Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JuarEz tavarEs
Catedrático de Direito Penal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Brasil
Luis LóPEz GuErra
Magistrado do Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Catedrático de Direito Constitucional da
Universidade Carlos III de Madrid - Espanha
owEn M. Fiss
Catedrático Emérito de Teoria de Direito da Universidade de Yale - EUA
toMás s. vivEs antón
Catedrático de Direito Penal da Universidade de Valência - Espanha
ISBN 978-85-9477-235-0
DIREITO E PROCESSO
PENAL NOS 30 ANOS DA
CONSTITUIÇÃO CIDADÃ:
EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS NO ÂMBITO
DA SEGURANÇA PÚBLICA, DA
CRIMINALIDADE E DA VIOLÊNCIA
9
ESA/OAB-GO e PPGDP-UFG
Coordenadores:
Rafael Lara Martins
Saulo Pinto Coelho
CRIMES MILITARES NAS AUDIÊNCIAS DE
CUSTÓDIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
Leandro Antunes e Silva 1
Bruno César Prado Soares 2
1. INTRODUÇÃO
As audiências de custódia foram implementadas no Tribu-
nal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) em 2015,
através da Portaria Conjunta nº 101, de 7 de outubro de 2015,
publicada no Diário da Justiça do dia 14 de outubro de 2015. Essas
audiências consistem na oitiva do preso em flagrante pela autoridade
judicial com o objetivo de se verificar a legalidade e a necessidade das
medidas relacionadas à restrição de liberdade, bem como resguardar
a integridade física e psíquica do detido.
Com a implantação das audiências de custódia no TJDFT,
os policiais e bombeiros militares presos em flagrante por crimes
militares também passaram ser encaminhados para participar
dessas audiências. Pretende-se com a presente pesquisa verificar se
as normas de processo penal militar são seguidas nos casos de prisão
em flagrante de crimes militares.
Dessa forma, busca-se analisar se pode ter havido algum
1 Mestre em Ciência Política, com concentração em Direitos Humanos, Cidadania e Violência,
pelo Centro Universitário Euro-Americano. Especialização Gestão Estratégica de Seguran-
ça Pública pelo Instituto Superior de Ciências Policiais. Bacharel em Direito pelo Centro
Universitário de Brasília – UniCEUB. Professor do Instituto Superior de Ciências Policiais
(ISCP/PMDF). Email: emaildoleandroantunes@gmail.com.
2 Doutorando em Direito pela Universidade de Brasília. Mestre em Ciência Política, com con-
centração em Direitos Humanos, Cidadania e Violência, pelo Centro Universitário Euro-A-
mericano. Especialização em Direito Militar pela Universidade Cruzeiro do Sul. Professor
do Instituto Superior de Ciências Policiais (ISCP/PMDF). Email: bruno.soares@iscp.edu.br.
156 DIREITO E PROCESSO PENAL NOS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ
perior (art, 160), recusa de obediência (art. 163), publicação ou crítica indevida (art. 166),
resistência mediante ameaça ou violência (art. 177), deserção (art. 187) e desacato a militar
(art. 299), todos do Código Penal Militar.
164 DIREITO E PROCESSO PENAL NOS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ
exaradas pelo juiz ao se deparar com uma prisão desta natureza, cabe
relacionar esses conhecimentos aos atos que podem ser expedidos no
âmbito das audiências de custódia.
5.2. MÉTODO
Para verificar se as audiências de custódia observaram as normas
do Código de Processo Penal Militar é utilizada a análise de conteúdo.
A análise de conteúdo é definida por Bardin (2011, p. 37) como um
LEANDRO ANTUNES E SILVA - BRUNO CÉSAR PRADO SOARES 169
5.3. RESULTADOS
Inicialmente, convém assinalar que nesse primeiro ano de
implantação do NAC, de outubro de 2015 a outubro de 2016,
no âmbito do TJDFT, ocorreram cerca de mais 10.000 audiências
de custódia. Dentre essas, apenas 07 foram decorrentes de prisões
em flagrantes de crime militar. Essa restrição de material permite a
análise da totalidade das decisões. Cabe ressaltar que dos 07 autos
de prisão em flagrante delito por crime militar que ocorreram
no âmbito do Distrito Federal, 05 foram lavrados por oficiais da
Corregedoria da PMDF. As outras duas prisões foram efetuadas
no âmbito do CBMDF.
A Tabela 1 tem por objetivo descrever as incidências penais
constantes nos APFs e as penas cominadas aos crimes no Código Penal
Militar (CPM). Os processos foram organizados na coluna “Referên-
cia” conforme ordem cronológica, sendo o de número 1 a primeira
audiência de custódia realizada e o de número 7 a última audiência
referente ao período estudado. Todos os artigos da coluna Incidência
Penal referem-se a dispositivos do Código Penal Militar.
LEANDRO ANTUNES E SILVA - BRUNO CÉSAR PRADO SOARES 171
Desacato
Reclusão até 4
a superior;
1 Arts. 298 e 299 anos; detenção de 6
desacato
meses a 2 anos.
a militar.
Detenção de 3
Violência
meses a 2 anos;
3 Arts. 157 e 217 contra superior;
detenção de 3
injúria real.
meses a um ano.
Uso de Reclusão de
4 Art. 315 documento 2 a 6 anos, se
falso. documento público.
Detenção de 1 a 2
Recusa de
Arts. anos; detenção até
5 obediência;
163, 223 e 301 6 meses; detenção
ameaça.
até 6 meses.
Desacato a Detenção de 6
6 Art. 299
militar. meses a 2 anos
Homicídio Detenção de
7 Art. 206
culposo. 1 a 4 anos.
5 Não ---
LEANDRO ANTUNES E SILVA - BRUNO CÉSAR PRADO SOARES 175
6. CONCLUSÕES
Em outubro de 2015 foi implementado o Núcleo de Audiência
de Custódia no âmbito do TJDFT. Dentre as mais de 10.000 audiên-
cias realizadas, apenas sete corresponderam a crimes militares, tenham
eles sido cometidos por policiais militares ou por bombeiros militares.
Nesse contexto, a pesquisa buscou verificar se as normas de processo
176 DIREITO E PROCESSO PENAL NOS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ
REFERÊNCIAS
BARDIN, Lawrence. Análise de conteúdo. Trad. de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro.
São Paulo: Edições 70, 2011.
BARROSO FILHO, José. Audiência de custódia uma garantia fundamental dos presos.
Disponível em: <http://www.stm.jus.br/informacao/agencia-de-noticias/item/5247-
ministro-jose-barroso-filho-diz-que-audiencia-de-custodia-e-uma-garantia-fundamental-
dos-presos>. Acesso em 31 out 2016.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal.
BRASIL. Decreto-lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969. Código Penal Militar.
BRASIL. Decreto-lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969. Código de Processo Penal
Militar.
BRASIL. Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992. Atos internacionais. Pacto Internacional
sobre direitos civis e políticos. Promulgação.
BRASIL. Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana
sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969.
BRASIL. Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980. Dispõe sobre o Estatuto dos Militares.
BRASIL. Lei nº 7.289, de 18 de dezembro de 1984. Dispõe sobre o Estatuto dos Policiais-
-Militares da Polícia Militar do Distrito Federal e dá outras providências.
BRASIL. Lei nº 7.479, de 2 de junho de 1986. Aprova o Estatuto dos Bombeiros-Milita-
res do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, e dá outras providências.
BRASIL, Lei nº 13.491, de 13 de outubro de 2017. Altera o Decreto-Lei no 1.001, de 21
de outubro de 1969 - Código Penal Militar.
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 213, de 15 de dezembro de 2015.
Dispõe sobre a apresentação de toda pessoa presa à autoridade judicial no prazo de 24 horas.
BAUER, Martin W. Classical content analysis: a Review. In. BAUER, Martin W; GAS-
KELL, George (ed.) Qualitative researching with text, image and sound: a pratical han-
178 DIREITO E PROCESSO PENAL NOS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ