Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ESPECIAL
2
Tratava-se da tipificação da conduta de tortura, mas somente quando praticada contra criança
ou adolescente. Sendo assim, não cumpria exatamente com o mandado constitucional por não
abranger a todo tipo de pessoa.
Em seguida, houve a edição da Lei nº 9.455/97 – a atual Lei de Tortura no Brasil, a qual cum-
priu de forma ampla e satisfatória o mandado constitucional e, ainda, revogou expressamente o
art. 233 do ECA.
Quanto ao tema, podemos pensar em duas possíveis questões de prova:
É certo dizer que a CF trouxe o crime de tortura, tipificando-o? ERRADO! Não é papel da Constituição tipificar
condutas. Ela trouxe um mandado constitucional de criminalização direcionado ao legislador ordinário.
É certo que o art. 233 do ECA continua em vigor, mas apenas quando a vítima for criança ou adolescente.
ERRADO! O art. 233 do ECA foi revogado expressamente no ano de 1997, com o advento da Lei nº 9.455/97.
ESQUEMATIZAÇÃO
Os artigos da Lei de Tortura que todo aluno deve conhecer são os arts. 1º e 2º, sobre os quais
será apresentado um panorama geral, a seguir:
Portanto, o art. 1º – incisos I, II, §1° e §2° – da Lei nº 9.455/97 prevê as seguintes condutas
criminosas:
a) TORTURA PROVA: Com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa.
b) TORTURA CRIME: Para provocar ação ou omissão de natureza criminosa.
c) TORTURA DISCRIMINATÓRIA: Em razão de discriminação racial ou religiosa.
e) TORTURA CASTIGO: Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou
grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de
caráter preventivo.
f) TORTURA POR EQUIPARAÇÃO: Submeter pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico
ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
4
g) TORTURA OMISSÃO: Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou
apurá-las.
CARACTERÍSTICAS
BEM JURÍDICO E COMPETÊNCIA
O bem jurídico nada mais é do que o valor fundamental que a norma buscou proteger ao
criminalizar determinadas condutas. Diante disso, qual foi o valor que a Lei nº 9.455/97 visou
tutelar? A dignidade da pessoa humana, mais especificamente em sua integridade física e psíquica.
Veremos que todos os delitos comissivos previstos admitem tanto sofrimento físico quanto mental.
Com relação à competência, temos que a Justiça Estadual será aquela competente para proces-
sar e julgar os crimes de tortura (em regra). No entanto, existe a possibilidade de a Justiça Federal
processar e julgar crimes dessa natureza, quando estiverem configurados os requisitos do art. 109,
inciso IV da Constituição Federal:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
Ainda existe a possibilidade de a Justiça Militar ser a competente para processar e julgar os
crimes da Lei de Tortura. Para a melhor compreensão desse tema, é necessário analisar alguns
aspectos da Lei nº 13.491/2017.
Lembre-se de que a Justiça Militar é a competente para julgar crimes militares. Posto isso,
antes da Lei nº 13.491/2017, os crimes militares eram aqueles previstos somente no Código Penal
Militar, e os crimes de tortura não estão previstos neste código.
Com o advento da lei mencionada, foram estendidas as hipóteses de crimes militares, incluin-
do-se os crimes previstos no Código Penal ou em Legislações Penais Extravagantes. Contudo nessas
hipóteses o delito apenas será militar se cometido na forma do art. 9º, inciso II do CPM (militar em
serviço ou no exercício de sua função).
Vejamos o seguinte exemplo:
Um militar, após o advento da Lei nº 13.491/2017, comete um crime contido na Lei de Tortura (ou seja, um crime
previsto em legislação especial) enquanto estava em serviço. Nessa situação existe um crime militar, o qual será
processado e julgado pela Justiça Militar.
PRESCRITIBILIDADE
Os crimes contidos na Lei de Tortura são prescritíveis (podem prescrever), aplicando-se os
prazos prescricionais previstos no Código Penal.
ͫ Lembrando que os únicos crimes imprescritíveis no ordenamento brasileiro são: racismo
e ação de grupos armados civis ou militares contra a ordem constitucional e o Estado
democrático.
Atenção! Quando às ações de reparação (âmbito cível) decorrentes de atos de tortura prati-
cados durante o Regime Militar, elas são imprescritíveis, conforme firmado entendimento do STJ.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 5
HEDIONDEZ
A doutrina entende que os crimes de tortura não são hediondos propriamente ditos, mas sim
equiparados/assemelhados a hediondo. Na prática não existe diferença, pois esses crimes sofrerão
as mesmas consequências rígidas dispensadas aos delitos hediondos.
Apesar disso, existe a exceção do art. 1º, § 2º, da Lei nº 9.455/97 (tortura por omissão), o qual
não é considerado crime equiparado a hediondo (e nem mesmo hediondo).
Portanto, é correto afirmar que apenas os crimes de tortura comissivos são assemelhados a
hediondo, aplicando-se a disciplina da Lei nº 8.072/90.