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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO:

Disciplina que fornece ao estudante as noções fundamentais para a compreensão do


fenômeno jurídico. Estuda conceitos gerais úteis a todos os ramos do direito.

O Mundo da Natureza e o Mundo da Cultura:


Podemos considerar a realidade sob duas formas distintas, quais sejam: o Mundo da
Natureza e o Mundo da Cultura.

Mundo da Natureza - É tudo aquilo que nos foi dado. Existe independente da atividade
humana. Trata-se de realidade natural. Aqui existem as leis físico-matemáticas que
são regidas pelo princípio da causalidade, ou seja, são leis cegas aos valores. São
meramente indicativas. Ex: a Terra é um planeta. Princípio da causalidade: na
natureza nada ocorre por acaso. Cada fenômeno tem sua explicação em uma causa
determinante. Esse princípio corresponde ao nexo existente entre a causa e o efeito
de um fenômeno. A gravidade nos explica que se a caneta cair da mesa será atraída
para o chão

Mundo da Cultura - É tudo aquilo que vem sendo construído pelo homem ao longo da
história. Trata-se de realidade humano-cultural-histórica. É aqui que se situa o
DIREITO.

O homem produz as leis culturais, que são normas imperativas – “dever ser”. Ex: O
homem deve ser honesto. O pai e a mãe devem alimentar seus filhos. O devedor deve
pagar o credor. Não se deve matar ninguém. O homem planeja e constrói seu mundo
de acordo com seus ideais. Tem liberdade criadora. Humaniza a natureza.

O que é Direito:
Conceito 01: “Conjunto de normas/leis estabelecidas por um poder soberano, que
disciplinam a vida social de um povo” (Dicionário Aurélio)

Kelsen – pensador brilhante - autor da Teoria Pura do Direito – considerava que direito
seria um conjunto de normas – era chamado de positivista porque acreditava que
direito era posto – positivado – transcrito em normas escritas.

Conceito 02: “O Direito é processo de adaptação social, que consiste em se


estabelecerem regras de conduta, cuja incidência é independente da adesão daqueles
a que a incidência da regra jurídica possa interessar”. (Pontes de Miranda)
O Direito está em função da vida social.

“Onde há homem, há sociedade; onde há sociedade, há direito; Logo, onde há


homem, há direito”.

Os cenários de lutas, as alegrias, os sofrimentos do homem ao longo da história nos


mostram que o direito é necessário, pois onde há aglomeração de pessoas, há
relacionamento humano, que automaticamente, gera amizade, amor, colaboração,
mas, por outro lado, traz a discórdia, intolerância e inimizade, o natural aparecimento
de conflitos sociais vão demandar soluções que o direito irá cuidar.

Mútua Dependência entre o Direito e a Sociedade

Fato Social e Direito - Direito e sociedade são entidades congênitas e que se


pressupõem. O Direito não tem existência em si próprio. Ele existe na sociedade.

Qual é a finalidade do Direito?


“O Direito está em função da vida social. A sua finalidade é a de favorecer o amplo
relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais, que é uma das bases do
progresso da sociedade” (Paulo Nader)“O Direito propõe-se a promover os alicerces
da convivência pacífica e promissora. Essa é a finalidade do conjunto de normas
jurídicas impostas pela sociedade a si mesma, através do Estado, para manter a
ordem e coordenar os interesses individuais e coletivos” (João Batista Nunes Coelho)

Finalidade básica – COEXISTÊNCIA PACÍFICA

Enfim, o direito é um instrumento de pacificação social, que visa favorecer o amplo


relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais, a fim de manter a ordem e
coordenar os interesses individuais e coletivos

Acepções da palavra direito:


Direito como justo: designa o que é certo e errado.
Ciência do Direito: também chamada de dogmática jurídica estuda o Direito Positivo
de determinado país. Interpreta e sistematiza as normas jurídicas.
Direito positivo/natural:
CONCEITOS:
DIREITO NATURAL: ou jusnaturalismo é uma teoria que postula a existência de um
direito cujo conteúdo é estabelecido pela natureza e, portanto, é válido em qualquer
lugar.

O Direito Natural não é escrito, não é criado pela sociedade e nem é formulado pelo
Estado. É um Direito espontâneo que se origina da própria natureza social do homem,
revelado pela conjugação da experiência e razão. Princípios de caráter universal e
imutáveis. Ex: direito à vida e à liberdade.

São diversas as origens do direito natural:

Para os helenistas, o direito natural corresponderia à natureza cósmica. Ex: perfeição,


ordem e equilíbrio do universo;
Para os Teólogos medievais, vinha de Deus;
Para os racionalistas, o Direito Natural é produto da razão humana;
Atualmente, a corrente majoritária afirma ser o direito natural baseado na natureza
humana. Todo ser é dotado de uma natureza e um fim, ou seja, a natureza do ser
(suas propriedades) define o fim a que este tende. Para se chagar a esse fim devemos
respeitar algumas normas, que compõe o Direito Natural.
Direito natural é aquele que se compõe de princípios inerentes à própria essência
humanas, servem de fundamento ao Direito Positivo: "o bem deve ser feito", "não lesar
a outrem", "dar a cada um o que é seu", "respeitar a personalidade do próximo", "as
leis da natureza", etc..

Portanto, revela ao legislador os princípios fundamentais de proteção ao homem. É


constituído por um conjunto de princípios, com caráter universal, eterno e imutável e
pertencem a todos os tempos, não são elaborados pelos homens e emanam de uma
vontade superior porque pertencem à própria natureza humana: "o direito de
reproduzir" "o direito de constituir família" "direito à vida e à liberdade"... Direito Natural
é o direito legítimo, que tem raízes, que brota da própria vida, no seio do povo.

O adjetivo natural, aplicado a um conjunto de normas, já evidencia o sentido da


expressão, qual seja, o de preceitos de convivência criados pela própria Natureza e
que, portanto, precederiam a lei escrita ou direito positivo, normas postas, impostas
pelo Estado (jus positum).

O direito natural é a ideia abstrata do Direito; o ordenamento ideal, correspondente a


uma justiça superior e anterior – trata-se de um sistema de normas que independe do
direito positivo, ou seja, independe das variações do ordenamento da vida social que
se originam no Estado. O direito natural deriva da natureza de algo, de sua essência.
Sua fonte pode ser a natureza, a vontade de Deus ou a racionalidade dos seres
humanos.

O direito natural é o pressuposto do que é correto, do que é justo, e parte do princípio


de que existe um direito comum a todos os homens e que o mesmo é universal. Suas
principais características, além da universalidade, são imutabilidade e o seu
conhecimento através da própria razão do homem. Anteriormente, o direito natural
tinha o papel de regular o convívio social dos homens, que não necessitavam de leis
escritas. Era uma visão objetiva.

Com o surgimento do direito positivo, através do Estado, sua função passa a ser uma
espécie de contrapeso às atividades legitiferante do Estado, fornecendo subsídios
para a reivindicação de direitos pelos cidadãos, passando a ter um caráter subjetivo.

DIREITO POSITIVO: conjunto de normas jurídicas escritas e não escritas, vigentes


em um determinado território e, também internacionalmente, na relação entre os
Estados. Não obstante tenha surgido nos primórdios da civilização ocidental, o direito
positivo se consolida como esquema de segurança jurídica a partir do século XIX.

O direito positivo é conjunto de princípios e regras que regem a vida social do povo.
É institucionalizado pelo Estado, são normas jurídicas de determinado país. Ex:
Código Penal, Código Civil, etc.

O Positivismo Jurídico:

Na transição da idade média para a moderna, de meados do século XVIII ao início do


século XIX, a sociedade reclamava limites ao poder concentrado e ilimitado do
soberano. Buscavam-se barreiras aos arbítrios dos reis absolutistas.

Em resposta, os movimentos constitucionalistas modernos, sobretudo, por meio da


Constituição francesa de 1791 e da Constituição dos Estados Unidos de 1787,
trouxeram consigo um mito no sistema jurídico: a lei. Esse instrumento conformador
da liberdade dos cidadãos passa a ser considerado o único a legitimar a limitação dos
seus direitos. Somente a lei válida poderia impor obrigações aos cidadãos.

No positivismo, a lei tem destaque total. A sociedade necessitava afastar a abertura


do sistema jurídico aos valores jusnaturais, vez que muitas atrocidades eram
legitimadas em nome do Direito Natural. Buscava-se segurança jurídica e objetividade
do sistema, e o Direito positivo cumpriu bem esse papel.
Essa mudança, decorrente também da estruturação do Estado moderno, ocorreu
sobre três pilares. O primeiro refere-se à posição da norma positiva no sistema. Como
dito, a lei passa a ganhar mais relevância jurídica que os postulados principiológicos,
a ponto de afastar os princípios não positivados do ordenamento, ou no mínimo retirar-
lhes a força normativa. As normas de conduta passam a ser adstritas à lei e, com isso,
os códigos são transportados para o centro do direito.

O segundo pilar se relaciona com a abstratividade da norma, desconhecida em


épocas pretéritas, que se baseavam nos casos concretos.

O terceiro é quanto à forma de aplicação das leis, não se permitia soluções criadas a
posteriori da conduta, ou seja, os efeitos decorrentes da aplicação da norma são
conhecidos anteriormente a sua concreção, o que atendia a uma necessidade de
proteção dos indivíduos em face dos desmandos dos soberanos absolutistas.

É nesse contexto que surge o positivismo jurídico contrapondo-se ao jusnaturalismo,


no final do século XIX. O Direito passa a ser produção da vontade humana a partir de
sua criação pelo Estado através da lei.

O direito pós Revolução Francesa é um direito criado por força de decisões estatais
(a lei e a sentença de modo direto; o contrato de modo indireto). Ele torna-se positivo,
portanto.

A principal característica do direito positivado é que ele se liberta de parâmetros


imutáveis ou Iongamente duradouros, de premissas materialmente invariáveis e, por
assim dizer, institucionaliza a mudança e a adaptação mediante procedimentos
complexos e altamente móveis.

Hans Kelsen (1994) coroa o positivismo iniciado por Comte com sua Teoria Pura,
estabelecendo o positivismo jurídico ou juspositivismo (LACERDA, 2009). Para ele, o
direito deveria ser considerado como tal, independente de outras ciências ou da moral.
As fontes do Direito “têm que ser buscadas apenas no próprio Direito, excluindo-se as
fontes extrajurídicas”. O estudo do Direito deveria ser desprovido de valores, já que a
moral seria extrínseca ao direito.

Kelsen considerava que direito seria um conjunto de normas – acreditava que direito
era posto – positivado – transcrito em normas escritas.

Argumenta Kelsen que, se se está diante de um determinado Direito Positivo, sendo


moral ou imoral deve ser cumprido. É certo que se prefere o Direito moral ao imoral,
porém, há de se reconhecer que ambos são vinculativos da conduta.
O fundamento de validade de todo o sistema se baseia na norma fundamental, que
se mostra como o fato produtor de normas, não se confundindo com a Constituição,
que é o conteúdo estático desta norma. Afere-se a validade apenas formal da norma.

No positivismo, os princípios tem aspecto interpretativo supletivo, apresentando


caráter integrador.

Então, o direito positivo é o direito posto pelo Estado, dotado de validade, apenas por
obedecer a condições formais de sua formação. Frise-se que este direito não
necessita respeitar um mínimo moral para ser definido e aceito como tal, pois a
natureza do direito, para ser garantida em sua construção, não requer nada além do
valor jurídico.

Para Kelsen, então, o direito e a moral se separam. Assim, é válida a ordem jurídica
ainda que contrarie os alicerces morais. Validade e justiça de uma norma jurídica são
juízos de valor diversos, portanto (uma norma pode ser válida e justa; válida e injusta;
inválida e justa; inválida e injusta).

Direito objetivo/subjetivo:
Direito Objetivo: é o direito norma de organização social – conjunto de normas
jurídicas de determinado país. A partir do conhecimento do direito objetivo que se
deduz o direito subjetivo.
Direito Subjetivo: é aquele que a pessoa possui em razão do direito objetivo. É a
possibilidade de agir e exigir algo, previsto no direito objetivo.
Classificação de direitos subjetivos:

1 – Espécies:

Direito subjetivo propriamente dito: direito a uma prestação.

Direito Potestativo: aquele exercido pelo titular per si, não depende da aceitação da
outra parte.

Na lição de Chiovenda, o direito potestativo é aquele ao qual não corresponde


nenhuma obrigação, na medida em que os efeitos que produz não dependem de
qualquer ato do seu destinatário, que fica apenas sujeito ao efeito jurídico produzido
(estado de sujeição).
O Dever Jurídico Subjetivo: dever e obrigação – corresponde ao sentido oposto de
direito subjetivo. É a situação onde a pessoa é obrigada a dar fazer ou não fazer algo
em benefício de outrem por determinação do direito objetivo.

OBS: a partir do conhecimento do direito objetivo que se deduz o direito subjetivo.

O direito objetivo garante o exercício do direito subjetivo, que gera o dever jurídico.

ONDE HÁ DIREITO, FATALMENTE, HÁ DEVER.

e) Instrumentos de controle social: buscam o bem comum e a paz social.

A Moral, a Religião, as Regras de Etiqueta e o Direito são processos normativos que


visam controlar a sociedade. Contudo, o último é o que melhor cumpre esse papel em
razão de sua força coercitiva.

Direito – normas jurídicas - tem sanção – coação – força – Ex: prisão


Moral – normas morais – sugerem condutas.
Religião – normas religiosas - preceitos religiosos– sugerem condutas.
Regras de Etiqueta – normas de trato social - moda, convenções, etiqueta– sugerem
condutas.
f) Direito Comparado: consiste no estudo do Direito positivo de outros países para
estudo de comparação.

FONTES DO DIREITO

A expressão “Fontes do Direito” possui sentido de: origem, nascente, motivação,


causa das várias manifestações do Direito.

Segundo Miguel Reale “por fonte do direito designamos os processos ou meios em


virtude dos quais as regras jurídicas se positivam com legítima força obrigatória, isto
é, com vigência e eficácia no contexto de uma estrutura normativa”. (p. 140)

A doutrina jurídica não se apresenta uniforme quanto ao estudo das fontes do Direito.
Fonte = origem Fontes do Direito = de onde provém o direito.

Principais sistemas jurídicos vigentes no mundo:

Pertencem à família romano-germânica os direitos de toda a América Latina, de toda


a Europa continental, de quase toda a Ásia (exceto partes do Oriente Médio) e de
cerca de metade da África.

Civil Law é a estrutura jurídica oficialmente adotada no Brasil. O que basicamente


significa que a principal fonte do Direito adotada aqui é a Lei. A lei seria a mais
importante fonte formal. Em diversos países de tradição romano-germânica, o direito
é organizado em códigos, cujos exemplos principais são os códigos civis francês e
alemão (Code Civil e Bürgerliches Gesetzbuch, respectivamente). É portanto típico
deste sistema o caráter escrito do direito. Outra característica dos direitos de tradição
romano-germânica é a generalidade das normas jurídicas, que são aplicadas pelos
juízes aos casos concretos.
Common Law - No sistema do Common Law, adotado pela Inglaterra e Estados
Unidos, a forma mais comum de expressão do direito é a dos precedentes judiciais.
Direito se baseia mais na Jurisprudência que no texto da lei. Infere-se normas gerais
a partir de decisões judiciais proferidas a respeito de casos individuais
Uma simples diferença é que lá o Direito se baseia mais na Jurisprudência que no
texto da lei. Jurisprudência, caso esteja em dúvida, trata-se do conjunto de
interpretações das normas do direito proferidas pelo Poder Judiciário.

Exemplo: Se lá nos EUA dois homens desejam realizar uma adoção, eles procuram
outros casos em que outros homossexuais tenham conseguido adoções e defendem
suas ideias em cima disso. Mas a parte contrária pode alegar exatamente casos
opostos, o que gera todo um trabalho de interpretação, argumentação e a palavra final
fica com o Juiz.

É bom lembrar que nos países de Common Law também existe a lei, mas o caso é
analisado principalmente de acordo com outros semelhantes.

1) FONTES MATERIAIS OU SUBSTANCIAIS: são constituídas pelos fatores


determinantes do surgimento da norma jurídica, tais como: o clima, a religião, a
economia, a política, os avanços tecnológicos e científicos, etc.

É o estudo filosófico ou sociológico dos motivos éticos ou dos fatos econômicos que
condicionam o aparecimento e as transformações das regras de direito. São dados,
elementos, biológicos, psicológicos, racionais, ideais e históricos, que contribuem para
a formação do direito. São FATOS SOCIAIS.

O direito provém de fatos sociais, de problemas que emergem na sociedade e que


são condicionados pelos chamados fatores do Direito. Ex: o Estatuto do Idoso foi uma
norma que teve como base a valorização do idoso, pois a população está cada vez
mais idosa e necessita de cuidados especiais.

2) FONTES FORMAIS: os meios de expressão do Direito, são as formas pelas quais


as normas jurídicas se exteriorizam, tornam-se conhecidas.

Criam o Direito, isto é, introduzem no ordenamento novas normas jurídicas. Dividem-


se em:

2.1) estatais: são produzidas pelo poder público e correspondem à lei e à


jurisprudência.

2.2) não estatais: decorrem diretamente da sociedade ou de seus grupos e


segmentos, sendo representadas pelo costume, doutrina e os negócios jurídicos.

Para que um processo jurídico constitua fonte formal é necessário que tenha o poder
de criar o Direito. Esse poder de criar é chamado de competência.

Em que consiste o ato de criação do Direito? Criar o Direito significa introduzir no


ordenamento jurídico novas normas jurídicas.

O elenco das fontes formais varia de acordo com os sistemas jurídicos e também em
razão das diferentes fases históricas.

2.1) FONTES FORMAIS ESTATAIS:

a) Leis: normas jurídicas escritas provenientes do Estado. O Brasil faz parte dos
sistemas romano-germânico, que adota a estrutura jurídica Civil Law.

Lei – sistema Civil Law – fonte direta e mais importante – sistema romano-germânico
Lei – sistema Common Law – fonte indireta – sistema anglo-saxão

b) Tratados internacionais: são acordos resultantes da convergência das vontades de


dois ou mais sujeitos de direito internacional, formalizada num texto escrito, com o
objetivo de produzir efeitos jurídicos no plano internacional.

Os tratados internacionais, em regra, tem status de lei ordinária, contudo, com o


advento da EC 45/04, o tratado internacional que trata de direitos humanos, “que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais” (Art. 5º CR/88 - 3º da CR/88).

Em outras palavras, o tratado é um meio pelo qual sujeitos de direito internacional –


principalmente os Estados nacionais e as organizações internacionais – estipulam
direitos e obrigações entre si.

c) jurisprudência: é o conjunto de decisões proferidas pelo Poder Judiciário sobre


determinada matéria jurídica.

Obs: O substantivo jurisprudência é um coletivo. Desse modo, não há que se entender


que um acórdão ou uma sentença seja jurisprudência; fazem parte da jurisprudência.

Cuida-se do direito vivo; fenômeno absolutamente dinâmico, assim como a sociedade,


em que os vários institutos jurídicos trazem respostas diversas nos vários períodos da
história. Assim, por exemplo, a jurisprudência sobre matéria de posse ou propriedade
do início do século XX é totalmente diversa dos julgados do início do século XX.

No sistema do Common Law, os precedentes, o case study, têm função primária como
fonte do Direito. Ali, portanto, os exemplos dos julgados exercem função muito mais
relevante.

Outro aspecto importante a ser considerado é o fato de a jurisprudência exercer


enorme influência sobre o legislador. Sendo um retrato vivo das necessidades sociais,
o legislador absorve as decisões para converter em lei a orientação jurisprudencial.
Muito das inovações constantes do Código Civil de 2002 representa consolidação
legal daquilo que a jurisprudência decidira no século passado. "Em muitas matérias,
portanto, a jurisprudência antecipa-se ao legislador, chegando mesmo a abalar
conceitos tradicionais".
A repetição contínua e constante de julgados em determinada direção é fonte
importante do Direito. Ex: união e casamento homoafetivo

A Jurisprudência Vincula os Tribunais?

Nos Estados de Direito codificado, a jurisprudência apenas informa, possui autoridade


científica. Os juízes de instância superior não têm o dever de acompanhar a orientação
hermenêutica dos Tribunais superiores. A interpretação do Direito há de ser um
procedimento intelectual do próprio julgador. Ao decidir, o juiz deve aplicar forma de
acordo com a sua convicção.

No Brasil, a jurisprudência se resume em fonte informativa e ilustrativa. A lei e as


condições sociais de sua promulgação envelhecem, perdem a atualidade, distanciam-
se dos fatos originários; cabe aos tribunais dar novos matizes, novos caminhos na
aplicação da lei.

É papel da jurisprudência atualizar o entendimento da lei, abrir horizontes, dando-lhe


uma interpretação atual que atenda às necessidades do momento dos fatos. A feição
da jurisprudência é dinâmica.

Sendo assim, os julgados não exercem força vinculativa, exceto a situação das
súmulas vinculantes.

Embora não caiba aos tribunais ditar normas, operou-se paulatinamente no país um
deslocamento da visão judicial, com a expedição de súmulas de jurisprudência dos
tribunais, em especial do precursor que foi o Supremo Tribunal Federal.

SÚMULA: é um enunciado que resume uma tendência de julgamento sobre


determinada matéria, decidida contínua e reiteradamente pelo tribunal. Essas
súmulas, mormente as dos tribunais federais superiores, convertem-se em
verdadeiras fontes formais de Direito.

Contudo, não se trata de norma impositiva e não deve o operador do Direito curvar-
se à súmula, se entender que é hora de mudar. Nem mesmo os membros do tribunal
que expediu a súmula estão a ela vinculados, embora seja ampla a importância desse
instituto.

As súmulas vinculantes têm por principal escopo efetivamente diminuir os acúmulos


de processos nos tribunais, permitindo que questões idênticas sigam a mesma
orientação judicial, dada por referida vinculação, por todos os juízes e tribunais.
Súmula Vinculante: é o enunciado da decisão reiterada do Supremo Tribunal Federal
, que possui efeito de vincular todos os órgãos do Poder Judiciário e da Administração
Pública direta e indireta federal, estadual e municipal. A súmula vinculante está
prevista no artigo 103-A da Constituição Federal deve ser aprovada por 2/3 dos
membros do STF.

Muito se critica a súmula vinculante, pois é entendida como um engessamento do


Judiciário, além do que, nem sempre estarão no mesmo sentido todos os julgados que
se entendem idênticos e repetitivos.

Se, por um lado, a súmula vinculante permite o julgamento rápido e simultâneo de


centenas de processos, por outro, corre-se o risco de se petrificar o poder
interpretativo da jurisprudência, principalmente dos juízes de primeiro grau, primeiros
receptores das modificações sociais.

A função do juiz não é dar o Direito, não é criar o Direito, mas sim interpretá-lo. Essas
interpretações podem trazer benefícios para a compreensão do ordenamento jurídico,
sendo, portanto, fonte do Direito.

Obs: Jurisprudência: sistema civil Law - Fonte indireta e intelectual – Brasil

sistema common law - Fonte direta e principal

2.2) FONTES FORMAIS NÃO ESTATAIS:

Costume jurídico: é a prática social reiterada e uniforme com a convicção de


obrigatoriedade jurídica.
Fonte subsidiária (secundária), pois visa suprir as lacunas da lei.

Para que o costume se converta em fonte do Direito, dois requisitos são enunciados
como imprescindíveis:

objetivo ou material: o corpus: prática constante e reiterada.


subjetivo ou imaterial: o animus, a consciência coletiva de obrigatoriedade da prática.
O costume obriga quando há um sentimento geral de obrigatoriedade. Uma das
principais barreiras ao costume é justamente a dificuldade de se identificar a prática
reiterada, dependendo do caso concreto, o que traria incerteza e insegurança.

Em que pese a prevalência da lei no nosso sistema, o costume continua


desempenhando papel importante, principalmente porque a lei não tem condições de
predeterminar todas as condutas e todos os fenômenos.

Não se pode negar que o costume possui a grande vantagem de assimilar


perfeitamente as necessidades sociais, algo que nem sempre o legislador logra
conseguir. O costume tem sua razão de ser justamente em sua espontaneidade
brotada da sociedade, o que não ocorre comumente na lei.

Para ser aceito exige-se que o costume tenha amplitude, isto é, que seja geral e
largamente disseminado no meio social. Não é necessário, porém, que a sociedade
como um todo tenha dele consciência. O costume pode ser setorizado. Seu maior
campo de atuação é, sem dúvida, o direito comercial (empresarial), com suas práticas,
quase todas elas de origem costumeira.

Enfim, para ser considerado costume é fundamental que ocorra uma prática constante
e repetitiva, durante prazo longo de tempo. O costume leva tempo e instala-se quase
imperceptivelmente no seio da sociedade.

ESPÉCIES DE COSTUMES:

Os costumes podem ser:

secundum legem: O costume segundo a lei, já foi transformado em lei e, portanto,


deixou de ser costume propriamente dito. Para alguns, não existe essa categoria, pois
se lei existe, costume não há. Segundo outros essa modalidade se caracterizaria pelo
fato de a própria lei remeter sua interpretação ou compreensão aos costumes. Ex: art
13 do C/C – Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os
bons costumes.
praeter legem: além da lei. É exatamente aquele descrito no art. 4a da LINDB, que
serve para preencher as lacunas da lei: "Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso
de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito." Trata-se de
um dos recursos de que se serve o juiz quando a lei for omissa. A maioria dos sistemas
de direito escrito tem nos costumes sua principal fonte subsidiária. Ex: cachorro
contra legem: contra a lei, se opõe à lei. Denomina-se costume ab-rogatório, pois
coloca a lei à margem. Ex: a prática do adultério
O art. 337 do Código de Processo Civil determina que a parte que alegar direito
costumeiro deverá provar o teor e a vigência, se assim for determinado pelo juiz. Essa
instabilidade é, de fato, como vimos, o maior obstáculo para o costume imperar em
nosso sistema.

Doutrina: é o estudo realizado pelos cientistas do direito. Chamada de fonte intelectual


ou indireta, pois suas orientações hermenêuticas não são obrigatórias.
DIVISÃO GERAL DO DIREITO POSITIVO

Direito Positivo: é o conjunto de normas jurídicas vigentes em determinado lugar, em


determinada época.

Divisão do direito positivo:

a) Direito Público e Direito Privado: é a divisão mais importante. Se a norma tutelar o


interesse do Estado e de seu funcionamento, o Direito é público; Contudo, se a norma
regular as relações jurídicas entre os particulares, o direito é privado.

Ramos do Direito Público

Constitucional; Administrativo; Tributário; Econômico Interno; Previdenciário;


Processual; Penal; Eleitoral; Militar; Internacional Público Externo

Ramos do Direito Privado

Civil; Empresarial; Trabalhista; Internacional Privado.

1) VERTENTES DO DIREITO PÚBLICO

1.1) DIREITO PÚBLICO INTERNO

1.1.1) Direito Constitucional

Engloba as normas jurídicas pertinentes à organização política do Estado nos seus


elementos fundamentais, definindo o regime político e a forma de Estado, colocando
cada órgão substancial, para fazer o que lhe é devido em relação ao cidadão,
mediante o reconhecimento e garantia de direitos fundamentais dos indivíduos.

O conjunto dessas normas está presente na Carta Magna do Estado, a constituição.


Nesta, apresentam-se dois tipos de normas: as que determinam como outras serão
feitas, indicando os limites e os processos de sua elaboração, e as que repercutem
imediatamente sobre o comportamento; estas últimas são constitucionais, não por sua
matéria (que é dizer como devem ser feitas as normas gerais), mas pela sua forma,
porque estão submetidas a certas formalidades de elaboração e de alteração.

O direito constitucional é a esfera da ordenação estatal que está intimamente


relacionada com todas as demais, por coordená-las, traçando-lhes o contorno
periférico.

1.1.2 - Direito Administrativo

É o ramo do direito público interno que se concentra no estudo da Administração


Pública e da atividade de seus integrantes. Sistematiza os interesses do Estado, ou
seja, tudo o que se relaciona à Administração Púbica e à relação entre ela e os
administrados e seus servidores é regrado e estudado pelo Direito Administrativo.

1.1.3 - Direito tributário

Disciplina a receita e a despesa pública. Para realizar os serviços públicos, o Estado


necessita de recursos financeiros, que são obtidos mediante cobrança de impostos,
contribuições, taxas, bem como por sua atividade empresarial. O movimento de
arrecadação do dinheiro público e seu emprego em obras e despesas gerais
constituem o objeto do Direito Tributário.

1.1.4 - Direito Penal

É o ramo do Direito que disciplina as condutas humanas que podem por em risco a
coexistência dos indivíduos na sociedade. O Direito Penal vai regular essas condutas
com base na proteção dos princípios relacionados à vida, intimidade, propriedade,
liberdade, enfim, princípios que devem ser respeitados no convívio social.

Dessa forma, o Direito Penal vai descrever as condutas consideradas crimes


(condutas mais graves) e contravenções (condutas menos grave) e as respectivas
penas cominadas. Vale dizer que o Estado é o responsável pelo direito de punir, e o
faz mediante critérios pré-estabelecidos, com o intuito de desestimular os indivíduos
a transgredirem as normas, e, também, de readaptar o indivíduo ao convívio social.

1.1.5 Direito processual

Para definir o objeto de estudo desse ramo do Direito, primeiramente, é importante


dizer que é o Estado que detém o poder de aplicar o Direito, estabelecendo a ordem,
aplicando as penalidades, e solucionando os conflitos entre as partes, por meio de um
processo judicial. Dessa forma, o ramo em questão visa disciplinar de que forma isso
vai se dar, estabelecendo princípios e regras a serem previamente obedecidas, tanto
pelo Estado, quanto pelas partes na disputa judicial. Assim a função do Direito
processual é organizar a forma de como o Estado vai prestar esse poder/dever de
julgar, e como as partes devem agir no enlace judicial.

Há subdivisões de Direito Processual: Civil, Penal, Trabalho, Tributário, etc.

1.1.6. Direito Eleitoral

É o ramo autônomo do Direito Público encarregado de regulamentar os direitos


políticos dos cidadãos e o processo eleitoral. Conjunto sistematizado de normas
destina-se a assegurar a organização e o exercício de direitos políticos,
principalmente os que envolvem votar e ser votado (Art. 1º do Código Eleitoral - Lei nº
4.737/65). Em outras palavras, o Direito Eleitoral dedica-se ao estudo das normas e
procedimentos que organizam e disciplinam o funcionamento do poder de sufrágio
popular, de modo a que se estabeleça a precisa equação entre a vontade do povo e
a atividade governamental.

1.1.7. Direito Militar

É o conjunto de normas jurídicas destinadas a assegurar a realização dos fins das


instituições militares, cujo principal é a defesa armada da Pátria. As penais surgem
com o Direito Penal Militar.

O direito militar, portanto, é bastante abrangente em suas ramificações, sendo


possível distinguir o direito penal militar, o direito processual penal militar, o direito
administrativo militar, o direito disciplinar militar, o direito previdenciário militar, além
de outros que guardam pertinência com o emprego de Forças Armadas na solução de
conflitos armados, destacando-se, nesse ponto, o direito internacional dos conflitos
armados, também conhecido como direito internacional humanitário.
1.2. DIREITO PÚBLICO EXTERNO

1.2.1. Direito Internacional Público

É o ramo do Direito voltado a disciplinar as relações entre os vários Estados,


possuindo princípios e diretrizes, que visam uma interação pacífica entre os Estados,
tanto na esfera política, econômica, social e cultural. Vale dizer que são criados
organismos internacionais, tais como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a
OMC (Organização Mundial do Comércio), para auxiliar na descoberta de interesses
comuns, e de que forma interação dos Estados vai se dar. Os instrumentos dos
acordos entre os Estados são denominados tratados.

2. RAMOS DO DIREITO PRIVADO:

2.1. Direito civil

Pertence ao Direito Privado por excelência, pois visa regular as relações dos
indivíduos, estabelecendo direitos e impondo obrigações. O Direito Civil atua em toda
a vida do indivíduo, pois disciplina todos os campos de interesses individuais. O
Código Civil, ou seja, reunião de todas as leis de Direito Civil, é estruturado em duas
grandes partes: geral, que contém normas de caráter abrangente, que servem a
qualquer área do Direito Civil e parte especial, que trata dos assuntos específicos. Na
parte Geral encontram-se os livros que contém os temas relativos às pessoas, aos
bens e aos fatos jurídicos. Já a parte especial os livros são: obrigações, Direito de
Empresa, Direito das Coisas, Direito de Família, Direito das Sucessões e um livro
complementar das disposições finais e transitórias. Assim verifica-se que o Direito
Civil abrange todas as área do relacionamento humano, que serão objeto de estudo
durante todo o Curso de Direito.

2.2. Direito do trabalho

É um ramo que se destina a disciplinar as relações de trabalho, estabelecendo


princípios e regras, de forma a evitar a exploração pelo do trabalho, e conceder direitos
e obrigações recíprocos tanto aos que prestam os serviços, quanto para àqueles cujo
o serviço se destina.

Há discussão entre os juristas se o Direito do Trabalho seria um ramo do Direito


Público ou Privado. Por muito tempo, vários autores entenderam se tratar de um ramo
do Direito Público, pois apesar de suas normas disciplinarem relações privadas, a
vontade das partes ficaria limitada às regras pré- estabelecidas pelo Estado. Contudo
com o passar do tempo entenderam se tratar de ramo do Direito Privado, pois
predomina o interesse particular, em detrimento da natureza das regras públicas. Há
autores que atentam, ainda, para uma classificação mista, pois o Direito do Trabalho
teria uma esfera pública, e outra privada.

2.3. Direito empresarial ou comercial

O direito comercial origina-se de um direito estatutário particular e consuetudinário,


visto que não veio de uma obra dos jurisconsultos nem dos legisladores, mas do
trabalho dos comerciantes, que o criaram com seus usos, estabelecendo seus
estatutos ou regulamentos, pelos quais disciplinavam a concorrência, asseguravam
mercados aos comerciantes para as suas ofertas, evitavam fraudes e garantiam a boa
qualidade das mercadorias. O direito comercial constitui-se de normas que gerem a
atividade empresarial.

2.4. Direito Internacional Privado

Destina-se à regular a situação do estrangeiro no território nacional, pois como o


estrangeiro está em local diferente do seu país de origem, haveria um conflito de leis
a serem aplicadas no caso concreto: usa-se a lei estrangeira, ou do local onde o
indivíduo se encontra? Assim, a base do Direito Internacional Privado seria regular
essas relações e estabelecer diretrizes e normas, dirigidas às autoridades para a
resolução inerente a esses conflitos.

DIREITOS COLETIVOS

Direitos coletivos “lato sensu” têm como espécies:

Direitos difusos;
Direitos coletivos “strictu sensu”;
Direitos individuais homogêneos.
CONCEITOS LEGAIS

(Art. 81, parágrafo único da Lei nº. 8078/90):

I - Direitos difusos são os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam


titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.
II - Direitos coletivos são os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular
grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base.

III - Direitos individuais homogêneos são aqueles interesses ou direitos individuais que
têm origem comum

Os Direitos difusos são todos aqueles direitos que não podem ser atribuídos a um
grupo específico de pessoas, pois dizem respeito a toda a sociedade.

Traduzindo em miúdos, a transindividualidade significa se tratar de um direito que


ultrapassa a individualidade, indo além de cada indivíduo singularmente considerado.
A natureza indivisível significa que não pode ser dividido. Esse direito tem titulares,
mas indeterminados, ou seja, não podem ser individualizados, no caso concreto.

Por fim, essas pessoas devem estar ligadas por circunstâncias de fato (situação de
fato); Ex: pessoas que residem numa área que será inundada por uma hidrelétrica;
habitar nas margens de um rio onde são lançados produtos poluentes; os direitos
ligados à área do meio ambiente têm reflexo sobre toda a população, pois se ocorrer
qualquer dano ou mesmo um benefício ao meio ambiente, este afetará, direta ou
indiretamente, a qualidade de vida de toda a população.

Outro exemplo de direito difuso: veiculação, num canal de televisão de grande


alcance, de uma publicidade enganosa. Todos aquelas pessoas indeterminadas que
viram a publicidade foram atingidos por ela. É um interesse indivisível, cujos titulares
são ligados por uma circunstância fática.

São difusos os direitos à segurança, ao consumidor, direitos ligados à preservação do


patrimônio sócio cultural, artístico, estético, histórico, turístico, paisagístico, por
infração à ordem econômica etc.

Sendo assim, pode-se afirmar que a titularidade dos direitos difusos é indeterminável.
Não podem eles ser identificados, sequer, a um grupo, categoria ou classe de
pessoas, pertencem a todos os indivíduos, indistintamente.

Frise-se que a segurança é o direito fundamental, predominantemente difuso, que os


cidadãos e a sociedade possuem de sentir-se aceitavelmente protegidos, em
decorrência das políticas públicas de segurança pública operadas pelo Estado.
Importante destacar que não se está a falar em segurança individual de cada cidadão
(uti singuli), mas sim em segurança pública (uti universi).
A teor do art. 144, I a V, da Constituição, a segurança pública é dever do Estado, e
direito e responsabilidade de todos, sendo exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos órgãos nele
referidos, cabendo destacar a polícia federal, estruturada pela União, e as polícias
militares, estruturadas pelos Estados-membros (inclusive o Distrito Federal). A polícia
federal destina-se, dentre outras atribuições, a prevenir e reprimir o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho (art. 144, § 1º, inciso II)
e exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras (art. 144, § 1º,
inciso III), por onde passa igualmente o tráfico de drogas, e, junto com ele, a violência.
Às polícias militares, cabe a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública.

Como o direito difuso à segurança goza de proteção legal (arts. 129, III, CF e 81, I,
CDC), é patente que podem ser objeto de ação civil pública, nos termos do art. 1º, IV,
da Lei 7.347/85. Esta rege as ações de responsabilidade por danos morais e
patrimoniais causados "a qualquer outro interesse difuso ou coletivo".

Desse modo, se o Estado não adotar medidas concretas para assegurar a


inviolabilidade do direito à segurança da sociedade poderá ser demandado para esse
fim, sendo "admissíveis todas as espécies de ações capazes de proporcionar sua
adequada e efetiva tutela" (art. 83 CDC).

Já os direitos coletivos também têm titularidade indeterminável, todavia, os titulares


são identificáveis, pois tais direitos estão identificados a um grupo, categoria ou classe
de pessoas. Só serão beneficiados os indivíduos pertencentes ao grupo, categoria ou
classe, sendo que o resultado da demanda atinge a todos de modo uniforme. Eventual
benefício ao patrimônio do indivíduo será reflexo.

Ex: direito dos advogados de não recolher o COFINS; STJ decidiu pela proibição de
cobrança unilateral do serviço de “proteção adicional” aos proprietários de cartão de
crédito. Neste caso, os liames entre as pessoas são jurídicos.

O direito individual homogêneo é individualizado na sua essência, porque será


incorporado diretamente ao patrimônio do indivíduo, sendo coletivo apenas quanto à
forma de tutela. Por economia processual é utilizada uma única demanda para
beneficiar inúmeras pessoas. Cada indivíduo será beneficiado pela sentença de uma
forma específica, incorporando ao seu patrimônio um determinado valor, pois é
conveniente para sociedade que a defesa deles se processe nos moldes coletivos.

Ex: São direitos individuais que, no caso do sindicato, são defendidos de forma
coletiva, conforme autorizado pelo dispositivo constitucional (artigo 8, III, da CF/88).
Admite-se, portanto, a substituição processual de forma ampla, limitada a direitos
homogêneos.
Outro exemplo é dos compradores de veículos produzidos com o mesmo defeito de
série. Sem dúvida, há uma relação jurídica comum subjacente entre os consumidores,
mas o que os liga no prejuízo sofrido não é a relação jurídica em si (como ocorre
quando se trata de interesses coletivos), mas sim é antes o fato de que compraram
carros do mesmo lote produzido com o defeito em série (interesses individuais
homogêneos)".

LEGITIMIDADE PARA A DEFESA DE DIREITOS E INTERESSES COLETIVOS

Legitimados para propor Ação Civil Pública – é a principal ação coletiva


Pelo art. 5 da Lei da Ação Civil Pública 7.347/85:

MP;
Defensoria Pública
Administração Pública direta e indireta – pessoas de direito público e privado;
Associações, com pelo menos 01 ano de existência e possuem finalidade institucional
para defender interesse coletivo “lato sensu”. O requisito da pré-constituição da
associação de 01 ano poderá ser dispensado pelo juiz, quando houver interesse social
relevante. (art. 5º, § 4º da Lei 7347/85)
PRINCÍPIOS JURÍDICOS

Atualmente, vive-se no chamado Estado Principiológico. Trata-se da efetividade de


elementos chamados fundamentais, os princípios jurídicos.

A pós-modernidade concretiza a era da normatização dos princípios, isto é, princípios


e regras são normas jurídicas. De fato, os princípios são as fontes basilares para
qualquer ramo do direito. Leciona o eminente Celso Antônio a definição de princípios:

[...] mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição


fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e
servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir
a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá
sentido harmônico. (Bandeira de Melo, 2005, p.902)

Os princípios e as regras são normas porque ambos dizem o que deve ser. Contudo,
há alguns critérios utilizados pelos estudiosos, a fim de distingui-los. Um desses
critérios é o da generalidade: os princípios são normas de um grau de generalidade
alto e as regras, de nível relativamente baixo de generalidade.

Canotilho sugere os seguintes critérios para diferenciar princípios e regras:

a) O grau de abstração: os princípios são normas com um grau de abstração


relativamente elevado; de modo diverso, as regras possuem uma abstração
relativamente reduzida.

b) Grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto: os princípios, por serem


vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador? do
juiz?), enquanto as regras são susceptíveis de aplicação direta.

c) Caráter de fundamentalidade no sistema de fontes de direito: os princípios são


normas de natureza ou com um papel fundamental no ordenamento jurídico devido à
sua posição hierárquica no sistema das fontes (ex: princípios constitucionais) ou à sua
importância estruturante dentro do sistema jurídico (ex: princípio do Estado de Direito).

d) Proximidade da ideia de direito` : os princípios são ´Standards` juridicamente


vinculantes radicados nas exigências de ´justiça` (DWORKIN) ou na ideia de direito`
(LARENZ); as regras podem ser normas vinculantes com um conteúdo meramente
formal.

e) Natureza normogenética: os princípios são fundamento de regras, isto é, são


normas que estão na base ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando,
por isso, uma função normogenética fundamentante (Apud ESPÍNDOLA, 1999, p. 65).

Como se observa, os princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na
maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes.
Enquanto que as regras jurídicas são normas jurídicas que só podem ser cumpridas
ou não. São determinações.

Pode-se afirmar que os princípios assumem o papel de condutor dos valores a serem
concretizados e estes valores expressam conceitos abstratos, gerais, transsubjetivos
e comuns a todos os homens. A transposição dos valores para o mundo do dever ser
(direito) se dá por meio dos princípios, normas igualmente abstratas, que respeitam a
dimensão axiológica do ordenamento jurídico, vinculada ao ideal de justiça aspirado
por determinada sociedade.
Os princípios são normas jurídicas tradutoras dos valores abstratos que qualificam
juridicamente a própria realidade, indicando qual o caminho os operadores do direito
devem seguir em busca de otimização e concretização os valores de todo o
ordenamento jurídico.

Os princípios, em suma, assumem a roupagem de diretrizes gerais de um


ordenamento jurídico (ou de parte dele). Seu espectro de incidência é muito mais
amplo que o das regras. Entre eles pode haver colisão, não conflito. Quando colidem,
não se excluem. Como mandados de otimização que são (Alexy), sempre podem ter
incidência em casos concretos (às vezes, concomitantemente dois ou mais deles).

De qualquer modo, parece certo que cada um deles possui sua força, seu peso e sua
relevância. Há hierarquia axiológica entre eles, que deve ser apurada e valorada
concretamente. Os princípios da privacidade e da intimidade, da preservação da
integridade física etc. são relevantes, mas em algumas situações probatórias eles
sucumbem diante do princípio da segurança ou da persecução penal (possibilitando
ao juiz determinar a realização de uma prova, mesmo contra a vontade do réu. Por
exemplo, quando o agente está portando droga no estômago).

COLISÃO DE PRINCÍPIOS: as regras (normalmente) disciplinam uma situação


determinada; quando ocorre essa situação, a norma tem incidência; quando não
ocorre, não tem incidência. Para as regras vale a lógica do tudo ou nada (Dworkin).
Quando duas regras colidem, fala-se em conflito; ao caso concreto uma só será
aplicável (uma afasta a aplicação da outra). O conflito entre regras deve ser resolvido
pelos meios clássicos de interpretação: a lei especial derroga a lei geral (princípio da
especialidade), a lei posterior afasta a anterior (princípio da posterioridade), a norma
superior prepondera sobre a norma inferior (princípio da hierarquia).

Muitas vezes, é um princípio que entra em ação para resolver o conflito entre duas
regras. Por exemplo: o art. 2º, 2º da Lei 9.613/1998 (lei de lavagem de capitais), que
dispensa a aplicação do art. 366 do CPP (que manda suspender o processo quando
o réu é citado por edital), conflita com o art. 4º, 3º, da mesma lei, que manda aplicar o
referido art. 366. Esse conflito se resolve (em favor do art. 4º, 3º) pela aplicação do
princípio da ampla defesa (aplica-se a norma mais favorável à defesa).

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS:

A Constituição é a lei fundamental e suprema do Brasil. E os princípios constitucionais


são o que protegem os atributos fundamentais da ordem jurídica.

São estes os principais princípios constitucionais:


a) Princípio da Supremacia da Constituição: por este princípio, nenhum ato jurídico
pode permanecer valendo em ação contrária à Constituição Federal.

b) Princípio da legalidade: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma


coisa, senão em virtude de lei”. Diz respeito à obediência às leis. Divide-se em duas
vertentes: no âmbito público: seria fazer apenas aquilo que a lei permite. Já no âmbito
privado, todo particular pode fazer tudo aquilo que não é proibido.

c) Princípio da igualdade ou isonomia: Trata-se de um princípio jurídico disposto nas


Constituições de vários países que afirma que "todos são iguais perante a lei",
independentemente da riqueza ou prestígio destes. O princípio informa a todos os
ramos do direito. Seria tratar desigualmente os desiguais, na medida da sua
desigualdade.

d) Princípio da ampla defesa: É o princípio que garante a defesa no âmbito mais


abrangente possível. É a garantia de que a defesa é o mais legítimo dos direitos do
homem. Contém duas regras básicas: a possibilidade de se defender e a de recorrer.
A ampla defesa abrange a autodefesa ou a defesa técnica (o defensor deve estar
devidamente habilitado); e a defesa efetiva (a garantia e a efetividade de participação
da defesa em todos os momentos do processo). É princípio básico da ampla defesa
que não pode haver cerceamento infundado, ou seja, se houver falta de defesa ou se
a ação do defensor se mostrar ineficiente, o processo poderá ser anulado. Caso o juiz
perceba que a defesa vem sendo deficiente, ele deve intimar o réu a constituir outro
defensor ou nomear um, se o acusado não puder constituí-lo.

e) Princípio do contraditório: O princípio do contraditório e ampla defesa esta expresso


na Constituição Federal, no artigo 5º inciso LV. Vejamos: art. 5º, CR/88:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes.

Esse é o princípio que garante a justiça o contraste entre as partes, a chance de provar
a verdade e praticar o real exercício do direito. O juiz deve dispor esses meios às
partes e participar da preparação do julgamento a ser feito, exercendo ele próprio o
contraditório. Ex: o contraditório pode ser obstado quando o réu não é citado ou
intimado de algum ato processual praticado pela outra parte.

f) Principio da Dignidade da Pessoa Humana: A dignidade da pessoa humana é um


valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem,
desde o direito à vida.
g) Princípio da Proporcionalidade: tem a ver com a adequação, exigibilidade e
proporcionalidade. A proporcionalidade serve como parâmetro de controle da
constitucionalidade das regras restritivas de direitos fundamentais. Também atua na
solução dos conflitos entre os princípios da constituição. A adequação exige medidas
interventivas. O meio escolhido se presta para alcançar o fim estabelecido, assim,
mostrando-se adequado.

PRINCÍPIOS ÉTICOS E MORAIS: Os princípios morais como a honestidade, a


bondade, o respeito, a virtude, fazer o bem, etc., determinam o sentido moral de cada
indivíduo. São valores universais que regem a conduta humana e as relações
saudáveis e harmoniosas.

A moral orienta o comportamento do homem diante das normas instituídas pela


sociedade ou por determinado grupo social. Diferencia-se da ética no sentido de que
esta tende a julgar o comportamento moral de cada indivíduo no seu meio. No entanto,
ambas buscam o bem-estar social.

DEONTOLOGIA: é uma filosofia que faz parte da filosofia moral contemporânea e sua
origem significa, em grego, ciência do dever e da obrigação. É uma teoria sobre as
escolhas dos indivíduos, quais são moralmente necessárias e serve para nortear o
que realmente deve ser feito. O termo foi criado pelo filósofo inglês Jeremy Bentham,
no ano de 1834, para falar sobre o ramo da ética em que o objeto de estudo são os
fundamentos do dever e das normas, deontologia é também conhecida como" Teoria
do Dever ".

Immanuel Kant também deu sua contribuição para a deontologia, uma vez que a
dividiu em dois conceitos: razão prática e liberdade. Para Kant, agir por dever é a
maneira de dar à ação o seu valor moral; e por sua vez, a perfeição moral só pode ser
atingida por uma livre vontade.

A deontologia também pode ser o conjunto de princípios e regras de conduta ou


deveres de uma determinada profissão, ou seja, cada profissional deve ter a sua
deontologia própria para regular o exercício da profissão, de acordo com o Código de
Ética de sua categoria. Para os profissionais, são normas estabelecidas não pela
moral e sim para a correção de suas intenções, ações, direitos, deveres e princípios.
O primeiro Código de Deontologia foi feito na área da medicina, nos Estados Unidos.

A deontologia da Policial Militar é constituída pelos valores e deveres éticos,


traduzidos em normas de conduta, que se impõem para que o exercício da profissão
policial-militar atinja plenamente os ideais de realização do bem comum, mediante a
preservação da ordem pública.
NORMA JURÍDICA:

Conceito de Norma Jurídica: fórmulas de agir, determinações que fixam as pautas do


comportamento interindividual. Padrões de conduta social impostos pelo Estado.
Refere-se à substância própria do Direito objetivo.
Norma é comando ou regra de conduta. Expressa a vontade do Estado por intermédio
do legislador. Esta vontade é materializada na lei.

Principais Características da norma: bilateralidade, abstração, generalidade,


imperatividade, heteronomia.
a) generalidade: obriga a todos em igual situação jurídica;

b) abstratividade: abarca situações abstratas;

c) bilateralidade: onde há dever, há direito;

d) imperatividade: obrigatória;

e) coercibilidade: uso da força do Estado sobre aqueles que descumprem a norma


jurídica. É indispensável ainda que o conteúdo de lei expresse o bem comum.

f) heteronomia: imposta pelo Estado.

Classificação das Normas Jurídicas:


Quanto à esfera do Poder Público:
As normas jurídicas podem ser federais, estaduais e municipais.

Quanto à hierarquia:
Sob este aspecto dividem-se em: constitucionais, complementares, ordinárias,
regulamentares e individualizadas. As normas guardam entre si uma hierarquia, uma
ordem de subordinação entre as diversas categorias.

No primeiro plano alinham-se as normas constitucionais, provenientes da Constituição


e as emendas constitucionais, que condicionam a validade de todas as outras normas
e têm o poder de revogá-las.
Assim, qualquer norma jurídica de categoria diversa, anterior ou posterior à
constitucional, não terá validade caso contrarie as disposições desta.

Em segundo plano estão as – normas complementares: na ordem jurídica brasileira


há normas que se localizam em leis complementares à Constituição e se situam
hierarquicamente entre as constitucionais e as ordinárias. A aprovação de normas
complementares se dá de acordo com o art. 69 da CF, por maioria absoluta.

Em terceiro plano: as normas ordinárias, que se localizam nas leis, medidas


provisórias, leis delegadas.

Seguem-se as normas regulamentares, contidas nos decretos.

Normas individualizadas, denominação e espécie sugeridas por Merkel para a grande


variedade dos atos jurídicos: testamentos, sentenças judiciais; contratos etc.

ESPÉCIES NORMATIVAS (art. 59 da CF)

Espécies normativas:

Emendas à Constituição (art. 59, I da CF):


Leis complementares (art. 59, II da CF).
Leis ordinárias (art. 59, III da CF).
Leis delegadas (art. 59, IV da CF).
Medidas Provisórias (art. 59, V da CF).
Decretos legislativos (art. 59, VI da CF).
Resoluções (art. 59, VII da CF).
LEI COMPLEMENTAR

1. Conceito: É a espécie normativa utilizada nas matérias expressamente previstas na


Constituição Federal. As hipóteses de regulamentação da Constituição por meio de
lei complementar foram taxativamente previstas na Constituição Federal.
Quando o constituinte quer se referir a uma lei complementar, traz no texto a
expressão “lei complementar”. Ex: Lei complementar disporá sobre a elaboração,
redação, alteração e consolidação das leis (art. 59, parágrafo único da CF).

2. Procedimento: é o mesmo da lei ordinária, diferenciando-se apenas quanto ao


quórum para aprovação.

3. Quórum: As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta de seus


membros (art. 69 da CF). Maioria absoluta refere-se aos membros integrantes da
casa.

Se lei ordinária tratar de matéria reservada a lei complementar, haverá uma


inconstitucionalidade formal. Entretanto, se uma lei complementar tratar de matéria
reservada a lei ordinária não haverá invalidade, sendo apenas considerada como lei
ordinária.

LEI ORDINÁRIA

1. Conceito: É a espécie normativa utilizada nas matérias em que não cabe lei
complementar, decreto legislativo e resolução. Assim, o campo material das leis
ordinárias é residual.

O texto constitucional se refere à lei ordinária apenas como lei, sem a utilização do
adjetivo “ordinária”, visto que este está implícito. Mas quando quer diferenciá-la de
outra espécie normativa, normalmente traz a expressão “lei ordinária”. Ex: “A iniciativa
de leis complementares e ordinárias ...” (art. 61 da CF). Pode ainda utilizar a
expressão “lei especial”. Ex: “esses crimes serão definidos em lei especial, que
estabelecerá as normas de processo e julgamento” (art. 85, parágrafo único da CF).

Embora o constituinte apenas a mencione como lei, não podemos nos esquecer de
que o nome dessa espécie normativa no próprio texto constitucional é lei ordinária
(art. 59 da CF).

2. Procedimento: sistema bicameral.

3. Quórum: As leis ordinárias serão aprovadas por maioria simples (relativa) de seus
membros. Maioria relativa refere-se ao número de presentes na sessão ou reunião.

LEI DELEGADA
1. Conceito: É a espécie normativa utilizada nas hipóteses de transferência da
competência do Poder Legislativo para o Poder Executivo. Trata-se de uma exceção
ao princípio da indelegabilidade das atribuições. Delegação “externa corporis”.

2. Procedimento:

Iniciativa solicitadora: O Presidente da República solicita a delegação ao Congresso


Nacional (iniciativa solicitadora), delimitando o assunto sobre o qual pretende legislar.
Se o Congresso Nacional aprovar (por maioria simples) a solicitação delegará por
meio de resolução (art. 68, § 2º da CF).
A delegação tem prazo certo, isto é, termina com o encerramento de uma legislatura.
Entretanto, nada impede que antes de encerrado o prazo fixado na resolução, o Poder
Legislativo desfaça a delegação.
O Congresso Nacional pode apreciar a mesma matéria objeto de delegação, pois
quem delega não abdica, reserva poderes para si. Como a lei ordinária e a lei
delegada têm o mesmo nível de eficácia, prevalecerá a que for promulgada por último,
revogando a anterior (princípio da continuidade das leis).
O Presidente promulgará e publicará a lei delegada.
3. Matérias vedadas à delegação (art. 68, § 1º da CF):

Atos de competência exclusiva do Congresso Nacional.


Atos de competência privativa da Câmara dos deputados.
Atos de competência privativa do Senado Federal.
Matéria reservada à lei complementar.
A legislação sobre:
Organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e garantia de seus
membros (art. 68, § 1º, I da CF).
Nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais (art. 68, § 1º, II da
CF).
Planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos (art. 68, § 1º, III da CF).
4. Sustação: Se o Presidente da República exorbitar os limites da delegação
legislativa, o Congresso Nacional poderá sustar o ato normativo por meio de decreto
legislativo. Trata-se de um controle repressivo de constitucionalidade realizado pelo
Poder Legislativo (art. 49, V da CF).
É importante ressaltar que também pode ocorrer um controle repressivo de
constitucionalidade pelo Poder Judiciário e esse, diferentemente da sustação, produz
efeitos “ex tunc”.

MEDIDA PROVISÓRIA

1. Conceito: não possui natureza jurídica de lei, sendo apenas dotada de força de lei.
Embora seja um ato sob condição (condição de ser um dia aprovado pelo Congresso
Nacional), é vigente e eficaz.

2. Pressupostos de admissibilidade:

A medida provisória tem como pressupostos de admissibilidade a relevância e a


urgência. “Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar
medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao
Congresso Nacional” (art. 62 da CF).

Tendo em vista que toda matéria que deva ser tratada por meio de lei é matéria
relevante, na medida provisória a matéria deve ser extraordinariamente relevante.
Além de ser relevante, tem que ser também urgente mais urgente que o procedimento
abreviado.

Em regra, os requisitos de relevância e urgência devem ser analisados primeiramente


pelo Presidente da República (juízo discricionário) e posteriormente pelo Congresso
Nacional. Excepcionalmente, o Poder Judiciário poderá fazer um controle de
constitucionalidade dos pressupostos, quando houver desvio de finalidade ou abuso
do poder de legislar (violação do princípio da razoabilidade).

3. Prazo de vigência: A MP vigorará por um prazo de 60 dias contados da publicação.

Prorrogação: Se a medida provisória não for apreciada em 60 dias, haverá uma


prorrogação automática do prazo, totalizando prazo máximo de 120 dias. Se após
esse prazo, não for convertida em lei, perderá a eficácia desde a sua edição (efeitos
retroativos).
Regime de urgência: Se a medida provisória não for apreciada em até 45 dias da sua
publicação, entrará em regime de urgência, fazendo com que todas as demais
deliberações da casa legislativa fiquem sobrestadas, até que seja concluída a votação
da medida provisória. Ela bloqueia a pauta diária da casa em que esteja (art. 62, § 6º
da CF).
Edição de Medida Provisória pelos Estados e Municípios:
Segundo o Supremo Tribunal Federal, pode ser editada medida provisória pelo
Governador do Estado desde que exista previsão na Constituição Estadual. Os únicos
Estados que colocaram essa previsão foram: Tocantins, Santa Catarina e Acre.

Pelo principio da simetria, é possível a edição de medida provisória municipal


naqueles três Estados. Alguns autores sustentam que ainda só seria possível se a Lei
orgânica dos Municipios daquele estado trouxesse a previsão. Outros dizem que não
pode em nenhuma circunstância, pois os conceitos de relevância e urgência seriam
incompatíveis com a limitação territorial de eficácia de uma lei municipal.

DECRETO LEGISLATIVO

1. Conceito: Espécie normativa utilizada nas hipóteses de competência exclusiva do


Congresso Nacional (art. 49 da CF).

As regras sobre seu procedimento não estão previstas na Constituição Federal, mas
sim no regimento interno.

RESOLUÇÃO

1. Conceito: Espécie normativa utilizada nas hipóteses de competência privativa da


Câmara, do Senado ou do Congresso Nacional. (art. 51 e 52 da CF). As regras sobre
seu procedimento estão previstas no regimento interno.

VALIDADE E VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS

Formação da Lei:

Regime bicameral: é indispensável a aprovação do projeto pelas duas Casas.

Processo Legislativo:

1. Conceito:
Processo legislativo é o conjunto de disposições que disciplinam o procedimento a ser
observado pelos órgãos competentes na elaboração das espécies normativas (art. 59
da CF).

A não obediência às disposições sobre o processo legislativo constitucionalmente


previsto acarretará inconstitucionalidade.

O processo legislativo é estabelecido pela Constituição Federal e se desdobra nas


seguintes etapas: apresentação de projeto, exame das comissões, discussão e
aprovação, revisão, sanção, promulgação e publicação.

- apresentação de projeto: o art. 61 da Constituição Federal de 1988;

- exame das comissões discussão e aprovação; Plenário.

- revisão: O projeto pode ser apresentado na Câmara ou no Senado Federal. Iniciado


na Câmara, o Senado funcionará como Casa revisora e vice-versa, com a
circunstância de que os projetos encaminhados pelo Presidente da República,
Supremo Tribunal Federal e Tribunais Federais serão apreciados primeiramente pela
Câmara dos Deputados. Se a Casa revisora aprová-lo, deverá ser encaminhado à
Presidência da República para sanção, promulgação e publicação; se o rejeitar, será
arquivado; se apresentar emenda devolverá à Casa de origem para novo estudo. Não
admitida a emenda, o projeto será arquivado.

- Sanção: aquiescência, ou concordância do Chefe do Executivo a um projeto de lei


aprovado pelo Legislativo. É ato da alçada exclusiva do Poder Executivo: do
Presidente da República, Governadores Estaduais e Prefeitos Municipais.

Na esfera federal, dispõe o Presidente do prazo de quinze dias para sancionar ou


vetar o projeto.

A sanção pode ser tácita ou expressa.

Sanção expressa: quando declara a concordância em tempo oportuno

Sanção tácita: ocorre quando o Chefe do Poder Executivo (Presidente Rep.,


Governador e Prefeito) não se manifesta no prazo de 15 dias úteis.
Veto: é a rejeição pelo Chefe do Poder Executivo a um projeto de lei.

Veto jurídico: inconstitucionalidade

Veto político: contrário ao interesse público

Na hipótese de veto, o Congresso Nacional - as duas Casas reunidas - disporá de


trinta dias para a sua apreciação. Para que o veto seja rejeitado é necessário o voto
da maioria absoluta dos deputados e senadores, em escrutínio secreto.

Maioria absoluta: é a metade seguida de + 1 dos membros de cada Casa do Poder


Legislativo.

Maioria simples ou relativa: é a metade seguida de + 1 dos membros dos


parlamentares presentes na votação.

- Promulgação: declaração formal da existência da lei pelo Chefe do Executivo.

Prazo: 48 horas – Caso o Presidente não promulgue o Presidente do Senado Federal


o fará no mesmo prazo, depois o Vice-presidente do SF

- Publicação: A publicação é indispensável para que a lei entre em vigor e deverá ser
feita por órgão oficial. O início de vigência pode dar-se com a publicação ou decorrida
a vacatio legis, que é o tempo que medeia entre a publicação e o início de vigência.

- Vacatio legis: que é o tempo que medeia entre a publicação e o início de vigência.

VIGÊNCIA DA NORMA

Art. 1º da LINDB: Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país
quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.

IMPORTANTE:
Vacatio legis: tempo (interstício temporal) que intermedeia a publicação e a vigência,
ou seja, intervalo entre a publicação e a vigência de uma lei.

Lei Brasileira: 45 dias

Lei Estrangeira: 3 meses

Para que a norma possa ter vigência de fato se faz necessário passar por seis etapas:
iniciativa, discussão, deliberação, sanção, promulgação e publicação.

A publicação é indispensável para que a lei entre em vigor e deverá ser feita por órgão
oficial. O início de vigência pode dar-se com a publicação ou decorrida a vacatio legis,
que é o tempo que medeia entre a publicação e o início de vigência.

Portanto, com a promulgação (declaração de existência da Lei), a lei passa a existir,


mas o início de sua vigência é condicionado pela chamada vacatio legis. Pelo sistema
brasileiro, a lei entra em vigor em todo o País quarenta e cinco dias após a sua
publicação. Esse prazo é apenas uma regra geral, aplicada quando a lei é silente.

Contudo, conforme a natureza da lei, o legislador pode optar por um interregno


diferente ou até suprimi-lo. Quando a aplicação da lei brasileira for admitida no
estrangeiro, a vacatio legis será de três meses.

IMPORTANTE:

Vigência: a norma começa a existir com obrigatoriedade. A vigência é o tempo em que


a lei existe, é válida e produz efeitos. O Código Civil de 1916 não é mais vigente, mas
está em vigor. Trata-se do instituto da ultratividade normativa.

Vigor: consiste na força vinculante da norma jurídica – a norma gera direitos e deveres.
Vigor é a qualidade da lei em produzir efeitos jurídicos, ainda que a lei tenha sido
revogada.

Art. 2o DA LINDB: Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que
outra a modifique ou revogue.

IMPORTANTE: As leis podem ser:


Lei Temporária: existem por prazo pré-estabelecido

Lei de vigência indeterminada: não possuem prazo pré-estabelecido de vigência.


Vigerão até que outra lei a revogue

TÉRMINO DA VIGÊNCIA DA NORMA JURIDICA:

A perda de vigência pode ocorrer nas seguintes hipóteses:

a) revogação por outra lei;

b) decurso do tempo;

c) desuso

IMPORTANTE:

Revogação Total: Ab-rogação

Revogação Parcial: Derrogação

A revogação da lei pode ser expressa ou tácita.

Revogação expressa: ocorre quando a lei nova determina especificamente a


revogação da lei anterior.

Já a revogação tácita se opera sob duas formas:

quando a lei nova dispõe de maneira diferente sobre assunto contido em lei anterior,
estabelecendo-se assim um conflito entre as duas ordenações. Este critério de
revogação decorre do axioma lex posterior derogat priorem (a lei posterior revoga a
anterior);
quando a lei nova disciplina inteiramente os assuntos abordados em lei anterior. É
princípio de hermenêutica, porém, que a lei geral não revoga a de caráter especial.
Quando uma lei revogadora perde a sua vigência, a lei anterior, por ela revogada, não
recupera a sua validade. Esse fenômeno de retorno à vigência, tecnicamente
designado por repristinação, é condenado do ponto de vista teórico e por nosso
sistema.
IMPORTANTE:

Repristinação: Restauração de uma norma revogada pela revogação da norma


revogadora. Quando uma lei revogadora perde a sua vigência, a lei anterior, por ela
revogada recupera a sua validade.

A lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, salvo se a
lei nova revogadora assim dispuser expressamente.

§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare (Revogação


expressa), quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria
de que tratava a lei anterior (revogações tácitas – Incompatibilidade e nova lei que
trata por completo do assunto da anterior).

§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já


existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

IMPORTANTE:

Lei geral não revoga lei especial

§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência.

IMPORTANTE:

Repristinação Só ocorre no Direito Brasileiro, se a lei revogadora expressamente


assim dispuser.

Portanto, em regra no Direito Brasileiro não há respristinação, salvo quando expresso


em lei.
Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Princípio da Publicidade

A vigência da norma surge com a sua publicação no Diário Oficial, em tese, todos
tomariam conhecimento neste momento.

O texto estabelece um princípio segundo o qual as pessoas têm a obrigação de


conhecer as leis, pois ninguém poderá usar o desconhecimento da lei como desculpa.
Por sinal, é um princípio geral do Direito, ou seja, seria aplicado mesmo que não fosse
explícito. Para o art. 21 do Código Penal, o desconhecimento da lei é inescusável.

Esse princípio é necessário para proibir que uma pessoa apresente a própria
ignorância como razão de não cumprir a norma jurídica, o que retiraria a força de
eficácia da lei e comprometeria o ordenamento jurídico.

Irretroatividade da Lei - No momento em que a lei penetra no mundo jurídico, para


reger a vida social, deve atingir apenas os atos praticados na constância de sua
vigência. O princípio da irretroatividade da lei consiste na impossibilidade de um novo
Direito atuar sobre fatos passados e julgar velhos acontecimentos.

Só há retroatividade benéfica em caso de lei penal.

INTERPRETAÇÃO DAS LEIS:

Interpretar é fixar o verdadeiro sentido e o alcance de uma norma jurídica.

Interpretar a lei é atribuir-lhe um significado, determinar o seu sentido a fim de se


entender a sua correta aplicação a um caso concreto.

A interpretação jurídica, que ocorre sempre que a norma jurídica objeto do estudo não
for suficientemente clara, deve buscar sempre o sentido pretendido pela própria lei
(mens legis) e não o sentido pretendido pelo legislador (mens legislatoris). É que, após
editada uma lei, a opinião do legislador já não tem importância, pois a norma ganha
vida própria, submetendo o próprio legislador, que também estará obrigado a cumpri-
la.
Destarte, quando a norma jurídica é clara na sua essência, de fácil compreensão e
entendimento, não há necessidade de interpretação: in claris cessat interpretatio.

Temos três elementos que integram o conceito de interpretação:

a) Revelar o seu sentido: isso não significa somente conhecer o significado das
palavras, mas, sobretudo descobrir a finalidade da norma jurídica.

Com outras palavras, interpretar é compreender. As normas jurídicas são parte do


universo cultural e a cultura, como vimos, não se explica, se compreende em função
do sentido que os objetos culturais encerram. E compreender é justamente conhecer
o sentido, entender os fenômenos em razão dos fins para os quais foram produzidos.

Por exemplo, a lei que concede férias anuais ao trabalhador tem o significado de
proteger e de beneficiar sua saúde física e mental.

b) Fixar o seu alcance: significa delimitar o seu campo de incidência, é conhecer sobre
que fatos sociais e em que circunstâncias a norma jurídica tem aplicação.

Por exemplo, as normas trabalhistas contidas na Consolidação das Leis do Trabalho


(CLT) se aplicam apenas aos trabalhadores assalariados, isto é, que participam em
uma relação de emprego; e as normas contidas no Estatuto dos Funcionários Públicos
da União têm o seu campo de incidência limitado a estes funcionários.

c) Norma jurídica: falamos em norma jurídica como gênero, uma vez que não são
apenas as leis ou normas jurídicas legais que precisam ser interpretadas, embora
sejam elas o objeto principal da interpretação. Assim, todas as normas jurídicas
podem ser objeto de interpretação: as legais, as jurisdicionais (sentenças judiciais),
as costumeiras e os negócios jurídicos.

Por fim, para fixar o sentido e o alcance da norma, o intérprete deve observar algumas
regras de interpretação, como observa Rizzatto Nunes, no seu Manual de introdução
ao estudo do direito:

Interpretação Gramatical:" É através das palavras da norma jurídica, nas suas funções
sintática e semântica, que o intérprete mantém o primeiro contato com o texto posto
"(p. 262).
Interpretação Lógica:"A interpretação lógica leva em consideração os instrumentos
fornecidos pela lógica para o ato de intelecção, que, naturalmente, estão presentes
no trabalho interpretativo"(p. 265).

Interpretação Sistemática:"cabe ao intérprete levar em conta a norma jurídica inserida


no contexto maior de ordenamento jurídico. O intérprete, em função disso, deve dar
atenção à estrutura do sistema, isto é, aos comandos hierárquicos, à coerência das
combinações entre as normas e à unidade enquanto conjunto normativo global"."A
interpretação sistemática leva em conta, também, a estrutura do sistema jurídico: a
hierarquia, a coesão e a unidade"(p. 269).

Interpretação Teleológica: “ quando considera os fins aos quais a norma jurídica se


dirige”.

Interpretação Histórica:" é a que se preocupa em investigar os antecedentes da norma


"(p. 272)

Interpretação quanto a seus efeitos:

Declarativa ou especificadora:"aquela em que o intérprete se limita a ‘declarar’ o


sentido da norma jurídica interpretada, sem amplia-la nem restringi-la. (...). A
declarativa, que pode ser chamada também de especificadora, seria o resultado
normal e rotineiro do trabalho do intérprete na fixação do sentido e alcance da norma
jurídica"(p. 273).

Restritiva:"é a que restringe o sentido e alcance apresentado pela expressão literal da


norma jurídica. (...). O resultado, ainda que conhecido como restritivo, de fato, fixa o
sentido e o alcance da norma jurídica, nos limites exatos em que ela já deveria
estar"(p. 274).

Extensiva:" amplia o sentido e o alcance apresentado pelo que dispõe literalmente o


texto da norma jurídica "(p. 274).

As regras de interpretação da lei são as seguintes:

Quanto à origem ou fonte de que emana, a interpretação pode ser:

Autêntica: quando emana do próprio poder que fez o ato cujo sentido e alcance ela
declara.
Assim, p. ex., o Regulamento pode esclarecer o sentido da lei e completá‑lo, mas não
tem o valor de interpretação autêntica a oferecida por aquele, ou por qualquer outro
ato ministerial como uma portaria, uma vez que não decorrem do mesmo poder.

Judicial: é a resultante das decisões prolatadas pela Justiça. Aquela realizada pelos
juízes ao sentenciar, encontrando‑se presente nas Sentenças, nos Acórdãos e nas
Súmulas dos Tribunais.
Administrativa: aquela cuja fonte elaboradora é a própria Administração Pública,
através de seus órgãos e mediante pareceres, despachos, decisões, circulares,
portarias etc.
Doutrinária: aquela realizada cientificamente pelos doutrinadores e juristas em suas
obras.
Quanto à sua natureza, a interpretação pode ser:

Interpretação literal ou gramatical: exame do significado e alcance de cada uma das


palavras da norma jurídica; ela se baseia na análise das palavras da lei, para
determinar o seu verdadeiro sentido;

Interpretação lógica ou racional: serve-se da reconstrução da mens legislatoris


(intenção do legislador) para saber a razão da lei (ratio legis);

Interpretação sistemática ou orgânica: analisa as leis de acordo com o Direito na sua


totalidade (sistema jurídico), confrontando-as com outras normas, com princípios e
com valores prestigiados pelo Estado;

Interpretação histórica: procura reconstruir e revelar o estado de espírito dos autores


da lei, os motivos que os levaram a fazê-la, a análise cuidadosa do projeto, com a sua
exposição de motivos, mensagens do órgão executivo, atas e informações, debates,
etc. A interpretação histórica verifica a relação da lei com o momento da sua edição
(occasio legis – ocasião da lei);

Interpretação teleológica (ou finalidade): procura saber o fim social da lei, ou seja, a
finalidade que o legislador teve em vista na elaboração da lei. É a mais incentivada no
Direito Brasileiro, conforme o artigo 5º da Lei de Introdução LINDB:"na aplicação da
lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum";

Quanto a seus efeitos ou resultados, a interpretação pode ser:


Interpretação restritiva: quando o intérprete restringe o sentido da norma ou limita sua
incidência, concluindo que o legislador escreveu mais do que realmente pretendia
dizer.

Por exemplo, a lei diz “descendente”, quando na realidade queria dizer “filho”.

O CC/02 ordena que os negócios jurídicos benéficos e maléficos sejam interpretados


restritivamente.

Interpretação extensiva: quando o intérprete conclui que o alcance da norma é mais


amplo do que indicam os seus termos. Nesse caso, diz‑se que o legislador escreveu
menos do que queria dizer, e o intérprete, alargando o campo de incidência da norma,
aplicá-la-á a determinadas situações não previstas expressamente em sua letra, mas
que nela se encontram, virtualmente, incluídas. É o resultado do trabalho criador do
interprete. É a revelação de algo implícito.

BOA-FÉ OBJETIVA: significa que todos devem agir com honestidade e probidade.

MEIOS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA

Integração é um processo de preenchimento de lacunas, existentes na lei. A lacuna


se caracteriza não só quando a lei é completamente omissa em relação ao caso, mas
igualmente quando o legislador deixa o assunto a critério do julgador. Normalmente
essas lacunas surgem em razão do desencontro cronológico entre o avanço social e
a correspondente criação de novas regras disciplinadoras. O intervalo de tempo que
permanece entre os dois momentos gera espaços vazios na lei. Outras vezes,
aparecem em virtude do excesso de abstratividade da norma jurídica.

A analogia não pode ser aplicada no Direito Penal e fiscal

Analogia pode ser:

Analogia legal: a relação de semelhança toma por base uma lei

Analogia iuris: a relação de semelhança toma por base um caso concreto julgado pelo
Judiciário.
Equidade: é a justiça do caso particular ou abrandamento dos rigores da lei. O juiz,
utilizando-se do seu senso comum, fará análise do caso concreto e decidirá de acordo
com o que ele acha justo, mas nunca contrário à lei.

É forma de manifestação de justiça que tem o condão de atenuar, amenizar, dignificar


a regra jurídica. Como lembram Stolze Gagliano e Pamplona Filho (2002:25), a
equidade, na concepção aristotélica, é a " justiça do caso concreto ".

A regra jurídica é geral e, em determinadas situações, pode não atender aos ideais
de justiça no caso concreto. O conceito de equidade interliga-se ao conceito do próprio
Direito, uma vez que enquanto o Direito regula a sociedade com normas gerais do
justo e do equitativo, a equidade procura adaptar essas normas a um caso concreto.

O trabalho de aplicação do Direito por equidade é de precipuamente aparar as arestas


na aplicação da lei dura e crua, para que uma injustiça não seja cometida. A equidade
é um trabalho de abrandamento da norma jurídica no caso concreto. A equidade
flexibiliza a aplicação da lei.

Em síntese, a equidade se traduz na busca constante e permanente do julgador da


melhor interpretação legal e da melhor decisão para o caso concreto. Trata-se, como
se vê, de um raciocínio que procura a adequação da norma ao caso concreto.

DIREITO E JUSTIÇA

A justiça é o polêmico tema do Direito e, ao mesmo tempo, permanente desafio aos


filósofos do Direito, que pretendem conceituá-la, e ao próprio legislador que, movido
por interesse de ordem prática, pretende consagrá-la nos textos legislativos.

Com base nas concepções de Platão e de Aristóteles, uma definição formal de Justiça
foi feita por Ulpiano: é a vontade constante e perpétua da dar a cada um o seu direito.

A máxima é antiga, mas plenamente atual. O conteúdo que será atribuído a cada um
é que varia de acordo com o tempo e o espaço. A ideia de justiça não é pertinente
apenas ao Direito. A Moral, a Religião e algumas Regras de Trato Social preocupam-
se também com as ações justas.

A Importância da Justiça para o Direito


A ideia de justiça faz parte da essência do Direito. Para que a ordem jurídica seja
legítima, é indispensável que seja a expressão da justiça. A justiça se torna viva no
Direito quando deixa de ser apenas ideia e se incorpora às leis. Ao estabelecer em
leis os critérios da justiça, o legislador deverá basear-se em uma fonte irradiadora de
princípios.

Daí poderia concluir que hoje, na chamada pós-modernidade, estamos na era de


acreditar que o direito natural vem manifestado nos princípios que permeiam toda a
Constituição Brasileira.

CLASSIFICAÇÃO DA JUSTIÇA

Justiça Distributiva: Estado - repartição dos bens e dos encargos aos membros da
sociedade – critério igualdade proporcional ao grau de necessidade da pessoa.

Justiça Comutativa: Particulares – critério da igualdade quantitativa – correspondência


entre o quinhão de quem recebe com o de quem dá.

Justiça Distributiva - Esta espécie apresenta o Estado como agente, a quem compete
a repartição dos bens e dos encargos aos membros da sociedade. Ao ministrar ensino
gratuito, prestar assistência médico-hospitalar, efetuar doação à entidade cultural ou
beneficente, o Estado desenvolve a justiça distributiva.

Orienta-se de acordo com a igualdade proporcional, aplicada aos diferentes graus de


necessidade.

A justiça penal inclui-se nesta espécie, pois o Estado participa da relação jurídica e
impõe penalidades aos autores de delitos.

Justiça Comutativa - a forma de justiça que preside às relações de troca entre os


particulares. O critério que adota é o da igualdade quantitativa, para que haja
correspondência entre o quinhão que uma parte dá e o que recebe.

Abrange as relações de coordenação e o seu âmbito é o do Direito Privado. Manifesta-


se principalmente nos contratos de compra e venda, em que o comprador paga o
preço equivalente ao objeto recebido.

Justiça Geral – ou legal. Geralmente imposta por lei. Consiste na contribuição dos
membros da comunidade para o bem comum. Os indivíduos colaboram na medida de
suas possibilidades, pagando impostos, prestando o serviço militar etc. Ex: CPMF –
imposto, a princípio criado para saúde.

Justiça Social – binômio: capacidade/necessidade. A finalidade da justiça social


consiste na proteção aos mais pobres e aos desamparados, mediante a adoção de
critérios que favoreçam uma repartição mais equilibrada das riquezas. EX: IPTU
diferenciado para determinados bairros; IPVA de carros. Em contrapartida: bolsa
família, escola, gás, pré-natal.

A justiça social observa os princípios da igualdade proporcional e considera a


necessidade de uns e a capacidade de contribuição de outros.

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