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PROPÓSITO
Compreender os elementos conceituais básicos do Direito constitucional envolvendo a
Constituição, norma base do ordenamento jurídico e que serve de fundamento para todas as
disciplinas do Direito.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo, tenha em mãos a Constituição Federal de 1988 atualizada para
consulta durante seus estudos.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Neste tema, estudaremos os principais conceitos que envolvem a teoria geral da Constituição.
Os pontos apresentados possuem uma perspectiva teórica, mas os conceitos expostos são
elementares para se entender o que é uma Constituição e como ela se relaciona com a vida
em sociedade.
MÓDULO 1
Nessas palavras, Luís Roberto Barroso define o Direito constitucional, que é uma das vertentes
do Direito público que estudam as normas fundamentais acerca da instituição do Estado e da
vida em sociedade, compondo a Constituição. Por isso, compreender o conceito de
Constituição é fundamental para essa disciplina.
O Direito público constitui um conjunto de ramos do conhecimento jurídico que envolve a
relação entre Estado e sociedade. O centro do conceito de Direito constitucional é o estudo das
normas constitucionais e suas teorias de base.
ATENÇÃO
Direito
constitucional É o estudo das normas constitucionais positivadas em
positivo (ou determinado ordenamento jurídico.
especial)
O Direito constitucional é um ramo que se relaciona com todas as outras áreas do Direito, já
que a Constituição é a norma base do ordenamento jurídico. Todas as leis e todos os atos
normativos devem observar a Constituição, sob pena de nulidade por inconstitucionalidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO
Diversas são as normas constitucionais que fundamentam a disciplina. Por exemplo, você
poderá encontrar uma série de dispositivos sobre a administração pública do art. 37 ao 41 da
Constituição, que são estudados especificamente nesse ramo do conhecimento.
DIREITO TRIBUTÁRIO
A Constituição Federal, no Título IV, que trata “Da Tributação e do Orçamento”, estabelece
competências tributárias, limitações constitucionais ao poder de tributar, regras de repartição
de receita, entre outros. Um exemplo interessante é o art. 145 da Constituição, que estabelece
quais tributos podem ser instituídos pelos entes federados.
DIREITO CIVIL
Os direitos e as garantias fundamentais estabelecidos na Constituição devem ser observados
no âmbito desse ramo do conhecimento – por exemplo, o direito de propriedade, previsto no
art. 5º, caput e inciso XXII, da Constituição. Por isso, a interpretação das normas no Direito civil
também ocorre à luz do Direito constitucional, já tendo o Supremo Tribunal Federal (STF)
decidido diversos casos que são estudados nessa área.
DIREITO PENAL
Esse ramo estuda um dos principais direitos do ser humano, que é a liberdade. Por isso, o art.
5º da Constituição estabelece garantias fundamentais, como a proibição de algumas penas
(inciso XLVII).
DIREITO PROCESSUAL PENAL
A Constituição também estabelece garantias quanto ao processo de natureza penal – por
exemplo, as normas que dizem respeito à prisão de uma pessoa (art. 5º, LXI-LXVII).
DIREITO DO TRABALHO
Os direitos trabalhistas são contemplados na Constituição como direitos sociais e constam, em
especial, dos arts. 6º e 7º.
DIREITO INTERNACIONAL
Além de estabelecer princípios aplicáveis às relações internacionais (art. 4º), a Constituição e o
Direito constitucional também se dispõem a analisar as atribuições, competências e
formalidades para atuação internacional do Brasil.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
A Seguridade Social é regulada na Constituição, e há uma seção específica para isso (Seção
III, Capítulo II, Título VIII). Recentemente, houve a reforma da Previdência, que influenciou todo
o sistema e o estudo da referida disciplina.
DIREITO AMBIENTAL
Um dos tópicos estudados nesse ramo do conhecimento é o Direito ambiental constitucional,
especialmente partindo do art. 225 da Constituição, que se dedica a regular o meio ambiente.
Atualmente, fala-se que essa regulação faz parte da terceira geração de direitos fundamentais.
CONSTITUCIONALISMO E
NEOCONSTITUCIONALISMO
CONSTITUCIONALISMO
Embora tenhamos uma Constituição bem completa, conhecida como “Constituição Cidadã”,
nem sempre foi assim. O processo de criação das Constituições, tal como conhecemos
atualmente, passou por momentos históricos distintos.
FASES DO CONSTITUCIONALISMO
NEOCONSTITUCIONALISMO
Fonte: https://memoria.ebc.com.br
Sessão de promulgação da Constituição brasileira de 1988
Marco
Desenvolvimento do Estado Constitucional de Direito no pós-guerra.
histórico
ATENÇÃO
As primeiras Constituições escritas, tal como conhecemos, foram editadas na “Era das
Revoluções”, especialmente tendo como ponto de partida a Revolução Inglesa, a Revolução
Norte-Americana e a Revolução Francesa. Com o objetivo de limitar o poder do Estado, que
antes era ilimitado, as primeiras Constituições foram editadas, assegurando alguns direitos
fundamentais.
A primeira Constituição brasileira foi editada em 1824, sucedida por outras que ampliaram
direitos e garantias ao longo do tempo.
ATENÇÃO
O art. 5º, § 3º, da Constituição Federal, incluído com a Emenda Constitucional (EC) nº 45/2004,
passou a considerar normas constitucionais os tratados e as convenções internacionais
introduzidos com o mesmo quorum de votação das ECs. Dessa forma, as leis constitucionais
não são apenas aquelas inseridas da Constituição. A doutrina utiliza o termo bloco de
constitucionalidade para caracterizar essa somatória.
Fonte: https://en.wikipedia.org
Ferdinand Lassalle em 1860
Defendia que a Constituição escrita seria uma mera “folha de papel”, e as normas que regem a
vida em sociedade corresponderiam, na verdade, àquilo que se aplica de fato. O poder político
e suas regras, verificados socialmente, estabeleceriam as normas constitucionais.
Para Carl Schmitt (1888-1985), a Constituição seria apenas as normas que tratassem de
assuntos relativos à decisão política fundamental do Estado. Assim, o que importaria, para
definir se uma norma é ou não Constituição, seria o seu conteúdo.
A decisão política seria baseada na organização dos órgãos do Estado, dos direitos individuais,
da vida democrática, entre outros.
Fonte: https://de.wikipedia.org
Carl Schmitt em 1912
Todo o excedente seria somente uma mera “Lei Constitucional”, ou seja, teria uma hierarquia
inferior. A partir desse conceito, cria-se uma hierarquia entre Constituição e Lei Constitucional.
ATENÇÃO
EXEMPLO
O art. 242, § 2º, da Constituição trata de algo que não se refere a uma decisão política do
Estado. Todavia, é considerado norma constitucional? Sim, pois há distinção de acordo com o
conteúdo da norma! Todas são constitucionais.
SENTIDO JURÍDICO (HANS KELSEN)
Para Kelsen (1881-1973), na sua obra Teoria pura do direito, a norma constitucional
corresponde ao “dever ser” e não ao “ser”. O autor propõe uma diferenciação entre o Direito e
outros ramos do conhecimento (ex.: Sociologia, Ciência Política etc.), para firmar uma “teoria
pura” acerca do direito.
Fonte: https://abdet.com.br
Hans Kelsen
Para José Horácio Meirelles Teixeira, a Constituição seria resultado de um fato cultural. O autor
não contempla apenas um aspecto para conceituá-la, mas sim toda a contextualização cultural
das normas básicas da sociedade.
Assim, sendo decorrente da cultura, a Constituição englobaria elementos históricos, sociais e
racionais, bem como fatores reais (natureza humana e geografia, por exemplo) e espirituais
(como os sentimentos e valores morais).
ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO
A doutrina classifica os tipos de Constituição de diversas maneiras, partindo sempre de
critérios específicos, a fim de categorizá-los.
Analítica
(ampla, extensa,
larga, prolixa,
Tem seu texto detalhado com disposições sobre assuntos
longa,
variados. É o caso da Constituição brasileira de 1988.
desenvolvida,
volumosa,
inchada)
Costumeira (não É aquela cujas fontes normativas são diversas, tais como
escrita ou textos esparsos, jurisprudências, usos, costumes, convenções
consuetudinária) etc.
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Além dessas classificações, vale ainda destacar três nomenclaturas utilizadas pelos autores:
Restringe o poder do Estado, criando áreas de não
Constituição garantia
inserção do poder público na vida dos indivíduos.
SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO
No Direito brasileiro, a Constituição é concebida sob o ponto de vista formal, sendo norma
jurídica constitucional toda aquela que integre o texto constitucional, na forma definida.
Nosso ordenamento jurídico é definido pela rigidez. Logo, para que as normas constitucionais
sejam modificadas, devem se sujeitar a um processo mais sofisticado e dificultoso. Esse
procedimento é uma das características da supremacia formal da Constituição em face de
outras normas infraconstitucionais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Histórica, pois foi construída a partir de um processo de discussão e evolução ao longo dos
anos.
B) Ortodoxa, uma vez que adota uma ideologia única como aceita no Brasil.
C) Formal, já que todas as normas que constam do texto constitucional são consideradas
normas constitucionais, independentemente do seu conteúdo.
A) O sentido sociológico, defendido por Hans Kelsen, afirma que a Constituição é um conjunto
de normas jurídicas que estabelece um dever ser.
C) O sentido jurídico, defendido por J. H. Meirelles, afirma que a Constituição é a soma dos
fatores reais de poderes.
GABARITO
O art. 5º, § 3º, da Constituição prevê o que consta expressamente na letra “d”, admitindo que
tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, aprovados na forma
constitucional, sejam considerados normas constitucionais.
MÓDULO 2
Antes de tudo, é importante ter em mente que a identificação de categorias jurídicas, como
uma classificação propõe, por exemplo, depende de critérios que cada autor adota, podendo
haver variações na literatura. Por isso, trataremos aqui das categorias mais conhecidas para
melhor compreensão do tema.
A Constituição possui o seu texto principal, que concentra a regulação da maior parte dos
tópicos relevantes para a vida em sociedade. Todavia, ao longo dos anos, o texto constitucional
é modificado pelo poder constituinte reformador a partir das chamadas emendas
constitucionais (ECs) previstas no art. 60 da Constituição.
As ECs modificam o texto da Constituição (com uma nova redação) e retiram ou incluem
artigos. Porém, por vezes, as próprias emendas têm artigos isolados, que não foram inseridos
na Constituição, e que são normas constitucionais. Consulte, por exemplo, o art. 3º da EC nº
47/2005, que estabelece uma regra própria de transição para aposentadoria de servidores.
Além disso, a Constituição também possui, em sua parte final, normas constitucionais nos atos
das disposições constitucionais transitórias (ADCT). Os artigos que constam nos ADCT são
considerados normas constitucionais e não estão abaixo da Constituição em nível hierárquico.
O art. 5º, § 3º, da Constituição Federal (incluído pela EC nº 45/2004), também prevê a
possibilidade de tratados e convenções internacionais serem incorporados no ordenamento
jurídico brasileiro com status de EC.
ATENÇÃO
ADCT;
ECs;
Normas
Instituídas no interesse público ou social para proteger as pessoas e, por
de
isso, não podem ser afastadas por convenção das partes. São
ordem
denominadas também de normas cogentes ou obrigatórias.
pública
Normas
Embora prescrevam condutas, direitos ou faculdades, podem ser
de
afastadas por autonomia da vontade das partes por meio de um acordo,
ordem
por exemplo.
privada
Para o autor, as normas constitucionais podem ser classificadas em três tipos de eficácia:
As normas de eficácia plena são aquelas que se aplicam de maneira imediata, direta e
integral, pois não dependem da criação de nenhuma norma que as regulamente ou resguarde.
Um exemplo é a norma que estabelece a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III).
As normas de eficácia contida são aquelas que, apesar de produzirem seus efeitos desde a
promulgação da Constituição, podem ter seus efeitos futuramente contidos por uma lei
superveniente. Logo, é certo dizer que o direito é imediatamente aplicável, mas pode sofrer
restrições futuras.
Tais restrições podem ser impostas por lei (art. 5º, XIII), por outros regulamentos
constitucionais (art. 139) ou por conceitos ético-jurídicos (ex.: art. 5º, XXV – iminente perigo
público é exposto como uma restrição compulsória ao poder do Estado de convocar a
propriedade do particular).
EXEMPLO
A liberdade profissional é prevista no art. 5º, XIII. Vejamos o caso da atividade de coaching:
como não há regulamentação no Direito brasileiro, qualquer pessoa pode ser coach. Contudo,
só pode ser advogado quem passa no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
conforme exigência de lei.
As normas de eficácia limitada são aquelas que não possuem eficácia plena inicial,
dependendo da edição de lei para sua aplicação prática. A norma constitucional estabelece
que a produção de efeitos depende da edição de um ato normativo. É o caso, por exemplo, do
direito de greve dos servidores públicos, previsto no art. 37, VII, com redação dada pela EC nº
19/98: “o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica”.
Até os dias atuais, a lei prevista no dispositivo não foi editada, o que impediria a produção da
sua totalidade de efeitos.
Contudo, a Constituição prevê instrumentos para o caso de alguém ser prejudicado pela
ausência de regulamentação que inviabilize o exercício de um Direito constitucional
estabelecido em norma de eficácia limitada.
ATENÇÃO
No caso do direito de greve dos servidores públicos, foi ajuizado mandado de injunção e o
Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que deve ser aplicada a Lei nº 7.783/89 (Lei de
Greve dos empregados privados) até ulterior regulação do assunto em lei própria. O
julgamento ocorreu nos mandados de injunção nº 670, 708 e 712, utilizando a teoria concretista
geral (resolução em concreto do problema com aplicação geral).
Vale destacar que, embora as normas constitucionais de eficácia limitada não produzam a
totalidade dos seus efeitos enquanto reguladas, elas possuem dois efeitos mínimos, descritos a
seguir.
Efeito revogador: Com a edição da norma constitucional de eficácia limitada, ficam
revogadas todas as normas anteriores e contrárias ao seu texto.
Efeito inibidor: Não poderão ser editadas leis futuras retirando o Direito constitucional
que foi assegurado pela norma constitucional de eficácia limitada, sob pena de
inconstitucionalidade.
ATENÇÃO
O art. 5º, § 1º, da Constituição Federal, dispõe que as normas que estipulam sobre os direitos e
as garantias fundamentais possuem aplicação imediata, mas não se confunda: isso não
significa dizer que tais normas dispensam a atuação positiva do poder público. Todas as
normas constitucionais possuem efeito jurídico mínimo.
A) Normas de eficácia plena são aquelas que possuem eficácia imediata e direta, mas nada
impede a restrição de sua eficácia, desde que por leis ou atos normativos posteriores.
B) Normas de eficácia limitada são aquelas que iniciam sem eficácia imediata (embora tenham
efeitos mínimos), dependendo de regulação por meio de lei para produzir a totalidade dos seus
efeitos, e objetivam estabelecer princípios programáticos ou institutivos.
C) As normas de eficácia limitada não produzem qualquer efeito até o advento da sua
regulamentação por meio de lei.
D) A lei que regulamenta uma norma constitucional de eficácia contida amplia seus efeitos.
C) Atualmente, o STF entende que o Poder Judiciário nada pode fazer diante de uma norma
constitucional de eficácia limitada que não possui regulamentação, já que é necessário
observar o princípio da separação de poderes.
GABARITO
A letra B está correta. As normas de eficácia limitada dependem de lei para produzir a
totalidade dos seus efeitos, embora já produzam efeitos mínimos no início (revogador e
inibidor). Podem ser subdivididas, segundo a doutrina, de acordo com o objetivo de estabelecer
princípios programáticos (ex.: programas sociais) ou institutivos (ex.: criação de órgãos).
MÓDULO 3
INTERPRETAÇÃO JURÍDICA E
CONSTITUCIONAL
A interpretação jurídica é estudada no âmbito da hermenêutica. Como a compreensão sobre
normas jurídicas não pode ser feita ao arbítrio de qualquer pessoa, existem princípios e
métodos a serem seguidos, o que se estuda desde o início no direito.
Apesar dos conhecimentos gerais acerca da interpretação no Direito, os autores apontam para
a necessidade de identificação de princípios e métodos próprios de interpretação no Direito
constitucional, dada a natureza das normas jurídicas constitucionais.
As normas constitucionais possuem um texto mais aberto do que as normas constantes de leis
em geral, exatamente pelo seu caráter de norma fundamental do ordenamento jurídico. Assim,
a doutrina se propõe a estabelecer diretrizes próprias para sua interpretação, além das
diretrizes gerais do Direito.
PRINCÍPIOS E MÉTODOS DE
INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
O ponto fundamental desse tópico é conhecer os princípios e métodos utilizados na
interpretação constitucional. Os princípios são diretrizes que o intérprete pode se valer para
decidir o sentido a dar à norma, enquanto o método é o caminho para se chegar à conclusão.
PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO
CONSTITUCIONAL
Estabelece que, por ser a Constituição o ápice da pirâmide de hierarquia normativa, todas as
outras normas devem obediência a ela para serem consideradas válidas. Assim, o intérprete
deverá levar em consideração sempre o status hierárquico das normas constitucionais.
A supremacia da Constituição é fundamentada na declaração de inconstitucionalidade de leis
ou atos normativos incompatíveis com o seu teor. Vale destacar que o termo “Constituição”,
nesse sentido, deve ser interpretado como “normas constitucionais”, que são integrantes do
bloco de constitucionalidade, no modelo visto anteriormente.
Esse princípio orienta que a aplicação das normas infraconstitucionais deve observar e seguir
sempre uma interpretação compatível com o texto constitucional.
EXEMPLO
O julgado da medida cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 6.341 do STF é
um exemplo de utilização da técnica de interpretação conforme a Constituição. No caso,
analisava-se a constitucionalidade da Medida Provisória (MP) nº 926/2020, convertida na Lei
Federal nº 14.035/2020, que alterou a Lei nº 13.979/2020, com regras sobre o poder de polícia
em matéria sanitária, considerando a pandemia do coronavírus.
PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE
CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS
Esse princípio pressupõe que todas as leis vigentes sejam constitucionais, admitindo, porém,
prova em contrário (presunção relativa, denominada de juris tantum).
Por meio desse princípio, o intérprete deve considerar que as leis editadas contam com uma
presunção de compatibilidade com as normas constitucionais, até impugnação pelos meios
apropriados.
Por isso, a própria Constituição prevê mecanismos de impugnação, como a ADI. Assim, por
mais que uma lei seja absurda em seu teor, ela será considerada presumidamente
constitucional até que haja impugnação.
Esse princípio destaca que a norma constitucional deve ser compreendida como um todo
unitário, harmônico, sistematizado e ordenado, sem antinomias. Em eventual conflito entre
normas constitucionais originárias, deve-se utilizar a técnica de ponderação e encontrar a
solução mais adequada de acordo com a proporcionalidade e razoabilidade.
Assim, em caso de conflito entre bens constitucionalmente protegidos (exemplo: direito à vida e
liberdade religiosa), o intérprete deve buscar uma harmonização ou concordância prática da
solução a ser empreendida no caso concreto.
Esse princípio orienta o intérprete a dar primazia à interpretação que confira concretude à
norma constitucional, atualizando e garantindo eficácia e permanência da Constituição.
Mesmo em situações nas quais o texto constitucional possua uma linguagem aberta, deve o
intérprete resolver os casos com base nas normas constitucionais, atribuindo-lhe força
normativa.
Esse princípio tem relação direta com a ideia de neoconstitucionalismo, na medida em que a
Constituição passa a ser o centro do ordenamento jurídico e o intérprete possui o dever de lhe
conferir força normativa na análise dos casos concretos.
Nesse sentido, deve o intérprete considerar os contextos social e político para encontrar uma
solução que seja adequada não apenas do ponto de vista individual/subjetivo, mas também do
ponto de vista mais amplo.
Tal princípio prevê que a interpretação deve resguardar a estrutura organizacional do Estado,
de acordo com as atribuições dos poderes estabelecidas constitucionalmente (separação de
poderes).
Orienta, além disso, o intérprete a evitar interpretações que ensejem violação às competências
estabelecidas constitucionalmente para cada poder, tendo em vista o princípio da separação de
poderes previsto no art. 2º da Constituição: “São Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
O referido princípio se relaciona com o contexto atual, especialmente com a discussão acerca
do “ativismo judicial”, com a seguinte dúvida: qual o limite de atuação do Poder Judiciário? O
debate, que não é pacífico, toma como base o princípio da separação de poderes, e o
intérprete deve buscar a conformidade funcional ou a justeza de sua conclusão.
PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA
RAZOABILIDADE
Embora haja alto grau de vagueza nessas expressões do devido processo legal material, tem-
se a divisão para alcançar sua aplicação em três diretrizes que devem ser observadas pelo
intérprete, como se descreve a seguir.
MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
CONSTITUCIONAL
Além dos princípios, a interpretação constitucional também se vale de métodos específicos
para chegar à conclusão nos casos concretos.
MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO
O ponto de partida desse método, desenvolvido por Theodor Viehweg (1907-1988), são os
problemas que nascem do caso concreto e que devem ser objeto de diálogo pelo intérprete até
encontrar a solução mais adequada entre as possíveis.
Aqui, o intérprete deve partir do problema para, com o método da tópica, identificar as soluções
possíveis e escolher aquela adequada ao caso.
MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR
No método desenvolvido por Konrad Hesse (2002), considera-se que o intérprete tenha
preconcepções e, por isso, é preciso partir da Constituição para o caso concreto, limitando a
liberdade do intérprete a partir da norma. A norma serve de parâmetro para que o intérprete
possa escolher a opção mais adequada.
MÉTODO CIENTÍFICO-ESPIRITUAL
Esse método, idealizado por Rudolf Smend (1882-1975), é o mais difícil de se conceituar, pois
não há clareza na doutrina e jurisprudência.
MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE
De acordo com o método desenvolvido por Friedrich Müller, o intérprete deve considerar a
estruturação da norma para viabilizar sua aplicação prática.
ATENÇÃO
Além de conhecer os princípios aplicáveis à interpretação constitucional, um ponto muito
importante diz respeito à concepção de mutação constitucional, que se trata de uma técnica
relacionada à interpretação. A mutação constitucional é um procedimento informal de mudança
do sentido de disposições da Constituição, também chamada de poder constituinte difuso.
O texto continuará o mesmo e o que irá acontecer é uma mudança na sua interpretação, ou
seja, com evolução de sentidos. O texto passará a ser interpretado conforme a realidade atual
em que ele está inserido.
A mutação constitucional surge como fruto da dinâmica social, das construções judiciais etc. É
uma mudança de sentido, lenta e gradual. Não há declaração de inconstitucionalidade, mas
apenas mudança de interpretação.
EXEMPLO
A interpretação originária do art. 226, § 3º, da Constituição, por exemplo, era de que o
casamento só poderia ocorrer mediante conjunção do homem e da mulher. Mediante mutação
constitucional, passou-se a entender que o dispositivo constitucional permite também a união
homoafetiva.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
C) Embora a comparação entre normas constitucionais seja uma técnica utilizada pelo STF e
pelos demais órgãos do Poder Judiciário em seus fundamentos, não se trata de um método de
interpretação.
GABARITO
2. Além dos princípios de interpretação, os métodos são utilizados pelo intérprete para
se tentar chegar a uma solução em cada caso. No Direito constitucional, a doutrina
elenca alguns métodos de interpretação. Sobre o assunto, assinale a alternativa correta.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, aprendemos sobre a teoria geral da Constituição em seus variados aspectos.
Apresentamos o conceito do Direito constitucional e suas relações com diversos ramos do
Direito, assim como estudamos o conceito do neoconstitucionalismo. O Constitucionalismo
passa por um fenômeno que engloba diversos aspectos, como a ascensão da força normativa
dos princípios e a necessidade de filtragem das demais normas do ordenamento jurídico pela
Constituição.
Por fim, estudamos a interpretação constitucional e seus princípios, que a tornam singular em
relação à interpretação jurídica em geral. Entre tais princípios, cabe destacar o da supremacia
da Constituição, pelo qual todas as normas do ordenamento devem respeitar a Constituição,
que está no topo da pirâmide de normas jurídicas; e o da interpretação conforme a
Constituição, segundo o qual deve-se buscar, sempre que possível, a interpretação da norma
que possa salvar sua constitucionalidade.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito constitucional contemporâneo: os conceitos
fundamentais e a construção do novo modelo. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito constitucional. 27. ed. atual. São Paulo: Malheiros,
2011.
COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
HESSE, Konrad. A força normativa da constituição. Trad. Gilmar Ferreira Mendes. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991.
SILVA, José Afonso. Aplicabilidade das normas constitucionais. 8. ed. São Paulo:
Malheiros, 2012.
EXPLORE+
Busque pela abordagem de Inocêncio Coelho Mártires sobre os métodos e princípios de
interpretação constitucional no artigo publicado na revista FGV pelo referido professor.
Assista ao documentário acerca de José Afonso da Silva, autor que deu origem à classificação
das normas constitucionais quanto à eficácia e é considerado renomado jurista constitucional,
disponível no canal da OAB no YouTube.
CONTEUDISTA
Marcílio da Silva Ferreira Filho
CURRÍCULO LATTES