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TEMA: AS NORMAS JURÍDICAS

SUMÁRIOS: Conceito, estrutura, características, classificação,


sanções.

1. CONCEITO

O Direito ou a ordem jurídica, se expressa através de normas jurídicas, regras de


conduta social gerais, abstractas e imperativas, adoptadas e impostas de forma
coerciva pelo Estado, através de órgãos ou autoridades competentes.

2. CARACTERÍSTICAS DA NORMA JURÍDICA

A partir da própria definição, podem ser extraídas as características mais marcantes


da norma jurídica, que abaixo seguem:

a) Generalidade: a norma jurídica se aplica a todas as pessoas em geral. As


normas jurídicas são válidas para todos e a todos obrigam de igual forma,
resultado do princípio da igualdade estabelecido no artigo 23.º da Constituição
da República de Angola, que estabelece que “todos os cidadãos são iguais
perante a Constituição e a lei.

Ainda que a norma tenha como destinatária uma determinada categoria de


pessoas, continuará a ser geral, pois elas não se destinam a pessoa em
particular, que a determinado momento, exerce um certo ofício. É o caso, por
exemplo, das normas que definem as competências do Presidente da República
(vide artigos 119.º a 124.º da Constituição da República de Angola).

b) Abstracção: as normas jurídicas aplicam-se a um número abstracto de


situações, a situações hipotéticas em que poderão enquadrar-se as condutas
sociais e não a um indivíduo ou facto concreto da vida social.

c) Imperatividade: as normas jurídicas estabelecem um comando, uma ordem.


Por isso elas são de cumprimento obrigatório, indicando ao indivíduo as
condutas que são permitidas e as que são proibidas

d) Coercibilidade: a observância das normas jurídicas pode ser imposta mediante


o emprego de meios coercivos (ou da força) pelos órgãos estaduais competentes,
em caso de não cumprimento voluntário. Em consequência, o Estado pode
aplicar sanções aos incumpridores das normas jurídicas.
3. CLASSIFICAÇÃO

Vários autores definiram ao longo dos seus estudos muitos critérios para
classificação das normas jurídicas, das quais analisaremos dois, a saber:

3. 1. Quanto à sua relação com vontade das partes

3.1.1. Normas imperativas – a sua aplicação ou observância não dependem da


vontade das pessoas. Estas normas exigem que o seu destinatário adopte uma
conduta positiva ou negativa.

3.1.2. Normas permissivas – permitem ou autorizam certos comportamentos em


função do interesse ou da vontade da pessoa.

3.2. Quanto ao âmbito pessoal de validade

3.2.1. Normas gerais – estabelecem o regime-regra aplicável às relações jurídicas


por si reguladas. Temos como exemplo os artigos 219.º (liberdade de forma nos
negócios jurídicos) e 309.º (prazo ordinário de prescrição), ambos do Código Civil.

3.2.2. Normas especiais – consagram uma regulamentação nova ou diferente para


uma categoria específica de pessoas, coisas ou relações, mas que não se opõem
directamente às normas gerais. É o caso das normas que regulam as relações entre
comerciantes e as relações laborais, ou seja, as normas do Código Comercial, da Lei
das Sociedades Comercias e da Lei Geral do Trabalho).

3.2.3. Normas excepcionais – estabelecem um regime oposto do regime-regra, para


uma área restrita da vida social. Nesta ordem de ideias, são normas excepcionais os
artigos 875.º (forma para venda de bens imóveis) e 310.º (prazos de prescrição de
cinco anos), ambos do Código Civil.

3.3. Quanto ao âmbito espacial de validade

3.3.1. Normas nacionais – aplicam-se em todo o território nacional. São as normas


contidas na Constituição e na maior parte das leis e decretos.

3.3.2. Normas regionais – aplicam-se apenas em determinadas regiões, que podem


ser afectar duas ou mais circunscrições administrativas (municípios e províncias).

3.3.3. Normas locais – aplicam-se apenas no território de uma província, município,


autarquia local, distrito, comuna, etc.
3. ESTRUTURA DA NORMA JURÍDICA

A norma jurídica tem uma estrutura interna constituída, amiúde, por dois
elementos, a saber:

a) Previsão: a norma jurídica regula situações ou casos hipotéticos e típicos da


vida, que se espera que venham a acontecer (previsíveis), isto é, contém, em si
mesma, a representação da situação de facto futura;

b) Estatuição: a norma jurídica impõe uma conduta a adoptar quando se


verifique, no caso concreto, a previsão da norma ou, a prescrição dos efeitos
jurídicos no caso de a situação prevista se verificar.

Exemplo: “Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber a
quem pertence, deve restituir o animal ou a coisa a seu dono, ou avisar este do
achado;…” (artigo 1323.ª, n.º 1 do Código Civil).

No exemplo apresentado temos:


 Previsão: “Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber a
quem pertence…”
 Estatuição: “deve restituir o animal ou a coisa a seu dono, ou avisar este do
achado;…”

Nem sempre (e, porventura, raramente) encontramos, na estrutura de uma norma


jurídica, simultaneamente, os dois elementos referidos, que podem apresentar-se de
forma dispersa em diferentes normas do mesmo diploma legal ou mesmo de distintos
diplomas legais.

4. AS SANÇÕES JURÍDICAS

A inobservância das normas jurídicas implica a adopção de sanções, que podem ser
aplicadas coercivamente pelo Estado.

A sanção, do ponto de vista social, é a aplicação de algum tipo de pena ou castigo a


um indivíduo diante de um determinado comportamento considerado inapropriado,
perigoso ou ilegal.

Num sentido lacto, a sanção jurídica corresponde às medidas que um ordenamento


normativo dispõe com o escopo de reforçar o respeito às suas leis e, em alguns casos,
remediar os efeitos de uma possível inobservância. Em outras palavras, a sanção
jurídica é uma consequência jurídica estatuída numa norma.

Assim, em função dos diferentes tipos de normas, podemos enumerar, entre outras,
as seguintes sanções:
4.1. Sanções Reconstitutivas: com esta espécie de sanções pretende-se
satisfazer especificamente o interesse do lesado com a violação da norma. Tal
interesse pode ser atingido por um dos seguintes meios:

 restabelecendo a situação que existiria se não tivesse havido violação, fazendo


cumprir, embora tardiamente, a norma violada; ou

 criando uma situação juridicamente igual a que existiria se não tivesse havido
violação.

As sanções reconstitutivas classificam-se em:

a) Reconstituição in natura ou em espécie – repõe-se a situação específica a


que se teria chegado caso a norma, em vez de ter sido violada, tivesse sido
cumprida.
Exemplo: se alguém constrói em terreno alheio, o dono do terreno pode exigir
que a obra seja desfeita (artigo 1341.º do Código Civil).

b) Execução específica – pretende levar o infractor a cumprir a norma, só que


aqui não é o próprio devedor a realizá-la, mas sim outrem, em vez dele - um
Tribunal.
Exemplo: entrega judicial de coisa determinada que o devedor se obrigou a
entregar ao credor (artigo 827.º do Código Civil).

c) Indemnização específica – repõe a situação com um bem que não sendo o que
foi danificado, permite desempenhar a mesma função.
Exemplo: é o caso de alguém que é obrigado a restituir um objecto igual ao que
destruiu.

4.2. Sanções Compensatórias: estabelecem uma situação que, embora diferente,


se considera valorativamente equivalente à situação que existia antes da violação da
norma jurídica. Tal situação obtém-se através da indemnização dos danos causados
a que o transgressor fica obrigado. A indemnização pode cobrir os danos emergentes
e também os lucros cessantes, ou seja, a frustração de um ganho (veja artigo 564.º
do Código Civil), bem como, os danos não patrimoniais (vide artigo 496.º do Código
Civil).

4.3. Sanções Punitivas: têm como função castigar o infractor em virtude da


violação da norma. Trata-se de punições particularmente graves que funcionam
quando valores fundamentais da ordem jurídica são desrespeitados. Estas sanções
podem ser:

a) Sanções civis – são estabelecidas pelo Direito Civil em relação a condutas


indignas ou que a ordem jurídica considera como injustas.
Exemplo: incapacidade sucessória por motivos de indignidade (vide artigo
2034.º do Código Civil).
b) Sanções criminais (ou penais) – são as mais graves porque implicam violações
que a ordem jurídica tipifica como criminosas. Atentam contra os bens jurídicos
considerados essenciais. As penas revestir-se das mais diversas formas: multa,
privação da liberdade, imposição de medidas de segurança, indemnizações
(nalguns casos), etc..

c) Sanções disciplinares – traduzem-se na aplicação de sanções a indivíduos pela


violação de normas que disciplinam a conduta no seio de organizações a que
pertença ou exerça a sua actividade laboral, dependente ou independente.

As penas disciplinares podem ser de mera censura, pecuniárias (multas),


suspensivas (suspensões e inactividade) e expulsivas (aposentação compulsiva e
demissão), além da pena acessória de cessação da comissão de serviço, que
pode aplicar-se a funcionários investidos em cargo dirigente ou equiparado.

d) Contra-ordenacionais (ou administrativas) – são geralmente dimanadas da


Administração Pública e punem, com coimas (vulgo multas), certas condutas
susceptíveis de lesarem interesses fundamentais.

4.4. Sanções Preventivas: visam afastar futuras violações, cujo receio é


justificado pela prática de um determinado acto ilícito.
Exemplo: internamento de inimputáveis, inibição do exercício da tutela a quem
praticou crimes, etc..

4.5. Sanções Compulsórias: destinam-se a actuar sobre o infractor de


determinada norma, por forma a obrigá-lo a adoptar um determinado
comportamento que até ali ele omitiu, ainda que tardiamente.
Exemplo: prisão em que incorre quem não cumprir a sua obrigação de prestar
alimentos, embora esteja em condições de o prestar.

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