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DIREITO PENAL MILITAR

Prof. Me. Thiago Fiorenza de Souza

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Direito Penal Militar é o ramo especializado do Direito Penal
que estabelece as regras jurídicas vinculadas à proteção das
instituições militares e ao cumprimento de sua destinação
constitucional.

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O Direito Penal é sempre a “ultima ratio”, decorrência do
princípio da subsidiariedade, assim, também na esfera
militar, deve-se fazer distinção entre as condutas, pois não
serão todas tuteladas pelo DPM, algumas condutas serão
tratadas apenas na esfera administrativa, por serem de
menor relevância.

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Por exemplo, o crime de deserção é um crime que atinge
o próprio serviço militar, uma vez que o sujeito se ausenta
sem autorização, e o militar ele tem uma dedicação
exclusiva a sua função; se ausentando por mais de 8 dias,
ele se torna um desertor (Art. 187 do CPM) ou o caso do
insubmisso (Art. 183 do CPM) que é aquele que não se
apresenta para incorporação.

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Por outro lado, existe uma situação diferente da
insubmissão que é o caso do refratário (Art. 24 e 26 da
Lei do Serviço Militar – Lei 4.375/64), que é aquele que
não se apresenta na turma, no momento certo em que
deveria se apresentar para o serviço militar e não o faz,
sendo este um Civil.

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CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES
MILITARES

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Crime militar é a conduta que, direta ou indiretamente,
atenta contra os bens e interesses jurídicos das
instituições militares (autoridade, dever, serviço,
hierarquia, disciplina), qualquer que seja o agente.
A competência da Justiça Militar Estadual é de processar
e julgar os militares dos Estados nos crimes militares
definidos em lei. Na esfera federal, temos a JMU para
processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Os
civis respondem na JMU por crimes militares, porém não
respondem na esfera Estadual, uma vez que essa é
ratione materiae e ratione personae, não abrangendo os
não militares dos estados e nem os militares das forças
armadas. @thiagofiorenza.adv
CRIME PROPRIAMENTE MILITAR
Os crimes propriamente militares são aqueles que tem
como bens jurídicos interesses exclusivos da vida militar,
interesses exclusivos para instituição militar (a
autoridade, a disciplina, a hierarquia, o serviço, a função e
o dever militar). Ou seja, são os delitos exclusivos da
própria vida militar, são interesses estranhos à vida
comum. O sujeito ativo só pode ser militar da ativa, uma
vez que tal qualidade do agente é essencial do tipo.
Autorizam a prisão sem flagrante e sem ordem judicial.
Exemplos: Art. 149, 153, 157, 159, 163, 165, 166, 187 a
192, 194 e 195 a 203, todos do CPM. @thiagofiorenza.adv
CRIME IMPROPRIAMENTE MILITAR
Os crimes impropriamente militares relacionam-se aos interesses
típicos (a autoridade, a disciplina, a hierarquia, o serviço, a função
e o dever militar) com outros bens jurídicos que são comuns. São
crimes previstos tanto no CPM quanto nas leis penais comuns,
com igual ou semelhante definição, e tem como sujeito ativo o
militar da ativa ou o civil. Como o bem jurídico é comum, pode ser
praticado por qualquer pessoa ou militar. É um crime militar,
porque está na lei penal militar.
Exemplo: Homicídio, lesão corporal, furto, roubo, extorsão,
estupro, delitos que tem um viés de proteção de interesses
comuns (bem jurídicos comuns a vida civil), mas por serem
praticados por militares ou lugares de proteção administrativa
militar são chamados de crimes impropriamente militares.
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APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR

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A aplicação da lei penal militar, assim como nos demais
ramos do direito, rege-se pelo princípio da legalidade,
desaguando nos entendimentos da reserva legal e da
anterioridade, previsto no art. 5º, XXXIX da CF/88, bem
como no art. 1º do CPM, vejamos:

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Art. 5º, XXXIX, CF/88 - não há crime sem lei anterior que
o defina, nem pena sem prévia cominação legal;

Art. 1º, CPM - Não há crime sem lei anterior que o


defina, nem pena sem prévia cominação legal.

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Salienta-se que no Direito Penal o princípio da legalidade
abrange tanto os crimes quanto as contravenções penais.
Todavia, na legislação penal militar não se tem
contravenção penal; abrange, portanto, apenas os crimes.
Em relação à sanção penal, estão abrangidas as penas e as
medidas de segurança.

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Essa garantia tem por objetivo histórico evitar que alguém
seja preso ou privado de seus
bens pela vontade singular do soberano. Resulta na
obrigação de existência prévia de lei penal
incriminadora para que o cidadão possa ser processado e
condenado por um crime (anterioridade)
e que apenas lei em sentido estrito (emanada pelo
legislativo) seja utilizada para criar
crimes e cominar penas (reserva legal).
Ademais, temos como consequência de destaque a
proibição da utilização de analogias em prejuízo do
acusado.
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LEI PENAL NO TEMPO

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O Direito Penal Militar segue o princípio geral do “tempus
regit actum” (o tempo rege o ato). Aplica-se a lei penal
em vigor quando foi praticado o fato e, sobrevindo nova
lei, somente retroagirá para beneficiar o acusado (art. 2º,
CPM e art. 5º XL, CF/88).

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Art. 5º, XL, CF/88 - a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu.

Art. 2º, caput, CPM - Ninguém pode ser punido por fato
que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.

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A Lei penal militar
A Lei penal militar
não retroage pra
retroage pra
prejudicar o réu.
beneficiar o réu.
Irretroatividade da
Retroatividade
lei penal em
benéfica.
prejuízo.

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Tendo em vista que as respectivas premissas básicas,
genéricas, acabam desaguando em algumas situações
conflitantes, se faz necessário uma resposta específica, as
quais resultam nas seguintes possibilidades:

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Uma lei penal militar
descriminaliza uma conduta?

Uma lei penal militar é mais


benéfica?

Uma lei penal militar é mais


O que acontece quando: gravosa ou cria um novo
crime?

Uma lei penal intermediária é


considerada mais benéfica?

Quando uma determinada lei


ainda está em vacatio legis?
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Todas as situações elencadas são exemplos de Conflitos
da lei penal no TEMPO, ou seja, conflitos
que decorrem da aplicação do princípio geral de que o
tempo rege o ato.

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CONFLITOS DA LEI PENAL MILITAR
NO TEMPO

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ABOLITIO CRIMINIS
Lei nova descriminaliza uma conduta que antes era crime.

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Art. 5º, XXXIX, CF/88 - não há crime sem lei anterior que
o defina, nem pena sem prévia cominação legal.

Art. 2º, caput, CPM - Ninguém pode ser punido por fato
que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.

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O primeiro dos conflitos trata da chamada “abolitio
criminis”, ou seja, o advento de lei penal militar que
descriminaliza uma conduta que antes era considerada
típica.

A abolitio não afasta a existência do crime já cometido,


mas extingue a sua punibilidade, (art. 123, III do CPM) e
afasta todos os efeitos penais (principais e secundários)
da sentença condenatória, mesmo com trânsito em
julgado.
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Não confundir abolitio com anistia, pois anistia (Art.
123 II, CPM) é amnésia, o esquecimento jurídico, mas
não existe uma descriminalização do comportamento.

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Extingue-se a punibilidade do crime cometido
anteriormente à revogação do tipo penal.

A conduta é descriminalizada do momento


da abolitio criminis em diante.

Extingue-se os efeitos penais, principais e


secundários, de sentença preexistente
(mesmo que transitado em julgado)

Não há exclusão dos efeitos civis.

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Antes do trânsito em julgado

Extingue a punibilidade e impede os efeitos penais e extrapenais da sentença.

Após o trânsito em julgado

Extingue a punibilidade em âmbito penal, mas os efeitos extrapenais serão


produzidos.

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NOVATIO LEGIS IN MELLIUS
Retroatividade da lei mais benigna.

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Art. 5º, XL, CF/88 - a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu.

Art. 2º, §1º, CPM - A lei posterior que, de qualquer outro


modo, favorece o agente, aplica-se retroativamente,
ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória
irrecorrível.

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A “novatio legis in mellius”, no âmbito do DPM também
segue o mesmo padrão do DP, ou seja, ocorre
retroatividade em benefício do acusado.
É também conhecida como retroatividade da lei mais
benigna nada mais é do que a vigência de uma lei mais
benigna, de algum modo, à situação do réu.
A sentença com trânsito em julgado é alcançada pela lei
mais benéfica.
A lei penal mais benéfica pode ser aplicada
imediatamente, mesmo durante o período de “vacatio
legis”.
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Abolitio criminis Novatio legis in mellius

Determinada conduta A conduta continua sendo crime, mas ocorre


deixa de ser crime. mudança benéfica à situação do acusado.

Exemplo: revogação Exemplo: redução da pena


do tipo penal do art. prevista para o art. 204 do
204 do CPM. CPM.

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APURAÇÃO DA MAIOR
BENIGNIDADE

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Art. 2º, §2º, CPM - Para se reconhecer qual a mais
favorável, a lei posterior e a anterior devem ser
consideradas separadamente, cada qual no conjunto de
suas normas aplicáveis ao fato.

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A benignidade da lei nova deve sempre ser aferida no
caso concreto, cabendo exclusivamente ao juiz comparar
as leis em confronto de per si e decidir qual é a mais
benéfica.

O CPM veda a combinação de leis. Se a lei é boa ou não,


devem ser feitas de forma separadas, os sistemas não
podem se misturar. Assim, a apuração da lei penal
benéfica deve ser feita separadamente.
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NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA
E
NOVATIO LEGIS IN PEJUS

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Art. 5º, XL, CF/88 - a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu.

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Novatio legis incriminadora Novatio legis in pejus

Conduta antes lícita, passa a ser A conduta continua sendo crime, mas ocorre
considerada crime. mudança que piora a situação do acusado.

É o oposto da abolitio criminis É o oposto da novatio legis in mellius

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Em ambos os casos, veja que a mudança da lei penal
militar irá afetar a situação do indivíduo de uma forma
negativa, prejudicial.

Dessa forma, diante de “novatio legis incriminadora” e


“novatio legis in pejus”, ocorrerá a IRRETROATIVIDADE
DA LEI PENAL.

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MEDIDAS DE SEGURANÇA

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Art. 5º, XL, CF/88 - a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu.

Art. 3º, caput, CPM - As medidas de segurança regem-se


pela lei vigente ao tempo da sentença, prevalecendo,
entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da
execução..

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O CPM estatui que as medidas de segurança serão regidas
pela lei vigente no momento da prolação da sentença,
mas irá prevalecer a lei da execução, caso seja diversa.

Todavia, tal preceito deve ser interpretado à luz da CF/88,


pois a lei penal posterior somente se aplica aos fatos
anteriores a sua vigência se trouxer benefícios ao réu.

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LEIS TEMPORÁRIAS
E
LEIS EXCEPCIONAIS

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Art. 4º, caput, CPM - A lei excepcional ou temporária,
embora decorrido o período de sua duração ou cessadas
as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato
praticado durante sua vigência.

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Lei temporária é aquela que traz em seu texto um
período prefixado de duração, delimitando de antemão o
lapso temporal em que estará em vigor.

Lei excepcional é aquela que tem vigência enquanto


persistirem determinadas circunstâncias excepcionais,
pois objetiva atender as situações extraordinárias de
anormalidade social ou de emergência.

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Lei temporária é aquela que traz em seu texto um
período prefixado de duração, delimitando de antemão o
lapso temporal em que estará em vigor.

Lei excepcional é aquela que tem vigência enquanto


persistirem determinadas circunstâncias excepcionais,
pois objetiva atender as situações extraordinárias de
anormalidade social ou de emergência.

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TEMPO DO CRIME

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Art. 5º, caput, CPM - Considera-se praticado o crime no
momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do
resultado.

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O CPM adotou o mesmo critério do CP, qual seja: TEORIA
DA ATIVIDADE. Assim, o crime será considerado praticado
no momento da ação ou da omissão, independente da
ocorrência do resultado.

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LUGAR DO CRIME

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Art. 6º, caput, CPM - Considera-se praticado o fato, no
lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa, no
todo ou em parte, e ainda que sob forma de participação,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se
praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação
omitida.

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DIFERENTEMENTE do CP, o CPM adota duas teorias
diferentes para determinar o lugar do crime, dependendo
da classificação do crime praticado.

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CRIME OMISSIVO, adota-se a Teoria da ação ou
atividade, pois “considera-se o lugar do crime aquele em
que deveria realizar-se a ação omitida”.

CRIME COMISSIVO, adota-se a Teoria da ubiquidade ou


mista ou unitária, pois “considera-se praticado o fato no
lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa no
todo ou em parte e ainda que sob forma de participação
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado”.
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CONFLITOS DA LEI PENAL MILITAR
NO ESPAÇO

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Art. 7º, caput, CPM - Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de
convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime
cometido, no todo ou em parte no território nacional, ou fora dele,
ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha
sido julgado pela justiça estrangeira.
§1° - Para os efeitos da lei penal militar consideram-se como
extensão do território nacional as aeronaves e os navios brasileiros,
onde quer que se encontrem, sob comando militar ou militarmente
utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade competente,
ainda que de propriedade privada.
§2º - É também aplicável a lei penal militar ao crime praticado a
bordo de aeronaves ou navios estrangeiros, desde que em lugar
sujeito à administração militar, e o crime atente contra as instituições
militares.
§3º - Para efeito da aplicação deste Código, considera-se navio toda
embarcação sob comando militar. @thiagofiorenza.adv
O Direito Penal Militar adota a territorialidade e a
extraterritorialidade incondicionada igualmente como regras de
aplicação da lei penal no espaço.
Quando o crime militar é praticado no todo ou em parte, dentro
do território nacional, dizemos que se aplica o princípio da
territorialidade.

Aplica-se a lei penal militar ao crime cometido fora do território


nacional, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado
ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira. Justifica-se pela
própria natureza da atividade militar e pelos bens jurídicos
tutelados, prevalecendo o Princípio da soberania nacional (defesa
da pátria), através da aplicação irrestrita do princípio da
extraterritorialidade.
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