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Prof.

Ailton Pinheiro

CHQAO

CPM
Aula 01
Prof. Ailton Pinheiro

DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL


Princípio de legalidade
Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
Apesar de a redação do dispositivo ser idêntica à do art. 1º do Código Penal, é necessário
entender que no Direito Penal Militar não há pena nem medida de segurança sem prévia
cominação legal.
As medidas de segurança do CPM são: (art. 110) – fora do edital
- internação em estabelecimento de custódia e tratamento ou em seção especial de
estabelecimento penal;
- o tratamento ambulatorial;
- a interdição de licença para direção de veículos motorizados;
- o exílio local;
- a proibição de frequentar determinados lugares;
- a interdição de estabelecimento ou sede de sociedade ou associação; e
- o confisco.
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Estas medidas de segurança são diferentes daquelas previstas no Código Penal comum. Elas são
penas acessórias, geralmente restritivas de direitos, e não estão relacionadas com aquelas
aplicáveis apenas aos inimputáveis, tratadas pelo Direito Penal.
Lei supressiva de incriminação
Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando
em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
E quanto aos EFEITOS DE NATUREZA CIVIL?
Reparação de danos morais, materiais, estéticos e pensionamentos em virtude do crime
cometido.
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Retroatividade de lei mais benigna
§ 1º A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-se retroativamente,
ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível.
Apuração da maior benignidade
§ 2° Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior devem ser
consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato.
Exemplo: Lei de Drogas
Lei antiga: (6.368/76) – Art. 12, que trata de tráfico: Pena: Reclusão de 3 (três) a 15 (quinze) anos
Lei nova: (11.343/06) - Art. 33, que trata de tráfico: Pena: Reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze)
anos
Lei 11.343/06, art. 33, § 4º: As penas podem ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que
o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem
integre organização criminosa.
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Medidas de segurança
Art. 3º As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo da sentença, prevalecendo,
entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução.
Doutrinadores questionam a constitucionalidade, afirmam não ter sido “recepcionada” pela CF.
Nas palavras de Magalhães Noronha, não há distinção alguma entre pena e medida de
segurança. E, portanto, quando se trata de privar a liberdade de alguém, é preciso respeitar os
princípios da legalidade e da anterioridade.
Lei excepcional ou temporária
Art. 4º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou
cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua
vigência.
Temporária: Lei 12.663/2012 (Lei Geral da Copa), com duração prevista até o dia 31.12.2014
Excepcional: calamidade pública, Livro II do CPM (crimes em tempo de guerra) etc.
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Tempo do crime
5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do
resultado.
Crime Permanente e Crime Continuado
Permanente - é aquele cujo momento consumativo se prolonga no tempo segundo a vontade do
sujeito ativo do delito. Nesses crimes a situação ilícita se prolonga, de modo que o agente tem o
domínio sobre o momento consumativo do crime. Exemplos: Deserção e Insubmissão.
Continuado: Ficção jurídica, considerando a prática de dois ou mais crimes, conforme os
requisitos fixados pelo art. 80 do CPM, como uma só unidade delitiva. Exemplo: Furto de um
faqueiro.
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Lugar do crime
Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa,
no todo ou em parte, e ainda que sob forma de participação, bem como onde se produziu ou
deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em
que deveria realizar-se a ação omitida.
Territorialidade, Extraterritorialidade
Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte no território nacional, ou fora dêle,
ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça
estrangeira.
Convenção de Viena trata das imunidades diplomáticas. O diplomata que cometer um crime
militar no Brasil não será preso, nem processado no território nacional, por força da exceção
criada.
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Território nacional por extensão
§ 1° Para os efeitos da lei penal militar consideram-se como extensão do território nacional as
aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob comando militar ou
militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade competente, ainda que de
propriedade privada.
Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros
§ 2º É também aplicável a lei penal militar ao crime praticado a bordo de aeronaves ou navios
estrangeiros, desde que em lugar sujeito à administração militar, e o crime atente contra as
instituições militares.
Conceito de navio
§ 3º Para efeito da aplicação dêste Código, considera-se navio tôda embarcação sob comando
militar.
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Pena cumprida no estrangeiro
Art. 8° A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime,
quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
Doutrinadores questionam a constitucionalidade, afirmam não ter sido “recepcionado” pela CF.
Ninguém será processado duas vezes pelo mesmo fato (processo penal), ninguém será punido
duas vezes pelo mesmo fato (penal). Ambos advêm da Convenção Americana dos Direitos
Humanos, amparados no art. 5.º, § 2.º, da CF.
(art. 5.º, § 2.º, da CF ) Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que
a República Federativa do Brasil seja parte.
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Crimes militares em tempo de paz
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou
nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
Definido de modo diverso: Crime de incêndio (mesmo nome, mas com elementos diversos)
Art. 250 CP: Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de
outrem:
Art. 268 CPM: Causar incêndio em lugar sujeito à administração militar, expondo a perigo a
vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Não previsto na legislação comum: Deserção (art. 187 CPM)
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O que é um crime “propriamente militar”?
CF, art. 5º LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou
crime propriamente militar, definidos em lei;
Doutrina clássica: os crimes propriamente militares são aqueles que somente podem ser
praticados por militares, enquanto os impropriamente militares podem ser praticados também
por civis.
Doutrina topográfica: são crimes propriamente militares aqueles tipificados apenas no Código
Penal Militar, sem correspondente na lei penal comum. Dessa forma, os crimes propriamente
militares seriam a deserção, o abandono de posto, a insubmissão etc.
Jorge Alberto Romeiro: defende como crime propriamente militar aquele em que a ação penal
somente pode ser proposta contra militar. O insubmisso apenas responderá a ação penal
depois que se apresentar ou for capturado, e for incorporado às forças armadas.
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Crime “propriamente militar” (cont...)
PROVA 2021
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Crime “propriamente militar” (cont...)
PROVA 2021
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Crimes militares em tempo de paz
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: (cont...)
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:
a) por militar da ativa contra militar na mesma situação;
Critério em razão da pessoa, mas ele já foi relativizado pela jurisprudência. O princípio é o de
que o crime precisa “abalar” as instituições militares, e não apenas ser cometido por um militar
contra outro. O STF (informativo 626) já decidiu que quando os militares desconhecem a situação
de militar do outro, não há crime militar. A jurisprudência do STM é no sentido inverso,
ampliando a competência da Justiça Militar.
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Crimes militares em tempo de paz
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: (cont...)
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:
b) por militar da ativa, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva ou
reformado ou contra civil;
Critério em razão do lugar. Em certas situações, estes locais sujeitos à administração militar
podem ser bens móveis, a exemplo de automóveis, tanques de guerra, etc. O Próprio Nacional
Residencial (PNR) é a residência de propriedade da União, que é cedida temporariamente ao
militar. O PNR não é considerado lugar sob administração militar, bem como estabelecimentos
comerciais dentro das organizações militares, a exemplo de postos bancários, lanchonetes, etc.
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Crimes militares em tempo de paz
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: (cont...)
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou
em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva,
ou reformado, ou civil;
d) por militar, durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva ou
reformado ou contra civil;
e) por militar da ativa contra o patrimônio sob a administração militar ou contra a ordem
administrativa militar;
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Crimes militares em tempo de paz
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: (cont...)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares,
considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar, contra militar da ativa ou contra servidor público das
instituições militares ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração,
exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou
no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou
judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal
superior.
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Crimes militares em tempo de paz
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: (cont...)
§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares
contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri.
§ 2o Os crimes militares de que trata este artigo, incluídos os previstos na legislação penal, nos
termos do inciso II do caput deste artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se
praticados no contexto:
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou
pelo Ministro de Estado da Defesa;
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não
beligerante; ou
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Crimes militares em tempo de paz
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: (cont...)
§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares
das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados
no contexto: (cont...)
III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de
atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição
Federal e na forma dos seguintes diplomas legais:
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica;
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; (preparo e o emprego das Forças Armadas)
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e
d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral.

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