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DISCIPLINA

Procedimentos no Processo Penal Militar


Prof. Conteudista Rafael Botelho

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SUMÁRIO
As particularidades do processo penal militar, em tempo de paz, nos ritos
ordinário e especial ....................................................................................................... 2
As fases próprias do processamento e julgamento de crimes militares .. 5
Crimes militares e a aplicabilidade do rito procedimental especial. .........13
Aplicação dos ritos sumaríssimo, sumário e ordinário do Código de
Processo Penal comum aos crimes militares por extensão ........................ 19
As consequências práticas em decorrência do rito procedimental
aplicado no âmbito da Justiça Militar. ................................................................. 22

As particularidades do processo penal militar, em tempo de paz,


nos ritos ordinário e especial

O processo penal militar contém diversas particularidades que se


diferenciam do processo penal comum, a iniciar pela forma como é apurada
a infração penal militar. A despeito de se chamar também Inquérito Policial,
no procedimento castrense é chamado de Inquérito Policial Militar. A
autoridade com atribuição de iniciar e realizar as investigações se alterna de
acordo com a mudança de comando dos Escalões Superiores, normalmente
de dois em dois anos. Tal rotatividade já é um diferencial em relação ao
Inquérito Policial comum, que não tem uma rotatividade tão acelerada
quanto a militar.
Sobre o processo penal militar, alguns aspectos iniciais devem
ser considerados, como o fato de existirem dois tipos, sendo eles o processo
penal militar em tempo de paz e o processo penal militar em tempo de guerra.
No presente material de estudo, a análise é focada no processo
penal militar em tempo de paz, sendo analisados seus ritos ordinário e os
especiais. Em seu rito ordinário, em muitos pontos o processo criminal
castrense se assemelha ao processo penal comum. Neste primeiro momento,
serão analisadas tais diferenças e semelhanças entre ambos os processos
criminais, tendo-se uma visão mais ampla das diferenças e semelhanças, bem
como em relação aos procedimentos especiais.
Tal como no processo penal comum, o processo penal miliar tem
início com o recebimento da denúncia, e aqui há a primeira peculiaridade e
diferença entre os dois processos. O processo penal comum pode ser de ação
penal pública, ação penal privada e ação, ou ainda por ação penal privada
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subsidiária da pública. Já o processo penal militar somente pode ser de ação
penal pública, cabendo a observação que a possibilidade da ação penal
privada subsidiária da pública é regramento constitucional, que por ser
posterior ao Código de Processo Penal Militar, deve ser obrigatoriamente
observado, com as devidas adaptações.
Nos crimes de hostilidade contra país estrangeiro, provocação a
país estrangeiro, ato de jurisdição indevida, violação de território estrangeiro,
entendimento para empenhar o Brasil à neutralidade ou à guerra,
entendimento para gerar conflito ou divergência com o Brasil, previstos nos
artigos. 136 a 141 do Código Penal Militar, quando o agente for militar ou
assemelhado, a ação penal é pública condicionada a requisição, que será feita
ao procurador-geral da Justiça Militar, pelo Ministério a que o agente estiver
subordinado. Já no caso do art. 141 do Código Penal Militar, quando o agente
for civil e não houver coautor militar, a requisição deverá ser realizada pelo
Ministério da Justiça, conforme previsto no artigo 31 do Código de Processo
Penal Militar.
A requisição é uma condição de procedibilidade que tem
natureza jurídica de ato administrativo discricionário, irrevogável, porém, não
vincula a atuação positiva do Ministério Público, que sendo o titular da ação
penal, poderá oferecer a denúncia ou não, a depender da sua interpretação
dos fatos.
Com o recebimento da referida denúncia se forma a relação
processual necessária para que exista um processo entre as partes e o juiz, da
mesma forma que ocorre em qualquer processo judicial, seja qual for a sua
natureza.
Após o recebimento da denúncia, há outro ponto de distinção
entre o processo penal militar e o processo penal comum ocorre. É a
determinação pelo juiz militar, conforme o caso, do sorteio do Conselho
Especial ou da convocação do Conselho Permanente de Justiça, designando
dia, lugar e hora para a sua instalação. Após, determinará a citação do acusado,
bem como a intimação do representante do Ministério Público. Determinará
a intimação das testemunhas arroladas na denúncia para comparecerem no
lugar, dia e hora que lhes for designado.
Note-se a diferença entre os processos comum e o militar, visto
que no processo comum, após o recebimento da denúncia, o juiz determinará

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a citação do réu para que apresente a resposta escrita à acusação, que, em
sendo acolhida, gerará a absolvição sumária do acusado.
Como visto, no processo penal militar não há a possibilidade de
uma absolvição sumária, como também não existe a possibilidade de
oferecimento de resposta a acusação. E a razão é bem simples, bastando
verificar que, se quisesse o legislador estender o instituto da resposta a
acusação ou da absolvição sumária, na oportunidade em que inseriu ambos
os institutos no Código Processual Penal comum, também o teria feito no
Código Processual Penal Militar, o que não fez. Logo, fica demonstrada a
vontade do legislador em manter o processo criminal castrense e alterar o
processo penal comum.
Ademais, deve ser destacado que o Direito Processo Penal
comum tem aplicação subsidiária ao Direito Processual Penal Militar por força
do disposto no artigo 3º, letra “a” do Código de Processo Penal Militar. Porém,
tal utilização só será possível quando aplicável ao caso concreto e sem prejuízo
da índole do processo penal militar.
Destaca-se que, após a entrada em vigor da Constituição
Federal de 1988, muitos dispositivos do Código de Processo Penal Militar
perderam sua vigência por estarem em desacordo com o prescrito na
Constituição. Os institutos da suspensão do processo e da prescrição (alterado
pela Lei 9.271 de 1996) aplicado no Código de Processo Penal, nos casos de
acusado citado por edital não apresentar resposta a acusação, não poderá ser
aplicado no processo penal castrense em decorrência de expressa vedação
dos artigos 292 e 412 do Código de Processo Penal Militar. Da mesma forma, o
artigo 305 do Código de Processo Penal Militar que refere que o silêncio do réu
será interpretado em prejuízo da própria defesa, sendo que também não foi
recepcionado, pois a Constituição assegura o direito ao silêncio por força do
Artigo 5º LXIII e 186 do Código de Processo Penal.
Noutro lado, no que se refere a detenção do investigado, previsto
no artigo 18 do Código de Processo Penal Militar, o investigado poderá,
independentemente de flagrante delito, ficar preso. Contudo, o artigo 5º,
inciso LXI da Constituição Federal define que ninguém será preso senão
em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente. Contudo, a própria Constituição, na parte final do
mesmo inciso, faz a ressalva permitindo a prisão nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. Assim, o artigo 18 do

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Código de Processo Penal Militar pode ser tido como recepcionado pela
Constituição Federal.
Já com relação aos processos especiais no processo penal militar,
dois são os expressamente previstos no Código de Processo Penal Militar,
sendo eles o de Deserção de oficial e de praça e o de Insubmissão, sendo
adotado um Rito Sumário para ambos.
Destaca-se que, em ambos os casos, os crimes são propriamente
militares, sendo, no primeiro, situação em que o militar (na atividade) ausenta-
se por mais de oito dias sem um justo motivo e sem autorização, e no segundo,
situação em que o cidadão (ainda não incorporado, mas convocado) deixa de
se apresentar à incorporação dentro do prazo que lhe foi marcado, ou,
apresentando-se, ausentar-se antes do ato oficial de incorporação.
Ocorrendo a deserção ou a insubmissão, os primeiros atos a
darem início aos referidos procedimentos são, respectivamente, o termo de
deserção e o termo de insubmissão.

As fases próprias do processamento e julgamento de crimes


militares

Como já abordado no início deste material, o início do processo


penal militar, seja o procedimento ordinário, seja nos procedimentos
especiais. Assim, o primeiro ato no processo penal militar é o recebimento da
denúncia, relembrando que somente poderá haver queixa-crime em caso de
ação penal privada subsidiária da pública, não havendo casos de ação penal
exclusivamente privada.
Ates de tudo, deve ser assinalado que os procedimentos tratados
aqui dizem respeito ao processamento e julgamento pelo Conselho de Justiça,
sendo que, em se tratando de processamento e julgamento monocrático pelo
juiz federal da Justiça Militar ou pelo juiz de direito, conforme posicionamento
adotado pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal, é
o previsto pelo Código de Processo Penal comum.
Interessante observar que há uma ordem de prioridade para a
instrução criminal, para que os processos distribuídos tenham a organização
de prioridade, de sorte que uns serão processados e julgados antes dos outros.
Prioritariamente serão processados e julgados os processos em que

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respondam os acusados presos, dentre os presos, os de prisão mais antiga, e
dentre os acusados soltos e os revéis, os de prioridade de processo.
Com o recebimento da denúncia, como já visto, será ordenado
pelo juiz federal da Justiça Militar ou juiz de direito, em âmbito estadual, o
sorteio do Conselho Especial ou a convocação do Conselho Permanente de
Justiça e a citação do acusado. Esta citação será realizada por Oficial de Justiça
(artigo 277, caput, Código de Processo Penal Militar), sendo que poderá ocorrer
mediante mandado, quando o acusado estiver servindo ou residindo na sede
do juízo em que se promove a ação penal; mediante precatória, quando o
acusado estiver servindo ou residindo fora dessa sede, mas no País; mediante
requisição, nos casos dos artigos. 280 e 282; pelo correio, mediante expedição
de carta; ou por edital quando o acusado se ocultar ou opuser obstáculo para
não ser citado, estiver asilado em lugar que goze de extraterritorialidade de
país estrangeiro, não for encontrado, estiver em lugar incerto ou não sabido,
ou quando incerta a pessoa que tiver de ser citada.
Após regularmente citado para comparecer em juízo em data e
hora marcada para a instalação do Conselho de Justiça, será realização da
audiência de instrução e julgamento. Na instalação do Conselho de Justiça, os
juízes militares que compõem o Conselho prestarão o seguinte juramento:
“Prometo apreciar com imparcial atenção os fatos que me forem
submetidos e julgá-los de acordo com a lei e a prova dos autos.”
Prestado o compromisso pelo Conselho de Justiça, o auditor
poderá, desde logo, se presentes as partes e cumprida a citação prevista no
artigo 277, designar lugar, dia e hora para a qualificação e interrogatório do
acusado, o que não mais se aplica, sendo a oitiva das testemunhas de
acusação o primeiro ato. Destaca-se que o acusado prezo assistirá a todos os
termos do processo, inclusive ao sorteio do Conselho de Justiça, quando
Especial.
Por conta de alteração realizada na Carta Constitucional do
modelo inquisitório para o modelo acusatório no processo penal, por ter
afetação ao direito constitucional do contraditório e da ampla defesa, e por se
entender o interrogatório como forma de defesa do réu, alterou-se a ordem
das oitivas também no Processo Penal Militar, sem alteração do texto legal,
sendo o interrogatório do réu o último ato da instrução.

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Para efeitos de processamento, terão preferência para a
instrução criminal, ordem que poderá ser alterada por conveniência da justiça
ou da ordem militar:

c) dentre os
b) dentre os presos, acusados soltos e os
a) os processos de
os de prisão mais revéis, os de
réus presos;
antiga; prioridade de
processo.

Sempre a instrução criminal será pública, sendo estipulado o


prazo para a conclusão da instrução criminal de 50 (cinquenta) dias, estando
o acusado preso, e de 90 (noventa), quando solto, a contar do recebimento da
denúncia. Nos atos probatórios em que seja necessária a presença do
Conselho de Justiça, bastará o comparecimento da sua maioria para que
sejam realizados. O acusado ficará à disposição exclusiva da Justiça Militar, não
podendo ser transferido ou removido para fora da sede da Auditoria, até a
sentença final, salvo motivo relevante que será apreciado pelo juiz, após
comunicação da autoridade militar, ou a requerimento do acusado, se civil.
Importante salientar que, no âmbito da Justiça Militar, a
realização de audiência una é incabível, visto o disposto no artigo 400 do
Código de Processo Comum. A determinação de aplicação do mesmo artigo
400 para que o interrogatório seja feito ao final não autoriza a alteração de
todo o procedimento previsto no Código de Processo Penal Militar. Importante
lembrar que o prazo para a apresentação das testemunhas de defesa corre
após o esgotamento da oitiva das que forem arroladas pela acusação. Ainda,
o Código de Processo Penal Militar prevê uma fase de diligências e a
apresentação de alegações escritas (artigos 427 e 428 do Código de Processo
Penal Militar).
Seguindo, serão ouvidas, em primeiro lugar, as testemunhas
arroladas na denúncia e as referidas por estas, além das que forem
substituídas ou incluídas posteriormente pelo Ministério Público. Havendo
mais de três acusados, o procurador poderá requerer a inquirição de mais três
testemunhas numerárias, além das arroladas na denúncia.
Após estas, serão ouvidas as testemunhas indicadas pela defesa,
que poderá arrolá-las em até 5 dias após a oitiva da última testemunha de
acusação. Cada acusado poderá arrolar até seis testemunhas numerárias,
mais três informantes. As testemunhas de defesa poderão ser indicadas em

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qualquer fase da instrução criminal, desde que não seja excedido o prazo de
cinco dias já referido.
As perguntas das partes não poderão ser recusadas, exceto se
ofensivas ou impertinentes, ou ainda sem relação com o fato descrito na
denúncia, ou importarem repetição de outra pergunta já respondida. As
perguntas que forem recusadas serão consignadas em ata da sessão, salvo se
ofensivas ou que não tenham relação com o fato descrito na denúncia. Não
serão inquiridas testemunhas sem que antes sejam notificados o
representante do Ministério Público, o advogado e o acusado, se estiver preso,
respeitado o prazo de três dias entre a notificação e a oitiva. Ainda, as
testemunhas serão ouvidas durante o dia, entre sete e dezoito horas, salvo
prorrogação autorizada pelo Conselho de Justiça, por motivo relevante, que
deverá constar em ata da sessão.
Após o término da oitiva das testemunhas de defesa, será
procedido o interrogatório do acusado, que poderá solicitar, antes de ser
ouvido, esclarecer qualquer fato ou que seja lido qualquer depoimento
prestado no inquérito ou no processo, o relatório do encarregado do inquérito
ou quaisquer outras provas produzidas em juízo. Em havendo mais de um
acusado e todos presentes, estes serão interrogados separadamente, pela
ordem de autuação no processo.
Por inteligência do artigo 427 do Código de Processo Penal:
“Após a inquirição da última testemunha de defesa, os autos irão
conclusos ao auditor, que deles determinará vista em cartório às partes,
por cinco dias, para requererem, se não o tiverem feito, o que for de direito,
nos termos deste Código”. Contudo, como já visto, o interrogatório do
acusado, por tratar-se de ato com natureza de defesa, deve ser realizado
como último ato da instrução. Assim, adaptando-se a interpretação do
referido artigo, deve-se substituir o termo “inquirição da última
testemunha de defesa” por “interrogatório do acusado”. Assim, os autos irão
conclusos ao juiz militar, que deles determinará vista em cartório às partes,
pelo prazo de cinco dias, para que as partes requeiram, se não o tiverem feito,
o que for de direito. Os requerimentos finais das partes devem ocorrer
apenas após a oitiva do acusado, e não da última testemunha de defesa,
tudo em prol do devido processo legal estabelecido pela ordem
constitucional vigente.

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Ainda, o juiz militar poderá determinar de ofício medidas que
julgar convenientes ao processo, cabendo a ele fixar os prazos necessários à
respectiva execução, mesmo nos processos que tramitam pelos Conselhos.
Ressalta-se que compete ao juiz militar decidir, monocrática e
motivadamente, requerimentos e diligências das partes no prazo do artigo
427 do Código Processual Penal Militar, conforme o artigo 30, inciso V, da Lei
nº 8.457/92 (LOJM) e dos artigos 427, parágrafo único, e 430 do Código de
Processo Penal Militar. Contudo, ao Conselho cabe decidir sobre questões
relativas a direito ou de fato suscitadas durante a fase instrutória.
Transcorrido o prazo para diligência, caso não haja requerimento
ou despacho de ofício por parte do juiz militar, este determinará ao escrivão
abertura de vista dos autos para alegações escritas pelo prazo de 8 dias,
sucessivamente ao representante do Ministério Público e ao advogado de
defesa. Havendo assistente de acusação, que poderá ser constituído até o
encerramento da instrução criminal, a este será dada vista dos autos por cinco
dias, após as alegações apresentadas pelo representante do Ministério
Público. Havendo mais de cinco acusados, com diferentes advogados, o
referido prazo de vista será de doze dias, sendo que o mesmo prazo terá o
representante do Ministério Público.
Transcorrido o prazo para alegações escritas, o escrivão fará os
autos conclusos ao juiz, que poderá ordenar outras diligências, a fim de sanar
qualquer nulidade ou suprir falta prejudicial ao esclarecimento dos fatos. Caso
entenda estar o processo devidamente preparado, o juiz designará dia e hora
para o julgamento, cientificando, neste ato, os demais juízes do Conselho de
Justiça, as partes, e realizará a requisição do acusado preso à autoridade que
o detenha, a fim de ser apresentado com as formalidades previstas neste
Código.
Na sessão de julgamento, reunido o Conselho de Justiça e
presentes todos os seus juízes e o procurador, o presidente (juiz militar)
declarará aberta a sessão e mandará apresentar o acusado. Importante
destacar que é indispensável a apresentação do réu preso na sessão de
julgamento, sendo que, caso este não esteja presente, deve o juiz militar
providenciar remarcação da sessão de julgamento para outra data, com a
presença do acusado. O Código de Processo Penal Militar dispõe
expressamente que o julgamento pode ser adiado por uma vez em caso de

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falta do acusado solto. Na segunda falta, o julgamento será feito à revelia, com
curador nomeado pelo presidente do Conselho.
Ainda, deve ser adiado o julgamento no caso de estar ausente o
advogado de defesa, sendo que na segunda ausência, salvo motivo de força
maior devidamente comprovado, será determinada a substituição do
defensor ou a assunção da defesa pela Defensoria Pública.
Com o início da sessão de julgamento, o presidente do Conselho
de Justiça ordenará que o escrivão proceda à leitura da denúncia e seu
aditamento, se houver, do exame de corpo de delito e a conclusão de outros
exames ou perícias fundamentais à configuração ou classificação do crime,
do interrogatório do acusado, e de qualquer outra peça dos autos, cuja leitura
for proposta por algum dos juízes, ou requerida por qualquer das partes,
sendo, neste caso, ordenada pelo presidente do Conselho de Justiça, se deferir
o pedido.
Após a realização da leitura pelo escrivão, será dado início à
sustentação oral das alegações escritas, determinada pelo presidente do
Conselho de Justiça. Este dará a palavra em primeiro lugar ao membro do
Ministério Público, em seguida ao assistente ou seu procurador, se houver, e,
finalmente, ao defensor ou defensores, pela ordem de autuação dos acusados
que representem, salvo se acordado de forma diversa entre eles. O tempo
máximo de duração das sustentações orais é de três horas para cada uma que
deseje fazer uso da palavra.
O procurador e o defensor poderão replicar e treplicar por tempo
não excedente a uma hora para cada um, sendo que o assistente ou seu
procurador terá a metade do prazo concedido ao procurador para a acusação
e a réplica. O advogado que tiver a seu cargo a defesa de mais de um acusado
terá direito a mais uma hora, se fizer a defesa de todos em conjunto. Se os
acusados excederem a dez, cada advogado terá direito a uma hora para a
defesa de cada um dos seus constituintes, não podendo, contudo, exceder a
seis horas o tempo total. O presidente do Conselho de Justiça marcará o
tempo de duração de cada sustentação, e o advogado distribuirá, tal tempo
como melhor entender para a defesa dos seus constituintes.
Superados os debates e decidida qualquer questão de ordem
levantada pelas partes, o Conselho de Justiça (ou o juiz militar nos casos de
competência monocrática) passará a deliberar em sessão secreta, podendo
qualquer dos juízes militares pedir ao juiz militar esclarecimentos sobre

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questões de direito que se relacionem com o fato sujeito ao julgamento. O
presidente do Conselho de Justiça convidará os juízes a se pronunciarem
sobre as questões preliminares e o mérito, votando em primeiro lugar, depois
os juízes militares, por ordem inversa de hierarquia. Quando, pela diversidade
de votos, não se puder constituir maioria para a aplicação da pena, será
considerado que o juiz que tiver votado por pena maior, ou mais grave, terá
virtualmente votado por pena imediatamente menor ou menos grave. Será
prorrogada a jurisdição do Conselho Permanente de Justiça se o novo dia
designado estiver incluído no trimestre seguinte àquele em que findar a sua
jurisdição, fazendo-se constar o fato de ata.
Na sentença, o Conselho de Justiça poderá dar ao fato definição
jurídica diversa da que constar na denúncia, ainda que, em consequência,
tenha de aplicar pena mais grave, desde que aquela definição haja sido
formulada pelo Ministério Público em alegações escritas e a outra parte tenha
tido a oportunidade de respondê-la. A tal possibilidade dá-se o nome de
emendatio libelli, funcionando como seus requisitos de validade a definição
formulada pelo Ministério Público em alegações escritas e que a outra parte
tenha tido a oportunidade de respondê-la.
Ainda, o Conselho de Justiça poderá proferir sentença
condenatória por fato articulado na denúncia, não obstante haver o Ministério
Público opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravante objetiva,
ainda que nenhuma tenha sido arguida, ao que se chama mutatio libelli. Nela,
altera-se o fato que fundava a acusação, motivo pelo qual se exige aditamento
do feito.
O artigo 338 do Código de Processo Penal Militares estabelece
os requisitos e estrutura da sentença para que esta tenha validade, devendo
constar o nome do acusado e sua qualificação (deve constar também seu
posto ou graduação caso se trate de militar). Seguindo, deve constar a
exposição sucinta do alegado pela acusação e pela defesa, além de indicação
dos motivos de fato e de direito em que se fundamenta a decisão.
Posteriormente, a indicação expressa dos dispositivos legais em que se acha
incurso o acusado, chamado de dispositivo. Ao fim deve constar a data e as
assinaturas dos juízes do Conselho de Justiça, a começar pelo presidente e por
ordem de hierarquia, com declaração dos respectivos postos, para que seja
possível a análise de sua imparcialidade, bem como a análise da prescrição, no
caso da referência a data

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Ainda que discorde dos seus fundamentos ou da sua conclusão,
a sentença será redigida pelo juiz federal ou juiz de direito, podendo justificar
o seu voto, se vencido, no todo ou em parte, sendo que o mesmo poderá ser
feito por cada um dos juízes militares.
Toda sentença necessariamente precisa conter sua
fundamentação, sob pena de nulidade, conforme previsto pelo artigo 93, IX da
Constituição Federal, que assim prescreve: “todos os julgamentos dos órgãos
do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade”. Deve ser observado o artigo 489, § 1º, Código de Processo
Civil de 2015, onde contam parâmetros para a fundamentação.
Segundo o referido artigo, não são consideradas fundamentadas
as decisões que se limitem à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
empreguem conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso; invoquem motivos que se prestariam a
justificar qualquer outra decisão; não enfrentem todos os argumentos
deduzidos no processo, capazes de infirmar a conclusão adotada pelo
julgador, em tese; se limitem a invocar precedente ou enunciado de súmula,
sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o
caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; deixem de seguir
enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem
demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação
do entendimento.
O Conselho de Justiça ou o juiz absolverá o acusado,
mencionando os motivos na parte expositiva da sentença, desde que
reconheça:

a) estar provada a inexistência do fato, ou não haver prova da sua existência;

b) não constituir o fato infração penal;

c) não existir prova de ter o acusado concorrido para a infração penal;

d) existir circunstância que exclua a ilicitude do fato ou a culpabilidade ou imputabilidade


do agente (artigos 38, 39, 42, 48 e 52, Código Penal Militar);

e) não existir prova suficiente para a condenação;

f) estar extinta a punibilidade.

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Na sentença absolutória será determinado:

a) que seja o acusado posto em liberdade, se estiver preso;

b) a aplicação de medida de segurança cabível (sentença absolutória


imprópria).

O Conselho de Justiça ou o juiz, ao proferir sentença


condenatória:

a) mencionará as circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na fixação da pena,
tendo em vista obrigatoriamente o disposto no artigo 69 e seus parágrafos do Código Penal Militar;

b) mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas no citado Código, e cuja existência


reconhecer;

c) imporá as penas, de acordo com aqueles dados, fixando a quantidade das principais e, se for o caso, a
espécie e o limite das acessórias;

d) aplicará as medidas de segurança que, no caso, couberem.

No caso de sentença condenatória, o réu será posto em liberdade


se, em virtude de prisão provisória, tiver cumprido a pena aplicada. Se a
sentença ou decisão não for lida na sessão em que se proclamar o resultado
do julgamento, será feita pelo Juiz Militar em nova audiência, dentro do prazo
de 8 (oito) dias, e dela ficarão, desde logo, intimados o representante do
Ministério Público, o réu e seu defensor, se presentes.
A intimação da sentença condenatória será feita, se não o for em
audiência, ao defensor público, ao réu, pessoalmente, se estiver preso, e ao
defensor constituído pelo réu.

Crimes militares e a aplicabilidade do rito procedimental especial.

Os chamados processos especiais, que em realidade são ritos, são


compostos pelo processo de deserção, pelo processo de insubmissão, pelo
processo referente ao habeas corpus, pelo processo de restauração de autos,
pelo processo de competência originária do Superior Tribunal Militar e pela
previsão da Correição Parcial. Devido às suas particularidades e por serem
procedimentos exclusivamente processuais militares, serão abordados
somente os processos especiais de deserção e de insubmissão.
Primeiro, destaca-se que o crime de deserção apenas pode ser
praticado por militar da ativa, conforme se depreende do artigo 187 do Código
Penal Militar, sendo considerado militar, para fins criminais militares, qualquer

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pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às Forcas
Armadas, para nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina
militar, de acordo com o artigo 22 do Código Penal Militar. Dessa maneira, para
cometer o delito, exige-se a condição própria de militar da ativa para que
possa ocorrer tal delito.
Com isto em vista, ainda, há uma questão processual, qual seja,
para a praça não estável e praça especial, o início do processo dependerá de
sua condição de militar da ativa, que se reestabelecerá pelo ato de reinclusão
após a captura ou a apresentação, se apto em inspeção de saúde. Da mesma
forma, para a praça com estabilidade, exige-se a condição de estar ela
revertida da agregação em que se encontrava.
Constitui-se, assim, a condição de militar da ativa em verdadeira
condição de procedibilidade especial na ação de deserção, de maneira que o
processo aqui tratado não pode ter início sem que o autor retorne a sua
condição de militar da ativa.
Importante analisar a situação de o autor, militar da ativa que
comete a deserção, que está na ativa quando oferecida e recebida a denúncia,
mas por alguma razão deixa de ser militar após esse momento, como nos
casos de licenciamento, demissão, exclusão do serviço por prática de nova
deserção, por exemplo. Tal questão se mostra relevante visto que,
particularmente no âmbito da Justiça Militar da União, a qualidade do autor
do fato, após a lei n. 13.774, de 19 de dezembro de 2018, definirá a competência
se dos Conselhos ou do Juiz Federal da Justiça Militar.
Conforme entendimento do Superior Tribunal Militar, a definição
da existência de crime militar ou comum é definida no momento da prática
delituosa, sendo que, se ao tempo do delito o autor era militar, em se tratando
de tipificação indireta por via do inciso II do artigo 9º do Código Penal Militar,
o crime será de natureza militar. No mesmo sentido, existem julgados do
mesmo tribunal no sentido de que a fixação da competência, se monocrática
ou do escabinato, é também definida pelo momento da prática do delito, visto
que o autor, ao tempo do delito, tinha perfeito entendimento e assimilação
dos conceitos de hierarquia e disciplina, principais bens jurídicos tutelados
pelo Direito Penal Militar.
Assim, pode-se concluir que o processamento e julgamento do
crime de deserção será sempre de competência do Conselho de Justiça,

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destacando-se que a mesma lógica não se aplica ao processamento e
julgamento do crime de insubmissão.
Passando a tratar especificamente sobre o procedimento de
processamento e julgamento do crime de deserção, há algumas
peculiaridades quando o réu for oficial, praça com estabilidade ou praça sem
estabilidade, que serão tratados mais abaixo.
Consumado o crime de deserção, nos casos previstos na lei penal
militar, a autoridade competente lavra o respectivo termo, assinado por ela e
duas testemunhas. O termo de deserção tem o caráter de instrução provisória
(IPD) e destina-se a fornecer os elementos necessários à propositura da ação
penal, sujeitando, desde logo, o desertor à prisão.
O oficial desertor, bem como a praça com estabilidade, será
agregado (situação em que o militar deixa de ocupar vaga na escala
hierárquica, permanecendo nessa situação ao apresentar-se ou ser
capturado), quando então esta condição será revertida, possibilitando o
regular processamento e julgamento do feito. Para a praça sem estabilidade
(praça que conte com menos de 10 anos de serviço), quando desertor, o
procedimento sofre modificação, visto que a praça sem estabilidade não pode
ser agregado. Assim, nesta hipótese, consumada a deserção ele é
imediatamente excluído do serviço ativo, conforme previsto no artigo 456, §
4º, Código de Processo Penal Militar.
Publicado o termo de deserção, a autoridade militar o remeterá
à auditoria competente, com a parte de ausência, o inventário do material
permanente da Fazenda Nacional e as cópias do boletim ou documento
equivalente e dos assentamentos do desertor.
Recebido o termo de deserção e demais peças, o Juiz Militar
mandará autuá-los e dar vista do processo por 5 (cinco) dias, ao Procurador,
podendo este requerer o arquivamento, ou que for de direito, ou, tratando-se
de oficial, oferecer denúncia, se nenhuma formalidade tiver sido omitida ou
após o cumprimento das diligências requeridas.
Recebida a denúncia, o Juiz determinará seja aguardada a
captura ou apresentação voluntária do desertor. Contudo, hipótese de praça
com ou sem estabilidade, após as diligências mencionadas no parágrafo
anterior o processo permanece no Juízo Militar, aguardando a captura ou
apresentação voluntária do desertor, para só então ser oferecida denúncia.

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Ocorrendo a apresentação ou a captura o desertor, a autoridade
militar fará de imediato a comunicação ao Juiz, informando sobre a data e o
lugar onde se apresentou ou foi capturado, além das demais outras
circunstâncias concernentes ao fato que tenham importância para o feito. No
caso de praça sem estabilidade, será procedido, de imediato, o exame de
saúde para verificar sua capacidade sanitária de reincorporação. Sendo
considerado apto para ao serviço, será reincluído no serviço ativo para fins de
prosseguimento do processo. Caso ocorra o fato de ser julgado inapto para o
serviço ativo, ficará isento da prestação do serviço militar e do processo,
destacando-se que tal hipótese ocorre principalmente com conscritos das
Forças Armadas.
Passado isto, para ambos os casos, o Juiz encaminhará os autos
para o Ministério Público para formação da opinio delicti deste órgão e, caso
assim entenda, oferecimento de denúncia ou arquivamento.
Caso entenda o órgão ministerial por oferecer a denúncia, o Juiz
procederá, no caso de tratando-se de oficial, ao sorteio e à convocação do
Conselho Especial de Justiça, expedindo o mandado de citação do acusado,
para ser processado e julgado. Já no caso de tratar-se de praça, procederá à
convocação do Conselho Permanente de Justiça, e a consequente expedição
do o mandado de citação ao acusado. Em ambos os casos, no mandado será
transcrita a denúncia com todos os seus detalhes para que seja possível o
exercício do contraditório e da ampla defesa.
O artigo 453 do Código de Processo Penal Militar prevê o prazo
de sessenta dias para o julgamento do desertor, a contar do dia de sua
apresentação voluntária ou captura, sendo que, transcorrido referido prazo
sem que seja o desertor julgado, será posto em liberdade, salvo se tiver dado
causa ao retardamento do processo. Salienta-se que existia o posicionamento
que considerava a prisão automática prevista neste artigo como legal e válida,
o que inclusive gerou a edição da Súmula 10 no âmbito do Superior Tribunal
Militar. Contudo, com a alteração de posicionamento ocorrida no Supremo
Tribunal Federal, o Superior Tribunal Militar acabou reformulando seu
posicionamento gerando a extinção da referida Súmula 10. Atualmente,
embora haja a prisão decorrente da recaptura ou da apresentação
espontânea do desertor, ela somente se sustenta se presentes os
pressupostos da prisão preventiva.

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Reunido o Conselho de Justiça, presentes o procurador, o
defensor e o acusado, o juiz/presidente ordenará a leitura da denúncia,
seguindo-se o interrogatório do acusado, ouvindo-se, na ocasião, as
testemunhas arroladas pelo Ministério Público. A defesa poderá oferecer prova
documental e requerer a inquirição de testemunhas, até o número de três,
que serão arroladas dentro do prazo de três dias e ouvidas dentro do prazo de
cinco dias, prorrogável até o dobro pelo conselho, ouvido o Ministério Público.
Findo o interrogatório, e se nada for requerido ou determinado,
ou finda a inquirição das testemunhas arroladas pelas partes e realizadas as
diligências ordenadas, o presidente do conselho dará a palavra às partes, para
sustentação oral, pelo prazo máximo de trinta minutos, podendo haver réplica
e tréplica por tempo não excedente a quinze minutos, para cada uma delas,
passando o conselho ao julgamento, não havendo, portanto, a apresentação
de alegações escritas.
Importante destacar que existia posicionamento do Superior
Tribunal Militar de que a condição de militar era essencial para que o processo
de deserção tivesse continuidade, tratando-se assim de verdadeira condição
de prosseguibilidade. Contudo. Tal posicionamento atualmente encontra-se
revisto por aquele tribunal superior, passando a considerar que o
licenciamento do acusado durante o processo não impede o prosseguimento
do feito, salvo se decorrente de incapacidade definitiva.
Já com relação ao crime de insubmissão, este ocorre quando o
convocado deixa de se apresentar à incorporação dentro do prazo que lhe foi
marcado, ou, após a apresentação inicial, ausenta-se antes do ato oficial de
incorporação. É previsto no artigo 183 do Código Penal Militar, tendo pena de
impedimento, de três meses a um ano, e seu rito próprio é regulado pelos
artigos 463 e seguintes do Código de Processo Penal Militar.
Uma vez consumado o crime de insubmissão, a autoridade
competente responsável pela unidade para que fora designado o insubmisso,
fará lavrar o termo de insubmissão, circunstanciadamente, com indicação, de
nome, filiação, naturalidade e classe a que pertencer o insubmisso e a data
em que este deveria apresentar-se, sendo o termo assinado pelo referido
comandante, ou autoridade correspondente, e por duas testemunhas
idôneas.
Assim como o no crime de deserção, o termo de deserção e os
demais documentos relativos à insubmissão, tem o caráter de instrução

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provisória (IPI), e destina-se a fornecer os elementos necessários à propositura
da ação penal, sendo o instrumento legal autorizador da captura do
insubmisso, para efeito de incorporação.
O Comandante, ou autoridade competente, que tiver lavrado o
termo de insubmissão deverá remetê-lo à auditoria, acompanhado de cópia
autêntica do documento hábil que comprove o conhecimento pelo
insubmisso da data e local de sua apresentação, e demais documentos.
Recebido o termo de insubmissão e os documentos que o
acompanham, o Juiz Militar determinará sua atuação e dará vista do processo,
por cinco dias, ao promotor, que requererá o que for de direito, aguardando-
se a captura ou apresentação voluntária do insubmisso, se nenhuma
formalidade tiver sido omitida ou após cumprimento das diligências
requeridas. Para o início da ação penal é necessária a apresentação ou captura
do insubmisso, ocasião em que será reincluído.
O insubmisso que se apresentar ou for capturado terá o direito
ao quartel por menagem e será submetido à inspeção de saúde. Se incapaz,
ficará isento do processo e da inclusão, independentemente de se tratar de
incapacidade temporária ou definitiva. A ata de inspeção de saúde será
remetida pelo Comandante da Unidade com urgência à auditoria a que
tiverem sido distribuídos os autos, para que os autos sejam arquivados em
caso de incapacidade para o serviço militar, após pronunciar-se o Ministério
Público.
Inclusão o insubmisso, o Comandante da Unidade, ou autoridade
correspondente, providenciará a remessa à auditoria, com urgência, de cópia
do ato de inclusão. O Juiz determinará sua juntada aos autos e deles dará vista,
por cinco dias, ao procurador, que poderá requerer o arquivamento, ou o que
for de direito, ou oferecer denúncia, se nenhuma formalidade tiver sido
omitida ou após o cumprimento das diligências requeridas. Autuado o
processo será observado, conforme o caso, o disposto com relação aos
processos por crime de deserção.
Importante o destaque que, sobre a competência para
processamento e julgamento do crime de insubmissão, se pelo Conselho de
Justiça ou pelo juiz, monocraticamente, apesar de ser a insubmissão um crime
praticado por civil, a competência, existe posicionamento no sentido de que
seja do Conselho Permanente de Justiça, uma vez que a atribuição do juiz
federal da Justiça Militar, conforme previsto no artigo 30, I-B da Lei 8.457,

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refere-se apenas aos crimes previstos nos incisos I e III do artigo 9º Código
Penal Militar, estando a insubmissão inserida no inciso II do referido artigo.
Contudo, cabe a ressalva de que existem doutrinadores
abalizados, como o Dr Cícero Robson Coimbra Neves, Promotor de Justiça
Militar, que entendem tratar-se de competência do juízo monocrático o
processamento e julgamento do crime de insubmissão, justamente por tratar-
se de civil sendo processado e julgado perante a Justiça Militar, seguindo-se a
regra de fixação de competência, em que a competência para processar e
julgar civis na Justiça Militar é do Juízo Monocrático.

Aplicação dos ritos sumaríssimo, sumário e ordinário do Código


de Processo Penal comum aos crimes militares por extensão

Crimes militares são, ao contrário do que se pense, todas as


condutas que a lei criminal militar assim elenca. Ou seja, independem da
qualquer outro subterfúgio para que se tornem crimes militares. Porém, há
crimes que somente são crimes no Código Penal Militar, ao passo que há
crimes que, além de tipificados no Código Penal Militar, também o são em
outras legislações de natureza criminal.
Assim, era entendido que no caso dos crimes comuns, de
competência da justiça comum, o processamento e julgamento era realizado
conforme os ritos previstos para a justiça comum. De outra banda, aos crimes
que, eram tipificados somente no Codex Castrense, seguia-se a ritualística
prescrita na lei processual castrense. Por fim, os crimes que, além de
tipificados na legislação criminal militar o eram, de igual forma, na legislação
criminal comum, devido ao princípio da especialidade, seguiam o
processamento criminal militar.
Contudo, com a ampliação da definição de crime militar, advinda
da edição da Lei nº Lei 13.491/17, que passou a considerar crime militar
também os delitos tipificados na legislação criminal comum que não tem
igual definição no Código Penal militar, mas que se enquadrassem nas alíneas
do inciso II do artigo 9º do Código Penal Militar.
Contudo, a nova redação faz a ressalva da competência do Júri
nos crimes dolosos praticados contra vida de civil (§ 1º), mas quando praticados
numa das hipóteses taxativas previstas nas alíneas do inciso II do art. 9º do
Código Penal Militar, são considerados crimes militares, e, portanto, de
competência da Justiça Militar.

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Assim, haverá a possibilidade de outros tipos penais, estranhos
aos do Código Penal Militar, serem de competência da Justiça Militar da União
e da Justiça Militar dos Estados - porquanto considerados crimes militares se
praticados nas hipóteses do inciso II do artigo 9º do Código Penal Militar -
como, por exemplo, aqueles previstos na legislação comum, se praticados em
serviço ou em razão da função (artigo 9º, II, alínea “c”, Código Penal Militar) ou
praticados no interior de local sob administração militar (artigo 9º, II, alínea “b”,
Código Penal Militar), tais quais: o crime de abuso de autoridade (Lei 4.898/65);
os crimes de tortura (Lei 9.455/97), os crimes Lei Ambiental (arts. 29/69-A); os
crimes do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03, arts. 12/21); os crimes do
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90, arts. 228/244-B); os crimes
do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03, arts. 95/110); o crime de organização
criminosa (Lei 12.850/13, art. 2º) e o os crimes de trânsito (Lei 9.503/97).
Ainda, poderão ter natureza militar quando praticados no
contexto do inciso II do artigo 9º do Código Penal Militar os delitos do Código
Penal Comum não previstos no Código Penal Militar, como por exemplo:
tráfico de pessoas (artigo 149-A); receptação de animal (artigo 180-A); assédio
sexual (artigo 216-A); associação criminosa (artigo 288); constituição de milícia
privada (artigo 288-A); estupro de vulnerável (artigo 217-A); inserção de dados
falsos em sistema de informações (artigo 313-A); modificação ou alteração não
autorizada no sistema de informações (artigo 313-B); fraude processual (artigo
347); até mesmo o delito de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio
(artigo 122, Código Penal), não previsto no Código Penal Militar, se ocorrido
entre militares.
Importante destacar, outrossim, que a vedação da incidência dos
benefícios da Lei 9.099/95 (art. 90-A) no âmbito da Justiça Militar (crimes
propriamente e impropriamente militares previstos no Código Penal Militar)
agora se estende também aos crimes militares por extensão. Assim, as
disposições relativas ao rito também não se aplicam aos crimes militares
extravagantes, ainda quando mais benéficos.
Ainda sob o aspecto processual, quanto ao Juiz Natural dos
crimes militares por extensão, se já houver sentença que tenha decidido sobre
o crime, fixado estará a jurisdição perante o Tribunal correspondente da
Justiça Comum (federal ou estadual), como já decidiu o STJ no HC 21.579-SP,
Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, J. 18/3/2003.

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Ainda, outro efeito decorrente da entrada em vigor da Lei nº
13.491/17 é a perda de validade de algumas súmulas do STJ, que justamente
tratavam de crime comum praticado por militar em serviço, tais quais: Súmula
6 (crime de trânsito com vítima civil); Súmula 75 (fuga de presos comuns);
Súmula 90 (crime comum simultâneo ao crime militar); e Súmula 172 (crime
de abuso de autoridade).
Seguindo, como amplamente reconhecido, a competência da
Justiça Militar é definida constitucionalmente e se faz em função da natureza
da infração, cabendo-lhe conhecer exclusivamente do crime militar (ratione
materiae), tratando-se assim de competência absoluta.
A questão se destaca quando se trata da competência perante a
Justiça Militar Estadual, vez que a Emenda Constitucional nº 45/04, ao
modificar o artigo 125 da Constituição Federal, introduziu o § 5º ao referido
artigo, que criou uma nova competência interna na primeira instância, de
forma que o julgamento nos crimes militares praticados contra civil passou a
ser de competente o Juiz de Direito, enquanto nos demais crimes a
competência seguiu sendo do Conselho de Justiça, e ainda criou a
competência cível também exclusiva do Juiz de Direito monocrático.
Assim, perante a Justiça Militar dos Estados, a prática de um
crime militar por extensão praticado contra uma vítima civil, por exemplo,
estupro de vulnerável (217-A), tortura (Lei 9.455/97), abuso de autoridade (Lei
4.898/65), serão processados e julgados perante o Juízo Singular (Juiz de
Direito), ao passo que, outros crimes que não sejam contra vítima civil, por
exemplo, porte ilegal de arma (artigo 14 e 16, Lei 10.826/03), associação
criminosa (artigo 288, CP), organização criminosa (artigo 2º, Lei 12.850/13),
modificação ou alteração não autorizada no sistema de informações (artigo
313-B, CP), os crimes de tortura (Lei 9.455/97), em face do bem jurídico tutelado,
serão processados e julgados pelo Juízo Colegiado (Conselho de Justiça).
Existindo crimes conexos, continentes ou praticados num único
contexto, envolvendo crimes do Juízo Singular ou do Juízo Colegiado,
configurar-se-á a competência do Juízo Misto, que, por economia processual,
poderão ser processados num único processo, mantendo-se num único
julgamento e uma única sentença a solução do caso, observando-se a
competência absoluta entre aqueles dois órgãos judiciários de primeira
instância (artigo 125, § 5º, CF).

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Destaca-se que a previsão da competência de Juízo Singular
decorrente da Emenda Constitucional nº 45/04, ainda não ocorre no âmbito
da Justiça Militar da União, de forma que na especializada federal todos os
tipos penais previstos na legislação comum considerados crimes militares por
extensão serão conhecidos, na primeira instância, pelo Conselho de Justiça.
Relevante observar que para os ditos crimes militares por
extensão, ainda que possuam rito procedimental diverso (procedimento
ordinário, sumário, sumaríssimo ou especial), serão processados e julgados de
acordo com o rito processual estabelecido no Código de Processo Penal
Militar, em razão do princípio da especialidade.
Nos crimes militares de competência do Colegiado, a disciplina
já está prevista no Código Processual Penal Militar, ao passo que nos crimes
militares de competência do Juiz Singular, deve ser aplicado o que está
previsto no regramento processual castrense, no que couber, e por quando
houver omissão desta, analogicamente a disciplina da legislação processual
comum (artigo 3º, alínea “a”).

As consequências práticas em decorrência do rito procedimental


aplicado no âmbito da Justiça Militar.

Ressalta-se, como já abordado, que a competência da Justiça


Militar (ratione materiae) é absoluta, não sofrendo assim interferência das
demais competências previstas no regramento, com exceção das também
constitucionalmente previstas, quando conflitantes e superiores a matéria
militar.
Assim, a principal consequência da aplicação da ritualística
prevista no regramento processual penal militar é a preferência dada ao rito
previsto neste, o que não descarta a possibilidade de utilização de rito, ou de
parte de rito, previsto em regramento próprio, quando o Código de Processo
Penal Militar se omitir sobre a matéria.
Quanto à competência para processamento e julgamento,
qualquer alteração trazida por questões procedimentais não tem o condão de
interferir ou de causas alteração de competência.

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