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Poder Judiciário do Rio Grande do Norte

PJe - Processo Judicial Eletrônico

29/08/2023

Número: 0806807-68.2023.8.20.0000
Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO
Órgão julgador colegiado: Primeira Câmara Cível
Órgão julgador: Gab. Des. Dilermando Mota na Câmara Cível
Última distribuição : 07/06/2023
Valor da causa: R$ 1.320,00
Assuntos: Prestação de Serviços
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MARCLEY MONTEIRO DA SILVA EIRELI (AGRAVANTE) LAURIANO VASCO DA SILVEIRA (ADVOGADO)
MARCLEY MONTEIRO DA SILVA (AGRAVANTE) LAURIANO VASCO DA SILVEIRA (ADVOGADO)
ANA LUCIA MONTEIRO DA SILVA LIMA (AGRAVANTE) LAURIANO VASCO DA SILVEIRA (ADVOGADO)
S CANDIDO DA SILVA (AGRAVADO) ADEILSON FERREIRA DE ANDRADE (ADVOGADO)
EMERSON DE SOUZA FERREIRA (ADVOGADO)
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
NORTE (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data Documento Tipo
20313938 10/07/2023 Parecer Ministerial Outros documentos
18:20
7ª PROCURADORIA DE JUSTIÇA
Rua Promotor Manoel Alves Pessoa Neto, nº 97, Candelária, Natal
CEP: 59065-555, Telefone: (84) 99972-1082

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0806807-68.2023.8.20.0000


AGRAVANTES: Marcley Monteiro da Silva Eireli e outros
AGRAVADO: S Cândido da Silva
RELATOR: Desembargador Dilermando Mota

EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE


INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA. SENTENÇA.
INTERPOSIÇÃO DE APELAÇÃO CÍVEL. JUÍZO DE
RETRATAÇÃO. IRRESIGNAÇÃO. PRETENSÃO DE
ANULAÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. ALEGAÇÃO DE
RETRATAÇÃO EXTEMPORÂNEA. NORMA PROCESSUAL
TAXATIVA NO QUE DIZ RESPEITO AO PRAZO DE 05 (CINCO)
DIAS DA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO DE APELAÇÃO.
INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 485, § 7º, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. JUÍZO DE RETRATAÇÃO PROFERIDO FORA DO
QUINQUÍDIO LEGAL. COMPROVAÇÃO. NULIDADE DO
DECISUM QUE SE IMPÕE. PARECER PELO CONHECIMENTO
E PROVIMENTO DO RECURSO INSTRUMENTAL.

PARECER

I – RELATÓRIO

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por Marcley da Silva Eireli,


Marcley Monteiro da Silva e Ana Lúcia Monteiro da Silva em face de decisão interlocutória
proferida pelo Juízo de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca de Natal que, nos autos da Ação
Ordinária registrada sob o nº 0814041-46.2022.8.20.5106, proposta por S Cândido da Silva
(firma individual), por seu representante legal Severino Cândido da Silva, representado por sua
curadora Lúcia Monteiro da Silva, exerceu juízo de retratação, nos seguintes termos:

Isto posto:
I - Exerço o juízo de retratação, forte no art. 485, §7º, do CPC, para tornar sem
efeito a sentença proferida.
II - Extingo o feito, sem resolução do mérito em relação à ré HALLIBURTON
PRODUTOS LTDA e aos pedidos que guardam nexo ao contrato BR-LT-N-
2116 e seus aditivos, face ao reconhecimento da eleição da cláusula de
convenção de arbitragem, forte no art. 485, VII, do CPC, consoante motivação
anteriormente apontada.
III - Determino o processamento regular do feito em relação aos promovidos
MARCLEY MONTEIRO DA SILVA EIRELI, MARCLEY MONTEIRO DA

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SILVA e ANA LUCIA MONTEIRO DA SILVA LIMA, para fins de instrução e
julgamento dos pedidos constante nos itens C, D e F constante na exordial,
conforme aditamento de Id nº 86956502.
IV - Condeno à parte autora ao pagamento de honorários de sucumbência em
relação à ré HALLIBURTON PRODUTOS LTDA, os quais, atendidos os
parâmetros do art. 85, § 2º, do CPC, arbitro em 10% sobre o valor da causa,
suspensas, porém, nos termos do art. 98, §3ºdo CPC.
(...)

Em suas razões recursais (Id nº 19837056), aduz a parte agravante, em


síntese, que: (a) “a apelação fora interposta em 24/04/2023 (ID. 99007962) e a retratação
parcial se deu em 02/06/2023 (ID 101044483), 39 dias corridos e 28 dias úteis após a
interposição da Apelação. Também, 18 dias corridos e 14 dias úteis após as contrarrazões”; (b)
a decisão agravada viola o artigo 485, § 7º do Código de Processo Civil, o qual determina que o
juiz tem o prazo de 5 (cinco) dias para retratar-se após a interposição da apelação; (c) “não
houve sequer pedido de reconsideração da parte, embora pudesse ter sido feita a reconsideração
de ofício, desde que dentro do prazo legal”.

Por fim, pleiteiam a concessão de efeito suspensivo.


No mérito, pugnam pelo conhecimento e provimento do recurso, com a
anulação da decisão agravada e restabelecimento da sentença ou, subsidiariamente, “requer
prazo de 15 dias para apelar da decisão que excluiu a Halliburton do processo e manteve os
Agravantes, haja vista o teor de ser de sentença terminativa somente para uma das partes”.

Acostaram aos autos os documentos de Id nº 19837063 ao 19837069.

Na decisão de Id nº 19945563, o Desembargador Relator, deferiu o pleito “de


efeito suspensivo apenas para obstar os efeitos da decisão agravada”.

Devidamente intimada, a parte agravada apresentou contrarrazões ao recurso


(Id nº 20198393), pugnando, ao final, pela nulidade da decisão agravada “tendo em vista que
tal decisão se deu extemporaneamente, ante a inobservância do prazo estipulado no § 7º do art.
485 do CPC”, bem como “uma vez anulada a decisão de retratação (id. 101044483), requer a
remessa dos autos ao Tribunal para julgamento da Apelação interposta”.

Ato contínuo, os autos foram remetidos à Procuradoria-Geral de Justiça e,


por distribuição, vieram à 7ª Procuradoria de Justiça para receber parecer.

É o que importa relatar.

II – PRESSUPOSTOS RECURSAIS

O Agravo de Instrumento preenche os pressupostos recursais, motivos pelos


quais merece ser conhecido.

III – MÉRITO

Cinge-se o cerne recursal acerca do acerto ou desacerto da decisão que, em


juízo de retratação proferido após o decurso do quinquídio legal (previsto no artigo 485, §
7º, do Código de Processo Civil), reconheceu a existência de cláusula de arbitragem e

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extinguiu o feito sem resolução do mérito com fulcro no artigo 485, VII, do Código de
Processo Civil.

ASSISTE RAZÃO AOS RECORRENTES.

No ponto, vale ressaltar que o Código de Processo Civil veda a possibilidade do


magistrado alterar o tratamento já adotado para determinada questão, visando dar estabilidade ao
processo. Vejamos:

Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à


mesma lide, salvo:
I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação
no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do
que foi estatuído na sentença;
II - nos demais casos prescritos em lei.

Em relação especificamente a sentença, o mencionado diploma legal dispõe:

Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:


I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais
ou erros de cálculo;
II - por meio de embargos de declaração.

No entanto, há exceções legalmente previstas a tal preclusão (preclusão pro


judicato), sendo uma delas a admissão do juízo de retratação quando interposta apelação
diante de sentenças terminativas (sem resolução de mérito).

O artigo 485 do Código de Processo Civil prevê a possibilidade de juízo de


retratação, no prazo de 5 (cinco) dias, em caso de apelação interposta por uma das partes
contra a sentença prolatada, conforme § 7º, in verbis:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


(…)
§ 7º Interposta apelação em qualquer dos casos de que tratam os incisos deste
artigo, o juiz terá 5 (cinco) dias para retratar-se.

De modo a clarificar o acima exposto, trago à baila a doutrina de Nelson Nery


Júnior1:

“O dispositivo comentado confere ao juiz a oportunidade de retratação, em


cinco dias, caso se convença das razões expostas pelo apelante na impugnação
à sentença processual que extinguiu o processo sem resolução do mérito,
hipótese em que poderá modificar a sentença e determinar o regular
prosseguimento do feito ou, se for possível, proferir sentença com resolução do
mérito”

Assim, resta claro que é faculdade do juízo a quo retratar-se no prazo legal nas
hipóteses previstas em lei, tais como as arroladas nos incisos do art. 485 do Código de
Processo Civil.

1 Código de Processo Civil comentado [livro eletrônico] / Nelson Nery Junior, Rosa Maria de Andrade Nery. -- 3.
ed. -- São Paulo : Thomson Reuters Brasil, 2018.

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In casu, entendo não ser possível o juízo de retratação por parte do Juiz de
primeiro grau. Isso porque, conforme se vislumbra da movimentação do processo nº 0814041-
46.2022.8.20.5106, a sentença que extinguiu o feito sem resolução do mérito, nos termos do
artigo 485, VII, do Código de Processo Civil, foi prolatada em 17/04/2023 (Processo nº
0814041-46.2022.8.20.5106 - Id nº 98394203), disponibilizada do DJE em 25/04/2023.

Por sua vez, a apelação foi protocolada em 24/04/2023 (Processo nº 0814041-


46.2022.8.20.5106 - Id nº 99007962), tendo as contrarrazões sido apresentadas em
09/05/2023 (Processo nº 0814041-46.2022.8.20.5106 - Id nº 99887866) e 15/05/2023 (Processo
nº 0814041-46.2022.8.20.5106 - Id nº 100149675).

Nesse passo, O JUÍZO DE RETRATAÇÃO PELO JUIZ DE PRIMEIRO


GRAU FOI PROFERIDO APENAS EM 02/06/2023 (Processo nº 0814041-46.2022.8.20.5106
– Id nº 101044483), PASSADOS MAIS DE TRINTA DIAS DA INTERPOSIÇÃO DA
APELAÇÃO CÍVEL.

Desse modo, ULTRAPASSADO EM MUITO O PRAZO PREVISTO NA LEI,


INVIÁVEL O JUÍZO DE RETRATAÇÃO, DEVENDO OS AUTOS SUBIREM AO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA JULGAMENTO DO RECURSO DE APELAÇÃO.

Em caso análogo, colaciono o seguinte JULGADO DO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DE EXECUÇÃO. SENTENÇA DE EXTINÇÃO POR
AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS LEGAIS. JUÍZO DE RETRATAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.
HIPOSSUFICIÊNCIA CARACTERIZADA. DEFERIMENTO. Juízo
de retratação. Consoante entendimento exarado do § 7º do art. 485 do
NCPC, é possível o juízo de retratação nas hipóteses arroladas nos incisos
do mesmo artigo, no prazo de 05 dias, quando apresentado recurso de
apelação por uma das partes. Ainda, o art. 332, § 3º, do mesmo diploma legal,
também prevê a possibilidade de retratação, no mesmo prazo, nos casos de
julgamento improcedente da ação de maneira liminar. Hipóteses dos autos em
que a ação de execução foi extinta liminarmente por ausência de pressupostos
legais de desenvolvimento do processo. Interposto recurso de apelação, o
Magistrado singular realizou o juízo de retratação, faculdade que o Codex
Processual lhe garante. Todavia, tal juízo de retratação se encontra
manifestamente intempestivo, visto que realizado passados mais de dois
anos da extinção do feito. A norma processual é taxativa no que diz respeito
ao prazo de 05 dias da interposição do recurso de apelação. Assistência
Judiciária Gratuita - É de ser deferida a Assistência Judiciária Gratuita ao
litigante que comprova situação financeira compatível com o benefício
postulado. Comprovação de renda compatível com o patamar estabelecido, qual
seja 5 (cinco) salários mínimos nacionais. Possibilidade de concessão do
benefício. No caso em comento, os agravantes comprovaram estarem dentro dos
parâmetros supracitados, sendo o deferimento da benesse imperativo. Acerca da
AJG à Pessoa Jurídica, inexiste óbice à concessão dos benefícios da Lei nº
1.060/1950 à PJ, com ou sem fins lucrativos, conforme redação da Súmula nº
481 do STJ e do art. 98 do NCPC, mostrando-se imprescindível, no entanto, a
comprovação da impossibilidade de pagamento das custas e demais despesas

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processuais. Extrai-se dos autos que a parte agravante se encontra em processo
de liquidação extrajudicial, o que, por si só, não enseja a concessão do
benefício. Precedentes do STJ. No caso, os balancetes anuais juntados pela
parte, demonstram a impossibilidade de arcar com as custas e despesas
processuais. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. UNÂNIME.(Agravo
de Instrumento, Nº 70081786139, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman, Julgado em: 27-11-2019) –
Grifos acrescidos

Verifica-se, portanto, que não houve retratação no momento legalmente


previsto, ou seja, logo após a interposição do recurso. A AUSÊNCIA DE RETRATAÇÃO
DENTRO DO PRAZO DE CINCO DIAS, nos termos do § 7º, do artigo 485 do Código de
Processo Civil, ATRAI A INCIDÊNCIA DA REGRA GERAL DE VEDAÇÃO DE
ALTERAÇÃO DE ATO JURISDICIONAL JÁ REALIZADO.

Desse modo, deve ser PROVIDO O RECURSO INSTRUMENTAL declarando


a nulidade da decisão agravada.

IV – CONCLUSÃO

Ante todo o exposto, o 7º Procurador de Justiça, em exercício por convocação,


ENTENDE DEVA SER CONHECIDO E PROVIDO O RECURSO INSTRUMENTAL,
declarando a nulidade da decisão agravada.

Natal/RN, data e horário da assinatura eletrônica.

FÁBIO DE WEIMAR THÉ


7º Procurador de Justiça
EM EXERCÍCIO POR CONVOCAÇÃO
...

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