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1) Considere o seguinte caso, o qual será comparado com o julgamento fictício narrado
por Carlos Santiago Nino na obra estudada na nossa segunda aula.
O Ministério Público Federal (MPF) oferece denúncia contra agente público que,
à época da ditadura militar, promoveu tortura contra pessoas tidas como subversivas a
fim de obter confissão sobre a suposta prática de “atos de terrorismo”. Em tal ação penal,
o procurador da República, membro do MPF, narra que a conduta do denunciado
consistiria em crime contra a humanidade, nos termos do art. 7º. 1, “f”, do Estatuto de
Roma do Tribunal Penal Internacional1.
Ao analisar o pedido, o Juiz Federal do caso rejeita a denúncia, argumentando
acerca da necessidade de se reconhecer a aplicação da Lei de Anistia no caso, com a
consequente extinção da punibilidade, ou seja, com a impossibilidade de se punir
penalmente o acusado, sustentando, dentre outros fundamentos que:
1
“1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crime contra a humanidade", qualquer um dos
atos seguintes, quando cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer
população civil, havendo conhecimento desse ataque: a) Homicídio; b) Extermínio; c) Escravidão; d)
Deportação ou transferência forçada de uma população; e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade
física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional; f) Tortura; (...)”
FACULDADE DE DIREITO
PROFESSOR: EMANUEL DE MELO FERREIRA
FILOSOFIA DO DIREITO
internacional a conta de tal dado estatístico, já que o compromisso assumido é o de proteger
e assegurar a vida do ser humano? Poderia o popular leigo, de mediano conhecimento,
afirmar que é bem mais ‘perigoso’ viver nos dias atuais do que na época do regime de
exceção? Tais provocações têm a mera finalidade de proporcionar uma reflexão mais detida
e contextualmente mais ampla sobre o tema. Existe, portanto, uma distância muito
expressiva entre essa suposta ‘vitória’ do regime de exceção e a afirmação de que havia
‘ataques generalizados contra a população brasileira’ não se pode dizer que a repressão a
opositores do regime de exceção, por mais dura que tenha sido, tenha estendido a grande
massa da população brasileira. O argumento peca pelo caráter hiperbólico e não é
suficiente para os fins pretendidos”2.
d) Quais as cautelas argumentativas que o TRF deveria tomar para, caso reformasse
a decisão, não criasse um precedente perigoso para a segurança jurídica, no
sentido de permitir, indiscriminadamente, a aplicação retroativa de um tipo
penal? (1 ponto)
R: Deveria ser argumentado pelo TRF que há a existência de uma prerrogativa muito
importante para que uma decisão seja emitida: a análise do contexto de
ocorrência dos fatos e de que modo aquela conduta fere os direitos fundamentais
estabelecidos em nossa Constituição Federal.
2
BRASIL. Tribunal Regional Federal da Terceira Região. Seção Judiciária de São Paulo. (1a. Vara
Federal). Ação penal 0005946-82.2018.4.03.6181. 2018. p. 54-55.