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PACOTE ANTICRIME

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4

LEGÍTIMA DEFESA .................................................................................................... 5

Legítima defesa do agente de segurança pública ................................................ 5

EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA ........................................................................... 9

TEMPO MÁXIMO DE CUMPRIMENTO DE PENA ................................................... 10

LIVRAMENTO CONDICIONAL ................................................................................ 11

Dos efeitos da condenação .................................................................................. 13

Causas impeditivas da prescrição....................................................................... 14

NOVAS MAJORANTES NO CRIME DE ROUBO .................................................... 16

REPRESENTAÇÃO NO CRIME DE ESTELIONATO ............................................... 18

DESTINAÇÃO DE BENS APREENDIDOS............................................................... 20

Das coisas apreendidas e perdimento de bens.................................................. 20

Destinação e Aproveitamento dos Bens apreendidos e perdidos em favor da


União ........................................................................................................................ 21

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA ..................................................................................... 24

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL: SISTEMA ACUSATÓRIO OU INQUISITÓRIO?


.................................................................................................................................. 25

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 31

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NOSSA HISTÓRIA

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modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO

A Lei n° 13.964 sancionada em 24 de dezembro de 2019 e chamada de lei do


pacote anticrime, entrou em vigor em 23 de janeiro de 2020 e trouxe diversas
mudanças ao Código Penal e Código de Processo Penal, bem como, trouxe ainda
alterações importantes em algumas das leis penais extravagantes.

A lei foi criada com o objetivo de enrijecer as formas de combate ao crime


organizado, a corrupção e a criminalidade violenta que atualmente assola o país, além
de aperfeiçoar as normas penais brasileiras. As novas normas trazidas estão sujeitas
ao princípio da irretroatividade, ou seja, a lei não retroagirá, exceto para beneficiar o
réu.
O pacote traz disposições que têm em vista combater organizações criminosas,
células muito comuns no Brasil, que atuam em todas as esferas e regiões do país
causando prejuízo ao erário e à sociedade em geral. A referida lei objetiva avanços
no ordenamento jurídico criminal e reduzir a sensação de impunidade refletida na
sociedade
Desse modo, a presente disciplina pretende delimitar e apresentar as
mudanças trazidas pela lei nº 13.964/2019, denominado Pacote Anticrime, e o seu
impacto no ordenamento jurídico brasileiro.

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LEGÍTIMA DEFESA

Sabe-se que todo bem de mesma espécie detém o mesmo valor jurídico para
o estado, porém, existem momentos que esses bens juridicamente tutelados entram
em conflito, no entanto, cabe salientar que quando um bem age de forma agressiva
perante o outro, o estado tem o dever de reconhecer a defesa do ofendido como
conduta legal, mesmo que o ato venha a lesar um bem antes tutelado.

A partir disso, nasce o instituto das excludentes de ilicitude, e entre elas a


legítima defesa, visto que o estado não consegue dar todo o aporte de segurança a
todo cidadão, acaba dando o direito ao particular e também ao profissional em se
proteger de atos injustos e ilícitos direcionados a sua pessoa. Ao dar esse “direito”, o
estado acaba sacrificando algo antes por ele segurado, mas para que esse direito
dado pelo estado não seja considerado algo ilícito o agente deverá agir com força
moderada, entre o limite de cessão da agressão atual ou iminente e o excesso.

Legítima defesa do agente de segurança pública

Definidas as finalidades do Pacote Anticrime, dentre as diversas mudanças


previstas no âmbito do direito penal, processo penal e execução penal, a Lei nº
13.964/19 propôs o acréscimo de um parágrafo único e dois incisos ao artigo 25 do
Código Penal, que trata da excludente de ilicitude da legítima defesa. Veja-se:

Art. 25. [...]

Parágrafo único. Observados os requisitos do caput, considera-se em


legítima defesa:

I - o agente de segurança pública que, em conflito armado ou em risco


iminente de conflito armado, previne injusta e iminente agressão a direito seu
ou de outrem; e

II - o agente de segurança pública que previne agressão ou risco de agressão


a vítima mantida refém durante a prática de crimes.

Com esta nova redação, o projeto visava corrigir uma suposta situação de
absoluta insegurança do policial ao atuar preventivamente, ou seja, quando houvesse
risco iminente a direito seu ou de outrem, segundo as palavras utilizadas na
justificativa do projeto.

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Entretanto, apenas o inciso II foi aprovado, passando o artigo 25 e parágrafo
único a dispor o seguinte:

Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos


meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo,


considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que
repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a
prática de crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

A legítima defesa é uma espécie de excludente da ilicitude. Em outras palavras,


sabe-se que o crime é composto por fato típico, ilicitude e culpabilidade, e a legítima
defesa nada mais é do que um instituto que permite excluir o substrato da ilicitude, de
maneira a excluir o crime, daí o nome excludente da ilicitude. Também são
excludentes da ilicitude, que possuem previsão expressa no Código Penal, o estado
de necessidade, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de um
direito.

O Professor Cezar Roberto Bitencourt (2011) leciona que a legítima defesa


apresenta dois fundamentos, a saber: “de um lado, a necessidade de defender bens
jurídicos perante uma agressão injusta; de outro lado, o dever de defender o próprio
ordenamento jurídico, que se vê afetado ante uma agressão ilegítima”. Em suma, no
prisma jurídico individual, a legítima defesa é o direito que todo homem possui de
defender seu bem jurídico. Sob o ponto de vista jurídico social, o ordenamento jurídico
não deve ceder ao injusto.

Para que a sua configuração, porém, alguns requisitos devem ser observados.
Objetivamente (requisitos objetivos), o próprio caput do art. 25 determina que a
agressão deve ser injusta, atual ou iminente, devendo o agente se utilizar
moderadamente dos meios necessários para salvar direito próprio ou alheio. Entende-
se por agressão injusta a conduta humana (será humana mesmo quando o agente se
utilizar de animal como instrumento do crime – ex.: dono que manda cachorro atacar
seu desafeto), contrária ao direito, que lesa ou expõe a perigo o bem jurídico de
alguém. Atual ou iminente é o que está ocorrendo ou prestes a ocorrer. Por sua vez,
o uso moderado dos meios necessários são os meios menos lesivos à disposição do

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agredido no momento da agressão, porém, capazes de repelir o ataque com
eficiência.

O agente também deve ter consciência de que está agindo na defesa de seu
bem jurídico (requisito subjetivo), conforme bem anotam Eugênio Pacelli e André
Callegari (2020).

Ressalvadas, portanto, as posições contrárias, a doutrina majoritária sustenta


ser imprescindível que o defensor tenha a convicção de que a sua atuação possui a
finalidade de proteger o bem jurídico ameaçado. Não significa dizer que se deva ter a
consciência da ilicitude da ação repelida, mas sim que a agressão (atual ou iminente)
existe e é passível de lesionar o bem jurídico. Logo, entende-se que a reação deve
possuir uma orientação subjetiva do agente, no sentido de afastar o risco do dano ou
oferecer defesa a este.

Ultrapassadas as questões iniciais para o entendimento da legítima defesa,


pode-se agora determinar quem são os agentes de segurança pública mencionados
no novel dispositivo legal, uma vez que este não especifica quem seriam eles. Da
simples leitura do dispositivo é possível perceber que se trata de verdadeira norma
penal de fundo constitucional, isso porque é preciso buscar o conceito de agentes de
segurança pública na Constituição Federal.

Nessa toada, aplicando-se de forma analógica (lembre-se que o direito penal


permite a analogia in bonam partem) o quanto disposto no art. 121, § 2º, VII do Código
Penal, que trata do homicídio contra integrantes dos órgãos de Segurança Pública,
pode-se afirmar que são tutelados pela norma os agentes ou autoridades descritas
nos arts. 142 e 144 da Carta Magna, ou seja, os membros das forças armadas e as
polícias em geral. Vale frisar ainda que as guardas municipais e os agentes
penitenciários (federais, estaduais e distritais), atualmente denominados policiais
penais, também são abarcados pelo tipo, uma vez que estão disciplinados no inciso
VI e § 8º do art. 144 da Constituição Federal.

Diferentemente, os agentes de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado


Federal (polícia legislativa) não são abrangidos pela qualificadora, uma vez que a
previsão das chamadas “polícias legislativas” encontra-se nos artigos 51 e 52 da

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Constituição Federal. Do mesmo modo, eventuais agentes públicos diversos e
particulares, também não encontram respaldo na norma, portanto, para eles não
poderia ser aplicado o art. 25, parágrafo único do CP. Nesse sentido, ensina Renato
Brasileiro de Lima (2020)

[...] na eventualidade de agentes públicos diversos (v.g. Promotor de Justiça),


ou se um particular, agirem no sentido de repelir agressão a vítima mantida
refém durante a prática de crimes, quiçá provocando a morte do autor do
delito, não há falar em aplicação do parágrafo único do art. 25 do Código
Penal, o que, no entanto, não afasta a possibilidade de reconhecimento da
legítima defesa, porém, com fundamento no caput do referido dispositivo
legal.

Pode-se dizer que a novidade legislativa pôs fim à discussão doutrinária quanto
à excludente de ilicitude que deveria ser aplicada diante da atuação letal de um agente
de segurança pública, se a legítima defesa ou o estrito cumprimento do dever legal.

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EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA

Nos termos do artigo 32 do Código Penal, as penas dos delitos podem ser
restritivas de direito, privativas de liberdade ou de multa.

O artigo 49 define a pena de multa como pagamento ao fundo penitenciário de


quantia fixada na sentença. Importante ressaltar que cada tipo penal tem definida a
pena corporal (reclusão, detenção) e a pena pecuniária (multa).

O valor é calculado conforme um “índice” chamado “dia-multa”, cujo valor será


definido pelo juiz com base na situação econômica do réu, não podendo ser inferior a
um terço do maior salário mínimo na época dos fatos, nem superior a 5x esse salário:

Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da


quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de
10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um
trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem
superior a 5 (cinco) vezes esse salário.

§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices


de correção monetária.

O prazo de pagamento da pena de multa é 10 dias após o trânsito em julgado


da sentença. Se o condenado requerer, dependendo das circunstâncias, o juiz pode
permitir que o pagamento seja parcelado.

A Lei nº 13.964/19, alterou a redação do artigo 51 do Código Penal,


estabelecendo que a multa será executada perante o Juiz da Execução Penal e que
estará sujeita às normas da dívida ativa da Fazenda Pública:

Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será


considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação
relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às
causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

Não houve grande mudança na redação desse artigo, porém vale salientar que
essa sujeição da pena pecuniária às normas da Fazenda gera consequências
práticas, como por exemplo o cálculo da prescrição, que não atenderá aos requisitos
da prescrição penal (artigo 107, inciso IV, e seguintes, do Código Penal), e sim, aos
requisitos da prescrição da dívida ativa.

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TEMPO MÁXIMO DE CUMPRIMENTO DE PENA

A aplicação de uma pena tem os seguintes objetivos: a) retribuir ao infrator


penal um “castigo” por suas ações, b) intimidar a sociedade, pois o castigo imposto
ao delinquente serve de exemplo, e c) reintegrar o preso à sociedade.

O artigo primeiro da Lei de Execuções Penais assim estabelece:

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença


ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração
social do condenado e do internado.

O artigo 5º, inciso XLVII, alínea b da Constituição Federal/88 proíbe


expressamente a aplicação da pena de prisão perpétua. Além disso, nosso país é
signatário de tratados internacionais de direitos humanos, sendo importante a
promoção da liberdade do indivíduo e a proteção contra penas degradantes.

Desta forma, a aplicação de penas perpétuas não apenas infringiria normas


constitucionais, mas ainda, fugiria do escopo da aplicação da pena.

Por esta razão, a lei traz um limite de tempo de pena, nos termos do artigo 75
do Código Penal. Eram 30 anos; com o advento da Lei n.13.964, passam a ser 40
anos.

Importante constar que essa alteração se dá devido ao aumento da expectativa


de vida, que era menor quando o Código Penal foi editado, em 1940.

Apenas para esclarecer eventual dúvida, é possível sim na prática que o


condenado cumpra pena superior ao limite do caput do artigo 75, tendo em vista a
redação do parágrafo segundo, que estabelece que condenação referente a fato
POSTERIOR ao início do cumprimento da pena requer uma nova unificação de penas,
neste caso desconsiderando o período de pena já cumprido.

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LIVRAMENTO CONDICIONAL

O instituto do livramento condicional é um benefício atribuído ao apenado que


permite o cumprimento do restante da pena em liberdade. Para tanto, o condenado
precisa atender certos requisitos e cumprir determinadas condições no gozo do
livramento.

A crise carcerária no Brasil é real e crescente, as unidades prisionais que


servem ao regime fechado estão abarrotadas, não há espaço físico para acomodar
todos os encarcerados, não há estrutura para garantir o mínimo de dignidade para
essas pessoas. Noutro sentido, as colônias penais, que acomodam os apenados em
regime semiaberto, estão a permitir que o condenado saia da colônia pela manhã e
retorne no fim do dia, o que é típico do regime aberto, cumprido nas Casas de
Albergado.

Por falta de unidades próprias para o cumprimento das penas em regime aberto
(Casa de Albergado), aplica-se a analogia mais favorável ao sentenciado, portanto é
muito comum que o regime aberto seja cumprido domiciliarmente, o que se denomina
prisão albergue domiciliar (P.A.D).

Com isso, o livramento condicional passou a ser preterido pelos sentenciados,


visto que, a prática dos regimes semiabertos e abertos davam maior liberdade ao
beneficiado. Guilherme de Souza Nucci (2020) bem ilustra o cenário ao dizer que
“diante do quadro lastimável em que se encontra os regimes fechados, semiaberto e
aberto, ao se aproximar do semiaberto ou do aberto, o condenado não quer pensar
no benefício do livramento condicional”.

A Lei 13.964/19 altera os prazos para a progressão de regime, deixando-os


mais rígidos, com isso espera-se que o livramento condicional volte a ser utilizado
durante o cumprimento da pena.

São duas as alterações feitas pelo Pacote Anticrime no artigo 83 do Código


Penal, o qual elenca os requisitos para a concessão da liberdade condicional.

Entretanto, antes de adentrar no tema, cumpre destacar a existência de


requisitos objetivos e subjetivos para o benefício. Os primeiros referem-se à

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quantidade de pena base e do tempo a ser cumprido para que o condenado tenha
direito de pedir o benefício, fator temporal. Os requisitos subjetivos, por sua vez, se
referem ao comportamento do agente durante o período que esteve privado da
liberdade, aqui observa-se os fatores pessoais e comportamentais do indivíduo.

Dito isso, podemos analisar a primeira alteração para a concessão do


livramento que, na verdade, é a uniformização dos termos legais. Anteriormente, o
artigo 83, III do CP, previa que o requerente do benefício apresentasse um
comportamento satisfatório, regular, ao passo que a Lei de Execução Penal, em seu
artigo 112, exigi bom comportamento.

Nota-se que havia um entrave entre a lei geral e a lei especial, o que se
uniformizou com a implantação da Lei 13.964/19, agora, o bom comportamento é
exigência expressa em ambas as normas.

A segunda modificação, regulamenta a exigência do não cometimento de falta


grave para a concessão do livramento. Antes, a jurisprudência entendia que não era
possível, por falta de previsão legal, incluir a falta grave como causa impeditiva, de
natureza objetiva, para o recebimento do benefício. Agora, a falta grave é requisito
objetivo e a sua falta acarreta a negação do pedido de liberdade condicional.

Desta forma, os requisitos objetivos e subjetivos estão mais evidentes e


uniformes na legislação sendo considerados requisitos objetivos: a) Pena igual ou
inferior a dois anos; b) Cumprimento de mais de 1/3 da pena, se primário; c)
cumprimento da 1/2, se reincidente em crime doloso; d) mais de 2/3, se condenado
por crime hediondo, prática de tortura, tráfico de drogas, tráfico de pessoas, se o
apenado não for reincidente específico de crimes dessa natureza.

Os requisitos subjetivos, por sua vez são: a) bom comportamento durante a


execução da pena; b) não cometimento de falta grave nos últimos doze meses; c) bom
desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; d) reparação do dano causado pela
infração, salvo efetiva impossibilidade de fazê-la.

Cabe ressaltar que, antes da atualização pelo pacote anticrime, apenas o porte
ou posse ilegal de arma de fogo de uso proibido era considerado crime hediondo pela
lei. Entretanto, com um aumento da presença de armamento proibido na mão de

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criminosos, outras condutas relacionadas à arma de fogo foram enquadradas como
hediondo, excluindo-se a arma de fogo de uso restrito:

• Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido;


• Comércio ilegal de armas de fogo;
• Tráfico Internacional de armas de fogo, acessórios ou munição.

Por fim, pode-se afirmar, que o as alterações do Pacote Anticrime “ressuscitam”


o uso do Livramento Condicional, por prever maior rigidez para a progressão de
regime. Paralelamente, uniformiza os requisitos subjetivos para a concessão do
referido benefício, tornando-os mais claros e fixos para a apreciação do magistrado.

Dos efeitos da condenação

É de amplo conhecimento, que uma condenação criminal repercute na vida do


sentenciado por longos anos, ou até o fim de sua vida. As consequências de uma
sentença condenatória são diretas e indiretas, imediatas e tardias, previstas na
legislação, como se observa nos arts. 91 e 92 do CP, bem como imprevisíveis, que
serão sentidas intimamente pelo apenado durante e após o cumprimento de sua pena.

A Lei 13.964/19 introduz, pelo artigo 91-A, um novo efeito da condenação, o


qual objetiva o combate ao enriquecimento ilícito daqueles que cometerem crimes.
Vejamos o dispositivo:

Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine


pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a
perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à
diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja
compatível com o seu rendimento lícito.

Observa-se que os bens tidos como proveitos do crime, poderão ser tomados
do condenado por crime com pena máxima superior a seis anos de reclusão, quando
o montante de seus bens não corresponder aos rendimentos lícitos declarados.

Para tanto, entende-se como patrimônio do sentenciado todos os bens de sua


titularidade, ou dos quais tenha domínio e o benefício direto ou indireto, na data da
infração ou recebidos anteriormente. Bem como aqueles transferidos a terceiros a
título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, após o início da pratica delituosa.

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Ressalta-se que o novo dispositivo trata de assegurar ao sentenciado o
contraditório e a ampla defesa, destacando que este poderá demonstrar a inexistência
da incompatibilidade ou a procedência dos bens. Sendo dever da acusação
demonstrar a ocorrência do enriquecimento ilícito, não há que se falar em inversão do
ônus da prova.

Cabe ao Ministério Público requerer, expressamente, essa perda dos bens logo
que ofereça a denúncia referente ao crime apurado, indicando a diferença entre os
bens tidos como ilícitos e a renda declarada do acusado. Nucci (2020) ensina que “o
órgão acusatório promoveria ação penal, cumulada com o pleito da perda patrimonial,
indicando a diferença exigida pelo caput do art. 91-A”.

Na sentença que condenar o réu a perda de seus bens, o magistrado deverá


declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens cuja perda for decretada.

No mesmo sentido, o § 5 do artigo 91-A do C.P, determina que “Os


instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e
milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado,
dependendo da Justiça onde tramita a ação penal (...)”.

A supracitada decretação ocorrerá mesmo que os instrumentos não


representem perigo à população, à moral ou à ordem pública, nem ofereçam risco de
serem utilizados em novas infrações penais.

Entende-se que a regra não caracteriza um novo fato típico, mas sim o efeito
de uma condenação por crimes graves, tendo em vista a pena máxima a ser
observada, como é o caso do Peculato, Concussão, Corrupção Passiva e outros.
Busca o legislador alcançar a restituição dos valores adquiridos pelo agente no
cometimento do crime e impedir que este goze dos frutos financeiros derivados do
enriquecimento ilícito.

Causas impeditivas da prescrição

A prescrição é a extinção do poder punitivo (jus puniendi) do Estado, após o


decurso de um prazo. Os artigos 116 e 117 do Código Penal descrevem as causas
impeditivas/suspensivas e interruptivas da prescrição. Nos casos de suspensão da

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prescrição (art. 116 do CP) a contagem do prazo fica suspensa, retomando-se, depois,
de onde parou. Nos casos de interrupção da prescrição (art. 117 do CP), a contagem
do prazo zera, voltando ao início, sendo desprezado o tempo anteriormente
computado.

A Lei 13.964/19 trouxe duas novas causas suspensivas da prescrição,


dispostas no artigo 116, III e IV, do C.P. Extrai-se do dispositivo mencionado que,
antes de transitar em julgado a sentença final, a prescrição não corre; (III) na
pendencia de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores
quando inadmissíveis e (IV) enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de
não persecução penal.

Na primeira situação, observa-se que há a suspensão da prescrição entre a


data da sentença condenatória e a data da prolação da decisão que inadmite os
embargos ou recursos aos Tribunais Superiores. Com isso, a prescrição só continuará
a ser computada durante o julgamento de embargos e recursos plenamente admitidos,
impedindo que as ferramentas processuais de defesa sejam usadas para protelar os
processos, acarretando a prescrição.

A segunda inclusão refere-se à suspensão da prescrição durante o


cumprimento do acordo de não persecução penal. Como veremos, o pacote anticrime
inclui o artigo 28-A no Código de Processo Penal, o qual possibilita ao Ministério
Público, em vez de denunciar o investigado, conciliar com ele um acordo. Sendo a
proposta de não persecução penal aceita pelo investigado a prescrição punitiva do
agente ficará suspensa, até o seu integral cumprimento, o que acarretará a extinção
da punibilidade.

Caso o acordo não seja cumprido, o mesmo será rescindido e o Ministério


Público oferecerá a denúncia normalmente, independentemente do tempo
transcorrido, tendo em vista que a prescrição do crime estava suspensa, voltando a
ser computada normalmente com fim do acordo.

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NOVAS MAJORANTES NO CRIME DE ROUBO

Antes da alteração legislativa feita no artigo 157 em seus parágrafos do Codex


penalista, pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019), utilizar arma branca como meio
de execução não seria mais motivo de majorar a pena, alteração esta feita pela lei nº
13.654 em abril de 2018. No entanto, o legislador no pacote anticrime resolver
consertar o que foi feito, incluindo novamente a arma branca como majorante do crime
de roubo. Veja a causa de aumento de pena incluída pela novel lei:

Art. 157

(...)

§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 até a metade:

VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma


branca;

Nesse sentido, há majoração (Causa de aumento de pena - Roubo


circunstanciado) também quando o agente delitivo utiliza arma de fogo para subtrair
coisa alheia móvel, o parágrafo 2-A foi introduzido pela lei 13.654/18. Veja o que
obtempera o artigo:

Art. 157

(...)

§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654,
de 2018)

I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;

Impende-se registrar que a Lei Anticrime criou um novo parágrafo, qual seja, o
parágrafo 2º-B, instituindo uma nova causa de aumento de pena que neste caso será
dobrada. Nesse sentido, a pena será aplicada em DOBRO se o sujeito ativo do delito
de roubo subtrair coisa alheia móvel utilizando como meio executório arma de fogo de
uso RESTRITO OU PROIBIDO. Veja o que preconiza o artigo:

Art. 157.

§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de


fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em DOBRO A PENA prevista no
caput deste artigo.

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Por fim, saliente-se que como a lei 13.964 de 24 de dezembro de 2019 instituiu
novas causas de aumento de pena, está Lei não irá retroagir, pois estamos diante de
uma novatio legis in PEJUS (Lex Gravior).

Indaga-se: Como ficará a situação de um indivíduo que comete um crime sob


a vigência da lei nº 13.654 que revogou a majorante de arma branca?

Simples, a lei nº 13.654/18 irá ultragir para alcançar fatos quando cometidos
sob sua vigência. Logo, será aplicado o benefício da retirada da causa de aumento de
arma branca mesmo após a inclusão novamente da majorante.

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REPRESENTAÇÃO NO CRIME DE ESTELIONATO

Primeiramente, antes de adentrar as mudanças trazidas pelo pacote anticrime,


é necessário entender o que é o crime de estelionato.

Diz o Art. 171 do Código Penal:

Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo


ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento.

Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez


contos de réis.

Em simples palavras o crime de estelionato nada mais é do que enganar uma


pessoa para obter uma vantagem ilícita.

No que diz respeito ao processamento dos crimes, é importante mencionar que


as ações penais, estão classificadas da seguinte maneira: condicionadas ou
incondicionadas à representação da vítima. A representação, significa dizer que a
vítima tem que querer que o processo ocorra, é necessário que a mesma consinta
para que o processo penal inicie.

Já as ações de natureza incondicionada à representação, são aquelas em que


o Ministério Público tem a titularidade da representação, sendo que, se existir a autoria
e a materialidade do crime, não é necessário a representação da vítima.

Com a chegada do Pacote Anticrime, o crime de estelionato deixou de ser uma


ação de natureza incondicionada, de modo que passou a depender da representação
da vítima, seja para os casos novos, ou para aqueles antigos que já estão em curso
em razão do benefício que gera aos indiciados ou réus em ações penais cujo o tipo
penal seja o estelionato.

Veja-se como ficou a nova redação da Lei, a qual alterou a classificação da


ação penal para o crime de estelionato:

Art. 171 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento.

(...)

5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:

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I – a Administração Pública, direta ou indireta;

II – criança ou adolescente;

III – pessoa com deficiência mental; ou

IV – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

Regra geral o crime de estelionato será processado mediante ação penal


condicionada a representação da vítima, excetuando-se as hipóteses acima
destacadas.

Assim, importante ressaltar que, aquelas pessoas que estiverem sendo


investigadas por prática de crime de estelionato, não se enquadrando em nenhum dos
casos mencionados acima, cuja ação penal deva ser incondicionada, deve de
imediato procurar um advogado, a fim de que este atue em seu favor no sentido de
requerer o arquivamento do inquérito por falta de representação.

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DESTINAÇÃO DE BENS APREENDIDOS

Não é raro que durante uma abordagem ou operação policial, objetos sejam
apreendidos. Esses podem ser úteis ao processo como meio de prova da ocorrência
de um crime e de sua autoria. Todavia, em algum momento esses bens perdem a
utilidade processual e podem ser restituídos a quem de direito, quando não há a quem
restituir a coisa, o Código de Processo Penal dá o adequado direcionamento aos
objetos.

Os Capítulos V e VI do Código de Processo Penal trata da Restituição das


Coisas Apreendidas. Nesse sentido, observamos o artigo 118 do referido diploma
legal que, de forma expressa, preceitua que os bens apreendidos não serão
restituídos enquanto interessarem ao processo. Em seguida, o artigo 120 do Código
de Processo Penal destaca que poderá o juiz ordenar a restituição de ofício, desde
que não haja dúvidas acerca do direito do reclamante.

Desta forma, identificamos que os bens apreendidos ficarão à disposição


processual enquanto necessário, bem como que o magistrado poderá ordenar a
restituição dos mesmos quando estes não forem mais uteis ao processo, estando
certo o direito daquele que reclama a devolução dos bens. Além disso, os
supramencionados capítulos da lei processual penal estabelecem outras providencias
sobre o assunto.

A lei 13.964/19 trouxe novos contornos e regras sobre as coisas apreendidas,


incluindo ao Código de Processo Penal dois novos artigos que, determina a
destinação dos valores adquiridos com o leilão desses bens, prevendo, também, o
aproveitamento de alguns objetos aprendidos. Passemos a análise dos temas.

Das coisas apreendidas e perdimento de bens

Sobre o destino das coisas apreendidas, é importante observar três artigos da


lei processual penal. Primeiramente, importa evidenciar que “a restituição, quando
cabível, poderá ser ordenada pela autoridade policial ou juiz, mediante termo nos
autos, desde que não exista dúvida quanto ao direito do reclamante”. é o que dispõe
o artigo 120 do Código de Processo Penal. Desta forma havendo a quem restituir a
coisa, sendo ela possível de restituição, a devolução se dará.

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No entanto, é possível que ocorra o perdimento desses objetos. Nessa
hipótese, os bens utilizados para a prática de crimes ou que sejam produtos da
atividade ilícita podem ser perdidos em favor da união. O artigo 133 do Código de
Processo Penal destaca que após o trânsito em julgado da sentença condenatória,
será determinada “a avaliação e a venda dos bens em leilão público cujo perdimento
tenha sido decretado”.

Levando em consideração os dispositivos supracitados, a Lei 13.964/19 alterou


o artigo 122 da lei processual penal. Anteriormente e, se possível, a perda dos bens
apreendidos em favor da união, era decretada após noventa dias do trânsito em
julgado da sentença condenatória. Agora, o artigo 122 do Código de Processo Penal
ganhou nova redação, determinando que:

Art. 122. Sem prejuízo do disposto no art. 120, as coisas apreendidas serão
alienadas nos termos do disposto no art. 133 deste Código.

Retira-se o prazo de noventa dias da sentença condenatória irrecorrível para


que o perdimento dos bens seja possível. O dispositivo remete-se diretamente ao
artigo 133 do mesmo diploma legal que, nas palavras de Nucci (2020), “menciona a
viabilidade de, tão logo ocorra o trânsito em julgado, avalie-se e venda-se em leilão o
que foi apreendido”.

Desta forma, encerrado o processo criminal, existindo bens apreendidos, se for


o caso, o magistrado ordenará o perdimento desses em favor da união, procedendo,
se necessário, o leilão das coisas para sejam convertidas em pecúnia.

Destinação e Aproveitamento dos Bens apreendidos e perdidos em favor


da União

O Pacote Anticrime incluiu um novo dispositivo ao Código de Processo Penal,


o 124-A, vejamos:

Art. 124-A. Na hipótese de decretação de perdimento de obras de arte ou de


outros bens de relevante valor cultural ou artístico, se o crime não tiver vítima
determinada, poderá haver destinação dos bens a museus públicos.

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O supradito dispositivo tem por finalidade destinar determinados bens
apreendidos a locais apropriados. Desta forma, obras de arte ou de relevante valor
cultural ou artístico que forem apreendidos e perdidos serão encaminhados a museus
públicos, isso quando não existir uma vítima determinada.

Como dito, os bens que forem apreendidos podem ser restituídos a quem de
direito, perdidos para a união ou destinados a locais apropriados em casos
específicos. Quando perdidos em favor da União, os bens precisam ser destinados
para que tenha o melhor uso possível e sendo inviável essa utilização, os objetos
serão leiloados e transformados em valores pecuniários.

A Lei 13.964/19 alterou o texto do artigo 133 do Código de Processo Penal que
previa a determinação, de ofício ou a requerimento do interessado, de avaliação e
venda dos bens apreendidos em leilão público. Com isso, o valor apurado que não
coubesse à vítima ou terceiro interessado era recolhido ao Tesouro Nacional.

Vejamos a nova redação do artigo 133 do Código de Processo Penal:

Art. 133. Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz, de ofício ou


a requerimento do interessado ou do Ministério Público, determinará a
avaliação e a venda dos bens em leilão público cujo perdimento tenha sido
decretado

§ 1º Do dinheiro apurado, será recolhido aos cofres públicos o que não couber
ao lesado ou a terceiro de boa-fé.

§ 2º O valor apurado deverá ser recolhido ao Fundo Penitenciário Nacional,


exceto se houver previsão diversa em lei especial.

Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz, de ofício, a


requerimento das partes ou do Ministério Público, determinará a venda dos bens
perdidos em leilão público. Os valores adquiridos com o leilão, que não couberem à
vítima ou terceiro de boa-fé, serão recolhidos aos cofres públicos, mais
especificamente ao Fundo Penitenciário Nacional, salvo se houver previsão em
contrário.

Sobre isso Guilherme de Souza Nucci (2020) sinaliza que “está correta essa
destinação, pois esse Fundo é o que sustenta (ao menos deveria) a construção e
manutenção de presídios”.

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Após a reforma do disposto supradito, a Lei 13.964/19 trouxe novo dispositivo
a norma processual penal, o artigo 133-A, o qual dispõe que:

Art. 133-A. O juiz poderá autorizar, constatado o interesse público, a


utilização de bem sequestrado, apreendido ou sujeito a qualquer medida
assecuratória pelos órgãos de segurança pública previstos no art. 144 da
Constituição Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo, da
Força Nacional de Segurança Pública e do Instituto Geral de Perícia, para o
desempenho de suas atividades.

O aproveitamento dos bens apreendidos e perdidos pelas Autoridades


Judiciárias já era uma prática comum antes da inclusão do artigo 133-A no Código de
Processo Penal. Ocorre que, por falta de previsão expressa, isso se dava por
disposições internas dessas instituições, é o que informa Nucci.

O supramencionado dispositivo legal regulariza essa prática. Agora, as


instituições atreladas ao sistema prisional, socioeducativo, os destacados no artigo
144 da Constituição Federal e outros poderão utilizar os bens apreendidos,
sequestrados e sujeitos a medidas assecuratórias, no desempenho de suas
atividades.

O parágrafo primeiro do artigo 133-A, destaca que “o órgão de segurança


pública participante das ações de investigação ou repressão da infração penal que
ensejou a constrição do bem terá prioridade na sua utilização”. Noutro sentido, o
parágrafo segundo determina que além dessas entidades “demonstrado o interesse
público, o juiz poderá autorizar o uso do bem pelos demais órgãos públicos.”.

O parágrafo terceiro e quarto do supradito artigo, estende a possibilidade do


aproveitamento dos bens apreendidos aos veículos, embarcação ou aeronave.
Nesses casos, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao órgão de registro e
controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento em favor do
órgão público beneficiário, após o trânsito em julgado a propriedade desses bens
poderá ser integre definitivamente à entidade pública beneficiária.

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AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

A audiência de custódia está prevista no artigo 310 do Código de Processo


Penal e estabelece, em síntese, que o juiz deverá promover a audiência de custódia,
no prazo máximo de 24h após a realização da prisão, com a presença do acusado,
seu advogado constituído ou membro de Defensoria Pública e o membro do Ministério
Público.

Na ocasião será analisada a necessidade da manutenção da prisão,


convertendo-a em preventiva se assim for o entendimento do juiz e, se ilegal a prisão,
será relaxada. Se estiverem presentes na conduta do acusado e verificado pelo juiz a
legitima defesa, estado de necessidade ou estrito cumprimento do dever legal ou
exercício regular do direito, será concedida a liberdade provisória, mediante termo de
comparecimento aos atos processuais.

Por outro lado, se reincidente ou integra organização criminosa armada ou


milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, será negada a liberdade provisória.

E, por fim, se transcorridos as 24h sem a realização de audiência de custódia


sem motivação idônea, a prisão passará a ser considerada ilegal, devendo, portanto,
ser relaxada. Esses são os termos do art. 310 do CPP.

O STF já estabeleceu que a audiência de custódia é direito público subjetivo de


caráter fundamental, assegurado por convenções internacionais de direitos humanos,
sendo assim prerrogativa não suprimível. (STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de
Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994))

O Pacote Anticrime trouxe vedação da possibilidade de o juiz decretar a prisão


preventiva de ofício, devendo ser provocado pela autoridade policial ou pelo Ministério
Público.

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CÓDIGO DE PROCESSO PENAL: SISTEMA ACUSATÓRIO OU
INQUISITÓRIO?

Muito se falava a respeito do Pacote Anticrime com relação a trazer um sistema


acusatório no Código de Processo Penal brasileiro e apartar o sistema inquisitório,
mas o mais relevante é saber diferenciá-los. A lei de nº 13.964/19 alterou o referido
Código, em destaque para o seu art. 3ª-A, o qual afirma que o Processo Penal deverá
ter uma estrutura acusatória, inclusive, vedadas são as iniciativas dos juízes na fase
de investigação e substituição probatória do órgão de acusação. É necessário
entender a lógica do sistema acusatório, para isso é necessário falar sobre o sistema
anterior — o inquisitório.

Historicamente, o Direito e o inquérito possuem características de serem


inquisitórios, e há um conceito partido da premissa da “verdade real”: aquilo que o
indivíduo conjectura e prova que determinado fato efetivamente aconteceu. Um dos
problemas do sistema inquisitório é que se partia desta verdade, ou seja, era
observado tal fato para que o juiz (que é o acusador ou interrogador) chegasse à
conclusão a respeito daquilo, e com base nisto, ele fazia todo o procedimento para
provar o fato que já estava em sua mente, não para que fosse verificado o que
realmente aconteceu. Na verdade, a verdade real só existe em uma situação fática e
as pessoas que a sabem são as que efetivamente estavam lá; o que existe realmente
é a verdade processual.

O sistema inquisitório possuía determinadas características, as quais são


possíveis verificar que se perduram em nosso sistema processual hoje. Tínhamos
dentro de apenas uma figura um juiz, um acusador e às vezes, inclusive, aquele que
era responsável por fazer cumprir aquela pena. Dentre outras características do
sistema inquisitório, era amplamente aceita a denúncia anônima (denúncia esta em
que o denunciante não precisaria aparecer), isto quando não era o próprio acusador
que era o denunciante.

Em nosso contexto atualmente, apesar de procedimentos terem o início


possível com base em uma denúncia anônima, o STJ já decidiu amplamente que o
inquérito, por exemplo, não poderá ser iniciado por uma denúncia anônima, porque

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apesar de o indivíduo ser livre para falar o que bem entender, nossa Constituição veda
o anonimato.

Outro ponto a ser observado é sobre os procedimentos que poderiam ser


sigilosos, claro que com exceções de que o procedimento era público, como
enforcamentos e julgamentos, mas a regra era o sigilo. Então, aquele inquisidor além
de ser julgador e acusador, ele não precisava que ninguém visse aquilo que ele estava
fazendo; ele não permitia que a população tomasse conhecimento dos fatos que
ocorriam, até porque às vezes a população poderia se revoltar com relação a algumas
situações.

A prisão no sistema inquisitório era uma regra — provavelmente o indivíduo era


preso antes mesmo de iniciar qualquer tipo de procedimento — e a confissão era a
“rainha” das provas, por isso a tortura era admissível. Havia vários tipos de tortura e o
acusado até tinha algum tipo de “direito”, como ser submetido a apenas um método
de tortura por dia. Existia às vezes a figura do advogado, mas ele tinha apenas a
função de fazer aquela pessoa se arrepender logo e fazer a confissão de uma vez por
todas; não havia uma função efetiva de defesa. Tudo era feito para se provar que
aquele sujeito era de fato culpado, e não para se verificar o que realmente aconteceu.
Consequentemente estas práticas foram reduzidas com o sistema acusatório, mas
qualquer semelhança com a nossa realidade, é mera coincidência.

A confissão era a prova máxima e a tortura era suficiente para que esta
confissão fosse feita. O interrogatório normalmente era a parte mais importante do
procedimento no sistema inquisitório. Não havia recurso e nem coisa julgada, pois o
poder era todo centralizado na figura de apenas uma pessoa que detinha o poder
máximo e soberano do Poder Estatal ou da Igreja naquele momento. Ora, se o Estado
e a Igreja não podiam ser contestados, naturalmente não teria como haver recurso.
Sendo a principal característica deste sistema aquele que concentrava o poder
absoluto. Quando o inquérito acaba tendo características inquisitórias, é exatamente
aí que determinado indivíduo tem poder absoluto para investigar, e este inquérito
acabará servindo para formular indícios que não são provas, ou seja, em regra, não
deveria entrar no sistema penal, inclusive. Muitos autores defendem que o inquérito
nem mesmo deveria ir para o processo, e sim que o promotor deveria separar as

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partes investigativas que achasse importante, mas que o inquérito não poderia fazer
parte do processo.

Apesar de no sistema inquisitório haver a possibilidade de uma absolvição,


quase nunca ela era utilizada, porque simplesmente não havia provas o suficiente
para condenar alguém. Portanto, a absolvição era muito rara na época da inquisição,
deixando o gancho aberto para que se não houvesse provas ontem e houvesse provas
hoje, poderia condenar, enforcar, ou até mesmo queimar o acusado. Segundo
Alexandre Morais da Rosa, o juiz só quer produzir provas se ele acha que tais provas
existem. Então, ele só toma a frente para produzir uma prova se ele acha que ela
realmente perdura. Quando se permite que o juiz tenha a capacidade de produção de
provas (vedado pelo Pacote Anticrime), é o mesmo que afirmar que o juiz pode se
convencer de algo e ir atrás de tal fato, retirando do Ministério Público — que não é
mais o Órgão acusador principal — a função de acusação que era repassada ao
magistrado para que ele produzisse a prova.

O sistema que passa a ser acusatório também possui características que são
como lógica, ou seja, se há algo dentro do Código de Processo Penal anterior ao
Pacote Anticrime no que tange a este sistema, provavelmente estará contrário à esta
lógica; automaticamente é possível que tenha havido uma revogação tácita de tal
situação, como por exemplo, a liberdade da produção de provas que ainda acontece
no Código de Processo Penal.

A primeira das características é a separação dos papeis: uma clara distinção


entre quem é o acusador e quem é o julgador. Se o acusador não quer que
determinada coisa seja feita, o juiz não pode tomar a frente deste acusador por achar
que é necessário e fazer praticar tal ato. O juiz deve se colocar na situação de alheio
ao processo. Respectivas características importantes são que a iniciativa probatória
pertence às partes, não ao magistrado. Não existindo mais aquela situação de
“testemunha do juízo”; ou as partes chamam todos a quem lhes interessem, ou não
poderá haver este tipo de testemunha. As partes que produzem todas as provas que
lhes interessem, ou estas provas não irão para os autos. Não existe a verdade real, e
sim a processual, como dito anteriormente. O juiz, então é o terceiro imparcial; ele
deve ficar completamente distante da produção das provas. O ideal seria que ele só
fosse apresentado às provas no momento do julgamento para que pudesse ter uma

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visão daquelas provas apresentadas por cada uma das partes (que seriam
equivalentes) e julgar a partir dali.

Apesar de caminharmos para este modelo, não é assim que funciona ainda. As
partes devem ter os mesmos poderes, assim sendo, se o Ministério Público possui a
possibilidade de fazer algo, a defesa também tem que ter a possibilidade de fazer o
mesmo.

A regra principal é a oralidade: dando-se preferência a alegações finais de


maneira oral, e o juiz fazendo o julgamento com base nesta apresentação feita pela
defesa e pela acusação. Mais uma das características é que o sistema acusatório
deve ser público por natureza, isto significa que qualquer pessoa pode verificar se
aquele sistema está seguindo as normas ou não. Deve haver também o contraditório
e a ampla defesa de forma expressa e específica, sem essa de “contraditório deferido”,
com o juiz tomando uma decisão e depois abrindo prazo para que a defesa se
manifeste sobre tal decisão que já foi tomada. O contraditório existe de acordo como
o Ministério Público apresenta algo e a defesa tem a possibilidade de ir contra aquilo.
E vice-versa.

Portanto, não é algo que acontece de forma posterior; acontece antes e deve
ser respeitado no sistema acusatório. Tendo em vista que o juiz possui a possibilidade
de lhes ser apresentadas as provas de imediato e julgar a partir dali, ele passará a ter
uma desnecessidade de justificar tanto a sua decisão, podendo resolver a lide com
base naquilo que lhe foi apresentado; não há a necessidade de “grampear”
justificativas em um processo, passando a ter mais força por seu livre convencimento,
desde que seja um juiz imparcial, claro.

A coisa julgada passa a ter um poder maior; a absolvição é uma regra e se por
acaso ela acontece, não poderá ser alterada (exceto se for algum dos tipos específicos
de absolvição, mas que também tende a acabar). Uma última característica, mas não
menos importante, é o duplo grau de jurisdição: a possibilidade de o acusado recorrer
para um Órgão superior para que haja uma revisão de seu processo. Mesmo com um
juiz imparcial e não precisando justificar tanto a sua decisão, não significa que o
indivíduo não possa recorrer e discutir tal sentença, entendendo que por tais motivos,
ela não deveria inteirar o processo.

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Com a Lei 13.964/2019, de 24.12.2019 – o denominado “pacote anticrime” –,
diversas modificações ocorreram nas esferas penal, processual penal e de execução
penal.

A lei nova insere o art. 3-A, no CPP, afirmando uma suposta estrutura
acusatória do processo penal brasileiro:

Art. 3-A, CPP: O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a


iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação
probatória do órgão de acusação.

Não se pode negar que a inserção do art. 3-A, no CPP, é um avanço em termos
de democracia processual penal, mormente a se considerar que, a partir da vigência
da lei nova, o agora juiz de garantias (art. 3-B a 3-F, da Lei 13.964/2019) não terá
qualquer iniciativa probatória de ofício.

A nosso ver, houve, nesse aspecto, revogação tácita da regra do art. 156, I, do
CPP, com redação dada pela Lei 11.690/2008, que facultava ao juiz, de ofício,
“ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal (sic) [ou seja, na investigação
preliminar], a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes,
observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida.”

Ademais, a previsão de que o juiz que atuará na fase processual não poderá
se substituir na atuação probatória do órgão de acusação implica em reconhecer que
o magistrado da fase de conhecimento não terá iniciativa probatória que prejudique o
acusado.

Em outras palavras, a partir da vigência da Lei 13.964/2019, somente se


admite, no processo de conhecimento, iniciativa probatória pro reo pelo juiz presidente
da instrução processual. Essa é a melhor interpretação que se pode conferir ao art.
156, II, do CPP (é facultado ao juiz, de ofício, “determinar, no curso da instrução ou
antes de proferir sentença, a realização de diligência para dirimir dúvida sobre ponto
relevante), em cotejo com o novo art. 3-A, do CPP, que veda, ao juiz da fase
processual, que se substituía nas funções do órgão de acusação.

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MATERIAL COMPLEMENTAR
A Escola Superior da Defensoria Pública do Estado de Goiás, com o apoio da
Associação Goiana das Defensoras e Defensores Públicos, trouxe um webinário
especial com o autor, jurista e doutor em Direito Processual Penal na Universidad
Complutense de Madrid Aury Lopes Junior e o doutor em Direito pela UFPR,
professor, autor e juiz de direito de Santa Catarina Alexandre Morais da Rosa,
abordando o tema Pacote Anticrime: Principais Aspectos Processuais Penais.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uQDYFBhmTVI

É importante ressaltar que as opiniões emitidas no material complementar


indicado são de exclusiva responsabilidade dos autores, não tendo qualquer relação
com a instituição, tendo o propósito exclusivo de convidar o aluno à reflexão.

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REFERÊNCIAS

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Paulo: Saraiva, 2011.

LIMA, Renato Brasileiro. Pacote Anticrime: comentários à Lei nº 13.964/19 - artigo


por artigo. Salvador: Editora JusPodivum, 2020.

PACELLI, Eugênio; CALLEGARI, André. Manual de Direito Penal. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2019.

NUCCI, Guilherme de Souza. Pacote Anticrime comentado: Lei 13.964, de


24.12.2019 / Guilherme de Souza Nucci. – 1. Ed. – [2. Reimpr.] Rio de Janeiro:
Forense, 2020.

ALTAMIRANO, Claudia. Brasil é o 4º país mais corrupto do mundo, segundo


Fórum Econômico Mundial. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/03/internacional/1475517627_935822.amp.ht
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ARAÚJO, Emanuel. O teatro dos vícios: transgressão e transigência na


sociedade urbana colonial. 2 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.

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Brasília, DF: SENADO, 1988.

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por Artigo (2020). ed. Salvador: JusPodivm, 2020.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Lígia M. Pondé


Vassalo. Petrópolis, Vozes, 1987.

HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: Jose Olympio,
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MORAES, Miriam. Política: como decifrar o que significa política e não ser
passado para trás: um guia politicamente correto para entender o sistema de
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