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Instituto de Ensino Superior Franciscano

Curso: Direito Disc.: Direito Penal III 1º Bimestre 2023.1


Professor: Ms. Antônio Ivo prazo: 25.03.23 (23:59)
Aluno: 217008 - Jocielson Sergio Santos Período: 5º

Atividade Direito Penal III - 2º Bimestre 2023.1

Texto Dissertativo
“Tortura”

1. Em janeiro de 2023 alguns sites divulgaram vídeos de um professor falando de torturas e execuções
que teria feito quando ainda trabalhava como policial militar. A partir dessa situação hipotética,
deverá ser elaborado um texto dissertativo a respeito da co nduta do professor, se houve ou não
crime.

A Tortura é a imposição de dor física ou psicológica (com crueldade, intimidação, punição) à


uma pessoa, para obtenção de uma confissão, informação ou simplesmente por prazer da pessoa que
prática o ato, A Lei 9.455/97, que define os crime de tortura, dentre as condutas ilícitas descritas,
prevê que quem constrange alguém a prestar informação ou declaração, sob ameaça ou violência,
resultando em sofrimento físico ou mental, comete o crime de tortura.
No Brasil, as principais vítimas da tortura são pessoas privadas de liberdade, sob custódia
do Estado. Os principais torturadores são agentes públicos de segurança, como policiais civis e
militares e agentes prisionais. Tais torturadores utilizam como métodos de tortura o Abacinamento,
o Afogamento simulado (waterboarding), a Ameaças de morte, os chamados Anjinhos, os Choques
elétricos, o Empalamento, o Enterro prematuro, o Espancamento com instrumentos e/ou força física,
as Humilhações públicas, onde o abusador humilha a vítima por meio de comentários que, a
princípio, nada parecem pouco ofensivos, a Chantagem emocional, a Perseguição sistemática, a
Distorção da realidade, a Ridicularização, a Restrição da liberdade de expressão, o Isolamento,
dentre outros.
“Eu não sei se eram os antigos que diziam em seus
papiros Papillon já me dizia que nas torturas toda carne
se trai e normalmente, comumente, fatalmente, felizmente
displicentemente o nervo se contrai... “(Com precisão.
Vila do Sossego - Zé Ramalho)

O pequeno trecho supramencionado considera relevantemente a matéria, ponderando a


caráter dos bens jurídicos assentados em alternativa, igualmente, a ligação dos atos nefastos da
tortura com os padrões de técnica do direito penal. Uma apreciação mais abrangente da legislação
vigorante, ante a evidencia da situação da demonstração do comportamento peculiar da tortura em
face ao Princípio da Legalidade Rigorosa é distorcida a decorrência, tendo como resultado um
parecer de melhoria do exemplo vigorante com pretensões de mudanças nos princípios que gerem a
assunto.
A técnica da tortura, sobretudo pelos estabelecimentos responsáveis pela coerção penal,
estabelece-se em qualquer coisa definitivamente inadmissível num Estado Democrático de Direito,
apesar de caracterizar uma adequada contradição interna do sistema, haja a vista as entidades
responsáveis pelo implemento das normas atuariam negativamente de forma ilícita. A benevolência
para esse tipo de conduta não deve progredir e virar uma perigosa supressão a ausência de
ferramentas apropriadas à sua cautela e coibição.
A Constituição Federal no artigo 5º. III, XLIII e XLVII, repudia a prática da tortura,
desumanas ou cruéis. Haja a vista, prevê também, proteger a integridade física e moral do preso
(art. 5º., XLIX). Todavia, nunca tinha sido ordenada nenhum regulamento com intuito de proceder
uma definição precisa sobre crime de tortura. O comum, era simples citação em um ou outro
dispositivo da expressão “tortura”, a vista disso, que é uma qualificadora no crime de homicídio
(art. 121, § 2º., III, CP), bem como é agravante comum (art. 61, II, d, CP).

Alexandre de Moraes assim manifesta-se sobre o tema:

“Os direitos humanos fundamentais, dentre eles os


direitos e garantias individuais e coletivos consagrados
no art. 5º. Da Constituição Federal, não podem ser
utilizados como um verdadeiro „escudo protetivo‟ da
prática de atividades ilícitas, nem tampouco como
agravamento para afastamento ou diminuição da
responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, sob
pena de total consagração ao desrespeito a um
verdadeiro Estado de Direito”.

Bobbio faz compreender que apesar do domínio a norma da incondicionalidade ainda que
pelo meio dos direitos fundamentais do homem, existem situações extraordinárias de direitos que
não aceitam obstáculos ou comparações, sob nenhum argumento decoroso admissível. Nesse
caráter consistiriam ao autor dois direitos: o direito de não ser escravizado e o direito à garantia
contra a tortura. Com isso, prima-se total alvedrio de transcrever suas palavras:

“Inicialmente, cabe dizer que, entre os direitos


humanos, como já se observou várias vezes, há direitos
com estatutos muito diversos entre si. Há alguns que
valem em qualquer situação e para todos os homens
indistintamente: são os direitos acerca dos quais há a
exigência de não serem limitados nem diante de casos
excepcionais, nem com relação a esta ou àquela
categoria, mesmo restrita, de membros do gênero
humano (é o caso, por exemplo, do direito de não ser
escravizado e de não sofrer tortura). Esses direitos são
privilegiados, porque não são postos em concorrência
com outros direitos, ainda que também fundamentais.
Porém, até entre os chamados direitos fundamentais, os
que não são suspensos em nenhuma circunstância, nem
negados para determinada categoria de pessoas, são
bem poucos: em outras palavras, são bem poucos os
direitos considerados fundamentais que não entram em
concorrência com outros direitos também considerados
fundamentais, e que, portanto, não imponham, em certas
situações e em relação a determinadas categorias de
sujeitos, uma opção.” (Noberto Bobbio)

Como já foi destacado anteriormente que no mês de janeiro de 2023, um ex-policial afirmou
em declarações gravadas e postadas de uso e aplicação de torturas e execuções que teria feito
quando ainda trabalhava como policial militar, imputando fato criminoso, à sua reputação,
ofendendo, ainda, sua dignidade e decoro, embora talvez, sem perceber. Ao certo, apesar do enredo,
das declarações, não ficou relativamente comprovado que tais alegações fossem verídicas, no
entanto, ao fazer tais afirmações, os fatos deveriam te sido denunciados à Corregedoria da Polícia
Militar, para abrir processo investigatório, bem como ao Ministério Público para apurar as
condutas ali explicitas, quais seriam a de apologia ao crime e incitação à violência,

“Os fatos que relatamos afrontam a Constituição


da República, são contrários aos princípios basilares dos
Direitos Humanos. É uma confissão de incentivo à tal
prática. Além disso, o caso descreve prática de tortura,
que é um crime imprescritível”, explica o presidente da
CDHM, Helder Salomão.

Ao afirmar que havia torturado e executado pessoas, o ex-policial, assumiu o crime de


tortura e execução, porém, é sabido que é considerado um crime qualquer ato que infrinja o que está
sendo dito pela legislação penal, isto é, qualquer ação que fira ou seja proibida pelo Código Penal
Brasileiro. Assim, qualquer delito cometido, sendo caracterizado crime, é um dano a um bem
jurídico defendido pela lei.
Entretanto, ao fazer tais afirmações mesmo que verídicas ou não o ex-policial praticou o
crime de incitação à violência, previsto no art. 286 do Código Penal, juntamente, com tais
afirmações o ex-policial praticou um segundo crime o de apologia ao crime, previsto no art. 287 do
Código Penal, dito isso, o Professor, praticou incitação à violência e a apologia ao crime no mesmo
contexto, mediante única declaração, com desígnios autônomos, em concurso formal imperfeito de
crimes, nos termos do art. 70, segunda parte, do Código Penal. Sendo assim, percebe-se que houve
uma única conduta do ex-policial, qual seja, uma única declaração, sendo certo que em tal
publicação, com desígnios autônomos, o ex-policial praticou dois crimes, a saber: incitação à
violência e a apologia ao crime. Dito isso, entende-se que agindo, dessa forma, o ex-policial
praticou os delitos previstos nos arts. 286 e 287, n/f do art. 70, todos do Código Penal.
BIBLIOGRAFIA
Direito Constitucional, p. 58. Neste sentido na jurisprudência: RT - STF 709/418; STJ - 6a. Turma
RHC 2.777-0/RJ - Rel. Mi n. Pedro Acioli - Ementário 08/721.
Ver a respeito: Nicolau EYMERICH, Manual dos Inquisidores, passim. Anita Waingort NOVINSKY,
A Inquisição, passim. E ainda: Carl SAGAN, O mundo assombrado pelos demônios, passim.
Norberto BOBBIO, A Era dos Direitos, p.20.
John RAWLS, Uma Teoria da Justiça, passim.
Nythamar de OLIVEIRA, Rawls, p. 14.
John RAWLS, Justiça como eqüidade - uma reformulação, p. 14.
Pedro Armando Egydio de CARVALHO, O Sistema Penal e a Dignidade Humana, Revista Brasileira
de Ciências Criminais, 24/169.
Michel FOUCAULT, Vigiar e Punir, p. 11 - 61.
Pietro VERRI, Observações sobre a tortura, passim.
Michel FOUCAULT, Vigiar e Punir, p. 69 - 116.
Ver sobre o tema os textos clássicos: Pietro VERRI, op. Cit., passim. Cesare BECCARIA, Dos
Delitos e das Penas, p. 46 - 54.
Antonio Carlos de Araújo CINTRA, Ada Pellegrini GRINOVER, Cândido Rangel DINAMARCO,
Teoria Geral do Processo, p. 313.

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