Você está na página 1de 14

2012.008051-7 .

' Tribunal
I dei<fàstiça
I mm j RIO GRANDE cb I�TE

* FL.M_T__
5
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça Ho Rio Grande do Norte
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota
'
i t

Juiz de Direito da 5� Vara Cível


da Comarca de Mossoró, que, Ação Revisional de n°
nos autos da
00161224920118200106, proposta em desfavor de Banco Panamericano S. A., julgou
improcedentes os pedidos iniciais.
Em suas razões, de fls. 89/116, o apelante alega que a taxa de
juros contratada é exorbitante, que a capitalização de juros reveste-se de prática ilegal.
■Aponta a ilegalidade da cobrança de comissão de permanência com outros encargos.
Discorre sobre a ilegalidade da cobrança das tarifas de: abertura de crédito e/ou cadastro e
taxa de pagamento de terceiros. .'
/

Ao final, requer o conhecimento e provimento do apelo,■ para


-1 ' � -
afastar a incidência de juros superiores a 12% �o ano. e capitalizados e para excluir as
I
I
tarifas abusivas descritas na inicial.
O apelado apresentou as contrarrazões' às fls. 125/135,

pugnando, em suma, pelo despróvimento do recurso.


Instado a se pronunciar, o Ministério Público, por intermédio
•i
da 14® Procuradoria de Justiça, considerando a inexistência de interesse público, deixou de
emitir opinião sobre a lide recursal.
É o relatório. Decido.
Com vistas a�-pfü�over a celeridade processual, a Lei n®
Tribunal de Justiça
RIO GRANDE DO NORTE

FL._
Poder Judiciário
- de
Tribunal Justiça do Rio Grandê do Norte
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota

9.756/98 alterou a redação original do art. 557 do Código de Processo Civil, permitindo ao
relator do recurso antecipar o entendimento do órgão colegiado, negando seguimento ou
provendo monocraticamente o recurso nas hipóteses que especifica. Vejamos:
~
Art. 557, O relator negará seguimento a recurso
manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou
em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante
do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de
� Tribunal Superior. (Redação dada pela Lei n® 9.756, de
17.12.1998) ,

§ lo-A Se a decisão recorrida estiver em maiufesto confronto


com súmula otí com jurisprudência dominante do Supremo
V Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá
dar provimento ao recurso, (incluído pela Lei n° 9.756, de
17.12.1998)

Comentando o alcance da norma, José Carlos Barbôsa


Moreira ensina:

"Alude o caput do art. 557 a quatro classes de recursos:


inadmissíveis, improcedentes, prejudicados, e contrários- à
súmula ou a à jurisprudência dominante do tribunal
competente para o julgamento, do Supremo Tribunal Federal
ou tribunal superior. O art. 38 da Lei n® 8.038 não falava em
recurso inadmissível: em vez do gênero., mencionava duas
espécies: recurso intempestivo e recurso incabível.
Nitidamente superior, no particular, desde� a Lei n° 9.139, é a
redação do dispositivo sob exame, que não deixa dúvi(|a
, sobre a respectiva incidência em quelquer caso de
inadmissibilidade (deserção, falta de legitimidade ou de
interesse em reCoirer etc) . "Improcedente" é o recurso
quando o recorrente carece de razão no mérito, isto é, quando
infundados os motivos por que impugna a decisão recorrida.
I Para os fins que ora se têm em vista, a lei equipara as
hipóteses de recurso inadmissível e de recurso infondado- ou
seja, respectivamente, de recurso do qual, se viesse a julgá-lo,
não deveria conhecer o colegiado, e de recurso a que este
deveria negar provimento. (Comentários ao Código de
Processo Civil, p. 684,15® edição/ano 2009)
No presente caso, a sentença recorrida confronta
\ 1 '
manifestamente a jurisprudência pacificada desta' Corte, o que autoriza o julgamento
2012.008051-7
-/O
Tribunal de Tumça
RIO GRANDE DoWum
FL. /V /
' Poder Judiciário .
.
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
'Gabinete do Desembargador Dilermando Mota

monocrático do presente recurso, na forma do art. 557 dò CPC


• ' Eni primeiro lugar, destaque-se que o Gódigo de Defesa do
Consumidor é aplicável às relaçõés entre as instituições financeiras e seus clientes,
conforme dispõe a Súmula n° 297 do Superior Tribunal de Justiça: "O Código de Defesa
"
do Consumidor é aplicável às instituições financeiras".
Em �razão disso, a relação jurídica ora discutida deve ser
'
analisada sob o enfoque do CDC.
Nas relàções privadas, vige o princípio da força obrigatória
dos contratos, cristalizada na máxima latina pacta sunt servonrfo. Contudo, apesar da

obrigatoriedade contratual ser um dos expoentes da àufonomia da vontade, o Direito Civil


atual autoriza o Poder Judiciário a imiscuir-se nas relações privadas para fazer cessar

situações de exagerado benefício de uma parte em detrimento da outra, com, o fito de


equilibrar as obrigações. • -
Nesse contexto é que o legislador positivo promtilgou o art.

6°, V do CDC, o qual alçou a direito do consumidor a revisão dos contratos em que haja
/

cláusulas abusivas, desproporcionais ou que onererii excessivamente o consumidor em


razão de fato superveniente. Vejamos:

Art. 6*� São direitos básicos do consumidor:


(Omissis)
' V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de
fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
Vê-se, assim, que o ordenamento jurídico permite, em tese, a
revisão de contrato no presente caso, cabendo-se averiguar a existência de eventuais
cláusulas abusivas ou desproporcionais. '
,

Dito isso, verifica-se que o E. Tribunal de Justiça do RN,


através de seu Tribunal Pleno, na forma do art. 481, do Código de Processo Civil, declarou
a inconstitucionalidade do art. 5° da Medida Provisória rP 2.170/2001, o qual liberava a
capitalização de juros em período não inferiores ao m� em contratos firmados pelas

instituições financeiras. Vejamos:


2012,008051-7 /
Tribunal de Justiça
Si9 I RIO 6RANDE DO NORTE

FL._
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota

INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO


5° DA MEDIDA PROVISÓRIA N° 2.170, iDE 23 DE
AGOSTO DE 2001. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS.
IMPOSSIBILIDADE. OBRIGATORIEDADE DE - LEI
COMPLEMENTAR PARA REGULAMENTAR O
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. ARTIGOS 192 E
62, § 1°, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO
DISPOSITIVO. PROCEDÊNCIA DO INCIDENTE.
(Argüição de Inconstitucionalidade em Apelação Cível n°
2008.004025-9/0002.00; Relator Des. Amaury Moura
, Sobrinho, Tribunal Pleno, data 08/10/2008).

.'S �

/ '
A partir de então, a orientação jurisprudencial do E. TJRN
passou a ser uníssona na impossibilidade de capitalização mensal de juros fora dos casos
expressamente permitidos por leis esparsas, como no caso da Súmula n® 93 do STJ, ou da
forma permitida pelo referido art. 4° da Lei de Usura. Vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO DE


CONTRATO. RELAÇÃO DE CONSUMO
CARACTERIZADA. ANATOCISMO E CAPITALIZAÇÃO
DE JUROS . DEMONSTRADOS. VEDAÇÃO DE TAL
PRÃTICA PELO ORDENAMENTO JURÍDICO.,
INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 121 DO STF. REFORMA
DA SENTENÇA NESSE PONTO. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA
CUMULADA COM OUTROS ENCARGOS
HNANCEIROS. PRECEDENTES DO STJ. REFORMA DA
SENTENÇA QUE SE IMPÕE. REPETIÇÃO DE
INDÉBITO EM DOBRO. IMPOSSIBILIDADE.
ENCARGOS VÃLIDOS" ANTES DA REVISÃO
CONTRATUAL. DEVOLUÇÃO NA FORMA
SIMPLES.CONHECIMENTO E PROVIMENTO PÃRCIAL
APELO. PAGAMENTO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS A
SEREM SUPORTADOS INTEGRALMENTE PELO
DEMANDADO. DEMANDANTE QUE DECAIU DE
PARTE MÍNIMA DO PEDIDO. REFORMA DA
SENTENÇA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO EM
PARTE. (Apelação Cível n° 2009.006189-2. Relator: Des.
'
Expedito Ferreira, F Câmara Cível, julgado em 29/09/2009)
Apesar do Decreto 22.626/33 - a Lei de Usura - não se
4
2012.008051-7 ».
Tribunal de Justiça
RIO GRANDE DO

R. 11� T-
Poder Judiciário
• . Tribunal de Justiça do Rió Grande do Norte
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota
\

aplicar às instituições financeiras por força da Súmula n° 596 do Supremo Tribunal


« i

Federal, ainda falta à capitalização mensal de juros norma expressa que a autorize, uma vez
que a Lei n° 4.595/64, recepcionada pela Constituição Federal como lei complementar, nos
termos do art. 192 da CF, não faz menção a tal prática.

Ressalte-se que aqui não se está'a confrontar a jurisprudência


do Superior Tribunal de Justiça, uma vez que aquela Corte Superior apenas analisa a
)
questão sob o prisma infraconstitucional, não detendo competência para aferir a matéria
sob o ângulo constitucional, sob pena de usurpar competência do STF. Vejamos:
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL - CO N T � t O BANCÁRIO -
FINANCL\MENTO COM ALIENAÇÃO FIDUCL\RIA -
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS - CÒNTRATO
POSTERIOR À EDIÇÃO DA MP 2.170-36 - DISCUSSÃO
' SOBRE EVENTUAL CONSTITUCIONALIDADE -
IMPOSSIBILIDADE - COMPETÊNCIA DO STF -
DESPROVIMENTO. 1 - Inicialmente, cumpre� asseverar
que, em sede de recurso especial, a competência desta,
Corte Superior de Justiça se limita a interpretar e
uniformizar o direito infraconstitucional federal, a teor
do disposto no art. 105, III, da Carta Magna. Assim
sendo, resta inviabilizado o exame de ofensa ao disposto
no art. 62 da CF, bem como o exame de eventual
" inconstitucionalidade da Medida Provisória 1.963-17

(atualmente MP 2.170-36), sob pena de usurpação da
competência atribuída ao Supremo Tribunal Federal.
Precedentes (AgRg REsp n"s 738.583/RS e 733.943/RS). 2 -
Sob o ângulo infraconstitucional, a eg. Segunda Seção deste
Tribunal Superior jã proclamou entendimento no sentido de
que, nos contratos firmados por instituições integrantes do
Sistema Financeiro Nacional, posteriormente à edição da MP
, 1.963-17/2000, de 31 de março de 2000 (atualmente
reeditada sob o n° 2.170-36/2001), admite-se a capitalização
mensal dos juros, desde que expressamente pactuada.
Verificando-se o preenchimento desta condição no caso em
tela-, é permitida a incidência da referida Medida Provisória.
Precedente (REsp 603.643/RS). 3 - Agravo regimental
desprovido. (AgRg no REsp 850.601/RS, Rei. Ministro
JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em
21/11/2006, DJ 11/12/2006 p. 388)
2012.008051-7
Tribunal de Justiça
RIO GRANDE DO NORTE .

FL. _
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte '
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota

O contrato prevê ã cobrança de Taxa de Abertura de Crédito.


a

No caso concreto, é abusiva a incidência da Tarifa de Cadastro, pois o valor previsto no


contrato é desproporcional à importância financiada, além de não representar uma efetiva
' '
prestação de serviço ao consumidor.
Ademais, inexiste no contrato explicação clara acerca da
finalidade de cobrança da referida tarifa, ó que viola o disposto nos arts. 46 e 51, IV, do
CDC, cuja redação vai ora transcrita, in verbis:

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo


não obrigarão os consumidores, �, não lhes for dada a
oportunidade de tomar "conhecimento prévio de seu conteúdo,
ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a
dificultar a compreensão de seü sentido e alcance.
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços
que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas,
que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, bu
sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

Neste sentido, os seguintes julgados:

APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.


REVISÃO DE CONTRATO. CÉDULA DE CRÉDITO
COMERCIAL. APLICAÇÃO DO CDC. JUROS
REMUNERATÓRIOS. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS.
DOS - ENCARGOS MORATÓRIOS. TAXA DE
ABERTURA DE CRÉDITO. TARIFA DE EMISSÃO DE
CARNÊ. . IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES
HNANCEIRAS. PREQUESTIONAMENTO. DA
APLICAÇÃO DO CDC E DOS CONTRATOS DE
ADESÃO. (...) TAXA DE ABERTURA DE CRÉDITO.
Deve ser afastada a taxa de abertura de crédito incidente
na outorga do fínanciámento, uma vez que atribui valor
excessivo aos valores contratados, representando encargo
da normalidade abusivo ao consumidor. (...) (Apelação
Cível N° 70043253756, Décima Quarta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Sbravati, Julgado

6
�012.008051-7
Tribunal de Id�jça
RIO GRANDE Dofioj
FL. _
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota

em 15/09/2011) (Grifei); . '

APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO


REVISIONAL DE CONTRATO. PRELIMINAR DE
NULIDADE DA SENTENÇA POR CERCEAMENTO DE
DEFESA NÃO ACOLHIDA. (...) TAXA E/OU TARIFA
DE ABERTURA DE CRÉDITO E COBRANÇA DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PRESTADOS POR
TERCEIRO. ABUSIVIDADE. É abusiva a -cobrança de
taxa de abertura de crédito e de despesas com serviços de
terceiros. (...) (Apelação Cível N® 70041712852, Décima
Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Sejalmo Sebastião de Paula Nery, Julgado em 15/09/2011)
(Grifei). . / '

Logo, deve ser afastada a-Tarifa de Cadastro cobrada no


momento da concessão do financiamento, pois consiste em encargo abusivo ao
>
consumidor.
Nesse sentido já decidiu recentemente esta Câmara Cível,
conforme se percebe do julgado a seguir traiíscrito:

EMENTA; APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO DE


CONTRATO C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
� APLICAÇÃO DO CDC. SÚMULA 297 DO STJ.
FLEXIBILIZAÇÃO DO PRINCÍPIO PACTA SUNT
SERVANDA. INCIDÊNCIA DO ART. 6°, V, DO CDC.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. IMPOSSIBILIDADE.
. SÚMULA 121 DO STF. INCONSTITUCIONALIDADE DO
ART.N 5° DA- MEDIDA PROVISÓRIA ÍSP 2.170/2001.
COBRANÇA DE TAXA DE ABERTURA DE CRÉDITO
(TAC) E TAXA DE EMISSÃO DE � BOLETO.
IMPOSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO DO CDC. REPETIÇÃO
DE INDÉBITO. CABIMENTO DE FORMA SIMPLES.
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO PARCIALMENTE. - A. Lei n.° 8.078/90 (CDC)
incide nas relações entre as instituições financeiras e seus
clientes, conforme dicção da Súmula n° 297 do STJ. - O
princípio do "pacta sunt servanda" é relativizado ante a
incidência da norma específica prevista no art. 6°, V, do
CDC, sendo direito do consumidor a modificação das
cláusulas contratuai§�uando essas se mostram abusivas ou
implicam em/<fíiçí��de. excessiva. - Afora os casos
7
2012.008051-7
Tribunal de Justiça
RIO GRANDE DO NORTE

FL_
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
Qabinete do Desembargador Dilermando Mota

expressamente permitidos por leis esparsas, como no caso da


Súmula n° 93 do STJ, ou da forma permitida pelo referido art.
4° da Lei de Usura, a capitalização de juros é vedada poí
®
força da Súmula n 121 do STF. Ademais, esta Corte de
Justiça firmou entendimento pela inconstitucionalidade do
' art. 5° da MP n° 2.170/2001 que permitia capitalização
mensal dje juros. - As cobranças da TAC (Taxa de
Abertura de Crédito) e da Taxa de Emissão de Boleto
ferem claramente as normas do CDC, tendo sido,
inclusive, recentemente proibidas pelas resoluções
3.517/07, 3.518/07 e 3.693/09 do Conselho Monetário
-Nacional (BACEN). - A aplicação da sanção prevista no art.
42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consuinidor
pressupõe a existência de pagamento indevido e má-fé do
credor. (AC n® 2010.001456-.7, da tâm . Cível do TJRN,
rei. Des. Amflcar Maia, j. 17.06.2010 - Destaque
intencional).
Desse modo, sendo inadmissível a cobrança de Taxa tarifa de
cadastro, �deve ser reformada a sentença proferida neste específico, de modo a afastar do
contrato a cláusula que contém tal previsão. ' ■

No que se refere à tarifa de serviços de terceiros, também


denominada taxa de retomo, esta também tem sua cobrança indevida, uma vez não restar
-=S: Tj

especificado qual serviço se estaria remunerando.


Nesta ordem é a jurisprudência desta Egrégia Corte de
Justiça, conforme se verifica do julgado a seguir transdrito:

EMENTA; APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMIDOR. AÇÃO


REVISIONAL -DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS.�
CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO.
PRINCÍPIO DO PACTA SUNT SERVANDA.
RELATIVIZAÇÃO. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. CAPITALIZAÇÃO
MENSAL DE JUROS. INCONSTITUCIONALIDADE DO
ART. 5" DA MEDIDA PROVISÓRIA N« 1.963-17/2000, DE
31 DE MARÇO DE 2000 (ATUALMENTE REEDITADA
SOB N° 2.170-36/2001). MATÉRIA EXAMINADA POR
ESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM INCIDENTE DE
INCONSTITUCIONALIDADE, JULGADO À
UNANIMIDADE PELO PLENO. APUCAÇÃO
OBRIGATÓRIA AO PRESENTE CASO POR FORÇA DO

8
2012.0Q8051-7

Tribunal de Ifj�iça
RIO GRANDE DA NORT�

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota

,ART. 243 DO REGIMENTO INTERNO DESTE


TRIBUNAL. VEDAÇÃO DO ANATOCISMO. TAXA DE
RETORNO (SERVIÇO DE TERCEIROS).
IMPOSSIBILIDADE.' RESTITUIÇÃO DOS VALORES
PAGOS A MAIOR POSSIBILIDADE. INTELÍGÊNCL\ DO
ARTIGO 876 DO C.C. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. (AC 2011.007341-6, da 2« Câm. Cível do
TJRN, rei. Des. Osvaldo Cruz, j. 13.12.2011 '- Destaque
acrescido). -
Neste mesmo sentido, também se verifica a abusividade na
cobrança das tarifas de gravame eletrônico e de avaliação de bens, especialmente este
último quando se considera o valor-previsto no instrumento ôoritratual, devendo ser
afastadas tais cobranças. � '
' A cobrança do valor denominado "serviços de terceiros" deVe
,
ser declarada nula, pois deixa de especificar qualquer serviço prestado, o que viola a
transparência dos contratos bancários protegidos pelo Código de Defesa do Consuniidor.
Entendo que a cobrança de referido éiicargo não pode ser

imposta áo financiado, tendo em vista que é de interesse exclusivo do credor a publicidade


da contração realizada. .

Trago à colação julgados nesta ordem:


APELAÇÃO cível. ALIENAÇÃO FIDUCL�A EM
GARANTIA. AÇÃO REVISIONAL. 1. Aplicabilidade do
Código de Defesa do Consumidor às operações de concessão
de crédito e financiamento. Súmula n. 297 do STJ. 2.
Permitida a cobrança da comissão de permanência, calculada
pela taxa média de .mercado, liiíiitada à taxa do contrato, e
não cumulada com'correção monetária, juros remuneratórios,
multa e juros moratórios. 3. Tarifas de abertura de crédito.
de gravame eletrônico e promotora de venda. Ilegalidade.
4. Venda casada de seguro. Abusividade. 5. Cabível a
compensação e/ou repetição simples, caso verificada a
- cobrança de valores indêvidos. APELO PROVIDO EM
PARTE. (AC n° 70046372348, da Décima Quarta Câmara
Cí�el do TJRS, rel.� Des.® Judith dos Santos Mottecy, j.
15.03.2012 - Destaque intencional).

APELAÇÃO cível. ALIENAÇAO HDUCIÃRIA EM


GARANTIA. AÇÃO REVISIONAL. 1. Aplicabilidade do
' Código de Defe�arpo Consumidor às operações de concessão
2012.008051-7
Tribunal de Justiça
RIO GRANDE DO NORTE

FL._
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota

de crédito e financiamento. Súmula n. 297 do STJ. 2.


Possibilidade de incidência de capitalização mensal de juros
após a edição da Medida Provisória n° 2.170/2001 e desde
que expressamente pactuada no contrato. 3. Ilegalidade na
co b ra n ça d e t ar if as ( se rv iç o s d e t e rc ei ro , ta ri fa d e
cadastro, registro de contrato e avaliação do bem).
Vantagem exagerada em face do consumidor. 4. lOF.
Responsabilidade do consxmiidor pelo pagamento do tributo.
Entretanto, abusiva a forma de cobrança adotada pela
� instituição financeira. 5. Cabível a compensação e/ou
repetição simples, caso verificada a cobrança de' valores
indevidos. 6. Compensação dos honorários advocatícios.
Possibilidade. Art. 21, caput, do CPC e Súmula n. 306 do
STJ. RECURSO PROVIDO ÉM PARTE. (AC n°
70047564877, da Décima Quarta Çâmara Cível do TJRS,
rei.® Des.® Judith dos Santos Mottecy, j. 17.05.2012 - Grifo
acrescido).
Em relação à, legalidade da cobrançia de Comissão de
/ /

Permanência, sabe-se que não é cabível a cumulação da referida .comissão com juros
moratórios ou com multa contratual, tampouco com juros remuneratórios, em
t �
conformidade com o que vem decidindo o Superior Tribunal de Justiça, vejamos:
EMENTA: AQRAVO INTERNO. TAXA DE JUROS.
LIMITAÇÃO-. . ABUSIVIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. COBRANÇA.
ADMISSIBILIDADE. CORREÇÃO MONETÁRIA. TR. I -
Embora incidente o diploma consumerista nos contratos
bancários, os juros pactuados em limite superior a 12% ao
ano não são considerados abusivos, exceto quando
comprovado que discrepantes em relação à taxa de mercado,
após vencida a obrigação. II - Vencido o prazo para
paeameiito da dívida, admite-se a cobrança de comissão de
permanência. A taxa, porém, será a média do mercado.
apurada pelo Banco Central do Brasil, desde que limitada ao
percentual do contrato, não se permitindo cumulação com
juros remuneratórios ou moratórios, correção monetária ou
multa contratual. Hl - A taxa referencial" somente pode ser
adotada, como indexador, quando pactuada. Agravo
regimental improvido. (STJ - 3® Turma, AgRg no Ag
748883/MS, Rei. Ministro Des. Convocado Paulo Furtado,
julgado em 24.03.2009, DJ 14.04.2009). (grifos)
Não diverge o entendimento adotado por esta Câmara Cível
em casos análogos:

10
2012.008051-7
Tribunal de/uniça
RIO GRANDE DaNOlI
. Fl. .fO
/
Poder Judiciário ■
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota

"EMENTA: CONSUMIDOR. AGRAVO DE


INSTRUMENTO. REVISÃO DE CLÁUSULAS.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS.
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 5° DA MEDIDA
�PROVISÓRIA N« 1.963-17/2000, DE 31 DE MARÇO DE
2000 (ATUALMENTE REEDITADA SOB N°'2.170-
36/2001). MATÉRL\ EXAMINADA POR ESTE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM INCIDENTE DE
INCONSTITUCIONALIDADE, JULGADO À
UNANIMIDADE PELO PLENO. APLICAÇÃO
OBRIGATÓRIA AO PRESENTE CASO POR FORÇA DO
ART. 243 DO REGIMENTO INTERNO DESTE
TRIBUNAL. » VEDAÇÃO -DO ANATOCISMO.
PRECEDENTES DAS TRÊS CÃI�IARAS CÍVEIS. TAXA
DE COMISSÃO DÉ PERMANÊNCIA. CUMULAÇÃO
COM OS DEMAIS ENCARGOS CONTRATUAIS.
IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO TJRN.
' RECURSO CONHECIDO E PROVIDO." (TJRN, AC n''
2009.010766-2, rei. Des. Osvaldo Cruz, dj.. 16/03/2010)
Nesse sentido, é possível a cobrança da Comissão de
Permanência no período de inadimplemento, desde que não seja de forma cumulativa com
a correção monetária, com os juros moratórios e remuneratórios, com a multa contratual ou
com qualquer outro encargo contratual. " '
Entretanto, por vislumbrar que nos autos o Banco
efetivamente cobrou a Comissão de Permanência cumulada com outros èncargos, juros
moratórios ou muUa contratual, deve-se excluir a cobrança cumulada.
Quanto à limitação da taxa de juros, no presente caso,
analisando as disposições fixadas no contrato em apreço, verifico' que não há ilegalidade
alguma a ser sanada quanto ao percentual dos juros remuneratórios.
Isso porque, dispunha o art. 192, §3°, da CRFB (revogado
pela EC n.° 40, de 29.05.2Ô03) que "as íàxas de juros reais, nelas incluídas comissões e
quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito,
não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será
conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que
a lei determinar".
Ocorre que o Jpjíto da�úmula n.® 648 do STF, impôs a

11
2012.008051-7 .
'/T�í
, ~
1 � � Tribunal de Justiça
§ ! RIO GRANDE DO NORTE

FL._
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota '
■í ■
revisão deste posicionamento, ao assentar que:
"A norma do §3° do art. 192 da Constituição, revogada pela
ÉC 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano,
> tinha sua aplicabilidade condicionada à edição de lei
complementar".
Assim sendo, ante o teor do pronunciamento da Corte
Suprema, é forçoso admitir-se que a citada limitação, seja no que tange à 12% ao ano, seja
consideràndo-se o valor dã taxa Selic, dada a ausência de norma complementar que a
regulameritasse, nunca existiu. A Constituição, logo, não tratou concretamente da
disciplina atinente aos jurôs remuneratórios, motivo pelo qual p estudo da matéria deve
- • '
t-, V . .

encontrar fundamento, necessariamente, na ocorrência ou não dp aBusividade no caso


analisado.
Por fim, verificando-se cobrança excessiva, em razão da

ilegalidade da capitalização de juros, a repetição de indébito é devida, na forma simples,


uma vez que a aplicação da sanção prevista'no art. 42, parágrafo único, do Código de
Defesa do Consumidor pressupõe a existência de pagamento indevido e má-fé do credor, p
que, na hipótese, não está evidenciado.
• ' �
y-

E essa também ,ajurisprudência do STJ e do TJRN :


DIREITO PROCESSUAL CIVIL E BANCÁRIO. RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS DE
CONTRATO BANCÁRIO. JUROS REMUNERATÓRIOS.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. COMPENSAÇÀOIREPETIÇÃO DO
INDÉBITO. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
, PROVIDO. - (...X-. 4. Pacífico o entendimento desta Corte
no sentido de admitir a compensação de valores e a
repetição do indébito, em tese, na forma simples,
� independentemente da prõva do erro, ficando relegado às
instâncias ordinárias o cálculo do montante a ser apurado,
, se houver. Súmula 322ISTJ. - 5. Recurso especial
parcialmente provido. (REsp -975625, Relator Ministro
Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado
do TJ/AP), publicado em 30.04.2010). (grifos nossos).
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. CÉDULA DE
. CRÉDITO BANCÁRIO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS.
IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PACTUAÇÃO
EXPRESSA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CABIMENTO
' '
. , 12
2012.008051-7 ,�
Tribunal de. lústiça
RIO GRANDE DO �Ofl

FL.
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Rio òrande do Norte
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota

DE FORMA SIMPLES, JURISPRUDÊNCIA DO STJ.


RECURSO CONHECIDO E PROVIDO./- Nos termos do
'
artigo 28, § 1.°,' inciso I, da Lei n.° 10.93112004, épermitida
a capitalização mensal de juros nas Cédulas de Crédito
Bancário, desde que expressamente pactuada, o que,
contudo, não ocorreu no contrato objeto da presente
revisional. (AC 2012.002627-6, 1® C. Cível, Rei. Des.
Amílcar Maia, j. 03/05/2012).
DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL.
APELAÇÃO CIVIL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO
REVISIONAL DE CLÁUSULA CONTRATUAL CIC
REPETIÇÃO DE INDÉBITO E TUTELA ANTECIPADA.
PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO
POR AUSÊNCIA pE RECOLHIMENTO DO FRMP
SUSCITADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. REJEIÇÃO.
RECURSO DE APELAÇÃO INTERPOSTO PELA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA: RELAÇÃO DE CONSUMO
CARACTERIZADA. PRÁTICA DE ANATOCISMO.
VEDAÇÃO PELO ORDENAMENTO JURÍDICO.
INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 121 DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO
5" DA MEDIDA PROVISÓRIA N" 2170-3612001.
INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA PELO PLENO
DESTE TRIBUNAL. MULTA DE MORA. INCIDÊNCIA
SOBRE O SALDO DEVEDOR TOTAL. IMPOSSIBILIDADE.
DETERMINAÇÃO PARA INCIDÊNCIA APENAS NAS
PARCELAS VENCIDAS. SENTENÇA CORRETA.
CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO APELO.
RECURSO ADESIVO INTERPOSTO PELA PARTE
AUTORA: REPETIÇÃO� DE INDÉBITO.
POSSIBILIDADE DA DEVOLUÇÃO NA FORMA
SIMPLES. PRECEDENTES DO STJ E DESTA CORTE DE
JUSTIÇA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS FIXAÇÃO DE
ACORDO COM OS CRITÉRIOS DOS §§ 3"" E r DO ART.
20 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CONHECIMENTO
E DESPROVIMENTO DO RECURSO. MANUTENÇÃO DA
SENTENÇA QUE SE IMPÕE. - (AC n° 2011.003077-7. Rei.
Des. Expedito Ferreira, j. 08/11/2011).

Ante o exposto, conheço do apelo para lhe dar provimento


parcial, para excluir do contrato a capitalização de juros e cobrança de comissão de
permanência cumulada com outras taxas e para excluir a cobrança de; tarifa de abertura de
crédito e serviços prestados a terceiros. Ben).-�2io para determinar, em favor do autor, a
13
- •
2012.008051-7
> Tribunal de Justiça
■ ' I RIO GRANDE DO NORTE
- , '
FL.__
Poder Judiciário
tribunal de Justiça do Rio Grande dóNorte
Gabinete do Desembargador Dilermando Mota
t

restituição do indébito na forma simples.

Outrossim, em face do reforma da sentença, o banco apelado


deverá arcar com a totalidade do pagamento das custas processuais e dos honorários

advocatícios fixados na sentença.

Publique-se.

Na,tal, 24 de maio

Desembai�adoif plLE
Relator

14

Você também pode gostar