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RESUMO
Essa pesquisa científica se encarrega de analisar o tratamento dispensado pelo intérprete
constitucional, quanto pelo poder legiferante em relação aos praticantes de crimes hediondos
em detrimento do direito à vida. Objetivou-se através de pesquisa didática e reflexiva a
impropriedade do regime de progressão de pena aos que praticam o crime hediondo,
valorizando o direito à vida. Insta consignar que a vida na percepção desses pesquisadores é o
bem jurídico mais importante e, deve ser melhor tratado pelo Estado, no entanto, não é essa
percepção que se tem.
ABSTRACT
This scientific research is in charge of analyzing the treatment given by the constitutional
interpreter, as well as by the legislating power in relation to the perpetrators of heinous crimes
to the detriment of the right to life. The objective was, through didactic and reflective
research, the inappropriateness of the penalty progression regime for those who practice the
heinous crime, valuing the right to life. It urges that life in the perception of these researchers
is the most important legal asset and should be better handled by the State, however, this is
not the perception.
Introdução
1
Discente do curso de Direito da Universidade Estadual de Mato Grosso, Campus Rondonópolis/MT, e-mail.
2
Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Especialista em Direito Penal e Processo
Penal, pesquisador de Criminologia Crítica, Direito Penal e Processo Penal, e-mail:
amorimdireito.sete@hotmail.com.
Desenvolvimento
A vida é o direito e o bem mais caro da humanidade, e, tem sido o motivo pelos
quais os homens se afastou do estado da natureza, constituindo em sociedade e erigindo a
figura do Estado como ente a organizar e pacificar a coletividade.
Não foi por acaso que o homem, depois da vida, cedeu o seu maior direito – à
liberdade para que o ente estatal lhe garantisse a segurança, dantes mantido em estado de
guerra perene.
É por isso mesmo que Thomas Hobbes na sua memorável obra Leviatã [ CITATION
HOB03 \l 1046 ] afirmou que a criação do Estado, por ele chamado grande Leviatã, adveio da
unidade de todos os homens, numa só e mesma pessoa, realizando um pacto de cada homem
com todos os demais, de modo que cada um diria que autorizava e transferia o direito de se
governar a si por esse outro ser, com a condição dele ser capaz de proporcionar a paz, o
auxílio mútuo e a tranquilidade.
Essa concepção hobbesiana surgiu num momento crítico da vida inglesa – a guerra
civil inglesa de 1641 a 1648, onde milhares de vidas de ambos os lados se perderam, tal como
nos afirma o professor Douglas Barraqui [ CITATION BAR17 \l 1046 ].
Ao longo da história humana a vida, ou melhor, a preservação da vida tem sido uma
grande preocupação surgindo vários documentos que o informa como um direito posto antes
de todos os demais direitos fundamentais.
E, por isso mesmo o professor doutor Luiz Regis Prado [ CITATION PRA21 \l 1046 ]
afirma que à vida se apresenta como direito fundamental primário com natureza de suporte
físico de todos os demais bens jurídicos, sendo base fundante de outros direitos igualmente
assegurados.
A Constituição Federal de 1988 [ CITATION BRA88 \l 1046 ] no seu preâmbulo declara
as intenções de Thomas Hobbes como acima delineado reunido o povo em Assembleia
Nacional Constituinte com a finalidade de instituir um Estado Democrático, destinado a
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar,
o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias.
Essa mesma Constituição no “caput” do artigo 5º, declara como direito primaz a
inviolabilidade do direito à vida. No mesmo artigo 5º, no inciso XLIII afirma que a lei
considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia, dentre outros, os
definidos como crimes hediondos.
Para definir os crimes hediondos o legislador ordinário adotou a Lei Nacional nº
8.072, de 1990 [ CITATION BRA90 \l 1046 ] que com a alteração promovida pela Lei nº 8.930, de
1994, considerou hediondos, dentre outros o homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV
e V do Código Penal).
Tal crime definido no art. 121, § 2º, I, II, III, IV e V do Código Penal afirma que a
pena para tal ato é reclusão, de doze a trinta anos. Na sua redação original, a Lei 8.072, de
1990 previa no seu art. 2º, § 1º que a pena por crime previsto neste artigo seria cumprida
integralmente em regime fechado.
Ou seja, o condenado a trinta anos (pena máxima) deveria cumprir os trinta anos em
regime fechado, sem direito anistia, graça, indulto, fiança, sem direito de progressão de
regime do mais rigoroso para o menos rigoroso.
No entanto, o colendo Supremo Tribunal Federal, numa ação de habeas corpus
[ CITATION BRA06 \l 1046 ] , sem a participação da sociedade, principalmente, naqueles de
controle concentrado que afeta toda a sociedade, declarou inconstitucional o art. 2º, § 1º da
Lei nº 8.072, de 1990.
Ao longo do voto o relator e dos demais votos pela concessão do habeas corpus do v.
Acórdão adrede reproduzido, para se chegar à inconstitucionalidade do art. 2º, § 1º da Lei nº
8.072, de 1990, menciona-se violação a diversos princípios, dentre eles o da isonomia,
individualização da pena, dignidade da pessoa humana, humanização da pena e dos direitos
básicos do apenado.
Frisa-se, todos os argumentos, sem distinção tiveram um olhar exclusivo voltado a
pessoa do apenado, do criminoso, do delinquente, daquele que quebrou a ordem do contrato
social, sem se preocuparem com a vítima que perdeu a vida, com os familiares que perderam
o convívio com essa vítima, dos filhos e esposa que perderam o seu mantenedor, que foram
usurpados repentinamente da convivência harmoniosa, pacífica e carinhosa do lar composto.
Decorrente dessa interpretação, fora aprovado a Lei Nacional nº 11.464, de 2007
[ CITATION BRA07 \l 1046 ] que deu nova redação ao art. 2º da Lei nº 8.072, de 1990, que dispõe
sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal,
afirmando que os referidos crimes, dentre o homicídio qualificado será cumprida inicialmente
em regime fechado, prevendo a progressão de regime após o cumprimento de 2/5 (dois
quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
O olhar do julgador constitucional e o legislador se voltou unicamente de
misericórdia para o apenado, aduzindo inexistir no ordenamento pátrio a pena capital e a
perpétua, excetuando os casos constitucionalmente consagrados. Da análise do julgamento do
HC e da alteração legislativa, decorre uma única conclusão, a inversão de valores morais,
pois, o autor que fez sucumbir uma vida, terá o direito de progressão de pena, enquanto a
vítima, pelo distrato social terá uma pena de caráter perpétuo, pois, a vítima jamais poderá
recuperar a sua vida após o decurso de certo tempo.
De curial importância é a reflexão do professor doutor Luiz Regis Prado [ CITATION
PRA21 \l 1046 ] para quem o direito à vida detém caráter de irreversibilidade, visto que a toda
violação deste último, segue o desaparecimento do seu titular, impondo ao Estado não só o
dever de se abster de lesar a vida humana (v.g., abolição da pena de morte) como também o
de salvaguardá-la eficazmente contra a agressão de outro.
Não se menospreza de forma alguma a defesa de Angela Davis [ CITATION DAV18 \l
1046 ] para quem existe meios alternativos de se fazer justiça, tais como a restaurativa,
descobrindo as causas das infrações penais.
Contudo, a paz social não está, a nosso ver, na inversão de valores morais
desqualificando à vida e beneficiando o delinquente, mas, na afirmação do valor maior
primário a todos os direitos que é a vida, punindo com maior rigor aquele que a desmereceu,
fortalecendo esse direito inalienável de que ninguém, a não ser a criação, possa dele se
desfazer, tratando de praticar a justiça restaurativa por meio do fortalecimento da educação.
É certo, e muito justo que as penitenciárias não podem e nem devem continuar sendo
ergástulos públicos, mas, ambiente adequado a dignidade da pessoa humana, mesmo para
aqueles que cometeram tais crimes.
Porém, mesmo em razão do princípio da dignidade da pessoa humana que veda
tratamento desumano ou degradante, tal princípio, não serve para, com isso, querer inverter a
gravidade de se perder à vida em favor da liberdade progressiva do delinquente.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
DAVIS, A. Estarão as prisões obsoletas? Tradução de Marina VARGAS. 1ª. ed. Rio de
Janeiro: Difel, 2018.
HOBBES, T. 1.-1. Leviatã. Tradução de João Paulo MONTEIRO; Maria Beatriz Nizza da
SILVA e Claudia BERLINER. São Paulo: Marlins Fontes, 2003. Acesso em: 12 nov. 2021.
revisão da tradução Eunice Ostrensky. - Ed. brasileira supervisionada por Eunice Ostrensky.
PRADO, L. R. Direito fundamental à vida: prévio e absoluto. Gen Jurídico, 12 jan. 2021.
Disponivel em: <http://genjuridico.com.br/2021/01/12/direito-fundamental-a-vida/>. Acesso
em: 15 nov. 2021.