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Teoria Geral

do Direito
Constitucional

Prof. Me. José Francisco da Costa Júnior


CONSTITUIÇÃO E
HERMENÊUTICA
U1 S1

Prof. Me. José Francisco da Costa Júnior


SEÇÃO 1: Histórico e fundamentos do
constitucionalismo brasileiro

- Conceito de Constituição e constitucionalização


simbólica.
- Histórico das Constituições brasileiras.
- Classificação e elementos da Constituição.

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Teoria Geral do Direito Constitucional

Ubi societas, ibi ius.

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Constituição

“É um sistema de normas jurídicas, escritas ou


costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu
governo, o modo de aquisição e exercício de poder, o
estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os
direitos fundamentais do homem e as respectivas
garantias. Em síntese, a constituição é o conjunto de
normas que organiza os elementos constitutivos do
Estado”.
José Afonso da Silva (2015, p. 39-40)

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Estado

Povo: O povo é uma unidade cultural e social, ideológica e política (sentir-se parte de uma Nação) e
não apenas uma representação jurídica. Este sentido de unidade política inda nos falta como Nação.

Estado Território: Plataforma continental, as embaixadas e prédios oficiais


construídos em outros países, além de navios e aviões embandeirados.

Soberania: Ser soberano é não conhecer limites que lhe sejam impostos de fora ou do alto. É reunir
condições, poder, para agir com o máximo de autonomia..

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Constituições: acepções

Sociológica

Política
ACEPÇÕES
Jurídica

Cultural
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Constituição: acepções

Sociológica
A concepção sociológica de Ferdinand Lassale considera
a Constituição como sendo a soma dos fatores reais de
poder, isto é, o conjunto de forças de índole política,
econômica e religiosa que condicionam o ordenamento
jurídico de determinada sociedade.”.

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Constituição: acepções

Política
Para Carl Schmitt, Constituição é o conjunto de normas
que dizem respeito a uma decisão política fundamental, ou
seja, a vontade manifestada pelo titular do poder
constituinte originário.

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Constituição: acepções

Jurídica
A Constituição é considerada norma pura. A palavra constituição
tem dois sentidos: lógico-jurídico e jurídico-positivo. De acordo com
o primeiro, constituição significa norma fundamental hipotética, cuja
função é servir de fundamento lógico transcendental da validade da
constituição jurídico-positiva, que equivale à norma positiva
suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras
normas, lei nacional no seu mais alto grau.
(Hans Kelsen, apud José Afonso da Silva).

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Constituição: acepções

Cultural
Segundo essa acepção, a Constituição deve ser percebida como
realidade social, decisão política fundamental e norma suprema
positivada, ou seja, abarca todas as acepções anteriores.
É o conceito de constituição total, representando, entre outros, os
aspectos jurídicos, sociológicos e filosóficos.
Seus representantes, no Brasil, são Konrad Hesse, Peter Haberle e
Paulo Bonavides.

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Fonte: Diário do Direito

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Constituição simbólica

“Trata-se de Constituição que não corresponde minimamente à


realidade, não logrando subordinar as relações políticas e sociais
subjacentes. Ela não é tomada como norma jurídica verdadeira,
não gerando, na sociedade, expectativas de que seja cumprida.
Neste ponto, ela se assemelha à categoria da Constituição
nominal, de Lowenstein. Porém, a apreciação de Marcelo Neves
é mais negativa do que a do autor alemão. Para Neves, as
constituições simbólicas tendem a servir como álibi para
manutenção do status quo”.
(SARMENTO, Daniel e NETO, Cláudio Pereira de Souza. Direito Constitucional. Teoria,
Tópicos e Métodos de Trabalho. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2016, p. 65).

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Constituição simbólica

O termo “Constituição Simbólica“ foi criada pelo doutrinador


Marcelo Neves em “A constitucionalização simbólica”.
Para ele, pode-se afirmar que a Constituição Simbólica é
aquela em que há predomínio ou hipertrofia da função
simbólica (essencialmente político-ideológica) em detrimento
da função jurídico-instrumental (de caráter normativo-
jurídico), podendo-se dividi-la em dois aspectos: negativo e
positivo.

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Constituição simbólica

NEGATIVO: o texto constitucional é insuficiente para


concretizar seus próprios preceitos, perdendo a capacidade
de orientação generalizada das expectativas propostas na
norma; e
POSITIVO: o texto constitucional desempenha mero papel
político-ideológico, e assim encobre problemas sociais,
impedindo sua solução e, em último caso, a transformação
social.
(Gustavo Sousa)
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Constituição simbólica:
características

I - CONFIRMAÇÃO DE VALORES SOCIAIS:

Privilegia a posição valorativa de um determinado grupo da


sociedade. Como exemplo, podemos mencionar a conhecida
“lei seca”, fruto dos anseios da sociedade;

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Constituição simbólica:
características

II- LEGISLAÇÃO-ÁLIBI OU DEMONSTRAÇÃO DA


CAPACIDADE DO ESTADO DE SOLUCIONAR
PROBLEMAS SOCIAIS:

É a legislação que surge para dar uma “resposta aparente” a


um determinado problema, gerando a impressão de que o
Poder Público está prontamente capacitado para solucioná-
lo;

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Constituição simbólica:
características

II- ADIAMENTO DA SOLUÇÃO DE CONFLITOS SOCIAIS


ATRAVÉS DE COMPROMISSOS DILATÓRIOS:

Elaboração de planos e metas que propõem solucionar os


conflitos sociais a um longo prazo, para um futuro
indeterminado.

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1824
- Elaborada por um Conselho de Estado e outorgada por
Dom Pedro I em 25 de março de 1824, entrando em vigor
no mesmo ano.
- Principal característica era o poder pessoal do Imperador
(chefe supremo), consubstanciado no "Poder Moderador",
o qual estava acima dos outros três Poderes: Executivo,
Legislativo e Judiciário (art. 98).

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1824
- Estabeleceu a monarquia hereditária como regime de
governo;
- Poder Legislativo: era composta pela Câmera dos
Deputados e pelo Senado. Os deputados eram eleitos por
voto censitário e os senadores eram nomeados pelo
Imperador
- Poder Executivo: os presidentes das províncias, eram
nomeados pelo imperador.
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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1824

- Concedeu direito ao voto aos homens livres, maiores de 25


anos e proprietários, sendo que os eleitos somente
poderiam ser ricos, mediante comprovação de renda maior
que 100 mil Réis.
- Previa a pena de morte.

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1824
Poder Judiciário: os juízes eram nomeados pelo Imperador.
O cargo era vitalício e só podiam ser suspensos por sentença
ou pelo próprio Imperador.

A Constituição de 1824 durou 65 anos e foi a que teve a


duração mais longa na história do Brasil. Deixou de vigorar
após uma ruptura: a passagem do Brasil Império para o
Brasil República.
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Histórico das Constituições brasileiras

Fonte:
http://www.multirio.rj.gov.br/

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1891

- Promulgada em 24 de fevereiro de 1.891 pelo Congresso


Constitucional, elegeu indiretamente para a Presidência da
República o marechal Deodoro da Fonseca.
- Tripartição dos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
- Instituiu a República como forma de governo e o
Presidencialismo como sistema de governo.

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1891

- Estabeleceu eleições diretas para a Câmara e o Senado e


mandato presidencial de quatro anos.
- Instituiu o voto universal, não-obrigatório e não-secreto;
ficavam excluídos das eleições os menores de 21 anos, as
mulheres, os analfabetos, os soldados e os religiosos.

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1934

- Promulgada em 16 de julho de 1934 pela Assembleia


Constituinte no primeiro governo de Getúlio Vargas.
- Concede maior poder ao Governo Federal.
- Instituiu a obrigatoriedade do voto e tornou-o secreto;
- Ampliou o direito de voto para mulheres e cidadãos de no
mínimo 18 anos de idade.
- Cria a Justiça Eleitoral.
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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1934

- Instituiu o salário mínimo, a jornada de trabalho de oito horas,


o repouso semanal e as férias anuais remunerados e a
indenização por dispensa sem justa causa.
- Reconhecimento e concessão de autonomia aos sindicatos e
associações profissionais.
- Cria a Justiça do Trabalho.

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1937 (fascista ou “polaca”)


- Outorgada por Getúlio Vargas em 10 de novembro,
revogando a CF de 1934.
- Dissolveu o Congresso;
- Instituiu um regime ditatorial conhecido como Estado Novo;
- Instituiu a pena de morte, a suspensão de imunidades
parlamentares, a prisão e o exílio de opositores.
- Suprimiu a liberdade partidária e extinguiu a independência
dos poderes e a autonomia federativa.
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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1937

- Estabeleceu a eleição indireta para presidente e mandato de


seis anos;
- Governadores e prefeitos passaram a ser nomeados pelo
presidente;
- Suprimiu a liberdade de imprensa.

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1946
- Promulgada por deliberação do Congresso (recém-eleito)
em 18 de setembro;
- Restabelece a liberdade de imprensa (fim da censura);
- Extingue a pena de morte;
- Restaura a independência e equilíbrio dos Três Poderes;
- Restabelece os direitos individuais;
- Devolve autonomia a estados e municípios
- Institui a pluralidade partidária;
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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1946
- Incorpora a Justiça do Trabalho e o Tribunal Federal de
Recursos ao Poder Judiciário;
- Eleições diretas para presidente: mandato de cinco anos;
- Direito de greve e livre associação sindical e estabilidade de
emprego após 10 anos de serviço
- Função social da terra: condicionamento do uso da
propriedade ao bem-estar social, possibilitando a
desapropriação por interesse social.
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Histórico das Constituições brasileiras

Atos Institucionais de 1964


- Golpe Militar (31/03): até 1967 são decretados quatro Atos
Institucionais (A.I.) que permitem ao Executivo legislar sobre
qualquer assunto;
- Institui a Lei de Greve e o Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS);
- Fim da estabilidade no emprego;
- Eleições indiretas para presidente da República e
governadores de estados;
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Histórico das Constituições brasileiras

Atos Institucionais de 1964


- O Poder Judiciário torna-se mais dependente do Executivo;
- São extintos os partidos políticos e é criado o bipartidarismo;
- Conservou o Congresso Nacional, mas dominava e
controlava o Legislativo;
- Executivo encaminha ao Congresso uma proposta de
Constituição que foi aprovada pelos parlamentares e
promulgada no dia 24 de janeiro de 1967.

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1967
- “Promulgada” em 24/01/67, institucionaliza o regime militar;
- Restringe a autonomia dos Estados;
- Eleições presidenciais indiretas (colégio eleitoral:
Congressistas e delgados indicados pelas A. L.’s); voto
aberto;
- Suspensas as garantias dos magistrados, no Judiciário.
- Editados mais 13 A. I.’s, sendo um dos mais duros, o AI-5,
que implantou definitivamente a ditadura militar.
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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1967
1968 - AI-5:
- Deu ao regime militar poderes absolutos;
- Fecha o Congresso Nacional;
- Suspensão de qualquer reunião de cunho político;
- Censura aos meios de comunicação, estendendo-se à
música, ao teatro e ao cinema;

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1967

1968 - AI-5:
- Suspensão do habeas corpus para os chamados crimes
políticos;
- Decretação do estado de sítio pelo presidente da República
em qualquer dos casos previstos na Constituição;
- Autorização para intervenção em estados e municípios.

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Histórico das Constituições brasileiras

Emenda Constitucional de 1969


1969 - AI-5:
- Emenda Constitucional (17 de outubro de 1969), para
incorporar o AI-5 à Constituição;
- punição a todos que ofendessem a Lei de Segurança
Nacional.
- Extinção da inviolabilidade dos mandatos dos parlamentares
e instituiu a censura aos seus pronunciamentos.
- Suspendeu a eleição direta para governadores (1970);
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Histórico das Constituições brasileiras

Emenda Constitucional de 1969

1969 - AI-5:
- Pena de morte;
- Pena de banimento;
- Prisão perpétua em caso de “guerra revolucionária ou
subversiva”.

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1967

1979
- Reforma da Constituição.
- Revoga o AI-5;

- * Lei da Anistia

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1988

- Promulgada em 05 de outubro, amplia as liberdades civis e


os direitos e garantias individuais;
- Direito de voto aos analfabetos e aos jovens de 16 a 17 anos.
- Estabelece novos direitos trabalhistas, como redução da
jornada semanal de 48 para 44 horas, seguro-desemprego e
férias remuneradas acrescidas de um terço do salário.

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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1988
- Cria o STJ (Superior Tribunal de Justiça) em substituição ao
Tribunal Federal de Recursos;
- Cria os mandados de injunção, de segurança coletivo e
restabelece o habeas corpus.
- Cria o habeas data (instrumento que garante o direito de
informações relativas à pessoa do interessado, mantidas em
registros de entidades governamentais ou banco de dados
particulares que tenham caráter público).
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Histórico das Constituições brasileiras

Constituição de 1988
- Reforma o sistema tributário;
- Reformas na ordem econômica e social, com instituição de
política agrícola e fundiária e regras para o sistema financeiro
nacional;
- Leis de proteção ao meio ambiente;
- Fim da censura em rádios, TVs, teatros, jornais e demais
meios de comunicação; e alterações na legislação sobre
seguridade e assistência social.
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Formas e Tipos de Constituição (*)

- Jorge Miranda divide os modelos constitucionais em quatro


famílias distintas:
- a) Os sistemas constitucionais de matriz inglesa ou britânica;
- b) Os sistemas constitucionais de matriz americana;
- c) Os sistemas constitucionais de matriz francesa; e
- d) Os sistemas constitucionais de matriz soviética.

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional”, tomo I, 3. ed, Coimbra Editora,


1997, pág. 167.

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Sistemas constitucionais
de matriz inglesa ou britânica (*)

- O Direito Britânico é consuetudinário (Common Law):


fundado nos costumes.
- Há textos constitucionais escritos (v. g.: Magna Carta),
mas não são uma Constituição na concepção jurídica
internacional (estatuto jurídico-político do Estado,
resultado do poder constituinte material, como poder do
Estado de se dotar de tal estatuto, de se auto
regulamentar).
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Sistemas constitucionais
de matriz inglesa ou britânica (*)

- As leis não se ligam, sistematicamente, não se qualificam


formalmente como constitucionais e não possuem,
enquanto tais, uma força jurídica específica, como
acontece nos países com constituição escrita ou formal”.
- Alterações ocorrem, a todo o tempo, pelo Parlamento,
sem necessidade de um processo diferenciado do
processo de exercício da função legislativa (Constituição
flexível).
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Sistemas constitucionais
de matriz inglesa ou britânica (*)

- Um dos elementos essenciais da Constituição


consuetudinária é o princípio do rule of law (estado de
Direito ou império da lei): o Direito deve dar aos
indivíduos a necessária proteção contra qualquer
exercício arbitrário de poder (constitucionalismo).

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Sistemas constitucionais
de matriz estadunidense (*)

- Constituição escrita, cujo núcleo fundamental não pode ser,


em princípio, alterado (Constituição rígida).
- Adapta-se à evolução histórica da sociedade por meio de
aditamentos e da sua interpretação pelos tribunais.
- Sobrepõe-se a todas as demais normas da União ou das
unidades da federação.
- Na organização política do Estado, define-se pelo
federalismo e pela democracia direta.

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Sistemas constitucionais
de matriz soviética (*)
- Fundada nos ideais da Revolução Bolchevique de 1917 e é
resultado da ideologia marxista-leninista.
- O poder se assenta nos sovietes (conselhos de operários,
soldados, camponeses e marinheiros) e é exercido através
do partido comunista que assumiu como sua a ideologia
marxista-leninista.
- Domínio de todo o poder pelo partido comunista (o partido,
depois de permitir ao proletariado a conquista do poder,
exerce o poder em seu nome).
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Sistemas constitucionais
de matriz soviética (*)
- O poder é exercido pelo partido e não pelos órgãos do
Estado.
- Juridicamente os atos políticos provêm dos órgãos do
Estado, mas politicamente as decisões mais importantes são
sempre tomadas pelos órgãos do partido.
- A Constituição é desvalorizada em relação às leis.
- Os tribunais não interpretam a Constituição
- O partido pode dar ordens aos tribunais e determinar a
interpretação das normas por estes.
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Constituição. Classificação

QUANTO À ORIGEM:

- Promulgadas, democráticas, populares ou votadas:


elaborada com a participação popular;
- Outorgadas: elaborada sem a participação popular;
- Cesarista: Outorgadas por interposta pessoa.

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Constituição. Classificação

QUANTO À FORMA:

- Escrita: Constituição elaborada em determinado momento


da história por órgão competente para tanto e codificada e
sistematizada em um único texto.
- Não-escrita: é a Constituição não formalizada, composta
pelos costumes, pela jurisprudência, convenções e textos
constitucionais esparsos e tem como principal exemplo a
Constituição Inglesa.

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Constituição. Classificação

QUANTO À ELABORAÇÃO:

- Dogmáticas: elaborada por um órgão constituinte, referindo-


se às ideologias do momento de sua elaboração;
- Históricas ou consuetudinárias: resulta do passar do tempo,
sendo criada ao longo dos anos.

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Constituição. Classificação

QUANTO À EXTENSÃO:

Sintéticas: de conteúdo conciso, limita-se a prever os


elementos essenciais da organização e do funcionamento do
Estado;
Analíticas: de conteúdo extenso, aborda outras matérias que
ultrapassam aquelas consideradas essenciais.

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Constituição. Classificação

QUANTO AO CONTEÚDO (Carl Shmitt):


- Material: organização total do Estado em relação ao regime
político e designa as normas constitucionais, escritas ou
costumeiras, que podem estar ou não em um documento
escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organização de
seus órgãos e os direitos fundamentais;
- Formal: é a forma de existir do Estado, reduzida à forma
escrita em um documento solene que somente pode ser
alterado de acordo com o processo nela mesmo descrito.

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Constituição. Classificação

- QUANTO À ESTABILIDADE (MUTABILIDADE,


ALTERABILIDADE OU CONSISTÊNCIA):
- Imutáveis: Vedada qualquer alteração. Não mais utilizadas
atualmente. Podem ser imutáveis temporariamente (com
limitações temporais).
- Rígidas: Poderão ser alteradas por um processo legislativo
mais solene e dificultoso do que o existente para a edição
das demais espécies normativas. Art. 60 x arts. 47, 61 e 69;

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Constituição. Classificação

- A constituição rígida atende a necessidade de se mudar,


pois a ordem social é mutável, porém garante a
estabilidade da constituição, fazendo com que a
mudança seja de difícil possibilidade.

- Super rígida (Alexandre de Moraes): Algumas regras


podem ser alteradas por processo legislativo especial e
outras não podem ser alteradas. (CF 1988 e cláusulas
pétreas – art. 60 § 4º).
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Constituição. Classificação

- Flexíveis ou Plásticas: Não haverá supremacia da


Constituição por falta de hierarquia entre normas
Constitucionais e leis infraconstitucionais; Normalmente
não escritas, são alteradas pelo processo legislativo
ordinário.
- Semiflexível ou Semirrígida (Brasil 1824); Algumas
regras poderão ser alteradas pelo processo
- legislativo ordinário, enquanto outras somente por um
processo legislativo especial mais dificultoso.
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Constituição. Classificação

- QUANTO À CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE


Nominativas: buscam regular o processo político do Estado, mas
não conseguem realizar este objetivo, por não atenderem à
realidade social. São constituições prospectivas, que visam, um dia,
a sua concretização, mas que não possuem aplicabilidade. Isso se
deve, segundo Loewenstein, provavelmente ao fato de que a
decisão que levou à sua promulgação foi prematura, persistindo,
contudo, a esperança de que, um dia, a vida política corresponda
ao modelo nelas fixado. Não possuem valor jurídico: são
Constituições “de fachada”.
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Constituição. Classificação

- QUANTO À CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE

a) Normativas: regulam efetivamente o processo político


do Estado, por corresponderem à realidade política e
social, ou seja, limitam, de fato, o poder. Em suma: têm
valor jurídico. Exemplos: Constituições brasileiras de 1891,
1934 e 1946.b)

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Constituição. Classificação

- QUANTO À CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE

Semânticas: não têm por objetivo regulara política estatal.


Visam apenas formalizar a situação existente do poder
político, em benefício dos seus detentores. Exemplos:
Constituições de 1937, 1967e 1969.

7/29/21 02:36:02 PM Prof. José Francisco da Costa, Júnior 60


Constituição. Classificação

- QUANTO AOS FINS

Garantia: Visão antiga, tradicional. É a Constituição de


texto abreviado (sintética) que tem por preocupação a
enumeração das garantias individuais frente ao Estado.
Estabelecer limites da atuação do Estado. São
constituições tipicamente negativas porque exigem um
afastamento do Estado e não impõe conduta positiva do
Poder Público.
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Constituição. Classificação

- QUANTO AOS FINS

Dirigente (Programática ou Compromissória)


É a Constituição que contém um conjunto de normas-
princípios, ou seja, normas constitucionais de princípio
programático, com esquemas genéricos, programas a
serem desenvolvidos ulteriormente pela atividade dos
legisladores ordinários.

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Constituição. Classificação

- QUANTO AOS FINS


Constituição Dirigente (Programática ou
Compromissória)
No entender de Raul Machado Horta, as normas
programáticas exigem não só a regulamentação legal, mas
também decisões políticas e providências administrativas.
As normas programáticas constitucionais estabelecem
fundamentos, fixam objetivos, declaram princípios e
enunciam diretrizes.
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Constituição. Classificação

- QUANTO AO OBJETO:
Liberal
Social (regula a ordem econômica – Art. 170 e ss);

- QUANTO À IDEOLOGIA
Ortodoxa
Eclética;

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Elementos da Constituição de 1988.

Elementos orgânicos da Constituição


- Os elementos orgânicos da constituição relacionam-se aos
dispositivos constitucionais que regulam a estrutura do Estado e
do poder:
- Título III – Da organização do Estado;
- Título IV – Da organização dos Poderes e do Sistema de
Governo;
- Título V, Capítulo II – Das Forças Armadas;
- Título V, Capítulo III – Da Segurança Pública; e
- Título VI – Da Tributação e do Orçamento.
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Elementos da Constituição de 1988.

Elementos limitativos da Constituição


Os elementos limitativos da constituição referem-se as
normas protetoras dos direitos e garantias fundamentais e
que limitam o poder do Estado:

- Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), com


exceção do Capítulo II (Dos Direitos Sociais).

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Elementos da Constituição de 1988.

Elementos socioideológicos da Constituição


Os elementos socioideológicos incluem as normas que
expressam o compromisso constitucional entre o Estado
individualista (liberal) e o Estado intervencionista (social):

- Título II, Capítulo II – Dos Direitos Sociais;


- Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira; e
- Título VIII – Da Ordem Social.

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Elementos da Constituição de 1988.

Elementos de estabilização da Constituição


Os elementos de estabilização da constituição referem-se às
normas voltadas à defesa da Constituição, do Estado e de suas
instituições, bem como à solução de conflitos constitucionais, com
vistas a garantir a paz social:
- Título V, Capítulo I – Do Estado de Defesa e do Estado de Sítio;
- Título III, Capítulo V – Da Intervenção;
- Título IV, Capítulo I, Seção VIII, Subseção II- Da Emenda à
Constituição; e
- Artigos 102 e 103 (referentes à jurisdição constitucional).
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Elementos da Constituição de 1988.

Elementos de aplicabilidade da Constituição


Os elementos de aplicabilidade da constituição incluem as
normas constitucionais que regulam a sua aplicação.
- Preâmbulo;
- ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias);
- § 1º do artigo 5º, segundo o qual as normas definidoras
de direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata.

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Bibliografia

1) https://infograficos.gazetadopovo.com.br/politica/constituicoes-brasileiras/
2) https://apoiocfjtimor.files.wordpress.com/2013/09/direito-constitucional-desemba
rgador-rui-penha.pdf
3) MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional”, tomo I, 3. ed, Coimbra Editora,
1997, pág. 167.
4) http://direitoconstitucional.blog.br/ (Gustavo Sousa)

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Pós-aula

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