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CONSTITUIÇÃO
CONSTITUCIONALISMO
Clara Coutinho
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Olá!
Você está na unidade Constitucionalismo. Conheça aqui os aspectos fundamentais da Constituição,
da própria Constituição. Compreender a sua importância e de seus fundamentos é essencial para você, estudante
de Direito, uma vez que o Direito Constitucional permeia todas as demais áreas do saber jurídico.
Bons estudos!
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1 Constitucionalismo
O movimento político, jurídico e social denominado constitucionalismo se manifestou de diversas formas ao
longo do tempo. Durante os anos, o constitucionalismo passou por transformações até atingir o que hoje se
1.1 Conceito
Constitucionalismo é o nome atribuído para o movimento político, jurídico e social que representou a
Ao mesmo tempo que faz referência ao movimento político-social que tem por finalidade limitar o poder
Ainda, o termo constitucionalismo pode dizer respeito aos propósitos e às funções das constituições nas
diferentes sociedades, ou mesmo pode remeter à evolução da constituição de um Estado específico ao longo
da história.
É fato que o constitucionalismo, ainda que represente diversos significados, manifestou-se de formas variadas ao
longo do tempo. Isso porque o conceito representa as “instituições (ou técnicas) que devem estar contempladas
nos diversos regimes políticos e que, portanto, acabam variando de época para época” (TAVARES, 2012, p. 25).
limites e mecanismos de controle ao poder político. Ao mesmo, por meio do constitucionalismo tem-se a
confirmação e o estabelecimento de direitos individuais. Cuida-se de uma ideologia, na qual o viés sociológico se
manifesta por meio do estabelecimento de regras positivas que dizem respeito a aspectos da vida política,
O constitucionalismo, portanto, pode ser caracterizado por alguns elementos, como soberania popular,
de poderes, respeito aos direitos civis, instituições capazes de assegurar a efetividade da Constituição e o direito
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1.2 Evolução histórica
organização do Estado de forma determinada e limitada, tendo sua origem ainda entre os hebreus. Isso
porque, no âmbito do Estado teocrático instituído pelos hebreus, houve a adoção da denominada “lei do Senhor”
de forma impositiva, a fim de limitar o poder político. O instituto apareceria embrionariamente ainda nessa
A democracia constitucional, por sua vez, se manifestou originalmente nas cidades-estado gregas, em que os
núcleos políticos instituídos adotavam a democracia direta para o exercício das funções estatais. Por meio do
estabelecimento de regras de distribuição de cargos públicos para o exercício de diferentes competências, o que
era feito por meio de sorteio, o constitucionalismo grego proporcionava uma identidade plena entre governantes
e governados (TAVARES, 2012, p. 27). Com o passar dos séculos, o constitucionalismo deu lugar a regimes
caracterizados pela concentração de poder, e sua reaparição ocorreu apenas no fim da Idade Média. As regras
inicialmente expressadas pelo conjunto de princípios e práticas adotados pela Igreja e pela sociedade foram
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Figura 1 - Carta Magna
Fonte: Por David Smart.
#PraCegoVer: Na imagem, temos uma réplica da Magna Carta Libertatum de 1215, que é uma carta legal inglesa
que exigia que o rei João da Inglaterra proclamasse certos direitos, respeitasse certos procedimentos legais, e
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v=VHBduFgmzHw&feature=emb_title
A Carta tinha como principal objetivo proteger os privilégios dos barões e os direitos dos homens livres.
Ainda que sua função seja tão especificada e destinada à manutenção de poderes estabelecidos, a Magna Carta
tornou-se símbolo de liberdades públicas, da qual os fundamentos da ordem jurídica democrática viriam a ser
extraídos futuramente (SILVA, 2014, p 154). Deve-se destacar, no entanto, que o conceito de “homens livres” até
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o momento era bastante limitado. Em verdade, os direitos tutelados pelo constitucionalismo até esse momento
O movimento do constitucionalismo seguiu com a Petition of Rights (1628), o Bill of Rights (1688) e o Habeas
Corpus Amendment (1679), todos elaborados na Europa, especificamente na Inglaterra. Assim, a monarquia
absolutista antes vigente deu lugar à monarquia constitucional. A mudança de paradigmas “pode ser tomada
como o renascimento do constitucionalismo, trazendo consigo a alteração da fonte do poder estatal, que passa
das mãos do monarca (que possuía um poder fundado em sua própria imagem, compreendido como ilimitado)
Em outras palavras, com a consolidação do constitucionalismo, o monarca, que antes agia de acordo com suas
vontades e sem limitações expressas, passa a atuar de acordo com a Carta, observando as suas balizas e
respeitando os ditames constitucionais. Assim, os governados que antes ocupavam o lugar de súditos passam,
Por óbvio, com o passar dos séculos, o constitucionalismo foi se aperfeiçoando e, para além da limitação do
poder soberano, passou a caracterizar a organização do Estado e a definição do seu papel. O conceito moderno
forma escrita, bem como de uma maior abrangência de suas normas que, se antes beneficiavam apenas uma
parcela da população, passam a tutelar direitos de grupos cada vez mais plurais, até alcançarem a totalidade da
população.
A partir da positivação das normas constitucionais, ou seja, a partir da consolidação das Constituições escritas,
tem-se também a publicização e o estabelecimento, de forma clara, dos direitos e garantias individuais da
população, bem como dos limites estabelecidos para o exercício do poder pelo Estado, além das instituições
vigentes e dos mecanismos adotados. A forma escrita da Constituição, portanto, representa um sensível aumento
de segurança jurídica aos cidadãos, que passam a ser capazes de exigir o cumprimento das regras postas.
[...] desde que haja uma divisão do poder, o que fatalmente implicará sua limitação e controle, estar-
se-á em harmonia com uma das principais exigências do constitucionalismo. Tal orientação, contudo,
poderá não estar consubstanciada num documento escrito, mas sim arraigada na prática diuturna de
uma comunidade, podendo-se, em tais circunstâncias, admitir uma Constituição em sentido material-
substancial.
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Isso significa dizer que o constitucionalismo surge muito antes da existência de uma constituição escrita, uma
vez que os elementos necessários à configuração dos aspectos que caracterizam o movimento político, jurídico e
social já estavam presentes. No entanto, é inquestionável que o movimento ganha nova força a partir da criação
de constituições escritas, como a Constituição dos Estados Unidos, em 1787, e a Constituição da França, em
1791.
A primeira constituição francesa inspirou-se no constitucionalismo inglês, mas, sobretudo, inspirou-se nos
textos constitucionais editados pelos norte-americanos. Por sua vez, o desenvolvimento constitucional verificado
nos Estados Unidos foi influenciado diretamente pela Revolução Francesa e por sua doutrina – especialmente
Montesquieu. Por essa razão, consideram-se as influências de ambos os sistemas quase indissociáveis, em
espécie de parceria doutrinária (TAVARES, 2012). De tais regimes, surgem institutos que até hoje pautam o
constitucionalismo contemporâneo:
Princípio da igualdade.
O constitucionalismo, assim, expandiu-se pelos demais Estados contemporâneos, que abandonaram a ideia de
um contrato social hipotético e passaram a adotar instituições estáveis, estabelecidas na forma de constituições
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2. Direito Constitucional
O Direito Constitucional é a área do Direito que tem por objeto o estudo, a análise e a interpretação das
normas constitucionais. Esse campo do saber se insere no Direito Público e é compreendido como uma área
autônoma, ainda que se relacione de forma íntima com diversos outros campos do Direito, como se verá a
seguir.
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O conceito de Direito Constitucional se relaciona diretamente com o Direito Público. As normas constitucionais a
que se destina o Direito Constitucional são compostas não só pelo texto positivado da Constituição, mas
também pelas emendas à Constituição, editadas pelo Poder Legislativo após a promulgação do texto original; e
pela jurisprudência constitucional definitiva que, no Brasil, é resultante da atuação do Supremo Tribunal
Ao apresentar os diversos ramos do saber jurídico, Silva (2004) apresenta as divisões do Direito. Caracterizadas
como ramos da ciência jurídica, o autor apresenta suas divisões da seguinte forma:
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Figura 2 - Divisões do Direito
Fonte: SILVA, 2004.
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#PraCegoVer: Na imagem, temos um gráfico com as três divisões do Direito representadas na vertical: público,
social e privado. Na primeira coluna, que representa o público, temos as subdivisões: Constitucional,
coluna, representada pelo social, temos do Trabalho e Previdenciário. Por fim, na última coluna, representada
O Direito Constitucional, além de representar ramo específico do ensino jurídico, com objeto e conteúdo
definidos, relaciona-se de maneira muito próxima com outros ramos do Direito, dialogando com quase todos os
ramos do saber jurídico. Isso porque o texto constitucional não se limita à disposição sobre a organização do
Estado e sobre os direitos individuais e coletivos vigentes na sociedade. Ao contrário, a Constituição trata
Dessa forma, é na Constituição que estão as normas basilares, mais fundamentais, sobre cada um desses temas. A
partir do tratamento constitucional que lhes foi dispensado, outros aspectos serão detalhados e especificados
O objeto do Direito Constitucional, como não poderia deixar de ser, é a Constituição e as normas que a
integram. Contudo, estabelecer que o objeto do Direito Constitucional se encerra no estudo sistematizado de
seu conteúdo normativo é uma acepção reducionista, que não reflete a totalidade do que pretende esse ramo
da ciência jurídica. Nesse sentido, deve-se esclarecer que também é objeto do Direito Constitucional o estudo do
valor das normas, da eficácia de seu conteúdo, e dos critérios de interpretação. São englobados, portanto, além
Para Canotilho (1993), ao passo que o objeto da Ciência Política é o estudo do político, o objeto do Direito
Constitucional é o estudo do estatuto jurídico do político. Isso significa dizer que a Constituição disciplina,
por meio de regras normativas, postas ou impostas, diversas ações políticas, as quais são objeto de estudo do
Direito Constitucional.
É possível verificar essa compreensão ao perceber que a Constituição se refere, de forma expressa, aos
da república; bem como estabelece a forma e estrutura do Estado, ao estabelecer, no caso do brasil, uma
República Federal; e ao estabelecer os órgãos do Estado aos quais incumbe a direção política do Estado, como a
Presidência e os princípios, formas e processos que deverão ser observados pelas instituições e órgãos políticos
(CANOTILHO, 1993).
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2.3 Conteúdo científico do Direito Constitucional
A Teoria da Constituição, nesse contexto, é compreendida como a ciência dedicada a discutir os limites e as
explicação da realidade constitucional sob o ponto de vista das relações entre a realidade e o direito
constitucional formal. Nesse sentido, o conteúdo científico do Direito Constitucional abrange, para Silva (2004),
compreender as normas jurídico-constitucionais a que esse Estado se submete, a forma como se organiza, os
Como exemplo, imagine que alguém deseja estudar Direito Constitucional brasileiro: esse estudante conseguirá
compreender, a partir da leitura do texto constitucional, como o Estado brasileiro se organiza, quais são as
limitações estabelecidas ao Estado em face das liberdades e garantias individuais, quais são as instituições que
compõem o aparato estatal, os procedimentos que devem ser observados para a efetivação da democracia, entre
outros.
Destaca-se que, ao fazer referência ao estudo do Direito Constitucional Positivo, não se pretende restringir o
objeto à Constituição vigente. Uma vez que o Direito Constitucional Positivo propõe a interpretação e
sistematização das regras de determinado Estado, é certo que o histórico constitucional por este vivenciado
poderá ser englobado nos estudos. É possível, portanto, conhecer uma Constituição anterior a partir do estudo
do Direito Constitucional Positivo, com o intuito de se conhecer a forma como um Estado já se organizou no
passado. A compreensão da evolução histórica da Constituição e sua relação direta com a realidade político-
Além da possibilidade de deslocamento no tempo, da mesma forma, pode-se observar um estudo que se difere
no espaço. Assim, ainda se referindo ao Direito Constitucional Positivo, o estudante poderia se propor a analisar
os sistemas constitucionais francês, alemão ou americano. Em síntese, ao estudo particular das normas
A ciência do Direito Constitucional Comparado é aquela responsável por estudar, descrever e explicar vários
sistemas constitucionais positivos diferentes, buscando identificar o que torna tais sistemas semelhantes e
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diferentes. É a partir da comparação entre diferentes sistemas constitucionais que será possível compreender
suas dimensões fundamentais e seus traços unificadores (CANOTILHO, 1993, p. 157). Portanto, se
estudo comparado entre diferentes sistemas constitucionais constituídos para diferentes Estados, se estará
diante de estudos de Direito Constitucional Comparado. Como exemplo, um estudante que compara a
organização do Estado francês da forma como delineado em sua Constituição com a organização do Estado
Idealmente, é a partir das diversas comparações entre sistemas constitucionais positivos que se torna possível
Geral como teoria. Ainda, é a partir do estudo comparado que será possível o aprimoramento de sistemas
constitucionais, identificando mecanismos e instituições que podem ser úteis à organização do Estado.
O Direito Constitucional Geral é responsável por analisar, organizar e sistematizar os princípios e conceitos
que permeiam os diversos sistemas constitucionais positivos de diferentes Estados. O seu objetivo é,
compreensão (SILVA, 2004). Se em um primeiro momento o Direito Constitucional Positivo permite e análise de
um sistema constitucional estabelecido e, por meio do Direito Constitucional Comparado, é possível identificar
elementos estruturantes comuns a diversos sistemas constitucionais, o resultado será o objeto do Direito
Constitucional Geral.
Como elementos a que se refere o Direito Constitucional Geral, faz-se referência às fontes, à evolução do
suas formações, origens, tipos, estruturas. Em síntese, todos os aspectos que puderem ser resultado de uma
abstração e aplicados em uma análise genérica poderão ser compreendidos como elementos caracterizadores do
Direito Constitucional Geral. De posse de tais elementos abstratos e genéricos, seria possível compreender a
existência de um Direito Constitucional ideal. Esse Direito, não positivado e fruto de uma análise teórica, tem o
condão de representar as formas jurídicas puras, apriori (TAVARES, 2012). Nesse contexto, compreender o
Direito Constitucional geral é relevante para que seja possível estabelecer caminhos que podem ser utilizados
Ainda, é certo que a partir dos estudos de Direito Constitucional Comparado será possível concluir aspectos
relevantes do Direito Constitucional Geral. Por sua vez, esse fluxo de conhecimento contribui para a evolução e o
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Fique de olho
Como visto, o conteúdo científico do Direito Constitucional pode ser compreendido como uma
evolução: inicia-se com o estudo de um único sistema constitucional (Direito Constitucional
Positivo); na sequência, compara-se esse sistema a outros (Direito Constitucional Comparado);
para, então, exprimirem-se os aspectos fundamentais que os compõem (Direito Constitucional
Geral).
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3 Constituição
“Constituição”, em português, é o ato de estabelecer, de firmar. No Direito, o conceito não é muito diverso: a
Constituição é a lei por meio da qual o Estado se estabelece e se estrutura a partir da materialização do exercício
do poder constituinte. Por meio da atividade constitucional originária, são estabelecidas as normas jurídicas
fundamentais de um Estado.
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3.1 Conceito
De acordo com Moraes, Constituição deve ser entendida como a lei fundamental e suprema de um Estado. É a
lei que contém normas referentes à sua estruturação, bem como à formação dos poderes públicos, à forma de
governo e à aquisição do poder de governar. Ainda, é na Constituição que estão disciplinadas a distribuição de
competências, os direitos, as garantias e os deveres dos cidadãos (MORAES, 2017, p. 28). Silva (2004), por sua
A constituição é algo que tem, como forma, um complexo de normas (escritas ou costumeiras); como
conteúdo, a conduta humana motivada pelas relações sociais (econômicas, políticas, religiosas etc.);
como fim, a realização dos valores que apontam para o existir da comunidade; e, finalmente, como
causa criadora e recriadora, o poder que emana do povo. Não pode ser compreendida e
interpretada, se não se tiver em mente essa estrutura, considerada como conexão de sentido, é tudo
De todas as discussões, atuais e passadas, sobre a noção de leis fundamentais, as respostas sobre os
elementos caracterizadores dessas leis apontam em duas direções: (1) são leis fundamentais (leges
por parte do rei e por parte dos estados do reino; (2) são leis fundamentais as leis de natureza
Possivelmente, os dois elementos estariam presentes (embora com acentuações diversas) para se
poder afirmar que as “leges fundamentalis”teriam uma força superior às outras porque o próprio
soberano estava por elas vinculado, não as podendo alterar ou modificar unilateral-mente (ideia
central), e porque essas leis eram a "causae eficiente" e fundamental da majestade pessoal do
É inegável que a Constituição, como lei fundamental, possui diversas funções. De início, podem-se mencionar a
função de garantia e de proteção, a função organizativa ou estruturante do Poder político, a função limitativa, a
função legitimadora ou legitimante da ordem política, entre outras. Ao discorrer sobre as diversas funções da
Constituição, tem-se a aproximação do conceito subjetivo de constituição em sentido material, uma vez que as
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funções estão diretamente relacionadas ao conteúdo das normas constitucionais e às finalidades a que
servem.
Também conceitualmente, a Constituição pode ser compreendida em sua dimensão formal, substancial ou
material. Sob o aspecto formal, Constituição é um conjunto especial de normas jurídicas, que detêm mais
relevância do que outras normas, não se submetendo a nenhuma outra. Formalmente, essas normas devem
decorrer de um evento solene, a Constituinte originária. Isso significa dizer que se estará diante de normas
constitucionais ainda que a norma não verse sobre assuntos considerados constitucionais. Se ela derivar do
Poder Constituinte e estiver positivada no texto constitucional, integrará a Constituição do ponto de vista formal.
Significa dizer que a norma que pretende disciplinar juridicamente a organização política do Estado de forma
fundamental caracterizará, substancialmente, normas constitucionais – ainda que tais normas estejam em outros
Por fim, com relação à sua compreensão material, a Constituição é o aspecto da norma constitucional que se
verifica no mundo fático. Os fatores sociais, políticos, econômicos, religiosos e ideológicos que configuram a
sociedade é que compõem a Constituição em sentido material (TAVARES, 2012). Deve-se destacar, contudo, que
mesmo com suas diversas funções, é imprescindível compreender a Constituição em sua unidade. Esse corpo
normativo máximo de conteúdo plural deve compreender todas as regras necessárias à sua interpretação
sistemática.
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3.2 Classificações da Constituição
As Constituições podem ser classificadas de diferentes formas, segundo diferentes critérios. A doutrina de Silva
#PraCegoVer: Na imagem, temos o gráfico com as classificações das constituições. São elas: estabilidade (que
podem ser rígidas, flexíveis e semirrírrigdas), origem (democráticas ou outorgadas), modo de elaboração
(dogmáticas e históricas), forma (escritas e não escritas) e conteúdo (que podem ser materiais ou formais).
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3.3 Conteúdo da Constituição
Como já visto, com relação ao conteúdo, fala-se de constituições materiais e constituições formais:
Constituições materiais
Se referem aos temas constitucionais que, independentemente de onde estejam dispostos – seja na Constituição
ou em normas infraconstitucionais – compõem a Constituição sob o aspecto material. Assim, se o tema disser
respeito à organização do Estado e às limitações ao seu poder, se estará diante de norma reputada materialmente
constitucional.
Constituições formais
São aquelas resultantes do Poder Constituinte democraticamente legitimado. Ainda, é requisito do
estabelecimento da Constituição formal que seja observado um procedimento específico e idôneo, que possua
intenção normativa – ou seja, que decorra diretamente do desejo expresso de se estabelecer uma nova
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3.4 Formas da Constituição
Uma vez que possa ser identificado o texto constitucional como resultado da positivação
Por sua vez, a constituição não escrita diz respeito ao conjunto de regras a que
Não escritas nesse caso, originam-se da sociedade, sem que haja uma instituição ou órgão solenemente
Quando escrito, o texto da Constituição como lei fundamental organiza-se em partes, títulos, capítulos,
preâmbulos, princípios. O corpo textual que servirá de fonte de Direito Constitucional é, portanto, organizado e
sistematizado.
A Inglaterra é frequentemente lembrada como exemplo de sistema constitucional que não possui uma
Constituição escrita. Contudo, de acordo com Tavares, “hoje o ordenamento jurídico inglês compõe-se do
denominado Direito estatutário e das convenções constitucionais, ao lado da jurisprudência e dos costumes
(especialmente parlamentares)” (2012, p. 92). Para o autor, não há mais na contemporaneidade Constituições
puramente consuetudinárias.
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3.5 Modo de elaboração da Constituição
Quanto ao modo de elaboração, as Constituições podem ser dogmáticas ou históricas. Esses conceitos estão
intrinsecamente relacionados com os conceitos de Constituição escrita e não escrita. A constituição dogmática
é caracterizada por ser sempre escrita. O texto do documento constitucional dogmático apresenta, de forma
sistemática, os dogmas que devem disciplinar a organização do Estado e da Sociedade. Para Tavares (2012, p.
97):
elaboração levada a efeito por um corpo destinado a sua confecção: as Assembleias Constituintes. Em
A constituição histórica, por sua vez, é caracterizada pela formação lenta, ao longo do tempo, das normas que
pautam a sociedade. A evolução sociopolítica das tradições e costumes dá origem às normas fundamentais de
organização de um Estado e, também nesse caso, o exemplo mais popular é o exemplo da Constituição da
A constituição histórica é aquela resultante da gradativa sedimentação jurídica de um povo, por meio de suas
tradições. É o caso da Constituição da Inglaterra. Pode-se dizer que é também o caso da Constituição dos Estados
Unidos da América do Norte, baseada no texto escrito em 1789 e em sua jurisprudência constitucional.
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3.6 Origem da Constituição
Silva (2004) divide as Constituições quanto à origem em Constituições democráticas e outorgadas. Enquanto
população, as constituições outorgadas são elaboradas e estabelecidas sem a participação do povo, mas como
legitimado pelo povo, com o intuito de atender seus interesses. A participação popular representativa é
característica central das Constituições democráticas. A Constituição Francesa, de 1791, possui essa característica
forma de diferenciá-las das Constituições promulgadas, constantemente lhes é atribuído o nome de Carta.
Tavares (2012) menciona como exemplos brasileiros a Constituição de 1824, outorgada pelo Imperador D. Pedro
I; a Constituição de 1937, outorgada pelo Presidente Getúlio Vargas; e a Carta de 1967 e 1969.
Destaca-se que, no caso da Carta de 1967, esta foi elaborada pelo Congresso Nacional, mas a função de poder
constituinte lhe foi outorgada por meio do Ato Institucional nº 4, após o afastamento dos membros da oposição
ao Regime Militar. Ou seja, ainda que do ponto de vista formal tenha sido elaborada por Poder Constituinte, lhe
faltava a legitimidade popular necessária para se configurar como uma Constituição promulgada ou democrática.
Da mesma forma, em alguns casos há a elaboração de um texto constitucional por um Imperador ou Ditador que,
com o intuito de validar popularmente sua vontade, submete o texto à aprovação popular por meio de plebiscito.
Nesses casos, ainda que haja uma participação popular, a Constituição não é considerada democrática, uma vez
que não foi facultado à sociedade participar de sua elaboração. São denominadas constituições cesaristas.
No Brasil, a Constituição de 1937, outorgada por Getúlio Vargas, previa a realização de um plebiscito com o
intuito de referendar o conteúdo da carta constitucional. Contudo, como esse plebiscito nunca foi realizado, a
Constituição que poderia ter sido cesarista permaneceu apenas como constituição outorgada, diante da
Fique de olho
As diversas classificações das constituições podem variar de autor para autor. Mas, de modo
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As diversas classificações das constituições podem variar de autor para autor. Mas, de modo
geral, estão sempre preocupadas em representar as principais características dos diplomas
constitucionais, de acordo com o conteúdo, a forma, o modo de elaboração, a origem e a
estabilidade que apresentam.
Com relação à sua estabilidade, as Constituições podem ser classificadas como rígidas, flexíveis ou semirrígidas
. Inicialmente, é necessário esclarecer que toda Constituição pode ser alterada, uma vez que é seu papel
organizar a sociedade em que se insere, e que essa mesma sociedade está em constante evolução e alteração.
Ainda que seja possível assim se caracterizar, na prática não há Constituição que seja imutável, inalterável.
Constituições rígidas
São assim consideradas quando a possibilidade de alteração da norma constitucional é limitada por normas e
procedimentos específicos, exigindo-se solenidades especiais, as quais que só poderão ser iniciadas se atendidos
ordinário.
Constituições flexíveis
São assim classificadas quando a alteração do texto Constitucional depender de procedimentos corriqueiros,
como aqueles estabelecidos para a edição de leis ordinárias. Assim, elas podem ser livremente modificadas pelo
Constituições semirrígidas
São aquelas Constituições em que parte do texto é caracterizado como rígido, e a outra parte é caraterizada como
A Constituição da República de 1988 é considerada uma constituição rígida, sendo que Moraes (2017) ainda a
classifica como super-rígida. Isso porque, além da previsão de que a Constituição só poderá ser alterada por um
processo legislativo específico, por meio de emendas constitucionais, como previsto em seu artigo 59, inciso I, a
Constituição é imutável em alguns pontos, nos termos de que dispõe o seu artigo 60, parágrafo 4º.
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3.8 Outras classificações
As Constituições podem ainda ser classificadas quanto à sua extensão e finalidade, como Constituições analíticas
e sintéticas. Ao passo que as constituições analíticas se prestam a dispor sobre diversos assuntos relevantes à
• Constituição do Brasil
Constituição analítica
Constituição sintética
Ainda sobre a constituição dos Estados Unidos, com apenas sete artigos e vinte e sete emendas, é a mais sucinta
constituição em vigor.
Com relação à ideologia, as Constituições podem ainda ser classificadas em liberais ou sociais. No caso das
constituições liberais, estas são marcadas pela divisão de poderes com declaração expressa da liberdade do
cidadão, estabelecendo claros limites à atuação do Estado. Em um momento posterior, tem-se as constituições
sociais, em que, além da previsão de liberdades individuais, há previsão de atuação do Estado com o intuito de
corrigir desigualdades sociais, visando à efetivação da igualdade material entre os cidadãos. Também é possível
entre o regente e o Poder Legislativo, o que tem como consequência a sujeição do monarca aos esquemas
(2012, p. 94):
instável de duas forças políticas rivais”25, de maneira que o equilíbrio fornecido por tal espécie de
Carta é precário: “O pacto selado juridicamente mal encobre essa situação de fato, ‘e o contrato se
converte por conseguinte numa estipulação unilateral camuflada’”. Os exemplos mencionados para
esse conjunto específico de Constituições são, em primeiro lugar, a Carta Magna, de 1215, momento
no qual se observou a supremacia dos barões ingleses em relação ao poder real; também foi o caso
da Constituição da Grécia, de 1844, elaborada por assembléia popular e ratificada pelo Rei.
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Por sua vez, constituição nominalista é a que apresenta direcionamentos para os problemas concretos, a serem
resolvidos mediante aplicação pura e simples das normas constitucionais. Nesse sentido, o aplicador da
Constituição deve apenas interpretar a norma de forma literal. No caso da constituição semântica, se está
diante de diploma que demanda interpretação e análise de seu conteúdo sob aspectos sociológicos, ideológicos,
(MORAES, 2017, p. 31). Deve-se ressaltar, contudo, que também é compreendida como semântica a constituição
que apenas formaliza a existente situação do poder político, atuando como instrumento de estabilização. Ou seja,
por essa classificação, a constituição semântica tem como objeto perpetuar no poder aqueles atores que o
detêm.
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4 Objeto da Constituição
De acordo com Canotilho (1993), o processo e a forma da Constituição, em um Estado Democrático, só têm
sentido quando relacionados com um determinado conteúdo. Decerto, a lei fundamental não pode ser vazia de
significado e conteúdo. É preciso que compreenda, no mínimo, alguns aspectos relevantes para que esteja
configurada.
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4.1 Elementos da Constituição
Canotilho (1993) apresenta em sua obra alguns elementos materiais caracterizadores e distintivos do que seria
seguintes elementos:
(b) a constituição contém o princípio da divisão de poderes, no sentido de garantia orgânica contra
A partir desse conceito ideal, surge a distinção entre os Estados constitucionais e os Estados não-
constitucionais:
Estados constitucionais
São aqueles em que há uma constituição que contém os elementos reputados essenciais para a configuração da
Constituição. Ou seja, um documento escrito, por meio do qual direitos e liberdades individuais são assegurados
e que, ao mesmo tempo, visa limitar o poder e disciplinar a atuação do Estado, por meio do estabelecimento de
instituições e procedimentos.
Estados não-constitucionais
São todos os outros, remetendo-se especificamente ao que dispõe o artigo 16º da Declaração Universal dos
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. De acordo com o dispositivo, “a sociedade em que não esteja
assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição”.
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Figura 4 - Declaração dos Direitos Humanos e do Cidadão
Fonte: Elaborado por Assembleia Nacional Constituinte Francesa, 1789.
#PraCegoVer: Na imagem, o olho da providência aparece brilhando no topo e representa uma homologação
divina às normas ali presentes,mas também alimenta teorias da conspiração no sentido de que a Revolução
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Francesa foi motivada por grupos ocultos. A imagem é composta por essas imagens e duas colunas com
dezessete artigos e um preâmbulo dos ideiais libertários e liberais da primeira fase da Revolução Francesa.
Assista aí
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é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• conhecer os conceitos de Constitucionalismo e sua evolução histórica;
• ser introduzido ao Direito Constitucional e a aspectos fundamentais relacionados à ciência jurídica desse
ramo do saber;
• entender a estrutura e as diversas classificações da Constituição;
• perceber a relevância de uma adequada compreensão do Direito Constitucional;
• iniciar seus estudos sobre as diferentes formas de Constituições.
Referências
CANOTILHO, J. J. G. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993.
MORAES, A. de. Direito Constitucional. 33. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2017.
SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2004.
TAVARES, A. R. Curso de direito constitucional. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012.
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