabilitação do condenado, a absolvição do acusado por sentença penal
transitada em julgado, ou tenha sido reconhecida a extinção da punibilidade do
acusado pela prescrição da pretensão punitiva do Estado, de modo a preservar a
intimidade do mesmo.

Nesse sentido, os seguintes precedentes:

"CRIMINAL – ROMS – PROCESSO ARQUIVADO PELA


INVIABILIDADE DA AÇÃO PENAL - CANCELAMENTO DE
REGISTRO NA FOLHA DE ANTECEDENTES – RECURSO
PROVIDO.

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I – É legítima a pretensão do recorrente que teve o processo
a que respondia arquivado por requerimento do próprio Parquet, em
razão da inviabilidade da ação penal, e pretende sejam apagados de
sua folha de antecedentes quaisquer referências ao referido processo,
visando a evitar prejuízos futuros.
II – Recurso provido para que sejam canceladas as
anotações relativas ao processo criminal, na folha de antecedentes da
recorrente." (RMS 9.879/SP, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, DJU
de 03/06/2002).

"ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.


Antecedentes criminais. Sentenças penais absolutórias e inquéritos
policiais arquivados. Sigilo de registros. Exclusão dos dados do
instituto de informação.
- Se o Código de Processo Penal, em seu artigo 748,
assegura ao reabilitado o sigilo de registro das condenações criminais
anteriores, é de rigor a exclusão dos dados relativos a sentenças
penais absolutórias e inquéritos arquivados dos terminais de Instituto
de Identificação, de modo a preservar as franquias democráticas
consagradas em nosso ordenamento jurídico.
- Recurso ordinário provido. Segurança concedida." (RMS
9.739/SP, 6ª Turma, Rel. Min. Vicente Leal, DJU de 28/05/2001).

"MANDADO DE SEGURANÇA. ANTECEDENTES


CRIMINAIS. REABILITAÇÃO COM TRANSITO EM JULGADO.
NOME INCLUÍDO NOS TERMINAIS DO INSTITUTO DE
IDENTIFICAÇÃO. ACESSO AS INFORMAÇÕES. SIGILO DOS
REGISTROS. VIOLAÇÃO A DIREITO DO CIDADÃO. SEGURANÇA
CONCEDIDA.
CONDENAÇÕES ANTERIORES NÃO SERÃO
MENCIONADAS NA FOLHA DE ANTECEDENTES DO
REABILITADO, NEM EM CERTIDÃO EXTRAÍDA DOS LIVROS
DO JUÍZO, SALVO QUANDO REQUISITADO POR JUÍZO
CRIMINAL.
A REABILITAÇÃO ALCANÇA QUAISQUER PENAS
APLICADAS EM SENTENÇA DEFINITIVA, ASSEGURANDO AO
CONDENADO O SIGILO DOS REGISTROS SOBRE SEU PROCESSO
E CONDENAÇÃO.
O LIVRE ACESSO AOS TERMINAIS DO INSTITUTO
DE IDENTIFICAÇÃO FERE DIREITO DAQUELES
PROTEGIDOS PELO MANTO DA REABILITAÇÃO. IMPÕE-SE,
ASSIM, A EXCLUSÃO DAS ANOTAÇÕES DO INSTITUTO,
MANTENDO-SE TÃO SOMENTE NOS ARQUIVOS DO PODER
JUDICIÁRIO." (RMS 5.452/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Hélio

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Mosimann, DJU de 12/02/96).

Por outro lado, não se pode olvidar que as informações devem ser
preservadas, para eventual acesso do Juízo criminal, nas hipóteses previstas pela
legislação penal e processual penal em vigor, não havendo que se falar em exclusão
definitiva dos dados, mas apenas na devida restrição ao acesso pelo público em geral.

Nesse sentido, os seguintes precedentes desta Corte:


"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
REGISTRO DE DADOS CRIMINAIS. MANUTENÇÃO PELO INSTITUTO
DE IDENTIFICAÇÃO. SIGILOSIDADE. ARQUIVOS DE ACESSO
EXCLUSIVO VIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. INTELIGÊNCIA DO ART.
748 DO CPP.
1. É uníssono o entendimento do Superior Tribunal de Justiça
no sentido de que, "por analogia aos termos do art. 748 do Código de
Processo Penal, devem ser excluídos dos terminais dos Institutos de
Identificação Criminal os dados relativos a inquéritos arquivados, a ações
penais trancadas, a processos em que tenha ocorrido a reabilitação do
condenado e a absolvições por sentença penal transitada em julgado ou,
ainda, que tenha sido reconhecida a extinção da punibilidade do acusado
decorrente da prescrição da pretensão punitiva do Estado" (RMS
24.099/SP, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, Quinta Turma, DJe
23/6/08).
2. "Tais dados entretanto, não deverão ser excluídos dos
arquivos do Poder Judiciário, tendo em vista que, nos termos do art. 748
do CPP, pode o Juiz Criminal requisitá-los, de forma fundamentada, a
qualquer tempo, mantendo-se entretanto o sigilo quanto às demais
pessoas. (Precedente)" (RMS 19501/SP, Rel. Min. FELIX FISCHER,
Quinta Turma, DJ 1/7/05)
3. Agravo regimental desprovido" (AgRg no REsp
1361520/PA, Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe 19/02/2018,
grifei).

"RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA


- EXCLUSÃO DE INFORMAÇÕES SOBRE CONDENAÇÃO CRIMINAL
DO BANCO DE DADOS DO INSTITUTO DE IDENTIFICAÇÃO
RICARDO GUMBLETON DAUNT - IIRGD - ART. 748 DO CPP -
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE - CUMPRIMENTO DA PENA - DIREITO
À INTIMIDADE - ART. 202 DA LEP - PODER JUDICIÁRIO - ACESSO -
POSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA -
DILAÇÃO PROBATÓRIA - VEDAÇÃO - RECURSO ORDINÁRIO
DESPROVIDO.
1 - As Turmas que compõem a Eg. Terceira Seção entendem
que, "por analogia à regra inserta no art. 748 do Código de Processo
Penal, as anotações referentes a inquéritos policiais e ações penais não
serão mencionadas na Folha de Antecedentes Criminais, nem em certidão
extraída dos livros do juízo, nas hipóteses em que resultarem na extinção
da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva, arquivamento,
absolvição ou reabilitação." (RMS n. 29.423/SP, Rel.Ministra Laurita Vaz,

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5T, DJe 21.9.2011).
2 - É induvidoso o direito à preservação da privacidade e da
intimidade, no que toca à divulgação de informações daquele sobre o qual
recai o peso de uma condenação ou tão somente da obrigação de
comparecer perante o Estado para responder a um processo criminal,
mormente nos casos de extinção da punibilidade pela prescrição da
pretensão punitiva, arquivamento, absolvição ou reabilitação.
3 - Se até a reabilitação, ainda que não superado o prazo de
cinco anos para os fins de reincidência, previsto no art. 64, inc. I, do CP, é
capaz de conferir sigilo aos assentos penais do acusado, desses não
podendo nem a autoridade policial nem os serventuários da justiça
fornecer certidão ou atestado senão por força de requisição judicial, o
mesmo se dirá quanto aos casos de extinção da punibilidade pela
prescrição e, muito mais, quanto aos casos de absolvição ou, seja qual for
a motriz, de arquivamento de inquérito.
4 - Operada qualquer das hipóteses mencionadas, aparenta
vício de ilegalidade o livre acesso aos Terminais de Identificação por
agentes públicos que não o juiz criminal, visto que a Lei de Execuções
Penais, bem como o Código de Processo Penal, atentos à disciplina do
Código Penal, fixaram o caráter sigiloso das informações penais acerca do
reabilitado e daquele em favor de quem se tenha operado a extinção da
punibilidade.
5 - Somente o juiz criminal, e para certos e determinados
fins, a autoridade habilitada a determinar o acesso aos antecedentes
penais daqueles protegidos pelo manto da reabilitação, da absolvição ou
da extinção da punibilidade pela prescrição.
[...]
9 - Recurso ordinário a que se nega provimento." (RMS
38.920/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz DJe de
26/11/2013, grifei).

Ante o exposto, dou parcial provimento ao presente recurso para


determinar sejam excluídos os dados do recorrente dos terminais do Instituto de
Identificação Ricardo Gumbleton Dannt e de outros sistemas "não judiciais", ainda
que de órgãos policiais ou do Estado, mantendo-se apenas nos sistemas do Poder
Judiciário, resguardando-se o devido sigilo, podendo as informações serem fornecidas
tão somente por solicitação judicial, e nos termos legais.
P. I.
Brasília, 23 de junho de 2020.

Ministro Felix Fischer


Relator

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