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POLÍTICAS PÚBLICAS E PODER

JUDICIÁRIO
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1. SUMÁRIO

1. Introdução...........................................................................................................................................3
2. Direitos Fundamentais........................................................................................................................5
2.1 Estado libera .................................................................................................. 6

2.2 Estado social .................................................................................................. 8

2.3 Estado Democrático ..................................................................................... 12

2.3.1 Estado Democrático no Brasil...............................................................................................15


3. Políticas Públicas................................................................................................................................18
3.1 Legitimidade do judiciário no controle das políticas públicas ........................... 20

3.2 Teoria da escolha pública ................................................................................ 22

4.Considerações finais...........................................................................................................................23
5. Referências Bibliográficas..................................................................................................................25

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1. Introdução

Inicialmente é necessário salientar a distinção entre Estado e governo. O


primeiro, trata-se da federação de um povo, posta em determinado local e que possui
o poder originário de administrar. Já o segundo, trata-se o impulsionamento da vida
pública, ou seja, são as iniciativas tomadas, os regulamentos definidos e aplicados.

Dito isso, as políticas públicas trata-se de ações e programas necessários


para tornar efetivo as providências determinadas pelo poder judiciário que precisam
antes dos atos do Estado.

O Estado possui tanto o lado social, como o jurídico e o político. A política


deve visar a necessidade/possibilidade, os indivíduos/coletividade e por fim
autoridade/liberdade. Além de visar o princípio da supremacia da vontade popular.

Santos (2011, p.14) também disse que é importante mencionar que:

[...] o ato da autoridade pública não é ato político, mas sim ato com
fundamento político; “o ato político não passa de um ato de governo,
praticado discricionariamente por qualquer dos agentes que compõem os
Poderes de Estado”; assim, a “lei é um ato legislativo com fundamento
político; o veto é um ato executivo com fundamento político; a suspensão
condicional da pena é um ato judiciário com fundamento político.

As políticas públicas são as escolhas dos atos do governo cuja finalidade é o


interesse público.

Ao se falar sobre as políticas públicas e o Poder Judiciário, insta salientar que


foi por meio do princípio da separação dos poderes que ficou submetido ao Poder
Judiciário o dever de solucionar lides intersubjetivos, assim como salienta Salles
(2005, p. 39): "segundo o paradigma liberal de Direito e de Estado, ao Judiciário cabe
a solução de conflitos entre sujeitos individuais, não se cogitando, nessa perspectiva,
de qualquer alargamento da função jurisdicional do Estado".

Dessa forma, cabia ao legislador o dever de elaborar o direito em abstrato e


ao administrador o dever de elaborar as políticas públicas competentes a atender as
determinações legais e o ato concreto sobre o interesse público por meio dos atos
administrativos.

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No nosso país, o fato do Estado fazer parte das políticas públicas está
embasado no direito positivo como mecanismo de aplicação de políticas públicas.
Desse modo, o Estado, com base na competência e força atribuída pela Constituição
Federal interfere na realidade através das políticas públicas.

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2. Direitos Fundamentais
DICA:
Vide “Resumo de Gerações dos Direitos Fundamentais” - Direito Legal. Disponível
no link https://direito.legal/direito-publico/direito-constitucional/resumo-de-
geracoes-dos-direitos-fundamentais/

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2.1 Estado libera

O grande desejo são as de mudanças políticas capazes de colocar a nova


classe capitalista estabelecida, em uma posição social de privilégios, mudando-a da
posição de uma classe social menos favorecida e de pouca influência para uma classe
mais favorecida.

Desse modo, foi a partir da Revolução Francesa que se iniciou o Estado


Liberal em 1780, onde as finalidade eram os ideais de liberdade, igualdade e
fraternidade. Então, o Estado Liberal, a base de um regime jurídico-político, dando um
novo escopo às relações sociais, o que colocava a classe burguesa em uma posição
de maior vantagem, em detrimento aos senhores feudais.

Nessa época, os burgueses viviam em um regime absolutista em que a


soberania estatal e o regime social caracterizado pela exploração dos camponeses
pelos senhores feudais, inviabilizava os interesses mantidos pela classe capitalista
recém-inserida no contexto social.

Além de outras coisas, as ideias principais que os revolucionários buscavam


eram a prevalência da igualdade para todos, além da divisão dos poderes, como meio
de promover o equilíbrio entre os três poderes.

Os direitos individuais baseados na liberdade e igualdade, seriam a base para


a criação de um novo Estado que possibilitasse a distribuição de direitos que não
foram criados, mas que sejam reconhecidos pela sociedade.

Desse modo, o conceito de Estado seria mais que um conjunto de pessoas


reunidas em um território, sob a égide de um governo soberano. Para que os
capitalistas pudessem conseguir ministrar os mercado de maneira satisfatória,
precisavam deter maior poder político, que antigamente somente quem era da
nobreza, possuía.

Na era feudal, existe diversas classes sociais e estes possuíam, de modo


confuso, os dispositivos normativos, o que acarretava em insegurança social. Por esse
motivo, se tornou necessário criar uma estrutura de governo estabelecido pela
Constituição, onde fosse possível estabelecer as bases jurídicas do Estado.

A partir daí, a ideia de um Estado de Direito, com base no exercício ativo do

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Poder Legislativo e à supremacia da Constituição onde todas as pessoas teriam


igualdade diante do ordenamento jurídico.

O Poder Legislativo então, passou a possuir um valor inestimável durante este


período. Em razão disso, nota-se que a burguesia passou a representar uma séria
ameaça à hegemonia política da nobreza, uma vez que o objetivo dos capitalistas era
conquistar o poder político.

DICA:
Veja o vídeo Estado Liberal de Direito disponível no link
https://www.youtube.com/watch?v=4hfE3E8Mi74

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2.2 Estado social

Depois de ter se formado o Estado Liberal, o capitalismo se tornou o foco


principal do exercício da função dos detentores de poder. Nessa época a igualdade
adquirida era apenas formal.

Com a Revolução Industrial nasceu a classe de aristocratas, que eram


pessoas que detinham maior aparato social e as melhores condições de vida e
consequentemente impunham aos trabalhadores, condições ruins e miseráveis,
dando início a Revolução Russa em 1917, onde se buscava condições sociais mais
dignas.

Por causa desses movimentos os burgueses e os grandes proprietários


começaram a tomar medidas de cunha satisfativo e direcionados aos operários,
buscando conter os movimentos. Com isso, surgiu o Estado Social, fundamentado na
manutenção dos direitos sociais.

O Estado Social se baseia no “dever-ter” e não no “dever-ser” como era no


Estado Liberal. Desse modo, surgiu a imagem do Estado como intervenção cujo
objetivo é editar políticas públicas para garantir que a sociedade alcance agora um
novo patamar de direitos e garantias sociais.

A partir desse momento, o Estado Social faz com que o Poder Executivo
passe a atuar de modo mais ativo, ao estabelecer políticas públicas. O surgimento
desse Estado Social, fez com que a burguesia visse a necessidade de alterar não só
a definição, mas também a aplicação da igualdade.

Surgiu assim a ideia de igualdade material, que buscava não somente um


tratamento igualitário, mas também isonômico, tratando os desiguais na medida de
suas desigualdade. Desse modo, a igualdade passou a ser medida com base no
contexto fático-social de cada indivíduo.

O Estado do Bem-Estar Social toma por base a aplicação de direitos


subjetivos. Assim, com a assunção e preponderância do Estado de Bem-Estar Social,
nascem os chamados “direitos de segunda geração”, também conhecidos como
“direitos de segunda dimensão”.

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Silva aduz que:

Assim, podemos dizer que os direitos sociais, como dimensão dos direitos
fundamentais do homem, são prestações positivas proporcionadas pelo
Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que
possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem
a realizar a igualização de situações sociais desiguais. São, portanto, direitos
que se ligam ao direito da igualdade. Valem como pressupostos do gozo dos
direitos individuais na medida em que criam condições materiais mais
propícias ao auferimento da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona
condição mais compatível com o exercício efetivo da liberdade. (SILVA, 2012,
p. 288-289).

Percebe-se assim, que a função do Estado é de garantir ao menos um mínimo


de coeficientes materiais que assegurassem aos cidadãos o mínimo existencial para
uma condição boa de vida.

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Figura 1: Estado Liberal x Estado Social

Fonte: (POLITIZE, 2020)

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DICA:
Veja o vídeo Transição do Estado Liberal para o Estado Social - José Luiz Quadros
de Magalhães disponível no link https://www.youtube.com/watch?v=jeLnBtpDmmk

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2.3 Estado Democrático

Como forma de fazer com que a população pudesse participar do


gerenciamento da elaboração e materialização das normas, foi criado o Estado
Democrático de Direito, passando assim, o povo a ter legitimidade ativa sobre a ordem
jurídica e legalismo.

Esse novo modelo é derivado da junção de dois modelos anteriores, sendo


que os direitos individuais e sociais passariam a ser o principal foco político e
normativo vivido até então. Contudo, ainda havia a insuficiência da concretude
material.

A partir desse momento, surge os direitos de terceira dimensão, cujo objetivo


desse novo modelo é a manutenção de direitos, tais como a proteção do meio
ambiente, a autodeterminação dos povos, a fraternidade, e o desenvolvimento. Aqui,
os direitos difusos e coletivos se tornaram autênticos bens jurídicos de proteção
material imprescindível.

Importante ressaltar que os direitos alcançados durante o processo de


evolução dos modelos de Estado, não inibe aqueles já existentes que sofreram
alteração. Com base nessas argumentações, Bonavides (1997) preferia utilizar o
termo “dimensão”, tratando não sobre uma exclusão de direitos ultrapassados, mas
em um grau de abrangência e restrições os valores normativos ao qual se pretende
proteger:

[...] o vocábulo ‘dimensão’ substitui com vantagem lógica e qualitativa o termo


‘geração’, pois, ‘os direitos da primeira geração, direitos individuais, os da
segunda, direitos sociais, e os da terceira, direitos ao desenvolvimento, ao
meio ambiente, à paz e à fraternidade, permanecem eficazes, são infra
estruturais, Formam a pirâmide cujo ápice é o direito à democracia’.
(BONAVIDES, 1997, p. 518-519 apud AMARAL, 2010, p. 37).

A Carta Magna em seu texto, estabeleceu como forma de restrição do Estado


a esfera particular do cidadão. A segurança jurídica e a identidade normativa do
Estado aprofundando no próprio corpo social. Assim, Cléve (1999, p.210 apud
AMARAL, 2010, p.37):

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[...] trata-se de uma ‘viragem paradigmática [que] envolve a ideia de que a


Constituição não existe apenas para limitar a atuação do Poder Público’, mas
uma ‘renovada abordagem constitucional, elaborada a partir da perspectiva
segundo a qual o Estado, sobre sofrer contenção pela norma constitucional,
haverá, igualmente de ter seu papel elastecido para converter-se em aliado
do cidadão’. (CLÈVE, 1999, p. 210 apud AMARAL, 2010, p. 37).

Com o novo modelo de Estado Democrático houve um avanço organizacional


onde se refletia o desenvolvimento da sociedade que antes representava uma casta
de domínio e exploração e agora o poder emana do povo e para o povo. Assim, é
possível observar a ligação entre o princípio da soberania popular e o princípio da
legalidade.

Desse modo, Silva (2012, p.127-128):

Democracia é conceito histórico. Não sendo por si um valor-fim, mas meio e


instrumento de realização de valores essenciais de convivência humana, que
se traduzem basicamente nos direitos fundamentais do homem,
compreende-se que a historicidade destes a envolva na mesma medida,
enriquecendo-lhe o conteúdo a cada etapa do evolver social, mantido sempre
o princípio básico de que ela revela um regime político em que o poder
repousa na vontade do povo. Sob esse aspecto, a democracia não é um mero
conceito político abstrato e estático, mas é um processo de afirmação do povo
e de garantia dos direitos fundamentais que o povo vai conquistando no correr
da história.

A partir desse novo modelo político derivado de um desenvolvimento marcado


pela superação social que sofria com um governo escravocrata, para então chegar a
um nível de um Estado Social, onde as pessoas eram tratadas como cidadãos
possuidores de direitos sociais em foco na igualdade material como requisito para a
distribuição de justiça.

Por causa da ascensão do Estado Democrático de Direito, a norma jurídica


passou a se posicionar por meio das leis e dos princípios, trazendo aos profissionais
da área jurídica a necessidade de se usar os “atributos de Hércules” para solucionar
as celeumas de forma permanente. A hermenêutica jurídica nesse ponto se tornou o
principal mecanismo para a eficácia da distribuição da justiça.

A partir do momento que a democracia passou a vigorar nesse novo regime


jurídico, a população passou a cobrar do Estado (Poder Judiciário) a aplicação das

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normas derivadas do próprio corpo social, passando assim o Poder Judiciário a ter
mais preponderância na mesma proporção em que o não cumprimento da norma fazia
surgir para o jurisdicionado o direito subjetivo de postular em juízo a medida protetiva
que lhe era cabível.

Foi a partir desse momento que o Poder Judiciário passou a atuar mais
ativamente no sentido de aplicar a soberania constitucional em todo o território
nacional.

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2.3.1 Estado Democrático no Brasil

Com a criação e vigor do Estado Democrático de Direito no país, a


Constituição Federal de 1988, em seu artigo 1º estabelece que:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a
cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. (BRASIL, 1988).

Assim, a Carta Magna, ao estabelecer o regime democrático, possui a


finalidade de garantir ao cidadão brasileiro uma participação mais efetiva no processo
político, onde o poder emerge do povo através de seus representantes, seja por meio
direto ou indireto. Por meio dessa representação as ideias diversificadas e a
pluralidade de princípios e valores aprofundados da pessoa, se tornam parâmetro
para delimitar e formatar as normas legais que formam o ordenamento jurídico.

Os direitos fundamentais, principalmente os individuais, tiveram mais ênfase


com o advento da Constituição de 1988, onde é previsto o rol de direitos e garantias
fundamentais para que o cidadão possa ter uma vida digna. Desse modo, pode-se
conceituar direitos fundamentais como:

Direitos fundamentais do homem constitui a expressão mais adequada a este


estudo, porque, além de referir-se a princípios que resumem a concepção do
mundo e informa a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é
reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e
instituições que ele concretiza em garantias de uma convivência digna, livre
e igual de todas as pessoas. No qualificativo fundamentais acha-se a
indicação de que se trata de situações jurídicas sem as quais a pessoa
humana não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo sobrevive;
fundamentais do homem no sentido de que a todos, por igual, devem ser, não
apenas formalmente reconhecidos, mas concreta e materialmente efetivados.
Do homem, não como o macho da espécie, mas no sentido de pessoa
humana. Direitos fundamentais do homem significa direitos fundamentais da
pessoa humana ou direitos fundamentais. É com esse conteúdo que a
expressão direitos fundamental encabeça o Título II da Constituição, que se
completa, como direitos fundamentais da pessoa humana, expressamente,
no art. 17. (SILVA, 2012, p. 181).

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Importante mencionar que esse modelo de Estado não esta resumido apenas
na efetiva participação do povo na esfera política não, cabe também ao Estado
garantir a integridade dos direitos fundamentais do ser humano que se encontram
estabelecidos na Constituição.

Assim, a Constituição Federal se tornou a restrição da atuação do Estado no


âmbito individual. Podendo ser considerado também como Estado Social-
Democrático de Direito, onde junto com os direitos individuais, o Estado também
possui a responsabilidade de gerenciar as políticas públicas buscando garantir a
efetivação dos direitos sociais.

Desse modo, percebe-se que a Carta Magna se torna um amálgama dos


modelos de Estados apresentados anteriormente, onde ainda possui resquícios do
Estado Liberal ao ser determinado a soberania da Carta Magna como forma de balizar
e fixar o Poder do Estado como garantia da efetividade dos direitos fundamentais.

Já do Estado Social, manteve-se no fato de que ao Estado é incumbido o


exercício de Estado intervencionista, onde se é exigida a atuação positiva para dar
concretização aso direitos sociais insculpidos, conforme previsto no artigo 6º e
seguintes da Constituição Federal.

Com base na evolução dos modelos de Estados, algumas normas deixaram


o “dever-ser” para apenas o “ser” e a partir daí, um novo desafio começou para os
profissionais da área jurídica, uma vez que apenas a interpretação literal será
insuficiente, devendo utilizar métodos interpretativos de forma a dar mais concretude
e maior efetivação das normas.

Os princípios, desse modo, se tornaram uma espécie de gênero da norma


jurídica, onde, mesmo não estando escritos na legislação, derivam do respeito aos
valores estabelecidos pelo ordenamento jurídico. Desse modo, os princípios podem
ser opostos, sem que sejam contraditórios.

O Estado Democrático de Direito, atual modelo nacional, apresenta uma


amalgamação de princípios baseados nos valores individuais e sociais estabelecidos
ao longo do tempo, durante o processo evolutivo que melhorou as condutas sociais e
a atuação do Estado.

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Pode-se dizer que chegamos a um nível de um Estado fraterno, onde todos


os cidadãos são mutuamente considerados e os seus direitos e deveres chocam de
maneira atribulada, de modo que a solução das lides exorbita da proteção e disciplina
das regas jurídicas. Desse modo, procura-se ajuda nos princípios fundamentais
derivados de valores sociais válidos que conduzem a sociedade atual.

Atualmente, nos encontramos em um período pós-positivista, cujo marco foi o


fato de que um Estado Democrático passou a vigorar com base na Constituição
Federal de 1988. Assim sendo, os princípios passaram a ter mais importância para o
processo político-jurídico atual, tornando-os como escapatória para a solução de
todas as celeumas complexas que são apresentadas em juízo.

Todo caso concreto que é apresentado em juízo não é algo comum e fácil de
se resolver, por isso, os profissionais jurídicos devem se ater a todos os métodos de
aplicação da hermenêutica para reduzirem possíveis lides pelo confronto de bens
jurídicos igualmente importantes.

ATENÇÃO:
Os bons profissionais da área jurídica são tem tanta importância quanto a boa
elaboração das normas.
Dito isso, pode-se afirmar que os princípios detentores de um grau elevado
de abstração, diferente do que acontece com as regras, podem ser contrários, mas
não contraditórios, assim, os princípios não se excluem mutuamente, por meio do tudo
ou nada.

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3. Políticas Públicas
De modo simplificado, pode-se dizer que a política pública são as escolhas
dos atos do governo cuja finalidade é o interesse público. Assim, Mancuso (2001)
estabelece que:

(...) a política pública pode ser considerada como a conduta comissiva ou


omissiva da Administração Pública, em sentido largo, voltada à consecução
de programa ou meta previstos em norma constitucional ou legal, sujeitando-
se ao controle jurisdicional amplo e exauriente, especialmente no tocante à
eficiência dos meios empregados e à avaliação dos resultados alcançados.

Bucci (2002) reafirma e complementa dizendo que as “Políticas públicas são


programas de ação governamental visando a coordenar os meios à disposição do
Estado e as atividades privadas, para a realização de objetivos socialmente relevantes
e politicamente determinados”.

Assim, podemos dizer então que as políticas públicas devem ser


determinadas pelo possuidor da competência jurídica e somente depois de formulada
é que dará início aos programas, planos, projetos, bases de dados, sistema de
informação, etc. que serão futuramente implantados.

Lembrando que a política voltada para o interesse público que é importante,


devendo ser observado também os limites previstos pela variedade de atores que
fazem parte dessa área.

Insta ainda salientar a distinção entre Estado e governo. O primeiro, trata-se


da federação de um povo, posta em determinado local e que possui o poder originário
de administrar. Já o segundo, trata-se o impulsionamento da vida pública, ou seja, são
as iniciativas tomadas, os regulamentos definidos e aplicados.

Dito isso, as políticas públicas tratam-se de ações e programas necessários


para tornar efetivo as providências determinadas pelo poder judiciário que precisam
antes dos atos do Estado.

É importante frisar a ligação entre o ato estatal e a política pública, uma vez
que essa última precisa dos gastos públicos. Destarte, o início das políticas públicas
se dá com as leis e diretrizes orçamentárias e os planos plurianuais.

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Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:


I - o plano plurianual;
II - as diretrizes orçamentárias;
III - os orçamentos anuais. (BRASIL, 1988)

ATENÇÃO:
O Poder Executivo apenas controla os valores.
Com base nessas definições, nota-se que as políticas públicas se trata de um
mecanismo que visa atender ao interesse público. As políticas públicas, assim, são
divididas por áreas em busca de atender aos direitos fundamentais coletivos ou
difusos, tais como: educação, saúde, transporte, econômica, ambiental, etc.

DICA:
Veja o vídeo O que são políticas públicas? - Brasil Escola disponível no link
https://www.youtube.com/watch?v=PvWo10xHYrs

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3.1 Legitimidade do judiciário no controle das políticas públicas

Muito se tem discutido quanto a legitimidade do Poder Judiciário em controlar


as políticas públicas. O Poder Judiciário é considerado hoje como um guardião final
dos direitos fundamentais previstos na Constituição, quando estes se encontram
ameaçados.

É importante analisar a democracia e a Carta Magna sob duas perspectivas,


assim como aponta Pamplon e Mesquita (2015, p.16):

Exsurge interessante necessidade de avaliar a democracia e a constituição


sob duas perspectivas: democracia como valor inspirador da constituição
integral e como princípio inserto na constituição, ou seja, princípio jurídico.
Sem pretender descer a minúcias sobre tema tão caro e complexo, não se
pode deixar de encarecer a importância de separar democracia
contemporânea (na qual a maioria não expressa a força anteriormente
presente naquele conceito, a ponto de concebê-la como governo da maioria),
constituição e princípios constitucionais.

Um conjunto de normas institucionais que determina a pessoa competente


para tomar as decisões é, atualmente, o acelerador da democracia. Saber quem deve
decidir sobre a coletividade e quais medidas cabíveis, pode-se dizer que é a tradução
do que é a atual democracia.

Pamplon e Mesquita (2015, p.17) também dizem que:

A técnica da proporcionalidade é criticada por alguns autores em razão da


possibilidade de subjetivismos do intérprete (juiz), mas não se pode contestar
que se revela como a metodologia mais bem acabada da interpretação
sistemática. Ademais, no aparente conflito entre uma regra e um princípio,
poderia prevalecer a regra, numa perspectiva inicial, porque, em primeiro
lugar, a distinção que faz entre um e outro não está na fundamentalidade,
mas sim em sua estrutura normativa e, em segundo lugar, uma das ideias
subjacentes aos princípios é a pretensão de correção. Com efeito, na
ocorrência de conflito entre um princípio e uma regra18, a solução deve vir

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da ponderação entre este princípio e o princípio que fundamenta a regra


colidente.

Se os princípios apresentam as regras e ambos sejam com pretensão de


correção, estes deveriam possuir um poder maior de clareza e correção. Entretanto,
não é bem assim que funciona, pois pode ocorrer alguns conflitos entre o princípio e
a regra, devendo prevalecer o princípio sobre a regra.

Assim, Klatt (2012, p. 42) determina que:

[...] o Judiciário, ao aplicar o teste da proporcionalidade, balanceando


princípios aparentemente conflitantes no caso concreto, pode efetuar uma
escolha (por exemplo, aplicar o princípio da dignidade da pessoa humana em
detrimento do princípio da separação de funções de poder e do princípio da
reserva do possível, outorgando um medicamento a uma determinada pessoa
que dele necessita, mas de custo muito caro e fora das listas de
medicamentos de distribuição pública e gratuita) e, com isso, afetar a
competência que seria do executivo ou do legislativo, atingindo o princípio do
estado democrático de direito.

O autor acredita que as reverberações quanto a isso são complexas de se


evitar de ante de casos difíceis e verificar a proporção em relação as críticas que
poderá vir a sofrer, ainda é o meio ideal a ser aplicado de modo a garantir a harmonia
do sistema jurídico em razão de um caso concreto.

CURIOSIDADE:
Veja a aula do Estratégia Concursos sobre Controle das Políticas Públicas pelo
Judiciário: https://www.youtube.com/watch?v=dDlGDuXqeIU

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3.2 Teoria da escolha pública

A teoria da escolha pública foi criada por Buchanan em 1960, onde alegava
que se tratava de uma teoria das falhas governamentais na democracia. Santos (2011,
p.14) completou dizendo que:

Essas falhas governamentais também foram notadas pelo jurisfilósofo


Norberto Bobbio, quando indica seis promessas que não foram cumpridas
pela democracia: a de posicionar o indivíduo como protagonista da vida
política; de viabilizar a representação política perseguindo os interesses da
nação; de proporcionar a derrota do poder oligárquico; de posicionar a
democracia nos espaços de tomada de decisões vinculantes para todo grupo
social; de proporcionar a eliminação do poder invisível (máfia, camorra,
serviços secretos etc); e a de impulsionar a educação para cidadania.

Essa teoria é uma ligação entre a relação econômica e política que apresenta
elementos necessários para compreender sobre o processo de decisão coletiva dos
governos democráticos. Essas regras determinam os limites de participação das
pessoas envolvidas na decisão, o conjunto das instituições políticas do país, sua
relação com os cidadãos e com os mais diversos grupos de interesse.

Na teoria, o processo não garante sozinho o bem estar coletivo, uma vez que
o que leva em conta são os interesses dos próprios governantes, empresários, etc.,
além de seu comportamento racional e a relação político/voto.

Santos (2011, p. 15) por fim aduz que:

Nessa organização, o(s) representante(s) eleito(s) que detém o poder de


“decidir as matérias a serem votadas e sua ordem de apreciação pelo
plenário”, tem grande influência no resultado da votação de determinada
matéria, pois detém o poder de influenciar nas negociações das preferências
dos legisladores (votos), no intercâmbio de votos entre eles e, portanto, de
viabilizar a aprovação de leis ou emendas que expressem o maior ou menor
grau de preferências dos legisladores.

DICA:
Veja o vídeo Teoria da Escolha Pública (Diogo Costa) disponível no link
https://www.youtube.com/watch?v=5cl9-81Tgqs

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4. Considerações finais

A presente apostila buscou-se abordar sobre as políticas públicas e Poder


Judiciário, mas antes de adentrar nesse assunto, fez-se necessário apresentar os
direitos fundamentais estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, frisando
também a evolução dos modelos de Estado.

O grande desejo são as de mudanças políticas capazes de colocar a nova


classe capitalista estabelecida, em uma posição social de privilégios, mudando-a da
posição de uma classe social menos favorecida e de pouca influência para uma classe
mais favorecida.

Depois de ter se formado o Estado Liberal , o capitalismo se tornou o foco


principal do exercício da função dos detentores de poder. Nessa época a igualdade
adquirida era apenas formal.

Por causa dos movimentos dos trabalhadores em busca da qualidade de vida,


os burgueses e os grandes proprietários começaram a tomar medidas de cunha
satisfativo e direcionados aos operários, buscando conter os movimentos. Com isso,
surgiu o Estado Social, fundamentado na manutenção dos direitos sociais.

Como forma de fazer com que a população pudesse participar do


gerenciamento da elaboração e materialização das normas, foi criado o Estado
Democrático de Direito, passando assim, o povo a ter legitimidade ativa sobre a ordem
jurídica e legalismo.

Com o novo modelo de Estado Democrático houve um avanço organizacional


onde se refletia o desenvolvimento da sociedade que antes representava uma casta
de domínio e exploração e agora o poder emana do povo e para o povo.

Assim, a Carta Magna, ao estabelecer o regime democrático, possui a


finalidade de garantir ao cidadão brasileiro uma participação mais efetiva no processo
político, onde o poder emerge do povo através de seus representantes, seja por meio
direto ou indireto.

Em seguida foi apresentado a definição das políticas públicas que devem ser
determinadas pelo possuidor da competência jurídica e somente depois de formulada

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é que dará início aos programas, planos, projetos, bases de dados, sistema de
informação etc. que serão futuramente implantados.

Lembrando que a política voltada para o interesse público que é importante,


devendo ser observado também os limites previstos pela variedade de atores que
fazem parte dessa área.

O Poder Judiciário é considerado hoje como um guardião final dos direitos


fundamentais previstos na Constituição, quando estes se encontram ameaçados e por
isso possuem a legitimidade do Poder Judiciário em controlar as políticas públicas.

Por fim, mas não menos importante, foi apresentada a teoria da escolha
pública de Buchanan que se tratava de uma ligação entre a relação econômica e
política que apresenta elementos necessários para compreender sobre o processo de
decisão coletiva dos governos democráticos.

É importante frisar que este assunto não se esgota nas páginas deste trabalho
e há muito que pesquisar e produzir de conhecimento sobre esta área tão importante.

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5. Referências Bibliográficas

ALEXY, Robert. Colisão de direitos fundamentais e realização de direitos


fundamentais no Estado de Direito Democrático. Revista de Direito Administrativo,
Rio de Janeiro, n. 217, p. 67-69, jul./set. 1999.

BARROS, Sérgio Resende de. As políticas públicas ante o Poder Judiciário. Revista
de Estudios Brasileños. V.2, N.3, 2015

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 7. ed. São Paulo: Malheiros,


1997

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Promulgada em 1988.


Vade Mecum OAB e Concurso. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a
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