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3 de Setembro de 2019

Direitos fundamentais, políticas públicas e controle judicial

RESUMO

O controle judicial das políticas públicas é um tema recorrente no


constitucionalismo contemporâneo. Verifica-se que esse controle tem como
escopo a efetiva concretização das políticas e serviços públicos prestados
com o escopo de atender aos direitos fundamentais. Entretanto, antes de
tudo, é necessário verificar qual o regime dispensado para a tutela dos
serviços e das políticas públicas e verificar, quais os fins que pretendem
atingir. Consolidadas essa premissas, deve-se analisar qual é o âmbito de
atuação judicial, bem como tentar apontar quais são os limites da atuação
judicial, uma vez que tais limites não são uniformes na doutrina e na
jurisprudência.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho consiste na análise do controle judicial da atuação da


Administração Pública, no presente Estado constitucional, quanto à
concretização dos Direitos Fundamentais: as políticas públicas.

Para tanto devemos ter em mente que as políticas públicas são fruto do
Estado constitucional e, no constitucionalismo moderno, pois a
Constituição, é uma verdadeira carta política que motiva e coordena a vida
do Estado. Ela apresenta, assim, traços marcantes como a previsão de
Direitos e Garantias, vinculando e limitando a atuação de todos os órgãos
políticos.
É nesse panorama de garantia ao cumprimento dos direitos fundamentais,
que se concebem as políticas públicas, instrumentos que surgem como
respostas as necessidades contemporâneas.

No entanto, como é de conhecimento geral, nem sempre as políticas


públicas, destinadas a cumprir o texto constitucional são devidamente
concretizadas, isso, é claro, quando não há uma completa omissão por parte
do poder público.

Na busca pela realização de tais políticas e planos de ação governamental e


pela consequente concretização do interesse público e dos direitos
fundamentais previstos pela Constituição da República, desenvolveu-se no
panorama jurídico atual a possibilidade de intervenção do poder judiciário
neste campo.

No entanto, o tema sobre a demanda judicial das políticas públicas não é


pacífica no meio acadêmico e doutrinário.

Por óbvio, a pesquisa realizada não tem qualquer pretensão de esgotar o


tema nem apresentar qualquer solução ou “fórmula mágica”. O objetivo
primordial quanto ao tema é modesto, de expor fatos e problematizar
questões quanto à legitimidade jurisdicional para o controle das políticas
públicas. Também tem o objetivo de tornar mais claro o tema, contribuindo
para o desenvolvimento de uma nova teoria preocupada com o interesse da
sociedade. Sem se esquecer, no entanto, da teoria clássica da repartição de
poderes e da legitimação democrática da atuação do Judiciário.

2. DESENVOLVIMENTO

Com o fim da Idade Média (por volta do século XIV), houve a dissolução da
sociedade política medieval e surge o Absolutismo Monárquico. A partir
desse período, o “Rei se tornou fonte suprema dos poderes do Estado,
sendo ele quem ditava as regras sobre a vida pública” (DALLARI, 2006. p.
70-71).

Em contraposição aos vários abusos cometidos pelas monarquias


absolutistas, nasce um Estado de matriz liberal, moderno e democrático.
Esse processo de transformação encontra seu auge com as revoluções
inglesas, do séc. XVII, e a Revolução Francesa (1789), sendo acompanhado
de diversas teorias políticas tendentes a descobrir um remédio contra os
flagelos do absolutismo, especialmente contra a falta de limites dos
governos monárquicos.

A esse movimento, dá-se o nome de “constitucionalismo”, que pode ser


conceituado como

(…) teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do governo limitado


indispensável a garantia dos direitos em dimensão estruturante da
organização político social de uma comunidade. (CANOTILHO, 2010. p. 51)

Para tanto, era preciso embasar o novo Estado segundo alguns pilares. O
primeiro deles é a SEPARAÇÃO DE PODERES, que nada mais é do que
impor um limite interno ao Estado. Percebeu-se que a melhor forma de
controlar o poder dividir seu exercício entre várias pessoas e órgãos[1].
Criou-se, a partir do pensamento de Montesquieu, um sistema
denominado “freios e contrapesos” (DALLARI, 2006. p. 220).

Outro ponto do movimento constitucionalista foi o desenvolvimento da


teoria

da soberania popular, segundo a qual deveria haver a participação de todos


os cidadãos.

Cabe verificar, que apesar de “Constituição não ser uma prerrogativa dos
tempos modernos” (CUNHA JR., 2008. p.3.), o movimento
constitucionalista possibilitou, o aparecimento da constituição moderna,
plasmada em um documento escrito, que acolhe a organização do poder
político (de forma a torná-lo limitado e moderado) e a soberania popular.

Ainda

(…) aConstituiçãoo deve necessariamente refletir as características mais


notáveis da sociedade que pretende regular, numa harmônica correlação:
extrai da sociedade seu substrato material e espiritual (a matéria disponível)
e procura ordená-lo, dirigi-lo e motivá-lo. (CUNHA JÚNIOR 2008. p. 43)
Sendo assim, a Constituição desse período, congregando as características
da sociedade burguesa, acolhe o terceiro pilar, a teoria dos direitos
naturais[2]. O Estado, consequentemente, passa a ter também um limite
externo do exercício do poder, decorrente dos direitos inerentes ao próprio
indivíduo.

Os direitos desse período foram denominados pela doutrina como sendo


“direitos fundamentais de primeira dimensão” (SARLET, 2003. p. 49-50.),
que impõem ao Estado Liberal certo dever de abstenção e garantem a
proteção ao individuo.

Por apresentarem conteúdo de cunho “negativo”, dirigido contra o Estado


de forma a obrigar-lhe uma abstenção, podem ser entendidos como
“direitos de resistência ou de oposição perante o Estado” (SARLET, 2003. p.
51), sendo consagrados pela doutrina clássica como sendo direitos
fundamentais de “primeira dimensão” ou “primeira geração”.

Porém, o Estado liberal estava alheio e indiferente à vida social e


econômica, já que se preocupava com a vida política, protegendo o
elemento humano, somente, no que toca às liberdades individuais. A partir
dessa indiferença começaram a ocorrer mudanças na esfera social,
principalmente com o “advento da Revolução Industrial e com a
intensificação das relações de trabalho” (GRAU, 2005. p. 20-25).

As mudanças sociais passaram a ser aclamadas e Paulo Gustavo Gonet,


sintetiza o espírito do período de queda do liberalismo, doutrinando que

A idéia, ínsita ao Estado liberal, da separação Estado-sociedade é reavaliada,


dando surgimento à compreensão de que o Estado deve prover para que a
sociedade logre recuperar as suas angústias estruturais. (BRANCO, 2000.
p. 109)

Como resultado dessa mudança, o Estado passa a ser considerado além do


caráter unitário, adquirindo uma perspectiva mais social e interventora, na
tentativa de sanar as distorções econômicas. Floresce, nesse período, o que
denominamos, hoje, de Estado de Bem-Estar Social, de caráter
interventor[3].
Assim, a base de tais direitos é propícia para concreção a Justiça Social e
pela viabilização de políticas públicas que garantam o amparo e proteção,
não somente aos pobres e fracos, mas a toda a sociedade. Podem, ainda, ser
classificados como “direitos de crédito porque, por meio deles, o ser
humano passa a ser credor das prestações sociais estatais, assumindo o
Estado, nessa relação, a posição de devedor” (CUNHA JR., 2008. p.212.)

Cumpre ressaltar que, apesar de já estarem presente na sociedade desde os


séculos XVIII e XIX, foi somente no séc. XX que esses direitos ganham
proteção constitucional[4]. No Brasil, acompanhando a tendência social,
promulga em 1934 uma nova Constituição, que apresentava algumas
inovações como, “a criação da Justiça do Trabalho e do salário mínimo, a
instituição do mandado de segurança e a ação popular” (BARROSO, 2003.
p.20).

Com o desenvolvimento humano e o passar da história, outros direitos


foram concebidos pela cultura constitucional brasileira, como o direito ao
meio ambiente equilibrado e à propriedade genética. Essa evolução dos
direitos acompanhou a evolução da própria dogmática constitucional e
hoje, segundo alguns autores, “vivenciamos um fenômeno novo, diverso
daquele ocorrido anteriormente na história” (ORTEGA Y GASSET, 1971, p.
11).

É possível vislumbrar características mais específicas sobre esse novo


momento, das quais depende em boa parte a compreensão dos sistemas
jurídicos ocidentais contemporâneos. Primeiramente, sob a ótica
metodológico-formal, é possível vislumbrar que as “normas constitucionais
são dotadas de imperatividade” (BOBBIO, 2003. p. 20-23). Também se
deve atentar para a superioridade da Constituição sobre as demais normas
jurídicas, sendo o Texto Magno, nesse caso, “rígido” (MENDES, 1999. p.
38). A Constituição também passa a ser “central” dentro do ordenamento.

Do ponto de vista material, por sua vez, é possível vislumbrar a


incorporação explicita de valores e opções políticas, um exemplo isso, é a
“agregação dos direitos no corpo da constituição” (BARCELLOS, 2007).
Os direitos fundamentais, quando positivados nesse documento, deixam de
ser meras esperanças ou expectativas e passam a ser verdadeiras normas
constitucionais, situadas no ápice do ordenamento jurídico de um Estado.
Ganham uma dimensão objetiva de ampla proteção, pois passam a ser
diretrizes que devem ser observadas dentro do âmbito do Estado.

Outras consequências positivas da previsão dos direitos fundamentais é que


eles passam a ser dotados de aplicabilidade imediata e de força vinculante
em relação aos poderes do Estado. Isso quer dizer que, mesmo carentes de
regulação legislativa, os direitos fundamentais devem ser protegidos e que
também devem servir de parâmetro, de linha mestra pra atuação dos
poderes públicos, pois se não observados, levam a invalidade jurídico
constitucional dos atos emanados pelo poder público.

Cabe ressaltar que

(…) aConstituiçãoo (e, nesse sentido o Estado constitucional), na medida


em que pressupõe uma atuação juridicamente programada e controlada
pelos órgãos estatais, constitui condição de existência das liberdades
fundamentais, de tal sorte que os direitos fundamentais somente poderão
aspirar à eficácia no âmbito de um autêntico Estado constitucional.
(SARLET, 2003. p.64.)

Assim os direitos fundamentais, como um todo, não somente as liberdades


fundamentais, devem ser objeto de uma construção social e proteção
estatal, de modo que toda a “ação do Estado seja dirigida a fim de
concretizar tais direitos” (SARLET, 2003. p 64).

O Executivo também se encontra atrelado aos direitos fundamentais, pois


toda a atividade administrativa, inclusive no que toca a prestação material
de serviços públicos, deve estar vinculada aos direitos fundamentais.

O Poder Judiciário, a “última trincheira de defesa dos direitos


fundamentais” (CUNHA JR. 2008. p. 227), está igualmente atrelado à
disciplina dos direitos fundamentais, entretanto, essa vinculação se dá de
forma diferente em relação aos outros poderes. Isso acontece porque cabe
ao Judiciário, além de respeitar os direitos fundamentais, o dever de exercer
função ativa no controle da atuação dos demais poderes.
Em suma: a Constituição é norma jurídica central no sistema e vincula a
todos dentro do Estado, sobretudo os Poderes Públicos. E os “direitos
fundamentais integram um núcleo normativo que, por variadas razões,
deve ser especificamente prestigiado (BARCELLOS, 2007)”.

Visto isso, é necessário ter em mente que para a promoção dos direitos
fundamentais, é exigido do Estado o desenvolvimento de políticas públicas.

De acordo com Fábio Konder COMPARATO, o próprio conceito da palavra


política, “no sentido de programa de ação, só recentemente passou a fazer
parte das cogitações da teoria jurídica” (COMPARATO, 2002. p. 57).
DWORKIN, por sua vez, entende que política é “(…) aquele tipo de padrão
que estabelece um objetivo a ser alcançado, em geral uma melhoria e algum
aspecto econômico, político ou social da comunidade” (COMPARATO,
2002. p. 36).

Como ressalta KRELL,

O Estado, mediante leis parlamentares, atos administrativos e a criação real


de instalações de serviços públicos, deve definir, executar e implementar,
conforme as circunstancias, as chamadas “políticas públicas” (de educação,
saúde, assistência, previdência, trabalho, habitação) que facultem o gozo
efetivo dos direitos constitucionalmente protegidos (KRELL, 2002. p. 19-
20).

Com esse enunciado, pode-se perceber que os serviços públicos estão


contidos nas políticas públicas, que se perfazem mediante a atuação estatal
no sentido positivo, de elaborar leis, atos administrativos e criação de
instalações de serviços, com o fim de alçar o gozo dos direitos
fundamentais.

As políticas públicas, assim, demandam o gerenciamento pelo Estado de


serviços essenciais para a população, baseado em “ações estatais voltadas a
consecução de determinados fins, setoriais ou gerais” (APPIO, 2007. p. 133)
e que tornem “real a dignidade da pessoa humana, promovendo o bem-
comum” (APPIO, 2007. p. 133-137).
Não se pode perder de vista que as políticas públicas não se restringem
somente a regular os serviços públicos, pelo contrário, elas são um
conjunto heterogêneo de medidas, pois envolvem a discussão de diversos
ramos do direito, tal como as “finanças públicas, os serviços públicos, o
zoneamento, etc” (APPIO, 2007. p. 133).

Pode-se conceituar políticas públicas, então, como

execução de programas políticos baseados na intervenção estatal na


sociedade com a finalidade de assegurar igualdade de oportunidades aos
cidadãos, tendo por escopo assegurar as condições materiais de uma
existência digna a todos os cidadãos (…)

(…) simbolizam, portanto, a pretensão de planejamento social a partir da


execução dos projetos governamentais das sociedades contemporâneas (…)
(APPIO, 2007. p. 136)

Percebe-se que por meio das políticas públicas[5] o Estado poderá, de


forma sistemática e abrangente, realizar os fins previstos na Constituição (e
que também podem estar detalhados pela legislação), sobretudo no que diz
respeito aos “direitos fundamentais que dependam de ações para sua
promoção” (BARCELLOS, 2007, p. 16).

Em um Estado Social e Democrático de Direito, as necessidades coletivas e


a plena consolidação dos direitos fundamentais (especialmente os sociais)
devem ser atendidas, como visto acima, pela prestação de serviços públicos
e pelo desenvolvimento de políticas públicas.

Entretanto, além da mediação legislativa, que irá dar corpo a disposição


constitucional faz-se necessária, na maioria das vezes a disponibilidade
orçamentária. Afinal, não se mostra suficiente a mera previsão normativa
para a efetiva concretização desses direitos constitucionais, é necessária a
alocação de recursos por meio da composição discricionária das decisões
governamentais e da atividade legislativa.

Hodiernamente, pelo fato de o Estado prever uma maior intervenção na


vida social, a relação entre orçamento público e a concretização dos direitos
fundamentais sociais, através de políticas públicas, é intrínseca e
indissociável.

Veja-se que quase todo o aparato estatal envolve gastos. A rigor, a


existência dos órgãos estatais envolve gastos permanentes, pelo menos no
que tange a manutenção das instalações físicas e a remuneração dos
titulares dos poderes e dos servidores públicos, afora outros custos.

As políticas públicas, igualmente, dependem de recursos financeiros e,


como “não há recursos ilimitados” (AMARAL, 2001. p. 26), é necessário
priorizar e escolher em que áreas o dinheiro público será investido. Essas
escolhas recebem, assim, a influência direta das opções constitucionais
acerca dos fins a serem perseguidos. Isso significa que as escolhas relativas
ao investimento público não dependem de mera deliberação política, pelo
contrário, devem estar em consonância com o fim priorizado pelo estado e
de acordo com as normas jurídicas constitucionais.

Régis Fernandes de OLIVEIRA demonstra bem essa relação entre


orçamento e ações governamentais:

A decisão de gastar é, fundamentalmente, uma decisão política. O


administrador elabora um plano de ação, descreve-o no orçamento, aponta
os meios disponíveis para seu atendimento e efetua o gasto. A decisão
política já vem inserta no documento solene de previsão de despesas
(OLIVEIRA, 2006. p. 243).

O orçamento, nesse enfoque, é encarado como um plano de ação, um


objetivo a ser alcançado mediante a liberação de orçamento e
implementação dos gastos[6].

E Ricardo Lobo TORRES finaliza o raciocínio, doutrinando que

O relacionamento entre políticas públicas e orçamento é dialético: o


orçamento prevê e autoriza as despesas para a implementação das políticas
públicas; mas estas ficam limitadas pelas possibilidades financeiras e por
valores e princípios como o do equilíbrio orçamentário (…) (TORRES,
2000. p. 110)
Dessa forma é possível observar que o desenvolvimento das políticas
públicas está condicionado ao elemento “financeiro” do Estado. Portanto,
se o Poder Público não possui reservas orçamentárias, a concretização de
políticas públicas hábeis a suprir e concretizar os direitos fundamentais fica
comprometida.

Obviamente essa barreira financeira não pode permanecer como um escudo


de proteção ao Poder Público. Contudo, passou a ser utilizada a larga como
escusa para que, muitas vezes indevidamente, deixe-se de cumprir suas
obrigações e organizar devidamente suas finanças.

De acordo com Clèmerson Merlin CLÈVE é isso que está ocorrendo na


conjuntura atual. In verbis:

No Brasil de hoje o Estado se transformou numa máquina de expropriação


de recursos da sociedade para pagar os juros da dívida pública. O país gasta
100 bilhões de dólares ao ano apenas para pagar os juros da dívida pública
(sem que se amortize o principal). Nós vemos o contingenciamento
arbitrário das dotações orçamentárias, muitas vezes daquelas necessárias
para o crescimento dos serviços públicos realizadores dos direitos sociais.
Ao mesmo tempo, houve a adoção de uma espécie de neoliberalismo
globalizado, que procurou transformar aquilo que a Constituição definiu
como direitos, em meros produtos, em mercadorias que haveriam de ser
compradas. Esse quadro precisa mudar (CLÈVE, 2003. p. 21).

O orçamento público deixa de ser um instrumento necessário para a


consecução de políticas públicas e passa a ser um mero instrumento de
governabilidade.

O Estado não mais parece estar voltado à satisfação dos direitos


fundamentais, realizando uma inversão de valores, no sentido de que
utiliza os recursos públicos de forma errônea e se utiliza da reserva do
possível como uma justificação para sua atuação.

OLSEN, sobre o tema, explica que deve haver diferenciação entre o que é ou
não possível, uma vez que não há meios suficientes para atender as
necessidades de todos. Assim, “a própria Constituição fornece parâmetros,
como os direitos fundamentais, que auxiliam na alocação de recursos”
(OLSEN, 2008. p. 223).

Quando as políticas e os serviços públicos não alcançam a concretização do


“mínimo existencial” (KRELL. 2002. p. 64) devido à má gestão dos recursos
públicos, faz-se necessária à intervenção do Judiciário.

Antes de adentrar nos parâmetros a serem seguidos para a realização do


controle jurisdicional, é necessário o desenvolvimento de um tema que tem
apresentado resistência em parte da doutrina, a legitimação democrática do
Judiciário para o controle das políticas.

A jurisdição é uma atividade secundária, já que a priori, é através dela que o


Estado realiza uma atividade que deveria ter sido exercida pelas partes.
Também poder ser qualificada como instrumental, pois é o meio que o
próprio direito dispõe para vincular a todos. “É desinteressada, uma vez que
não pende a nenhum dos lados, apenas se preocupando em aplicar o
direito. Também é provocada, pois, em regra, depende de ser suscitada”
(CUNHA JR. 2008. p. 387).

Entretanto, assim como os demais órgãos do Estado, incumbe ao


Judiciário, nos termos do artigo 5º, XXXV de nossa Constituição, a
apreciação ações e omissões estatais conflitantes com a proteção da
dignidade humana ou que ameacem direitos, independente de tais atos
serem configurados como atos administrativos, atos de governo, execução
de políticas públicas ou fornecimento de serviço público. BARROSO
complementa, relembrando que “qualquer pessoa, sentindo-se ameaçada
ou lesada em seu direito, pode solicitar pronunciamento judicial”
(BARROSO, 2003. p. 139-140).

E, como adverte APPIO, com o advento da Constituição de 1988,

o Estado constitucional e democrático de direito tem base em um conceito


substancial de democracia, através do qual se impõe a ampliação do espaço
de participação dos nacionais na escolha do conteúdo e forma de execução
das políticas públicas (APPIO, 2007. p. 27).
Dessa forma, todos os órgãos do Estado devem assumir a proteção dos
direitos fundamentais, sendo que, atualmente, o Estado Social requer uma
reformulação dos poderes de forma a garantir a cobrança das obrigações
fixadas na Constituição. Ou, como relembra CLÈVE

(…) o princípio da separação dos poderes não pode ser visto com um
princípio abstrato, fora da história. Ao contrário, o princípio deve ser
compreendido tal como se apresenta, concretamente na Constituição
vigente (CLÈVE, 2003. p. 22).

Deve-se atentar que a separação de poderes não veda, em nenhum


momento, o exercício de certa atividade, de forma eventual, por órgão não
especializado, desde que esteja relacionado com sua atividade-fim (APPIO,
2007. p. 149).

A experiência de vários Estados, também, aponta para o fato de que o


Estado Democrático de Direito não pode subsistir muito menos realizar
direitos fundamentais sem a existência do exercício da jurisdição, como
discutido a seguir. Considera-se que a jurisdição, dessa maneira, é
“condição de possibilidade do Estado Democrático de Direito” (CUNHA JR.
2008. p. 394).

Ademais, John Hart ELY, ao analisar a revisão judicial referente ao


panorama norte-americano, atenta que a atividade judicial é necessária
para que a sociedade se mantenha coesa. Ou seja, é recomendável a
atividade judicial para que os interesses da maioria não eliminem os direitos
das minorias (APPIO. 2007. p. 44-45).

Deve-se proteger as minorias por meio da intervenção judicial, já que


constatou que esses interesses tem sido, no panorama norte-americano,
“desconsiderado em face da participação das maiorias no processo
democrático” (APPIO. 2007. p. 45)

Assim, para Ely, o “controle de leis ou políticas públicas pelo Poder


Judiciário não afronta a democracia” (APPIO. 2007. p. 45), pelo contrário,
está se assegurando que a vontade da população seja satisfeita mediante os
objetivos e limites contidos na lei e na Constituição. Assim, a atuação dos
juízes estaria construindo o conteúdo da própria Constituição.
Deve-se atentar ao posicionamento de Pontes de Miranda, que discorre que
“O exercício do poder, ainda por parte daqueles que só indiretamente o
recebem, como os juízes e os funcionários públicos é sempre exercício em
nome do povo” (BARROSO 2003. p. 135).

Resta reforçada a ideia de que não compromete o regime democrático o fato


de que “parcela do poder seja atribuída a cidadãos escolhidos por critérios
alheios ao sufrágio” (BARROSO 2003. p. 138). Sendo a atividade
jurisdicional necessária para submeter à imperatividade do Direito as
condutas que dele discrepam, formulando e fazendo atuar praticamente a
regra jurídica concreta que deve disciplinar determinada situação.

Deve-se atentar ainda que

a partir de uma concepção constitucional da democracia, os juízes estão


autorizados a limitar a vontade das maiorias parlamentares através do
controle de constitucionalidade, sempre que não forem observadas
“condições democráticas”, ou seja, sempre que o processo legislativo deixar
de tratar todos os cidadãos com igual respeito e consideração (APPIO.
2007.p. 32).

O Judiciário, assim, teria como limitação a função de complementar,


naquilo que for possível à atividade do Poder Executivo, apontando para os
caminhos trilhados no texto constitucional.

Ora, tendo em vista que, de acordo com Regina Maria Macedo Nery
FERRARI a “Constituição é parâmetro para qualquer atividade estatal”
(FERRARI, 2010. p. 273), o Judiciário, dessa forma, apesar de não estar
vinculado diretamente com o princípio democrático, estaria vinculado às
disposições constitucionais, pautando sua atuação nas normas
promulgadas.

Para ilustrar o pensamento do autor de que a atividade judiciária está


jungida pela Carta Magna, o Supremo Tribunal Federal, no Ag. Reg. no
Recurso Extraordinário 322.348, de relatoria do Ministro Celso de Mello,
decidiu:
O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI
FORMAL TRADUZ LIMITAÇÃO AO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE
JURISDICIONAL DO ESTADO.

- A reserva de lei constitui postulado revestido de função excludente, de


caráter negativo, pois veda, nas matérias a ela sujeitas, quaisquer
intervenções normativas, a título primário, de órgãos estatais não-
legislativos. Essa cláusula constitucional, por sua vez, projeta-se em uma
dimensão positiva, eis que a sua incidência reforça o princípio, que,
fundado na autoridade da Constituição impõe, à administração e à
jurisdição, a necessária submissão aos comandos estatis emanados,
exclusivamente, do legislador.

- Não cabe, ao Poder Judiciário, em tema regido pelo postulado


constitucional da reserva de lei, atuar na anômala condição de
legislador positivo (…), para, em assim agindo, proceder à imposição
de seus próprios critérios, afastando, desse modo, os fatores que, no
âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser legitimamente
definidos pelo Parlamento.

É que, se tal fosse possível, o Poder Judiciário – que não dispõe de


função legislativa – passaria a desempenhar atribuição que lhe é
institucionalmente estranha (a de legislador positivo), usurpando,
desse modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente
limitados, competência que não lhe pertence, com evidente
transgressão ao princípio constitucional da separação de poderes (grifos no
original) (BRASIL. Supremo Tribunal Federal, 2002. p.1).

Percebe-se dessa forma que o Poder Judiciário deve atuar em conformidade


com as disposições constitucionais, não lhe sendo facultado a atuação
legislativa positiva. Resta claro que o Judiciário tem competência para
fiscalizar a atuação dos demais poderes, uma vez que essa é sua atividade-
fim, no sentido de concretizar o postulado dos “cheks and balances”.

O Supremo Tribunal Federal já se manifestou sobre a atuação do Judiciário


quanto ao controle de políticas públicas na Arguição de Preceito
Fundamental nº 45 (ADPF nº 45). Tal ação foi promovida face ao veto do
Presidente da República sobre o artigo 55, § 2º da Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO), convertida na Lei 10.707/2003.

Sustentou-se que o veto presidencial desrespeitou a EC 29/2000, que


garantia aplicação mínima de recursos financeiros a serem aplicados nos
serviços de saúde.

O relator, ministro Celso de Mello, reconheceu a legitimidade da ADPF para


a viabilização da concretização das políticas públicas quando previstas na
Constituição, como no caso da EC 29/2000, quando estas venham a ser
desrespeitadas, total ou parcialmente pelo Poder Público. Ao reconhecer a
viabilidade da ADPF, reconheceu-se a dimensão política atribuída ao
Supremo Tribunal Federal, permitindo-se, assim, a implementação de
políticas públicas não implementadas pelas instâncias governamentais.

Porém, o ministro ressalta

É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções


institucionais do Poder Judiciário - e nas desta Suprema Corte, em especial
- a atribuição de formular e de implementar políticas públicas (JOSÉ
CARLOS VIEIRA DE ANDRADE,"Os Direitos Fundamentais na
Constituição Portuguesa de 1976", p. 207, item n. 05, 1987, Almedina,
Coimbra), pois, nesse domínio, o encargo reside, primariamente, nos
Poderes Legislativo e Executivo. Tal incumbência, no entanto, embora em
bases excepcionais, poderá atribuir-se ao Poder Judiciário, se e quando os
órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-
jurídicos que sobre eles incidem, vierem a comprometer, com tal
comportamento, a eficácia e a integridade de direitos individuais e/ou
coletivos impregnados de estatura constitucional, ainda que derivados de
cláusulas revestidas de conteúdo programático (BRASIL. Supremo Tribunal
Federal, 2005. p. 5).

Resta claro, então, que o Judiciário não deve interferir na esfera que está
reservada a outro Poder, com o fim de substituí-lo na escolha da
conveniência e oportunidade, salvo em casos excepcionais, quando ocorra
incontestável e arbitrária violação da incumbência constitucional.
Também invoca-se a ideia de que “não é licita a manipulação da atividade
financeira do estado” (FRISCHEISEN, 2000. p. 92), com o fim de criar
obstáculo que revele o propósito de fraudar a preservação das condições
materiais mínimas de existência digna. “A ‘reserva do possível’, exceto nos
casos de motivo aferível, não pode ser invocada para exonerar o
cumprimento das obrigações constitucionais” (BRASIL. Superior Tribunal
de Justiça, 2004).

Deve-se, entretanto, discorrer sobre uma controvérsia. Segundo KRELL,


“há quem, até alega que, diante das incertezas do processo decisório político
(e dos riscos a ele inerentes), o Judiciário deveria, cada vez mais, assumir
um papel de reavaliador, legitimador ou instância recursal das decisões
políticas” (KRELL, 2002. p.93). O juiz passaria a ser também um agente
político, ocasionando uma desnaturação do Poder Judiciário. Em sistemas
jurídicos avançados, em que a sociedade apresenta um alto
desenvolvimento humano e satisfação quanto aos serviços prestados, “é
possível recusar o posicionamento do Poder Judiciário como agente
positivo, ou um arquiteto da ordem social” (KRELL, 2002. p.95).

Verifica-se que em países periféricos, a possibilidade de concessão de poder


de interpretação aos juízes não gera, necessariamente, a “politização” do
Judiciário. Entretanto, como recorda a jurisprudência alemã, a “atitude
política deve ser exercida, nesses casos, dentro de certos limites” (KRELL,
2002, p. 95), como no caso do direcionamento da atividade do Executivo e
Legislativo conforme os ditames constitucionais ou quando a atuação
estatal volta-se contra o princípio da isonomia.

Resta salientar que a omissão ocorre sempre o legislador deixa de cumprir


ou cumpre de forma insuficiente o dever de concretizar as imposições
constitucionais. Sendo que, nesses casos, os direitos fundamentais sociais,
como indica o autor, podem se “configurar como verdadeiros subjetivos e
ser invocados perante o judiciário” (KRELL, 2002. p. 86).

De acordo com o entendimento de Fábio Konder COMPARATO,

Estabelecemos, desde logo, que o juízo de constitucionalidade, nessa


matéria [omissão], tem por objeto não só as finalidades expressas ou
implícitas, de uma política pública, para se atingirem esses fins
(COMPARATO,1998. p. 46.).

A questão analisada, nos casos de omissão, é referente a controle de


constitucionalidade, uma vez que a ordem social constitucional estipula
quais são os direitos sociais e também determina a sua forma de exercício.
Resta “inevitável a judicialização quando existe o desrespeito da
administração face aos preceitos constitucionais” (FRISCHEISEN, 2000. p.
88).

CUNHA JR., por sua vez, a teoria geral dos direitos fundamentais só logrará
cumprir sua finalidade caso se reconheça um “direito fundamental à
efetivação da Constituição” (CUNHA JR., 2008. p. 265). Tal direito reveste-
se de uma dupla dimensão, a subjetiva, que reveste o cidadão da posição
jurídica subjetiva, conferindo a possibilidade de exigir judicialmente o
desfrute imediato do de todos os direitos e garantias fundamentais. Por essa
dimensão resta desnecessária a “interpositio legislatoris, sendo conferida,
também, a possibilidade de exigir a edição de normas ou atos capazes de
materializar a Constituição” (CUNHA JR. 2008. p. 265).

Já na dimensão objetiva, o direito fundamental a efetivação da Constituição


irradia uma eficácia dirigente, que impõe ao Estado o dever jurídico de
concretizar e realizar as normas constitucionais.

Assim, cada vez que o Estado se omite na prestação dos direitos, é possível
que haja demanda judicial para trazer a concretização dos postulados
Constitucionais.

BARCELLOS, ao analisar as omissões do Estado discorre que “é necessário,


para evitá-las, uma melhor alocação de recursos públicos” (BARCELLOS,
2007, p. 18), evitando-se o desperdício e a ineficiência.

A realidade das despesas públicas, entretanto, deveria despertar interesse


semelhante: desperdício e ineficiência, prioridades incompatíveis com a
Constituição, precariedade de serviços indispensáveis à promoção de
direitos fundamentais básicos, como educação e saúde, e sua convivência
com vultosos gastos em rubricas como publicidade governamental e
comunicação social não são propriamente fenômenos pontuais e isolados
na Administração Pública brasileira (BARCELLOS, 2007, p. 19).
Para a construção do controle judicial das políticas públicas, especialmente
quando está em jogo à efetivação da Constituição, a preservação do mínimo
existencial e a devida alocação de reservas orçamentárias, é imprescindível a
construção de uma dogmática jurídica consistente, que depende da
identificação dos parâmetros de controle.

Todas as políticas públicas, assim como as demais ações estatais, em algum


grau estão “vinculadas a Constituição e aos princípios jurídicos e
necessitam de recursos para serem efetivadas” (BARCELLOS, 2007, p. 21).
O primeiro parâmetro a ser identificado é a arrecadação do Estado, bem
como a aplicação, bem como a efetiva aplicação de recursos[7].

O segundo, diz respeito ao fim a ser esperado da atuação estatal, avaliando o


que o Estado esta obrigado a fazer com a disponibilidade orçamentária.

Esses parâmetros devem ser analisados juntamente com os meios


escolhidos (terceiro parâmetro) pelo Pode Público para a realização das
metas constitucionais.

O objetivo desses parâmetros “é assegurar uma eficiência mínima às ações


estatais e seu fundamento decorre de tudo o que já se expôs sobre a
vinculação do Estado às metas constitucionais e sobre as escolhas públicas
em um Estado democrático e republicano.” (BARCELLOS, 2007, p. 23)

Imperioso faz-se vislumbrar, na temática dos limites ao controle judicial, o


posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso
Especial nº 208.893-PR, de relatoria do Ministro Franciulli Netto (BRASIL.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2004). Afasta-se a interferência do
Judiciário na discricionariedade do município. Aborda-se, no julgado, a
interposição da Ação Civil Pública intentada pelo Ministério Público do
Estado do Paraná com o fim de obrigar a construção de um abrigo para
menores carentes, bem como a elaboração de programas de proteção a
crianças e adolescentes em regime de abrigo no Município de Cambará,
Paraná. Nesse caso, além da não intromissão do Judiciário na esfera de
discricionariedade, levou-se em consideração a limitação orçamentária que
enfrentava o Município de Cambará.
De acordo com o princípio da discricionariedade, o Município tem liberdade
para escolher onde devem ser aplicadas as verbas orçamentárias, de modo a
assegurar o interesse público.

Não cabe, assim, ao Poder Judiciário interferir nas prioridades


orçamentárias do Município e determinar a construção de obra
especificada.

Ainda que assim não fosse, entendeu a Corte de origem que o Município
recorrido "demonstrou não ter, no momento, condições para efetivar a obra
pretendida, sem prejudicar as demais atividades do Município". No mesmo
sentido, o r. Juízo de primeiro grau asseverou que "a Prefeitura já destina
parte considerável de sua verba orçamentária aos menores carentes, não
tendo condições de ampliar essa ajuda, que, diga-se de passagem, é sua
atribuição e está sendo cumprida" (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça,
2004. p. 10).

Assevera-se, que a atividade judicial encontra algum limite, não lhe sendo
facultada, como vislumbrado no item anterior, a atuação legislativa positiva,
respeitando-se os limites constitucionais a sua atividade. Outras limitações
se encontram, por exemplo, nas condições orçamentárias disponíveis, não
cabendo ao judiciário, “quando aferível objetivamente a falta de dotação
orçamentária, forçar o cumprimento de obrigações” (BRASIL. Superior
Tribunal de Justiça, 2004, p. 8)[8].

A garantia de acesso à informação também é um parâmetro a ser analisado


quanto ao controle judicial. No que tange às receitas públicas, nem sempre
há a discriminação correta das receitas oriundas dos tributos, nem de onde
elas são aplicadas. A falta de transparência é um problema jurídico, pois não
se trata apenas de uma prerrogativa assegurada ao povo, é um elemento
que inviabiliza tanto o controle jurídico como o político.

Por fim, a existência de instrumentos de controle também é uma


necessidade que se faz presente no controle judicial de políticas públicas. A
própria Constituição, em seu texto, designa instrumentos específicos hábeis
instrumentalizar o controle judicial. Mas antes, é necessário finalizar a
temática dos limites do controle.
Conforme verificado, para a realização do controle é necessário observar a
dotação orçamentária, o fim esperado do Estado e também o meio pelo qual
o Poder Público desenvolve a concretização dos direitos fundamentais.

Segundo o entendimento de Alessandra Obara Soares da SILVA a


jurisprudência é tendente a evoluir pois

(…) após a consagração da teoria dos motivos determinantes (que foi um


grande passo para o controle dos atos administrativos decorrentes do
exercício de competência discricionária), é admitido como legítimo o
controle judicial dos atos administrativos, inclusive aqueles diretamente
relacionados às políticas públicas (SILVA, 2008, p. 14).

No mesmo sentido segue o Ministro Celso de Mello, no julgamento do


Agravo Regimental no Recurso Especial n. 410.715-SP:

É certo - tal como observei no exame da ADPF 45/DF – que não se inclui,
ordinariamente, no âmbito das funções institucionais do Poder Judiciário –
e nas desta Suprema Corte, em especial – a atribuição de formular e de
implementar políticas públicas (...), pois, nesse domínio, como adverte a
doutrina (...) o encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo e
Executivo. Impende assinalar, no entanto, que tal incumbência poderá
atribuir-se, embora excepcionalmente, ao Poder Judiciário, se e quando os
órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-
jurídicos que sobre eles incidem em caráter mandatório, vierem a
comprometer, com tal comportamento, a eficácia e a integridade de direitos
individuais e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional, como
sucede na espécie ora em exame (BRASIL. Supremo Tribunal Federal,
2006. p. 6).

Verifica-se, pelo voto do Ministro que apesar de se reconhecer


incompetência do Judiciário para formular e implementar políticas
públicas, é possível que este o faça em casos excepcionais, em casos nos
quais o os órgãos não respeitem as obrigações a ele impostas, o que inclui,
também, respeito aos princípios das políticas públicas e dos serviços
públicos.
Resta lembrar ainda, como faz o Ministro, que apesar de receber mandato
eletivo, cabe lembrar que a execução da função não se dá de forma absoluta,
pois se o Legislativo ou o Executivo agirem de forma irrazoavel ou de forma
a negar a eficácia dos direitos sociais, justifica-se a intervenção do Poder
Judiciário. Essa intervenção dá-se, primordialmente, face injustificável
inércia estatal a fruição e acesso a bens estatais.

Deve-se verificar ainda, uma vez que resta admitido o controle, se a política
pública existe e se é adequada ao fim que se destina.

Nesse diapasão, tem-se os votos da Medida Liminar da ADI 1.468

DESRESPEITO À CONSTITUIÇÃO – MODALIDADES DE


COMPORTAMENTOS INCONSTITUCIONAIS DO PODER PÚBLICO.

- O desrespeito à Constituição tanto pode ocorrer mediante ação estatal


quanto mediante inércia governamental. A situação de
inconstitucionalidade pode derivar de um comportamento ativo do Poder
Público, que age ou edita normas em desacordo com o que dispõe a
Constituição, ofendendo-lhe, assim, os preceitos e os princípios que nela se
acham consignados. Essa conduta estatal, que importa em um facere
(atuação positiva), gera a inconstitucionalidade por ação.

- Se o Estado deixar de adotar as medidas necessárias à realização concreta


dos preceitos da Constituição, em ordem a torná-los efetivos, operantes e
exeqüíveis, abstendo-se, em conseqüência, de cumprir o dever de prestação
que a Constituição lhe impôs, incidirá em violação negativa do texto
constitucional. Desse non facere ou non praestare, resultará a
inconstitucionalidade por omissão, que pode ser total ou parcial, quando é
insuficiente a medida efetivada pelo Poder Público.

- (...)

- A omissão do Estado – que deixa de cumprir, em maior ou menor


extensão, a imposição ditada pelo texto constitucional – qualifica-se como
comportamento revestido da maior gravidade político-jurídica, eis que,
mediante inércia, o Poder Público também ofende direitos que nela se
fundam e também impede, por ausência de medidas concretizadoras, a
própria aplicabilidade dos postulados e princípios da Lei Fundamental
(BRASIL. Supremo Tribunal Federal, 1996, p. 10).

A omissão, analisada anteriormente, é considerada ofensiva ao


ordenamento. Quando se trata de políticas públicas é ainda mais grave, pois
se trata de uma obrigação constitucional de prestar certas obrigações aptas
ao exercício plenos dos direitos. Quando isso ocorre, existe uma ofensa
passível de controle, como analisado.

Nesses casos, a decisão judicial proferida limitar-se-á a determinar a adoção


da conduta adequada, caso seja possível quanto ao viés orçamentário, dada
a aplicação de multa diária caso haja descumprimento. Se for o caso,
ressalta a autora,

“caberia ainda condenação do Poder Público no pagamento das


indenizações cabíveis (para reparação de danos materiais e morais, quando
existirem e forem diretamente relacionados à omissão estatal – nexo de
causalidade) (SILVA, 2008, p. 17)”.

Quando as políticas públicas, por sua vez, são concebidas de forma


insatisfatória ou ineficiente o controle judicial será mais restrito, posto que
as medidas de adequação para concretizar as políticas públicas confundem-
se com o mérito do ato administrativo. Entende-se que somente na
hipótese de flagrante inadequação na medida elaborada ou ilegalidade é que
o Judiciário poderá analisar os atos administrativos que envolvem a
política.

Fica impossibilitado o Judiciário de atuar em casos, por exemplo, de


requerimento de medicamento formulado por determinado laboratório
quando o Poder Público disponibiliza o medicamento com formulação
genérica, com mesmos efeitos e resultados comprovados. Nesse caso, a
política pública é suficiente para garantir a saúde e o tratamento da pessoa,
impedindo o Judiciário de estabelecer qualquer comportamento para o
Poder Público.
Em suma, quando a política pública é insuficiente, o controle será feito caso
a própria política cause violação frontal e objetivamente verificável a
princípio constitucional e a norma legal. O Judiciário, assim, verificaria a
constitucionalidade da política pública em si e a adequação do ato
impugnado com o programa governamental. Não poderia determinar, por
fim, que a Administração agisse contra os programas metas por ela
estabelecidos, sem apontar o vício que macula a política.

3. CONCLUSÃO

Como analisado, a Constituição se consagra como a guardiã da ordem


democrática, protegendo e instituindo os direitos fundamentais
conquistados pela sociedade no decorrer da história.

Para fazer valer esses direitos, retirando-os do papel e colocando-os no


mundo fático, é preciso que o Estado, intervenha no meio social e crie, a
partir de um sistema próprio de princípios e regras, prestações matérias
aptas a satisfazer as necessidades básicas da sociedade.

Essas prestações são fornecidas pelos serviços públicos e pelas políticas


públicas, que, por sua vez, exigem do Estado o dispêndio de verbas e amplo
planejamento, para que possam atender a população de maneira equânime
e satisfatória.

Entretanto, como analisado, nem sempre o Estado tem a capacidade de


fornecer essas prestações, geralmente se esquivando dessa obrigação com o
manto da “reserva do possível”, ferindo substancialmente os direitos
fundamentais do cidadão.

Nesse panorama surgiu a discussão a cerca da possibilidade do controle


judicial das políticas públicas, ou seja, da possibilidade de o Poder
Judiciário forçar a execução desses serviços ou políticas, ou também,
eventualmente, atuar positivamente no sentido de cria-las e forçar sua
criação. A grande questão a ser discutida sobre essa possibilidade de
judicialização é quando a separação dos poderes, quanto a legitimidade
democrática do Poder Judiciário, quanto aos limites a serem estabelecidos
quanto ao controle.
Verificou-se que o Poder Judiciário, é capaz de fazer o controle de políticas
públicas, uma vez que tanto os atos políticos quando os atos
administrativos podem sofrer controle judicial perante as premissas
constitucionais.

Também foi observado que a separação de poderes passa por uma nova
leitura nos tempos atuais, foge-se daquele modelo engessado e rígido
vivenciado na França pós-revolucionária. Dessa forma, o Judiciário deixa de
ser somente a boca a lei e passa a ser um agente ativo na sociedade.

No que tange a legitimidade democrática, atentou-se para o fato de que a


democracia é exercida, muitas vezes, apenas de acordo com o viés formal,
ou seja, nem sempre os eleitores têm condições de escolher seus
representantes de maneira igualitária. Isso se revela um entrave, pois nem
todos participam da vida pública, gerando grupos a margem da sociedade.
Ainda, deve-se analisar que nem sempre o administrador público se mostra
eficiente em suas escolhas.

Nem sempre os direitos das minorias são atendidos com esse modelo de
democracia. Cabe ao Judiciário, portanto o controle das políticas públicas
de modo a assegurar que a vontade da população seja satisfeita mediante os
objetivos e limites contidos na lei e na Constituição. Assim, a atuação dos
juízes estaria construindo o conteúdo da própria Constituição, pautado nas
normas já promulgadas.

Verificou-se que a atuação do juiz recebe do povo a legitimação formal de


suas decisões, protegendo os direitos fundamentais e assegurando a
isonomia na prestação dos serviços.

Quando aos limites, conclui-se que deve ser seguido o ordenamento


vigente, não sendo possível ao Judiciário, a rigor, inovar a ordem jurídica,
mas buscar os direitos já presentes nas leis, redescobrir tais direitos, como
afirma DWORKIN.

Outro limite verificado é quanto à disponibilidade orçamentária. Os


recursos públicos devem ser utilizados de forma a evitar desperdício e a
ineficiência. Porém, se for objetivamente verificado que o ente federativo
não dispõe de recursos para implantar determinada política (ressalvado os
casos de gastos mínimos explicitados na Constituição), não pode o
Judiciário forçar a implementação.

Também deve se verificar se o meio utilizado pelo poder público é hábil para
satisfazer os anseios sociais, dessa forma, se o meio utilizado for eficiente,
não pode o Judiciário obrigar que o poder público a utilizar outro meio. Da
mesma forma, o fim a ser alcançado pela política é um limite para a atuação
judicial, pois se as políticas públicas e os serviços públicos cumprirem suas
finalidades, não pode o juiz alterá-los.

A existência de instrumentos de controle pode ser considerada um limite,


uma vez que o Poder Judiciário somente pode atuar se provocado dentro
dos moldes legais.

Juntamente a cenário, percebeu-se que o Ministério Público é um ator


imprescindível e que desempenha o importantíssimo papel de pode
provocar o Judiciário quando a proteção e realização dos direitos
fundamentais e da dignidade humana. É um agente que, por meio da ação
civil pública, pode provocar judicialmente a ampliação e instauração de
condições que visam atender os grupos marginalizados.

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[1] Cf. Cabe relembrar aqui, que o absolutismo monárquico foi detido pela
classe burguesa, que após as revoluções, toma o poder. Então, cabe alertar
o leitor de que toda a análise feita durante o período deve levar em conta o
pensamento liberal e não intervencionista do Estado. Cf. DALLARI, Dalmo
de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 25. ed. São Paulo:
Saraiva, 2006. p. 216 – 222.

Cf. SARLET, Ingo Wolfgang. A e cácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: livraria do
advogado, 2003. p. 39-41.
[3] “De vilão, o Estado passa a ser visto como ‘amigo’ dos direitos
fundamentais. Nesse sentido, os direitos de 2º dimensão (direito à saúde,
ao trabalho, à educação, ao lazer, a moradia, a previdência social...) são
concebidos como instrumentais aos direitos de 1º dimensão, viabilizando a
realização da própria Justiça Social” (Cf. GOMES, Ana Cláudia Nascimento.
MORAIS, Roberta Jardim. De uma Visão Jurídico-Constitucional a uma
Proposta Pragmático-Ecônomica dos Direitos Sociais: Cooperação e
cooperativa. In. ROCHA, Cármem Lúcia Antunes (Coord.). O Direito a
Vida Digna. Belo Horizonte: Fórum, 2004. p.198).
[4] Primeiramente com a Revolução do México, e posteriormente com o
colapso social do povo alemão, que deu surgimento àConstituiçãoo de
Weimar, em 1919.

[5] Alguns programas sociais estão sendo desenvolvidos pelo Governo


Federal. É o caso do projeto “Mais Educação”, que visa aumentar a oferta
educativa nas escolas públicas por meio de atividades optativas.
Juntamente com o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho infantil),
tais programas visam melhorar o ensino básico, profissionalizar os alunos
para o mercado de trabalho, afastando-os da exploração e das condições de
risco. Cf. http://www.brasil.gov.br/sobre/cidadania/brasil-sem-
miseria/acessoaservicos/mais-educacao e
http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/peti/. Além dessas políticas que
visam melhorar a qualidade de vida e de educação, existem políticas
públicas na área de meio ambiente, como o incentivo a Sistemas
agroflorestais, que visa recuperar as áreas degradas. Cf.
http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1177. A “Rede Cegonha”,
desenvolvida pelo Governo Federal, é mais um programa social, integrante
de políticas públicas que visam melhorar e ampliar o acesso a saúde, em
especial, quanto a sapude da mulhe. Cf.
http://www.brasil.gov.br/sobre/saúde/maternidade/gestacao/rede-
cegonha?
utm_campaign=Rede.Cegonha&utm_medium=3.Posicao&utm_source=S
aúde&utm_content=Banner. O Programa de Aceleracao do Crescimento na
área de saneamento básico é mais um exemplo de política pública que visa
melhorar os serviços sanitários e de saúde.
http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/07/04/pac-saneamento-
recebe-investimento-der45-bilhoes-ate-2014. Acesso em 20 de abril de
2013.
[6] A Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 estabelece normas
sobre as finanças públicas, bem como normas para Planejamento
financeiro e responsabilidade na gestão fiscal. Igualmente a Lei nº 1.079, de
10 de abril de 1950 e o Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967
definem crimes de responsabilidade para o Presidente, Governadores e
Prefeitos que violarem as respectivas leis orçamentárias.
[7] Caso o poder público se omita em investimentos mínimos, como os
exigidos em educação e saúde fica autorizado não somente o controle
judicial, mas também a intervenção federal nos Estados e dos Estados nos
Municípios (CF, arts. 34, VII, e, e 35, III). A legislação infraconstitucional já
prevê alguns instrumentos de controle como é o caso da Lei Complementar
nº 101/00 (responsabilidade fiscal) e a Lei nº 8.429/92 (improbidade
administrativa).
[8] O mesmo posicionamento foi adotado no julgamento do Recurso
Especial nº 63.128-9 – Goias, em que não foi conhecido o pedido do
Ministério Público, via Ação Civil Pública, para a construção de um Centro
de Triagem e Recuperação de Jovens e Adolescentes. Também abordou-se,
no julgado que as normas invocadas, a época, não estabeleciam, de modo
concreto a obrigação do Executivo construir um Centro. . Cf. BRASIL.
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial nº 63.128-9/GO, Rel.
Min. Adhemar Maciel, Terceira Turma. 11.03.1996.

Disponível em: https://bbruninha.jusbrasil.com.br/artigos/111827709/direitos-fundamentais-


politicas-publicas-e-controle-judicial

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