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COMO 2 E 2 SÃO 5

Centro Universitário UNDB


Hermenêutica e história do pensamento jurídico – UNDB
Jorge Alberto Mendes Serejo
O QUE É HERMENÊUTICA
JURÍDICA?
DIREITO NATURAL
 Antes das leis escritas gerais e abstratas havia regras naturais
 Onde há sociedade há conflito
 Como explicar o fundamento das regras?
 Tragédia grega – Antígona (Sófocles – 442 a. C)
 Confronto dualismo jurídico – Direito positivo (Creonte) x Direito Natural (Antígona)
 Justiça e Direito Natural

“Sim, pois não foi decisão de Zeus; e a Justiça, a deusa que habita com divindades
subterrâneas, jamais estabeleceu tal decreto entre os humanos; tampouco acredito que tua
proclamação tenha legitimidade para conferir a um mortal o poder de infringir as leis divinas,
nunca escritas, porém irrevogáveis; não existem a partir de ontem, ou de hoje; são eternas sim!
E ninguém pode dizer quando vigoram!”.
DIREITO NATURAL
 Normas e princípios morais que antecedem as leis (norma superior e preexistente) - (Bobbio, 2006,
p. 17)
 Inerentes e imutáveis ao ser humano – imanentismo
 Universais – existem em toda parte (pantachoû) – Aristóteles . Ex: fogo
 Ideal de Justiça
 Consagrados ou não na legislação
 Valor que não depende de juízo de valor
 Bondade objetiva (ações boas ou más em si mesmas)
 As primeiras manifestações surgem na Grécia Antiga
 O Direito positivo precisa de uma fonte de legitimação (validade) => direito natural (duplicidade
normativa)
 Em caso de contradição prevalece do direito natural
 Jus gentium x jus civile (Romanos)
DIREITO NATURAL
 Normas e princípios morais que antecedem as leis (norma superior e preexistente) - (Bobbio,
2006, p. 17)
 Inerentes e imutáveis ao ser humano – imanentismo
 Universais – existem em toda parte (pantachoû) – Aristóteles . Ex: fogo
 Ideal de Justiça
 Consagrados ou não na legislação
 Valor que não depende de juízo de valor
 Bondade objetiva (ações boas ou más em si mesmas)
 As primeiras manifestações surgem na Grécia Antiga
 O Direito positivo precisa de uma fonte de legitimação (validade) => direito natural
(duplicidade normativa)
 Em caso de contradição prevalece do direito natural
JUSNATURALISMO COSMOLÓGICO
 O que é o justo?
 Direitos naturais corresponderiam à dinâmica do próprio universo, refletindo as leis eternas e imutáveis que regem o
funcionamento do cosmos.
 Aquilo que vem da natureza (universo)
 Leis da natureza (phýsis) x Leis convencionais (nómos)
 Pré-socráticos (séc. V a. C) – cosmologia, natureza, religiosidade
 Sofistas (séc. V a.C) – Protágoras: “o homem é a medida de todas as coisas – ruptura com as tradições homéricas e
sacerdotais que dominavam o espírito grego – o homem é colocado no centro das questões da época.
 Nem Thémis, nem Diké dão origem às leis humanas – o ser humano não é capaz de compreender a natureza das
coisas
 Conteúdo das leis?
 Nomos (atos humanos e racionais) contrariaria a ordem natural das coisas
 Trasímaco: a justiça é a vantagem para aquele que domina e não para a aquele que é dominado.
 A lei e também a justiça são relativas
 SÓCRATES (linguagem) - natureza x convenção - physis x thésis
- Conhecimento no interior do homem

- Cultivo da virtude, controle da paixões, leva à felicidade


- Nomos – artifício humano e não da natureza, ou seja, possuem um conteúdo incontornável, independentemente de serem justas ou
injustas
- Lei como instrumento humano de coesão social
- Em Sócrates o juízo moral não poderia derrogar leis políticas
- Prudência como virtude fundamental para a vida em sociedade

 PLATÃO:
- Corpo x alma

- As leis dos homens devem observar o engendramento da natureza para serem construídas – princípios transcendentes
- A finalidade das leis é a educação na virtude (controle, equilíbrio proporcionalidade)

- A justiça não pode ser tratada unicamente do ponto de vista humano, terreno, transitório, pois é questão de metafísica

 ARISTÓTELES

- Justiça como virtude, tal como a coragem, a temprerança , a liberdade


- Virtude de observância da lei (legítimo/0 com a finalidade do bem comum

- Cap. VII, livro V, Ética a Nicômaco


“Da justiça civil uma parte é de origem natural, outra se funda na lei. Natural é aquela justiça que mantém em toda parte o mesmo
efeito e não depende do fato de que pareça boa a alguém ou não; fundada na lei é aquela, ao contrário, de que não importa se suas
origens são estas ou aquelas, mas sim como é, depois de estabeleceida”
JUSNATURALISMO TEOLÓGICO
 Doutrina jusfilosófica na Idade Média, sob a decisiva influência do cristianismo
 a justiça humana é identificada como uma justiça transitória e sujeita ao poder temporal.
 Os fundamentos do direito natural eram a inteligência e a vontade divina, pela vigência do
credo religioso e o predomínio da fé.
 As demais normas, construídas pelos legisladores, seriam aplicações destes princípios às
contingências da vida, p. ex. , do princípio jusnatural de que o homem não deve lesar o
próximo, decorreria a norma positivada que veda os atos ilícitos.
 O direito positivo deveria estar em consonância com as exigências perenes e imutáveis da
divindade
 Patrísticos e escolásticos
 Santo Agostinho
 civitas terrena x civitas caelestis
 Deve-se procurar o estabelecimento da cidade celeste (submissão do Estado à Igreja
 lex aeterna x lex naturalis
 Deus é o autor da lei eterna
 A lei natural é a manifestação da lei eterna no coração humanos (lei íntima)
 A lei humana deve derivar da lei natural, do contrário não será autêntica. Preceito humano
injusto não é a lei.
 A lei humana tem por fim o governo dos homens, manter a paz entre eles. Enquanto a lei
eterna e a natural se referem ao campo da moralidade.
 Justiça é a tendência da alma de dar a cada um o que é seu.
 Santo Tomás de Aquino
 Fé e razão são diferentes caminhos que levam ao verdadeiro conhecimento
 A Justiça ser vista como uma virtude geral, uma vez que, tendo por objeto o bem comum,
ordena a este os atos das outras virtudes.
 Como cabe à lei ordenar para o bem comum, tal justiça é chamada de justiça legal.
 Diversidade de leis: a lei divina revelada ao homem, a lei humana, a lei eterna e a lei natural
 A lei eterna é a razão oriunda do divino que coordena todo o universo. Regula a ordem
cósmica (céu, estrelas, constelações etc)
 A lei natural é o reflexo da lei eterna (divina) existente no homem (lei humana)
JUSNATURALISMO RACIONAL
 “Revolução copernicana no direito”
 GRÓCIO: “O direito natural existia mesmo que Deus não existisse, ou ainda que Deus não
cuidasse das coisas humanas”
 Delft (Holanda): comércio
 Não há possibilidade de sanção religiosa, os ditames da razão são o que a natureza humana e a
natureza das coisas ordenam.
 Regras invariáveis e método dedutivo = > reta razão
 Declarações de direitos (direito internacional)
 Todas as relações entre indivíduos, Estados se dão a partir da ideia de contrato “pacta sunt
servanda”
 PUFENDORF
 O estabelecimento de sociedades e de governos soberanos era absolutamente necessário para a
garantia da ordem, da tranquilidade e da conservação do gênero humano, porém, há um elemento
divino.
 Reta razão mas não em Deus: o criador é também considerado criador das sociedade políticas e da
soberania
 Imutabilidade do direito natural
 LOCKE
 Não há leis inatas, o que há são leis naturais que estão para serem descobertas através da razão
 Estado da natureza é um estado de paz => contrato (terceiro) => o problema é a falta de um juiz
imparcial para julgar as controvérsias
 Estado civil e estado da natureza coexistem, só que o Estado civil serve para garantir a vigência e
proteção dos direitos naturais, que no estado de natureza estão desprotegidos
 Propriedade (passagem da posse originária comum para a privada individual): ocorre no estado de
natureza.
 Família (sociedade natural) vem antes da sociedade política mas antes da propriedade individual
 Oposição legítima do cidadãos a sociedade que corrompe os direitos naturais
 HOBBES
 O estado da natureza propicia o amplo uso da liberdade a ponto de se levar a barbárie
 Não há controle racional como em Locke
 O estado da natureza é estado de guerra de uns contra outros (homo monini lupus)
 A igualdade é o grande mal que leva os homens a provocarem danos uns sobre os outros
 Estado como artifício humana para o aperfeiçoamento da natureza e a superação do estado da
natureza
 Estado como pacto para a vida civil, em busca da paz
 Jusnaturalismo é obedecer às leis emanadas pelo soberano
CRÍTICAS
 Falta de clareza em razão da polissemia do que é natural
 Falta elementos centrais do direito: coação e suporte estatal
 Relatividade do direito natural
DIREITO POSITIVO
 Estabelecido em comunidades singulares (civitas) em que é posto (criado pelos seres humanos)
 Decorre da vontade do legislador (social ou Estatal)
 O conceito de direito positivo não deve ser limitado ao direito escrito nem ao legislado, pois são igualmente
positivos os costumes e os contratos, pois ambos são formas de criação histórica do direito, a partir do
exercício do poder normativo social.
 Tempo e lugar determinados: variação em cada período histórico (mutabilidade) mas sempre vinculante
 Monismo jurídico à ordem estabelecida
 As sociedades contemporâneas são politicamente organizadas na forma de Estados (direito positivo ≠ direito
do Estado)
 Segurança e certeza: legal x ilegal
 Antes de serem reguladas as ações podem ser cumpridas, mas uma vez reguladas devem ser cumpridas
(correto e necessário)
 Aristóteles: “antes da existência de uma lei ritual é indiferente sacrificar a uma divindade uma ovelha ou
duas cabras; mas uma vez existente uma lei que ordena sacrificar uma ovelha, isto se torna obrigatório,
sendo correto sacrificar uma ovelha e não duas cabras não porque esta ação seja boa, mas porque existe
uma lei que dispõe desta maneira” .
 Validade e procedimento
 A própria ordem existente que estabelece os critérios da sua validade
AFIRMAÇÃO HISTÓRICA DO
POSITIVISMO JURÍDICO
 O positivismo jurídico não deriva do Positivismo filosófico (Bobbio)* (Obs: posição L.R. Barroso)
 Nasce do confronto com direito natural, cuja conceituação já havia na Grécia Antiga (physis x thésis)
 Romanos: jus civile (posto pelo povo) x jus gentium (posto ´pela natureza)
 Expressão direito positivo se consolida na idade média
 “Processo de monopolização da produção jurídica” (Bobbio)
 Precedente: compilação de Justiniano (direito posto pelo imperador – Estado)
 Conflito entre o direito comum x direito estatal (Inglaterra)
 Absorção do direito comum pelo direito do Estado
 A codificação moderna marca a história do positivismo jurídico propriamente dito
 Hobbes e o Estado. Superação das guerras religiosas.
 Formalismo
 Imperativismo
 Do absolutismo ao liberalismo
 Separação dos poderes
 Da arbitrariedade dos juízes (la bouche de la loi)
 Representatividades dos legisladores (a lei como expressão da razão)
 Emprego da lógica formal, pretensão de completude racionalidade e neutralidade
 Direito = Lei
CRITÉRIOS DE DISTINÇÃO: BOBBIO
 Universalidade x particularidade (tempo e espaço) – (Bobbio, 2006, p. 19/23)
 Imutabilidade* x mutabilidade
 Fonte natural x fonte popular (convencional)
 Conhecimento através da razão (moderno) x Declaração de vontade alheia (promulgação)
 Comportamentos bons ou maus em si x comportamentos indiferentes (justo é o ordenado)
 Bom (critério moral) x útil (critério econômico ou utilitário)
CRÍTICAS
 Margem de interpretação mais estreita
 Afastamento da noção de justiça
PÓS-POSITIVISMO JURÍDICO
 Antecedentes:

- Positivismo => ciência jurídica objetiva (teoria do direito)=> apartamento do direito da moral
-Direito positivo (juízos de fato), não juízos de valor
-Estatalidade do direito
-Completude do ordenamento (inexistência de lacunas)
-Formalismo
-Ideologia do direito que foi usado como disfarce para o autoritarismo
-O Direito já não cabia mais no positivismo jurídico
PÓS-POSITIVISMO JURÍDICO
 Obra do constitucionalismo moderno (virada kantiana)
 Dignidade
 Razoabilidade
 Solidariedade
 Os princípios morais, religiosos, filosóficos e justnatulistas permeiam o imaginário do Direito
direta ou indiretamente
 Normatividade aos princípios enunciados em textos positivos, sendo tarefa dos intérpretes
realizá-lo.
-Condensar valores
-Conferir unidade ao sistema
-Condicionar a atividade do intérprete
 Distinção qualitativa entre regras e princípios (Alexy, Dworkin)
EMPIRISMO EXEGÉTICO
 ESCOLA DA EXEGESE
(FRANÇA)/PANDECTISMO(ALEMANHA)/JURISPRUDÊNCIA ANALÍTICA
(INGLATERRA)
- Surgimento após o advento do Código Civil de Napoleão, em 1804.
-A totalidade do direito positivo se identifica com a lei escrita (a única fonte do direito é a lei)
-A função do jurista é ater-se ao texto legal e revelar o seu sentido
-Não negou o direito natural (racional), de modo que os códigos eram a expressão do direito natural.
-Admitia-se a interpretação histórica (as circunstâncias que antecedem a lei) e a intepretação lógico-
sistemática (descobrir o sentido da lei, tendo por base o lugar que ela ocupa dentro do ordenamento).
-A função do intérprete e do julgador era uma função mecânica de lógica dedutiva.
-A ciência do Direito limita-se ao estudo da lei positiva.
-Tal concepção também foi adotada nos países do common law, mas a função judicial era descobrir e
não criar um direito novo.
CRÍTICAS À EXEGESE
 UTILITARISMO (JEREMY BENTHAM)
-Crítica ao uso do método dedutivo na aplicação e na interpretação do direito
-Não se deve a partir de princípios abstratos extrair por meio de inferências consequências
lógicas. Deve-se interpretar as normas pelos seus efeitos reais.
-São justas as normas que produzem bons efeitos, sendo o critério a utilidade, bom é o que
produz prazer, maus é o que causa dor.
-Deve-se promover um cálculo utilidade x prejuízo social.
-A função da ciência do Direito é determinar no conjunto dos interesses (lícitos) da sociedade
quais os interesses mais valiosos, o que deve ser levado em conta.
 TELEOLOGISMO DE IHERING
-Crítica ao abstracionismo dos conceitos jurídicos e ao emprego do método dedutivo-
silogístico
-A finalidade do direito é a paz, logo, deve-se interpretar as normas jurídicas de acordo com os
fins por elas visados, no caso concreto.
-A norma jurídica não é um fim em si mesma, mas um meio para a garantia da existência da
sociedade.
-É necessário conhecer as condições gerais da vida: (a) extrajurídicas, relativas ao meio físico
que impõem condicionamentos; (b) mistas, conservação da vida, ao trabalho, relações sociai;
(c) jurídicas, dependentes exclusivamente do direito
-“Não há norma jurídica que não deva a sua criação a um fim, a um propósito, a um motivo
prático”.
 SOCIOLOGISMO NORTE-AMERICANO (HOLMES)
-A dedução silogística mecânica não é a única força operante para o desenvolvimento do
direito, mas sim a experiência, as necessidades de cada época, as teorias morais e políticas
predominantes, as instituições que orientaram a ação política.
-A norma jurídica deve se apresentar de forma lógica, mas por trás dessa norma há sempre
conflitos de interesses sociais.
-Há uma razão chamada de “bom sentido”, sendo o direito resultante da tensão entre a lógica e
o bom sentido.
-Com Holmes, considera-se a conduta do julgado fundamental, não por conta do psicologismo,
mas porque a experiência é decisiva na criação do direito.
 JURISPRUDÊNCIA SOCIOLÓGICA NORTE-AMERICANA
-O common law era um ordem jurídica inadequada para solucionar de modo justo os
problemas surgidos com os novos tempos.
-Por isso era necessário uma análise compreensiva da realidade atual , que seria a base para a
formulação de normas gerais e individuais inspiradas em um critério de justiça.
-BENJAMIN CARDOZO: propõe 4 métodos: (a) método lógico ou dedutivo, porém, a
coerência logica da sentença não é o mais importante, o mais importante é a ideia de justiça;
(b) método histórico, é preciso conhecer os motivos históricos, as circunstâncias que
justificam a existência da lei ou das instituições; (c) convicções gerais vigentes, diante da
ausência de norma expressa; (d) ideia de justiça e bem estar, como mecanismo para a
individualização do direito.
-ROSCOE POUND: o direito se situa no mundo das ações concretas tendendo à efetiva
realidade social. O jurista deve “construir” o direito em atenção às normas, doutrinas,
instituições, desejos e aspirações sociais, portanto, adequando a decisão: (a) interesses do
Estado (públicos); (b) interesses privados (vida, integridade, liberdade etc); (c) interesses
sociais (paz, segurança geral etc).
 LIVRE INVESTIGAÇÃO (FRANÇOIS GENY)
-A lei não é obrigatoriamente a expressão de um princípio lógico-racional imposto pela razão,
mas uma manifestação de vontade do legislador, que nem sempre a expressa de forma
racional.
-Deve-se buscar a vontade do legislador, pis a experiência mostra que a lei escrita é
insuficiente para solucionar problemas suscitados pelas relações sociais.
-Na ausência de norma, o intérprete deve usar: (a) costume; (b) autoridade e tradição; (c) livre
investigação.
-Livre, pois não se submete a uma autoridade positiva
-Científica, pois confere base sólidas ao entendimento do direito
-Princípios da livre investigação: (a) autonomia da vontade do intérprete; (b) ordem e do
interesse público; (c) justo equilíbrio e harmonização dos interesses.
-A ação do jurista se dá entre o dado (realidade subjacente, moral, costume, economia, história
etc) e construído (formas jurídicas, instituições, agentes etc)
 ESCOLA DO DIREITO LIVRE (KANTOROWICZ)
-O direito brota espontaneamente dos grupos socias
-O direito livre não é o direito estatal (lei), mas aquele constituído pelas convicções
predominantes que regulam o comportamento em um tempo e espaço sobre o que é
considerado justo.
-Não é possível conceber o direito como um conceito abstrato com um lei ou uma
jurisprudência de conceitos, porque ele se funda em realidades concretas.
-O juiz deve ouvir o sentimento da comunidade, não podendo decidir apenas com base no
direito estatal
-A interpretação deve seguir 4 diretrizes: (a) se o texto legal é unívoco e não fere os
sentimentos da comunidade deve-se aplicá-lo; (b) se o texto legal não oferece uma solução
pacífica ou se conduz a uma decisão injusta, o magistrado deve decidir conforme o legislador
o faria se tivesse pensado naquele caso; (c) se o magistrado não puder formar sua convicção
sobre como o legislador resolveria o caso concreto ele deve se inspirar o sentimento da
coletividade (direito livre); (d) se não encontrar esse sentimento, deve decidir de forma
discricionária.
-Da mesma forma a jurisprudência não pode se fundar apenas no direito estatal.
 CULTURALISMO JURÍDICO
-O direito é um objeto criado pelo ser humano, dotado de sentido valorativo, portanto,
pertencente ao domínio d a cultura.
-A ciência do direito é uma ciência cultural que estuda o direito com objeto cultural, ou seja,
como uma realização do espírito humano. Nesse sentido há que se destacar o conteúdo
sociológico conforme a problemática social de cada tempo.
- EGOLOGISMO (COSSIO)
-Fenomenologia e existencialismo
-A ciência do direito deve estudar a conduta humana, a sua dimensão social, e não a norma
jurídica.
-O direito é um objeto cultural egológico, isto é, há uma interferência subjetiva dos valores. O
jurista deve apreender o sentido e significado não a partir dos fatos, mas do sujeito
cognoscente. A ciência do direito possui três perspectivas: (a) dogmática, do empirismo
científico (dado normativo x experiência do legislador). Ex: maioridade 18 anos; (b) lógica
prática, legalidade do pensamento do jurista (dever-ser); (c) estimativa jurídica, busca o
sentido na própria vivência., enquanto sujeito cognoscente (não é arbitrário)
TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO
 Direito na dimensão ôntica da cultura (fenômeno histórico-cultural/compreensivo-normativo)
 Elemento normativo que disciplina comportamentos, que pressupõe uma situação de fato,
referido a determinados valores
 Tridimensionalismo dinâmico, concreto e dialético (dialética da implicação ou polaridade)
 Norma jurídica como modelo de estrutura tridimensional
 Onde há fenômeno jurídico há fato subjacente, uma valor que significa esse fato e uma regra
que representa essa relação
 Se F (fato) é, deve ser P (prestação)
 Se não for P (prestação), deverá ser S (sanção)
 Ex: pagamento de título de crédito – fato econômico que se liga a valor de crédito, cuja
expressão se estabelece com base em um dever ser.
 Validade

EXPERIÊNCIA => NOTA DOMINANTE => CONCEPÇÕES UNILATERAIS


FATO => EFICÁCIA => SOCIOLOGISMO
VALOR => FUNDAMENTO => JUSTIÇA
NORMA => VIGÊNCIA => NORMATIVISMO JURÍDICO
NORMATIVISMO KELSENIANO
TEORIA DOS CÍRCULOS INDEPENDENTES (KELSEN)

DIREITO MORAL
CASUÍSTICA
 CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS
 Inspirado em dois casos reais: US vs. Holmes (1842) e Regina vs. Dudley e Stephens (1884), sobre
naufrágios seguidos de homicídio e canibalismo.
 5 espeleólogos exploravam uma caverna de rocha calcária quando aconteceram deslizamentos de
terra que bloquearam a saída. Eles permaneceram presos por muito tempo devido à dificuldade do
resgate e por novos desmoronamentos que resultou na morte de dez operários que trabalhavam na
operação de salvar aquelas pessoas. Mantendo contato com a equipe de resgate através de um rádio,
os exploradores receberam a notícia que devido os empecilhos do resgate, seria preciso mais dez dias
para concluir tal missão, com suprimentos escassos, a chance de sobrevivência deles era mínima.
Então Roger Whetmore, um dos exploradores, perguntou ao médico responsável que se comendo
carne humana haveria chance de sobrevivência, e a resposta foi que provavelmente sim, então se
voltaram às autoridades religiosas, políticas e médicas, mas ninguém aceitou tomar uma decisão.
Whetmore, então, propôs que jogassem os dados, e a pessoa que perdesse seria morta e comida
pelos outros, mas pediu que esperassem mais uma semana para fazerem o sorteio, porém seus
colegas não aceitaram, então jogaram os dados e Whetmore foi morto e comido pelos seus parceiros.
Após serem resgatados e levados ao hospital para tratarem de desnutrição e recuperarem
psicologicamente do trauma eles foram indiciados por crime de homicídio pela morte de Roger
Whetmore e condenados em primeira instância, o júri decidiu que eles deveriam ser condenados com
pena de morte pela forca. Após o encerramento do julgamento, o júri enviou uma petição ao Poder
Executivo pedindo que modificasse a pena para seis meses de reclusão.
COMO DECIDIRAM OS JUÍZES
NO 2º GRAU?
1) JUIZ FOSTER: eles eram inocentes, já que quando os réus mataram Whetmore eles
estavam num “estado de natureza” então a lei que deveria ser aplicada não seria a lei
positivada, mas sim a que adequasse à situação do caso.
2) JUIZ TATTING: se mostra numa controvérsia, por um lado os acusa e por outro demostra
empatia pelos réus, e questiona Foster sobre essas “leis da natureza” e quando elas
começaram a valer, se foi antes ou depois de Whetmore foi morto. Recusa-se a participar do
julgamento.
3) JUIZ KEEN: os exploradores já haviam sofrido muito e que deveriam ser absolvidos,
porém, vota a favor da condenação dos réus, pois deveriam ser julgados de acordo com o
que era descrito pela lei.
4) JUIZ HANDY: votou a favor da inocência dos réus baseando-se numa pesquisa feita pela
população onde noventa por cento votava a favor da absolvição, e a opinião pública deveria
ser levada em consideração já que o caso repercutiu no país e no exterior.
MÉTODOS DE
INTERPRETAÇÃO
 LITERAL OU GRAMATICAL:
-Parte­-se do pressuposto de que a ordem das palavras e o modo como elas estão conectadas são
importantes para obter­-se o correto significado da norma.
-Ao valer-­se da língua natural, o legislador está sujeito a equivocidades que, por não existi­rem nessas
línguas regras de rigor (como na ciência), produzem perplexidades.
-Ex1: "a investigação de um delito que ocorreu num país estrangeiro não deve levar­se em
consideração pelo juiz brasileiro“ => o pronome que não deixa claro se se reporta a investigação
ou a delito.
-Ex2:"o exame da mercadoria, quando indispensável para a confecção do produto, deverá ocorrer à
vista do fornecedor“ => como o adjetivo indispensável não flexiona, pode­se ficar na dúvida sobre
se a condição da indispensabilidade refere-­se a exame ou a mercadoria.
-Por exemplo, se a norma em tela é cláusula de um contrato, aparecem regras como a que
recomenda que se veja antes a intenção dos contraentes e não a letra da prescrição, que se
observe a própria conduta dos contraentes, ou seja, o modo como estavam executando o
pactuado, que, na dúvida, interprete­se em favor de quem se obriga e não de quem obriga o outro etc.
 Um exemplo clássico deu-se quando Rui Barbosa recebeu uma condecoração
estrangeira. Seus adversários alegaram que ele deveria perder seus direitos
políticos, conforme disposição da Constituição de 1891:
 “os que aceitarem condecorações ou títulos nobiliárquicos estrangeiros
perderão todos os direitos políticos”.
 A defesa do jurista recorreu ao método gramatical, demonstrando que o
adjetivo nobiliárquicos refere-se não apenas a títulos, mas também a
condecorações. Ele estaria, assim, proibido de aceitar condecoração
nobiliárquica estrangeira e não uma condecoração simples, como a que
aceitara.
 INTERPRETAÇÃO LÓGICA

 Instrumento técnico, inicialmente a ser­viço da identificação de inconsistências. Parte­-se do pressuposto de


que a conexão de uma expressão normativa com as demais do contexto é importante para a obtenção
do significado correto.
-Consiste em procurar descobrir o sentido e o alcance de expressões do Direito sem o auxílio de nenhum
elemento exterior, com aplicar ao dispositivo em apreço um conjunto de regras tradicionais e precisas,
tomadas de empréstimo à Lógica legal. Pretende do simples estudo das normas em si, ou em conjunto, por
meio do raciocínio dedutivo, obter a interpretação correta”.
-Ex: Art. 155, §3º CF

-§ 3º À exceção dos impostos de que tratam o inciso II do caput deste artigo (ICMS) e o art. 153,
I (IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO) e II (IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO) , nenhum outro imposto
poderá incidir sobre operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações,
derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País. => nenhum outro tributo
 Art. 146, III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente
sobre:
 a) definição de tributos

 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
 I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
 INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA

- Diferentemente de todos os métodos de interpretação analisados até agora, a interpretação


teleológica concentra suas preocupações no fim a que a norma se dirige. Nesta, o intérprete deve
levar em consideração valores como a exigência do bem comum, o ideal de justiça, a ética, a
liberdade, a igualdade, etc.

- Ex: Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.
 INTEPRETAÇÃO HISTÓRICA
 O reconhecimento dessa técnica de interpretação deixa transparecer que o direito é dinâmico e
a norma não deve ficar estática no tempo. É mutável e por isso sofre as influências das
transformações da sociedade. Vemos, portanto, que nessa modalidade o intérprete busca
descobrir a vontade atual da lei e não a vontade pretérita do legislador, vontade que deve
sempre corresponder às necessidades e condições sociais.
 Análise dos fatos históricos que antecederam a norma, bem como de todo o processo
legislativo de sua criação. Assim, verifica-se o contexto histórico do surgimento da norma, a
proposta legislativa que a originou, as emendas apresentadas, os vetos, as razões do veto, etc.
A interpretação histórica realiza “averiguação da origem do texto a ser interpretado, desde os
projetos de lei e votações”.
 INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA:
-Analisa a norma levando em consideração o sistema em que ela está inserida. Assim, verifica-
se a Lei, o capítulo, o título, o conjunto normativo (ex: direito civil ou penal), as disposições
constitucionais, etc.
-A interpretação sistemática parte do pressuposto “de que a lei não existe isoladamente,
devendo ser alcançado o seu sentido em consonância com a demais normas que inspiram
aquele ramo do Direito.
-EX: ADI 4277
-Art. 226, § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre
o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento.
-Art. 5º, I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;
-Aart. 1º III - a dignidade da pessoa humana; V - o pluralismo político.

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