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Estudo DPPM
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BOA VISTA - RR
2023
DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR
O atual Código de Processo Penal Militar (CPPM) foi instituído pelo Decreto –
Lei nº 1.002, de 21/10/1969, e recepcionado na sua maior parte pela Constituição
Federal. Apresentam-se como peculiaridades do sistema processual penal
castrense: os ritos próprios dos processos ordinários e processos especiais
de medidas preventivas e assecuratórias (prisão preventiva para preservação
da hierarquia e disciplina), inversão do momento do interrogatório do
acusado, que passou a ser realizado ao término da oitiva das testemunhas,
por força de decisão do órgão Pleno do STF (HC nº 127.900); aspectos
garantistas da emendatio e mutatio libelli expressas no CPPM.
O Direito Processual Penal Militar é um ramo especial e autônomo do Direito,
possuindo regras e princípios próprios e peculiares, prevendo a atuação da Polícia
Judiciária Militar distinta dos órgãos investigativos ordinários, além de promover
ritos próprios – sob o manto do devido processo legal – para a marcha do
processo penal castrense e, ainda, órgãos judicantes especiais para a prestação
jurisdicional do Estado; todavia, observa o sistema processual acusatório (não
puro), assim como o direito adjetivo penal comum, e a integralidade da
principiologia processual do Estado de Direito Democrático da nossa República.
EMENDATIO LIBELLI, o juiz, quando da sentença,
MUTATIO LIBELLI, quando o juiz concluir que o fato
verificando que a tipificação não corresponde aos fatos
narrado na inicial não corresponde aos fatos provados na
narrados na petição inicial, poderá de ofício apontar sua instrução processual; nesse caso, deve o juiz remeter o
correta definição jurídica. Na “emendatio” os fatos
processo ao Ministério Público que deverá aditar a peça
provados são exatamente os fatos narrados.
inaugural. Os fatos provados são distintos dos fatos
narrados.
DA FINALIDADE DO DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR
I – Direito de informação, em que nos deparamos com a obrigação para o Estado de informar à
parte contrária os atos que vierem a ser praticados sobre os elementos ali constantes,
exteriorizando, assim, o princípio do contraditório;
Em linhas gerais, pode ser dito que o princípio do contraditório significa que
cada ato praticado durante o processo seja resultante da participação ativa das
partes. Surge como uma garantia de justiça para as partes. É de suma
importância que o juiz, antes de proferir cada decisão, proceda a devida oitiva
das partes, proporcionando-lhes a igual oportunidade para que, na forma devida,
se manifestem com os devidos argumentos e contra-argumentos.
Desta forma, pode ser dito que o princípio do contraditório é constituído por
dois elementos, a saber: informação e possibilidade de reação. Também,
cabe enfatizar que nossa CF/88 autorizou o entendimento de que os princípios
do contraditório e da ampla defesa sejam garantidos no processo
administrativo, inclusive não punitivos.
DA VERDADE REAL OU MATERIAL
Entende-se esse Princípio como a busca da verdade real “investigação dos
fatos como se passaram na realidade, não se conformando com a verdade
formal, que consta nos autos trazidas pelas partes”. Sob tal perspectiva se
autorizaria ao juiz determinar a realização de atos e diligências de ofício, com o
propósito de formar o seu livre convencimento.
O princípio da verdade real estabelece que o julgador sempre deve buscar
estar mais próximo possível das verdades ocorridas no fato, devendo existir
sempre um sentimento de busca pela verdade quando da aplicação da pena e
da apuração dos fatos.
DA PUBLICIDADE
A publicidade é a garantia que o acusado tem de conhecer a respeito das
imputações que lhe são dirigidas, permitindo-lhe defender-se delas, refutá-
las e contradizê-las, valendo-se dos recursos e meios legais cabíveis.
A publicidade também é garantia da sociedade, pois no processo penal, se
discute matéria de interesse público de vital interesse à sociedade, uma vez
que, em regra, está em jogo a proteção de bens e interesses individuais.
DA OBRIGATORIEDADE
O Princípio da Obrigatoriedade se aplica às autoridades de Polícia Judiciária
Militar e aos membros do MP, no que se refere à instauração do IPM, à
lavratura do APF e a propositura de ação penal pública e incondicionada,
presentes as condições e requisitos legais para a realização dos referidos atos e
procedimentos, nos termos dos artigos 8º, 10 e 30 do CPPM.
DA OFICIALIDADE
O Ministério Público, também, não poderá desistir dos recursos que tiver
interpostos, nos termos do art. 512 do CPPM: Art. 512. O Ministério Público
não poderá desistir do recurso que haja interposto.
DA INICIATIVA DAS PARTES E DO IMPULSO OFICIAL
Tal Princípio é, tradicionalmente, utilizado para justificar a proibição de os
órgãos judiciais darem início ao Processo Penal, tendo em vista que, no
Processo penal Militar, ressalvada a hipótese da ação penal privada subsidiária da
pública, o MP tem titularidade exclusiva da promoção da ação penal, conforme
reza o inciso I, art. 129 da CF/88.
DA INADMISSIBILIDADE DE PROVAS ILÍCITAS
As provas obtidas por meio ilícitos são inadmitidas no processo, conforme disposto
no inciso LVI, do art. 5º, da CF/1988: LVI – são inadmissíveis, no processo, as
provas obtidas por meios ilícitos.
Tema sensível e merecedor de nossa atenção diz respeito às provas ilícitas por
derivação, que são aquelas produzidas em conformidade com o ordenamento
jurídico, mas têm sua origem em provas ilicitamente colhidas, como pro exemplo
o depoimento de uma testemunha sobre fato juridicamente relevante, cujo nome foi
obtido a partir de uma intercepção telefônica sem autorização legal.
O STF e o STM têm se posicionado contrariamente a admissão das provas ilícitas
por derivação, com base na doutrina da “The fruit of the poisonous tree” (teoria dos
frutos da árvore envenenada), segundo a qual haveria a contaminação de prova
lícita, em caso de originar-se de uma prova ilícita.
DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO
Tratando-se de Processo Penal, no qual estão em jogo interesses de extrema
relevância, como a ordem pública, ordem econômica e a liberdade individual, a
resposta do Estado-juiz dentro de parâmetro temporal razoável se mostra
mais relevante.
Como dito alhures, o Inquérito Policial Militar tem início, via de regra, com uma
portaria administrativa que deve definir os ilícitos penais que serão objeto de
investigação, pois, NÃO EXISTE INVESTIGAÇÃO DE FATO ATÍPICO, DE CRIME
MILITAR PRESCRITO OU COM A CLARIVIDENTE AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE
AUTORIA OU MATERIALIDADE. Aliás, as referidas situações podem ensejar o
trancamento do caderno investigatório.
O trancamento é a situação de paralisação do inquérito policial, a
suspensão temporária, a qual poderá ser determinada através de acórdão
proferido no julgamento de habeas corpus.
Visto que o habeas corpus é remédio constitucional que não exige
capacidade postulatória para a sua impetração, o próprio investigado
poderá propô-lo visando o trancamento do inquérito policial que o
investiga. Diferentemente do pedido de arquivamento de inquérito que só
pode ser requerido pelo Ministério Público, pois este é o titular da ação penal
pública.
É importante ressaltar que havendo indícios de que o autor seja de
precedência hierárquica superior, deverá a autoridade de PJM, o mais rápido
possível, comunicar essa situação ao seu comando superior, para as
providências devidas.
A requisição de instauração de IPM e ou de prestação de informações
pelo MP devem ser atendidas, sob pena de responsabilidade da
autoridade requisitada. Todavia, não estará essa autoridade obrigada a
indiciar qualquer pessoa nem a concordar com a autoridade
requisitante, quanto a existência de materialidade e a autoria de crime
militar, ao final da investigação.
REQUISIÇÃO é a exigência para a realização de algo, fundamentada em lei. Assim,
não de deve confundir requisição com ordem pois nem o representante do Ministério
Público, nem o juiz são superiores hierárquicos da autoridade militar, motivo pelo qual
não lhe podem dar ordens. Requisitar a instauração do inquérito é diferente, pois é
um requerimento lastreado em lei, fazendo com que a autoridade policial militar
cumpra a norma e não a vontade particular do Promotor ou do Magistrado.
A vítima de crime militar, pessoalmente, ou por meio do seu representante legal,
instituído por meio de procuração com poderes específicos, poderá requerer à
autoridade de PJM, a instauração de IPM. Para tanto, deverá fornecer elementos de
informações de fato que justifiquem tal medida, não estando a referida autoridade
militar obrigada a instaurar o referido procedimento investigatório, caso vislumbre
a ausência dos elementos fáticos mínimos de existência de crime militar ou de justa
causa.
No âmbito administrativo militar é comum a instauração de sindicâncias
administrativas sempre que as autoridades militares necessitem esclarecer situações
de fato que, por sua complexidade ou natureza, demandem uma apuração prévia. Na
hipótese de constatação de indícios de crime militar, a autoridade militar
determinará, conforme o caso, a instauração de IPM.
Em algumas situações excepcionais, a Sindicância pode dispensar o IPM, nos
termos do art. 28, alínea “a”, do CPPM:
Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado, sem prejuízo de diligência requisitada pelo Ministério Público:
a) quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por documentos ou outras provas materiais;
SUPERIORIDADE OU IGUALDADE DE POSTO DO INFRATOR
Nos termos do Art. 10, §1º do CPPM, quando o infrator possuir posto superior
ou igual ao do comandante, diretor ou chefe de órgão ou serviço, em cujo âmbito
de jurisdição militar haja ocorrido a infração penal, será feita a comunicação do
fato à autoridade superior competente, para que esta torne efetiva a delegação,
nos termos do § 2° do art. 7º.
ESCRIVÃO DO INQUÉRITO
SIGILO DO INQUÉRITO
O inquérito é sigiloso, mas seu encarregado pode permitir que dele tome
conhecimento o advogado do indiciado (ex vi Art. 16 do CPPM).
Quanto ao sigilo, pode ser dito que este é um de seus principais pontos, uma de
suas principais características. O art. 16 do CPPM é explícito ao mencionar tal
característica. O inquérito policial, por ser uma peça de cunho administrativo,
inquisitivo e preliminar, DEVE SER SIGILOSO, não havendo sentido em ser
público, haja vista que o princípio da publicidade é um princípio a ser observado em
sede processual. Guardadas as garantias supramencionadas, bem como
observados os direitos dos advogados em atuarem em prol de seus clientes
e os direitos dos investigados, não caberá a incursão em repartição
administrativa, de qualquer do povo, desejando ter acesso aos autos do inquérito
em curso, no caso o IPM, sob o pretexto de exercer fiscalização e de acompanhar
o trabalho do Estado-investigação, como é perfeitamente normal, quando da
ocorrência de um processo-crime em juízo. Cabe enfatizar que as investigações
já são acompanhadas e fiscalizadas pelos órgãos encarregados, fato este
que dispensa a publicidade.
POSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO DE CÓPIAS DE TODOS OS ELEMENTOS DE
PROVA JÁ DOCUMENTADOS, INCLUSIVE DAQUELES EM FORMATO
AUDIOVISUAL
Nada, absolutamente nada, respalda ocultar de envolvido – como é o caso da
reclamante – dados contidos em autos de procedimento investigativo ou em
processo alusivo a ação penal, pouco importando eventual Sigilo do que
documentado. Esse é o entendimento revelado no verbete vinculante 14: “É direito
do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que,
já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”. Tendo em vista a
expressão “acesso amplo”, deve-se facultar à defesa o conhecimento da
integralidade dos elementos resultantes de diligências, documentados no
procedimento investigatório, permitindo, inclusive, a obtenção de cópia das peças
produzidas. O sigilo refere-se tão somente às diligências, evitando a frustração
das providências impostas. Em síntese, o acesso ocorre consideradas as peças
constantes dos autos, independentemente de prévia indicação do Ministério Público.
3. Defiro a liminar para que a reclamante, na condição de envolvida, tenha acesso
irrestrito e imediato, por meio de procurador constituído, facultada inclusive a
extração de cópia, aos elementos constantes do procedimento investigatório (...)
(RCL 31.213 MC, REL. MIN. MARCO AURÉLIO, DEC. MONOCRÁTICA, J. 20-8-
2018, DJE 174 DE 24-8-2018)
Merece registro o novo art. 16-A, caput, e parágrafos do CPPM, introduzidos pela Lei
nº 13.964/2019, denominada “Lei Anticrime”, que garantem aos POLICIAIS MILITARES
E OS BOMBEIROS MILITARES, que figurarem como investigados em IPM e demais
procedimentos investigatórios criminais, INSTAURADOS PARA APURAR PRÁTICA DE
CRIMES DE HOMICÍDIO, na forma consumada e tentada, ocorridos na dinâmica do
exercício de suas atividades de Segurança Pública, O DIREITO DE SEREM
ASSISTIDOS POR DEFENSOR:
Art. 16-A. Nos casos em que servidores das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares figurarem como
investigados em inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de
fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada,
incluindo as situações dispostas nos arts. 42 a 47 do Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969 (Código Penal
Militar), o indiciado poderá constituir defensor.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da instauração do procedimento
investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da
citação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade
responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da
ocorrência dos fatos, para que esta, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação
do investigado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º (VETADO).
§ 4º (VETADO).
§ 5º (VETADO).
§3º Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do § 2º deste artigo, a defesa caberá
preferencialmente à Defensoria Pública e, nos locais em que ela não estiver instalada, a União ou a Unidade da
Federação correspondente à respectiva competência territorial do procedimento instaurado deverá disponibilizar
profissional para acompanhamento e realização de todos os atos relacionados à defesa administrativa do
investigado.
§4º A indicação do profissional a que se refere o § 3º deste artigo deverá ser precedida de manifestação de que não
existe defensor público lotado na área territorial onde tramita o inquérito e com atribuição para nele atuar, hipótese
em que poderá ser indicado profissional que não integre os quadros próprios da Administração.
§5º Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos com o patrocínio dos interesses do investigado
nos procedimentos de que trata esse artigo correrão por conta do orçamento próprio da instituição a que este esteja
vinculado à época da ocorrência dos fatos investigados.
§6º As disposições constantes deste artigo aplicam-se aos servidores militares vinculados às instituições dispostas
no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da
Lei e da Ordem.”
Segundo se depreende do texto legal, o militar investigado deverá ser citado
(chamamento do réu ao processo), na verdade intimado ou notificado, por quando da
instauração do procedimento, para que constitua defensor (advogado regularmente
inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil), dentro de 48 (quarenta e oito) horas a
contar do recebimento da referida comunicação. Caso o militar não o faça, a autoridade
que preside o procedimento investigatório deverá comunicar tal fato à autoridade a que se
encontrar subordinado o militar, para que providencie, dentro do mesmo prazo de 48
(quarenta e oito) horas, a indicação de defensor para o investigado.
Na prática, instaurado o IPM ou outro procedimento investigatório criminal, nas hipóteses
de instauração do IPM.
de modo a ser atendido antes da terminação do prazo (Art. 20, §1º do CPPM).
Os laudos de perícias ou exames não concluídos nessa prorrogação, bem como os
que deixaram de ser ouvidas, por qualquer impedimento (Art. 20, §2º do CPPM).
Se necessário poderá ser concedido pelo Juiz, após ouvido o MP, a prorrogação
do prazo citado, desde que seja demonstrado por meio de pedido de prorrogação
ao oferecimento da denúncia.
Dessa forma, a autoridade delegante, não satisfeita com a instrução do IPM, também
a) Diligências realizadas;
b) Os resultados obtidos;
c) As pessoas ouvidas;
d) Indicação do dia, hora e lugar onde ocorreu o fato delituoso;
e) Descreverá ainda as diligências não concluídas;
f) Ponto de vista do encarregado acerca de possível transgressão
disciplinar residual ou infração penal, e o seu possível autor;
g) O encarregado poderá sugerir que seja decretada a prisão
preventiva do indiciado
DA SOLUÇÃO DO IPM
O Encarregado enviará os autos a autoridade delegante, que discordando da
solução poderá avocá-la dando solução diferente (Art. 22, §2º do CPPM).
REMESSA DOS AUTOS DO IPM À JUSTIÇA MILITAR
Segundo a redação do art. 23, caput, e parágrafos, do CPPM, os autos do IPM serão
remetidos à Auditoria da Circunscrição Judiciária Militar (CJM) do local em que ocorreu a
infração penal.
ARQUIVAMENTO DO IPM
Uma vez instaurado o IPM, não poderá, em nenhuma hipótese, ser arquivado pela