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Curso de Direito Processual Penal Militar para

Analista do Ministério Público da União

Olá amigos,
Bom dia, Boa tarde e Boa noite!
Nosso objetivo de hoje:

Aula 1:

Processo Penal Militar e sua aplicação.

Polícia judiciária militar.

Inquérito policial militar.

Conforme afirmamos em nossa aula de apresentação, no


âmbito do direito militar, é a disciplina e não a liberdade a nota
suprema predominante e necessária. ... O emprego eficaz da força
combativa só é possível se todas as vontades individuais, que
integram o seu efetivo, se unificarem rigidamente sob a vontade
suprema de quem comanda.1
Inicialmente, para contextualizar a proteção que as normas
militares objetivam, insta transcrever importante artigo de nossa
Constituição Federal sobre o tema:

1
MAYRINK DA COSTA, Álvaro. Crime Militar. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, 2ª edição, p. 33.
1
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo


Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia
e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos
poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei
e da ordem.

Assim, podemos definir o Direito Processual Penal Militar,


como faz a saudoso professor Jorge César de Assis: Direito
Processual Penal Militar é conjunto de princípios e normas que
regulam a aplicação do direito penal militar. Regulam ainda as
atividades preliminares de polícia judiciária militar.2
Diante da definição do Direito Processual Penal Militar, importa
agora compreender o que vem a ser a norma processual penal
militar.
Primeiramente registramos o que é norma processual penal.
Nesse sentido, norma processual penal é a que versa sobre a
persecução penal em todas as suas fases: preliminar investigatória,
processual de conhecimento, processual de execução e processual
cautelar.34
Diante dessa definição e da instrumentalidade que deve
permear a seara penal, pode-se concluir que a norma processual
penal militar é a que instrumentaliza a adequada aplicação da lei

2
ASSIS, Jorge César de. Código de Processo Penal Militar Anotado - Artigos 1º a 383 - Vol. I . Revista e
Atualizada, Paraná: Juruá, 4ª Edição, 2012, p. 21.
3
Embora se reconheça que, tecnicamente, não existe processo penal cautelar autônomo, havendo
somente uma ampliação no estudo das medidas cautelares penais esparsas (principalmente a partir de
2011).
4
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013,
no prelo a 1ª edição, p. 102.
2
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penal militar e garante os direitos do acusado no âmbito da
persecução penal militar.
A maior parte das normas processuais penais militares podem
ser extraídas do Código de Processo Penal Militar, embora também
encontremos regulação em outras leis esparsas, bem como no
próprio Código Penal Militar, embora tal localização não seja indicada.

Aplicação da Lei Processual Penal Militar

Logo, se começamos a estudar a Aplicação da Lei Processual


Penal Militar, estamos estudando, primordialmente, os dispositivos
do art. 1º ao art. 6º do CPPM.
Vejamos a tratativa sobre a aplicação da lei processual penal
militar.
Inicialmente o Código de Processo Penal Militar trata das Fontes
de Direito Judiciário Militar. A nomenclatura vetusta: direito judiciário,
se refere ao atual direito processual.
Dispõe o art. 1º do CPPM:

Fontes de Direito Judiciário Militar

Art. 1º O processo penal militar reger-se-á pelas normas


contidas neste Código, assim em tempo de paz como em
tempo de guerra, salvo legislação especial que lhe fôr
estritamente aplicável.

Divergência de normas

1º Nos casos concretos, se houver divergência entre


essas normas e as de convenção ou tratado de que o Brasil
seja signatário, prevalecerão as últimas.

Aplicação subsidiária

2º Aplicam-se, subsidiàriamente, as normas dêste Código


aos processos regulados em leis especiais.

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O CPPM é norma especial e assim prevalece em relação as
demais leis. Logo, os rigores da lei de crimes hediondos não se
aplicam à esfera processual militar. Desse modo, o tráfico previsto no
art. 290 do CPM não é considerado crime hediondo.
Por outro lado, caso o CPPM seja omisso, a lei especial ou o
próprio CPP comum poderá ser aplicado. Exemplo de aplicação de lei
especial na esfera processual penal militar é a lei 8.457/92 (Lei de
Organização da Justiça Militar da União) que se aplica em
complemento na esfera processual militar. O CPPM, por exemplo, não
trata da formação do Conselho de Justiça, sendo aplicada a lei
especial.
Em caso de divergência entre o CPPM e tratados ou convenções
internacionais, estes prevalecerão, conforme dispõe expressamente
art. 1º, §1º do CPPM.

Sobre o tema vale lembra:

“No estudo do direito processual penal se pode elencar como


fontes principais, além da doutrina e da jurisprudência, a Constituição
Federal, o Código de Processo Penal, o Código de Processo Penal
Militar, as leis processuais esparsas e os tratados internacionais em
matéria criminal.
A importância do direito internacional no estudo do processo
penal tem ficado evidente5, mormente após a edição da emenda
45/2004 que provocou verdadeira releitura na hierarquia das normas
jurídicas. Tal tendência foi confirmada recentemente pelo Supremo
Tribunal Federal. Desse modo, na visão do STF, se poderia visualizar
a hierarquia das normas e a nova pirâmide jurídica da seguinte
forma:

5
Vide a redação do art. 1º do projeto de lei do novo Código de processo penal.

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No topo da pirâmide que hierarquiza o ordenamento jurídico


brasileiro está a Constituição Federal (CF), as Emendas
Constitucionais (EC) e os Tratados Internacionais que tratam de
Direitos Humanos (TIDH) e que passaram pelo procedimento das
emendas constitucionais (Art. 5°, § 3° da CF).
No segundo patamar estão os Tratados Internacionais de
Direito Humanos (TIDH) que não passaram pelo procedimento de
Emenda Constitucional, pois, segundo o Supremo Tribunal Federal,
atualmente, os mesmos tem o status de norma supra legal (estão
acima das Leis e abaixo da Constituição). Exemplo importante de
Tratado internacional de direitos humanos que interessa ao processo
penal é o Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana de
Direitos Humanos).
No terceiro patamar estão as Leis Ordinárias, Leis
Complementares, Leis Delegadas, Resoluções, Decretos Legislativos,
Tratados Internacionais que não tratem de direitos humanos, Medidas
Provisórias.

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Na base da pirâmide estão os Decretos, Portarias e demais atos
infralegais.
Tal hierarquização está de acordo com o entendimento
exposado, por exemplo, no seguinte precedente do STF: “No plano
dos tratados e convenções internacionais, aprovados e promulgados
pelo Estado brasileiro, é conferido tratamento diferenciado ao tráfico
ilícito de entorpecentes que se caracterize pelo seu menor potencial
ofensivo. Tratamento diferenciado, esse, para possibilitar alternativas
ao encarceramento. É o caso da Convenção Contra o Tráfico Ilícito de
Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas, incorporada ao direito
interno pelo Decreto 154, de 26-6-991. Norma <supralegal>de
hierarquia intermediária, portanto, que autoriza cada Estado
soberano a adotar norma comum interna que viabilize a aplicação da
pena substitutiva (a restritiva de direitos) no aludido crime de tráfico
ilícito de entorpecentes.” (HC 97.256, Rel. Min. Ayres Britto,
julgamento em 1º-9-2010, Plenário, DJE de 16-12-2010.)6”7
Posicionando o ramo do Direito que ora se passa a expor, deve-
se alerta que o Código de Processo Penal Militar é Lei Ordinária
Federal.

Interpretação literal

Art. 2º A lei de processo penal militar deve ser


interpretada no sentido literal de suas expressões. Os têrmos
técnicos hão de ser entendidos em sua acepção especial, salvo
se evidentemente empregados com outra significação.

Interpretação extensiva ou restritiva

1º Admitir-se-á a interpretação extensiva ou a


interpretação restritiva, quando fôr manifesto, no primeiro

6
Trecho da obra eletrônica: A Constituição e o Supremo, disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigo.asp#ctx1
7
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013,
no prelo a 1ª edição, p. 23.
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caso, que a expressão da lei é mais estrita e, no segundo, que
é mais ampla, do que sua intenção.

Casos de inadmissibilidade de interpretação não literal

2º Não é, porém, admissível qualquer dessas


interpretações, quando:

a) cercear a defesa pessoal do acusado;

b) prejudicar ou alterar o curso normal do processo, ou


lhe desvirtuar a natureza;

c) desfigurar de plano os fundamentos da acusação que


deram origem ao processo.

Suprimento dos casos omissos

Art. 3º Os casos omissos neste Código serão supridos:

a) pela legislação de processo penal comum, quando


aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da índole do
processo penal militar;

b) pela jurisprudência;

c) pelos usos e costumes militares;

d) pelos princípios gerais de Direito;

e) pela analogia.

Na interpretação da lei processual penal militar, a regra é a


literalidade.
Contudo, a interpretação literal será afastada,
excepcionalmente, quando for manifesto que a expressão da lei é
mais estrita ou mais ampla do que sua intenção.
Trata de abertura legal expressa para a utilização das
denominadas interpretações extensivas e restritivas.
Tais interpretações, extensiva e restritiva estão relacionadas ao
critério do resultado.

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Assim, temos:
“O critério do resultado se contextualiza no alcance que se
poderá dar ao texto legal objeto de discussão.”8
Declarativa:
(Literal)
No caso só se
conclui exatamente
o que o dispositivo
pretendia definir.

Restritiva:
Se define que o
dispositivo legal Extensiva:
abarcou mais do Se define que o
que o legislador dispositivo legal
queria abarcar. abarcou menos do
que o legislador
gostaria de
abarcar.

Contudo, as interpretações extensiva e restritiva não serão


admitidas, quando:
a) cercear a defesa pessoal do acusado;
b) prejudicar ou alterar o curso normal do processo, ou lhe
desvirtuar a natureza;
c) desfigurar de plano os fundamentos da acusação que deram
origem ao processo.

No que tange à integração de lacunas do CPPM, o CPP comum é


a primeira fonte supressiva. Desse modo, é justamente pelo CPPM
não tratar claramente da ação penal privada subsidiária da pública
que se costuma invocar as disposições do CPP comum como forma de
suprimir tal lacuna, o que implica, por exemplo, na possibilidade do

8
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013,
no prelo a 1ª edição, p. 111.
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MP aditar e repudiar a queixa subsidiária ou, em qualquer momento,
no caso de negligência da parte, retomar a ação.
Contudo, deve-se ter cautela pra que a aplicação subsidiária do
CPP e da legislação processual comum não desvirtue a lógica
processual penal militar ou não haja previsão expressa sobre sua
vedação. Exemplo de vedação expressa é a prevista na lei 9099/95,
em seu art. 90-A, que determina o afastamento completo dos
juizados especiais criminais da esfera militar.
Uma outra fonte de integração é a jurisprudência. O STF, por
exemplo, em processo de execução na esfera militar, tem aplicado o
benefício da progressão de regime mesmo diante da ausência de
previsão legal específica.
A adoção dos usos e costumes para integrar lacunas também é
admitida. Um exemplo de costume militar é a prevalência da Marinha
sobre as demais forças, tendo em vista sua antiguidade o que acabou
por ser positivado na Lei de Organização da Justiça Militar da União
em seu art. 16 onde se informa que o Capitão-Tenente (Marinha)
antecede o Capitão (Exército e Aeronáutica).
Os princípios gerais do direito também servem como meio de
integração do ordenamento jurídico.

Aplicação da Lei Processual no Espaço e no Tempo


CPPM, Art. 4º Sem prejuízo de convenções, tratados e
regras de direito internacional, aplicam-se as normas dêste
Código:
Tempo de paz
I - em tempo de paz:
a) em todo o território nacional;
b) fora do território nacional ou em lugar de
extraterritorialidade brasileira, quando se tratar de crime que
atente contra as instituições militares ou a segurança

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nacional, ainda que seja o agente processado ou tenha sido
julgado pela justiça estrangeira;
c) fora do território nacional, em zona ou lugar sob
administração ou vigilância da fôrça militar brasileira, ou em
ligação com esta, de fôrça militar estrangeira no cumprimento
de missão de caráter internacional ou extraterritorial;
d) a bordo de navios, ou quaisquer outras embarcações,
e de aeronaves, onde quer que se encontrem, ainda que de
propriedade privada, desde que estejam sob comando militar
ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem de
autoridade militar competente;
e) a bordo de aeronaves e navios estrangeiros desde que
em lugar sujeito à administração militar, e a infração atente
contra as instituições militares ou a segurança nacional;
Tempo de guerra
II - em tempo de guerra:
a) aos mesmos casos previstos para o tempo de paz;
b) em zona, espaço ou lugar onde se realizem operações
de fôrça militar brasileira, ou estrangeira que lhe seja aliada,
ou cuja defesa, proteção ou vigilância interesse à segurança
nacional, ou ao bom êxito daquelas operações;
c) em território estrangeiro militarmente ocupado.

CPM, Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de


convenções, tratados e regras de direito internacional, ao
crime cometido, no todo ou em parte no território nacional, ou
fora dêle, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo
processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira.

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O art. 4º do CPPM quase que em sua integralidade reproduz as
disposições de territorialidade e extraterritorialidade do art. 7º do
CPM.
Contudo, em tempo de guerra, o inciso II do art. 4º do CPPM,
especificamente em sua alínea “b”, se verifica uma diferença. Assim,
mesmo que o fato ocorra em zona de operação militar brasileira, se
houver uma força aliada, será aplicada a lei processual brasileira,
sendo um caso de extraterritorialidade. Trata-se de
extraterritorialidade irrestrita, ou seja, independe de quem seja o
autor ou a vítima.
Observe que o CPP comum determina que sua própria aplicação
se dê somente em território nacional. Assim, se observa importante
diferença entre o CPP comum e o CPPM que é naturalmente mais
abrangente, isso por regular situações frequentemente
transnacionais, em que suas atividades podem se desenrolar em
território estrangeiro.

CPPM, Art. 5º As normas dêste Código aplicar-se-ão a


partir da sua vigência, inclusive nos processos pendentes,
ressalvados os casos previstos no art. 711, e sem prejuízo da
validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

No tocante à aplicação da lei processual no tempo, nos mesmos


moldes da legislação comum, o CPPM adotou o princípio da
imediatidade.
Logo, se inquirindo sobre a aplicação da lei processual penal no
tempo se afirma que a mesma se dá de forma IMEDIATA (não
retroagindo mesmo que beneficie o réu - diferentemente da lei
penal).
Tal raciocínio se pauta no denominado sistema de isolamento
dos atos processuais, onde se afere a validade de determinado ato

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processual de acordo com a norma processual vigente à época de sua
realização. Afere-se a validade cada ato de forma isolada, pois tempu
regit actum9. Nesse sentido é posicionamento do STJ: a lei nova, em
matéria processual, aplica-se aos processo em curso, não atingindo
as fases já encerradas”.10
No que tange às normas que regulam o recurso criminal,
majoritariamente se entende que as mesmas detêm natureza
processual, tendo assim, aplicação imediata, logo, a lei que regula o
recurso é a que está em vigor na data da publicação da sentença.
Cautela se deve ter com as denominadas normas mistas, que
são aquelas normas processuais que envolvam liberdade do
indivíduo, possuindo assim reconhecida carga material. Segundo
entendimento prevalente, tais normas, por afetarem a liberdade,
devem ser consideradas irretroativas.
Contudo, na prática, antes de se concluir pela irretroatividade,
o operador deve perquirir sobre a possibilidade de cisão, o que, se
viável, determinará a retroatividade dos aspectos matérias favoráveis
e a aplicação imediata dos aspectos processuais.

CPPM, Art. 6º Obedecerão às normas processuais


previstas neste Código, no que forem aplicáveis, salvo quanto
à organização de Justiça, aos recursos e à execução de
sentença, os processos da Justiça Militar Estadual, nos crimes
previstos na Lei Penal Militar a que responderem os oficiais e
praças das Polícias e dos Corpos de Bombeiros, Militares.

O CPPM detém aplicabilidade geral, ressalvadas as seguintes


situações, que, conforme apontam os autores Cláudio Amin e Nelson

9
O tempo rege o ato.
10
Resp 21.682-MG, 1ª T., DJU 28.09.1992.

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Coldibelli, ficaram submetidas à legislação estadual ou diversa do
CPPM:
1) Organização da Justiça: “como normas próprias relativas
à Polícia Judiciária, à constituição do Conselho de Justiça e outras. O
conselho será composto por oficiais integrantes da Polícia Militar ou
Corpo de Bombeiros Militar, de acordo com o órgão a que pertence o
acusado. Verifica-se, também, que o juiz-auditor recebe a
denominação de “juiz de direito”, sendo ele o presidente do Conselho
de Justiça; o juiz de direito atua monocraticamente ao processar e
julgar crimes cometidos contra civis e as ações judiciais.”11
2) Recursos: “excetuando-se os Estados de Minas Gerais, São
Paulo e Rio Grande do Sul, que possuem Tribunais militares, nos
demais os recursos são interpostos junto aos respectivos Tribunais de
Justiça. É possível a criação de Tribunal de Justiça Militar nos Estados
em que o efetivo da Polícia Militar seja superior a vinte mil
integrantes, conforme dispõe o § 3º do art. 125 da CF/88.”12
3) Execução de Sentença: “deve-se observar o disposto no §
único do art. 2º da lei 7210/84, que instituiu a lei de execução
penal.”13

Trabalhadas as disposições a respeito da aplicação da lei


processual penal militar, passemos a análise da primeira parte da
persecução penal militar. Vejamos então as disposições relacionadas
à Polícia Judiciária Militar e o instrumento de sua atuação, o Inquérito
Policial Militar.

11
MIGUEL, Claudio Amin e COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, 3ª edição, p. 22/23.
12
MIGUEL, Claudio Amin e COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, 3ª edição, p. 22/23.
13
MIGUEL, Claudio Amin e COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, 3ª edição, p. 22/23.
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Persecução Penal Militar

De início precisamos definir o que vem a ser persecução penal.


Assim definimos: “a persecução penal pode ser definida como o
conjunto de atos destinados à apuração do delito e à devida aplicação
da lei penal. Reconhecendo que a persecução penal é entendida como
a resultante da soma da investigação preliminar com a ação penal,
ambas estudadas no direito processual penal, passaremos
inicialmente pela análise da Polícia Judiciária Militar para então tratar
do Inquérito Policial Militar (espécie de investigação preliminar),
parcela e, somente uma fase da denominada persecução criminal,
conforme se visualiza na seguinte esquematização:”14

"
Persecução = Investigação + Ação
Penal Preliminar Penal

Antes porém, precisamos contextualizar o panorama da


segurança pública, para então desenvolvermos a peculiar situação da
polícia judiciária militar.
Tradicionalmente se afirma que POLÍCIA JUDICIÁRIA é
aquela que realiza investigação e auxilia o Poder Judiciário, logo, tem
como função típica a investigação das infrações penais visando
auxiliar o aparato de estatal de repressão do delito, daí ser entendida
como REPRESSIVA.
Funções da policia judiciária:
● Auxiliar do poder judiciário
● Elaboração do Inquérito Policial

14
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013,
no prelo a 1ª edição, p. 220.
14
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Por outro lado a POLÍCIA ADMINISTRATIVA é ostensiva e
preventiva, pois atua primordialmente antes do crime visando evitá-
lo, inibi-lo (PREVENTIVA). De acordo com essa natureza que se
costuma afirmar que os órgãos de polícia administrativa se
apresentam de modo fardado, de modo a inibir a prática delitiva.
O fato de estabelecermos as referidas funções às respectivas
polícias não pode gerar a conclusão de que tais funções são
exclusivas. Ao se distribuir as funções se visa evitar acumulação em
um mesmo órgão, de modo a evitar o arbítrio e garantir a
especialização funcional. Contudo, as referidas funções são atribuídas
de acordo com o critério da PREPONDERANCIA e não da
EXCLUSIVIDADE. Logo, podemos observar que por vezes a policia
judiciária atua preventivamente e que a polícia administrativa pode
atuar repressivamente.
Dentre as atuações atípicas, nesse momento, nos interessa a
função atípica das polícias administrativas. Assim, no caso de crime
militar se perceberá que a autoridade, que presidirá o inquérito
policial militar, será também de natureza militar.
Desse modo temos:

Crime Militar => Inquérito Policial Militar =>


Presidência=> Autoridade Militar (Encarregado)

Não se pode confundir o seguinte: O fato de as polícias civis e


federais serem polícias judiciárias não significa que as mesmas sejam
parte da organização do poder judiciário, mas simplesmente que
auxiliam os órgãos desse poder. Assim, tanto as policias judiciárias
quanto as administrativas fazem parte do poder executivo.
Vejamos então a disposição constitucional dos órgão de
Segurança Pública no Brasil:

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Polícia (art. 144, CF):
a) policias administrativas (ostensiva): de prevenção
Ω policia militar
Ω policia rodoviária
Ω policia ferroviária
Ω policia marítima
b) policias judiciárias (não ostensiva): repressiva
Ω estadual
Ω federal

Diante desse contexto se pode indagar: Qual seria o órgão de


policial judiciária militar?
Respondemos: Não há órgão específico de policial judiciária
militar. A atividade de polícia judiciária militar é exercida
casuisticamente, nos moldes do que dispõe o art. 7 º do CPPM, que
lista as autoridades que exercem a polícia judiciária militar nas
respectivas armas (Marinha, Exército e Aeronáutica):

CPPM, Art. 7º A polícia judiciária militar é exercida nos


têrmos do art. 8º, pelas seguintes autoridades, conforme as
respectivas jurisdições:
a) pelos ministros da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, em todo o território nacional e fora dêle, em
relação às fôrças e órgãos que constituem seus Ministérios,
bem como a militares que, neste caráter, desempenhem
missão oficial, permanente ou transitória, em país
estrangeiro;
b) pelo chefe do Estado-Maior das Fôrças Armadas, em
relação a entidades que, por disposição legal, estejam sob sua
jurisdição;

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Curso de Direito Processual Penal Militar para
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c) pelos chefes de Estado-Maior e pelo secretário-geral
da Marinha, nos órgãos, fôrças e unidades que lhes são
subordinados;
d) pelos comandantes de Exército e pelo comandante-
chefe da Esquadra, nos órgãos, fôrças e unidades
compreendidos no âmbito da respectiva ação de comando;
e) pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou
Zona Aérea, nos órgãos e unidades dos respectivos territórios;
f) pelo secretário do Ministério do Exército e pelo chefe
de Gabinete do Ministério da Aeronáutica, nos órgãos e
serviços que lhes são subordinados;
g) pelos diretores e chefes de órgãos, repartições,
estabelecimentos ou serviços previstos nas leis de
organização básica da Marinha, do Exército e da Aeronáutica;
h) pelos comandantes de fôrças, unidades ou navios;

Ressalve-se que, no caso da alínea “a”, são os comandantes


das forças armadas, e não o ministro da defesa, as autoridades com
atribuição de polícia judiciária.

Os militares e comandantes exercem a função de polícia


judiciária, sendo possível delega-la para outros oficiais, desde que
respeitadas a disciplina e a hierarquia. Desse modo, conforme afirma
Ricardo Henrique Giuliani, “a autoridade delegante pode e deve
exercer fiscalização disciplinadora sobre aquele oficial (longa manus)
a quem foi delegada a atribuição.”15

15
GIULIANI, Ricardo Henrique Alves. Direito Processual Penal Militar. Porto Alegre: Verbo jurídico,
2007, p. 21.
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Curso de Direito Processual Penal Militar para
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Registre-se que, nos moldes do art. 7º, §2º do CPPM, o oficial
que recebeu a delegação deve ser superior ao investigado.

Delegação do exercício
1º Obedecidas as normas regulamentares de jurisdição,
hierarquia e comando, as atribuições enumeradas neste artigo
poderão ser delegadas a oficiais da ativa, para fins
especificados e por tempo limitado.
2º Em se tratando de delegação para instauração de
inquérito policial militar, deverá aquela recair em oficial de
pôsto superior ao do indiciado, seja êste oficial da ativa, da
reserva, remunerada ou não, ou reformado.
3º Não sendo possível a designação de oficial de pôsto
superior ao do indiciado, poderá ser feita a de oficial do
mesmo pôsto, desde que mais antigo.
4º Se o indiciado é oficial da reserva ou reformado, não
prevalece, para a delegação, a antiguidade de pôsto.

Designação de delegado e avocamento de inquérito pelo


ministro
5º Se o pôsto e a antiguidade de oficial da ativa
excluírem, de modo absoluto, a existência de outro oficial da
ativa nas condições do § 3º, caberá ao ministro competente a
designação de oficial da reserva de pôsto mais elevado para a
instauração do inquérito policial militar; e, se êste estiver
iniciado, avocá-lo, para tomar essa providência.

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Curso de Direito Processual Penal Militar para
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Sobre o tema indagou a Cespe:

2004 – DPU – CESPE – DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL


O ministro da Defesa requisitou a instauração de inquérito
policial militar para apurar a prática do crime de “hostilidade contra
país estrangeiro” (art. 136 do CPM) por parte de oficial das forças
armadas brasileiras.
Com referência a essa situação hipotética e a respeito dos
preceitos relativos à polícia judiciária militar e ao inquérito policial
militar, julgue os seguintes itens.
Se, no curso do inquérito, surgissem indícios da participação do
general mais antigo do Exército brasileiro na ativa, o encarregado
deveria encaminhar os autos ao comandante do Exército, que
assumiria a chefia das investigações.
Certo ou Errado

Por fim deve-se apontar que a delegação pode ser integral,


para instauração e desenvolvimento do inquérito policial militar ou
parcial quando se determina oficial designado para dar continuidade
às investigações.

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Segundo o art. 8º do CPPM são atribuições da Polícia Judiciária
Militar:

Polícia Judiciária Militar


Atribuições

a) apurar os crimes d) representar a g) requisitar da


militares, bem como autoridades polícia civil e das
os que, por lei judiciárias militares repartições técnicas
especial, estão acêrca da prisão civis as pesquisas e
sujeitos à jurisdição preventiva e da exames necessários
militar, e sua autoria; insanidade mental do ao complemento e
b) prestar aos indiciado; subsídio de inquérito
órgãos e juízes da e) cumprir as policial militar;
Justiça Militar e aos determinações da h) atender, com
membros do Ministério Justiça Militar observância dos
Público as informações relativas aos presos regulamentos
necessárias à sob sua guarda e militares, a pedido de
instrução e responsabilidade, apresentação de
julgamento dos bem como as demais militar ou funcionário
processos, bem como prescrições dêste de repartição militar à
realizar as diligências Código, nesse autoridade civil
que por êles lhe forem sentido; competente, desde
requisitadas; f) solicitar das que legal e
c) cumprir os autoridades civis as fundamentado o
mandados de prisão informações e pedido.
expedidos pela Justiça medidas que julgar
Militar; úteis à elucidação
das infrações penais,
que esteja a seu
cargo;

20
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Inquérito Policial Militar

Praticada uma infração penal, nasce para o Estado o dever-


poder de punir adequadamente o autor da infração. Para que tal
punição ocorra, o Estado deverá proceder uma apuração criteriosa
para somente exercer a jurisdição em relação àquele que
supostamente é o sujeito ativo da infração penal. Desse modo, para
iniciar a apuração dos delitos que ocorrem em nosso território haverá
um conjunto de atos destinados à elucidação do fato delituoso, o que
costuma ser realizado, em sua maior parte através do inquérito
policial.
O inquérito policial é algo anterior ao processo, pois serve como
filtro mínimo, antecipando um juízo de plausibilidade jurídico sobre o
crime (infração penal), de modo a permitir que só chegue ao
judiciário aquilo efetivamente tenha aptidão para movimentar a
maquina judiciária de forma útil, evitando desperdício de tempo e de
dinheiro estatal.
O Inquérito Policial Militar pode ser definido como um
procedimento administrativo, preparatório e inquisitivo, presidido por
autoridade militar e constituído por um complexo de diligências
realizadas pela Polícia Judiciária Militar com vistas à apuração da
autoria e materialidade da Infração Penal Militar.
O que provoca o início do inquérito policial militar é a Notitia
Criminis, assunto que se abordará mais a frente.
De modo geral, o estudo do Inquérito Polícia comum se aplica
ao Inquérito Policial Militar.

Vejamos então suas características:


As características do inquérito são as peculiaridades que
costumam lhe diferenciar dos demais procedimentos. Vejamos:

21
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
• Inquisitividade: Trata-se da forma de gestão do
procedimento onde as funções relacionadas à condução do inquérito
policial estão reunidas em uma só pessoa, a Autoridade Militar,
comumente chamada de Encarregado.
Assim, a chefia do inquérito policial é unipessoal, onde o
mesmo não está submetido aos princípios do contraditório e da ampla
defesa, embora seja obrigado a respeitar os demais direitos do
investigado.
Essa é a afirmação comum na doutrina para definir a
inquisitividade do inquérito policial. Entretanto deve-se apontar que a
utilização do termo inquisitividade é mais ampla do que parece e tem
conotação diversa da que se costuma estabelecer. Destarte, o
inquérito é inquisitivo porque o mesmo detém finalidade apuratória,
pois deve se pautar na busca da verdade.

• Discricionariedade: A Autoridade Militar, presidente do


inquérito policial militar, o preside com discricionariedade, como o faz
em qualquer procedimento administrativo. Logo, na determinação
das diligências pode as determinar ou não, avaliando a oportunidade
e conveniência da medida, podendo rejeitar as que entender inúteis.
Contudo deve-se ter cautela em relação aos atos denominados
pela lei como instrutórios, onde naturalmente o encarregado estará
obrigado a determinar sua realização pela importância que
apresentam. Segundo o CPPM: São, porém, efetivamente instrutórios
da ação penal os exames, perícias e avaliações realizados
regularmente no curso do inquérito, por peritos idôneos e com
obediência às formalidades previstas neste Código (art. 9º, § único
do CPPM).
Assim, diante do contexto acima e da disposição prevista no
art. 315, § único do CPPM, não se poderia negar a realização de
exame de corpo de delito.

22
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União

• Escrito (art. 21 do CPPM):


Reunião e ordem das peças de inquérito:
Art. 21. Tôdas as peças do inquérito serão, por ordem
cronológica, reunidas num só processado e dactilografadas, em
espaço dois, com as fôlhas numeradas e rubricadas, pelo escrivão.

• Sigiloso (art. 16 do CPPM):


Sigilo do inquérito
Art. 16. O inquérito é sigiloso, mas seu encarregado pode
permitir que dêle tome conhecimento o advogado do indiciado.

Deve-se registra que esse sigilo não é absoluto.


Internamente somente o INDICIADO é que não pode ter acesso
ao Inquérito Policial.
Externamente, ninguém do público pode ter acesso ao referido
procedimento. O sigilo também finaliza a proteção da intimidade do
próprio investigado.
O sigilo não é absoluto, pois não se opõe ao advogado, ao juiz e
ao Ministério Público.
Por fim deve-se registrar que a disposição legal do CPPM, já
consolidada no âmbito castrense, ainda era objeto de debate na
esfera comum. Discussão que só foi finalizada com a edição de
súmula vinculante a respeito. Vejamos:

SÚMULA VINCULANTE Nº 14
É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO
REPRESENTADO, TER ACESSO AMPLO AOS ELEMENTOS DE
PROVA QUE, JÁ DOCUMENTADOS EM PROCEDIMENTO
INVESTIGATÓRIO REALIZADO POR ÓRGÃO COM

23
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
COMPETÊNCIA DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM RESPEITO
AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA.

Desse modo, diante da referida súmula, deve-se interpretar o


pode do dispositivo legal militar como deve, haja vista a própria
disposição do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.

• Dispensabilidade:
Dispensa de Inquérito
Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado, sem prejuízo de
diligência requisitada pelo Ministério Público:
a) quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por
documentos ou outras provas materiais;
b) nos crimes contra a honra, quando decorrerem de escrito ou
publicação, cujo autor esteja identificado;
c) nos crimes previstos nos arts. 341 e 349 do Código Penal
Militar.

No que tange à hipótese da alínea c se verifica que o art. 341


dispõe sobre o crime de Descato e o art. 349 tipifica o crime de
Desobediência. Assim, dispensasse o inquérito militar, haja vista a
autoria e existência do crime já estarem devidamente registradas
através do flagrante no primeiro caso (Desacato) ou certificadas no
segundo (Desobediência).
Também é importante observar o disposto no art. 27 do CPM,
que lista mais uma hipótese de dispensabilidade do Inquérito Policial
Militar. Vejamos:
Suficiência do auto de flagrante delito
Art. 27. Se, por si só, fôr suficiente para a elucidação do fato e
sua autoria, o auto de flagrante delito constituirá o inquérito,
dispensando outras diligências, salvo o exame de corpo de delito no

24
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
crime que deixe vestígios, a identificação da coisa e a sua avaliação,
quando o seu valor influir na aplicação da pena. A remessa dos autos,
com breve relatório da autoridade policial militar, far-se-á sem
demora ao juiz competente, nos têrmos do art. 20.

Diante dessa característica, dispensabilidade, a doutrina


costuma afirmar que os vícios ocorridos no âmbito do inquérito
policial militar não tem o condão de gerar nulidade na ação penal.
Logo, tais vícios são entendidos como mera irregularidade
procedimental, não contaminando automaticamente a Ação Penal
Militar, ou seja, o processo penal militar.

Sobre o tema já questionou a Cespe:


2010 – CESPE – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA
Os vícios ocorridos na fase de IPM, como peculiaridade da
persecução penal castrense, tais como a escolha do encarregado, o
respectivo grau hierárquico em relação ao investigado e a designação
do escrivão do inquérito, repercutem na futura ação penal, por se
tratar de medidas que visam tutelar a hierarquia e a disciplina.
Certo ou Errado

Ainda sobre a dispensabilidade, no mesmo concurso indagou a


Cespe:

2010 – CESPE – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


A propositura de ações penais, no âmbito do processo penal militar,
deve lastrear-se em IPM, cuja investigação deve encontrar-se encerrada,
por força de imperativo legal.
Certo ou Errado

25
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Chamamos especial atenção do candidato a respeito do tema
vícios no inquérito e eventual contaminação da ação penal.
Detalhamos isso, ainda mais porque como verificamos que existem
atos do inquérito policial militar que implicam em atos de instrução,
conforme dispõe o próprio CPPM (art. 9º, § único), visto se
enquadrarem no que hoje chamaríamos de provas irrepetíveis, no
contexto da legislação processual penal comum.
Assim, alertamos para o tratamento ainda clássico que os
manuais de Processo Penal Militar dão para a referida matéria que,
contudo, está sendo revisitado no Direito Processual Penal comum no
âmbito doutrinário e da jurisprudência do STJ, especialmente.
Logo, trazemos observações que fizemos no âmbito do Direito
Processual Comum que fatalmente poderiam ser transplantadas, com
mais razão, à seara militar e podem importar a depender da ótica e
do modo que o examinador elabore a questão (tipo: segundo
entendimento do STJ). Vejamos as lições:
“Os vícios no Inquérito Policial podem provocar a nulidade de
um processo criminal?! Responde-se: NÃO! Não macula a ação penal.
A Ação Penal é autônoma.
Deve-se ter atenção, pois o termo nulidade é afeto ao processo,
caracterizando-se, dentre outras discussões, como sanção processual
aplicável ao ato processual que desrespeita a forma exigível. Como o
inquérito é procedimento e não processo, não há que se falar em
nulidades nesse contexto.
Para o Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça
os vícios do Inquérito Policial não contaminam o processo, uma vez
que o IP é dispensável. Entretanto, irregularidades podem ocorrer na
fase investigatória e, diante de tal desrespeito, o caso concreto irá
indicar sobre a possibilidade de sanar ou ignorar o vício apresentado
durante e no contexto dessa fase.

26
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Quanto ao reflexo da irregularidade do inquérito na futura ação
penal com ele instruída, deve-se atentar para os chamados
elementos migratórios. Assim, se um vício vincular um elemento
migratório e o juiz se valer dele para sentenciar, o processo, agora
sim, será nulo.
Pode-se entender por elementos migratórios, por exemplo: as
provas irrepetíveis que são produzidas na fase do IP. Tal conclusão é
decorrência da nova redação do art. 15516 do CPP.
Demonstrando a cautela que se deve ter ao tratar o presente
tema, verifica-se decisão do STJ sobre a operação Satiagraha,
vejamos:
“DECISÃO
Participação da Abin tornou ilegais investigações da
Operação Satiagraha
A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
considerou ilegais as investigações da Operação
Satiagraha e anulou a ação penal em que o banqueiro
Daniel Valente Dantas, do grupo Opportunity, havia sido
condenado por corrupção ativa. Por três votos a dois, os
ministros decidiram nesta terça-feira (7) que a operação da
Polícia Federal foi ilegal em razão da participação de
funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
e que, por isso, as provas reunidas na investigação não podem
ser usadas em processos judiciais.
“Se a prova é natimorta, passemos desde logo o
atestado de óbito, para que ela não seja usada contra
nenhum cidadão”, disse o presidente da Quinta Turma,
ministro Jorge Mussi, ao dar o voto que desempatou o
julgamento, dando vitória à tese sustentada pelo relator do
caso, o desembargador convocado Adilson Vieira Macabu.
Antes dele, a ministra Laurita Vaz, que havia pedido vista do
processo na sessão de 5 de maio, votou contra a concessão do
habeas corpus pedido pela defesa de Daniel Dantas e deixou a
situação empatada em dois a dois.
A defesa do banqueiro entrou com habeas corpus no STJ
alegando que os agentes da Abin, contrariando a lei,
participaram das investigações ao atuar em procedimentos de
monitoramento telefônico, monitoramento telemático e ação
controlada. Parecer do Ministério Público Federal opinou
pela nulidade de toda a investigação.
A Operação Satiagraha, desencadeada em 2004, tinha o
objetivo de apurar casos de corrupção, desvio de verbas
16
O CPPM trata do tema no art. 297 c/c § único do art. 9º.
27
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
públicas e crimes financeiros, mas apenas dois processos
foram concluídos na Justiça Federal: um condenou Daniel
Dantas por corrupção ativa; o outro condenou o delegado
condutor do inquérito, Protógenes Queiroz (hoje deputado
federal), e um escrivão por fraude processual e quebra de
sigilo profissional.

Voto vencido
A ministra Laurita Vaz votou contra o habeas corpus por
entender que a condenação de Daniel Dantas na 6ª Vara
Criminal Federal de São Paulo (por ter, supostamente,
oferecido suborno a um delegado federal) não se apoiou em
provas cuja produção tivesse contado com a participação de
agentes da Abin. “Eventuais irregularidades dessa ordem
em procedimentos inquisitoriais outros não teriam o
condão de contaminar a prova colhida para instrução da
ação penal que apurou o crime de corrupção”, afirmou a
ministra.
“Mesmo que se admita que houve a participação de
agentes da Abin nos referidos procedimentos
investigatórios, tal participação não estaria bem
delineada”, acrescentou Laurita Vaz. Assim, segundo ela,
qualquer conclusão sobre nulidade das provas derivadas
da investigação dependeria de uma análise detalhada
sobre o envolvimento dos agentes – análise esta
impossível de ser feita no julgamento de habeas corpus,
que exige prova constituída previamente.
“Em relação à apuração do crime de corrupção, o juiz federal
processante foi categórico ao afirmar que não há nos autos da
ação penal elementos de prova aptos a demonstrar a
participação de agentes da Abin nas diligências consideradas
na persecução penal em questão”, disse a ministra.

Posição da maioria
Para o ministro Jorge Mussi, porém, o envolvimento da Abin
ficou demonstrado em documento no qual a Polícia Federal
determinou a apuração interna de irregularidades na operação.
Segundo o documento lido pelo ministro, há vários
elementos indicando a atuação de servidores da Abin,
“sem autorização judicial e sem nenhuma formalidade”.
Eles teriam acessado informações sigilosas, fotografado,
filmado, gravado e analisado documentos reservados,
além de ouvir interceptações telefônicas e produzir
relatórios.
Jorge Mussi citou a sentença do juiz da 7ª Vara Criminal
Federal, que condenou o delegado e o escrivão, para dizer que
o esquema de investigação informal montado na
Satiagraha “representa um modelo de apuração próprio
de polícia secreta, à margem das mais comezinhas
regras do Estado Democrático de Direito”.

28
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Na opinião do presidente da Quinta Turma, toda a operação
mostrou “uma volúpia desenfreada de se construir um
arremedo de prova, que acaba por ferir de morte a
Constituição”. Ele disse que “é preciso dar um basta
nisso, antes que seja tarde”.
“Se me perguntassem se a Abin poderia atuar em
investigação, compartilhando informações, com
autorização judicial para isso, eu diria que sim. Sem
autorização judicial, também, desde que requisitada. O
que não pode é fazer como foi feito, na clandestinidade”,
afirmou o ministro. Ele lembrou que o Supremo Tribunal
Federal já consagrou a chamada Teoria dos Frutos da
Árvore Envenenada, segundo a qual uma prova ilícita
contamina de ilegalidade todas as outras decorrentes dela.

O julgamento
No voto que iniciou o julgamento, em 1º de março, o
desembargador convocado Adilson Macabu foi favorável à
concessão do habeas corpus. Ele considerou que a ação penal
contra o dono do Opportunity deveria ser anulada, pois se
baseou em provas obtidas com a participação ilegal de mais de
70 agentes da Abin, além de um ex-funcionário do extinto
Serviço Nacional de Informações (SNI) contratado em regime
particular.
Segundo o relator, o inquérito da Operação Satiagraha contém
vícios que “contaminam” todo o processo e caracterizam abuso
de poder, contrariando os princípios da legalidade,
imparcialidade e do devido processo legal. O ministro Napoleão
Nunes Maia Filho deu seu voto antecipadamente na sessão de
1º de março, acompanhando o relator.
A divergência foi aberta em 5 de maio, quando o ministro
Gilson Dipp votou contra o pedido da defesa de Daniel Dantas.
De acordo com o ministro, a competência da Abin – assessorar
a Presidência da República em assuntos relacionados à
segurança e a outros altos interesses da sociedade e do Estado
– não exclui a possibilidade de sua participação em atividades
compartilhadas com a polícia.
Segundo Dipp, não haveria ilegalidade na cessão de recursos
humanos e técnicos da Abin para atuação em conjunto com a
Polícia Federal em investigação relacionada aos seus propósitos
institucionais, desde que a coordenação ficasse a cargo da
autoridade policial responsável pelo inquérito. A ilicitude da
participação da Abin só se evidenciaria na falta dessa
coordenação, mas, para avaliar isso, segundo o ministro, seria
necessário um reexame profundo e detalhado de todos os
fatos, o que não é possível em análise de habeas corpus.
Disponível em:
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.ar
ea=398&tmp.texto=102135

29
Curso de Direito Processual Penal Militar para
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Aparentemente abordando o conhecimento relacionado à
referida decisão, encontra-se questão da magistratura federal
realizada pela Cespe em 2011, vejamos:

“Prova: CESPE - 2011 - TRF - 1ª REGIÃO - Juiz; Disciplina:


Direito Processual Penal:

Em relação ao inquérito policial, assinale a opção correta


com base no direito processual penal.

a) Na atual sistemática processual penal, resta vedada


instauração de inquérito policial em relação aos crimes de
menor potencial ofensivo, em qualquer hipótese, em face do
preceito legal expresso que determina a lavratura de termo
circunstanciado, pelo qual não se admite submissão do autor
do fato ao constrangimento do procedimento inquisitivo, como,
por exemplo, à condução coercitiva e à identificação criminal.

b) Os vícios ocorridos no curso do inquérito policial, em


regra, não repercutem na futura ação penal, ensejando,
apenas, a nulidade da peça informativa, salvo quando
houver violações de garantias constitucionais e legais
expressas e nos casos em que o órgão ministerial, na
formação da opinio delicti, não consiga afastar os
elementos informativos maculados para persecução
penal em juízo, ocorrendo, desse modo, a extensão da
nulidade à eventual ação penal.

c) Ordenado o arquivamento de inquérito policial instaurado


antes da constituição definitiva do crédito tributário, de modo a
atender a força impositiva de verbete sumular vinculante, resta
vedado, em qualquer hipótese, o seu desarquivamento, mesmo
sobrevindo constituição do crédito tributário, após o
encerramento do procedimento administrativo/fiscal, porque o
fundamento da decisão judicial é a atipicidade do fato, cuja
eficácia preclusiva é de coisa julgada material.

d) Considere a seguinte situação hipotética.


O MP, ao oferecer denúncia, não se manifestou, de forma
expressa, em relação a alguns fatos e a determinados agentes
investigados, cujos elementos estão evidenciados no bojo do
inquérito policial.
Nessa situação hipotética, restam assentes doutrina e
jurisprudência pátria acerca da ocorrência do pedido de
arquivamento implícito ou arquivamento indireto, por parte do
órgão de acusação, exigindo-se, contudo, para os devidos
efeitos legais, decisão judicial expressa de arquivamento.

30
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
e) O atual entendimento consolidado na jurisprudência dos
tribunais superiores prevê a possibilidade de retratação do
pedido de arquivamento de inquérito policial,
independentemente do surgimento de provas novas, desde que
não tenha ocorrido ainda o pronunciamento judicial, visto que
prevalece o interesse público da persecução penal. “

O gabarito oficial da questão informou como correta a opção B,


colocando em dúvida a afirmação doutrinária clássica de que não
existem nulidades no Inquérito Policial (mormente pelo final da
afirmação) e de que eventuais vícios no procedimento investigativo
não teriam o condão de anular a ação penal. Assim, o que se viabiliza
é o raciocínio a respeito da teoria dos frutos da árvore envenenda
bem como de suas eventuais mitigações, principalmente as
decorrentes das teorias da fonte independente, da descoberta
inevitável e da contaminação expurgada.”17

• Indisponibilidade: Determina que, uma vez instaurado o


inquérito, o encarregado não pode arquivá-lo. Só o juiz arquiva
inquérito policial militar, após oitiva do MP.
Sobre o tema dispõe o art. 24 do CPPM:
Arquivamento de inquérito. Proibição
Art. 24. A autoridade militar não poderá mandar arquivar autos
de inquérito, embora conclusivo da inexistência de crime ou de
inimputabilidade do indiciado.

Natureza jurídica do Inquérito Policial Militar

Do conceito inicialmente exposto sobre Inquérito Policial Militar


se percebe que o inquérito não é processo, mas sim procedimento

17
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. No prelo a 1ª edição.
Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013, p. 253/257.

31
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
administrativo de instrução provisória. Logo, essa é a natureza
jurídica do inquérito.
Segundo o CPPM: Art. 9º: O inquérito policial militar é a
apuração sumária de fato, que, nos têrmos legais, configure crime
militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução provisória,
cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à
propositura da ação penal.
Sempre que ao candidato for questionado sobre qual a natureza
jurídica de determinado instituto se está querendo saber a essência
científica do mesmo. Costumamos então, em sala de aula, dar uma
dica aos companheiros estudantes para facilitar o encontro da
natureza jurídica de um instituto. Eis a dica: sempre que for
questionado a esse respeito, está se perguntando: Dentro do mundo
jurídico, onde se posiciona determinado instituto? Assim, imaginando
o Direito como um armário, se está perguntando: Em que pasta, de
que gaveta e de que porta se encontra o referido assunto. Diante
desse contexto se responde: O inquérito policial militar está entre os
procedimentos administrativos de instrução provisória, sendo tratado
pelo CPPM, mas sofrendo influência dos princípios de direito
administrativo, haja vista sua presidência ser exercida por uma
autoridade administrativa militar (Encarregado) e o mesmo se
desenvolver no âmbito de uma repartição pública administrativa
militar (Forças Armadas, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar).
Mas, ainda poderia questionar o estudante: O que diferencia o
processo administrativo do procedimento administrativo? Respondo:
De acordo com a doutrina tradicional, enquanto o processo tem
finalidade (melhor seria viabilidade) punitiva, o procedimento tem
finalidade meramente apuratória. Logo, a distinção se refere à
finalidade. Como o Inquérito não tem a intenção de punir e nem
aptidão para isso, pois, no Brasil, alguém só perde sua liberdade ou

32
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
seus bens através de um devido processo legal, o inquérito só tem
compromisso com a elucidação do fato, tendo finalidade apuratória.
O Direito Processual Penal Militar ainda detém outros
procedimentos de instrução provisória, como o são a INSTRUÇÃO
PORVISÓRIA DE INSUBMISSÃO (Art. 463 do CPPM) e a INSTRUÇÃO
PROVISÓRIA DE DESERÇÃO (Art. 451 do CPPM).

Notitia Criminis (Comunicado do crime – Notícia do


crime)
A Notitia criminis é o ato de comunicação da infração penal que
oportuniza o início da Investigação Criminal Militar.
Nesse aspecto o CPPM, mais uma vez, demonstra maior avanço
em relação ao CPP comum, pois não admite como notitia criminis a
requisição do juiz militar diretamente à autoridade militar, devendo,
caso o magistrado verifique a ocorrência de um crime militar, oficiar
ao Ministério Público Militar para que o mesmo tome a providência
que reputar adequada (art. 25, § 1º do CPPM). Assim, o CPPM
resguardar melhor o princípio do acusatório.

Sobre o tema indagou a CESPE:


CESPE – 2007 – DPU – DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL
O magistrado da justiça militar da União, com lastro no CPPM,
poderá requerer diretamente à autoridade policial judiciária militar a
instauração de inquérito policial militar, em analogia à requisição
prevista no CPP.
Certo ou Errado

CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


No sistema processual castrense, não há previsão para o juiz
requisitar a instauração de IPM, entendendo a doutrina e a jurisprudência

33
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
ser vedado ao juiz requisitar ou ordenar a instauração de procedimento
investigativo.
Certo ou Errado

No contexto da Notitia criminis militar, dispõe o CPPM:


Modos por que pode ser iniciado
Art. 10. O inquérito é iniciado mediante portaria:
a) de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito de
jurisdição ou comando haja ocorrido a infração penal, atendida a
hierarquia do infrator;
b) por determinação ou delegação da autoridade militar
superior, que, em caso de urgência, poderá ser feita por via
telegráfica ou radiotelefônica e confirmada, posteriormente, por
ofício;
c) em virtude de requisição do Ministério Público;
d) por decisão do Superior Tribunal Militar, nos têrmos do
art. 25;
e) a requerimento da parte ofendida ou de quem
legalmente a represente, ou em virtude de representação
devidamente autorizada de quem tenha conhecimento de
infração penal, cuja repressão caiba à Justiça Militar;
f) quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição
militar, resulte indício da existência de infração penal militar.

Diante da natureza da ação penal militar, pública e


incondicionada, o inquérito policial militar não depende de
manifestação do ofendido para sua instauração. Contudo, é possível
que qualquer pessoa que tenha o conhecimento do fato apresente a
referida comunicação, que, diga-se, de qualquer modo, é
prescindível.

34
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
A Notitia Criminis pode ser classificada de acordo com as
seguintes categorias:

“ ”18
• Direta (de cognição imediata ou espontânea): É aquela que
decorre da atividade funcional da AUTORIDADE de polícia judiciária
militar. Não há intervenção de terceiro no que tange ao conhecimento
do fato, assim, inexiste pessoa entre o fato e a autoridade.

• Indireta (de cognição mediata ou provocada): É aquela onde


a ciência do fato é provocada por meio de ato de terceiros. Aqui
existe intervenção de pessoa estranha à atividade policial judiciária
militar, logo, entre o fato e a autoridade existe um terceiro.

• Coercitiva: É a que impõe o início automático do inquérito


policial militar. A única é a PRISÃO EM FLAGRANTE (que na seara
militar, registre-se pode gerar até mesmo a dispensa de demais atos
de investigação, pois conforme dispõe o art. 27 do CPPM, o AFD (Auto
de Flagrante Delito) CONSTITUIRÁ o próprio Inquérito Policial Militar,
se for suficiente para a elucidação do fato e de sua autoria.

• Inqualificada: é o ato de comunicação do fato criminoso


inapto a provocar, de forma isolada, a instauração do inquérito
policial. Exemplo seria a delação anônima, pois a mesma não inicia o
inquérito, já que a CF/88 veda o anonimato. Permite o início da
investigação, mas não do inquérito.

18
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. No prelo a 1ª edição. Rio de Janeiro:
Grupo Gen: Forense, 2013, p. 248.
35
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
A respeito do tema, eis trecho de elucidativo julgamento
proferido pelo STF:

“As autoridades públicas não podem iniciar qualquer


medida de persecução (penal ou disciplinar), apoiando-
se, unicamente, para tal fim, em peças apócrifas ou em
escritos anônimos. É por essa razão que o escrito anônimo
não autoriza, desde que isoladamente considerado, a
imediata instauração de “persecutio criminis”. - Peças
apócrifas não podem ser formalmente incorporadas a
procedimentos instaurados pelo Estado, salvo quando
forem produzidas pelo acusado ou, ainda, quando
constituírem, elas próprias, o corpo de delito (como
sucede com bilhetes de resgate no crime de extorsão mediante
seqüestro, ou como ocorre com cartas que evidenciem a
prática de crimes contra a honra, ou que corporifiquem o delito
de ameaça ou que materializem o “crimen falsi”, p.ex.). -
Nada impede, contudo, que o Poder Público, provocado
por delação anônima (“disque-denúncia”, p. ex.), adote
medidas informais destinadas a apurar, previamente, em
averiguação sumária, “com prudência e discrição”, a
possível ocorrência de eventual situação de ilicitude
penal, desde que o faça com o objetivo de conferir a
verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem a
promover, então, em caso positivo, a formal instauração
da “persecutio criminis”, mantendo-se, assim, completa
desvinculação desse procedimento estatal em relação às
peças apócrifas.”19 Grifos acrescidos

Percebe-se, na decisão supracitada, que embora excepcional, é


possível que um escrito apócrifo ou uma delação anônima possam ser
utilizados como prova formal nos seguintes casos:

1) quando forem produzidas pelo próprio acusado; ou,


2) quando constituírem, elas próprias, o corpo de delito
(exemplos: bilhetes de resgate no crime de extorsão
19
Transcrições do Informativo 629 de 2011.
Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/informativo/verInformativo.asp?s1=escritos anonimos
unico fundamento&numero=629&pagina=1&base=INFO
36
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
mediante sequestro; cartas que evidenciem a prática de
crimes contra a honra; bilhetes que corporifiquem o delito de
ameaça ou objetos que materializem o “crimen falsi”. –
exemplos citados pelo Ministro Celso de Mello na decisão
citada).

Sobre o tema, delação anônima, indagou recentemente a Cespe


aos seus candidatos:
“Prova: Cespe – 2011 – DPE-MA - Defensor Público.
Assinale a opção correta, acerca do inquérito policial.
a) De acordo com a jurisprudência consolidada do STJ,
inquéritos policiais em andamento podem ser utilizados apenas
para valorar negativamente o acusado, mas não para aumentar
a sua reprimenda acima do mínimo legal, sob pena de violação
ao princípio constitucional da não culpabilidade.
b) A denúncia em processo que apura crime afiançável de
responsabilidade de funcionário público, ainda que embasada
em inquérito policial, não dispensa a necessidade de ofertar ao
réu a apresentação de resposta preliminar antes do
recebimento da inicial acusatória.
c) O membro do MP possui legitimidade para proceder,
diretamente, à coleta de elementos de convicção para subsidiar
a propositura de ação penal, inclusive mediante a presidência
de inquérito policial.
d) A notícia anônima sobre eventual prática criminosa,
por si só, não é idônea para a instauração de inquérito
policial, prestando-se apenas a embasar procedimentos
investigatórios preliminares em busca de indícios que
corroborem as informações.
e) A recente jurisprudência do STJ, em homenagem ao
princípio constitucional do devido processo legal, firmou-se no
sentido de que eventuais irregularidades ocorridas na fase

37
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
investigatória, mesmo diante da natureza inquisitiva do
inquérito policial, contaminam a ação penal dele oriunda.
Gabarito: D”

Incomunicabilidade

Segundo o CPPM:
Incomunicabilidade do indiciado. Prazo.
Art. 17. O encarregado do inquérito poderá manter
incomunicável o indiciado, que estiver legalmente prêso, por três dias
no máximo.

Apesar da disposição lega, entende-se que o investigado não


pode ser privado do direito de se comunicar com seu advogado.
Trata-se da vedação da incomunicabilidade do indiciado.
Atualmente o indiciado tem direito a se comunicar com seu
advogado (art. 7º, III, lei 8906/94).
Com base no Art. 136, §3º, IV, CF, entende-se que o art. 17 do
CPPM também não foi recepcionado pela CF, pois se no Estado de
Defesa, que é um estado de exceção, é vedada a incomunicabilidade
do preso, quiçá num Estado Democrático de Direito, que é um estado
de normalidade institucional.
Sobre o tema incidem os seguintes artigos:

Art. 7º, III, lei 8906/94: “São direitos do advogado:”


“III – comunicar-se com seus clientes, pessoal e
reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem
presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares,
ainda que considerados incomunicáveis”.

38
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Art. 136, §3º, IV, CF: “O Presidente da República pode,
ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional,
decretar estado de defesa para preservar ou prontamente
restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou
a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade
institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na
natureza”.
“§3º - Na vigência do estado de defesa:”
“IV - é vedada a incomunicabilidade do preso”.

Art. 5º, inciso LXIII da CF- o preso será informado de seus


direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado;

Nesse contexto, indagou a Cespe:

CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


No âmbito do IPM, em face da especialidade do sistema
investigativo castrense, é assegurada a possibilidade de se manter
incomunicável o investigado, por ato devidamente fundamentado do
encarregado do IPM, pelo prazo máximo de três dias. Essa
possibilidade vem sendo corroborada pela jurisprudência pátria.
Certo ou Errado

Detenção de indiciado
Com respaldo no art. 5º, inciso LXI, ainda se considera válida a
disposição do art. 18 do CPPM:
Detenção de indiciado
Art. 18. Independentemente de flagrante delito, o indiciado
poderá ficar detido, durante as investigações policiais, até trinta dias,

39
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
comunicando-se a detenção à autoridade judiciária competente. Êsse
prazo poderá ser prorrogado, por mais vinte dias, pelo comandante
da Região, Distrito Naval ou Zona Aérea, mediante solicitação
fundamentada do encarregado do inquérito e por via hierárquica.
Prisão preventiva e menagem. Solicitação
Parágrafo único. Se entender necessário, o encarregado do
inquérito solicitará, dentro do mesmo prazo ou sua prorrogação,
justificando-a, a decretação da prisão preventiva ou de menagem20,
do indiciado.

Registre-se que, conforme aponta toda a doutrina processual


penal militar, tal dispositivo só se aplica aos militares nos casos de
crimes propriamente militares, isso em virtude da dicção do texto
constitucional (art. 5º, inciso LXI: ninguém será preso senão em
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar
ou crime propriamente militar, definidos em lei.).

Sobre o tema indagou a Cespe:

CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


A norma processual penal castrense autoriza o encarregado a deter o
investigado durante as investigações policiais militares, por um prazo
máximo de trinta dias, tanto no caso de crimes militares próprios quanto
nos de crimes impróprios.
Certo ou Errado

20
A menagem é um instituto semelhante à liberdade provisória do direito processual penal comum, mas
que é cumprida em estabelecimento militar.
40
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Prazo do Inquérito Policial Militar
Segundo dispõe o CPPM:

Prazos para terminação do inquérito


Art 20. O inquérito deverá terminar dentro em vinte dias, se o
indiciado estiver prêso, contado esse prazo a partir do dia em que se
executar a ordem de prisão; ou no prazo de quarenta dias, quando
o indiciado estiver sôlto, contados a partir da data em que se
instaurar o inquérito.

Prorrogação de prazo
1º Êste último21 prazo poderá ser prorrogado por mais
vinte dias pela autoridade militar superior, desde que não
estejam concluídos exames ou perícias já iniciados, ou haja
necessidade de diligência, indispensáveis à elucidação do fato.
O pedido de prorrogação deve ser feito em tempo
oportuno, de modo a ser atendido antes da terminação do prazo.

Diligências não concluídas até o inquérito


2º Não haverá mais prorrogação, além da prevista no §
1º, salvo dificuldade insuperável, a juízo do ministro de
Estado22 competente. Os laudos de perícias ou exames não
concluídos nessa prorrogação, bem como os documentos colhidos
depois dela, serão posteriormente remetidos ao juiz, para a juntada
ao processo. Ainda, no seu relatório, poderá o encarregado do
inquérito indicar, mencionando, se possível, o lugar onde se
encontram as testemunhas que deixaram de ser ouvidas, por
qualquer impedimento.

21
No caso, o prazo do indiciado solto.
22
Atualmente a atribuição será do Comandante da Força.
41
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Dedução em favor dos prazos
3º São deduzidas dos prazos referidos neste artigo as
interrupções pelo motivo previsto no § 5º do art. 10.

Sobre o tema, elucidativo é o quadro elaborado pelos autores


Cláudio Amin e Nelson Coldibelli23:

Indiciado Preso Indiciado Solto


Prazo para término do 20 dias 40 dias
IPM.
Prorrogação Não admite - Por mais vinte dias pela
autoridade militar
- A critério do atual
Comandante da Força
Termo inicial A partir da execução da A partir da instauração do
ordem de prisão IPM

Relatório

O relatório é o ato final o encarregado pelo Inquérito Policial


Militar, e reflete a conclusão das investigações. Naturalmente, diante
do sistema acusatória, não detém caráter vinculativo, pois o membro
do Ministério Público não está obrigado a acatar as conclusões
proferidas pela autoridade polícia judiciária militar.

Relatório
Art. 22. O inquérito será encerrado com minucioso relatório,
em que o seu encarregado mencionará as diligências feitas, as
pessoas ouvidas e os resultados obtidos, com indicação do dia,
hora e lugar onde ocorreu o fato delituoso. Em conclusão, dirá
se há infração disciplinar a punir ou indício de crime,

23
MIGUEL, Claudio Amin e COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, 3ª edição, p. 36.
42
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
pronunciando-se, neste último caso, justificadamente, sôbre a
conveniência da prisão preventiva do indiciado, nos têrmos
legais.
Solução
1º No caso de ter sido delegada a atribuição para a abertura
do inquérito, o seu encarregado enviá-lo-á à autoridade de que
recebeu a delegação, para que lhe homologue ou não a solução,
aplique penalidade, no caso de ter sido apurada infração disciplinar,
ou determine novas diligências, se as julgar necessárias.
Advocação
2º Discordando da solução dada ao inquérito, a autoridade
que o delegou poderá avocá-lo e dar solução diferente.
Remessa do inquérito à Auditoria da Circunscrição
Art. 23. Os autos do inquérito serão remetidos ao auditor
da Circunscrição Judiciária Militar onde ocorreu a infração
penal, acompanhados dos instrumentos desta, bem como dos
objetos que interessem à sua prova.

Remessa a Auditorias Especializadas


1º Na Circunscrição onde houver Auditorias Especializadas da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica, atender-se-á, para a remessa,
à especialização de cada uma. Onde houver mais de uma na mesma
sede, especializada ou não, a remessa será feita à primeira Auditoria,
para a respectiva distribuição. Os incidentes ocorridos no curso do
inquérito serão resolvidos pelo juiz a que couber tomar conhecimento
do inquérito, por distribuição.

As referidas auditorias especializadas não tem previsão na atual


Lei de Organização da Justiça Militar da União.

43
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
2º Os autos de inquérito instaurado fora do território nacional
serão remetidos à 1ª Auditoria da Circunscrição com sede na Capital
da União, atendida, contudo, a especialização referida no § 1º.

Atualmente o mencionado inquérito irá para 11ª CJM sediada


em Brasília/DF, onde será distribuído a uma de suas auditorias.

Desenvolvimento do Inquérito (Processamento) –


Diligências

Desde já devemos registrar que o rol de diligências previsto na


legislação não é exaustivo, mas meramente exemplificativo. Assim, o
encarregado do Inquérito Policial Militar poderá determinar outras
providências lícitas que reputar conveniente à elucidação do fato e de
sua autoria.

Medidas preliminares ao inquérito


Art. 12. Logo que tiver conhecimento da prática de infração
penal militar, verificável na ocasião, a autoridade a que se refere o §
2º do art. 10 deverá, se possível:
a) dirigir-se ao local, providenciando para que se não
alterem o estado e a situação das coisas, enquanto
necessário; (Vide Lei nº 6.174, de 1974)
b) apreender os instrumentos e todos os objetos que
tenham relação com o fato;
c) efetuar a prisão do infrator, observado o disposto no art.
244;
d) colhêr tôdas as provas que sirvam para o esclarecimento
do fato e suas circunstâncias.

Formação do inquérito

44
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Art. 13. O encarregado do inquérito deverá, para a formação
dêste:
Atribuição do seu encarregado
a) tomar as medidas previstas no art. 12, se ainda não o
tiverem sido;
b) ouvir o ofendido;
c) ouvir o indiciado;
d) ouvir testemunhas;
e) proceder a reconhecimento de pessoas e coisas, e
acareações;
f) determinar, se fôr o caso, que se proceda a exame de corpo
de delito e a quaisquer outros exames e perícias;
g) determinar a avaliação e identificação da coisa subtraída,
desviada, destruída ou danificada, ou da qual houve indébita
apropriação;
h) proceder a buscas e apreensões, nos têrmos dos arts. 172
a 184 e 185 a 189;
i) tomar as medidas necessárias destinadas à proteção de
testemunhas, peritos ou do ofendido, quando coactos ou
ameaçados de coação que lhes tolha a liberdade de depor, ou a
independência para a realização de perícias ou exames.

Reconstituição dos fatos


Parágrafo único. Para verificar a possibilidade de haver
sido a infração praticada de determinado modo, o encarregado
do inquérito poderá proceder à reprodução simulada dos fatos,
desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública, nem
atente contra a hierarquia ou a disciplina militar.

Assistência de procurador

45
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Art. 14. Em se tratando da apuração de fato delituoso de
excepcional importância ou de difícil elucidação, o
encarregado do inquérito poderá solicitar do procurador-geral a
indicação de procurador que lhe dê assistência.

Encarregado de inquérito. Requisitos


Art. 15. Será encarregado do inquérito, sempre que possível,
oficial de pôsto não inferior ao de capitão ou capitão-tenente;
e, em se tratando de infração penal contra a segurança
nacional, sê-lo-á, sempre que possível, oficial superior,
atendida, em cada caso, a sua hierarquia, se oficial o
indiciado.

Questão de importância, apontada pelo ilustre doutrinado Célio


Lobão, se refere a seguinte questão: Quem irá presidir inquérito
policial militar em que figure como investigado o oficial-general do
último posto?
R.: Esclarece ou ínclito doutrinador: “Segundo o § 5º do art. 7º
do CPPM, se o posto e a antiguidade do oficial da ativa excluírem, de
modo absoluto, a existência de outro oficial da ativa e maior
antiguidade, será designado oficial da reserva de posto mais elevado.
Acontece que nas Forças Armadas não há militar da reserva de posto
mais elevado do que o oficial-general do último posto da ativa. O
marechal da reserva existiu por breve espaço de tempo, mas, em boa
hora, foi extinto. Logo, o dispositivo deve ser considerado como não
escrito...”24
Assim, conclui o mestre que a resposta se encontra na lei penal
militar, no art. 24 do CPM, já que independentemente de antiguidade,
a superioridade hierárquica decorrente da função, legitima o
Comandante da Arma, e ocupante de outros cargos, para presidir

24
LOBÃO, Célio. Direito Processual Penal Militar. Rio de Janeiro: Forense, 2ª edição, 2011, p. 54.
46
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
o inquérito, no qual figura oficial-general do último posto e
mais antigo da corporação.25

Sobre o tema indagou a Cespe:

7 - CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


Um oficial-general da ativa, do último posto e mais antigo da
corporação, praticou crime definido como militar, gerando dúvidas
sobre quem presidirá o inquérito policial militar para a completa
apuração dos fatos, em face da inexistência de outro oficial da ativa
de maior antiguidade. Nessa situação, deve ser convocado oficial-
general da reserva do último posto, pois prevalece a relação de
antiguidade entre militares no serviço ativo e na inatividade.
Certo ou Errado

Oitiva de Testemunha durante o Inquérito Policial

Inquirição durante o dia


Art. 19. As testemunhas e o indiciado, exceto caso de
urgência inadiável, que constará da respectiva assentada, devem ser
ouvidos durante o dia, em período que medeie entre as sete e as
dezoito horas.

Inquirição. Assentada de início, interrupção e encerramento


1º O escrivão lavrará assentada do dia e hora do início das
inquirições ou depoimentos; e, da mesma forma, do seu
encerramento ou interrupções, no final daquele período.

Inquirição. Limite de tempo

25
LOBÃO, Célio. Direito Processual Penal Militar. Rio de Janeiro: Forense, 2ª edição, 2011, p. 54.
47
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
2º A testemunha não será inquirida por mais de quatro
horas consecutivas, sendo-lhe facultado o descanso de meia
hora, sempre que tiver de prestar declarações além daquele têrmo.
O depoimento que não ficar concluído às dezoito horas será
encerrado, para prosseguir no dia seguinte, em hora
determinada pelo encarregado do inquérito.
3º Não sendo útil o dia seguinte, a inquirição poderá ser adiada
para o primeiro dia que o fôr, salvo caso de urgência.

Arquivamento

Arquivamento de inquérito. Proibição


Art. 24. A autoridade militar não poderá mandar arquivar autos
de inquérito, embora conclusivo da inexistência de crime ou de
inimputabilidade do indiciado.

Artigo comentado ao falarmos da indisponibilidade do inquérito


policial na presente aula.

Instauração de nôvo inquérito


Art 25. O arquivamento de inquérito não obsta a instauração de
outro, se novas provas aparecerem em relação ao fato, ao indiciado
ou a terceira pessoa, ressalvados o caso julgado e os casos de
extinção da punibilidade.
1º Verificando a hipótese contida neste artigo, o juiz remeterá
os autos ao Ministério Público, para os fins do disposto no art. 10,
letra c.
2º O Ministério Público poderá requerer o arquivamento dos
autos, se entender inadequada a instauração do inquérito.

48
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Trata o dispositivo, do arquivamento e desarquivamento do
IPM.
Arquivamento é o ato judicial que implica na finalização das
investigações em virtude da ausência de interesse útil à sua
continuidade. É, portanto, um resultado anômalo da investigação,
provocado, na maioria da vezes, pela inexistência de materialidade
delitiva, ou pela fragilidade de indícios suficientes para determinar a
autoria.26
Quem pode arquivar? R.: Somente o Juiz, após a oitiva do MP.
Arquivamento, portanto, é um ATO COMPLEXO (demanda
manifestações de órgãos diferentes).
Complementa a disposição acima o expresso no art. 397, caput
e § 1º do CPPM: Se o procurador, sem prejuízo da diligência a que se
refere o art. 26, n° I, entender que os autos do inquérito ou as peças
de informação não ministram os elementos indispensáveis ao
oferecimento da denúncia, requererá ao auditor que os mande
arquivar. Se êste concordar com o pedido, determinará o
arquivamento; se dêle discordar, remeterá os autos ao procurador-
geral. 1º Se o procurador-geral entender que há elementos para a
ação penal, designará outro procurador, a fim de promovê-la; em
caso contrário, mandará arquivar o processo.

Devolução de autos de inquérito


Art. 26. Os autos de inquérito não poderão ser devolvidos a
autoridade policial militar, a não ser:
I — mediante requisição do Ministério Público, para diligências
por ele consideradas imprescindíveis ao oferecimento da
denúncia;

26
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013,
no prelo a 1ª edição, p. 249.
49
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
II — por determinação do juiz, antes da denúncia, para o
preenchimento de formalidades previstas neste Código, ou para
complemento de prova que julgue necessária.
Parágrafo único. Em qualquer dos casos, o juiz marcará prazo,
não excedente de vinte dias, para a restituição dos autos.

Sobre arquivamento cobrou a Cespe:

CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


O CPPM e o procedimento investigativo pré-processual comum
tratam do arquivamento de IPM de forma distinta, uma vez que o
CPPM prescreve hipóteses taxativas de arquivamento e disciplina
expressamente as possibilidades de arquivamento implícito e de ofício
de autoridade judiciária militar.
Certo ou Errado

Sobre o tema, insta registrar o que vem a ser a figura do


Arquivamento Implícito:
“Arquivamento implícito: segundo Afrânio Silva Jardim, é o
fenômeno de ordem processual decorrente de o titular da ação penal
deixar de incluir na denúncia algum fato investigado ou algum dos
indiciados, sem expressa manifestação ou justificação deste
procedimento27. Quando ocorre omissão quanto ao fato, o
arquivamento será implícito objetivo, quando ocorre omissão quanto
ao agente, o arquivamento será implícito subjetivo.
Em que pese o delineamento doutrinário feito acima, a figura
do arquivamento implícito é majoritariamente repelida pela doutrina e
pela jurisprudência28 que entendem que o arquivamento só ocorre

27
JARDIM, Afrânio Silva. Direito processual penal. 11 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 170.
28
Jurisprudência recente a respeito do tema:
INFORMATIVO Nº 605
TÍTULO Inquérito Policial e Arquivamento Implícito
50
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
com base em decisão judicial expressa”29, nos moldes da legislação
processual.

PROCESSO HC - 104356
O sistema processual penal brasileiro não prevê a figura do arquivamento implícito de inquérito
policial. Ao reafirmar esse entendimento, a 1ª Turma denegou habeas corpus em que se sustentava a sua
ocorrência em razão de o Ministério Público estadual haver denunciado o paciente e co-réu, os quais não
incluídos em denúncia oferecida anteriormente contra terceiros. Alegava a impetração que o paciente, por
ter sido identificado antes do oferecimento da primeira peça acusatória, deveria dela constar.
Inicialmente, consignou-se que o Ministério Público esclarecera que não incluíra o paciente na primeira
denúncia porquanto, ao contrário do que afirmado pela defesa, não dispunha de sua identificação, o que
impediria a propositura da ação penal naquele momento. Em seguida, aduziu-se não importar, de qualquer
forma, se a identificação do paciente fora obtida antes ou depois da primeira peça, pois o pedido de
arquivamento deveria ser explícito (CPP, art. 28). Nesse sentido, salientou-se que a ocorrência de
arquivamento deveria se dar após o requerimento expresso do parquet, seguido do deferimento,
igualmente explícito, da autoridade judicial (CPP, art. 18 e Enunciado 524 da Súmula do STF).
Ressaltou-se que a ação penal pública incondicionada submeter-se-ia a princípios informadores
inafastáveis, especialmente o da indisponibilidade, segundo o qual incumbiria, obrigatoriamente, ao
Ministério Público o oferecimento de denúncia, quando presentes indícios de autoria e prova de
materialidade do delito. Explicou-se que a indisponibilidade da denúncia dever-se-ia ao elevado
valor social dos bens tutelados por meio do processo penal, ao se mostrar manifesto o interesse da
coletividade no desencadeamento da persecução sempre que as condições para tanto ocorrerem.
Ademais, registrou-se que, de acordo com a jurisprudência do Supremo, o princípio da
indivisibilidade não se aplicaria à ação penal pública. Concluiu-se pela higidez da segunda denúncia.
Alguns precedentes citados: RHC 95141/RJ (DJe de 23.10.2009); HC 92445/RJ (DJe de 3.4.2009). HC
104356/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 19.10.2010. (HC-104356). Grifos acrescidos
Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/informativo/verInformativo.asp?s1=indivisibilidade ação
penal&numero=605&pagina=2&base=INFO
29
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013,
no prelo a 1ª edição, p. 254.
51
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Questões CESPE a respeito da aula:

1 - CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


Com base no direito processual penal militar, assinale a opção
correta.
a) Segundo a lei processual penal militar, o princípio da imediatidade
é aplicado aos processos cuja tramitação esteja em curso,
ressalvados os atos praticados na forma da lei processual anterior.
Caso a norma processual penal militar posterior seja, de qualquer
forma, mais favorável ao réu, deverá retroagir, ainda que a sentença
penal condenatória tenha transitado em julgado.
b) O CPPM dispõe expressamente a aplicação de suas normas, em
casos específicos, fora do território nacional ou em lugar de
extraterritorialidade brasileira. Nesse ponto, o CPPM difere do CPP.
c) O sistema processual penal castrense veda, em qualquer hipótese,
o emprego da interpretação extensiva e da interpretação não literal.
d) Se, na aplicação da lei processual penal militar a caso concreto,
houver divergência entre essa norma e os dispositivos constantes em
convenção ou tratado de que o Brasil seja signatário, prevalecerá a
regra especial da primeira, salvo em matéria de direitos humanos.
e) Os casos omissos na lei processual penal militar serão supridos
pelo direito processual penal comum, sem prejuízo da peculiaridade
do processo penal castrense. Nesses casos, o CPPM impõe que haja a
declaração expressa de omissão pela corte militar competente, com
quorum qualificado.
Gabarito: B

2 - CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


A polícia judiciária militar exerce funções idênticas à polícia judiciária,
e ambas têm como uma de suas finalidades o colhimento de

52
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
elementos que indiquem a autoria e comprovem a materialidade do
delito.
Certo

3 - CESPE – 2004 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


À polícia judiciária militar, que é exercida pelas autoridades militares,
cabe auxiliar as polícias civil e federal na apuração de infrações
penais militares, dado que são estas que detêm a exclusividade na
apuração de quaisquer infrações penais.
Errado

4 - FUMARC – 2011 – PM/MG – OFICIAL DA POLICIA MILITAR


Em se tratando do Inquérito Policial Militar, é importante saber que
a) o posto do indiciado induz a competência para instauração do
procedimento, mas não a delegação de instrução.
b) em regra, o Poder de Polícia Judiciária Militar é exercido pelos
Oficiais e eventualmente pode ser delegado às praças.
c) ainda que a delegação para a instrução não tenha ocorrido, os
Oficiais responsáveis pelo Comando quando da incidência de crime
militar devem proceder de ofício as providências preliminares de
investigação.
d) a solução do Inquérito é providência essencial para que a
autoridade instauradora possa prolatar o Relatório do IPM.
Gabarito: C

5 - CESPE – 2007 – DPU – DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL


O magistrado da justiça militar da União, com lastro no CPPM, poderá
requerer diretamente à autoridade policial judiciária militar a
instauração de inquérito policial militar, em analogia à requisição
prevista no CPP.
Errado

53
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União

6 - CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


O inquérito policial militar (IPM) caracteriza-se por exigir sigilo
absoluto, previsto de forma expressa no CPPM, de modo que, veda-se
ao advogado e ao investigado o acesso aos autos do procedimento
investigatório.
Errado

7 - CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


Um oficial-general da ativa, do último posto e mais antigo da
corporação, praticou crime definido como militar, gerando dúvidas
sobre quem presidirá o inquérito policial militar para a completa
apuração dos fatos, em face da inexistência de outro oficial da ativa
de maior antiguidade. Nessa situação, deve ser convocado oficial-
general da reserva do último posto, pois prevalece a relação de
antiguidade entre militares no serviço ativo e na inatividade.
Errado

8 - CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


Um insubmisso foi capturado e apresentado ao serviço médico, sendo
considerado absolutamente incapaz para o serviço militar. Entretanto,
já havia sido instaurada investigação provisória para a apuração do
delito. Nessa situação, deve o juiz, após a indispensável promoção do
Ministério Público, determinar o arquivamento do feito.
Certo

9 - CESPE – 2004 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, em tese,
criminoso e de sua autoria, não tendo, no entanto, valor jurídico os
exames e as perícias realizados que não forem repetidos em juízo,
durante o processo.
Errado

54
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União

10 - CESPE – 2010 – MPE/RS – PROMOTOR DE JUSTIÇA


Assinale a opção correta acerca do IPM.
a) O CPPM e o procedimento investigativo pré-processual comum
tratam do arquivamento de IPM de forma distinta, uma vez que o
CPPM prescreve hipóteses taxativas de arquivamento e disciplina
expressamente as possibilidades de arquivamento implícito e de ofício
de autoridade judiciária militar.
b) As medidas preliminares previstas para o IPM são taxativas e
devem ser todas cumpridas, em qualquer caso e circunstância, na
sua integralidade, sob pena de ofensa ao princípio constitucional do
devido processo legal.
c) Na tramitação de IPM, assegura a norma de regência, de forma
peculiar e garantidora, o direito do investigado de ser ouvido apenas
na presença do advogado por ele próprio indicado ou de ser assistido
por defensor público.
d) No sistema processual castrense, não há previsão para o juiz
requisitar a instauração de IPM, entendendo a doutrina e a
jurisprudência ser vedado ao juiz requisitar ou ordenar a instauração
de procedimento investigativo.
e) No âmbito do IPM, em face da especialidade do sistema
investigativo castrense, é assegurada a possibilidade de se manter
incomunicável o investigado, por ato devidamente fundamentado do
encarregado do IPM, pelo prazo máximo de três dias. Essa
possibilidade vem sendo corroborada pela jurisprudência pátria.
Gabarito: D

Grande abraço e até a próxima aula!


Prof. Pablo Farias Souza Cruz

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