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Aula 21

Direito Civil p/ Magistratura Estadual


2020 (Curso Regular)

Autor:
Paulo H M Sousa
Aula 21

15 de Maio de 2020

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Sumário
Considerações iniciais ............................................................................................................................ 4

DIREITO DE FAMÍLIA............................................................................................................................. 10

I. Princípios informadores .................................................................................................................... 14

1. Dignidade da pessoa humana ......................................................................................................14

2. Solidariedade ...............................................................................................................................15

3. Igualdade .....................................................................................................................................16
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4. Liberdade......................................................................................................................................18

5. Pluralidade ...................................................................................................................................19

6. Responsabilidade .........................................................................................................................20

7. Afetividade ...................................................................................................................................21

II. Direito Conjugal ............................................................................................................................... 21

1. Direito conjugal existencial ..........................................................................................................21

1.1. União estável.............................................................................................................................22

1.1.1. Requisitos ............................................................................................................................................... 22

1.1.2. Defeitos................................................................................................................................................... 27

1.1.3. Efeitos ..................................................................................................................................................... 31

1.1.4. Dissolução ............................................................................................................................................... 33

1.2. Casamento ................................................................................................................................34

1.2.1. Requisitos ............................................................................................................................................... 35

A. Requisitos para a celebração........................................................................................................................ 35

B. Requisitos da celebração .............................................................................................................................. 38

C. Casamento religioso ..................................................................................................................................... 39

D. Casamento sob moléstia grave e casamento nuncupativo.......................................................................... 40

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1.2.2. Defeitos................................................................................................................................................... 41

A. Causas de impedimento...............................................................................................................41

B. Causas de suspensão ...................................................................................................................45

C. Invalidades ...................................................................................................................................49

A) Inexistência .................................................................................................................................................. 49

B) Nulidade ....................................................................................................................................................... 49

C) Anulabilidade................................................................................................................................................ 51

1.2.3. Efeitos ..................................................................................................................................................... 58

1.2.4. Dissolução ............................................................................................................................................... 59

A. Noções gerais ............................................................................................................................................... 59

B. Separação judicial ......................................................................................................................................... 61

C. Divórcio......................................................................................................................................................... 62

2. Direito conjugal patrimonial ........................................................................................................64

2.1. Noções gerais ............................................................................................................................64

2.2. Pacto antenupcial .....................................................................................................................71

2.3. Regimes de bens .......................................................................................................................72

2.3.1. Comunhão parcial................................................................................................................................... 72

2.3.2. Comunhão universal ou total ................................................................................................................. 81

2.3.3. Separação obrigatória ou legal ............................................................................................................... 82

2.3.4. Separação voluntária ou convencional................................................................................................... 86

2.3.5. Participação final nos aquestos .............................................................................................................. 87

Jurisprudência Correlata ...................................................................................................................... 89

Jornadas de Direito Civil..................................................................................................................... 107

Resumo .............................................................................................................................................. 107

Considerações finais .......................................................................................................................... 112

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Questões Comentadas ....................................................................................................................... 112

Lista de Questões ............................................................................................................................... 157

Gabaritos ............................................................................................................................................ 175

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Inicialmente, lembro que sempre estou disponível, para você, aluno Estratégia, no Fórum de Dúvidas do
Portal do Aluno e, alternativamente, também, nas minhas redes sociais:

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O Direito de Família deixou, segundo Berenice Dias, de ser o Direito de Família para ser o Direito das Famílias.
A lógica desse raciocínio é cristalina: não se pode mais falar num modelo de família, talqualmente fazia o
legislador de 1916.

Nosso ordenamento pretérito fundava a família em alicerces que foram lentamente afundando. A sociedade
contemporânea é como a areia movediça. Ao contrário da perspectiva negativa que pode se intuir, esse
dinamismo é positivo. A areia dos tempos, numa ampulheta, igualmente não para.

O tempo não para, já dizia Cazuza, no crepúsculo dos anos de chumbo. As mudanças são incontroláveis,
ainda que o legislador, por vezes, tente petrificar a realidade na norma. O Direito de Família é exemplar nesse
aspecto. Miguel Real petrificou a codificação familiar ainda na virada dos anos de 1970 e a norma se
consolidou no CC/2002.

Nesses 30 anos, o Brasil saiu de uma ditadura militar e passou à democracia. Nesses 30 anos, o papel na
mulher na sociedade mudou dramaticamente. Nesses 30 anos, passamos do mundo jurássico pré-internet –
sem telefonia móvel, sem Wikipedia, sem Google, sem YouTube, sem redes sociais, sem aplicativos, sem
mensagens de texto, sem ensino à distância – ao “admirável mundo novo” da tecnologia da palma da mão e
do alcance dos dedos.

O “pai” do Código Civil, porém, não acompanhou as mudanças e era constantemente criticado pela postura
“conservadora”, no sentido mais literal do termo. Conservar as soluções jurídicas já bem assentadas em
detrimento das mudanças de um mundo que se mostrava caótico para quem apreciava certa “tranquilidade
normativa”.

Por isso, o CC/2002 se manteve fiel ao Direito de Família, na família ainda calcada num viés patriarcal,
paternal, patrimonial, machista, heteroafetivo, dual e formal. Afasta-se a aplicabilidade da norma a mãe,
filhos, existência, mulher, homossexuais, arranjos plurais e arranjos informais. O Código apaga da própria
existência relações outras que não se encaixam no modelo predeterminado.

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Se eu fosse elencar os numerosos “cochilos” do legislador, dormiríamos eu e você, em berço esplêndido. O


CC/2002 tem erros técnicos e erros sérios, mas quando o Direito de Família se descortina, os erros se tornam
imperdoáveis.

A união estável grassava a passos largos desde a década de 1980. As uniões homoafetivas já se
descortinavam massivamente desde a década de 1990. O poder parental já havia sido revisto como poder-
dever desde o ECA. Não se podia fazer distinções entre os filhos desde a CF/1988.

A justificativa de Miguel Reale, portanto, é absolutamente falsa. O “pai” do CC/2002 não apenas deixou de
avançar, como retrocedeu. Dizer que o CC/2002 espelhava aquilo que já estava consolidado na sociedade
brasileira é, com o perdão da expressão mais forte, uma mentira deslavada. Ele espelhava a sociedade
brasileira, não a sociedade brasileira do séc. XXI, mas a sociedade brasileira do séc. XX, mais precisamente
dos anos 1960.

A norma se imobilizou em larga medida porque seu criador se imobilizou. A criatura se lhe tornou tão cara
que seus equívocos passaram a ser vistos como “intriga da oposição”, ou como Reale dizia, “desatenção dos
juristas mais novos”. Ele atacava os opositores com o velho argumento vazio da tradição.

“O tempo não para”, mas “eu vejo o futuro repetir o passado”. Talvez essa máxima cazuziana evidencie o
CC/2002 relativamente ao Direito de Família. A futura norma repetia a anterior, com modificações mais
cosméticas do que profundas.

Por isso, com razão Berenice Dias ao dizer que não existe mais Direito de Família, mas um Direito das
Famílias. Famílias no plural, porque os arranjos existenciais contemporâneos desafiam as classificações
tradicionais, rompem com o comodismo das soluções monistas simples e tornam a realidade mais complexa.
Essa complexidade, certamente, torna mais difícil compreender a completude do sistema e impedir
contradições negativas.

Sim, porque nem sempre a contradição é, de per si, negativa. Mas as contradições do legislador trazem
desafios quase incontornáveis. A exigência de constitucionalização do Direito de Família se torna um
imperativo, consequentemente. Boa parte das soluções aos “cochilos” do legislador virá da leitura vertical-
formal, horizontal-substancial, mas principalmente, prospectiva da CF/1988 e dos princípios e garantias
fundamentais.

O papel da jurisprudência, dessarte, é fundamental no Direito de Família. O papel do STJ é ainda mais
fundamental, porque à Corte são levadas a maioria das discussões a respeito das relações existenciais. Das
mais comezinhas do cotidiano, como saber se se exige outorga conjugal do companheiro na fiança, às mais
relevantes, como saber quais bens exatamente devem ser partilhados entre os conviventes.

Pessoalmente, acho que o STJ deu passos importantes rumo a um Direito de Família mais justo, democrático
e plural, mas ainda há muito o que fazer.

A Corte resiste firmemente em reconhecer as uniões paralelas, ainda se fixando na distinção tradicional de
concubinato e união estável. Relega numerosas relações estáveis ao “buraco negro” do concubinato e mutila
os direitos de muitas pessoas, especialmente mulheres em condições mais simples. Ainda resistem no
julgador ideias ortodoxas e moralistas que acabam por premiar precisamente aqueles que “cometeram o
pecado”.

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O modelo canônico de premiar o pecador, evitando que filhos extraconjugais fossem reconhecidos, que
filhos adotivos tivessem direitos e que relações extraconjugais fossem reconhecidas foi superado pelo
constituinte. Não há mais distinção entre filhos, a união estável tem de ser reconhecida.

O julgador ainda não conseguiu o mesmo, em variados sentidos. Aquele que tem duas uniões paralelas,
conhecidas ou não uma da outra, continua a poder relegar uma delas à inexistência jurídica. Aquele que tem
uma união poliafetiva ainda terá de fazer uma escolha que excluirá alguém da conta.

CÁ VOU ABRIR UMA GRANDE – GRANDE MESMO – NOTA DE RODAPÉ MENTAL, PARA VOCÊ ENTENDER A “LÓGICA”
QUE ESTÁ POR DETRÁS DE ALGUMAS NORMAS DO CC/2002.

É UM QUADRO QUE PODE AJUDAR VOCÊ NUMA PROVA DISSERTATIVA, PROVA PRÁTICA OU PROVA ORAL, DE MODO A
ENRIQUECER SUA COMPREENSÃO E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA. SE VOCÊ QUER SE APROFUNDAR UM POUCO MAIS,
COMPREENDENDO A RACIONALIDADE DO DIREITO CIVIL, VEM COMIGO!

TRADICIONALMENTE, AS RELAÇÕES NÃO MATRIMONIALIZADAS ERAM TODAS CHAMADAS DE CONCUBINATO. A


DISTINÇÃO ERA SIMPLES: HÁ UMA UNIÃO LEGÍTIMA, O CASAMENTO, E UMA UNIÃO ILEGÍTIMA, O CONCUBINATO. O
CASAMENTO É FORMAL; PORTANTO, UMA UNIÃO DE DIREITO, E O CONCUBINATO É UMA UNIÃO INFORMAL;
PORTANTO, UMA UNIÃO DE FATO.

É A MESMA LÓGICA FORMAL USADA PELO CC/1916 PARA TANTOS OUTROS INSTITUTOS (PROPRIEDADE COMO
DIREITO, FORMAL, POSSE COMO FATO, INFORMAL; PARENTALIDADE ADOTIVA COMO DIREITO, FORMAL,
PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA COMO FATO, INFORMAL). ISSO OCORRE PORQUE A SOCIEDADE BRASILEIRA É
CARACTERIZADA POR PROFUNDO DESPREZO À FORMA JURÍDICA.

ANTES DE SER UM ASPECTO NEGATIVO, ISSO TEM UMA EXPLICAÇÃO. A FORMA JURÍDICA, INICIALMENTE TRAZIDA PELO
COLONIZADOR PORTUGUÊS, ERA ABSOLUTAMENTE IMPRATICÁVEL PELOS EXCESSOS. A SEGUNDA DEMÃO DE FORMA
IMPORTADA DO DIREITO GERMÂNICO NO CC/1916 SÓ PIOROU AS COISAS. A TERCEIRA DEMÃO, VINDA DA LEI DE
REGISTROS PÚBLICOS, TERMINOU O TRABALHO.

CRIOU-SE, ASSIM, A AURA DE UM DIREITO DISTANCIADO DA REALIDADE SOCIAL, FORMALISTA, BUROCRÁTICO,


CUSTOSO E “SEM NOÇÃO”. COM RAZÃO. UMA SOCIEDADE ANALFABETA, POBRE E SEM TRADIÇÃO JURÍDICA EUROPEIA
JAMAIS ADOTARIA, DO DIA PARA A NOITE, SEM PESTANEJAR, UM DIREITO CRIADO PELA E PARA AS ELITES TUPINIQUINS
QUE SE ACREDITAVAM ESCLARECIDAS PELAS LUZES FRANCESAS.

O VÉU DA IGNORÂNCIA DE NOSSOS BRILHANTES – SEM SARCASMO – JURISTAS DOS SÉCS. XIX E XX CRIOU UMA ILHA
DE DIREITO CIRCUNDADA POR UM OCEANO DE NÃO DIREITO. SE O DITADO VOX POPULI, VOX DEI, FOSSE CORRETO,
EM 2 DE JANEIRO DE 1917, O CC/1916 DEVERIA TER SIDO RASGADO. BRILHANTE, TÉCNICO, BEM ELABORADO,
LINGUISTICAMENTE IMPECÁVEL, ERA PERFEITO.

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PERFEITO DEMAIS. PARA AS PESSOAS, O CC/1916 E NADA ERAM PRATICAMENTE A MESMA COISA. APESAR DE
ALGUMAS CONCESSÕES LEGISLATIVAS – COMO O CASAMENTO RELIGIOSO QUE PODERIA SER EFICACIZADO CIVILMENTE
A QUALQUER TEMPO –, A NORMA NUNCA SE APLICOU À GENERALIDADE DOS CASOS. A SOCIEDADE CONTINUOU A VIVER
À MARGEM DA LEI.

DOU UM SALTO DE 100 ANOS. ESPECIALMENTE ENTRE 2017 E 2018, VÁRIAS LEIS FORAM CRIADAS, ESPECIALMENTE
NA ÁREA DO DIREITO DAS COISAS, PARA TENTAR “REGULARIZAR” ISSO E AQUILO. POR QUE TEMOS TANTAS NORMAS
“REGULARIZADORAS”? ORA, BASTA TRAFEGAR PELAS REGIÕES MAIS PERIFÉRICAS DAS CIDADES PARA ENTENDER.

A REGULARIDADE É A EXCEÇÃO. A ESSA ALTURA VOCÊ DEVE JÁ ESTAR CRITICANDO “O BRASILEIRO” E SUA MANIA PARA
O “JEITINHO”. HÁ CERTA RAZÃO, MAS A MAIOR RAZÃO É EXTERIOR. AS PESSOAS SÃO LEVADAS EM SUA MAIORIA À
IRREGULARIDADE, POR FORÇA DA TRADIÇÃO E DO EXCESSO DE FORMALIDADE EXIGIDOS PELA LEI.

SOU DO INTERIOR. ANTIGAMENTE, QUANDO HAVIA UM CONFLITO A RESPEITO DA CERCA DA PROPRIEDADE, VOCÊ ACHA
QUE MEUS CONTERRÂNEOS MANEJAVAM UMA AÇÃO DEMARCATÓRIA PARA AJUSTAR OS LIMITES DAS PROPRIEDADES?
CLARO QUE NÃO. RESOLVIAM OU NO GRITO, OU NA BALA. A BUROCRACIA ESTATAL SEMPRE AFASTOU AS PESSOAS DO
PODER JUDICIÁRIO.

A ESSA ALTURA VOCÊ DEVE JÁ ESTAR CRITICANDO “OS POLÍTICOS” E “BUROCRACIA DAS LEIS” POR ELES CRIADAS. HÁ
CERTA RAZÃO, MAS A RAZÃO É OUTRA. TODOS NÓS COMETEMOS “NOSSA BUROCRACIA DIÁRIA”.

OS PROCURADORES PROCRASTINAM COM RECURSOS EVIDENTEMENTE INDEVIDOS INDENIZAÇÕES DEVIDAS PELO


ESTADO. OS DEFENSORES TENTAM EXCULPAR SEUS ASSISTIDOS COM UMA TECNICALIDADE LEGAL . OS PROMOTORES
TENTAM EMBARGAR UMA OBRA COM BASE NUM REQUISITO ESTAPAFÚRDIO. OS DELEGADOS TENTAM MANTER PRESO
O RÉU COM BASE NUMA BRECHA ARGUMENTATIVA. OS JUÍZES TENTAM EVITAR JULGAR UMA LIDE COM BASE NUM
REQUISITO BESTA DA NORMA PROCESSUAL.

MUITO MAIS DO QUE UMA CRÍTICA, ESSA É UMA AUTOCRÍTICA. TODOS OS OPERADORES DO DIREITO – INCLUINDO EU
E PROVAVELMENTE VOCÊ – CRITICAM A BUROCRACIA ALHEIA, MAS, CONSCIENTE OU INCONSCIENTEMENTE FAZEM A
MESMA COISA. AÍ, O CIDADÃO SIMPLES E SEM RECURSOS SE VÊ NO FOGO-CRUZADO DO DIREITO E, CLARO, OPTA PELO
“JEITINHO”.

POR ISSO, AS PESSOAS “FOGEM” DE NÓS. A SIMPLES PRESENÇA DE VESTES TALARES OU MESMO DE NÃO TÃO TALARES,
COMO TERNO OU TAILLEUR, JÁ EVOCA O DIREITO EM SEU VIÉS NEGATIVO. DE NOVO, SOU UM CARA DO INTERIOR.
ANDAR DE TERNO FORA DO FÓRUM – E DEPENDENDO DE QUÃO INTERIORANO ESTAMOS FALANDO – É PRATICAMENTE
PASSAR RECIBO DE ALIENÍGENA E AUTOMATICAMENTE SER RECONHECIDO COMO UM BUROCRATA A SE EVITAR .

CLARO QUE AS PESSOAS TAMBÉM SÃO CONTRADITÓRIAS. RECLAMAM DAS FORMALIDADES LEGAIS, MAS RECLAMAM
QUE NÃO SÃO ATENDIDAS PELA LEI QUANDO NÃO CUMPREM COM ELAS. QUEREM OS BÔNUS DA LIBERDADE, MAS NÃO
OS ÔNUS DA RESPONSABILIDADE.

O FATO É QUE, SEJA COMO FOR, POR HERANÇA – BUROCRÁTICA LUSITANA – E POR TRADIÇÃO – INÉRCIA DOS JURISTAS
–, O FORMALISMO JURÍDICO CONTINUA A SER EXCESSIVO. CONTRAPROVA SÃO AS SUCESSIVAS MUDANÇAS
PROCESSUAIS QUE TENTAM “DESBUROCRATIZAR” OS INSTITUTOS DE DIREITO MATERIAL, DE MODO A PERMITIR ATOS
EXTRAJUDICIAIS.

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O QUE OS PROCESSUALISTAS AINDA NÃO ENTENDERAM É QUE ESSAS MUDANÇAS NÃO ALTERAM O FORMALISMO DO
DIREITO MATERIAL – COISA QUE OS CIVILISTAS PARECEM TAMBÉM NÃO TER ENTENDIDO. ELAS TAMBÉM NÃO ALTERAM
O EXCESSIVO FORMALISMO DO PRÓPRIO DIREITO PROCESSUAL. A DISTINÇÃO ENTRE O AGRAVO INTERNO EM RESP E
O AGRAVO AO PRÓPRIO TRIBUNAL SUPERIOR, PREVISTA NOS §§1º E 2º DO ART. 1.030 DO CPC/2015, É
SINTOMÁTICA.

EU ENTENDO A LÓGICA DESSES DISPOSITIVOS – QUE, A RIGOR, É IMPECÁVEL. MAS ISSO É ABSURDAMENTE
FORMALISTA. A BUROCRATIZAÇÃO SENTIDA NOS JECS SEGUE O MESMO CAMINHO. DE UMA JUSTIÇA SIMPLES, DIRETA
E INFORMAL, OS JUIZADOS SE TORNARAM VARAS CÍVEIS.

ESSA BUROCRACIA CHEGA TAMBÉM AO DIREITO DE FAMÍLIA. SE CASAR ERA DIFÍCIL, DESCASAR ERA AINDA PIOR, ATÉ
A EC 66/2010. O RESULTADO? MUITAS PESSOAS PASSARAM A NÃO CASAR, MAS APENAS A “CONVIVER”. SE DER
ERRADO, CADA UM VAI PARA O SEU LADO (SE HOUVER ACORDO, CLARO) E PONTO. POR ISSO, O CASAMENTO PASSOU
A SER REPUTADO COMO INDESEJÁVEL POR MUITOS, ANTE SEU EXCESSIVO FORMALISMO. O DIREITO, NOVAMENTE,
“FORÇOU” AS PESSOAS AO NÃO-DIREITO.

MAS, AÍ, REPETINDO EDGAR MORIN, HOUVE LA RÉVOLTE DES FAITS CONTRE LE CODE (A REVOLTA DOS FATOS CONTRA
O CÓDIGO), E OS FATOS VOLTAM AO CÓDIGO. MAIS RECENTEMENTE É QUE A TAL “UNIÃO ILEGÍTIMA” FOI LEGITIMADA
E PASSOU A ADOTAR O NOME DE “UNIÃO ESTÁVEL” PARA EVITAR O USO DO TERMO.

A UNIÃO ESTÁVEL FOI LENTAMENTE SENDO ENTENDIDA COMO A “CONVIVÊNCIA PÚBLICA, CONTÍNUA E DURADOURA E
ESTABELECIDA COM O OBJETIVO DE CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA”. É A CHAMADA CONVIVÊNCIA MORE UXORIO, OU SEJA,
A CONVIVÊNCIA “COMO SE CASADOS FOSSEM”. OS COMPANHEIROS SÃO, EM SÍNTESE, “CASADOS QUE NÃO
CASARAM” FORMALMENTE, MAS APENAS FATICAMENTE, UMA RESSIGNIFICAÇÃO DA ANTIGA “SOCIEDADE DE FATO”.

A JURISPRUDÊNCIA, CURIOSAMENTE, FOI FECHANDO O ENTENDIMENTO A RESPEITO DA TAL CONVIVÊNCIA MORE


UXORIO, NÃO APENAS EXIGINDO QUE A CONVIVÊNCIA FOSSE “COMO SE CASADOS FOSSEM”, MAS TAMBÉM “SEM QUE
IMPEDIDOS DE CASAR FOSSEM”. ESSA CONSTRUÇÃO PERMITIU A DISTINÇÃO ENTRE A UNIÃO ESTÁVEL E O
CONCUBINATO.

DE NOVO, O FORMALISMO COMEÇA A DAR SINAIS E A EXPULSAR AS PESSOAS DO DIREITO PARA O ESPAÇO DE NÃO-
DIREITO. O QUE CERTAMENTE VAI ACONTECER (E JÁ ESTÁ ACONTECENDO)? LA RÉVOLTE DES FAITS CONTRE LE CODE.

MAIS E MAIS DEMANDAS VÃO INUNDAR PAULATINAMENTE AS CORTES QUANDO A INFORMALIDADE ARREBENTAR O
DIQUE DA FORMALIDADE. LEGISLADOR E/OU JURISPRUDÊNCIA VÃO TER DE LIDAR COM A INUNDAÇÃO,
IRREMEDIAVELMENTE. O APEGO AO FORMALISMO, DE NOVO, VAI SE VOLTAR CONTRA OS JURISTAS.

COMO ISSO VAI SER REGULADO, EU NÃO SEI. MAS VAI. DE UM JEITO OU DE OUTRO. COM A NOSSA APROVAÇÃO OU
REPROVAÇÃO. A MUDANÇA É INEVITÁVEL.

De outra banda, a jurisprudência, com razão, ainda tem dificuldade em distinguir o namoro da união estável.
Essa é uma distinção efetivamente muito difícil de se fazer na prática e, aqui, preciso fazer um aceno ao
julgador. Deixar nas mãos de um terceiro a tarefa de escarafunchar a vida de duas pessoas para dizer se
aquilo era “sério” ou se era apenas “pegação” prolongada no tempo é uma sacanagem...

Como “o tempo não para”, os critérios simplistas de outrora já não funcionam mais. Coabitação e relações
sexuais já não mais permitem fazer a distinção entre “sério” e “pegação”.

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Os desafios, você pode ver, recaem sobre os ombros da jurisprudência, para o bem e para o mal.
Evidentemente, nem sempre o juiz conseguirá, com toda a sua prudência, dar uma decisão “boa”. Ele é tão
humano quanto eu e você, que também erramos (só não vale errar no dia da prova!). Isso é normal.

Mas, como “o tempo não para”, a única solução que não pode ser tolerada nem perdoada é aquela na qual
“eu vejo o futuro repetir o passado”. As mudanças estão aí para ficar, quer queiramos, quer não.
Compreender que a única coisa que não muda é a própria mudança ajuda a entender o Direito de Família e
torna o tema menos difícil. Amanhã, talvez, isso que eu estou a dizer hoje já pertença ao ontem.

E qual é o ponto do seu Edital que eu analisarei nesta aula? Veja:

Direito de família conjugal

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DIREITO DE FAMÍLIA
Inicialmente, há de se ter em mente que o Direito de Família passou por profunda releitura. O
primeiro indício dessa releitura está no art. 226 da CF/1988, que alargou o conceito de família,
transformando “a” família “nas” famílias. Eis o rol de famílias previstas no texto constitucional
de maneira explícita:

Família matrimonializada

• Também chamada de família tradicional, é aquela formada pelos laços do casamento e


se constitui diante do cumprimento das formalidades previstas no CC/2002, seja o
casamento civil, seja ele religioso com efeitos civis (art. 226, §1º)

Família informal

• Também chamada anteriormente de união concubinária ou mais contemporaneamente


de união estável, é aquela formada pelos laços “de fato”, faltando-lhe o cumprimento
das formalidades legais, mas podendo ser convertida em casamento (art. 226, §3º)

Família monoparental

• Trata-se da comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, em razão
do término da sociedade conjugal – como nos casos de morte ou divórcio –, ou mesmo
não sem casamento ou união estável prévios – “mãe solteira” ou “pai solteiro” (art. 226,
§4º)

No entanto, o rol previsto no texto constitucional é meramente exemplificativo (numerus apertus), não
constituindo ele rol taxativo (numerus clausus), que não permite ampliação. Ao contrário, é possível dizer
que a norma constitucional foi bastante tímida, deixando de prever arranjos familiares bastante tradicionais,
a exemplo da família anaparental.

É possível encontrar na legislação outros arranjos familiares e definições de família igualmente


importantes para o Direito de Família contemporâneo:

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Família natural ou biológica

• Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e
seus descendentes (art. 25 do ECA), em sua perspectiva biológico-genética

Família extensa ou ampliada

• Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da
unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os
quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade
(art. 25, parágrafo único, do ECA)

Família substituta

• Entende-se por família substituta, no silêncio do art. 28 do ECA, aquela que está
cadastrada para a adoção e que, convocada de acordo com o perfil da criança ou
adolescente desejado, recebem-no mediante guarda

Família socioafetiva

• Entende-se por família socioafetiva aquela que não é ligada por vínculos naturais
(genético-biológicos) ou civis (decorrentes de adoção), mas pelo afeto reconhecido
socialmente pela fama (reputatio), pelo tratamento (tractatus ou tractatio) e pelo nome
(nomem ou nominativo)

Evidentemente, o texto constitucional e as normas infraconstitucionais foram ainda mais


contidas no tocante a um sem-número de arranjos familiares menos ortodoxos, mas
igualmente pinçáveis pelos princípios constitucionais explícitos e implícitos na Carta
Constitucional. É possível, ainda, elencar os seguintes arranjos familiares:

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Família anaparental ou parental

• É anaparental a família não estruturada na verticalidade, mas na identidade de


propósito de seus membros. Distingue-se das demais famílias pela inexistência de laços
conjugais

Família plurilateral, composta, binuclear ou mosaico

• É plurilateral a família constituída com o término das relações pretéritas, reconstruídas e


compostas pelos membros anteriores, na qual existe uma multiplicidade de vínculos.
Talvez a expressão “os meus, os seus, os nossos” resuma bem a definição das famílias
recompostas pelo recasamento de ex-casais com filhos

Família homoafetiva

• Em realidade, não se trata de uma espécie de família diferente das demais, mas pelo
preconceito ainda existente, a literatura sublinha o caráter familiar das relações
existenciais entre pessoas do mesmo gênero (ADI 4.277 e ADPF 132)

Além desses arranjos mais assentados, é possível ainda falar em famílias que ainda estão “sob debate”. Trata-
se dos arranjos familiares que desafiam o legislador e o julgador, sendo, em sua maioria, ainda rechaçados
por nossas Cortes.

O STJ, em reiteradas decisões, afasta o caráter familiar de algumas dessas famílias, ainda que não afaste
determinados efeitos patrimoniais, por exemplo. São precisamente esses arranjos familiares que surgem
como “novidade” e causam perplexidade, talqualmente ocorreu com o desquite na sociedade da década de
1920, o divórcio na década de 1970 e as uniões homoafetivas, na década de 1990.

Atualmente, são dois arranjos familiares a se confrontar com os tribunais. Em comum, ambos os arranjos
levam o ditado popular “em coração de mãe sempre cabe mais um” do plano vertical (relações parentais-
filiais) ao plano horizontal (relações conjugais).

Trata-se de dois arranjos que fazem soçobrar o “princípio da monogamia” que, do Direito Canônico,
acabaram incorporados pelo Direito Civil e pelo Direito Penal. No Direito Penal a monogamia já ruiu. Com a
Lei 11.106/2005, o tipo de adultério foi extirpado definitivamente do art. 240 do CP/1940.

A monogamia, porém, resiste bravamente na seara privada, especialmente pela atuação jurisprudencial que
resiste em derribá-la de vez ao persistir na distinção entre união estável e concubinato. Mas a legislação
também não colaborou, mantendo o termo “adúltero” aqui e acolá (art. 550, art. 1.573, inc. I, art. 1.600 e,
de maneira implícita, art. 1.521, inc. VII), ainda sublinhando o caráter monogâmico das relações existenciais
conjugais.

Se “em coração de mãe sempre cabe mais um”, nas relações conjugais o ditado deveria dizer “mas em
coração de homem e mulher nunca cabe mais um”. Adiante, ao tratar dos princípios informadores do Direito
de Família, volto a falar do assunto, especialmente porque o “princípio da monogamia” – que princípio não

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é, mas regra do matrimônio, apenas – tem se tornado cada vez mais perverso, espraiando os bônus da
poligamia aos casados e os ônus dela aos amantes:

Famílias paralelas ou simultâneas

• As famílias paralelas, numa definição euclidiana, são duas retas distintas de um plano
que não têm um ponto comum. São duas famílias que têm um elo (geralmente o
homem), mas que não se conectam entre si, são independentes
• Uma família simultânea pode ser ou não de conhecimento da outra; podem ser ambas
públicas ou apenas uma delas, não importa. O que releva é que dois arranjos familiares
são simultâneos, mas estão geograficamente apartados

Famílias poliafetivas

• As famílias poliafetivas, também numa definição euclidiana, são duas retas coincidentes
ou concorrentes, com um ou mais pontos em comum. São duas famílias que têm um ou
mais elos, conectados de maneira dependente
• A coincidência mínima de uma família poliafetiva é o trisal, cujos três membros se
relacionam os três entre si ou aos pares, em relações hetero, bi ou homoafetivas, não
importa. O que releva é que os dois arranjos familiares são simultâneos, e são
geograficamente coincidentes

Nesses dois casos, a literatura jurídica aponta as relações na qual existe a figura do poliamor – ainda mais
nas famílias poliafetivas –, que foge à perspectiva convencional e ordinária. Evidentemente, não se trata
quaisquer delas de relações monogâmicas com “desvios” poligâmicos. A boa e velha traição, pura e
simplesmente, não tem o condão de criar uma nova família.

Fala-se em família simultânea ou poliafetiva quando, efetivamente, há um arranjo familiar que desborda
da simples relação fugaz. Aqui se distinguem as relações poliafetivas – tanto as famílias simultâneas
quanto as famílias poliafetivas – das relações abertas.

As relações monogâmicas podem ser abertas. Um casal, casado ou em união estável, pode se permitir
relações “extraconjugais”, com maior ou menor frequência – o popular “vale night”. Isso não torna esse
relacionamento poliafetivo. A poliafetividade pressupõe... afeto. Não no seu sentido pedestre, mas no
sentido do “princípio da afetividade”, no sentido de partilhar uma vida em comum.

Basta transmudar a noção comum que existe de uma união matrimonializada para uma união plural. É
precisamente esse mesmo sentido que se verifica nas famílias poliafetivas. Mesmo uma família poliafetiva
pode ser fechada, ou aberta, como preferirem seus membros. Um trisal pode ser “fechado”, não se
permitindo que seus membros componham relações externas; ou podem.

Isso é irrelevante. Segundo a literatura jurídica contemporânea, o que se tem de ter em mente é que esse
trisal ou essas duas famílias simultâneas terão os mesmos direitos e as mesmas obrigações de um casal
tradicional. Nem mais bônus, nem mais ônus. A crítica que se faz é que, atualmente, relações poliafetivas
dão os bônus aos “culpados” e ônus aos “inocentes”.

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Dessa forma, na esteira de Berenice Dias, impossível se falar em família, mas em famílias, no plural.
Didaticamente, porém, manterei o termo clássico, já que o uso do termo é muito mais aplicável à divisão dos
livros do CC/2002 do que a uma perspectiva sobre as noções familiares. Reitero, evidentemente, que não se
pode mais reduzir a família à família matrimonializada, ou à família informal ou a arranjos familiares
heteroafetivos, ou, em resumo, a qualquer forma de discriminação ou redução do espectro das relações
existenciais.

I. PRINCÍPIOS INFORMADORES
Tanto o Direito de Família patrimonial quanto o Direito de Família existencial são informados pelos
princípios constitucionais. A escolha de quais são esses princípios, evidentemente, dependerá do autor em
questão.

Eu acabo por elencar os princípios que me parecem mais característicos do Direito de Família, mas isso não
significa que estão outros excluídos. Inversamente, muitos dos princípios que são indicados de maneira
autônoma por outros autores acabam sendo inseridos, aqui, dentro dos demais.

Sejam os princípios que eu elenco, sejam os princípios que os demais autores elencam, em larga medida
decorrem da tríade de fenômenos que é fundamental para o Direito Civil contemporâneo: a
despatrimonialização, a repersonalização e a constitucionalização do Direito Civil. Essa tríade decorre da
eleição, em sede constitucional, do princípio da dignidade da pessoa humana como o vértice de todo o
ordenamento jurídico.

1. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


Estabelecido pelo art. 1º, inc. III, da CF/1988, a dignidade da pessoa humana é corolário de todo o
ordenamento jurídico brasileiro e, por isso, é apontado como um superprincípio. Se eu fosse fazer uma
analogia canônica, tão cara ao Direito de Família tradicional, a dignidade da pessoa humana é o papa dos
cardeais princípios.

Evidentemente, a dignidade da pessoa humana, como princípio norteador do sistema


que é, é porosa e de conceituação impossível. Necessário se fazer a verticalização do
princípio, densificando-o para que possa ser aplicado aos casos concretos.

No que tange ao Direito de Família, é fácil notar a aplicação do princípio da dignidade


humana à decisão do STF na qual se fixou o entendimento de que a sucessão do
companheiro deve ser igual à do cônjuge. Em que pese o tema de fundo ser o Direito das Sucessões, o
fundamento é de Direito de Família.

Ora, é absolutamente irrelevante a forma pela qual se iniciou a relação existencial entre as pessoas que
resolveram partilhar uma vida. A forma soleníssima do casamento e a forma absolutamente simples da
união estável não podem servir de escora a uma distinção indevida.

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Entendimento diverso torna uma dessas relações menos digna aos olhos do Direito do que outra, vale dizer,
viola-se a dignidade dos envolvidos na situação. Mas mesmo o Direito de Família patrimonial se vale da
dignidade da pessoa humana para compreender as diversas situações jurídicas.

Talvez a mais paradigmática delas seja a decisão do STJ (REsp 1.159.242) na qual se fixou o entendimento
de que o abandono afetivo seria fator de criação do dever de indenizar. O genitor ausente quanto aos
deveres existenciais, ainda que presente quanto aos deveres patrimoniais, viola a dignidade da pessoa do
filho abandonado afetivamente.

A densificação é processo complexo, difícil, mas geralmente relegado a poucos parágrafos de uma petição
ou decisão. A árdua tarefa de aplicá-la, porém, deve se restringir aos chamados “casos difíceis”, para usar a
terminologia de Dworkin. Não é necessário recorrer a esse princípio quando a norma jurídica, por si só, é
capaz de colmatar uma solução adequada.

A frieza da lei, porém, nem sempre é capaz de gerar uma decisão adequada ou justa. Em se tratando do
Direito de Família, as repetidas omissões do legislador e a perpetuação de regras naftalenas em pleno séc.
XXI fazem com que o julgador seja chamado reiteradamente a densificar o princípio constitucional para
solucionar os casos concretos. O princípio da dignidade da pessoa humana, ao fim e ao cabo, materializa-se
nos demais princípios.

2. SOLIDARIEDADE
Talvez o princípio mais em voga no Direito de Família seja precisamente o princípio da solidariedade. Seu
fundamento último é o art. 3º, inc. I, da CF/1988, mas vários dispositivos infraconstitucionais trazidos pelo
CC/2002 o tornam mais evidente.

O Direito de Família ratifica um certo caráter gregário do ser humano. A pessoa pode optar por viver só. O
“direito de estar só” é também um direito que exige respeito. Mas o desenvolvimento da sociedade humana
torna esse “viver só” muito mais mitológico do que real. São poucos os seres humanos que conseguem
efetivamente viver sós, talqualmente o náufrago esquecido na ilha deserta.

O sujeito insular, ensimesmado, é uma exceção numa sociedade na qual a divisão do trabalho é cada vez
mais intensa. Mas o “direito de estar só” não trata dessa situação; trata muito mais da possibilidade de viver
sem que outrem esteja consigo.

Quando a opção, porém, não é essa, e a pessoa escolhe partilhar sua vida com outrem,
seja um familiar, um companheiro ou a prole, exige-se reciprocidade nesse
compartilhamento e cumplicidade de vidas. A solidariedade significa “preocupar-se
com e cuidar do outro”. Ela tem um sentido amplo, que escapa ao Direito,
evidentemente, mas tem um sentido jurídico ao criar uma série de deveres de
“cuidado”.

Parentes podem pedir alimentos uns aos outros, reciprocamente, quando necessitam, por força do art.
1.694. Conviventes também. Os herdeiros também prestarão alimentos, ainda que o devedor faleça, prevê

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o art. 1.700. Na manutenção dos filhos, os genitores devem contribuir proporcionalmente, estabelece o art.
1.703.

Quando os pais falecem, os parentes mais próximos são chamados a exercer a tutela do órfão, rege o art.
1.731. Na tomada de decisão apoiada a pessoa pode eleger duas pessoas para lhe ajudar a tomar as decisões
patrimoniais, dispõe o art. 1.783-A.

Todas essas situações mostram como, nas relações existenciais, seus partícipes devem ser solidários uns aos
outros. A mudança operada pela Lei 13.146/2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência – EPD, em
numerosos dispositivos do CC/2002, torna ainda mais visível o princípio da solidariedade.

Não se pode anular um casamento porque o consorte é deficiente, como antes previa o art. 1.548, inc. I.
Declarar a nulidade de um matrimônio porque um dos cônjuges é uma pessoa com deficiência é, com o
perdão do trocadilho, uma deficiência. O art. 2º do EPD evidencia que a deficiência é via de mão dupla, não
apenas uma “condição” que é “portada” pela pessoa.

Entende-se por pessoa com deficiência “a que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial”. Mas não só. O impedimento “em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.
A deficiência da pessoa é, em última análise, também uma deficiência da sociedade.

Por isso, evidente que a deficiência a permitir a declaração de nulidade de um matrimônio era da norma, e
não das pessoas. Numa sociedade realmente solidária as pessoas devem ser consideradas iguais,
verdadeiramente iguais.

3. IGUALDADE
A igualdade, não apenas formal, como propugnavam os revolucionários franceses no auge
do liberalismo, mas também material, exige que o Direito proscreva todas as
desigualações quando desigualdade não há e proscreva todas as igualdades quando
igualdade não há, quando ela é meramente aparente.

O CC/2002, nesse segundo sentido – estabelece uma igualdade que deveria ser desigual –
, prevê uma igualdade entre pais e filhos. Ou melhor, simplesmente coloca os filhos à margem da lei. Desde
que prestem respeito e obediência aos pais, a norma não tem razão de ser.

No entanto, a hipossuficiência das crianças e adolescentes é evidente. Física, intelectual, afetiva, financeira
e juridicamente, crianças e adolescentes encontram-se em posição de desigualdade com adultos. O ECA,
nesse sentido, pretender demonstrar essa desigualdade, equalizando a hipossuficiência de crianças e
adolescentes.

A Lei 13.010/2014, indevidamente chamada de Lei da Palmada, vai no mesmo sentido. Espancar uma criança
não foi e nunca será sinônimo de educação. Correção, disciplina e educação exigem não sofrimento físico ou
lesão (o real significado do que foi afastado por essa norma), mas presença, cuidado, reiteração, exemplos,
firmeza. “É preciso ser duro, sem perder a ternura, jamais”, já disse um autor desconhecido – frase essa
atribuída a Che Guevara, por muitos.

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O CC/2002, no primeiro sentido – estabelece uma desigualdade onde ela não há –, ainda mantém regras
criticáveis. Desigualar os filhos por conta de sua origem é violar o princípio da igualdade. Os filhos são. E
ponto. Esse é o teor do art. 227, §6º, da CF/1988: o princípio da igualdade entre os filhos.

São inaceitáveis expressões discriminatórias que tentam desigualar aqueles que são iguais. O CC/2002, em
boa hora, eliminou boa parte das expressões discriminatórias, mas ainda manteve algumas delas.

O art. 1.521 prescreve que não podem casar “os afins em linha reta” e nem “o adotante com quem foi
cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante”. Ora, ex-cônjuge do adotado é precisamente
o genro ou a nora do adotante. E quem são genro e nora? Exatamente um “afim em linha reta”.

O legislador, sem notar, quis sublinhar que mesmo que o parentesco se origine de adoção, não pode haver
casamento. Sem dizer, disse que “há diferenças entre os filhos adotivos e os filhos genéticos”, mas que essas
diferenças são irrelevantes para fins matrimoniais. A norma, sutilmente, desiguala onde não há diferença.

Ao dizer, no art. 1.607, que “o filho havido fora do casamento pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou
separadamente” novamente desiguala os filhos. Traz nomenclatura discriminatória, a exemplo das antigas
expressões “filho adulterino”, “filho incestuoso”, “filho espúrio”, “filho ilegítimo” ou a expressão
discriminatória mais geral, “filho bastardo”.

A despeito das presunções legais, nada impede que eu negue a paternidade de um filho havido fora do
casamento. E não há filhos apenas “fora do casamento”, há filhos antes do casamento, depois dele e filhos
quando nunca houve ou haverá casamento.

A norma evidencia que o legislador continuou preso ao casamento como instituição central do direito de
família, mesmo que tente dizer em contrário. Mesmo que o art. 226, §5º, da CF/1988 estabeleça o princípio
da igualdade entre cônjuges e companheiros, as normas infraconstitucionais continuam a desigualá-los.

O art. 1.790, declarado inconstitucional pelo STF, também evidencia isso. A norma, finalmente extirpada do
ordenamento, permitia que o companheiro fosse tratado como um cônjuge “de segunda categoria”. Tratar
cônjuges e companheiros desigualmente é inaceitável.

Mesmo que o art. 5º, inc. I, da CF/1988 não deixe margem de dúvida de que há igualdade entre o homem e
a mulher, o art. 52, §1º, da Lei 6.015/1973, a Lei de Registros Públicos – LRP, continuou, até 2015, a
estabelecer como prerrogativa do pai o registro do filho neonato. Apenas com a promulgação da Lei
13.112/2015 é que se passou a “permitir à mulher, em igualdade de condições, proceder ao registro de
nascimento do filho”.

Desiguais, filhos, companheiros e mulheres não tinham espaço pleno para exercer de maneira
verdadeiramente livre suas escolhas de vida. As regras jurídicas, muitas vezes criadas com a pretensão de
protegê-los, apenas escancarava que o legislador os tratava de maneira inadequada. As relações existenciais
exigem que as pessoas sejam livres para estabelecê-las da maneira como julgam mais apropriadas para si
mesmas.

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4. LIBERDADE
O princípio da liberdade, ou da não intervenção, propugna que as relações familiares devem
ser entabuladas da forma como mais conveniente às pessoas. As relações existenciais são
elementos constitutivos dos mais relevantes na psicologia das pessoas. Por isso, a intervenção
externa se mostra nociva quanto não objetiva a proteção de algum hipossuficiente, de
maneira justificada.

A liberdade não significa, evidentemente, que as pessoas podem fazer simplesmente o que quiserem, de
maneira irrestrita. Mas não significa também que o Estado tenha poder de ingerência sobre as relações
existenciais sem que haja profunda argumentação em prol da intervenção.

O art. 1.565, §2º, do CC/2002 prevê que o planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao
Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de
coerção por parte de instituições privadas ou públicas. O Enunciado 99 da I Jornada de Direito Civil estabelece
que a norma não se restringe apenas às pessoas casadas, mas também aos companheiros.

Já o art. 1.513 dispõe que é defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão
de vida instituída pela família. Como a liberdade da comunhão de vida das pessoas é um direito, não se pode
chancelar o abuso, claro. Uma relação que pressuponha abuso não só pode, como deve, ensejar intervenção
do Estado.

Do contrário, a liberdade se transforma em prisão e a família se presta não a seu papel eudemonista, mas à
proteção de violações, ao reverso do que propõe o art. 226, §8º, da CF/1998. A intervenção, portanto, tem
de ser justificada, mas quando justificada, deve ser realizada, sob pena de precisamente se esvaziar a
liberdade pretendida.

Quando se fala no princípio da liberdade ou da não intervenção, não se pode afastar o cuidado com os
hipossuficientes. Exemplo é o princípio do melhor interesse das crianças e dos adolescentes ou do interesse
superior da criança e do adolescente, profusamente tratado na Lei 8.069/1990, o Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA e evidenciado no art. 227, caput, da CF/1988.

Pode-se falar em verdadeiro princípio da proteção integral a crianças, adolescentes, jovens e idosos.
Crianças, adolescentes e jovens devem ter prioridade absoluta, nos termos do ECA e da Lei 12.852/2013, o
Estatuto da Juventude, em face da vulnerabilidade e da fragilidade dessa época da vida. Igualmente, deve
haver especial proteção aos idosos, por força da Lei 10.741/2003, o Estatuto do Idoso, haja vista a
necessidade de amparo mais premente dessas pessoas.

Nada impede, portanto, que o Estado incentive o controle de natalidade, por meio de campanhas, ou que
desenvolva atividades de educação sexual nas escolas, de modo a prevenir a gravidez precoce e indesejada.
Nada impede que o Estado promova campanhas de vacinação para prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis e distribua preservativos nos postos de saúde.

Nada impede que discussões sobre a pluralidade das relações existenciais sejam pauta educacional ou que
o Estado facilite a conversão de uniões estáveis em matrimônio, em nome da facilitação das potenciais

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discussões jurídicas. O que não se permite é que essas atividades sejam coercitivas, como é vedado pelo art.
226, §7º, da CF/1988.

A pluralidade, é, portanto, irmã siamesa da liberdade, porque não há liberdade na unicidade. Do contrário,
cai-se na liberdade fordiana do “any color so long as it is black” (qualquer cor desde que seja preto). A
liberdade pressupõe a pluralidade.

5. PLURALIDADE
O pluralismo jurídico, tão em voga no Direito brasileiro nos anos 1990, se trasmuda na pluralidade que se
exige do intérprete. O Direito de Família é terreno fértil para a expressão dos valores humanos mais
fundamentais, muitos deles situados no âmago da pessoa.

Um Direito de Família excludente tem o poder de tornar invisíveis as relações existenciais mais comuns, por
situá-las no terreno da ilicitude ou meramente no terreno da irrelevância. A união estável e as uniões
homoafetivas são exemplos esclarecedores, para não dizer estarrecedores.

Por décadas, as uniões havidas entre um homem e uma mulher passaram a ser reputadas pelo legislador
como irrelevantes. O ordenamento jurídico não proibia que pessoas maiores e capazes o fizessem, mas
simplesmente as ignoravam quando elas recorriam ao Poder Judiciário. Se a união não era matrimonializada,
ela era invisibilizada pelo Direito.

Assim, os coronéis de Jorge Amado podiam manter suas teúdas e manteúdas livremente em Ilhéus, mas elas
inexistiam aos olhos do Direito. Quando o coronel ficasse junto aos seus pés de cacau, a esposa, casada, e os
filhos havidos dessa relação matrimonial eclipsavam a amante e sua prole.

O mesmo ocorria com as uniões homoafetivas. Carregadas à sombra pelo escárnio da sociedade da moral e
dos bons costumes, casais que partilhavam uma vida em comum eram simplesmente ignorados quando
batiam às portas do Poder Judiciário. A diversidade de gêneros os relegava ao espaço de não Direito.

Essas e outras situações foram, e algumas continuam sendo, espaços de conflito na sociedade e no Direito.
O consenso dificilmente se alcança (até hoje ainda escuto “a outra” em tom jocoso, ainda que essa “outra”
tenha colaborado muito mais com a fortuna do falecido do que a “uma”).

O que o princípio da pluralidade sustenta é que são irrelevantes as conotações morais que cada um carrega
consigo, e é normal que todos o façamos. Não se pode, porém, com fundamento nesses sentimentos
pessoais, criar obstáculos para que as pessoas possam desenvolver adequadamente suas relações
existenciais.

Há verdadeiro princípio de vedação ao retrocesso social, de modo que devem ser


reputadas inconstitucionais quaisquer tentativas de mudança legislativa que vão de
encontro à perspectiva de um Direito de Família plural. Igualmente, as previsões
infraconstitucionais trazidas pelo legislador, por equívoco, “cochilo” ou intenção
devem ser reputadas igualmente inconstitucionais, como lentamente vem fazendo o
STF.

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Trazendo o exemplo da vedação ao retrocesso social aos centavos de real, é de se ver que onde o legislador
escreveu “cônjuge” deve ser lido “cônjuge e/ou companheiro”. É irrelevante que se queira distinguir. Se o
legislador cria uma situação mais ou menos benéfica ao companheiro, ela deve ser afastada, equalizando-se
ambos.

A pluralidade, em conjunto com a liberdade e a igualdade, traz consigo a inerente responsabilidade. Vale
dizer, a outra face dos direitos são os deveres. Não pode haver direitos sem os correspondentes deveres.
Aquele que estabelece relações existenciais tem de ser responsável por elas, conjugais ou familiares.

6. RESPONSABILIDADE
Boa parte da literatura jurídica acaba se centrando nas discussões a respeito das relações existenciais na
perspectiva dos direitos. As discussões midiáticas, então, somente sobre essa perspectiva polemizam os
variados temas que envolvem o Direito de Família. Uniões poliafetivas, uniões paralelas e
multiparentalidade.

Quando se fala em união poliafetiva, fala-se ora na imoralidade ou na necessidade de reconhecê-las, mas
pouco se fala nas consequências. Um trisal que se une, e tem os direitos de um casal, também enfrentará os
mesmos deveres. Se essa relação ruir, necessário será separar os haveres patrimoniais; se o trisal tinha um
filho, terão de regular a guarda e os alimentos à criança.

Quando se fala em união paralela, fala-se na impossibilidade de reconhecimento dessas uniões, etiquetando-
se uma delas como concubinária. Mas é preciso discutir como se fará a partilha dos bens daquele que
mantém relações paralelas; como se fará a distribuição dos alimentos caso a pessoa não tenha condições de
arcar em sua plenitude com os alimentos a todos os filhos.

Ao se falar em multiparentalidade, não se fala apenas em um filho com uma pluralidade de pais. Fala-se
também em um filho que terá direito hereditário sobre o acervo patrimonial de mais de dois genitores; fala-
se do dever de prestar alimentos de um filho em relação a mais de um “casal” de pais.

O que o princípio da responsabilidade preconiza é que a liberdade e a pluralidade pretendidas são bem-
vindas, mas elas têm um custo. Num Direito de Família verdadeiramente livre e plural não se pode admitir
a distinção entre concubinato e união estável, ou a exclusão daqueles que têm uniões paralelas ou vivem
poliafetivamente.

Todos têm de ter seus direitos resguardados. Essa opção, no entanto, gera consequente e em
igual medida dever de cuidado e responsabilidade. Os membros de um trisal terão mais
responsabilidade que os membros de um casal, pelo próprio número de componentes da
relação existencial.

É, a rigor, a mesma premissa que rege a paternidade ou a maternidade; aqueles que têm mais
filhos têm, naturalmente, mais responsabilidade. Trata-se de uma escolha eminentemente pessoal, a qual o
Direito não pode restringir, mas deve regular.

A responsabilidade se torna visível no princípio da função social da família, previsto no art. 226, caput, da
CF/1988. A família é funcionalizada a partir de sua perspectiva eudemonista, vale dizer, a noção de que a

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família tem por essência a busca da felicidade por seus membros, e não a manutenção de uma instituição
apenas pela conveniência social que a criou.

Como diria Antoine de Saint-Exupéry, na voz da Raposa, tu deviens responsable pour toujours de ce que tu
as apprivoisé (“tu te tornas responsável eternamente por aquilo que cativas” – ou domestica, numa tradução
mais fiel denotativamente, mas menos fiel semanticamente). O afeto, portanto, sustenta as relações
familiares, ou ao menos deveria.

7. AFETIVIDADE
O afeto é apontado pela doutrina como o principal fundamento das relações hauridas no
Direito de Família, a despeito da ausência de menção tanto na CF/1988, quanto no CC/2002.
A literatura jurídica usa o termo profusamente e mesmo a jurisprudência já se filiou a essa
perspectiva, tanto o STJ quanto o STF.

Conforme leciona Ricardo Calderón, “oriundo da força construtiva dos fatos sociais, o
princípio possui densidade legislativa, doutrinária e jurisprudencial que permite a sua atual sustentação de
lege lata”. O STJ (REsp 1.026.981) e o STF (RE 898.060) se valeram do princípio em suas decisões, ambas
paradigmáticas, a respeito das uniões homoafetivas.

O princípio da afetividade orienta a noção de parentalidade socioafetiva. A despeito de não haver vínculos
registrais, biológicos ou civis (por adoção), há um vínculo muito maior entre essas duas pessoas. Esse vínculo
de afetividade permite que se veja, ali, “verdadeira” (coloco entre aspas o termo dado o cuidado necessário)
parentalidade, em todo o sentido jurídico do termo.

II. DIREITO CONJUGAL

1. DIREITO CONJUGAL EXISTENCIAL


Num primeiro momento, o Direito de Família se preocupa com as relações existenciais horizontais, ou seja,
aquelas nas quais há uma igualdade entre os membros: as relações conjugais. Num segundo momento, a
preocupação é com a relações existenciais verticais, ou seja, aquelas nas quais há desigualdade entre os
membros: as relações parentais, especialmente as paterno e materno-filiais.

As relações familiares conjugais podem ser divididas em dois eixos: no eixo existencial e no eixo
patrimonial. Essa divisão, entre Direito de Família patrimonial e pessoal vem do próprio CC/2002.
Abandonada por boa parte da literatura jurídica, ainda tem sentido didático, como farei.

As relações conjugais existenciais mais tradicionais se fixam no casamento. Não à toa, o CC/2002 possui
extensa normatização a respeito do matrimônio. Mais recentemente, a partir da CF/1988, casamento e união
estável passam a dividir um mesmo nível de proteção legal.

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Apesar disso, ainda resistem algumas diferenças – relevantes – entre ambos os institutos. Essas diferenças,
porém, paulatinamente vêm perdendo força, a ponto de parte da doutrina não mais enxergá-las.

A união estável passa a ter regulação mais profusa com a Lei 8.971/1994 e com a Lei 9.278/1996. Ambas
acabaram incorporadas em sua quase totalidade pelo CC/2002, mas alguns dispositivos da nova legislação
acabaram criando retrocesso tanto em relação à CF/1988, quanto em relação às duas supracitadas leis e,
pior, quanto ao lento desenvolvimento jurisprudencial que vinha se formando no STJ.

A união estável é o segundo pilar do contemporâneo direito conjugal existencial. A ela se unirá um terceiro,
as uniões homoafetivas, com a decisão do STF a respeito do tema. Outros arranjos familiares são discutidos,
mas a jurisprudência ainda vacila.

A literatura jurídica continua a tratar do casamento com precedência em relação à união


estável, em termos geográficos (e às vezes em termos axiológicos). Trata-se da mesma
perspectiva adotada pelo CC/2002. Não me parece adequada essa ordem, já que a união
estável, tradicionalmente caracterizada como união de fato, deve preceder o
casamento, tradicionalmente caracterizado como união de direito.

Ora, o fato precede o direito, mas no CC/2002 o direito ainda precede ao fato, no Direito de Família. Essa
distorção não existe no Direito das Coisas, já que a posse precede a e à propriedade. Na minha análise,
portanto, a união estável precede o casamento, mas isso não significa que precede ao casamento.

Explico a sutiliza linguística. Preposicionado, o verbo preceder tem sentido de “dar prioridade” e não apenas
o sentido de “vir antes”, quando sem preposição. No CC/2002, geograficamente, precede o casamento a
união estável, no sentido de “vir antes”. Mas também, axiologicamente, precede o casamento à união
estável, no sentido de “ter prioridade”.

Por isso, vários direitos franqueados ao cônjuge foram negados ao companheiro. As disparidades vão sendo
lentamente afastadas pela doutrina e pela jurisprudência. Na minha análise didática, a união estável precede
o casamento (vem antes), mas não precede ao casamento (não tem prioridade), por duas razões simples: a
união estável não exige formalidades (união de fato) e goza da mesma proteção exigida ao casamento (união
de direito).

Ainda resiste a diferença entre a união estável (união entre duas pessoas que podem casar,
mas não casam) e o concubinato (união entre duas pessoas que não podem casar, por uma
série de razões), conforme o art. 1.727 do CC/2002. Igualmente, afasta-se o reconhecimento
das relações paralelas e das relações poliafetivas, porque descumpririam os requisitos
necessários à configuração da união estável. Será?

1.1. UNIÃO ESTÁVEL

1.1.1. Requisitos

A união estável goza de proteção legal por força do art. 226, §3º, da CF/1988 (“Para efeito da proteção do
Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei

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facilitar sua conversão em casamento”). O art. 1.723 do CC/2002, assim, reconhece como entidade familiar
a união estável entre um homem e uma mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura
e estabelecida com o objetivo de constituição de família.

Por força de decisão do STF, na Adin 4.277 e na ADPF 132, a união estável se estende também a casais
formados por pessoas do mesmo sexo, já que a Corte julgou inconstitucional a parte que trata da
diversidade de gênero. Consequentemente, é possível a conversão de união estável entre pessoas do mesmo
sexo em casamento, observados os requisitos exigidos para a respectiva habilitação (Enunciado 526 da V
Jornada de Direito Civil).

Não só. Em realidade, é existente e válido o casamento entre pessoas do mesmo sexo, deixou evidente o
Enunciado 601 da VII Jornada de Direito Civil. Assim, plenamente válidos a união estável homoafetiva, o
casamento direto homoafetivo e a conversão da união estável em casamento, homoafetivos.

Seja na união heteroafetiva, seja na união homoafetiva, é possível retirar do art. 1.723 os requisitos para que
se configure a união estável. Quais são esses requisitos?

1. Estabilidade

• Art. 226, §3º, da CF/1988

Não é qualquer união de fato entre duas pessoas que gera efeitos no campo familiar, seja pessoalmente,
seja patrimonialmente. O fator tempo, assim, exerce papel importante.

Porém, não há requisito objetivo para a determinação dessa estabilidade, que depende de análise
subjetiva do juiz. Ele, inclusive, pode se valer de variados elementos probatórios para determinar quão
estável é uma relação. Por exemplo, elementos acidentais, como o nascimento de filhos, tempo de duração
longo, coabitação, reconhecimento social da união, apresentação em órgãos do Estado da situação fática
etc. ajudam a estabelecer se a união tem estabilidade.

Assim, não é necessário aguardar 5 anos (como previa o art. 1º da Lei 8.971/1994). Não é necessário que
exista prole, já que nem mesmo dos casais casados se exige filiação. Não é necessário que vivam sob o mesmo
teto (Súmula 382 do STF e REsp 275.839). Não é necessário registro escrito, público ou particular (STF, MS
330.008).

2. Publicidade

• Art. 1.723 do CC/2002

Deve haver publicidade da relação, ou seja, não pode o relacionamento das partes se limitar ao âmbito
privado. Inversamente, a privacidade da união a aproxima do “concubinato”, situação na qual um ou
ambos os conviventes pretendiam ocultar sua relação, por variadas razões, desde morais a jurídicas.

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É mais ou menos o mesmo que ocorre na posse de estado de filho. Ou seja, perante a sociedade aqueles dois
eram “casados”. Evidente que publicidade não significa que as pessoas têm de informar a união aos demais
ou postar diariamente fotos nas redes sociais. Publicidade é apenas o reverso da privacidade, ou seja, a união
extrapola “os limites do lar”.

Curiosamente, existe a posse de estado de casado (prova indireta). Em regra, o casamento


celebrado no Brasil se prova pela certidão do registro, a prova direta (art. 1.543). Porém, em
vários casos, o registro não mais existe, pelo que se admitem quaisquer outras provas, na
ação declaratória (prova direta complementar ou suplementar).

Já no caso de casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas


autoridades ou os cônsules brasileiros, deve ser registrado em 180 dias, a contar da volta de um ou de ambos
os cônjuges ao Brasil, no Registro do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1º Ofício da Capital do Estado
em que passarem a residir.

Verificando-se a posse de estado de casado, que exige, exatamente, esses requisitos indiciários da união
estável (art. 1.547), a decisão judicial declarará o casamento, com efeitos retroativos à celebração, para
ser inscrita no Registro (art. 1.546). Caso uma das partes não possa se manifestar (tenha morrido, por
exemplo) haverá presunção de casamento, exceto se alguma delas já era casada (art. 1.545), numa regra in
dubio pro matrimonio.

Ou seja, a união estável bebe na fonte da vetusta posse de estado de casado. Como, menos recentemente,
não se aceitava a união estável como criadora de direitos e deveres para os cônjuges (quando ela ainda era
chamada de relação concubinária), era necessário “inventar” juridicamente um casamento existente
faticamente e outrora existente juridicamente.

Como o casamento se prova pelo registro, o desaparecimento do registro criava a curiosa situação do
desaparecimento do casamento. Como um casal, que não tem consigo o registro, provaria que era casado
se o Cartório pegou fogo? Inexistente o registro, inexistiria o casamento.

Imagine que eram eles casados no regime da comunhão universal de bens. O consorte sobrevivo, então,
nada herdaria, já que o casamento, juridicamente, não existia. Essa bizarra situação criou a chamada posse
de estado de casado. A doutrina, então, revisitando essa expressão, passou a usá-la também para as uniões
derivadas de casamentos religiosos sem efeitos civis.

É só imaginar o Brasil rural da década de 1920. Um padre inexperiente, uma comunidade religiosa fervorosa,
um casal apaixonado, um casamento aos “olhos de Deus” e nenhum registro civil. Seria absurdo não ver ali
um vero e próprio matrimônio. Daí a posse de estado de casado.

A doutrina, então, revisitando mais uma vez essa expressão, passou a usá-la também para as uniões
derivadas de mera “sociedade de fato”, sem efeitos civis nem religiosos. Era um casamento “aos olhos da
sociedade”.

Por isso, eu, pessoalmente, gosto muito do termo namorido, a mistura do fático namorado com o jurídico
marido; mais que namorado, porque sério, mas menos que marido, porque não “registrado de papel
passado”. É precisamente o critério da publicidade que torna qualquer relação conjugal uma relação conjugal
efetiva.

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Quando alguém se diz casado, habitualmente solicitamos a exibição da certidão? Evidente que não. A aliança
no dedo, a nominação (minha esposa, minha mulher, meu marido, meu homem) e outros indícios visíveis
evidenciam o matrimônio. E a união estável.

3. Continuidade

• Art. 1.723 do CC/2002

Igualmente, a relação, apesar de estável e pública, pode ser entremeada por períodos de falta de
convivência. Novamente, o juiz se valerá de elementos variados para julgar o que é e o que não é contínuo,
já que, atualmente, não é incomum que casais, mesmo casados, acabem tendo rupturas relativamente
longas.

A continuidade significa que não há um “casa, separa, separa e casa”, como diriam os poetas sertanejos.
Desentendimentos e pequenas rupturas são comuns. Mas não pode haver lapsos temporais grandes de
distanciamento e retomada.

4. Objetivo de constituição de família

• Art. 1.723 do CC/2002

Esse requisito é um tanto óbvio, pois mesmo que duas pessoas convivam de maneira estável, pública,
contínua e duradoura, isso não configurará união estável se não houver objetivo de constituir família. Assim,
dois amigos que moram juntos, para “rachar” as despesas do imóvel, não serão considerados conviventes,
dado que lhes falta o ânimo de constituir família (animus familie).

Esse objetivo de constituir família é um daqueles requisitos que são fáceis de visualizar, mas difíceis de
explicar, pois a própria realidade traz, de maneira um tanto inequívoca, sua caracterização. Esses dois amigos
que mencionei acima, por mais que costumassem sair juntos, morassem juntos há 10 anos, sempre presentes
nos eventos sociais juntos, não são conviventes. Agora, se há um algo mais publicamente reconhecido, esse
ânimo de constituir família, aí sim se pode falar em união estável.

Nesse sentido, tentando facilitar o reconhecimento ou o afastamento da união estável, o art.


1.724 afirma que essas relações entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade,
respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos. Veja que não há, nessa
norma, exigências de formalidade, coabitação ou fidelidade, como se exige no casamento.

Parte da doutrina, porém, apontará que os deveres de fidelidade e de coabitação são igualmente exigidos
na união estável. Mais recentemente, a coabitação desapareceu dos debates e há certo entendimento
unânime em não mais a exigir.

A coabitação, já era analisada com cum grano salis pela jurisprudência há tempos, dado que, atualmente, é
bastante frequente que casais não coabitem. Nesse sentido, a Súmula 382 do STF estabelece que a
coabitação não é fator indispensável ao concubinato (rectius: união estável).

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Já a fidelidade ainda encontra debate, porque muitos ainda defendem que há um “princípio da monogamia”
a regular quaisquer relações existenciais conjugais. Vejo, porém, verdadeira révolte des faits contre le Code
(a revolta dos fatos contra o Código), como dizia Gaston Morin.

Há muito, numerosas pessoas optam por viver uniões abertas, mais ou menos permissivas e muitos vivem o
poliamor. A monogamia é princípio informador de certas uniões, notadamente aquelas nas quais o casal
assim o quis, seja por força de suas crenças, seja por força da conveniência.

Mesmo que a fidelidade seja obedecida por apenas um dos membros, sendo que o outro a descumpre
sorrateiramente, não se pode afastar o reconhecimento da união estável, se for o caso. Ou é possível que se
deixe de reconhecer um casamento porque um dos dois (ou os dois) têm relações extraconjugais? Evidente
que não. O mesmo raciocínio deve ser aplicado à união estável.

Em outras palavras, todos esses elementos nos trazem “indícios” da união estável, sendo que o juiz, na
análise do caso concreto, sopesará todos. A tarefa não é das mais fáceis, especialmente porque hoje, há
namoros que são longos e uniões estáveis que são curtas. Pior, o STJ ainda distingue o namoro do namoro
qualificado.

Haveria, segundo a Corte (REsp 1.454.643), distinção da união estável para o que se chama de namoro
qualificado. Namoro qualificado seria aquele que, apesar de estável, ainda não guarda o requisito da
constituição de família. A intenção futura de constituição de família não significaria união estável, mas
mero namoro qualificado, consequentemente.

Tampouco a mera coabitação serviria para distinguir a união estável de um namoro qualificado (REsp
1.545.643). Assim, a partir das decisões da Corte, seria possível estabelecer uma espécie de “escada de
seriedade”, desde a “pegação”, passando pelo namoro, o namoro qualificado até se chegar à união estável
(ou ao casamento, a depender do gosto do casal). Isso sem mencionar o “rolo”.

Por fim, resistiria ainda a distinção entre a união estável e o concubinato. Como eu disse anteriormente, a
diferença entre a união estável (união entre duas pessoas que podem casar, mas não casam) e o concubinato
(união entre duas pessoas que não podem casar, por uma série de razões), reside precisamente na
“possibilidade de casar”. Volto ao tópico adiante, quando dos impedimentos à união estável.

Requisitos para a União Estável

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Estabilidade

Publicidade

Continuidade

Constituição de família

1.1.2. Defeitos

À união estável são aplicadas as mesmas regras dos defeitos do casamento, em regra. Vou resumir aqui
esses elementos, desdobrando-os quando da análise do matrimônio, mais adiante. Inicialmente, trato do
tema a partir da tripartição de planos da Teoria do Fato Jurídico ponteana, quais sejam os planos da
existência, da validade e da eficácia.

Primeiro, quanto ao plano da inexistência. Será inexistente a união estável apenas no caso de ausência de
vontade, derivada da coação absoluta (vis absoluta). Não se aplica à união estável a existência de forma,
relativa à incompetência absoluta (ratione materiae) da autoridade celebrante, porque autoridade
celebrante não há.

Segundo, quando o plano da validade, a união estável pode ser nula ou anulável. Será nula a
união estável nos casos do art. 1.521, sendo que eventual união de pessoas à revelia do
impedimento legal constituirá mero concubinato. Não podem constituir união estável:

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I. Os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil

II. Os afins do companheiro, em linha reta

III. O adotante com quem foi companheiro do adotado e o adotado com quem o foi do adotante

IV. Os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive

V. O adotado com o filho do adotante

VII. O companheiro sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio


contra o seu convivente sobrevivo

Percebeu que eu deixei propositadamente o inc. VI de fora? Isso porque ele trata das pessoas
casadas. Esse é o único impedimento ao casamento inaplicável à união estável. A pessoa
casada, mas separada de fato (ou de direito), pode manter união estável, mas não pode a
pessoa casada, e não separada, nem de fato, porque isso constituiria uma união paralela,
considerada concubinária pela jurisprudência.

De outra banda, prevê o art. 1.550 as hipóteses de anulabilidade do casamento. Elas são
aplicáveis à união estável, desde que cabível a situação. É anulável a união estável:

I. De quem não completou a idade mínima para casar

II. Do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal

III. Por vício da vontade, nos casos de coação ou erro essencial quanto à pessoa

IV. Do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento

A hipótese do inc. VI (“por incompetência da autoridade celebrante” – incompetência ratione loci) é


evidentemente inaplicável à união estável. Igualmente, parece-me inaplicável à união estável a hipótese do

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inc. V (“realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato,
e não sobrevindo coabitação entre os companheiros”) porque a união estável não é ato, mas processo.

Se o mandato fosse para a realização da escritura pública de união estável, a revogação invalidaria o
documento, tornando ineficazes as disposições patrimoniais ali estabelecidas, pelo que se aplicaria o regime
supletivo da comunhão parcial de bens, a despeito de eventuais alterações ali contidas. No entanto, a
revogação não teria o condão de anular a união estável em si, que é fática.

Por fim, quanto às causas de suspensão do casamento, previstas nos incisos do art. 1.523, a doutrina se
divide. Isso porque, ao violar uma causa suspensiva, em decorrência do art. 1.641, inc. I, devem os nubentes
adotar o regime da separação legal de bens, forçosamente.

Vale a regra para a união estável? Como eu disse, a doutrina se divide, mas me parece,
igualmente, serem as restrições aplicáveis à união estável, sob pena de se aplicar
benefício a ela em detrimento ao casamento. Por isso, não devem constituir união
estável, e se constituída, os companheiros terão suas relações patrimoniais
orientadas pelo regime da separação legal de bens:

I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens
do casal e der partilha aos herdeiros;

II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses
depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal;

III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal;

IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos,


com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem
saldadas as respectivas contas.

Como eu disse preliminarmente, a jurisprudência ainda distingue a união estável do concubinato, anotando
que a esta não podem ser franqueadas os mesmos efeitos jurídicos da união estável. Como, porém, se
distinguem ambas as situações, união estável e concubinato?

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• Classificada como entidade familiar (art. 226, §3º,


da CF/1988)
• Qualquer pessoa sem impedimento matrimonial
UNIÃO ESTÁVEL (permite-se se a pessoa estiver separada de fato)
• Tem todos os direitos patrimoniais: meação,
sucessão e alimentos

• Não é classificada como entidade familiar (STJ, REsp


1.096.539)
• Há impedimento matrimonial, incluindo as pessoas
CONCUBINATO não separadas de fato (união paralela)
• Não tem direitos patrimoniais

Julgados esparsos dos Tribunais inferiores por vezes equiparam o concubinato à união estável. Há julgado
do TJ/RS (Acórdão 700248004015), inclusive, que usou, em substituição ao termo meação, o termo triação,
na divisão de bens de um falecido e suas duas conviventes, uma companheira e uma esposa. O STJ (REsp
1.185.337), por sua vez, reconheceu o direito de uma septuagenária a alimentos devidos pelo concubino,
que, do contrário, se beneficiaria da própria torpeza (nemo auditur propriam turpitudinem allegans), em
evidente comportamento contraditório (venire contra factum proprium).

Em realidade, as decisões do STJ a respeito da dualidade entre união estável e concubinato versaram sobre
uma união paralela ao casamento, seja num casamento em curso ou num já extinto (REsp 1.157.273). Não
houve manifestação da Corte, porém, em caso que envolvesse duas uniões estáveis simultâneas “puras”.
Certamente o argumento do impedimento matrimonial não poderia ser levado em conta, nem o “princípio
da monogamia”, nem o dever de fidelidade, todos eles inaplicáveis a uma união estável.

Talvez o julgamento de um caso de dupla união estável simultânea daria início ao reconhecimento das
famílias simultâneas. Com ele, a união estável ganharia status mais benéfico que o casamento, o que forçaria
a Corte a rever seu posicionamento também em relação ao casamento.

Por hora, o STJ entende que é impossível se reconhecer, tanto para fins existenciais, quanto para fins
patrimoniais, a existência de uniões estáveis simultâneas. Vale lembrar que a união estável era,
anteriormente, chamada de concubinato...

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QUANTO A ESSE DETALHE, REMETO VOCÊ AO QUADRO QUE ABRI NO INÍCIO DA AULA, A RESPEITO DA DISTINÇÃO
ARTIFICIAL CRIADA PELO STJ ENTRE UNIÃO ESTÁVEL E CONCUBINATO. CASO VOCÊ NÃO O TENHA VISTO, ELE ESTÁ NAS
“CONSIDERAÇÕES INICIAIS”.

É PRA VOCÊ ENTENDER A “LÓGICA” QUE ESTÁ POR TRÁS DE ALGUMAS NORMAS DO CC/2002. ELA, EM SI, NÃO TEM
INCIDÊNCIA NAS PROVAS, CLARO. POR ISSO, SE VOCÊ QUER IR “DIRETO AO PONTO”, PULE O QUADRO. =)

1.1.3. Efeitos

Muitos dos efeitos da união estável, especialmente os patrimoniais, são muito semelhantes aos do
casamento. Quanto aos efeitos idênticos, deixo para deles tratar posteriormente, quando falar do
casamento, para evitar repeti-los. Versarei aqui sobre os pontos que você precisa atentar, apenas.

As duas principais distinções, os deveres de coabitação e fidelidade, já foram extensamente


detalhados. O dever de coabitação é afastado desde a Súmula 382 do STF, não havendo
discussão a respeito. O dever de fidelidade não consta do art. 1.724, mas boa parte da doutrina,
e a jurisprudência (STJ, REsp 1.157.273), entendem ele subentendido também na união estável.

A rigor, o referido artigo substitui fidelidade por lealdade. Ser leal e ser fiel são coisas diferentes,
ainda que muito próximas. A tendência, ao que parece, é entender que a fidelidade prevista na união estável
não signifique monogamia, ainda que o STJ continue resistindo em contrário, como se estampou no julgado
supracitado.

Um dos efeitos mais importantes da união estável, formalmente falando, é a possibilidade de ser ela
convertida em casamento. O art. 226, §3º, da CF/1988 estabelece que essa conversão deve ser facilitada. De
maneira inconstitucional, portanto, o art. 1.726 do CC/2002 determina que a conversão deve ser feita
mediante ação judicial.

Ora, nem neste, em qualquer universo do multiverso, facilitar não significa remeter à via judicial. Nem no
mais desenvolvido dos países o recurso ao Poder Judiciário é a via mais fácil, quiçá no Brasil. O STJ (REsp
1.685.937) já reconheceu que as partes podem eleger a via judicial para a conversão, mas se as obrigando
a seguir a via administrativa. A contrario sensu, portanto, a Corte reconheceu a incompatibilidade da
obrigatoriedade do art. 1.726 do CC/2002 à facilitação prevista no art. 226, §3º, da CF/1988.

Nesse mesmo sentido, o Enunciado 135 do CJF propõe alterar o dispositivo, nos seguintes termos: “A união
estável poderá converter-se em casamento mediante pedido dos companheiros perante o oficial do registro
civil, ouvido o Ministério Público”.

Igualmente, assim como o cônjuge tem direito a adotar o nome de família do consorte, tem também o
companheiro. Como o companheiro não tem o “momento registral único” do casamento para fazê-lo, deve

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seguir as exigências do art. 57 da Lei 6.015/1973, a Lei de Registros Públicos – LRP. Necessário será, portanto,
ação judicial.

No entanto, é de se apontar que parece derrogado, por força do CC/2002, o §3º do art. 57 da LRP, que ainda
exige o lapso temporal de 5 anos de união, na esteira da exigência da derrogada Lei 8.971/1994. Assim, se
ambos se declararem companheiros, possível a alteração do nome, para inclusão do sobrenome do outro
consorte.

No mais, a meu ver, os demais efeitos existenciais e patrimoniais que se aplicam ao casamento devem ser
também aplicáveis à união estável. As exceções devem ser justificadas, e bem justificadas, sob pena de
flagrante violação dos princípios da igualdade, da liberdade, da pluralidade, da solidariedade e da dignidade
da pessoa humana.

Nesse sentido, o Enunciado 97 da I Jornada de Direito Civil estabelece que no que tange à tutela especial da
família, as regras do CC/2002 que se referem apenas ao cônjuge devem ser estendidas à situação jurídica
que envolve o companheiro, como, por exemplo, na hipótese de nomeação de curador dos bens do ausente.
Complementando esse Enunciado, o Enunciado 641 da VIII Jornada de Direito Civil afiança que nem mesmo
a decisão do STF que declarou a inconstitucionalidade do art. 1.790 (sobre o regime sucessório) importa
equiparação absoluta entre o casamento e a união estável.

Estendem-se à união estável apenas as regras aplicáveis ao casamento que tenham por fundamento a
solidariedade familiar. Por outro lado, é constitucional a distinção entre os regimes, quando baseada na
solenidade do ato jurídico que funda o casamento, ausente na união estável.

Quando houver posicionamento jurisprudencial inverso, denotando distinções de efeitos existenciais ou


patrimoniais na união estável, em relação ao casamento, mostrarei a você. Exemplifico com o art. 1.597,
que traz as presunções de filiação. Com algumas exceções, a literatura jurídica entende que essas presunções
se aplicam apenas ao casamento, não à união estável.

(CESPE / DPU – 2017) “No mundo contemporâneo (pós-moderno), a família perdeu o caráter natural,
assumindo nova feição, forjada, agora, em fenômenos culturais. A família de hoje representa um
“fenômeno humano em que se funda a sociedade, sendo impossível compreendê-la senão à luz da
interdisciplinaridade, máxime na sociedade contemporânea, marcada por relações complexas,
plurais, abertas, multifacetadas e (por que não?) globalizadas”.

A respeito do assunto objeto do texto precedente, julgue os itens que se seguem, tendo como
referência o entendimento dos tribunais superiores.

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Antes da regulamentação legal da união estável, era necessário para futura partilha igualitária,
comprovar o esforço comum dos companheiros na aquisição do patrimônio coletivo, o que não é mais
necessário em razão da atual presunção de mútua assistência.

Comentários

O item está correto, como se extrai de julgado que analisou situação semelhante à descrita no
enunciado relativamente à alteração levada a cabo pela Lei 9.278/1996: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL
CIVIL. UNIÃO ESTÁVEL. PATRIMÔNIO EM NOME DO COMPANHEIRO. PROVA DO ESFORÇO COMUM. LEI
9.278/96. UNIÃO DISSOLVIDA ANTES DE SUA VIGÊNCIA. INAPLICABILIDADE. PARTILHA PROPORCIONAL
À CONTRIBUIÇÃO INDIVIDUAL. MODIFICAÇÃO DO PERCENTUAL ESTABELECIDO. ÓBICE DA SÚMULA
07/STJ. A jurisprudência de ambas as Turmas que integram a Segunda Seção desta Corte é firme no
sentido de que, existente a prova do esforço comum na aquisição ou incremento do patrimônio de
qualquer dos companheiros, ainda que indireta a contribuição, abre-se ensejo à partilha dos bens
(Súmula 380/STF). Não se aplicam às uniões livres dissolvidas antes de 13.05.96 (data da publicação)
as disposições contidas na Lei 9.278/96, principalmente no concernente à presunção de se formar o
patrimônio com o esforço comum igualitário, pois aquelas situações jurídicas já se achavam
consolidadas antes da vigência do diploma normativo. A partilha do patrimônio deve, pois, observar a
contribuição de cada um dos concubinos para a aquisição dos bens, não significando, necessariamente,
meação (REsp 174.051/RJ, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 30/04/2002, DJ
01/07/2002, p. 335)”.

1.1.4. Dissolução

A dissolução da união estável passou a ser regulada pelo CPC/2015. Houve algumas ligeiras, mas importantes
mudanças quanto àquilo que vinha se construindo na jurisprudência e na praxe forense.

Inicialmente, prevê o art. 53, inc. I, do CPC/2015 que é competente, para a ação de dissolução de união
estável, em regra, o foro de domicílio do guardião de filho incapaz. Se não tiverem os companheiros filhos
incapazes, será competente o foro do último domicílio do casal. Se nenhum dos companheiros residir no
antigo domicílio, será competente o foro de domicílio do réu.

A dissolução de união estável pode ser realizada judicial ou extrajudicialmente. Poderá ser
realizada a dissolução de união estável, extrajudicialmente, se os companheiros não tiverem
filhos incapazes e nem houver nascituro (ou seja, se a mulher estiver grávida, não é possível),
prevê o art. 733. Nesse caso, devem os companheiros estar de comum acordo e devem estar
representados por procurador (advogado ou defensor público) comum ou não (§2º).

A escritura pública não depende de homologação judicial. Ela também constitui título hábil para qualquer
ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras (§1º).

A alteração havida vem na contramão da desjudicialização pretendida. Isso porque as uniões estáveis
consensuais eram dissolvidas extrajudicialmente, mesmo nos casos em que existiam filhos incapazes ou
nascituro. A razão é óbvia. Se a união é fática, tanto sua criação quanto sua extinção são fáticas, sendo que
a forma escrita se adota apenas por opção dos companheiros.

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Agora, havendo menor incapaz ou nascituro, forçoso recorrer à via judicial. A regra é estúpida,
para usar um adjetivo educado, porque o que ocorrerá é a fuga não apenas do Poder Judiciário,
como dos Tabeliães de Notas.

Provavelmente, os companheiros com filhos não manejarão ação de dissolução, optando por
fazer uma dissolução meramente fática. Provavelmente também se valerão de um instrumento
particular. Se até para regular regime de bens o STJ reconhece a validade e eficácia inter partes do
instrumento particular de união estável, que dirá para dissolvê-la.

Essa regra, portanto, está fadada ao fracasso amplo e irrestrito. Eu jamais recorreria à via judicial,
ordinariamente. Faria um acordo com a minha companheira, com firma reconhecida e todo o salamaleque
do juridiquês, e guardaria o documento na gaveta de casa. Eu, que leciono Direito de Família. Será o
ressurgimento do “contrato de gaveta”, não mais nos financiamentos habitacionais, mas agora nas
dissoluções da união estável?

Na contramão da contramão, ou seja, na mão certa, ou, para usar outro trocadilho mais filosófico, ao negar
a negação, afirmando-se o que se negara, vem o Enunciado 571 da VI Jornada de Direito Civil. Prevê que se
comprovada a resolução prévia e judicial de todas as questões referentes aos filhos menores ou incapazes,
o tabelião de notas poderá lavrar escrituras públicas de dissolução conjugal. Se o Enunciado prevê a aplicação
dessa norma ao casamento, parece evidente que a mesma premissa se aplique à união estável, na regência
do CPC/2015.

1.2. CASAMENTO
Pela concepção tradicional, o casamento é a união de duas pessoas, por vínculos de afeto, com
objetivo de constituição de família, reconhecida e regulada pelo estado. A literatura jurídica
assim o conceitua. Parece-me que, a despeito das questões de cunho afetivo – muito mais
relevantes, diga-se de passagem –, são as questões jurídicas que despontam. Trata-se, em
resumo, de um contrato.

Público, complexo e soleníssimo, é verdade, mas um contrato. Exige os mesmos requisitos dos demais
negócios jurídicos, e alguns mais peculiares. Mas é um contrato bilateral, que exige a livre manifestação de
vontade dos nubentes, para se perfectibilizar. Sou adepto da teoria contratualista, portanto.

Teorias institucionalista (encabeçada por Maria Helena Diniz, estabelecendo que o casamento é uma
instituição) e mista ou eclética (encabeça por Eduardo de Oliveira Leite, resumindo o casamento a uma
instituição no conteúdo e um contrato na formação) à parte, é um contrato. Peculiar, claro, já que seu
núcleo é existencial e não patrimonial – ou não deveria ser.

Mas a patrimonialidade é relevantíssima ao Direito. Basta escarafunchar uma Vara de Família para
comprovar. Como eu disse, o aspecto afetivo é certamente mais relevante, sociologicamente, mas não
juridicamente. O próprio afeto é irrelevante juridicamente, quando não se transmuta em dever.

Se amo ou não amo minha esposa e meus filhos é um problema meu, e não do Direito Civil. Será um problema
jurídico se isso cria a violação de deveres. Amar alguém não significa automaticamente afastar problemas

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jurídicos, e os muitos “amores bandidos” por aí o provam. Há muitos que não amam e cuidam e muitos que
amam e não cuidam; o esperado é que ambos coincidissem.

Por isso, necessário ter cuidado com o apego quase bucólico à afetividade. O afeto deveria reger todas as
relações existenciais; se o fizesse, felizmente, nosso trabalho acabaria. Precisamente porque nem só de afeto
vivem as relações conjugais é que não consigo afastar a visão contratualista do casamento, ou, como diz o
sábio ditado popular, “amor não enche barriga”. A labuta cotidiana na seara familiar me faz encarar certas
coisas com mais realismo, ainda que com um toque de otimismo.

Contrato que é, o casamento tem uma série de requisitos. Quais são eles? Antes, porém, necessário
lembrar que o casamento exige fidelidade (art. 1.566, inc. I) e coabitação (art. 1.566, inc. II), requisitos esses
não previstos na união estável, ao menos não textualmente. Além disso, o “princípio da monogamia”,
extraído do art. 1.521, inc. VI, está presente no casamento, sendo questionável sua aplicação à união estável.

1.2.1. Requisitos

A. Requisitos para a celebração

Inicialmente, além da capacidade geral, o casamento exige aptidão especial, que se regula pelo
procedimento especial da habilitação, previsto no CC/2002 e na Lei de Registros Públicos. Quanto à
capacidade matrimonial, aplica-se a Parte Geral do CC/2002, com ligeiras exceções.

O art. 1.525 exige que ambos os nubentes firmem requerimento de habilitação para o casamento, de
próprio punho ou por procurador. Esse requerimento deve ser acompanhado de determinados
documentos:

I - Certidão de nascimento ou documento equivalente

Exige-se tal certidão para se verificar se os nubentes têm idade núbil, que é de 16
anos, no mínimo (art. 1.517). Caso sejam maiores, ambos, basta a certidão; caso um
ou ambos sejam menores, relativamente incapazes (entre 16 e 18 anos), podem casar,
desde que autorizados pelos pais ou responsáveis legais.

Por outro lado, o documento de identificação é necessário para que o Oficial verifique
se não é o caso de limitação ao casamento, como no caso da obrigatoriedade do regime de separação de
bens para os maiores de 70 anos, por força do art. 1.641, inc. II.

II - Autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra

Os relativamente incapazes necessitam de autorização para casar. No entanto, se o menor já tiver sido
emancipado, desnecessária a autorização, prevê o Enunciado 512 da V Jornada de Direito Civil.

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Podem os responsáveis, porém, revogar a autorização, até a data da celebração do casamento, por qualquer
razão (art. 1.518). Se o nubente prejudicado julgar que o motivo é injusto, pode recorrer ao juiz, que pode
suprir o consentimento (art. 1.519).

O art. 1.517, parágrafo único, estabelece que se houver divergência entre os pais, é assegurado
a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo (art. 1.631, parágrafo único).

Como o representante legal não autorizou, ou revogou a autorização, por óbvio não representará
ele o menor contra si mesmo, por isso, o menor litigará, extraordinariamente. Parte da doutrina
entende que ele necessitará de curador especial para o ato. De qualquer forma, suprido o
consentimento, o casamento será realizado sob o regime de separação de bens, obrigatoriamente, por
força do art. 1.641, inc. III.

Por fim, o art. 1.520 prevê a impossibilidade, em qualquer caso, de casamento de quem não atingiu a idade
núbil. A regra, assim, acabou as hipóteses de casamento de quem ainda não atingira a idade núbil.

Há alguns detalhes a atentar, porém. Pode um maior de 16 anos e menor de 18 anos se casar? Sim, desde
que tenha autorização dos genitores. E se ele tiver apenas um dos genitores? O outro autoriza e pronto. E se
um dos genitores autorizar e o outro não? O juiz autoriza. E se ele for menor de 16 anos? Não pode haver
casamento, ainda que permitam os pais ou o juiz. Resumindo:

Suprimento de idade
• Não existe, já que só se permite o casamento de maiores de 16 anos, desde a Lei
13.811/2019

Suprimento de vontade
• Quando? Nubente com idade núbil (maior de 16 anos e menor de 18 anos,
relativamente incapaz, portanto)
• Quem? Os pais ou responsáveis, ordinariamente, ou o juiz, extraordinariamente, quando
um houver negativa imotivada

O suprimento judicial para o consentimento matrimonial é, consequentemente,


extraordinário, cabível apenas nos casos em que há indevida recusa dos pais.

III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem
não existir impedimento que os iniba de casar

Eis um caso peculiar em relação à prova testemunhal, admitida de maneira ampla nesse caso, não se
compreendendo o parente próximo como impedido, como faz o art. 447, §2º, inc. I, do CPC/2015.

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IV - Declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se
forem conhecidos

Sem maiores problemas, essa regra tem por objetivo evitar fraude, como no caso de nubentes de domicílios
diversos (situação na qual serão publicados os editais em ambos, segundo o art. 67, §4º, da LRP), ou de
pessoas já casadas, de modo a evitar a bigamia.

V - Certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória transitada em julgado ou de


anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio

Reunidos os documentos, podem as partes se dirigir ao Registro Civil para iniciar a habilitação.
O art. 1.526 exige que a habilitação seja feita pessoalmente perante o oficial do Registro
Civil. Nesse momento, o oficial do registro deve esclarecer os nubentes a respeito dos fatos
que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de
bens, consoante regra do art. 1.528.

Se estiver em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante 15 dias nas
circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local,
se houver, segundo o disposto no art. 1.527. São os chamados proclamas.

Em casos urgentes, a autoridade competente poderá dispensar a publicação (art. 1.527,


parágrafo único). Contudo, segundo o art. 69 da LPR, para a dispensa de proclamas, os
nubentes, em petição dirigida ao Juiz, devem deduzir os motivos de urgência do casamento,
provando-a, desde logo, com documentos ou indicando outras provas para demonstração do
alegado.

O Enunciado 513 da V Jornada de Direito Civil corrige um erro técnico do art. 1.527, parágrafo único. Isso
porque a publicação dos proclamas matrimoniais não pode ser dispensada, sob pena de violação do caráter
público do matrimônio. O juiz não pode dispensar, mesmo fundamentadamente, portanto, a publicação do
edital de proclamas do casamento, mas sim o decurso do prazo. Assim, publicam-se os proclamas, mas
dispensa-se o decurso do prazo.

Em seguida, se o oficial, o MP ou terceiro impugnarem o registro da habilitação, determina o parágrafo único


do art. 1.526 do CC/2002 e o art. 68 da LRP que ela será submetida ao juiz. A oposição de impedimentos e
causas suspensivas deve ser feita em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado,
ou com a indicação do lugar onde podem ser obtidas.

Então, o oficial do registro dá aos nubentes nota da oposição, indicando os fundamentos, as provas e o nome
de quem a ofereceu. Ou seja, aquela cena típica de filme e novela do parente irrompendo pelas portas da
Igreja para impedir o matrimônio é ficcional no Registro Civil.

Podem, então, os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos alegados (art. 1.530,
parágrafo único), inclusive ouvindo testemunhas (art. 68, §1º, da LRP). Aí, o juiz decidirá, em decisão
irrecorrível (art. 67, §2º, e art. 68, §1º, da LRP).

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Decorrido o prazo de 15 dias a contar da afixação do edital no Registro Civil, se não aparecer quem oponha
impedimento nem constar algum dos que de ofício deva declarar, ou se tiver sido rejeitada a impugnação
do MP, o oficial do registro certificará a circunstância nos autos, consoante o §3º do art. 67 da LPR. Nesse
caso, expede-se a certidão de habilitação, na forma do art. 67 da LPR e do art. 1.531 do CC/2002.

A certidão de habilitação terá efeitos por 90 dias, a contar da data em que foi extraído o certificado (art.
1.532). Passado o prazo, as partes devem, novamente, requerer a habilitação, desde o início. Cumprido o
prazo, celebra-se o casamento. Mas a própria celebração do matrimônio é bastante solene, você verá agora.

B. Requisitos da celebração

A cerimônia é realizada pela autoridade competente. De acordo com o art. 98, inc. II, da CF/1988 é o juiz de
paz essa autoridade competente para realizar os casamentos. No entanto, de maneira inacreditável, há
Estados que ainda não regulamentaram a justiça de paz, mantendo ainda os velhos “juízes de casamentos”.

Conforme o art. 1.512 do CC/2002, o casamento é civil e é gratuita sua celebração. Igualmente, segundo o
parágrafo único, mesmo a habilitação será gratuita para as pessoas cuja pobreza for declarada. A habilitação
para o casamento não, mas a habilitação, o registro e a primeira certidão são isentos de selos, emolumentos
e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei.

Designa-se dia à solenidade, hora e lugar, mediante petição dos contraentes à autoridade que presidir o ato
(art. 1.533). Ela deve se realizar na sede do Registro Civil, ou noutro edifício público ou particular, com toda
publicidade, presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes (art. 1.534). Caso a
solenidade se realize em edifício particular, ficará este de portas abertas durante o ato, exigindo-se, então,
quatro testemunhas (§§ 1º e 2º), se algum dos contraentes não souber ou não puder escrever.

O celebrante ouve dos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade,
declarando efetuado o casamento, nestes termos: "De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar
perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados." (art. 1.535
do CC/2002).

A exigência da oração acima desnuda o caráter soleníssimo do casamento e remete ao Direito Romano.
Quando eu falo de contrato solene e explico que isso advém do Direito Romano, que exigia que as palavras
certas fossem ditas, as coisas ficam meio aéreas. Aqui se vê esse sentido.

O legislador estabelece uma frase precisa que deve ser dita pelo juiz de paz. Sua violação geraria a nulidade
do matrimônio, inclusive (algo que é como o caviar do poeta pagodeiro, “nunca vi, nem comi, eu só ouço
falar”). Além disso, em tempos de matrimônio homoafetivo, ouvir “vos receberdes por marido e mulher” é,
para ser otimista, engraçado, senão profundamente desrespeitoso.

Na sequência, lavra-se o assento no livro de registro, que deve ser assinado pelo presidente do ato, pelos
cônjuges, as testemunhas, e o oficial do registro (art. 1.536) O registro deve conter:

I - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profissão, domicílio e residência atual dos


cônjuges;

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II - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento ou de morte, domicílio e residência atual dos


pais;

III - o prenome e sobrenome do cônjuge precedente e a data da dissolução do casamento


anterior;

IV - a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento;

V - a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro;

VI - o prenome, sobrenome, profissão, domicílio e residência atual das testemunhas;

VII - o regime do casamento, com a declaração da data e do cartório em cujas notas foi lavrada a
escritura antenupcial, quando o regime não for o da comunhão parcial, ou o obrigatoriamente
estabelecido.

Ademais, se algum dos nubentes adotar o nome do outro, o assente deve o indicar (art. 1.565, §1º). Se algum
dos nubentes for menor, a autorização para casar deve ser transcrita integralmente na escritura antenupcial
(art. 1.537).

O casamento se perfectibiliza quando os nubentes manifestam, perante o juiz, a sua


vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados, na dicção do art.
1.514. Vê-se, assim, como o matrimônio é um negócio jurídico solene que exige duplo
requisito de validade: a declaração dos nubentes e a declaração do juiz.

Porém, a celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos


contraentes recusar a solene afirmação da sua vontade, declarar que esta não é livre e espontânea ou
manifestar-se arrependido (art. 1.538, incisos). Nesses casos, o nubente não pode se retratar no mesmo dia
(parágrafo único), nem mesmo quando a manifestação for jocosa (animus jocandi). O “gozador”, nessas
horas, se torna um incômodo.

C. Casamento religioso

Estabelece o CC/2002 que o casamento religioso que atender às exigências da lei para a
validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio,
produzindo efeitos a partir da data de sua celebração (art. 1.515). O registro do casamento
religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento civil (art. 1.516).

O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de 90 dias de sua
realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer
interessado. Para tanto, deve preceder o casamento religioso a homologação da habilitação (§1º).

Assim, habilita-se, casa-se no religioso e, em 90 dias, dá-se efeitos civis a esse casamento. Se ultrapassados
90 dias do casamento religioso o casal não procede ao registro civil, deverá se submeter a novo
procedimento de habilitação.

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Mas mesmo sem as formalidades, o casamento terá efeitos civis se, a requerimento do
casal, for registrado posteriormente, no Registro Civil. Exige-se, evidentemente, prévia
habilitação perante a autoridade competente, sendo que essa habilitação também tem
validade de 90 dias (§2º).

Por fim, sublinhe-se que, em que pese o casamento religioso tenha sido desenhado sobre
o Direito Canônico, não há qualquer restrição religiosa. As formalidades do casamento civil são, em grande
medida, fruto do Código Canônico, voltado à regulação dos casamentos realizados sob o pálio da Igreja
Católica Apostólica Romana.

Não há qualquer óbice ao reconhecimento de efeitos civis ao casamento realizado diante da autoridade
religiosa que for, desde as mais tradicionais como o pastor de uma Igreja Evangélica, ou o rabino do
Judaísmo, até as religiões afro-brasileiras, como o pai ou mãe de santo do Candomblé, ou mesmo religiões
menos ortodoxas, como o Mestre Jedi do Jediísmo ou Jedaísmo.

O art. 5º, inc. VI, da CF/1988, que assegura a liberdade de culto, tem de ser levado a sério nesse aspecto.
Não se pode tolher o matrimônio de uma autoridade religiosa se o casamento for, para aquela religião, um
elemento importante, como ocorre com boa parte das religiões teístas e mesmo deístas.

D. Casamento sob moléstia grave e casamento nuncupativo

Excepcionalmente, a lei admite dois casos de casamento sem que as formalidades sejam todas cumpridas:
são os casos de casamento sob moléstia grave e casamento nuncupativo. São duas hipóteses nas quais o
casamento, se não tiver suas formalidades abreviadas ou abolidas, corre sério risco de não se realizar, não
por falta de vontade de um dos nubentes, mas porque o outro só poderá ser visitado no cemitério.

No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o
impedido. Se for urgente, fará a celebração ainda que à noite (art. 1.539). Exige-se a presença de duas
testemunhas que saibam ler e escrever, seja ele realizado de dia ou à noite.

Por outro lado, quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença
da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado
na presença de seis testemunhas. Essas testemunhas não podem ter parentesco em linha reta, ou, na
colateral, até segundo grau, com os nubentes (art. 1.540).

Esse é casamento nuncupativo, também chamado de casamento em viva voz, casamento in


extremis ou ainda casamento in articulo mortis, que nada mais é do que o casamento realizado
com pessoa em iminente risco de vida, cujas formalidades do casamento são deixadas de lado,
sob pena de morrer o nubente. Atente porque a restrição às testemunhas é menor do que a
habitual até o terceiro grau; no casamento nuncupativo, os colaterais de 3º grau podem
testemunhar!

Nesse caso, consoante regra do art. 1.541, realizado o ato, devem as testemunhas comparecer perante a
autoridade judicial mais próxima, dentro em 10 dias. Elas devem declarar que foram convocadas por parte
do enfermo e que este parecia em perigo de vida, mas estava em seu juízo normal, e que, em sua presença,
declararam os contraentes, livre e espontaneamente a aceitação ao matrimônio.

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Feito isso, o juiz procederá às diligências necessárias para verificar se os contraentes podiam ter-se
habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem, dentro em 15 dias (§1º).
Aprovado o casamento, o assento lavrado retrotrairá os efeitos do matrimônio, quanto ao estado dos
cônjuges, à data da celebração (§4º).

Porém, dispensam-se essas formalidades todas se o enfermo se curar e puder ratificar o casamento na
presença da autoridade competente e do oficial do registro (§5º).

Casamento sob moléstia grave Casamento nuncupativo

Doença grave, ainda que não fatal Iminente risco de vida, fatal no curto
no curto prazo prazo

Presença da autoridade matrimonial Ausência da autoridade matrimonial

2 testemunhas 6 testemunhas

1.2.2. Defeitos

Em regra, podem as pessoas casar-se livremente. Porém, em algumas situações, a lei impõe obstáculos ao
casamento, seja porque se suspende o casamento em algumas situações, seja porque se impede, em outras.
Veja-se, aqui, que não se fala em incapacidade para casar. Já mostrei a você as situações de incapacidade no
art. 1.517, anteriormente.

A. CAUSAS DE IMPEDIMENTO
O art. 1.521 estabelece que não podem casar (impedimentos absolutos ou
impedimentos dirimentes públicos). Aqui, as pessoas são capazes, mas a lei cria
impedimentos circunstanciais. Esses impedimentos são taxativos (numerus clausus),
ou seja, todos elencados em lei, especificamente.

Anote-se, ainda, que os impedimentos matrimoniais previstos no art. 1.521 do


CC/2002 valem tanto para o casamento quanto para a união estável, à exceção de um deles.

Além disso, mencione-se que aqui nos impedimentos reside o único laço do adotado com a família
biológica. A adoção, segundo o art. 41 do ECA, atribui a condição de filho ao adotado,
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer
vínculo com pais e parentes. A exceção está no art. 1.521 do CC/2002 e no art. 41 do ECA,
por conta dos impedimentos matrimoniais. Ou seja, o adotado mantém os impedimentos
matrimoniais em relação à família biológica e adiciona os impedimentos matrimoniais
em relação à família adotiva.

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Esses impedimentos, segundo o art. 1.522, podem ser opostos até o momento da celebração do
casamento, por qualquer pessoa capaz. O juiz e o oficial de registro, se tiverem conhecimento da existência
de algum impedimento, são obrigados a declará-lo (declaração de ofício).

Sem oposição do impedimento, e realizado o casamento, será ele considerado nulo, consoante regra do
art. 1.548, inc. II. A nulidade pode ser requerida por qualquer interessado ou mesmo pelo MP, por meio de
ação direta (art. 1.549).

Quais são os impedimentos ao casamento e à união estável?

I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil


III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante

O impedimento, aqui, é evidentemente biológico – eugênico, eu diria –, de modo a impedir a procriação de


descendentes com maior probabilidade de defeitos cromossômicos. Ainda que historicamente houvesse
procriação nesses casos, entre humanos (e a nobreza era bastante adepta), e ainda que atualmente a
procriação já não seja mais elemento preponderante para o casamento civil, a limitação persiste.

Há, inclusive, certa repugna social à permissão, especialmente por uma razão moral,
de impedimento ao incesto. O impedimento segue ao infinito, em se tratando de
consanguinidade (bisneto com bisavô, pai e filha, avó e neta etc.).

No caso de filiação socioafetiva, é de se ter que o impedimento também prevalece.


Assim, se cuido de uma criança e, com o falecimento de seus pais, ela passa a ficar
permanentemente comigo, havendo o reconhecimento da paternidade socioafetiva, igualmente não
podemos nos casar (padrasto e enteada, neto e “avó de coração” etc.)

Aqui se vê um “cochilo” do legislador, que esqueceu do art. 227, §6º, da CF/1988 que impede qualquer
diferenciação ou discriminação dos filhos. Os filhos são. E ponto. Ora, que diferença existe entre o filho
adotivo e o genético? Nenhuma. Então por que o legislador ainda manteve o inc. III, se o inc. I trata da mesma
situação? Precisamente porque a desigualação persistiu num lugar que enseja igualdade.

Mas, vou dar uma chance ao inc. III. Você pode pensar, com certa dose de razão, que o dispositivo menciona
a ex-esposa ou ex-esposo do adotante. Vou desconsiderar a hipótese de socioafetividade de antemão, ok?
Um homem, depois de casar, teve um filho. Se divorciou. Se casou novamente. Me adotou. Eu não posso
casar com as ex-esposas dele, diz o inc. III.

Encontrou aí a salvação do inc. III? Pois é. Continuo no exemplo. Um homem, depois de casar, teve um filho.
Se divorciou. Se casou novamente. Me adotou. O inc. III estabelece que eu não posso me casar com nenhuma
das ex-esposas dele.

Mas o meu irmão adotivo (filho consanguíneo desse homem) pode se casar com a nova esposa do pai, desde
que eles se divorciem. Ele pode, eu não. Filhos iguais? O dispositivo só não permite uma coisa dessas graças
ao inc. II, mas isso não o torna menos desastroso.

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II - os afins em linha reta

No caso do parentesco por afinidade (parentes oriundos da relação conjugal, ou seja, sogros,
cunhados etc.), a limitação ocorrerá apenas na linha reta. Assim, vedado o casamento em
sogradio.

Venosa vai mais longe e estabelece que a limitação acontecerá apenas na linha reta, e na
linha reta, apenas no primeiro grau. Argumenta que “afinidade não gera afinidade”, pelo que
não existiria restrição no casamento a se realizar entre mim e a avó de minha ex-esposa. A doutrina, em
geral, silencia a respeito, pelo que a posição de Venosa parece bastante defensável.

Na linha colateral, o desfazimento do casamento anterior não impede a contração de novo matrimônio com
o afim na linha colateral. Ou seja, não podem casar genro e sogra, por exemplo, mas podem casar-se
cunhados, desde que, obviamente, desfeita a primeira relação.

Segundo o art. 1.595, §2º, o parentesco por afinidade em linha reta não se extingue com o término da
relação conjugal, seja matrimonializada, seja por união estável. Daí o ditado popular que “sogra é pra vida
toda”. Assim, igualmente, não poderia eu me casar com a mãe de minha ex-companheira, porque a união
estável também estaria impedida pelo vínculo de afinidade.

Mesmo que o parentesco seja civil (terminologia arcaica ainda em uso pelo CC/2002) derivado de adoção,
o impedimento se mantém. Assim, o adotado não pode casar com o adotante, ainda que não ele não tenha
relação de consanguinidade, ou com seus filhos e cônjuge, ou vice-versa.

Problematizando, o CC/2002 proíbe que eu me case com a minha ex-sogra, mas não proíbe que eu me case
com a ex-mulher de meu pai, que não é minha mãe consanguínea, adotiva nem socioafetiva. Ou seja, não
posso me casar com alguém que nunca morou comigo, mas posso me casar com alguém que vivia sob o
mesmo teto.

Se o objetivo do legislador era impedir “relações incestuosas” e evitar o “diz-que-me-disse” da sociedade


moralista, ele falhou miseravelmente. Pra arrematar a crítica, na generalidade dos casos, é mais comum que
eu tenha idade parecida com a minha ex-sogra ou com a atual esposa do meu pai (divorciado de minha mãe)?
Fica a dica, legislador...

IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais


V - o adotado com o filho do adotante
IV - os demais colaterais, até o terceiro grau inclusive

Outro cochilo do legislador, e agora duplo. Primeiro, os irmãos são parentes colaterais de segundo grau. Ou
seja, a hipótese da primeira parte do inc. IV “os irmãos, unilaterais ou bilaterais” está incluída na hipótese
da segunda parte do mesmo inciso, “colaterais, até o terceiro grau inclusive”. Segundo, o filho de minha mãe

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adotiva é precisamente o meu irmão. A hipótese do inc. V, portanto, está incluída no inc. IV. Bastaria ao
legislador ter dito: “os parentes colaterais até o terceiro grau”.

Irrelevante se ambos são filhos do mesmo pai e da mesma (fraternidade bilateral, irmãos germanos) ou
apenas de consanguinidade paterna ou materna (fraternidade unilateral, irmãos uterinos ou “irmão por
parte de pai” ou “irmão por parte de mãe”), irmãos não podem casar. Vedado, portanto, o casamento
fraternal, mesmo que sejam os irmãos adotivos.

A regra do inc. IV deve ser também estendida ao inc. V. No caso de uma família plurilateral ou mosaico as
restrições também se aplicam. Assim, eu, que fui adotado por João (meu pai) e Maria (minha mãe), não
posso me casar com Ana, filha de Maria (minha mãe) com José (que não é meu pai). Eu e Ana somos irmãos
unilaterais, ainda que eu seja filho adotivo. De novo, art. 227, §6º, da CF/1988: filhos são.

Quanto aos colaterais, o terceiro grau abrange os tios e sobrinhos. Ou seja, proíbe-se o
chamado matrimônio avuncular, ocorrido entre tio e sobrinha ou tia e sobrinho. A
limitação não atinge os primos, (chamados por vezes de primos de primeiro grau ou primos-
irmãos), já que eles são parentes em linha colateral em quatro grau.

Curiosamente, é possível encontrar parentes colaterais em terceiro grau que sejam casados (tia e sobrinho),
já que o Decreto-Lei 3.200/1941 o permitia expressamente em seu art. 1º:

O casamento de colaterais, legítimos ou ilegítimos do terceiro grau, é permitido nos termos do


presente decreto-lei.

Para que o casamento avuncular se realizasse, seria necessário aprovação por junta médica. Esse aval
determinaria a ausência de risco biológico à prole. O objetivo é claramente eugênico (no sentido de “bom
nascimento”, sem defeitos cromossômicos que tendem a ser mais graves quão mais perto geneticamente
estão os procriadores).

No entanto, parte da doutrina entende que o CC/2002 revogou tacitamente esse Decreto, por ter regulado
a matéria tratada nele. Outros, porém, aduzem que o tratamento do Decreto é peculiar, pelo que subsiste a
norma especial.

Há quem indique que, inclusive, o casamento avuncular homoafetivo seria ainda menos reprovável do que
o heteroafetivo, já que o objetivo da proibição é eugênico, como fica evidente nas normas que minudenciam
o art. 1º do Decreto. Assim, como no casamento homoafetivo não haveria possiblidade de filiação biológica
de ambos, haveria menos razão ainda para o impedimento de um casamento homoafetivo avuncular.

Atento a essa curiosidade, o Enunciado 98 da I Jornada de Direito Civil prevê que o inc. IV do
art. 1.521 do CC/2002 deve ser interpretado à luz do Decreto-Lei 3.200/1941, no que se refere
à possibilidade de casamento entre colaterais de 3º grau. Assim, cumpridos os requisitos do
Decreto-Lei, permitido seria o casamento avuncular.

VI - as pessoas casadas

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Consequência do dever de fidelidade e da vedação à bigamia. Mesmo que ausente o outro cônjuge, persiste
o casamento, que se extingue apenas com o divórcio, depois da decretação de morte ou na situação peculiar
de declaração de ausência sem prévia presunção de morte.

Esse é o único impedimento ao casamento que precisa ser visto com mais cuidado na união
estável. Determina o art. 1.723, §1º que a união estável não pode se constituir se ocorrerem
os impedimentos do art. 1.521. A exceção? Precisamente o inc. VI. Assim, se a pessoa for
casada, mas estiver separada de fato ou judicialmente, pode constituir união estável.

Em leitura inversa, e é essa a leitura do STJ, a pessoa casada – de fato e de direito – não pode
ter reconhecida uma união estável paralela ao casamento porque a norma só o permite em caso de
separação de fato ou de direito. Como o dispositivo não responde à possibilidade de se reconhecer duas
uniões estáveis simultâneas (nem permite textualmente, nem proíbe inequivocamente), a controvérsia
persiste.

VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte

Essa regra, apesar do silêncio legal, vale apenas para o caso de condenação criminal transitada em julgado,
ou seja, se o casamento ocorre no curso da ação penal, é reputado válido. Igualmente, o homicídio deve
ser da modalidade dolosa, não valendo na culposa.

B. CAUSAS DE SUSPENSÃO
Chamadas de impedimentos impedientes pela doutrina clássica, as causas de suspensão deixaram de ser
consideradas impedimentos, em boa hora. Contrariamente às causas de impedimento, as de suspensão
não invalidam o matrimônio.

As causas suspensivas impõem “sanções” aos nubentes. A violação das causas suspensivas
obriga os nubentes a se casarem sob o regime de separação de bens (art. 1.641, inc. I), além de
se estabelecer hipoteca legal em favor dos filhos sobre os imóveis do genitor nubente, até que
finalize a repartição do patrimônio do casamento anterior (art. 1.489, inc. II).

O art. 1.524 fixou que tais causas podem ser arguidas pelos parentes em linha reta de um dos
nubentes, consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, consanguíneos ou afins. Ou seja,
diferentemente das causas de impedimento, que, segundo o art. 1.522, podem ser arguidas por qualquer
pessoa capaz, as causas de suspensão podem ser opostas apenas pelos parentes em linha reta ou colateral
até o segundo grau dos nubentes.

Estabelece o Enunciado 330 da IV Jornada de Direito Civil que as causas suspensivas da celebração do
casamento podem ser arguidas inclusive pelos parentes em linha reta de um dos nubentes e pelos colaterais
em segundo grau, por vínculo decorrente de parentesco civil.

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O art. 1.523, em seu parágrafo único, porém, permite aos nubentes solicitar ao juiz que não lhe seja aplicada
a limitação. Como? Depende da situação e, por isso, vou tratar, em cada um dos casos, da forma de
levantamento da limitação, de modo que os nubentes possam se casar em outro regime de bens que não o
da separação obrigatória e não tenham de realizar a hipoteca legal.

Além disso, o Enunciado 262 da III Jornada de Direito Civil expande essa possibilidade. Prevê ele que a
obrigatoriedade da separação de bens nas hipóteses previstas não impede a alteração do regime, desde que
superada a causa que o impôs.

As causas suspensivas do casamento estão previstas no art. 1.523:

I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal
e der partilha aos herdeiros

O objetivo aqui, evidentemente, é resguardar o patrimônio dos filhos, de modo a evitar confusão
patrimonial. No entanto, se o filho era unilateral do falecido, não há razão para se impor a restrição.

O art. 1.523, em seu parágrafo único, porém, permite aos nubentes solicitar ao juiz que não lhe seja aplicada
a limitação, desde que se prove a inexistência de prejuízo para o herdeiro. A regra vale também caso seja
realizado o inventário negativo do falecido, já que este não possuía bens.

II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses
depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal

Hipótese que, na prática, tende a restar superada pelo exame de DNA, mas ainda válida legalmente, ela
pretende dar maior certeza à presunção de paternidade e evitar confusões a respeito da paternidade
(turbatio sanguinis). O art. 1.523, em seu parágrafo único, porém, permite aos nubentes solicitar ao juiz que
não lhe seja aplicada a limitação, desde que se prove o nascimento de filho, ou a inexistência de gravidez,
na fluência do prazo.

III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal

Aqui o objetivo é evitar a confusão patrimonial, pois é possível o divórcio sem partilha, atualmente. Em
realidade, funciona como um meio para “forçar” ex-casais a ultimarem a partilha.

O art. 1.523, em seu parágrafo único, porém, permite aos nubentes solicitar ao juiz que não
lhes seja aplicada a limitação, desde que se prove a inexistência de prejuízo para o ex-
cônjuge.

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IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a


pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as
respectivas contas

O objetivo é evitar que o tutor/curador force o tutelado/curatelado a casar consigo ou com familiar seu para
evitar questionamentos sobre a administração e as contas da tutela/curatela.

O art. 1.523, em seu parágrafo único, porém, permite aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes seja
aplicada a limitação, desde que se prove a inexistência de prejuízo para tutelado ou curatelado.

Impedimento Suspensão

Linha reta: ascendência e Viuvez, com filhos, sem


descendência, sempre inventário

Parentesco por afinidade: até 1º Casamento anulado, em até 10


grau meses

Adotante e cônjuge do adotado Divorciado ou separado sem


e vice-versa partilha

Tutor/curador e parentes com o


Irmãos e colaterais até o 3º grau
tutelado ou curatelado

Adotado com o filho do


adotante

Pessoas casadas

Com o homicida (ou tentativa)


do consorte

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(FCC / TJ-SE – 2015) A violação de causas suspensivas da celebração do casamento acarreta a:

A) nulidade relativa do casamento.

B) obrigatoriedade do regime de separação de bens, não sendo permitido ao juiz relevá-las em


nenhuma hipótese.

C) obrigatoriedade do regime da separação de bens, exceto no caso de o juiz a relevar, conforme lhe
permite a lei, quando se tratar de viúva grávida antes de dez meses do início da viuvez.

D) obrigatoriedade do regime da separação de bens, exceto se relevadas pelo juiz, quando a lei o
permitir.

E) nulidade absoluta do casamento, exceto se relevada pelo juiz, quando a lei o permitir.

Comentários

A alternativa A está incorreta, sendo essa terminologia, inclusive, superada no CC/2002, que trata
apenas das nulidades (vetustas nulidades absolutas) e das anulabilidades (nulidades relativas).

A alternativa B está incorreta, conforme rege o art. 1.523, parágrafo único: “É permitido aos nubentes
solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste
artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e
para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de
filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo”.

A alternativa C está incorreta, porque essa não é a única situação que permite alteração judicial, mas,
conforme visto no art. 1.523, em outros casos, igualmente.

A alternativa D está correta, conforme o art. 1.641, inc. I: “É obrigatório o regime da separação de bens
no casamento das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração
do casamento”.

A alternativa E está incorreta, mais uma vez, conforme mencionado na alternativa A, sendo que a
nulidade ocorreria nas situações de impedimento, e não de suspensão.

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C. INVALIDADES
A Teoria do Fato Jurídico ponteana pressupõe a divisão do fenômeno jurídico em três planos, o plano da
existência, o plano da validade e o plano da eficácia. Os defeitos em cada plano, gerarão atos jurídicos
inexistentes, inválidos e ineficazes, respectivamente.

O próprio Pontes de Miranda, porém, ao longo de sua obra, expõe que a Teoria é fortemente mitigada no
Direito de Família, em razão de suas peculiaridades. Por exemplo, o ato inexistente é um “nada” jurídico,
pelo que sequer é possível pensar em efeitos a irradiar desse ato. O ato nulo tem eficácia ex tunc, pelo que
todos os seus efeitos, desde a celebração, são afastados.

Como, porém, afastar a presunção de paternidade do marido, em caso de inexistência do matrimônio?


Expurga-se o registro civil da criança e passaremos a fingir que ela também não existe? Evidente que não.

Por razões de ordem pública, de preservação dos negócios jurídicos e de preservação da boa-fé dos terceiros,
a Teoria do Fato Jurídico ponteana precisa ser vista com muitas ressalvas em se tratando dos defeitos que
envolvem o matrimônio.

A) Inexistência

Quanto ao plano da existência, são três os elementos: sujeito, objeto e forma. A ausência de um desses
elementos torna o matrimônio inexistente. São duas as hipóteses de inexistência do matrimônio, a ausência
de vontade e a ausência de forma. Não há, no direito brasileiro, hipóteses de ausência de sujeito (havia,
anteriormente ao reconhecimento do casamento homoafetivo).

Inexistente é o casamento realizado sem vontade alguma, como no caso de coação


absoluta (vis absoluta). Seria exemplo o casamento realizado pelo analfabeto que
tem sua digital inserida à força no documento. Inexiste por ausência de forma o
casamento realizado pela autoridade totalmente incompetente (ratione materiae),
como um juiz de direito ou um árbitro de futebol.

A despeito de inexistentes, em ambos os casos será necessário preservar efeitos, especialmente em relação
aos filhos e a terceiros de boa-fé. Em se tratando de casamento, o reconhecimento da inexistência do
matrimônio será equiparado à nulidade.

Isso ocorre especialmente porque o CC/2002 não adotou de maneira técnica o plano da existência em sua
gênese, mas apenas os planos da validade e da eficácia. Por isso, daqui em diante, tratarei da inexistência ao
lado da nulidade, que é a invalidade com a qual ela mais se parece, para evitar discussões
desnecessariamente aprofundadas, que podem ser revisitadas na análise da Teoria do Fato Jurídico.

B) Nulidade

No plano da validade, é possível que o casamento inválido seja invalidado ante sua nulidade ou sua
anulabilidade. Novamente, ainda que o casamento seja nulo, seus efeitos devem ser preservados, sob pena
de criação de situações aberrantes no mundo fático e no mundo jurídico.

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Mesmo que seja anulável ou mesmo nulo o casamento, se contraído de boa-fé por ambos os
cônjuges, em relação a estes, bem como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da
sentença anulatória, por força do art. 1.561. Porém, se um dos cônjuges estiver de boa-fé
(subjetiva) ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão (§1º).

Ao contrário, se ambos os cônjuges estavam de má-fé (subjetiva) ao celebrar o casamento, os


seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão (§2º). Se ao menos um dos nubentes estava de boa-fé, estamos
diante do chamado casamento putativo, ou seja, um casamento “imaginado”, porque nulo ou anulável.

Casamento putativo nada mais é do que o matrimônio eivado de vício, mas que produz todos os efeitos
dele decorrentes, até a declaração judicial própria, em homenagem à boa-fé dos contraentes, dos filhos e
de terceiros. É por isso, que, curiosamente, mesmo nos casos de nulidade, o casamento putativo pode
permanecer irradiando efeitos mesmo depois da sentença. É o caso da filiação, que, segundo o art. 1.617,
que permanece incólume mesmo sequer se reconhecendo a putatividade do casamento.

Quando o casamento for anulado por culpa de um dos cônjuges, perderá todas as vantagens havidas do
cônjuge inocente e deverá cumprir as promessas que lhe fez no contrato antenupcial. A previsão dos dois
incisos do art. 1.564, assim, sanciona o cônjuge que contraiu o casamento de má-fé.

No campo da inexistência, o exemplo é o casal que sabe ter sido o casamento realizado por juiz de direito.
Os filhos desse casal não terão o registro de nascimento alterado e nenhum dos dois poderá casar com os
ex-sogros, em razão do impedimento criado. No campo da nulidade, o caso é a contração do matrimônio de
má-fé por padrasto e enteada (reconhecida a paternidade socioafetiva). O reconhecimento voluntário de
paternidade se mantém hígido, bem como a criação de novos impedimentos matrimoniais.

A eficácia da sentença que declara a nulidade ou a inexistência do casamento é retroativa (ex tunc),
portanto. Mas serão preservados alguns dos efeitos do matrimônio. A ação declaratória é imprescritível,
não convalescendo a nulidade nem passando a existir a inexistência com o decurso do tempo, seguindo-se a
regra do art. 169.

A eficácia da declaração de nulidade é, como de praxe, retroativa (ex tunc), prevê o art. 1.563, e pode ser
requerida a qualquer tempo. Segundo o art. 1.563 do CC/2002, porém, a sentença que decretar a nulidade
do casamento retroagirá à data da sua celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso,
por terceiros de boa-fé, nem a resultante de sentença transitada em julgado.

A ação pode ser promovida pelo MP ou por qualquer interessado, determina o art. 1.549. Quanto à
possibilidade de reconhecimento de ofício, a doutrina se divide. Boa parte se filia ao entendimento de que
não é possível, permitindo-se apenas o reconhecimento de ofício nos casos de impedimento matrimonial.

Como o Estatuto da Pessoa com Deficiência revogou o inc. I do art. 1.548 do CC/2002, a única
hipótese de nulidade do matrimônio passou a ser violação dos impedimentos. Ora, se o
reconhecimento de ofício só seria permitido no caso de violação de impedimento matrimonial
e a única causa de declaração de nulidade do casamento é precisamente a violação de
impedimento matrimonial, a única consequência lógica no atual sistema é de que todo
casamento nulo pode ser conhecido de ofício (ex officio) pelo juiz, dado que só casamentos
nos quais houve violação de impedimento matrimonial são considerados nulos.

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Já a eficácia da sentença que anula o casamento é meramente ex nunc, preservando-se todos os efeitos do
matrimônio até a sentença que o desconstitui. Parece que o reconhecimento de ofício pelo magistrado, nos
casos de anulabilidade do casamento, violaria a regra geral do art. 177.

C) Anulabilidade

Por outro lado, o art. 1.550 rege essas situações. Mas, e quais são as hipóteses de anulabilidade do
casamento?

I - de quem não completou a idade mínima para casar

Como já disse, a idade núbil é de 16 anos. Nesses casos, necessário será autorização dos pais e, em caso de
negativa indevida de um deles, de suprimento de vontade, mediante autorização judicial.

O problema é que a Lei 13.811/2019 modificou o art. 1.520, proibindo o casamento de menores impúberes,
em qualquer hipótese. A mudança, louvável, creio, é problemática.

Isso porque o art. 1.553 estabelece uma situação de aquisição superveniente de requisito
faltante ao casamento, que levaria à anulabilidade. Nesse caso, o menor que não atingiu a idade
núbil poderá, depois de completá-la, confirmar seu casamento.

Além disso, o art. 1.551 estabelece que não se anulará, por motivo de idade, o casamento de
que resultou gravidez, em qualquer caso. Assim, mesmo sendo anulável o casamento do menor
de 16 anos, será ele convalidado pela gravidez do cônjuge varoa.

Podem requerer a anulação do casamento dos menores de 16 anos, o próprio cônjuge menor, seus
representantes legais ou seus ascendentes, na dicção do art. 1.552. Nesse caso, o prazo decadencial para
ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração, é de 180 dias (art. 1.560,
inc. I).

A Lei 13.811/2019 é, por isso, problemática, já que proíbe o casamento de menores de 16 anos, em qualquer
hipótese, sem, no entanto, tratar dessas duas situações. Aparentemente, as duas normas persistem, abrindo
a possibilidade de matrimônio infantil, estranhamente.

II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal

Como outrora dito, pode o menos de 18 anos, mas maior de 16 anos, casar-se, desde que tenha autorização
dos pais (suprimento de vontade voluntário). Se um deles denegar a autorização sem justo motivo, pode o
juiz supri-la (suprimento de vontade judicial).

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É de se acrescentar que o art. 1.555 afiança que esse casamento só poderá ser anulado se a ação for proposta
no prazo decadencial de 180 dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo (conta-se o prazo a partir do
dia em que cessou a incapacidade), de seus representantes legais (conta-se o prazo a partir do dia do
casamento) ou de seus herdeiros necessários (conta-se o prazo a partir da morte do incapaz).

Segundo o §2º desse artigo, não se anulará o casamento quando à sua celebração houverem
assistido os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer modo, manifestado
sua aprovação. Nesse caso, inclusive, o silêncio importa em consentimento.

III - por vício da vontade

São duas as hipóteses de vício de vontade geralmente aplicadas aqui. A coação (vis compulsiva) e o erro
essencial quanto à pessoa (error in persona).

O art. 1.558 estabelece a anulabilidade do casamento em virtude de coação, quando o


consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor
de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares.
Valem, aqui, as mesmas noções do vício da coação da Parte Geral.

No entanto, atente para duas diferenças. A coação prevista no art. 151 abrange também os
bens, ao passo que a coação para o casamento, não. A coação da Parte Geral abrange também pessoa não
pertencente à família do coato (na forma do parágrafo único, segundo a prudente análise judicial), a coação
do Direito de Família, não.

De qualquer sorte, o prazo decadencial para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da
data da celebração, é de 4 anos (art. 1.560, inc. IV). Além disso, somente o cônjuge que sofreu a coação
pode demandar a anulação do casamento. A coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, conforme
regra do art. 1.559.

(CEFET / MPE-BA – 2015) Assinale a alternativa CORRETA sobre casamento, segundo o Código Civil
Brasileiro:

A) O Ministério Público tem legitimidade para propor ação de decretação de nulidade do casamento
do enfermo mental sem necessário discernimento para os atos da vida civil ou pela infringência de
qualquer impedimento.

B) O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na desigualdade de direitos e deveres
dos cônjuges.

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C) Os parentes afins em linha reta podem se casar, em qualquer hipótese.

D) O casamento sob coação é considerado inexistente.

E) O casamento resultante de gravidez deve ser anulado por motivo de idade.

Comentários

As modificações promovidas pelo EPD anulariam essa questão, hoje. Isso, no entanto, não me impede
de analisar e comentá-la em detalhes.

A alternativa A está incorreta, dada a revogação do art. 1.548, inc. I, que sustentava a correção desta
alternativa.

A alternativa B está incorreta, de maneira evidente, ante a dicção do art. 1.511: “O casamento
estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”.

A alternativa C está incorreta, de acordo com o art. 1.521, inc. II: “Não podem casar os afins em linha
reta”.

A alternativa D está incorreta, conforme o art. 1.558: “É anulável o casamento em virtude de coação,
quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado
temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares”.

A alternativa E está incorreta, pela redação do art. 1.551: “Não se anulará, por motivo de idade, o
casamento de que resultou gravidez”.

De outro lado, temos o erro, nesse caso entendido como erro essencial quanto à pessoa do outro (art. 1.556).
Mas, o que é erro essencial quanto à pessoa? Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge
(art. 1.557):

I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado

Quais são as situações que induzem em erro? A jurisprudência é que analisa, casuisticamente, mas o erro
tem de se mostrar “grave”. É o caso da mulher muito religiosa que se casa com quem, anteriormente,
frequentava o Templo Satânico; o homem muito conservador que se casa com pessoa trans que não relevou
sua identidade pretérita; o homem, profundo defensor dos animais, que se casa com outro homem que
descobre ter trabalhado com experimentações com animais etc.

Atente porque, em quaisquer casos, a causa tem de ser anterior ao matrimônio. Se o marido se torna
alcoólico, não pode a esposa anular o casamento por erro essencial quanto à pessoa, haja vista que a causa
é posterior. O mesmo ocorre se o marido era publicamente alcoólico antes do matrimônio, dado que a causa
era presente ao casamento.

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Nesse caso, o prazo decadencial para ser intentada a ação de anulação do casamento é de 3 anos, contados
da data da celebração (art. 1.560, inc. III).

II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável
a vida conjugal

A anulação do casamento por crime não exige a existência de ação penal anterior ao casamento. Exige-se
apenas fato anterior, por aplicação da consagrada regra tempus regit actum.

Não se exige trânsito em julgado da decisão, mas apenas uma sentença penal condenatória (condenação
em primeira instância), segundo parte da doutrina. Outra parte, ainda mais radical, diz que basta a existência
da ação, dado que os indícios de autoria e materialidade já são analisados para que se cumpra a justa causa
necessária à propositura da ação penal.

Seja para a corrente mais radical, seja para a outra corrente, é necessário que o crime tenha sido cometido
anteriormente ao matrimônio, não se cogitando a anulação se o fato imputável ao cônjuge é posterior ao
matrimônio. Além disso, exige-se que o tipo imputado torna insuportável a vida conjugal.

Isso porque o elemento central aqui é a repercussão social que impacta no consorte. Por isso, anulável o
casamento daquele que assediou sexualmente outrem, sendo o cônjuge militante de causas do tipo; não se
anula, porém, o casamento do estelionatário, tipo que, no caso, não impacta na vida do casal, em regra.

Nesses casos, igualmente, o prazo decadencial para ser intentada a ação de anulação do casamento é de 3
anos, contados da data da celebração (art. 1.560, inc. III).

III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize
deficiência ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em
risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência

Aqui está importante alteração feita pelo EPD. Agora, apenas no caso de defeito físico
irremediável que não caracterize deficiência é que pode ser anulado o casamento, por
caracterização do erro essencial quanto à pessoa. São os casos de impotência couendi (para o
ato sexual em si) ou da pessoa que tem AIDS ou hemofilia, por exemplo. O consorte de quem
Síndrome de Down, inversamente, não pode anular o casamento.

O art. 1.550, §2º, deixa claro, ainda, que “a pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbil
poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu
responsável ou curador”. Ou seja, não há mais espaço para se levantar a anulação do
casamento em caso de deficiência.

Nesses casos, o prazo decadencial para ser intentada a ação de anulação do casamento é de
3 anos, contados da data da celebração (art. 1.560, inc. III). Além disso, conforme regra do art.

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1.559 do CC/2002, apenas o cônjuge que incidiu em erro, pode demandar a anulação do casamento (ação
personalíssima). A coabitação e a ciência do vício, nesses casos, não validam o ato, contrariamente aos
demais.

IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento

A doutrina remetia esse dispositivo ao art. 1.548, inc. I, que estabelecia a nulidade para o caso enfermidade
mental. Porém, repita-se, esse dispositivo foi revogado pela Lei 13.146/2015.

O art. 1.550, inc. IV, cria agora uma anulabilidade para alguns dos outros casos de
incapacitação relativa previstos no art. 4º, incs. II e III. Assim, anulável será o casamento dos
alcoólicos e dependentes químicos, bem como daqueles que, por causa transitória ou
permanente, não puderem exprimir sua vontade.

Nesse caso, novamente, o prazo decadencial para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar
da data da celebração, é de 180 dias (art. 1.560, inc. I). A coabitação e a ciência do vício, nesses casos,
também não validam o ato, prevê o art. 1.559.

V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e
não sobrevindo coabitação entre os cônjuges

Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada, segundo o §1º. Os mesmos


efeitos se aplicam a ambas as hipóteses. Trata-se ambas de situações peculiares e inusuais, já que o próprio
matrimônio por procuração é raríssimo (se o casamento por procuração é o unicórnio do Direito de Família,
o casamento por procuração anulado pela revogação é um unicórnio com heterocromia – ter um olho de
cada cor).

O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por instrumento público, com poderes
especiais para tanto (art. 1.542). A procuração vale, inclusive, para o caso de casamento
nuncupativo (art. 1.542, §2º). O mandato em efeitos por no máximo 90 dias (§3º) e só pode ser
revogado por instrumento público (§ 4º).

O §1º estabelece outra exceção às regras tradicionais, agora relativamente ao mandato. A revogação do
mandato não necessita chegar ao conhecimento do mandatário para ter eficácia. Mas, celebrado o
casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responde o
mandante por perdas e danos.

O prazo decadencial para anulação do casamento é de 180 dias, a partir da data em que o mandante tiver
conhecimento da celebração (art. 1.560, §2º). A ação é personalíssima, igualmente, e a coabitação convalida
a invalidade matrimonial (art. 1.550, inc. V).

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VI - por incompetência relativa da autoridade celebrante

A rigor, a leitura do art. 1.550, inc. VI, poderia levar tanto a uma situação de inexistência quanto de
anulabilidade. Inexistente será o casamento realizado por autoridade absolutamente incompetente
(incompetência ratione materiae). O art. 1.554, por sua vez, deixa claro que subsiste o casamento celebrado
por aquele que, sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de
casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil (incompetência ratione loci).

É o caso do juiz de paz de Brasília/DF que realiza um matrimônio em Goiânia/GO. O prazo


para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração, é de
dois anos, se incompetente a autoridade celebrante (art. 1.560, inc. II).

Por fim, o art. 1.564 prevê que quando o casamento for anulado por culpa de apenas um dos
cônjuges, este deve perder todas as vantagens havidas do cônjuge inocente e cumprir as
promessas que lhe fez no contrato antenupcial.

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Sem idade mínima (16


anos)

Sem autorização dos


Identidade, honra e boa
responsável (entre 16 e 18
fama
anos)

Vício de vontade Crime anterior


Causas de anulação do
casamento
Incapaz de consentir Defeito físico/moléstia
inequivocamente irremediável

Mandatário sem poderes


(casamento por
procuração)

Incompetência do
celebrante

(FCC / PGM-São Luís (MA) – 2016) Decorre do regime estabelecido pelo Código Civil que:

A) É nulo o casamento por vício da vontade.

B). É anulável o casamento realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da
revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges.

C) É anulável o casamento por infringência de impedimento.

D) É nulo o casamento celebrado por autoridade incompetente.

E) A anulação do casamento dos menores de 16 anos não pode ser requerida diretamente pelo próprio
cônjuge menor por necessitar de seus representantes legais para elaborar tal pedido.

Comentários

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A alternativa A está incorreta, segundo o art. 1.550, inc. III: “É anulável o casamento por vício da
vontade”.

A alternativa B está correta, nos termos do art. 1.550, inc. V: “É anulável o casamento realizado pelo
mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo
coabitação entre os cônjuges”.

A alternativa C está incorreta, na dicção do art. 1.548, inc. II: “É nulo o casamento contraído por
infringência de impedimento”.

A alternativa D está incorreta, na forma do art. 1.550, inc. VI: “É anulável o casamento por
incompetência da autoridade celebrante”.

A alternativa E está incorreta, conforme a lição do art. 1.555: “O casamento do menor em idade núbil,
quando não autorizado por seu representante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em
cento e oitenta dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de
seus herdeiros necessários”.

1.2.3. Efeitos

Segundo o art. 226, §5º, da CF/1988, os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo casal, que são companheiros e responsáveis pelos encargos da família (art. 1.565 do
CC/2002). Ou seja, os efeitos do casamento são iguais aos membros do casal.

Por isso, o planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos
educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de
instituições privadas ou públicas. Além disso, qualquer dos nubentes pode acrescer ao seu o sobrenome do
outro, e não mais apenas à mulher se permite tal recurso. Igualmente, nada impede que, como é comum,
ambos permaneçam com os mesmos sobrenomes.

Igualmente, deixa claro o art. 1.569 que o domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, o que
confronta com a regra do art. 7º, §7º, da LINDB. De qualquer forma, um e outro podem se ausentar do
domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de sua profissão, ou a interesses
particulares relevantes.

Nesse sentido, estatui o art. 1.566 que são deveres de ambos os cônjuges:

I - fidelidade recíproca;

II - vida em comum, no domicílio conjugal;

III - mútua assistência;

IV - sustento, guarda e educação dos filhos;

V - respeito e consideração mútuos.

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Novamente, como dito no início desta aula, esses deveres devem ser vistos com cuidado. Isso ocorre
especialmente numa sociedade plural, em vista dos novos arranjos familiares e das novas concepções sobre
os relacionamentos afetivos, como as chamadas “relações abertas”, a inexistência de coabitação contínua
etc.

É inadmissível, por exemplo, continuar a perceber, no dever de vida em comum o débito conjugal. Ora, o
vetusto dever de manter relações sexuais poderia até ser arguido pelo Coronel Jesuíno Mendonça contra
sua Sinhazinha (com seu célebre bordão “deite, que vou lhe usar”), mas não mais numa sociedade
democrática e que pressupõe a liberdade, incluindo a sexual.

Por isso, a direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, por ambos, sempre no interesse
do casal e dos filhos (art. 1.567), devendo ambos, na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho,
concorrer para o sustento da família e a educação dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial do
casamento (art. 1.568).

Em situações específicas, apenas um dos cônjuges passará a exercer, com exclusividade, a direção da
família, administrando os bens. São os casos previstos no art. 1.570: se o outro cônjuge estiver em lugar
remoto ou não sabido, encarcerado por mais de 180 dias, interditado judicialmente ou privado,
episodicamente, de consciência, em virtude de enfermidade ou de acidente.

Se houver divergência e relação à direção dos interesses dos filhos, qualquer dos cônjuges poderá recorrer
ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses.

1.2.4. Dissolução

A. Noções gerais

A dissolução da sociedade conjugal se dá pela morte de um dos cônjuges, pela


anulação ou nulidade do casamento, pela separação judicial ou pelo divórcio,
segundo o art. 1.571, incs. I a IV. Deve-se adicionar aí, para fins práticos, a inexistência
do casamento, ainda que atecnicamente. Cuide, porque não se confunde dissolução
da sociedade conjugal com dissolução do casamento; é, de outra forma, o que dispõe
o §1º do art. 1.571.

Isso porque o casamento termina apenas com a morte ou o divórcio. Assim, a nulidade, a
anulação e a separação judicial põem fim à sociedade conjugal, mas não ao casamento. A
dissolução do casamento faz dissolver a sociedade conjugal (o mais engloba o menos), mas a
dissolução da sociedade conjugal não faz dissolver o casamento (o menos não engloba o mais).

Veja-se que a EC 66/2010, ao modificar o art. 226, §6º, da CF/1988, passou a dispor apenas
sobre o divórcio direto (“O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”). A despeito de a separação
judicial ter perdido sua relevância, o STJ (REsp 1.247.098) entende que nada impede aos cônjuges separarem-
se judicialmente.

A Corte estabeleceu que o legislador constitucional apenas deixou de exigir o critério temporal para o
divórcio, criando, assim, o divórcio direto. Nada obstante, as normas do CC/2002 a respeito da separação

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judicial permanecem hígidas, se for esse o desejo dos futuros ex-cônjuges. Isso porque, ao contrário do
divórcio, no qual há secessão dos laços a ambos os cônjuges, a separação judicial mantém alguns deles, o
que inclui, por exemplo, a retomada da relação matrimonial plena sem necessidade de novo casamento.

Eu, pessoalmente, acho essa decisão criticável. Isso porque o argumento de fundo do STJ é de que o
CPC/2015, ao trazer variados dispositivos a respeito da separação judicial, teria tido a intenção de a manter
no sistema. Ora, o legislador constitucional me pareceu bem claro: “O casamento civil pode ser dissolvido
pelo divórcio”. Não separação, não anulação, não nulidade, divórcio.

A interpretação da Corte me parece uma “processualização do Direito Constitucional”, quando o adequado


seria o inverso, a “constitucionalização do Direito Processual”. No entanto, a decisão me parece menos
polêmica do que a maioria da doutrina faz crer.

Se o casal quiser se divorciar, diretamente, muito que bem; se quer enfrentar o antiquado, bizarro e
desnecessário calvário de se separar judicialmente e depois ter de converter em divórcio, gastando tempo e
dinheiro, amém. Não me parece que a opção viole algum direito fundamental ou viole o princípio da
proibição do retrocesso social, antes valora a liberdade e a pluralidade. Se alguém prefere ser um tanto old
school e continuar com a lengalenga da separação, quem somos nós a criticar a opção?

Esse entendimento, inclusive, consta do Enunciado 514 da V Jornada de Direito Civil: “A Emenda
Constitucional n. 66/2010 não extinguiu o instituto da separação judicial e extrajudicial”. De qualquer sorte,
pela interpretação teleológica da EC 66/2010, não há prazo mínimo de casamento para a separação
consensual, esclarece o Enunciado 515 da V Jornada de Direito Civil.

Isso porque, na separação judicial por mútuo consentimento, o juiz só poderá intervir no limite da
preservação do interesse dos incapazes ou de um dos cônjuges, permitida a cindibilidade dos pedidos com
a concordância das partes, aplicando-se esse entendimento também ao divórcio (Enunciado 516 da V
Jornada de Direito Civil).

No mais, as pessoas separadas de direito antes da EC 66/2010 continuam a sê-lo. Não se tornam,
automaticamente, pessoas divorciadas. Não há, portanto, mudança no status civil (inexistência de
transmudação dos institutos jurídicos), pelo que devem elas converter a separação em divórcio, judicial ou
extrajudicialmente, como ocorria anteriormente.

Quanto ao ausente, desfaz-se o matrimônio pela presunção de morte, quando da abertura da


sucessão definitiva, tanto direta quanto com prévia decretação de ausência. Se o cônjuge
presente pretender a dissolução da sociedade conjugal antes disso, deverá realizar o divórcio,
deixando de haver os direitos sucessórios que lhe tocariam com a abertura da sucessão
definitiva, conforme o caso.

No caso de o presumivelmente retornar – depois de ultrapassada a sucessão definitiva, no caso da prévia


ausência, seja diretamente, na presunção de morte sem ausência –, o que fazer? A doutrina diverge, mas
não vejo espaço para a divergência.

Basta utilizar a “lógica” do Enunciado 614 da VIII Jornada de Direito Civil (“Os efeitos patrimoniais da
presunção de morte posterior à declaração da ausência são aplicáveis aos casos do art. 7º, de modo que, se
o presumivelmente morto reaparecer nos dez anos seguintes à abertura da sucessão, receberá igualmente

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os bens existentes no estado em que se acharem”). Esse enunciado, por mim proposto, permite
compreender que o não morto receberá não apenas os bens no estado em que se encontrarem, mas também
as demais situações jurídicas, a incluir o matrimônio de seu ex-consorte.

Assim, considera-se dissolvido o matrimônio entre o cônjuge supérstite-que-não-é-supérstite e o cônjuge


falecido-que-não-faleceu. Consequentemente, válido o casamento posterior, de modo a se considerar
dissolvida a sociedade conjugal pretérita. Evidente que nada impede que eles voltem a se casar, se assim
quiserem. Diz o ditado que o amor supera até mesmo a morte, por que não haveria de superar uma
ressurreição jurídica?

B. Separação judicial

A separação dá-se por mútuo consentimento dos cônjuges se forem casados por mais de um ano (art. 1.574).
O procedimento judicial da separação cabe somente aos cônjuges, e, no caso de incapacidade, são eles
representados pelo curador, pelo ascendente ou pelo irmão (art. 1.576, parágrafo único).

O juiz somente pode recusar a homologação e não decretar a separação judicial se apurar que a convenção
não preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges (art. 1.574, parágrafo único).
Com a sentença, na regra do art. 1.575 do CC/2002, há a separação de corpos e a partilha de bens.

A partilha de bens pode ser feita mediante proposta dos cônjuges e homologada pelo juiz ou por este
decidida, segundo o parágrafo único desse artigo. Com a separação, põe-se fim aos deveres de coabitação e
fidelidade recíproca e ao regime de bens (art. 1.576).

Porém, seja qual for a causa da separação judicial e o modo como esta se faz, é lícito aos cônjuges
restabelecer, a todo tempo, a sociedade conjugal, por ato regular em juízo (art. 1.577). É isso que diferencia
a separação judicial do divórcio direto: no divórcio direto, se o casal resolve “voltar”, precisa casar
novamente; na separação judicial, basta que restabeleçam a sociedade conjugal, sem necessidade de novo
matrimônio.

Decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que decretou a separação judicial, ou da decisão
concessiva da medida cautelar de separação de corpos, quaisquer das partes pode requerer sua conversão
em divórcio, por força do art. 1.580. Ao que parece, depois da EC 66/2010, porém, desnecessário aguardar
esse prazo, pelo que se o casal se separou judicialmente, pode requerer o divórcio a qualquer tempo. Esse
entendimento consta do Enunciado 517 da V Jornada de Direito Civil.

Podem as separações judiciais anteriores à EC 66/2010 ser convertidas em divórcio por meio
de escritura pública de divórcio extrajudicial (art. 1.580, §1º). No entanto, não podem os
procedimentos judiciais de divórcio ser transformados em procedimentos extrajudiciais
(nesses casos, deve-se desistir da ação por perda do objeto).

Se a conversão for judicial, ela será processo autônomo, podendo tramitar em foro diferente, já
que as partes podem ter se mudado, depois da separação. As partes, então, devem juntar a decisão
transitada em julgado ou a averbação no assento do casamento.

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De qualquer forma, conjugando-se a EC 66/2010 com o entendimento do STJ (REsp 1.247.098), a conclusão
que se chega é dupla. Primeiro, há a manutenção da separação judicial, se assim for o desejo dos cônjuges.
Segundo, toda e qualquer menção a prazo para o divórcio se entende derrogada pela norma
constitucional, por incompatibilidade.

Assim, por exemplo, o prazo ânuo do caput do art. 1.580 para a conversão da separação em divórcio está
derrogado. O prazo bienal do art. 1.580, §2º, para requisição do divórcio depois da separação de fato é
inaplicável. O prazo ânuo do art. 7º, §6º, da LINDB para o reconhecimento do divórcio realizado no
estrangeiro sem prévia separação judicial não tem mais aplicação.

C. Divórcio

No caso de divórcio, o procedimento segue o regramento do CPC. Pode o divórcio ser


unilateral ou bilateral, ou seja, por iniciativa de apenas um dos nubentes (não consensual) ou
por mútuo consentimento (consensual). Igualmente, pode o procedimento ser judicial ou
extrajudicial.

O divórcio consensual pode ser realizado por escritura pública, se não houver
filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos.
Nesse caso, a escritura conterá as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns
e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de
solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento.

Obrigatoriamente, as partes devem estar assistidas por advogado comum ou advogados de cada um deles
ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

Tal qual na separação, o art. 1.582 do CC/2002 exige que o pedido de divórcio seja feito somente pelos
cônjuges. Se o cônjuge for incapaz para propor a ação ou se defender, poderá fazê-lo o curador, o ascendente
ou o irmão, do mesmo modo, segundo o parágrafo único.

Se judicial, na dicção do art. 731 do CPC, a petição, instruída com a certidão de casamento e o contrato
antenupcial se houver, conterá:

I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;

II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;

III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e

IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos.

A partilha dos bens, porém, pode ser feita posteriormente, por procedimento próprio (art. 1.581), não se
exigindo ela nem mesmo na separação judicial (Enunciado 255 da III Jornada de Direito Civil). Aliás, prevê o
Enunciado 602 da VII Jornada de Direito Civil que, transitada em julgado a decisão concessiva do divórcio, a
expedição do mandado de averbação independe do julgamento da ação originária em que persista a
discussão dos aspectos decorrentes da dissolução do casamento.

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O divórcio, porém, não modifica os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos (art. 1.579 do
CC/2002). Igualmente, novo casamento de qualquer dos pais, ou de ambos, não importa em restrições aos
direitos e deveres previstos, segundo o parágrafo único.

Dissolvido o casamento, o cônjuge poderá manter o nome de casado (art. 1.571, §2º e art. 1.578, §2º).
Porém, segundo o art. 1.578, o cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde o direito de
usar o sobrenome do outro, desde que expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não
acarretar evidente prejuízo para a sua identificação, manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos
filhos havidos da união dissolvida ou dano grave reconhecido na decisão judicial. Igualmente, o cônjuge
inocente na ação de separação judicial poderá renunciar, a qualquer momento, ao direito de usar o
sobrenome do outro (§1º).

Enunciado 121 do CJF Propôs alterar o art. 1.571, §2º, para: “Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou
por conversão, no que diz respeito ao sobrenome dos cônjuges, aplica-se o disposto no art. 1.578”. Na esteira
desse, o Enunciado 124 do CJF propôs alterar o art. 1.578 para: “Dissolvida a sociedade conjugal, o cônjuge
perde o direito à utilização do sobrenome do outro, salvo se a alteração acarretar evidente prejuízo para a
sua identificação; manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da união dissolvida;
ou dano grave reconhecido na decisão judicial”. Revogam-se os §§ 1º e 2º do mesmo artigo, de modo a se
afastar a “culpa”.

ARREMATO COM DUAS CURIOSIDADES HISTÓRICAS. PULE O QUADRO, SE FOR O CASO. A PRIMEIRA, MAIS REMOTA, E
A SEGUNDA, AINDA MUITO PRESENTE NA SOCIEDADE ATUAL.

A LEI 6.515/1977, A LEI DO DIVÓRCIO, FOI RECEBIDA COMO NOVIDADE. ISSO PORQUE O CC/1916 PREVIA, NO
ART. 317, O DESQUITE, E APENAS NOS CASOS DE ADULTÉRIO, TENTATIVA DE MORTE, SEVÍCIA, OU INJÚRIA GRAVE OU
ABANDONO VOLUNTÁRIO DO LAR CONJUGAL, DURANTE DOIS ANOS CONTÍNUOS.

O ART. 318 PERMITIA O DESQUITE POR MÚTUO ACORDO, MAS CONSIGNAVA QUE ELE NÃO PUNHA FIM À SOCIEDADE
CONJUGAL, SENDO EQUIPARADO À ANULAÇÃO DO MATRIMÔNIO.

A POLÊMICA LEI, ACLAMADA POR LIBERAIS, ACACHAPADA POR CONSERVADORES, PERMITIA A SEPARAÇÃO OU O
DIVÓRCIO EM NUMEROSOS CASOS, MESMO SE CONTINUANDO A DISCUTIR A “CULPA” PELO FIM DO
RELACIONAMENTO. PODERIA HAVER SEPARAÇÃO POR MÚTUO ACORDO, SEM SE FAZER INCURSÃO EM MOTIVOS,
DEPOIS DE 2 ANOS DO INÍCIO DO CASAMENTO.

O QUE POUCA GENTE SABE É QUE A LEI DO CASAMENTO CIVIL, DECRETO 181/1.890, PERMITIA, EM SEU ART. 82,
§4º, O DIVÓRCIO POR “MUTUO CONSENTIMENTO DOS CONJUGES, SI FOREM CASADOS HA MAIS DE DOUS ANNOS”. DE
MANEIRA MUITO VANGUARDISTA, O ART. 88 AINDA PREVIA QUE “O DIVORCIO NÃO DISSOLVE O VINCULO CONJUGAL,

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MAS AUTORIZA A SEPARAÇÃO INDEFINIDA DOS CORPOS E FAZ CASSAR O REGIMEN DOS BENS , COMO SI O CASAMENTO
FOSSE DISSOLVIDO”. EM BOM PORTUGUÊS, NÃO DISSOLVE, MAS DISSOLVE...

OU SEJA, O LEGISLADOR DE 1916 DEU UM PASSO ATRÁS, EM LARGA MEDIDA, EQUIPARANDO O DESQUITE À
ANULAÇÃO, NÃO À DISSOLUÇÃO. A SEGUNDA CURIOSIDADE É O TAL “NÃO DAR O DIVÓRCIO”, AINDA NA BOCA DO
POVO.

O ART. 5º, §1º, DA LEI DE 1977 PERMITIA A SEPARAÇÃO JUDICIAL, PEDIDA POR UM SÓ CÔNJUGE, SE ELE PROVASSE
A RUPTURA DA VIDA EM COMUM HÁ MAIS DE 5 ANOS CONSECUTIVOS, E A IMPOSSIBILIDADE DE SUA RECONSTITUIÇÃO.
APENAS EM 1992, COM A LEI 8.408, É QUE ESSE PRAZO CAIU PARA UM ANO.

SOMENTE EM 2002, COM O NOVO CÓDIGO CIVIL, É QUE O CÔNJUGE PASSOU A PODER SE APRESENTAR A UM JUIZ E
DIZER, “QUERO ME DIVORCIAR”, E COMO DIREITO POTESTATIVO QUE É, O JUIZ E O OUTRO CÔNJUGE NÃO PODERIAM
MAIS PERQUIRIR SOBRE QUALQUER MOTIVAÇÃO. “DIVORCIO-OS E PONTO”. EM 2002!

POR ISSO, É COMUM AINDA ESCUTAR AS PESSOAS FALAREM, “MAS, E SE O OUTRO NÃO QUISER DAR O DIVÓRCIO?”
POR ISSO A UNIÃO ESTÁVEL SE TORNOU TÃO POPULAR, SIMPLES, SEM BUROCRACIA, “JUNTA E PRONTO”, “SEPARA E
PRONTO”...

2. DIREITO CONJUGAL PATRIMONIAL


2.1. NOÇÕES GERAIS
O Direito de Família conjugal é desdobrado em direito existencial e direito patrimonial. Neste, atenta-se às
questões de cunho econômico que são centrais nessas relações existenciais; como diz o ditado popular, “nem
só de amor vive o casamento”. É verdade. Muitas discussões que terminam em divórcio começam nos
números, infelizmente.

O Direito Civil brasileiro é bastante restritivo quanto às regulações de cunho existencial, sendo que a maioria
das cláusulas do contrato de casamento é prefixada por lei, constituindo normas cogentes. Poucas são as
normas dispositivas, a maioria delas no tocante ao direito patrimonial. O elemento central do direito
patrimonial de família conjugal é certamente o regime de bens.

A escolha do regime de bens é, em regra, livre ao casal, em vista do princípio da liberdade (constitucional)
e da autonomia privada (consectário daquele na seara contratual). Apenas excepcionalmente o legislador
obriga e impede que o regime seja escolhido livremente, à semelhança do contrato obrigatório da Teoria
Geral dos Contratos.

De regra, a liberdade é tamanha que nada impede, em seguimento ao art. 425, estabelecer um contrato de
casamento atípico. Nese sentido, o Enunciado 331 da IV Jornada de Direito Civil prevê que o estatuto
patrimonial do casal pode ser definido por escolha de regime de bens distinto daqueles tipificados no
CC/2002 nos arts. 1.639 e 1.640, parágrafo único. Nesses casos, deve o oficial promover certificação a
respeito, nos autos do processo de habilitação matrimonial.

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A opção por regime misto será feita conforme a conveniência do casal. Assim, podemos eu e minha esposa
estabelecer a vigência da comunhão universal de bens entre nós, salvo no caso de direito hereditário. Assim,
se parente meu falece e eu recebo uma herança, esse direito hereditário é meu bem particular; se parente
dela falece e ela recebe herança, esse direito hereditário é bem particular dela. Outro exemplo é a assunção
de regime de separação de bens para os bens imóveis e de comunhão parcial de bens para os bens móveis.
As opções são muitas.

O que não pode ser estabelecido pelos cônjuges é a aplicação de diferentes regimes e regras
para cada um deles. Isso porque o direito brasileiro adota o princípio da indivisibilidade do
regime de bens. Assim, ilícita a previsão de que quanto aos bens imóveis em nome de minha
esposa aplica-se o regime da separação de bens e quanto aos bens imóveis em meu nome, a
comunhão parcial de bens.

O CC/2002 estabeleceu no art. 1.639, §2º, ainda outro princípio. Segundo esse dispositivo,
podem os casados trocar o regime de bens, a todo tempo, mediante autorização judicial (ação de alteração
de regime de bens, prevista no art. 734 do CPC/2015).

É o princípio da mutabilidade dos regimes de bens adotado pelo Direito brasileiro com o CC/2002. A
eficácia da alteração é ex nunc (não retroage), evidentemente a partir do trânsito em julgado da decisão,
reconhece o STJ (REsp 1.300.036).

O Enunciado 131 do CJF propõe que o §2º do art. 1.639 fosse redigido nos seguintes termos: “É inadmissível
a alteração do regime de bens entre os cônjuges, salvo nas hipóteses específicas definidas no art. 1.641,
quando então o pedido, devidamente motivado e assinado por ambos os cônjuges, será objeto de
autorização judicial, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros,
inclusive dos entes públicos, após perquirição de inexistência de dívida de qualquer natureza, exigida ampla
publicidade”.

Além disso, o Enunciado 260 da III Jornada de Direito Civil estabelece que a alteração do regime de bens
também é permitida nos casamentos realizados na vigência da legislação anterior. Trata-se de interpretação
do art. 2.035 do CC/2002, já que o regime de bens se insere no plano da eficácia. Como a eficácia da alteração
é ex nunc, apenas, seus efeitos não retroagem e não atingem o ato (ato jurídico perfeito) praticado ainda na
vigência do CC/1916. A existência e a validade do matrimônio se mantêm incólumes, alterando apenas a
eficácia desde já na vigência do novo estatuto material.

Ademais, atente para três detalhes. Não é possível a alteração do regime de bens por pura liberalidade dos
cônjuges, vedando-se ao oficial alterá-lo por simples documento, público ou particular. Segundo, pode-se
alterar livremente de um regime de bens ao outro e vice-versa, sem restrições. Além disso, parte da
doutrina chama esse princípio de princípio da mutabilidade justificada. Por que justificada?

Porque não basta requerer ao Juízo a alteração; deve-se justificar o pedido (justo motivo). O juiz, então,
analisa o pedido, apurando a procedência das razões apresentadas e verifica se não há tentativa de fraudar
os direitos de terceiros (intuito fraudatório). Não havendo razão para indeferir o pedido, ele defere.

O Enunciado 113 da I Jornada de Direito Civil esclarece que o pedido, devidamente motivado e assinado por
ambos os cônjuges, será objeto de autorização judicial. Mesmo assim a autorização deve ressalvar os direitos

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de terceiros, inclusive dos entes públicos, após perquirição de inexistência de dívida de qualquer natureza,
exigida ampla publicidade. O Enunciado 113 é praticamente idêntico ao Enunciado 131, mas este não tem
pretensão modificativa, apenas interpretativa.

Ou seja, mesmo que deferido, ressalvam-se os direitos de terceiros, caso a fraude não tenha sido notada
nem mesmo pelo juiz, no momento. A alteração gera, para os credores de boa-fé prejudicados, ineficácia
inter partes (relativa). Trata-se do mesmo raciocínio aplicado à ineficácia havida por fraude contra credores
na ação pauliana, prevista nos arts. 158 e ss.

O próprio juiz não pode negar a mudança se não houver razão suficiente, no momento. O STJ (REsp
1.119.462), nesse sentido, entende que esse justo motivo é bastante geral, não cabendo ao julgador
“esquadrinhar indevidamente a intimidade dos consortes”. Se o casal tem divergência sobre um negócio que
pode acarretar prejuízo para o patrimônio comum, a alteração para o regime da separação de bens é justo
motivo, por exemplo.

Anteriormente, dei outro exemplo, en passant. Um dos cônjuges, divorciado, ainda não tinha tido
homologada ou decidida a partilha dos bens do outro matrimônio. O art. 1.523, inc. II, obriga a adoção do
regime da separação obrigatória de bens. Feita a partilha, esse é um justo motivo para se requerer a
alteração para o regime da comunhão parcial de bens, ou para a comunhão universal.

Outro princípio que se pode reconhecer no direito de família conjugal patrimonial é o


princípio da variedade de regimes. Podem os cônjuges escolher livremente um dos
quatro regimes existentes ou mesmo criarem regime atípico ou misto. Se as partes
nada convencionarem, por força do art. 1.640, aplica-se o regime da comunhão
parcial de bens, que é o regime legal, geral e supletivo.

Isso explica a razão pela qual a esmagadora maioria dos matrimônios tem por regime o regime da comunhão
parcial de bens. Ele não é o regime de bens mais simples – que é o regime da comunhão universal de bens –
, mas é o mais adequado na contemporaneidade por unir comunhão de certos bens e separação de outros.
Não é puramente patrimonial, como a participação final nos aquestos, nem puramente existencial, como a
comunhão universal de bens (“tudo o que é seu é meu e tudo o que é meu é seu”).

O regime da comunhão universal de bens era o regime legal, geral e supletivo adotado pelo CC/1916. Apenas
com a Lei 6.515/1977, a Lei do Divórcio, é que o regime da comunhão universal de bens deixou de sê-lo,
adotando-se o regime da comunhão parcial de bens como o regime legal, geral e supletivo. No entanto, por
tradição, o regime da comunhão universal de bens continuou a ser usado extensamente pelos nubentes até
os anos 1990, sobretudo por seu apelo romântico (o “tudo o que é seu é meu e tudo o que é meu é seu, meu
amor”).

Por se tratar do regime supletivo, aplicável no silêncio dos nubentes a respeito da escolha do regime de bens,
o regime da comunhão parcial de bens é também o regime supletivo aplicável à união estável. Assim, os
companheiros, se não tiverem escolhido regime diverso em documento escrito, terão sua relação
patrimonial regida pelo regime da comunhão parcial de bens, supletivamente.

A diferença entre o casamento e a união estável está na aplicação. Segundo o art. 1.639, §1º, o regime de
bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento. Já na união estável, será necessário

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apurar a data de seu início, que não é precisa, evidentemente, caso não tenham eles documento a respeito.
Se tiverem, mais fácil.

Caso os companheiros escolham regime diverso do supletivo, a regra é a mesma do casamento, ou seja, o
regime de bens passa a vigorar a partir do momento em que o documento foi entabulado. Veda-se, assim,
eficácia retroativa (ex tunc) aos instrumentos, públicos, ou privados, que estabelecem regimes de bens na
união estável, sob pena de criação de situação mais benéfica que a do casamento.

A escolha do regime de bens deve ser realizada pelos nubentes no processo de habilitação. Se
se optar pelo regime da comunhão parcial, basta que a opção seja reduzida a termo. Ao
contrário, se for qualquer um dos demais regimes que não a comunhão parcial de bens, deve-
se fazer o pacto antenupcial por escritura pública.

Também será aplicado o regime da comunhão parcial de bens, de maneira supletiva, caso a convenção
nupcial seja anulada ou declarada sua nulidade. Ou seja, se reputado o pacto antenupcial nulo ou anulável,
vigora, por força de lei, o regime da comunhão parcial de bens.

Superada a questão da escolha dos regimes de bens, é importante começar a compreender o regime
patrimonial instituído pelo casamento em detalhes. Seja qual for o regime de bens, determinados atos
podem ser praticados por qualquer dos cônjuges, independentemente do consentimento do outro. Que
atos são esses? O art. 1.642 estabelece que os cônjuges podem livremente:

I. Praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de


sua profissão

• A exceção fica por conta do ato que envolve alienação ou gravação de ônus real de bens
imóveis (art. 1.647, inc. I)

II. Administrar os bens próprios

III. Desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu
consentimento ou sem suprimento judicial

• Em realidade, o consorte lesado deverá anular o ato, e não reivindicar, no prazo


decadencial de 2 anos, contados do fim da sociedade conjugal (morte, divórcio,
separação judicial, anulação, nulidade e inexistência – atecnicamente – do casamento)
A ação compete ao cônjuge prejudicado e a seus herdeiros (art. 1.645). O terceiro
prejudicado tem direito regressivo contra o cônjuge, que realizou o negócio jurídico, ou
seus herdeiros (art. 1.646)

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IV. Demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval,


realizados pelo outro cônjuge sem autorização do outro

• Em realidade, o consorte lesado deverá anular o ato, e não rescindir, no prazo


decadencial de 2 anos, contados do fim da sociedade conjugal (morte, divórcio,
separação judicial, anulação, nulidade e inexistência – atecnicamente – do casamento).
Quanto ao aval, consigne-se a divergência doutrinária a respeito da necessidade de
outorga conjugal e o posicionamento do STJ sobre a necessidade apenas quanto aos
títulos de crédito tipificados pelo CC/2002.
A ação compete ao cônjuge prejudicado e a seus herdeiros (art. 1.645). O terceiro
prejudicado tem direito regressivo contra o cônjuge, que realizou o negócio jurídico, ou
seus herdeiros (art. 1.646).

V. Reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro


cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço
comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos

• Em realidade, o consorte lesado deverá anular o ato, e não reivindicar, no prazo


decadencial de 2 anos, contados do fim da sociedade conjugal (morte, divórcio,
separação judicial, anulação, nulidade e inexistência – atecnicamente – do casamento).
O prazo quinquenal previsto é indevido, já que o art. 550 e o art. 1.649 preveem prazo
de 2 anos, compatível com os demais dispositivos. O prazo de 5 anos do art. 1.649, inc. V,
é um “estranho no ninho”, a rigor.
Evidentemente, em se tratando de união estável, não há que se falar em aplicação da
norma, porque o companheiro não é concubino. Mesmo que seja concubino, se provar
que o bem foi adquirido pelo esforço comum, descabe a anulação do ato.
A ação compete ao cônjuge prejudicado e a seus herdeiros (art. 1.645). O concubino,
evidentemente, não tem ação regressiva, dado que é “cúmplice” e o próprio beneficiário
do ato.

VI. Praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente

Igualmente, de modo a afastar noção puramente patrimonial nos regimes de bens, independentemente de
quais forem, o art. 1.643 claramente afirma que os cônjuges podem, independentemente de autorização
um do outro (vênia conjugal:

I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;

II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir.

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Nesses casos, como as dívidas foram contraídas em prol da unidade familiar, o art. 1.644
firma o entendimento que essas dívidas obrigam solidariamente ambos os cônjuges.
Atenção aqui, já que, de acordo com o art. 265, a solidariedade não se presume, mas
decorre da lei ou da vontade.

Eis aqui um caso de solidariedade passiva legal, e um caso bem peculiar, porque mesmo que
um cônjuge compre as coisas contra a vontade do consorte, este fica igualmente obrigado, e solidariamente.
Assim, se tomo dinheiro emprestado para pagar a conta de luz ou fazer compras no supermercado, minha
esposa automaticamente é devedora solidária.

AQUI, FAÇO UMA NOTA DE RODAPÉ MENTAL. GERALMENTE, USAMOS NÓS O TERMO “OUTORGA UXÓRIA” OU, PARA
DAR UM AR DE LATIM, “VÊNIA UXÓRIA”, QUANDO NOS REFERIMOS AO CONSENTIMENTO DO OUTRO CÔNJUGE. O
TERMO, PORÉM, É INADEQUADO.

PRIMEIRO, PORQUE O GÊNERO É OUTORGA CONJUGAL, JÁ QUE OUTORGA UXÓRIA É A OUTORGA DA ESPOSA E
OUTORGA MARITAL É A OUTORGA DO MARIDO. USA-SE A ESPÉCIE PELO GÊNERO, FREQUENTEMENTE PORQUE, NA
VISÃO PATRIARCAL, QUEM REALIZA O NEGÓCIO É O MARIDO, QUE SÓ PRECISA DA VÊNIA DA ESPOSA.

NÃO BASTASSE ISSO, TEMOS A UNIÃO ESTÁVEL. ORA, COMO É QUE O COMPANHEIRO DARÁ OUTORGA CONJUGAL, SE
ELE CÔNJUGE NÃO É. O CORRETO SERIA OUTORGA DO COMPANHEIRO OU OUTORGA CONVIVIAL (MAS CONVIVIAL TEM
UM SENTIDO UM TANTO FESTIVO) OUTORGA CONVIVAL, OUTORGA COMPANHEIRAL ETC. MAIS CORRETO AINDA SERIA
“CONSENTIMENTO DO CÔNJUGE OU COMPANHEIRO”. MAS A EXPRESSÃO É LONGA DEMAIS.

VEZ OU OUTRA, POR DESLIZE, ACABO USANDO “OUTORGA UXÓRIA”, INFELIZMENTE. MAS TENTAREI SEMPRE USAR O
GÊNERO, “OUTORGA CONJUGAL”, O QUE ABRANGE, QUANDO FOR O CASO, A OUTORGA DO COMPANHEIRO TAMBÉM
(ATÉ PORQUE O COMPANHEIRO É PRECISAMENTE AQUELE QUE CONVIVE MORE UXORIO). QUANDO CITAR OBRA
ALHEIA, PORÉM, MANTEREI A TERMINOLOGIA ORIGINAL, ESCLAREÇO.

De outra banda, quais são os atos que não pode um dos cônjuges, sem autorização do outro, realizar?
Primeiro, essas regras não se aplicam ao regime da separação de bens. Ou seja, os casados nos regimes da
comunhão parcial de bens, da comunhão universal de bens e da participação final nos aquestos não
podem, sem outorga conjugal (art. 1.647:

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I. Alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis

II. Pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos

III. Prestar fiança ou aval

IV. Fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar
futura meação
• São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem
economia separada

Se um dos cônjuges negar vênia para a realização dos negócios jurídicos supramencionados,
sem justo motivo, ou se lhe é impossível concedê-la (se está em coma, por exemplo), o outro
pode requerer suprimento da outorga. No entanto, a falta de autorização ou do suprimento
judicial tornam anulável o ato.

Qual o prazo decadencial para o outro cônjuge pleitear a anulação? Dois anos, contados do
término da sociedade conjugal, prevê o art. 1.649. Podem, igualmente, os herdeiros requerer a anulação,
permite o art. 1.650, mas nesse caso o prazo se conta a partir do falecimento do consorte que não anuiu
com o ato, estabelece o STJ (REsp 1.273.639).

Talqualmente os demais negócios anuláveis, possível o salvamento. Segundo o parágrafo único do art. 1.649,
a aprovação valida o ato, desde que feita por instrumento público, ou particular, autenticado.

Quanto ao aval, há intensa polêmica. O Enunciado 114 da I Jornada de Direito Civil prevê que o aval não pode
ser anulado por falta de vênia conjugal, de modo que o inc. III do art. 1.647 apenas caracteriza a
inoponibilidade do título ao cônjuge que não assentiu. O STJ (REsp 1.526.560), por sua vez, estabelece que
se exige outorga conjugal para o aval nos títulos de crédito, mas somente para os títulos atípicos, regidos
pelo CC/2002, sendo desnecessário para os títulos de crédito típicos regidos por leis especiais.

No Enunciado 132 do CJF propõe-se a supressão da expressão “ou aval” do inc. III do art. 1.647. Isso porque
exigir anuência do cônjuge para a outorga de aval é afrontar a Lei Uniforme de Genebra e descaracterizar o
instituto. Não bastasse isso, a celeridade indispensável para a circulação dos títulos de crédito é incompatível
com essa exigência, pois não se pode esperar que, na celebração de um negócio corriqueiro, lastreado em
título cambial ou duplicata, seja necessário, para a obtenção de um aval, ir à busca do cônjuge e da certidão
de seu casamento, determinadora do respectivo regime de bens.

Segundo a Súmula 332 do STJ, a falta de vênia conjugal resulta na ineficácia total da garantia. Pela sistemática
do CC/2002, a invalidade prevista nesse entendimento é a anulabilidade (nulidade relativa), por força do art.
1.649, e não a nulidade (nulidade absoluta), como era na sistemática do CC/1916.

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Quando um dos cônjuges não puder exercer a administração dos bens que lhe incumbe, segundo o regime
de bens, caberá ao outro:

I - gerir os bens comuns e os do consorte;

II - alienar os bens móveis comuns;

III - alienar os imóveis comuns e os móveis ou imóveis do consorte, mediante autorização judicial.

Estabelece o art. 1.652 que o cônjuge que estiver na posse dos bens particulares do outro será para com este
e seus herdeiros responsável como usufrutuário, se o rendimento for comum (inc. I). Se tiver mandato
expresso ou tácito para os administrar, será tido como procurador (inc. II). Por fim, se não for usufrutuário,
será reputado depositário (inc. III). Assim, aplicam-se as regras do usufruto, do mandato ou do depósito,
respectivamente, ao cônjuge que está na posse dos bens particulares do outro.

2.2. PACTO ANTENUPCIAL


O CC/2002 prefixa quatro regimes de bens: comunhão parcial de bens, comunhão total ou
universal de bens, separação – convencional ou legal – de bens e participação final de
aquestos. O pacto é obrigatório sempre que o regime de bens escolhido pelos nubentes
seja qualquer outro que não o regime de comunhão parcial de bens, por força do art.
1.640.

Assim, somente se exige pacto antenupcial quando o regime adotado não é o regime legal, geral e supletivo
estabelecido em lei. Por meio de pacto antenupcial, podem os nubentes escolher uma combinação de
regimes ou mesmo estatuir algumas “normas” de exceção ao regime escolhido. Ou seja, se adotado o regime
da comunhão parcial de bens, mas o casal resolve prever alguma especificidade, necessário é o recurso ao
pacto antenupcial.

O pacto antenupcial deve ser feito por escritura pública, sob pena de nulidade (nulidade
absoluta). Será ineficaz se não lhe seguir o casamento (art. 1.653). O pacto antenupcial é,
assim, um negócio jurídico bilateral sob condição suspensiva, o casamento. Existente e válido,
torna-se ineficaz se não preenchido o requisito de eficacização exigido por lei.

Será ainda o pacto ineficaz contra terceiros antes de seu registro, em livro especial, pelo oficial do Registro
de Imóveis do domicílio dos cônjuges (art. 1.657). Ou seja, nulo, ineficaz erga omnes ou ineficaz inter partes,
a depender da violação cometida, o pacto antenupcial mostra de maneira muito evidente o funcionamento
da tripartição de planos da Teoria do Fato Jurídico ponteana.

Nulas são as convenções ou cláusulas que contravenham disposição absoluta de lei (art. 1.655), violando
norma cogente, de ordem pública. Por exemplo, nula a cláusula do pacto que exclui o direito sucessório do
cônjuge (REsp 954.567). Veja-se que a declaração de nulidade eiva apenas a cláusula, não o pacto todo,
evidentemente, sob pena de violação do princípio da conservação.

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Conforme reza o art. 1.656, se se adota o regime de participação final nos aquestos no pacto antenupcial,
pode-se convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares. Como esse peculiar regime
funciona como uma separação de bens enquanto vige, pode-se aproximá-lo ainda da separação de bens pelo
pacto antenupcial.

Se um dos nubentes for menor, a eficácia do pacto antenupcial fica condicionada à aprovação de seu
representante legal. A exceção fica por conta das hipóteses de adoção do regime obrigatório de separação
de bens, na forma do art. 1.654; nesses casos, desnecessária a aprovação do representante legal.

Mas não só disposições patrimoniais podem constar do pacto antenupcial. Atento a essa premissa, o
Enunciado 635 da VIII Jornada de Direito Civil afiança que o pacto antenupcial e o contrato de convivência –
no caso de união estável – podem conter cláusulas existenciais. No entanto, essas cláusulas não podem violar
os princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade entre os cônjuges e da solidariedade familiar.

2.3. REGIMES DE BENS


O regime de bens nada mais é que a regulação contratual acerca do funcionamento
patrimonial das pessoas que se unem por casamento ou união estável, valendo desde a data
do casamento ou união (art. 1.639, §1º). Assim, o art. 1.639 estabelece que podem os nubentes,
antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver.

Consequentemente, o Brasil adota um rol exemplificativo de regimes de bens (numerus


apertus), pelo que os cônjuges podem criar outro regime ou podem até misturar regras dos demais regimes,
desde que isso não viole norma de ordem pública. Contrato que é, o casamento segue a mesma sistemática
prevista no art. 425 para qualquer contrato (princípio da atipicidade contratual).

2.3.1. Comunhão parcial

O regime da comunhão parcial de bens é, em regra, o regime em que os bens adquiridos antes
da união formam o patrimônio individual de cada cônjuge, ao passo que o patrimônio
adquirido depois da constância da união forma o patrimônio comum, em comunhão, como
estabelece o art. 1.658. Ou seja, existem três “patrimônios”: o patrimônio individual de cada um
dos cônjuges (o “meu” e o “seu”), composto pelos bens adquiridos antes do casamento, e o
patrimônio comum, adquirido posteriormente (o “nosso”).

O regime da comunhão parcial é o regime legal, geral e supletivo. Assim, não optando expressamente por
outro regime, os nubentes adotam o regime da comunhão parcial de bens. Não havendo disposição escrita
a respeito da regulação patrimonial na união estável, adotaram tacitamente os companheiros o regime da
comunhão parcial de bens. Escolhendo regulação patrimonial considerada nula, cônjuges e companheiros
passam a ter suas relações patrimoniais regidas pelo regime da comunhão parcial de
bens.

Se é parcial, há bens que se comunicam, porque formam os aquestos do matrimônio,


e há bens que não se comunicam porque formam o acervo patrimonial particular de
cada um dos cônjuges. Quais bens se comunicam (bens comuns) e quais são

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incomunicáveis (bens particulares)? O art. 1.659 estabelece que são excluídos da comunhão (bens
particulares, que não são partilhados):

I. Os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar

É o primeiro lado da regra “os bens adquiridos antes da união são particulares, bens adquiridos depois são
bens comuns”. Se recebidos em doação ou sucessão, não foram adquiridos, mas recebidos. Assim, se meu
sogro falece e minha esposa herda uma casa, ou se ele doa em vida a ela, a casa é bem particular dela.

Igualmente, mesmo que o bem tenha sido adquirido onerosamente na constância da união, ele não é
partilhado se a aquisição se deu com valores oriundos da alienação do bem particular. Assim, no mesmo
exemplo, se minha esposa vende a casa e com o dinheiro compra um apartamento, o apartamento é bem
particular dela.

Evidentemente, na sub-rogação, se o consorte colabora com valor suplementar, o suplemento é


partilhável. No mesmo exemplo, se a casa foi vendida por R$200 mil e o apartamento foi comprado por
R$300 mil, R$100 mil são de bens comuns nossos, pelo que tenho direto a R$50 mil e minha esposa aos
outros R$250 mil.

Esse é o entendimento do STJ (REsp 1.318.599). A Corte ainda entende que mesmo que o doador seja o
próprio companheiro, que doa um bem particular ou a sua meação num bem, o bem não é partilhável,
porque a regra não é excepcionada (REsp 1.171.488). A regra, evidentemente, vale também para o
casamento.

Seja casamento, seja união estável, no caso de divórcio o cônjuge ou companheiro doador não terá direito
ao bem. No caso de término da sociedade conjugal, atrai-se a regra sucessória do art. 544, pelo que a doação
configurará adiantamento da legítima, salvo se o doador expressamente estipulou que a liberalidade saiu da
parte disponível.

II. Os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-
rogação dos bens particulares

Em larga medida, é o mesmo caso do anterior. A única distinção é que o bem é anterior ao casamento. Assim,
se ao casar minha esposa tinha uma casa de R$200 mil, ou esse valor na poupança e, depois de casada,
compra um apartamento, o apartamento é bem particular dela.

Evidentemente, na sub-rogação, se o consorte colabora com valor suplementar, o suplemento é


partilhável. No mesmo exemplo, se a casa foi vendida por R$200 mil, ou esse valor estava na poupança dela,
e o apartamento foi comprado por R$300 mil, R$100 mil são de bens comuns nossos, pelo que tenho direto
a R$50 mil e minha esposa aos outros R$250 mil.

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III. As obrigações anteriores ao casamento

Aqui há um complemento à “bens adquiridos antes da união são particulares, bens adquiridos depois são
bens comuns”. Se vale para os bens, créditos, vale também para as dívidas, débitos.

IV. As obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal

Mesmo que a obrigação surja posteriormente ao matrimônio, ela é de responsabilidade pessoal do cônjuge.
Eis uma pitada de direito penal no direito civil. Famoso princípio penal (princípio da intranscendência, da
pessoalidade ou da personalidade da pena) é de que a pena não pode ultrapassar a pessoa do condenado,
segundo a norma do art. 5º, inc. XLV, da CF/1988.

O ato ilícito civil e o ato ilícito penal têm origem idêntica, mas historicamente se diferenciaram, em especial
pela assunção da tipicidade estrita no direito penal e da atipicidade no direito civil. Aqui, a origem dos
institutos se mostra mais próxima, já que a norma do art. 1.659, inc. IV, reproduz precisamente essa
percepção.

Assim, se minha esposa, numa discussão, ofende alguém e é chamada a indenizar, essa dívida, oriunda da
responsabilidade civil por ato ilícito, não atinge meu patrimônio particular e nem minha meação. Mas, depois
de rápido arroubo penal, o direito civil volta a ser direito civil.

Excepciona-se essa regra quando o ilícito reverte em proveito do casal, situação na qual ambos respondem
solidariamente. Se fosse essa regra aplicada no direito penal, variados políticos brasileiros dividiriam a cela
com suas esposas. Como lá a culpabilidade é importante, não chegam as ex-primeiras-damas a pernoitar na
carceragem policial, mas isso não impede que seu patrimônio particular seja atingido pela ação de
ressarcimento ao Erário.

V. Os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão

Minha escova, minhas regras, sua escova, suas regras. Regra óbvia. Não faria sentido que, no divórcio, eu e
minha esposa dividíssemos os meus ternos ou os sapatos dela.

A mesma regra vale para os livros. Assim, meu Tratado de Direito Privado de Pontes de Miranda jamais será
partilhado, assim como a coleção de livros de Direito Penal de minha esposa.

Quanto aos instrumentos de profissão, há de se ter cuidado. Bisturi, vade mecum, nível, gabarito, fita métrica
e afins não são partilhados por médicos, advogados, engenheiros, pedreiros e costureiros com seus ex-
consortes. Computadores, táxis e mesas de escritório ou de consultórios são, porque não são meramente
instrumentos de trabalho, ainda que sirvam para tanto.

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Cada um com seus bens de uso pessoal, sendo irrelevante, portanto, se um dos cônjuges vive
espartanamente e o outro faustamente. Isso, inclusive, é ponto de discórdia em muitas lides, em acusações
mútuas. A má escolha matrimonial pode ter péssimas consequências patrimoniais.

VI. Os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge

Trata-se, evidentemente, dos proventos recebidos comumente. Se me divorciar, minha esposa, funcionária
pública, não terá de me repassar metade do salário. Claro, isso nada tem a ver com a eventual pretensão de
alimentos que tenho em face dela, porque as duas situações não se confundem (alimentos compõem o
direito de família assistencial, ao passo que a meação compõe o direito de família conjugal).

Além disso, se parte do salário de minha esposa é depositado mensalmente numa conta-poupança, esses
valores passam a ser partilháveis. O mesmo ocorre com o cônjuge, causídico, que vence causa milionária.
Esses valores são comuns. Não serão partilhados os honorários que eu receberei se/quando vencer uma
ação, futuramente, talqualmente não se partilha o salário do cônjuge do mês seguinte à dissolução da união.

O dispositivo trata dos proventos presentes e futuros apenas, não dos pretéritos. Levar a norma ao absurdo
levaria à bizarra situação de que nada se partilha porque tudo é excluído da comunhão.

VII. As pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes

Pensão é o valor recebido por decisão judicial, pela lei, por ato inter vivos ou causa mortis. Meio-soldo é a
metade do valor recebido pelo militar das Forças Armadas reformado. Montepio é a pensão recebida pelos
herdeiros de um funcionário público falecido. Em resumo, pensões lato sensu.

Segundo o STJ, o benefício de previdência privada fechada, como a OABPrev, é excluído da partilha (REsp
1.477.937), porque constitui “renda semelhante”.

Se esses bens são incomunicáveis (bens particulares), quais se comunicam (bens


comuns)? O art. 1.660 estabelece que entram na comunhão (bens comuns, a serem
partilhados):

I. Os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de
um dos cônjuges

É o outro lado da regra “os bens adquiridos antes da união são particulares, bens adquiridos depois são bens
comuns”. Há presunção absoluta (juris et de jure) de que foram os bens adquiridos com o esforço comum,
presunção essa que advém da própria noção de comunhão de vida e patrimônio no casal.

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É irrelevante se o “meu” carro está no meu nome e o carro de minha esposa está no nome “dela”. Se este
vale R$100 mil e aquele R$20 mil, temos, ambos, direito a R$60 mil. Se num eventual divórcio cada qual
ficasse com o “seu” carro, eu teria de ser indenizado em R$40 mil.

A mesma regra vale para cotas societárias, ainda que a sociedade seja formada por nós dois e eu detenha
90% do capital social e ela apenas 10%. Metade da “empresa” é de cada um. Esse valor deve ser apurado no
momento da partilha, já decidiu o STJ (REsp 1.537.107), e não prévia ou posteriormente.

(FCC / DPE-BA – 2016) Margarida de Oliveira conviveu em união estável com Geraldo Teixeira desde
o ano de 2006, ambos pessoas capazes e não idosos. Não realizaram pacto de convivência. Durante
o relacionamento, Margarida, funcionária pública, recebia salário equivalente a dez salários
mínimos, enquanto Geraldo não realizava qualquer atividade remunerada. Em 2010, Margarida
adquiriu, por contrato de compra e venda, um bem imóvel onde o casal passou a residir. Em 2015,
recebeu o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), deixado por seu pai por sucessão legítima.

Diante desta hipótese, é correto dizer que Geraldo

A) não tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, uma vez que o bem
foi adquirido sem qualquer participação de Geraldo, mas faz jus à partilha do valor recebido a título de
herança por Margarida, uma vez que o regime de bens aplicável à relação.

B) não tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, uma vez que o bem
foi adquirido sem qualquer participação de Geraldo, e também não faz jus à partilha do valor recebido
a título de herança por Margarida, uma vez que o regime de bens aplicável à relação não contempla
herança.

C) tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, independente de prova
de esforço comum, mas não faz jus à partilha do valor recebido a título de herança por Margarida, uma
vez que o regime de bens aplicável à relação não contempla herança.

D) tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, independente de prova
de esforço comum, como também faz jus à partilha do valor recebido a título de herança por
Margarida, uma vez que o regime de bens aplicável à relação contempla herança.

E) tem direito tanto à meação do imóvel adquirido na constância da união estável bem como à partilha
do valor recebido a título de herança por Margarida, desde que prove esforço comum em ambas as
situações.

Comentários

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A alternativa A está incorreta, pois, segundo o art. 1.725, “Na união estável, salvo contrato escrito
entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão
parcial de bens”. Com isso, prevê o art. 1.660, inc. I, que “Entram na comunhão, os bens adquiridos na
constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges”.

A alternativa B está incorreta, pelas mesmas razões da alternativa A, supracitada, pela aplicação
combinada dos arts. 1.725 e 1.660, inc. I, do CC/2002.

A alternativa C está correta, pela conjugação dos dois dispositivos legais supracitados (art. 1.725 e art.
1.660, inc. I), bem como do art. 1.659, inc. I (“Excluem-se da comunhão, os bens que cada cônjuge
possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os
sub-rogados em seu lugar”).

A alternativa D está incorreta, pelas mesmas razões declinadas na alternativa anterior, especialmente
em relação ao art. 1.659, inc. I.

A alternativa E está incorreta, mais uma vez, pela conjugação dos artigos legais supramencionados.

II. Os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior

Se ganho R$10 milhões na loteria, metade é de cada um. Nesse caso, o fato eventual ocorreu sem concurso
de trabalho ou despesa anterior. A mesma regra vale se eu, ao escrever um livro, sou premiado em R$50 mil.
O valor integra meação, ainda que derivado exclusivamente do meu esforço pessoal, fruto do meu trabalho
e com despesas.

III. Os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges

Essa regra complementa a rega do art. 1.659, inc. I. Lá, se a doação, herança ou legado feita pelo meu sogro
foi recebida pela minha esposa, é dela, exclusivamente. Agora, se meu sogro amado doa ou lega um bem
“para o meu querido genro e minha amada filha”, o bem é comum.

IV. As benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge

Essa regra complementa a rega do art. 1.659, inc. II. Lá, o apartamento que eu tinha quando solteiro é
exclusivamente meu, é bem particular. Agora, se eu troco todo o piso e a fiação elétrica do apartamento,
benfeitorias voluptuária e útil, respectivamente, esses valores são comuns.

A razão é clara e segue a “lógica” do regime da comunhão parcial. Ora, de onde saiu o dinheiro daquele
apartamento? Exclusivamente do meu bolso. E de onde saiu o dinheiro dessas benfeitorias? Exclusivamente
do meu bolso? Claro que não, mas dos aquestos matrimoniais. Raciocínio inverso levaria ao enriquecimento

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do cônjuge ou companheiro que já entra no casamento com muitos bens e o empobrecimento daquele que
entra “de mãos abanando”. Minha esposa bancaria benfeitorias consideradas apenas minhas, ao fim e ao
cabo, de maneira absurda.

Veja que é irrelevante o tipo de benfeitoria. Integram a meação, por serem bens comuns, benfeitorias
necessárias, úteis e voluptuárias. Apesar do silêncio, as acessões devem ser equiparadas às benfeitorias,
já que o legislador reiteradamente delas se esqueceu na redação de inúmeras passagens do CC/2002 (um
dos maiores erros deste Código é precisamente esse “cochilo”).

V. Os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do
casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão

Aqui o mais importante é precisar o momento em que nasceram os frutos. Se os frutos se


originam em momento anterior à união, são bens particulares, se se originam durante a
constância, são bens comuns, se se originam depois da dissolução, são bens particulares. Grave
isso!

Com essa regra em mente, é fácil lembrar das mil sub-regras e dúvidas que surgem. E se o fruto
não foi colhido no momento, sendo colhido posteriormente? “Momento em que nasceram os frutos”. Não
importa, comunica. E se o fruto foi... “momento em que nasceram os frutos”. Veja.

Eu tinha valores do FGTS depositados, antes de casar. Casei. Eu e minha esposa compramos uma casa. Uso
esses valores para pagar o apartamento. “Momento em que nasceram os frutos”. Segundo o STJ, não há
direito à meação desses valores (REsp 1.399.199).

Eu trabalhava para uma sociedade empresarial. Fui demitido e manejei uma ação trabalhista. Me separei e
minha ex-esposa pleiteia a meação desses valores a receber na ação, mesmo que eu só vença a lide depois
da dissolução. “Momento em que nasceram os frutos”. Segundo o STJ, esses valores integram a meação
(REsp 646.529).

Eu tenho um imóvel particular e deposito os valores dos aluguéis na conta-conjunta. O inquilino para de
pagar os aluguéis e eu manejo uma ação de despejo cumulada com cobrança dos atrasados. Só venço a ação
depois da dissolução da união. Minha ex-companheira tem direito à meação desses valores? “Momento em
que nasceram os frutos”. Veja que se você usar essa “lógica”, as soluções serão sempre idênticas, ainda
que pareçam nada ter a ver umas com as outras.

Como a aplicação dessas regras pode ser um tanto difícil na prática, o CC/2002, de maneira sábia,
estabeleceu duas presunções. Ambas são presunções relativas (juris tantum), admitindo prova em
contrário.

No caso de bens imóveis, para se demonstrar que eles formam o patrimônio individual, deve
o cônjuge expressamente salientar na aquisição do bem que o valor da aquisição é oriundo da

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venda do outro bem, anterior à união. Deve ele, ainda, provar que de fato o dinheiro veio da venda do bem
anterior, mesmo que tenha consignado no título.

Vale lembrar que, de acordo com o Enunciado 340 da IV Jornada de Direito Civil, no regime da comunhão
parcial de bens é sempre indispensável a autorização do cônjuge, ou seu suprimento judicial, para atos de
disposição sobre bens imóveis. É irrelevante, portanto, se o bem está registrado no nome de apenas um ou
de ambos os cônjuges.

Já no caso de bens móveis, o art. 1.662 estabelece que se presumem adquiridos eles na constância do
casamento, quando não se provar que o foram em data anterior. Como, para bens móveis, a prova de que
o bem subsequente se sub-rogou no lugar do antecedente é extremamente difícil, muito provavelmente se
entenderá que eles são todos oriundos dentro da constância da união.

Situação que facilita essa prova está prevista no art. 1.661, que prevê não se comunicarem os bens cuja
aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento. Assim, por exemplo, se eu movo uma ação
judicial contra o meu ex-empregador, me caso, há sentença de procedência e eu me divorcio, o valor que
recebi não entra na divisão do patrimônio comum, porque as verbas trabalhistas têm “causa” anterior ao
matrimônio.

Simplificando a regra, o patrimônio comum será formado pelos bens adquiridos a título
oneroso, na constância do casamento. Mas atente às exceções e detalhes.

Como os bens, até prova em contrário, são comuns, em geral, a administração do patrimônio
comum compete a qualquer dos cônjuges (art. 1.663). Por isso, as dívidas contraídas obrigam
os bens comuns e particulares do cônjuge que os administra, e os do outro na razão do
proveito que houver auferido (§1º). No entanto, se o cônjuge que administra os bens comuns os malversar
(dilapidar, administrar mal), o juiz poderá atribuir a administração a apenas um dos cônjuges (§3º).

Como os bens são comuns, exige-se a anuência de ambos os cônjuges para os atos, a título gratuito, que
impliquem cessão do uso ou gozo dos bens comuns (§2º). É o caso do comodato, por exemplo.

De outro lado, os bens da comunhão respondem pelas obrigações contraídas pelos cônjuges para atender
aos encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de imposição legal (art. 1.664).
Assim, nossos bens comuns respondem pelas dívidas comuns, como contribuição condominial, energia
elétrica etc.

Ao contrário, a administração e a disposição dos bens constitutivos do patrimônio particular competem ao


cônjuge proprietário, salvo convenção diversa em pacto antenupcial (art. 1.665). Por isso, as dívidas
contraídas por quaisquer dos cônjuges na administração de seus bens particulares e em benefício destes não
obrigam os bens comuns (art. 1.666).

Por fim, o regime da comunhão parcial de bens é por força do art. 1.725 o regime aplicável às uniões
estáveis, salvo prévio pacto escrito. Assim, todas as regras supramencionadas funcionam exatamente do
mesmo modo da união estável, com a peculiaridade de se ter que fixar a data de início da união, se não
houver contrato escrito.

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(FCC / PGM-São Luís (MA) – 2016) Paulo e Ana moram juntos há 10 anos, em convivência estável e
como se fossem casados. Ademais, Paulo é separado de fato de Camila, tendo nascido desta união
Mauro. Paulo e Ana, durante a profícua união, de comum adquiriram um apartamento no valor de
R$ 500.000,00, uma moto no valor de R$ 100.000,00. Destaque-se que ambos contribuíram
financeiramente para a aquisição dos bens, unidos seus esforços e patrimônio para tanto, todavia
decidiram romper o convívio afetivo por incompatibilidades. Em relação à situação fática exposta, é
correto afirmar:

A) Paulo e Ana viveram em união estável, aplicando-se às relações patrimoniais, em regra, o regime de
comunhão parcial de bens, devendo isso ser levado em conta para o rompimento e a partilha dos bens.

B) Percebendo que Paulo era separado de fato de Camila, a relação desenvolvida com Ana realmente
se dava como concubinato e não, de outro lado, como união estável.

C) Na união estável, aplica-se, às relações patrimoniais, sempre o regime da comunhão parcial de bens.

D) Ressalvando-se contrato escrito entre os companheiros, na união estável, aplica-se às relações


patrimoniais, o regime da separação de bens.

E) Já que Paulo era separado de fato de Camila, não se impediria a existência de união estável com
Ana, todavia, os bens não serão divididos entre ambos porque na dissolução de união estável não cabe
partilha de bens.

Comentários

A alternativa A está correta, na forma do art. 1.725: “Na união estável, salvo contrato escrito entre os
companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de
bens”.

A alternativa B está incorreta, dado que, segundo a jurisprudência, a distinção entre a união estável e
o concubinato reside exatamente na possibilidade de, na primeira situação, poder haver conversão em
casamento, ao passo que no segundo, não. Como Paulo estava separado de fato de Ana, não havia
impedimento para que ele se unisse a Ana (em sentido mais amplo, claro).

A alternativa C está incorreta, segundo o art. 1.725 supramencionado na alternativa A.

A alternativa D está incorreta, conforme o art. 1.725 supramencionado na alternativa A.

A alternativa E está incorreta, na dicção do art. 1.725 supramencionado na alternativa A.

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2.3.2. Comunhão universal ou total

Ao contrário da comunhão parcial de bens, na comunhão universal existe apenas o


patrimônio comum do casal. Exclui-se todo o patrimônio individual, mesmo sobre os bens
anteriores à união, bens passados, presentes e futuros e suas dívidas, na forma do art. 1.667.
Na comunhão universal de bens, portanto, só existe o “nosso”, não mais nem o “seu”, nem o
“meu”.

A comunhão de bens é plena, mas não absoluta, porque o art. 1.668 traz exceções. Atente, porém, porque
a incomunicabilidade dos bens enumerados abaixo não se estende aos frutos, quando se percebam ou
vençam durante o casamento, não deixa margem de dúvida o art. 1.669. O que é, excepcionalmente,
excluído da comunhão?

I. Os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu


lugar

Diferentemente da comunhão parcial de bens, as doações, heranças e legados constituem bens comuns. Só
serão excluídos da comunhão se estiverem clausulados de incomunicabilidade, na forma estabelecida pelo
art. 1.848, ou seja, em havendo justa causa.

II. Os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a


condição suspensiva

Trata-se de hipótese de substituição fideicomissária, que é feita por disposição testamentária. Não há
comunicabilidade porque a propriedade é resolúvel, sendo que o proprietário tem, faticamente, apenas o
usufruto do bem, até que a propriedade se resolva em favor de terceiro, nu-proprietário.

III. As dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou
reverterem em proveito comum

A regra é lógica. Minha dívida de cartão de crédito, anterior ao casamento, não se comunica. No entanto, se
essa dívida se origina da aquisição do apartamento no qual eu e minha esposa vamos morar, de móveis para
esse imóvel, das passagens aéreas da nossa lua-de-mel, ou mesmo das despesas do buffet da festa,
comunicam-se as dívidas.

IV. As doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de
incomunicabilidade

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As doações antenupciais (propter nuptias ou propter nuptie) constituem o exemplo de como o direito civil é
um misto de direto antiquíssimo e novíssimo, ao mesmo tempo. Configuravam um contrato típico regido
pela Lei dos Esponsais, de 1784, lei essa que não foi revogada pela Lei do Casamento Civil, de 1890.

Repetida pelo CC/1916 e repetida pelo CC/2002, o chamado contrato esponsalício continua vigente há
quase 250 anos. Em verdade, boa parte dos 125 artigos do Decreto 181/1890 tem redação idêntica aos
artigos do CC/2002, à exceção das alterações linguísticas.

V. Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659

Quais são esses bens? Os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão, os proventos do trabalho
pessoal de cada cônjuge e as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. Ou seja,
exatamente os mesmos bens previstos para a comunhão parcial de bens.

Além disso, quanto à administração dos bens, aplicam-se as regras da comunhão parcial de bens, por força
do art. 1.670. Com a partilha, o art. 1.671 estabelece que cessa a responsabilidade de cada um dos cônjuges
para com os credores do outro. Se a dívida se origina do período da comunhão, porém, claro que haverá
responsabilidade do consorte.

2.3.3. Separação obrigatória ou legal

A primeira exceção ao regime geral é a separação de bens, que pode ser voluntária ou
obrigatória. Nos regimes de separação de bens, legal ou convencional, os bens do casal são
todos individuais, em realidade. Cada cônjuge tem patrimônio autônomo, que não se
comunica com o patrimônio do outro.

O regime da separação legal de bens está previsto no art. 1.641. Se é um regime obrigatório,
cabe em hipóteses restritas, pelo que não se pode fazer interpretação de seus dispositivos. Exige-se a adoção
obrigatória do regime da separação de bens:

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I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração
do casamento

• O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos
bens do casal e der partilha aos herdeiros
• A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez
meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal
• O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do
casal
• O tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou
sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou
curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas

II - da pessoa maior de 70 anos

III - dos que dependerem para casar de suprimento judicial

O Enunciado 125 do CJF propõe revogar o inc. II do art. 1.641. Isso porque a norma mantém um preconceito
quanto às pessoas idosas que, somente pelo fato de ultrapassarem determinado patamar etário, passam a
gozar da presunção absoluta de incapacidade para alguns atos, como contrair matrimônio pelo regime de
bens que melhor consultar seus interesses.

E se a união estável se iniciou antes de a pessoa completar 70 anos? Nesse caso, o Enunciado 261 da III
Jornada de Direito Civil afirma que a obrigatoriedade do regime da separação de bens não se aplica a pessoa
maior de 70 anos, quando o casamento for precedido de união estável iniciada antes dessa idade.

O casamento sob esse regime de bens veda a mudança para outro, como prevê o art. 1.639,
§2º, por incompatibilidade. Assim, o princípio da mutabilidade de regimes é afastado no caso
do regime legal ou obrigatório de bens, de modo a evitar que os cônjuges violassem a norma
cogente.

Eu disse, anteriormente, que não existe patrimônio comum, sendo que os bens são todos
individuais de cada cônjuge. Imagine o seguinte caso, porém. Uma mulher se casa com um homem que tem
mais de 70 anos, pelo que se adota o regime da separação forçosa. Ela, porém, com grande tino empresarial,
funda uma sociedade empresarial e amealha substancial patrimônio. Parte desse patrimônio fica registrado
no nome do marido, dado que ele é um conhecido corretor.

Com esses imóveis em mãos, o marido faz diversas transações imobiliárias, gerando lucro. Com esse lucro,
ele compra outros imóveis e assim por diante. Nesse exemplo, em caso de divórcio ou de morte, é adequado
aplicar pura e simplesmente o regime da separação de bens, deixando a esposa sem parte do patrimônio
que, em realidade, ela construiu?

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Segundo exemplo. Uma mulher se casa com um homem que tem mais de 70 anos, pelo que se adota o
regime da separação forçosa. Ele é um empresário de sucesso e ela resolve permanecer com os afazeres do
lar e dos filhos. Eles têm dois filhos. Nesses 20 anos, ele amealha ainda mais patrimônio. Vinte anos depois,
ele morre.

Pelo regime de bens adotado, ela não tem direito nem à meação nem à sucessão. Parece adequado que sua
esposa fique sem um tostão? Mesmo tendo contribuído significativamente para o enriquecimento do casal,
ainda que não de maneira direta, economicamente aferível?

Por isso, a Súmula 377 do STF estabelece que no regime da separação legal de bens comunicam-se os
adquiridos na constância do casamento. Ou seja, a despeito da frieza da norma, será feita a divisão dos
aquestos, porque seria injusto com o ex-cônjuge deixá-lo sem seu quinhão, de modo a gerar enriquecimento
injustificado do consorte.

Adiante. Determina a Súmula 377 que no regime da separação legal comunicam-se os bens adquiridos na
constância do casamento. Pelo seu teor, ela acaba equiparando, praticamente, o regime da comunhão
parcial de bens e o regime da separação legal de bens.

Há debate doutrinário, uma corrente afirmando que a Súmula foi cancelada pelo CC/2002, e outra afirmando
que ela se mantém. O STJ continua aplicando seu teor em numerosos casos, recorrentemente. Mas há uma
segunda discussão, a respeito da necessidade de prova de esforço comum.

Novamente há debate doutrinário. O entendimento firmando no STJ (REsp 1.171.820) era de


que não seria necessário ao cônjuge comprovar o esforço comum na obtenção do bem. Ou seja,
comprovada a aquisição onerosa e que essa aquisição se deu durante a união, deveria o bem
ser partilhado entre os cônjuges. No entanto, em 2018, o STJ (EREsp 1.623.858), julgou ser
necessário a prova do esforço comum, trazendo a seguinte releitura da Súmula 377 do STF:
“No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do
casamento”.

O STJ, em larga medida, literalmente reescreveu a Súmula 377 do STJ, pasme. Aplica-se o mesmo raciocínio
à união estável? A doutrina diverge.

De acordo com o Enunciado 115 da I Jornada de Direito Civil, a mesma regra se aplicaria à união estável. Por
isso, haveria presunção de comunhão de aquestos na constância da união mantida entre os companheiros,
sendo desnecessária a prova do esforço comum para se verificar a comunhão dos bens.

O STJ tem entendido que na união estável é necessário fazer prova do esforço comum na aquisição (EREsp
1.171.820), para divisão do bem, na esteira da Súmula 380 do STF. Igualmente, no concubinato, quando
da divisão de bens da sociedade de fato, exige-se também a prova do esforço comum para que seja a
Súmula 377 do STF aplicada, em cumulação com a Súmula 380 (REsp 1.628.701).

O art. 1.687 estabelece que, estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração
exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar. Pode um cônjuge, assim
alienar ou hipotecar a casa registrada em seu nome, sem necessitar da vênia conjugal.

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Já o art. 1.688 prevê que ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal na
proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens. Permite-se, porém, estipulação em contrário
no pacto antenupcial. Evidente, se a proporção prevista for excessivamente onerosa e injusta em face de
um dos cônjuges, pode ser reputada nula, na regra do art. 1.655.

(FCC / TJ-CE – 2015) Analise as assertivas a seguir:

I. O pacto antenupcial não terá efeito perante terceiros senão depois de registrado em livro especial
pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.

II. É inalterável o regime de bens do casamento, ainda que mediante autorização judicial.

III. No regime da comunhão universal de bens só não se comunicam aqueles herdados ou recebidos
por doação com cláusula de incomunicabilidade.

IV. No regime da comunhão parcial de bens não se comunicam as obrigações provenientes de atos
ilícitos, salvo reversão em proveito do casal.

V. No regime de separação de bens, ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do
casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no
pacto antenupcial.

Sobre o regime de bens do casamento, é correto o que se afirma APENAS em

A) III, IV e V.

B) I, III e V.

C) I, IV e V.

D) I, II e III.

E) II, III e IV.

Comentários

O item I está correto, na literalidade do art. 1.657: “As convenções antenupciais não terão efeito
perante terceiros senão depois de registradas, em livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do
domicílio dos cônjuges”.

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O item II está incorreto, conforme o art. 1.639, §2º: “É admissível alteração do regime de bens,
mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das
razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros”.

O item III está incorreto, já que a lista do art. 1.668 é bem mais longa. Veja: “São excluídos da
comunhão:

I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar;

II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a


condição suspensiva;

III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou
reverterem em proveito comum;

IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade;

V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659”.

O item IV está correto, de acordo com o art. 1.659, inc. IV: “Excluem-se da comunhão as obrigações
provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal”.

O item V está correto, consoante a regra do art. 1.688: “Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir
para as despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo
estipulação em contrário no pacto antenupcial”.

A alternativa C está correta, portanto.

Por fim, por aplicação do art. 1.647, o cônjuge pode, mesmo sem autorização do outro:

I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;

III - prestar fiança ou aval;

IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura
meação.

2.3.4. Separação voluntária ou convencional

Já a separação voluntária funciona do mesmo modo que a separação obrigatória, à exceção


de não se obriga ninguém a adotá-lo e poder haver mudança posterior de regime para outro.
Esse regime funciona como completa divisão patrimonial.

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Por isso, estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos
cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar (art. 1.687). Ambos os cônjuges são obrigados a
contribuir para as despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens. Permite-
se, porém, estipulação em contrário no pacto antenupcial.

Além disso, o cônjuge pode, mesmo sem autorização do outro, alienar ou gravar de ônus real os bens
imóveis; pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; prestar fiança ou aval; e fazer doação,
não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação. Novamente, é a
regra do art. 1.647.

A distinção maior entre o regime da separação convencional de bens e o regime da separação


legal de bens é a Súmula 377 do STF. Aponta a doutrina praticamente unânime que a Súmula
tem aplicação apenas no regime da separação legal de bens (regime de separação impura de
bens, portanto). No regime da separação voluntária de bens, inversamente, não se aplicaria
a Súmula, de modo que haveria vera e própria separação de bens (regime da separação pura
de bens).

Outra diferença entre os regimes está prevista no parágrafo único do art. 496. Prevê o caput que é anulável
a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante
expressamente houverem consentido.

O cônjuge não precisa consentir, porém, se o regime de bens for o da separação obrigatória. Assim, se tenho
apenas um filho e vou vender a ele uma casa, preciso da vênia conjugal, em regra. Se casei no regime da
separação legal de bens, a vênia é dispensada. Interpretando-se a regra em contrário, se sou casado no
regime da separação convencional de bens, necessária a outorga conjugal, sob pena de anulação do
negócio jurídico.

De maneira controvertida, o Enunciado 634 da VIII Jornada de Direito Civil prevê que é lícito aos que se
enquadrem no rol de pessoas sujeitas ao regime da separação obrigatória de bens (do art. 1.641) estipular,
por pacto antenupcial ou contrato de convivência, o regime da separação de bens. Com isso, o casal
asseguraria os efeitos de tal regime e afastaria a incidência da Súmula 377 do STF.

2.3.5. Participação final nos aquestos

Esse regime é pouco usual, por sua complexidade e baixa aderência social, chegando muitos, como Venosa,
a sugerir sua extinção. Por isso, eis aqui outro unicórnio do Direito de Família; o regime da participação final
nos aquestos é de baixíssima adesão em qualquer coisa.

Não bastasse isso, o regime ainda usa o termo aquestos, em franco desuso, em detrimento de sinônimos
mais contemporâneos. Aquestos nada mais são do bens que os bens adquiridos pelo casal a partir do
matrimônio, ou seja, aquilo que se acumulou na constância da união.

Pensado para casais de empresários de vasto patrimônio, mostrou-se absolutamente inútil. Eu compactuo
da perplexidade de Eduardo de Oliveira Leite ao tratar do assunto. É um regime oriundo dos países nórdicos,
exportado para a Alemanha, reexportado para a França e implantado no Brasil, um país com características

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muito semelhante (extensão, tradição jurídica, população e, principalmente, status econômico), claro, aos
citados. Em resumo, um regime de bens de países desenvolvidos enxertado num país em desenvolvimento.

Em resumo, um desastre. Uma mostra de que a afirmação de Miguel Reale de que o CC/2002 somente incluía
aquilo que estava consolidado na realidade social e jurídica é um tanto forçada. Quando quis, o “pai” do
CC/2002 inseriu normas tão vanguardistas que sequer se aplicam.

O regime da participação final nos aquestos é um regime híbrido: ele funciona como o
regime da separação de bens enquanto dura a convivência e funciona como o regime
da comunhão parcial, quando da dissolução da convivência.

Sua noção geral está estampada no art. 1.672, estabelecendo que cada cônjuge possui
patrimônio próprio e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à
metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento.

Assim, integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele
adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento (art. 1.673) e, por isso, a
administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, que os poderá livremente alienar, se
forem móveis, na forma do parágrafo único desse artigo. No entanto, no pacto antenupcial
podem os nubentes convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares
(art. 1.656).

O legislador tratou desse regime de bens de maneira absolutamente patrimonial. Prova disso é o art. 1.678,
que estabeleceu que se um dos cônjuges solveu uma dívida do outro com bens do seu patrimônio, o valor
do pagamento deve ser atualizado e imputado, na data da dissolução, à meação do outro cônjuge.

Em que pese essa estrita divisão entre os patrimônios dos cônjuges, que, em tese, só se comunicam na
dissolução, o art. 1.675 estabelece que se computam o valor das doações feitas por um dos cônjuges, sem
a necessária autorização do outro, ao longo da união. E mais, nesse caso, o bem poderá ser reivindicado
pelo cônjuge prejudicado ou por seus herdeiros, ou declarado no monte partilhável, por valor equivalente
ao da época da dissolução. Por outro lado, pelas dívidas posteriores ao casamento, contraídas por um dos
cônjuges, somente este responderá, em regra, salvo prova de terem revertido, parcial ou totalmente, em
benefício do outro.

Mas, em que momento se fará essa comunicação de patrimônios para a partilha? Segundo o
art. 1.683, na dissolução do regime de bens por separação judicial ou por divórcio, verificar-
se-á o montante dos aquestos à data em que cessou a convivência. Ou seja, não se considera
a data da separação ou do divórcio, mas a data em que cessou a convivência, devendo-se
analisar o fato que dá suporte à aplicação desse artigo.

Na dicção do art. 1.674, quando se dissolver a sociedade conjugal, devem ser apurados os aquestos,
excluindo-se da soma dos patrimônios próprios:

I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram;

II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade;

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III - as dívidas relativas a esses bens.

Incorpora-se ao monte o valor dos bens alienados em detrimento da meação, se não houver preferência do
cônjuge lesado, ou de seus herdeiros, de os reivindicar. No caso de bens adquiridos pelo trabalho conjunto,
cada cônjuge tem uma quota igual no condomínio ou no crédito por aquele modo estabelecido.

Como ocorria no regime da comunhão parcial de bens, salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos
durante o casamento os bens móveis. No entanto, perante terceiros, presumem-se os móveis do domínio
do cônjuge devedor, salvo se o bem for de uso pessoal do outro.

Já bens imóveis são de propriedade do cônjuge cujo nome constar no registro, conforme o art. 1.681, mas
deve ele prová-lo, se impugnada a titularidade. A regra é absurda, constituindo prova diabólica, já que deve
provar não aquele que impugna a titularidade, mas o titular registral.

Consoante a regra do art. 1.684, se não for possível nem conveniente a divisão de todos os bens
em natureza, deve ser calculado o valor de alguns ou de todos para reposição em dinheiro ao
cônjuge não proprietário. Não se podendo realizar a reposição em dinheiro, serão avaliados e,
mediante autorização judicial, alienados tantos bens quantos bastarem.

O art. 1.682 esclarece que o direito à meação (rectius, participação) não é renunciável, cessível
ou penhorável na vigência do regime matrimonial, o que demonstra o caráter altamente patrimonial desse
regime.

No caso de dissolução da sociedade conjugal por morte, verifica-se a meação do cônjuge


sobrevivente do mesmo modo como mencionado. A herança, então, é calculada conforme as
regras sucessórias. De todo modo, afastando qualquer dúvida, o art. 1.686 evidencia que as
dívidas de um dos cônjuges, quando superiores à sua meação, não obrigam ao outro, ou a
seus herdeiros.

Para arrematar, um regime desastroso, com regras desastrosas (imagine pedir recibo para o cônjuge?), inútil,
que demanda revogação urgente.

JURISPRUDÊNCIA CORRELATA
Direito Conjugal Pessoal

Estabelece o art. 14, §7º, da CF/1988 que são inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de
Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro
dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. Mesmo
que haja dissolução da sociedade conjugal durante o período, a vedação continua em vigor:

STF – Súmula Vinculante 18

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A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a


inelegibilidade prevista no §7º do artigo 14 da Constituição Federal.

De modo a evitar que os divorciantes fiquem obrigados a manter o vínculo matrimonial por pendências
patrimoniais, o STJ firmou o entendimento de que pode ser concedido o divórcio sem que a partilha dos bens
tenha sido ultimada. Pode-se fazer a partilha posteriormente, portanto. Esse entendimento jurisprudencial
foi posteriormente transformado em regra no CC/2002:

STJ – Súmula 197


O divórcio direto pode ser concedido sem que haja prévia partilha dos bens.

A jurisprudência do STJ fixou o entendimento de que a distinção entre a união estável e o concubinato
repousa na impossibilidade de este convolar-se em matrimônio, pela presença de algum impedimento
matrimonial. Assim, a pessoa casada pode constituir concubinato apenas, mas não união estável paralela ao
casamento.

Essa análise, porém, é feita faticamente, pois se alguém está casado, mas separado faticamente, é de se falar
em união estável, não de concubinato:

DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL.


CASAMENTO E CONCUBINATO SIMULTÂNEOS. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1. A união estável
pressupõe a ausência de impedimentos para o casamento, ou, pelo menos, que esteja o
companheiroa) separado de fato, enquanto que a figura do concubinato repousa sobre pessoas
impedidas de casar. 2. Se os elementos probatórios atestam a simultaneidade das relações
conjugal e de concubinato, impõe-se a prevalência dos interesses da mulher casada, cujo
matrimônio não foi dissolvido, aos alegados direitos subjetivos pretendidos pela concubina, pois
não há, sob o prisma do Direito de Família, prerrogativa desta à partilha dos bens deixados pelo
concubino. 3. Não há, portanto, como ser conferido status de união estável a relação
concubinária concomitante a casamento válido (REsp 931.155/RS, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/08/2007, DJ 20/08/2007, p. 281).

O STF, no mesmo sentido, distingue com clareza o concubinato – no qual existe impedimento matrimonial
– da união estável – inexistência de impedimento à sua convolação em matrimônio. Por conta disso, a
concubina não teria direito ao rateio de pensão do falecido, em concorrência com a esposa. Isso porque
há a percepção de que inexiste dever de prestar alimentos entre concubinos, mas apenas entre cônjuges e
companheiros:

COMPANHEIRA E CONCUBINA - DISTINÇÃO. Sendo o Direito uma verdadeira ciência, impossível


é confundir institutos, expressões e vocábulos, sob pena de prevalecer a babel. UNIÃO ESTÁVEL
- PROTEÇÃO DO ESTADO. A proteção do Estado à união estável alcança apenas as situações
legítimas e nestas não está incluído o concubinato. PENSÃO - SERVIDOR PÚBLICO - MULHER -
CONCUBINA - DIREITO. A titularidade da pensão decorrente do falecimento de servidor público
pressupõe vínculo agasalhado pelo ordenamento jurídico, mostrando-se impróprio o

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implemento de divisão a beneficiar, em detrimento da família, a concubina (RE 590779, Relator:


Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 10/02/2009, DJe-059 DIVULG 26-03-2009
PUBLIC 27-03-2009 EMENT VOL-02354-05 PP-01058 RTJ VOL-00210-02 PP-00934 RB v. 21, n. 546,
2009, p. 21-23 LEXSTF v. 31, n. 363, 2009, p. 292-301 RJTJRS v. 46, n. 279, 2011, p. 33-38 RMP n.
42, 2011, p. 213-219).

O STJ, no entanto, em situações excepcionalíssimas, reconhece o direito da concubina a perceber alimentos


do concubino, mesmo que casado, sem ser faticamente separado:

RECURSO ESPECIAL. CONCUBINATO DE LONGA DURAÇÃO. CONDENAÇÃO A ALIMENTOS.


NEGATIVA DE VIGÊNCIA DE LEI FEDERAL. CASO PECULIARÍSSIMO. PRESERVAÇÃO DA FAMÍLIA X
DIGNIDADE E SOLIDARIEDADE HUMANAS. SUSTENTO DA ALIMENTANDA PELO ALIMENTANTE
POR QUATRO DÉCADAS. DECISÃO. MANUTENÇÃO DE SITUAÇÃO FÁTICA PREEXISTENTE.
INEXISTÊNCIA DE RISCO PARA A FAMÍLIA EM RAZÃO DO DECURSO DO TEMPO. COMPROVADO
RISCO DE DEIXAR DESASSISTIDA PESSOA IDOSA. INCIDÊNCIA DOS PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE E
SOLIDARIEDADE HUMANAS. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. INEXISTÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICO-
JURÍDICA. 1. De regra, o reconhecimento da existência e dissolução de concubinato impuro, ainda
que de longa duração, não gera o dever de prestar alimentos a concubina, pois a família é um
bem a ser preservado a qualquer custo. 2. Nada obstante, dada a peculiaridade do caso e em
face da incidência dos princípios da dignidade e solidariedade humanas, há de se manter a
obrigação de prestação de alimentos a concubina idosa que os recebeu por mais de quatro
décadas, sob pena de causar-lhe desamparo, mormente quando o longo decurso do tempo
afasta qualquer riso de desestruturação familiar para o prestador de alimentos. 3. O acórdão
recorrido, com base na existência de circunstâncias peculiaríssimas - ser a alimentanda
septuagenária e ter, na sua juventude, desistido de sua atividade profissional para dedicar-se ao
alimentante; haver prova inconteste da dependência econômica; ter o alimentante, ao longo dos
quarenta anos em que perdurou o relacionamento amoroso, provido espontaneamente o
sustento da alimentanda -, determinou que o recorrente voltasse a prover o sustento da
recorrida. Ao assim decidir, amparou-se em interpretação que evitou solução absurda e
manifestamente injusta do caso submetido à deliberação jurisprudencial (REsp 1185337/RS, Rel.
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/03/2015, DJe
31/03/2015).

A jurisprudência antiga, que não distinguia concubinato de união estável, previa que poderia haver
consequências patrimoniais advindas de uma união concubinária estável, a título de “indenização por
serviços domésticos prestados pela concubina”. Com a percepção de que a união estável era equiparada,
ainda que com diferenças, ao casamento, para fins patrimoniais, esse entendimento caiu em desuso,
especialmente com a entrada em vigor do CC/2002, que colocou uma pá de cal no assunto.

No entanto, as recentes decisões do STJ que impedem a eficácia patrimonial de uma relação concubinária,
no caso de pessoas casadas com uniões paralelas, o debate voltou à tona. Muitos voltaram a defender a
aplicação daquele entendimento antigo, que permite à concubina ser indenizada pela união fática, ainda
que concubinária, pelos serviços domésticos prestados ao concubino casado:

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CONCUBINATO. SERVIÇOS DOMÉSTICOS. INDENIZAÇÃO. I- SÃO INDENIZÁVEIS OS SERVIÇOS


DOMÉSTICOS PRESTADOS PELA CONCUBINA A SEU COMPANHEIRO (REsp 5.099/RS, Rel. Ministro
FONTES DE ALENCAR, QUARTA TURMA, julgado em 23/10/1990, DJ 29/04/1991, p. 5273).

Julgado peculiaríssimo do STJ, o REsp 1.330.023, numa cajadada só, matou não dois, mas três coelhos, acerca
de situações absolutamente incomuns no Direito: casamento nuncupativo, casamento avuncular e
aquiescência matrimonial meramente gestual.

Quanto ao casamento nuncupativo, a literalidade do art. 1.541, inc. I, dá a entender que para que o
casamento nuncupativo seja válido, as seis testemunhas tenham sido convocadas pelo moribundo. No
entanto, a Corte entendeu que irrelevante o fato de as testemunhas terem sido convocadas pelo cônjuge
supérstite.

Em relação ao casamento avuncular, em tese proibido pelo art. 1.521, inc. IV, a Corte não afastou a aplicação
do Decreto-Lei 3.200/1941, que o permite em determinadas situações, quando não houver prejuízo à
eventual prole; permitiu-se, assim, o matrimônio entre tio e sobrinha. No caso de casamento nuncupativo,
evidente que o reclamo legal e vedação ao matrimônio não se aplica, já que, obviamente, prole não haverá
em tão curto prazo.

Por fim, quanto à aquiescência matrimonial, entendeu o STJ, de maneira lógica, que desnecessário é o
assentimento verbal, dado que inequívoca a vontade dos então nubentes (vide surdos-mudos,
analogicamente):

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CASAMENTO NUNCUPATIVO. VALIDADE.


COMPROVAÇÃO DE VÍCIO QUANTO A MANIFESTAÇÃO DA VONTADE INEQUÍVOCA DO
MORIBUNDO EM CONVOLAR NÚPCIAS. COMPROVAÇÃO. 2. Recurso especial que discute a
validade de casamento nuncupativo realizado entre tio e sobrinha com o falecimento daquele,
horas após o enlace. 3. A inquestionável manifestação da vontade do nubente enfermo, no
momento do casamento, fato corroborado pelas 6 testemunhas exigidas por lei, ainda que não
realizada de viva voz, supre a exigência legal quanto ao ponto. 4. A discussão relativa à a nulidade
preconizada pelo art. 1.548 do CC-02, que se reporta aos impedimentos, na espécie, consignados
no art. 1.521, IV, do CC-02 (casamento entre colaterais, até o terceiro grau, inclusive) fenece por
falta de escopo, tendo em vista que o quase imediato óbito de um dos nubentes não permitiu o
concúbito pós-casamento, não havendo que se falar, por conseguinte, em riscos eugênicos,
realidade que, na espécie, afasta a impositividade da norma, porquanto lhe retira seu lastro
teleológico. 5. Não existem objetivos pré-constituídos para o casamento, que descumpridos,
imporiam sua nulidade, mormente naqueles realizados com evidente possibilidade de óbito de
um dos nubentes - casamento nuncupativo -, pois esses se afastam tanto do usual que,
salvaguardada as situações constantes dos arts. 166 e 167 do CC-02, que tratam das nulidades
do negócio jurídico, devem, independentemente do fim perseguido pelos nubentes, serem
ratificados judicialmente. 6. E no amplo espectro que se forma com essa assertiva, nada impede
que o casamento nuncupativo realizado tenha como motivação central, ou única, a consolidação
de meros efeitos sucessórios em favor de um dos nubentes - pois essa circunstância não macula
o ato com um dos vícios citados nos arts. 166 e 167 do CC-02: incapacidade; ilicitude do motivo

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e do objeto; malferimento da forma, fraude ou simulação (REsp 1330023/RN, Rel. Ministra


NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/11/2013, DJe 29/11/2013).

Eis um dos julgados curiosos analisados pelo STJ. A distinção entre pessoas e coisas é bem simples e imune
a críticas, em geral. Mas quando se coloca um semovente na conta, inserido no contexto do Direito de
Família, nem sempre a coisa é vista como coisa, se tornando quase uma pessoa.

E o próprio julgado já faz uma espécie de habeas corpus preventivo: “inicialmente, deve ser afastada
qualquer alegação de que a discussão envolvendo a entidade familiar e o seu animal de estimação é menor,
ou se trata de mera futilidade a ocupar o tempo desta Corte. Ao contrário, é cada vez mais recorrente no
mundo da pós-modernidade e envolve questão bastante delicada, examinada tanto pelo ângulo da
afetividade em relação ao animal”. Bem ou mal, o STJ decidiu julgar se cabe ou não “direito de visita” ao
animalzinho de estimação no caso de ruptura da sociedade conjugal.

Isso porque o regramento jurídico dos bens não se vem mostrando suficiente para resolver, de forma
satisfatória, a disputa familiar envolvendo os pets, visto que não se trata de simples discussão atinente à
posse e à propriedade. Na dissolução da entidade familiar em que haja algum conflito em relação ao animal
de estimação, independentemente da qualificação jurídica a ser adotada, a resolução deverá buscar atender,
sempre a depender do caso em concreto, aos fins sociais, atentando para a própria evolução da sociedade,
com a proteção do ser humano e do seu vínculo afetivo com o animal.

Por isso, adquirido animal de estimação na constância da união estável, e havendo relação de afeto entre
ele e seus donos, deve ser reconhecido o direito de visitas ao animal:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. ANIMAL DE ESTIMAÇÃO.


AQUISIÇÃO NA CONSTÂNCIA DO RELACIONAMENTO. INTENSO AFETO DOS COMPANHEIROS
PELO ANIMAL. DIREITO DE VISITAS. POSSIBILIDADE, A DEPENDER DO CASO CONCRETO (REsp
1713167/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 19/06/2018, DJe
09/10/2018).

Direito Conjugal Patrimonial

A Súmula 35 do STF menciona a concubina. No entanto, atualmente deve ser entendida a situação como
união estável, já que entre ambos inexiste impedimento matrimonial. Por isso, em caso de acidente, o
companheiro tem direito por indenização por morte do outro:

STF – Súmula 35
Em caso de acidente do trabalho ou de transporte, a concubina tem direito de ser indenizada
pela morte do amásio, se entre eles não havia impedimento para o matrimônio.

Em que pesem as fortes críticas à desfiguração do regime de separação de bens, o STF fixou o entendimento
de que mesmo nesse regime se comunicam os bens adquiridos na constância do casamento:

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STF – Súmula 377


No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.

Novamente, outra súmula que chama os conviventes de concubinos, pelo que deve ser ressignificada. Assim,
é possível realizar a dissolução de união estável com a partilha dos bens adquiridos pelo esforço comum
(que é presumido, até prova em contrário), durante a constância da união:

STF – Súmula 380


Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução
judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum.

O Código é expresso quanto ao dever matrimonial de coabitação, o que se estende para a união estável. No
entanto, o STF entende que a mera ausência de cumprimento desse dever não gera, por si só, a
descaracterização da união estável (mencionada como concubinato, à época da edição da Súmula). Ou seja,
mesmo que não coabitem os companheiros, é possível reconhecer a união estável:

STF – Súmula 382


A vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização do
concubinato.

Em homenagem ao pluralismo jurídico, o STF estabeleceu, na ADPF 132, que há igualdade entre as uniões
estáveis heteroafetivas e as uniões estáveis homoafetivas, já que a (não) diversidade de gêneros, por si só,
não tem o condão de obstar a aplicabilidade das normas jurídicas atinentes à espécie:

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). PERDA PARCIAL DE


OBJETO. RECEBIMENTO, NA PARTE REMANESCENTE, COMO AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. UNIÃO HOMOAFETIVA E SEU RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO
JURÍDICO. CONVERGÊNCIA DE OBJETOS ENTRE AÇÕES DE NATUREZA ABSTRATA. JULGAMENTO
CONJUNTO. Encampação dos fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela ADI nº 4.277-DF, com a
finalidade de conferir “interpretação conforme à Constituição” ao art. 1.723 do Código Civil.
Atendimento das condições da ação. 2. PROIBIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO DAS PESSOAS EM RAZÃO
DO SEXO, SEJA NO PLANO DA DICOTOMIA HOMEM/MULHER (GÊNERO), SEJA NO PLANO DA
ORIENTAÇÃO SEXUAL DE CADA QUAL DELES. A PROIBIÇÃO DO PRECONCEITO COMO CAPÍTULO
DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. HOMENAGEM AO PLURALISMO COMO VALOR SÓCIO-
POLÍTICO-CULTURAL. LIBERDADE PARA DISPOR DA PRÓPRIA SEXUALIDADE, INSERIDA NA
CATEGORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO INDIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA AUTONOMIA
DE VONTADE. DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA. CLÁUSULA PÉTREA. O sexo das pessoas,
salvo disposição constitucional expressa ou implícita em sentido contrário, não se presta como
fator de desigualação jurídica. Proibição de preconceito, à luz do inciso IV do art. 3º da
Constituição Federal, por colidir frontalmente com o objetivo constitucional de “promover o bem
de todos”. Silêncio normativo da Carta Magna a respeito do concreto uso do sexo dos indivíduos
como saque da kelseniana “norma geral negativa”, segundo a qual “o que não estiver
juridicamente proibido, ou obrigado, está juridicamente permitido”. Reconhecimento do direito

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à preferência sexual como direta emanação do princípio da “dignidade da pessoa humana”:


direito a auto-estima no mais elevado ponto da consciência do indivíduo. Direito à busca da
felicidade. Salto normativo da proibição do preconceito para a proclamação do direito à
liberdade sexual. O concreto uso da sexualidade faz parte da autonomia da vontade das pessoas
naturais. Empírico uso da sexualidade nos planos da intimidade e da privacidade
constitucionalmente tuteladas. Autonomia da vontade. Cláusula pétrea. 3. TRATAMENTO
CONSTITUCIONAL DA INSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA. RECONHECIMENTO DE QUE A CONSTITUIÇÃO
FEDERAL NÃO EMPRESTA AO SUBSTANTIVO “FAMÍLIA” NENHUM SIGNIFICADO ORTODOXO OU
DA PRÓPRIA TÉCNICA JURÍDICA. A FAMÍLIA COMO CATEGORIA SÓCIO-CULTURAL E PRINCÍPIO
ESPIRITUAL. DIREITO SUBJETIVO DE CONSTITUIR FAMÍLIA. INTERPRETAÇÃO NÃO-REDUCIONISTA.
O caput do art. 226 confere à família, base da sociedade, especial proteção do Estado. Ênfase
constitucional à instituição da família. Família em seu coloquial ou proverbial significado de
núcleo doméstico, pouco importando se formal ou informalmente constituída, ou se integrada
por casais heteroafetivos ou por pares homoafetivos. A Constituição de 1988, ao utilizar-se da
==163284==

expressão “família”, não limita sua formação a casais heteroafetivos nem a formalidade
cartorária, celebração civil ou liturgia religiosa. Família como instituição privada que,
voluntariamente constituída entre pessoas adultas, mantém com o Estado e a sociedade civil
uma necessária relação tricotômica. Núcleo familiar que é o principal lócus institucional de
concreção dos direitos fundamentais que a própria Constituição designa por “intimidade e vida
privada” (inciso X do art. 5º). Isonomia entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos que
somente ganha plenitude de sentido se desembocar no igual direito subjetivo à formação de uma
autonomizada família. Família como figura central ou continente, de que tudo o mais é conteúdo.
Imperiosidade da interpretação não-reducionista do conceito de família como instituição que
também se forma por vias distintas do casamento civil. Avanço da Constituição Federal de 1988
no plano dos costumes. Caminhada na direção do pluralismo como categoria sócio-político-
cultural. Competência do Supremo Tribunal Federal para manter, interpretativamente, o Texto
Magno na posse do seu fundamental atributo da coerência, o que passa pela eliminação de
preconceito quanto à orientação sexual das pessoas. 4. UNIÃO ESTÁVEL. NORMAÇÃO
CONSTITUCIONAL REFERIDA A HOMEM E MULHER, MAS APENAS PARA ESPECIAL PROTEÇÃO
DESTA ÚLTIMA. FOCADO PROPÓSITO CONSTITUCIONAL DE ESTABELECER RELAÇÕES JURÍDICAS
HORIZONTAIS OU SEM HIERARQUIA ENTRE AS DUAS TIPOLOGIAS DO GÊNERO HUMANO.
IDENTIDADE CONSTITUCIONAL DOS CONCEITOS DE “ENTIDADE FAMILIAR” E “FAMÍLIA”. A
referência constitucional à dualidade básica homem/mulher, no §3º do seu art. 226, deve-se ao
centrado intuito de não se perder a menor oportunidade para favorecer relações jurídicas
horizontais ou sem hierarquia no âmbito das sociedades domésticas. Reforço normativo a um
mais eficiente combate à renitência patriarcal dos costumes brasileiros. Impossibilidade de uso
da letra da Constituição para ressuscitar o art. 175 da Carta de 1967/1969. Não há como fazer
rolar a cabeça do art. 226 no patíbulo do seu parágrafo terceiro. Dispositivo que, ao utilizar da
terminologia “entidade familiar”, não pretendeu diferenciá-la da “família”. Inexistência de
hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e
autonomizado núcleo doméstico. Emprego do fraseado “entidade familiar” como sinônimo
perfeito de família. A Constituição não interdita a formação de família por pessoas do mesmo
sexo. Consagração do juízo de que não se proíbe nada a ninguém senão em face de um direito
ou de proteção de um legítimo interesse de outrem, ou de toda a sociedade, o que não se dá na
hipótese sub judice. Inexistência do direito dos indivíduos heteroafetivos à sua não-equiparação
jurídica com os indivíduos homoafetivos. Aplicabilidade do §2º do art. 5º da Constituição Federal,

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a evidenciar que outros direitos e garantias, não expressamente listados na Constituição,


emergem “do regime e dos princípios por ela adotados”, verbis: “Os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. 5.
DIVERGÊNCIAS LATERAIS QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO. Anotação de que os
Ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar Peluso convergiram no particular
entendimento da impossibilidade de ortodoxo enquadramento da união homoafetiva nas
espécies de família constitucionalmente estabelecidas. Sem embargo, reconheceram a união
entre parceiros do mesmo sexo como uma nova forma de entidade familiar. Matéria aberta à
conformação legislativa, sem prejuízo do reconhecimento da imediata auto-aplicabilidade da
Constituição. 6. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.723 DO CÓDIGO CIVIL EM CONFORMIDADE COM A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL (TÉCNICA DA “INTERPRETAÇÃO CONFORME”). RECONHECIMENTO DA
UNIÃO HOMOAFETIVA COMO FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA DAS AÇÕES. Ante a possibilidade de
interpretação em sentido preconceituoso ou discriminatório do art. 1.723 do Código Civil, não
resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária a utilização da técnica de “interpretação conforme
à Constituição”. Isso para excluir do dispositivo em causa qualquer significado que impeça o
reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como
família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas
consequências da união estável heteroafetiva (ADPF 132, Relator: Min. AYRES BRITTO, Tribunal
Pleno, julgado em 05/05/2011, DJe-198 DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 14-10-2011 EMENT VOL-
02607-01 PP-00001).

Em consequência ao reconhecimento da união estável homoafetiva, os efeitos do reconhecimento da união


estável heteroafetiva são todos aplicáveis àquelas, o que inclui o direito à percepção de pensão por morte:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. BENEFÍCIO DE PENSÃO POR MORTE.


UNIÃO HOMOAFETIVA. LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO RECONHECIMENTO E
QUALIFICAÇÃO DA UNIÃO CIVIL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO COMO ENTIDADE FAMILIAR.
POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DAS REGRAS E CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS VÁLIDAS PARA A UNIÃO
ESTÁVEL HETEROAFETIVA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. O Pleno do Supremo Tribunal
Federal, no julgamento da ADI 4.277 e da ADPF 132, ambas da Relatoria do Ministro Ayres Britto,
Sessão de 05/05/2011, consolidou o entendimento segundo o qual a união entre pessoas do
mesmo sexo merece ter a aplicação das mesmas regras e consequências válidas para a união
heteroafetiva. 2. Esse entendimento foi formado utilizando-se a técnica de interpretação
conforme a Constituição para excluir qualquer significado que impeça o reconhecimento da
união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar,
entendida esta como sinônimo perfeito de família. Reconhecimento que deve ser feito segundo
as mesmas regras e com idênticas consequências da união estável heteroafetiva. 3. O direito do
companheiro, na união estável homoafetiva, à percepção do benefício da pensão por morte de
seu parceiro restou decidida. No julgamento do RE nº 477.554/AgR, da Relatoria do Ministro
Celso de Mello, DJe de 26/08/2011, a Segunda Turma desta Corte, enfatizou que “ninguém,
absolutamente ninguém, pode ser privado de direitos nem sofrer quaisquer restrições de ordem
jurídica por motivo de sua orientação sexual. Os homossexuais, por tal razão, têm direito de
receber a igual proteção tanto das leis quanto do sistema político-jurídico instituído pela
Constituição da República, mostrando-se arbitrário e inaceitável qualquer estatuto que puna,

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que exclua, que discrimine, que fomente a intolerância, que estimule o desrespeito e que
desiguale as pessoas em razão de sua orientação sexual. (…) A família resultante da união
homoafetiva não pode sofrer discriminação, cabendo-lhe os mesmos direitos, prerrogativas,
benefícios e obrigações que se mostrem acessíveis a parceiros de sexo distinto que integrem
uniões heteroafetivas”. (Precedentes: RE n. 552.802, Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe de
24.10.11; RE n. 643.229, Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de 08.09.11; RE n. 607.182, Relator o
Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 15.08.11; RE n. 590.989, Relatora a Ministra Cármen Lúcia,
DJe de 24.06.11; RE n. 437.100, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 26.05.11, entre
outros). 4. Agravo regimental a que se nega provimento (RE 687432 AgR, Relator: Min. LUIZ FUX,
Primeira Turma, julgado em 18/09/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-193 DIVULG 01-10-2012
PUBLIC 02-10-2012).

Tendo em vista que a execução de dívida pode, eventualmente, atingir bem sujeito à meação, o outro
cônjuge, que é terceiro, porque não partícipe da relação processual que originou a constrição, pode opor
embargos para defender sua meação patrimonial:

STJ – Súmula 134


Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado pode opor embargos
de terceiro para defesa de sua meação.

Em regra, a meação não responde pelas dívidas contraídas por um dos cônjuges, mesmo que originária de
ato ilícito. Porém, se a ilicitude gerou bônus para a entidade familiar, aí pode a meação ser atingida pelo
credor, mas ele deve provar que o ilícito gerou enriquecimento aproveitável pelo casal. Novamente, eis aí
outro caso que acabou redundando em norma no CC/2002, ainda que a Súmula tivesse sido fixada apenas
para questões tributárias, em seguimento a julgados do extinto TFR:

STJ – Súmula 251


A meação só responde pelo ato ilícito quando o credor, na execução fiscal, provar que o
enriquecimento dele resultante aproveitou ao casal.

Prestada fiança sem outorga conjugal, é de se questionar se ela é parcialmente ineficaz, em relação à meação
do patrimônio do outro cônjuge. O STJ entendeu que, nesses casos, a ausência da vênia conjugal determina
a ineficácia total da garantia:

STJ – Súmula 332


A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia.

No CC/1916 o regime de bens era imutável. Como houve a possibilidade de alterar os regimes de bens do
matrimônio com a entrada em vigor do CC/2002, surgiu um questionamento: podem aqueles casados na
égide do CC/1916 alterar os seus regimes, ou apenas os casados depois da entrada em vigor do Código? O
STJ pacificou o entendimento de que a regra da mutabilidade vale para aqueles casados antes de 2002
também:

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CIVIL - REGIME MATRIMONIAL DE BENS - ALTERAÇÃO JUDICIAL - CASAMENTO OCORRIDO SOB A


ÉGIDE DO CC/1916 (LEI Nº 3.071) - POSSIBILIDADE - ART. 2.039 DO CC/2002 (LEI Nº 10.406) -
CORRENTES DOUTRINÁRIAS - ART. 1.639, § 2º, C/C ART. 2.035 DO CC/2002 - NORMA GERAL DE
APLICAÇÃO IMEDIATA. 1 - Apresenta-se razoável, in casu, não considerar o art. 2.039 do CC/2002
como óbice à aplicação de norma geral, constante do art. 1.639, § 2º, do CC/2002, concernente
à alteração incidental de regime de bens nos casamentos ocorridos sob a égide do CC/1916,
desde que ressalvados os direitos de terceiros e apuradas as razões invocadas pelos cônjuges
para tal pedido, não havendo que se falar em retroatividade legal, vedada nos termos do art. 5º,
XXXVI, da CF/88, mas, ao revés, nos termos do art. 2.035 do CC/2002, em aplicação de norma
geral com efeitos imediatos (REsp 730.546/MG, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA
TURMA, julgado em 23/08/2005, DJ 03/10/2005, p. 279).

Veja-se, inclusive, que o lançamento de assinatura, pelo cônjuge, como testemunha, não induz à
compreensão de que houve outorga:

CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO EXPRESSA QUANTO AOS TERMOS


DA FIANÇA PRESTADA POR CÔNJUGE. ASSINATURA LANÇADA NO CONTRATO DE LOCAÇÃO NA
QUALIDADE DE TESTEMUNHA INSTRUMENTÁRIA. IMPOSSIBILIDADE DE PRESUMIR A OUTORGA
UXÓRIA. SÚMULA 332/STJ. A assinatura das testemunhas instrumentárias somente expressa a
regularidade formal do instrumento particular, mas não evidencia sua ciência acerca do
conteúdo do negócio jurídico. A fiança deve ser interpretada restritivamente, de maneira que
sempre estará limitada aos encargos expressa e inequivocamente assumidos pelo fiador. A
ausência do necessário consentimento do cônjuge para a prestação de fiança somente poderá
ser suprida se for realizada por escrito, por meio de instrumento público ou particular
autenticado. A assinatura do cônjuge, na qualidade de mera testemunha instrumental do
contrato de locação, não é capaz de suprir essa exigência (REsp 1185982/PE, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/12/2010, DJe 02/02/2011).

Em que pese a aproximação da união estável e do casamento, especialmente depois da decisão do STF acerca
da inconstitucionalidade do art. 1.790, as diferenças entre ambos os institutos persistem. Segundo o STJ,
dispensável a outorga conjugal na prestação da fiança realizada pelo convivente, exatamente pela ausência
de caráter formal dessas uniões:

DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. DIREITO DE FAMÍLIA. CONTRATO DE LOCAÇÃO. FIANÇA.


FIADORA QUE CONVIVIA EM UNIÃO ESTÁVEL. INEXISTÊNCIA DE OUTORGA UXÓRIA. DISPENSA.
VALIDADE DA GARANTIA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA N. 332/STJ. Mostra-se de extrema
relevância para a construção de uma jurisprudência consistente acerca da disciplina do
casamento e da união estável saber, diante das naturais diferenças entre os dois institutos, quais
os limites e possibilidades de tratamento jurídico diferenciado entre eles. A exigência de outorga
uxória a determinados negócios jurídicos transita exatamente por este aspecto em que o
tratamento diferenciado entre casamento e união estável é justificável. É por intermédio do ato
jurídico cartorário e solene do casamento que se presume a publicidade do estado civil dos
contratantes, de modo que, em sendo eles conviventes em união estável, hão de ser dispensadas
as vênias conjugais para a concessão de fiança. Desse modo, não é nula nem anulável a fiança

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prestada por fiador convivente em união estável sem a outorga uxória do outro companheiro.
Não incidência da Súmula n. 332/STJ à união estável (REsp 1299866/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 21/03/2014).

Outra diferença reside na alienação de bens imóveis adquiridos no curso da união estável, que, à semelhança
do casamento regido pela comunhão parcial de bens, demandaria consentimento do consorte. No entanto,
no caso da união estável, a invalidação da alienação do bem imóvel depende da publicidade dada à união
estável, mediante a averbação de contrato ou da decisão judicial no Registro de Imóveis em que
cadastrados os bens comuns e/ou à comprovação da má-fé do adquirente:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO PATRIMONIAL DE FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. ALIENAÇÃO DE BEM


IMÓVEL ADQUIRIDO NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO. NECESSIDADE DE CONSENTIMENTO DO
COMPANHEIRO. EFEITOS SOBRE O NEGÓCIO CELEBRADO COM TERCEIRO DE BOA-FÉ. A
necessidade de autorização de ambos os companheiros para a validade da alienação de bens
imóveis adquiridos no curso da união estável é consectário do regime da comunhão parcial de
bens, estendido à união estável pelo art. 1.725 do CCB, além do reconhecimento da existência
de condomínio natural entre os conviventes sobre os bens adquiridos na constância da união, na
forma do art. 5º da Lei 9.278/96. A invalidação da alienação de imóvel comum, realizada sem o
consentimento do companheiro, dependerá da publicidade conferida a união estável mediante
a averbação de contrato de convivência ou da decisão declaratória da existência união estável
no Ofício do Registro de Imóveis em que cadastrados os bens comuns, ou pela demonstração de
má-fé do adquirente (REsp 1424275/MT, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 04/12/2014, DJe 16/12/2014).

Apesar do silêncio do art. 1.576, entende o STJ que a separação de fato igualmente põe fim ao regime
matrimonial de bens:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. FAMÍLIA. ANULAÇÃO DE ATOS JURÍDICOS. BENS ADQUIRIDOS APÓS A
SEPARAÇÃO DE FATO POR UM DOS CÔNJUGES. SIMULAÇÃO LESIVA À PARTILHA. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 83/STJ. FUNDAMENTO INATACADO. ÓBICE DA SÚMULA 283/STF. RECURSO NÃO
CONHECIDO. A separação de fato põe fim ao regime matrimonial de bens. Precedentes (REsp
678.790/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 10/06/2014, DJe
25/06/2014).

Neste julgado, o STJ fixa três teses distintas. Primeiro, que a condição de idoso e o acometimento de doença
incurável à época da celebração do contrato de convivência, por si, não é motivo de incapacidade.
Segundo, o fato de o convivente ter celebrado acordo com mais de 60 anos de idade (70 anos, após a nova
redação do art. 1.641, inc. II) não torna nulo contrato de convivência, se ele estabeleceu que as relações
patrimoniais seriam regidas pelo regime da separação total de bens, que se assemelha ao regime de
separação de bens. Terceiro, no curso do período de convivência, não é lícito aos conviventes atribuírem
por contrato efeitos retroativos à união estável elegendo o regime de bens para a sociedade de fato, pois,
assim, haveria mais benefícios na união estável do que no casamento:

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CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. CONTRATO DE CONVIVÊNCIA.


1) ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO CONTRATO. INOCORRÊNCIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS DO
NEGÓCIO JURÍDICO. ART. 104 E INCISOS DO CC/02. SENILIDADE E DOENÇA INCURÁVEL, POR SI,
NÃO É MOTIVO DE INCAPACIDADE PARA O EXERCÍCIO DE DIREITO. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS
INDICATIVOS DE QUE NÃO TINHA O NECESSÁRIO DISCERNIMENTO PARA A PRÁTICA DO NEGÓCIO
JURÍDICO. AFIRMADA AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO DE VONTADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº
7 DO STJ. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 284 DO STF. REGIME
OBRIGATÓRIO DE SEPARAÇÃO DE BENS NO CASAMENTO. INCISO II DO ART. 1.641 DO CC/02.
APLICAÇÃO NA UNIÃO ESTÁVEL. AFERIÇÃO DA IDADE. ÉPOCA DO INÍCIO DO RELACIONAMENTO.
PRECEDENTES. APONTADA VIOLAÇÃO DE SÚMULA. DESCABIMENTO. NÃO SE ENQUADRA NO
CONCEITO DE LEGISLAÇÃO FEDERAL. PRECEDENTES. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO
DEMONSTRADO. RECURSO ESPECIAL DO EX-COMPANHEIRO NÃO PROVIDO. 2) PRETENSÃO DE SE
ATRIBUIR EFEITOS RETROATIVOS A CONTRATO DE CONVIVÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO
ESPECIAL DA EX-COMPANHEIRA NÃO PROVIDO. A condição de idoso e o acometimento de
doença incurável à época da celebração do contrato de convivência, por si, não é motivo de
incapacidade para o exercício de direito ou empecilho para contrair obrigações, quando não há
elementos indicativos da ausência de discernimento para compreensão do negócio jurídico
realizado. O fato do convivente ter celebrado acordo com mais de sessenta anos de idade não
torna nulo contrato de convivência, pois os ex-companheiros, livre e espontaneamente,
convencionaram que as relações patrimoniais seriam regidas pelo regime da separação total de
bens, que se assemelha ao regime de separação de bens. Observância do disposto no inciso II do
art. 1.641 do CC/02. No curso do período de convivência, não é lícito aos conviventes atribuírem
por contrato efeitos retroativos à união estável elegendo o regime de bens para a sociedade de
fato, pois, assim, se estar-se-ia conferindo mais benefícios à união estável que ao casamento
(REsp 1383624/MG, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/06/2015,
DJe 12/06/2015).

Seguindo-se o mesmo raciocínio, é igualmente cabível alimentos ao companheiro depois de dissolvida a


união estável homoafetiva:

DIREITO DE FAMÍLIA E PROCESSUAL CIVIL. UNIÃO ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO


(HOMOAFETIVA) ROMPIDA. DIREITO A ALIMENTOS. POSSIBILIDADE. ART. 1.694 DO CC/2002.
PROTEÇÃO DO COMPANHEIRO EM SITUAÇÃO PRECÁRIA E DE VULNERABILIDADE. ORIENTAÇÃO
PRINCIPIOLÓGICA CONFERIDA PELO STF NO JULGAMENTO DA ADPF N. 132/RJ E DA ADI N.
4.277/DF. ALIMENTOS PROVISIONAIS. ART. 852 CPC. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS.
ANÁLISE PELA INSTÂNCIA DE ORIGEM. No Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal
Federal, são reiterados os julgados dando conta da viabilidade jurídica de uniões estáveis
formadas por companheiros do mesmo sexo, sob a égide do sistema constitucional inaugurado
em 1988, que tem como caros os princípios da dignidade da pessoa humana, a igualdade e
repúdio à discriminação de qualquer natureza. Como entidade familiar que é, por natureza ou
no plano dos fatos, vocacionalmente amorosa, parental e protetora dos respectivos membros,
constituindo-se no espaço ideal das mais duradouras, afetivas, solidárias ou espiritualizadas
relações humanas de índole privada, o que a credenciaria como base da sociedade (ADI n.
4277/DF e ADPF 132/RJ), pelos mesmos motivos, não há como afastar da relação de pessoas do
mesmo sexo a obrigação de sustento e assistência técnica, protegendo-se, em última análise, a

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própria sobrevivência do mais vulnerável dos parceiros. O direito a alimentos do companheiro


que se encontra em situação precária e de vulnerabilidade assegura a máxima efetividade do
interesse prevalente, a saber, o mínimo existencial, com a preservação da dignidade do indivíduo,
conferindo a satisfação de necessidade humana básica. O projeto de vida advindo do afeto,
nutrido pelo amor, solidariedade, companheirismo, sobeja obviamente no amparo material dos
componentes da união, até porque os alimentos não podem ser negados a pretexto de uma
preferência sexual diversa. A conclusão que se extrai no cotejo de todo ordenamento é a de que
a isonomia entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos somente ganha plenitude de
sentido se desembocar no igual direito subjetivo à formação de uma autonomizada família (ADI
n. 4277/DF e ADPF 132/RJ), incluindo-se aí o reconhecimento do direito à sobrevivência com
dignidade por meio do pensionamento alimentar (REsp 1302467/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 03/03/2015, DJe 25/03/2015).

Reconhece o STJ que nas uniões estáveis cujo início se deu posteriormente ao atingimento dos 70 anos
para um dos conviventes, é igualmente obrigatório a adoção do regime da separação legal de bens. Veja-
se que o julgado ainda esclarece questão de conflito de leis no tempo, já que a redação originária do art.
1.641, inc. II, do CC/2002 exigia esse regime já para os sexagenários, ou seja, se a união se iniciou quando a
pessoa já contava com mais de 60 anos, antes da alteração feita pela Lei 12.344/2010, igualmente exigível
a adoção da separação legal de bens:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E


DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS. COMPANHEIRO SEXAGENÁRIO. ART. 1.641,
II, DO CÓDIGO CIVIL (REDAÇÃO ANTERIOR À LEI Nº 12.344/2010). REGIME DE BENS. SEPARAÇÃO
LEGAL. NECESSIDADE DE PROVA DO ESFORÇO COMUM. COMPROVAÇÃO. BENFEITORIA E
CONSTRUÇÃO INCLUÍDAS NA PARTILHA. SÚMULA Nº 7/STJ. É obrigatório o regime de separação
legal de bens na união estável quando um dos companheiros, no início da relação, conta com
mais de sessenta anos, à luz da redação originária do art. 1.641, II, do Código Civil, a fim de
realizar a isonomia no sistema, evitando-se prestigiar a união estável no lugar do casamento
(REsp 1403419/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
11/11/2014, DJe 14/11/2014).

No caso, o STJ entendeu que mesmo que a partilha não tenha sido feita, ou seja, eu ainda não tenho os
meus 50%, efetivamente, a posse condominial autoriza indenização pelo uso exclusivo do imóvel, desde
que se possa comprovar, de algum modo, que a parte de cada um tenha sido definida.

Exemplifico com um caso recente no qual atuei. O casal se separou judicialmente (quando ainda era
possível), depois se divorciou, e no divórcio se fixou apenas que cada um deles ficaria com 50% dos bens
partilháveis, dentre eles um imóvel. A mulher saiu de casa e voltou a morar com a mãe e o marido ficou na
casa.

A mulher, então, entrou com uma ação contra ele, cobrando aluguel, e ele se defendeu dizendo que não
devia nada porque o imóvel ainda não tinha sido partilhado. Pelo julgado do STJ, como é possível definir a
parte de cada um de algum meio (a decisão do divórcio estabelecendo que se partilhasse meio a meio, ainda
que não tivesse sido a partilha ultimada), é cabível a indenização.

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O STJ solidificou entendimento que já vinha se formando lentamente nas instâncias ordinárias. Sem grandes
surpresas, portanto. O cônjuge que permaneceu no imóvel deve ressarcir o outro a partir da data na qual foi
citado na ação (ou intimado da pretensão, por outro meio inequívoco), e não desde a ocupação exclusiva.

Por isso, o cônjuge que pretende ser indenizado precisa movimentar-se, pois só será ressarcido a partir do
momento no qual há “intimação da pretensão”, nas palavras do Min. Raul Araújo.

O julgado ainda chama atenção para situação comum. Quem ficou no imóvel é a mulher, cujos filhos ou ela
mesma recebem alimentos do marido que saiu. Se o marido ganha a ação, a mulher passará a necessitar de
valores maiores a título de alimentos. Inversamente, se quem ficou no imóvel é o marido, saindo a mulher e
os filhos do imóvel, a partir do momento no qual ela recebe o aluguel, passará o ex-marido a prestar
alimentos em valor inferior, pelo aumento da renda daquela:

FAMÍLIA. DIVÓRCIO. PARTILHA. INDENIZAÇÃO PELO USO EXCLUSIVO DE IMÓVEL DE


PROPRIEDADE COMUM DOS EX-CÔNJUGES AINDA NÃO PARTILHADO FORMALMENTE.
POSSIBILIDADE A DEPENDER DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO. TERMO INICIAL.
INFLUÊNCIA NO VALOR DE ALIMENTOS. Na separação e no divórcio, o fato de certo bem comum
ainda pertencer indistintamente aos ex-cônjuges, por não ter sido formalizada a partilha, não
representa automático empecilho ao pagamento de indenização pelo uso exclusivo do bem por
um deles, desde que a parte que toca a cada um tenha sido definida por qualquer meio
inequívoco. Requerida a indenização pelo uso exclusivo de bem comum por um dos ex-cônjuges,
o termo inicial para o ressarcimento ao outro é a data da intimação da pretensão e o valor
correspondente pode influir no valor da prestação de alimentos (REsp 1.250.362-RS, Rel. Min.
Raul Araújo, por maioria, julgado em 8/2/2017, DJe 20/2/2017).

Inicialmente, o regime da separação obrigatória, nos casos de idade, se aplica à proteção da pessoa contra
outros que pretensamente se aproveitariam do idoso em relacionamentos fugazes. O STJ estabeleceu que,
apesar de o Código prever que o regime de separação de bens é obrigatório no casamento de idosos (60
anos no CC/1916, 70 anos, na redação atual do CC/2002), não faz sentido utilizar a literalidade da norma
quando há uma união estável longa, iniciada antes da idade prevista.

Isso porque a CF/1988 é clara ao dispor no art. 226, §3º, que a conversão da união estável em casamento
tem de ser facilitada pela lei. Por isso, seria teleologicamente inadequado pressupor que a limitação geraria
uma espécie de “retroação” da presunção trazida pelo CC, impedindo que uma pessoa que conviva com a
outra por longo tempo seja obrigada a adotar regime de bens mais gravoso quando do casamento.

Igualmente, seria ilógico que alguém que convive no regime da comunhão parcial de bens (que é a presunção
da união estável), fosse obrigado a adotar o regime da separação de bens, que é mais gravoso. Isso faria com
que muitas pessoas permanecessem em união estável, contrariando o objetivo constitucional referido. Por
isso, se iniciado o relacionamento estável antes de a pessoa alcançar os 70 anos, há liberdade de escolha
do regime de bens, não se aplicando a restrição legal da separação obrigatória, em caso de matrimônio a
se realizar depois dessa idade:

MATRIMÔNIO CONSTITUÍDO NA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. SEPARAÇÃO DE BENS.


NUBENTE VARÃO CONTANDO COM MAIS DE 60 ANOS. UNIÃO ESTÁVEL DURADOURA INICIADA

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ANTES DE TAL IDADE. DESNECESSIDADE DA PROTEÇÃO AO IDOSO. ALCANCE TELEOLÓGICO DO


INSTITUTO PROTETIVO. A proteção matrimonial conferida ao noivo, nos termos do artigo 258,
parágrafo único, inciso II, do Código Civil de 1.916 não se revela necessária quando o enlace for
precedido de longo relacionamento em união estável, que se iniciou quando os cônjuges não
tinham restrição legal à escolha do regime de bens (REsp 1.318.281-PE, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, por unanimidade, julgado em 1/12/2016, DJe 7/12/2016).

No presente caso, o STJ, no fundo, aliou aplicação literal do art. 1.725 (“Na união estável, salvo contrato
escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão
parcial de bens”) com o princípio da vedação ao comportamento contraditório (venire contra factum
proprium), aplicável aos atos jurídicos em sentido amplo.

Como o art. 1.725 não exige que o pacto seja feito sob forma pública, ainda que o seja recomendável, tanto
para as próprias partes, quanto para os terceiros, nada impede que ele seja feito sob forma particular. Assim,
o documento particular é igualmente válido, sob o pálio do referido artigo.

Igualmente, não pode a própria parte que pactuou o contrato alegar que ele fora feito sob forma particular
para tentar invalidá-lo, em flagrante violação ao princípio da vedação ao comportamento contraditório.
Ora, se a pessoa pactua de maneira particular, e não reclama, à época, que o pacto seja feito desta forma,
não pode, posteriormente, alegar a própria torpeza para tentar, contraditoriamente, anular o ato.

CONTRATO DE CONVIVÊNCIA PARTICULAR. REGULAÇÃO DAS RELAÇÕES PATRIMONIAIS DE


FORMA SIMILAR À COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS. POSSIBILIDADE. É válido, desde que escrito,
o pacto de convivência formulado pelo casal no qual se opta pela adoção da regulação
patrimonial da futura relação como símil ao regime de comunhão universal, ainda que não tenha
sido feito por meio de escritura pública (REsp 1.459.597-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, por
unanimidade, julgado em 1/12/2016, DJe 15/12/2016).

A questão em tela é bastante rica em detalhes jurídicos. Isso porque, primeiro, a união se iniciou em 1993,
antes da vigência do CC/2002, pelo que há uma questão de direito intertemporal. Segundo, os conviventes
se uniram quando o companheiro já contava com mais de 60 anos (exigidos à época), pelo que há a questão
envolvendo a proteção dos sexagenários por imposição do regime da separação obrigatória de bens.

Quanto ao direito intertemporal, aplicáveis as regras do CC/2002 ao caso. Assim, a norma revogada impunha
o regime da separação obrigatória de bens aos nubentes com mais de 60 anos, à época do casamento. Essa
situação continuaria no CC/2002, com a diferença de que também às mulheres o regime era obrigatório a
partir dos 60 anos (no CC/1916 a regra era 60 anos para homens, 50 anos para mulheres). Em 2010, apenas,
a idade foi elevada para 70 anos, para ambos os sexos.

A regra se impõe também às uniões estáveis, com a diferença de que é necessário verificar a data do início
da relação (dado que não há registro público). Assim, se a união estável se iniciava quando o homem contava
com mais de 60 anos (70 anos, atualmente), o regime da separação obrigatória incidia.

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No entanto, o próprio STF atenua esse rigor legal com a Súmula 377, ao determinar que os bens adquiridos
onerosamente na constância da união devem ser partilhados, no caso de separação obrigatória. Para tanto,
necessário comprovar o esforço comum.

Ora, se não há esforço da companheira no prêmio de loteria, a conclusão a que se chega é que não tem ela
direito a ele; foi o que o juiz decidiu. Atente, porém, a um detalhe: e qual foi o esforço do companheiro? A
rigor, nenhum. A não ser que você entenda que ir até a casa lotérica seja um esforço, mas como isso aqui é
direito e não física, o raciocínio é incabível.

O prêmio é enquadrado na categoria de fato eventual havido sem esforço. Por isso, não faz sentido aplicar
o entendimento de que ele não deve ser partilhado porque não houve esforço da companheira. Não houve
esforço de ninguém.

Além disso, qual é o objetivo dessa norma restritiva? Em bom português, proteger o velhinho da coelhinha
da playboy interesseira! Mas, como já diria Silvio Rodrigues, criticando com razão a norma, a fortuna ajuda
quem a detém a aumentar seus atrativos matrimoniais. Sendo objetivo, se o (sincero e legítimo) amor da sua
vida é rico, tanto melhor!

Volte ao caso. A companheira se uniu ao companheiro por interesse? Aparentemente não. E pior, ela se uniu
a ele porque sabia que ele ganharia na loteria? Evidentemente que não. Não há razão para aplicar a restrição
à meação numa situação como essa, inesperada a todos e inesperada mesmo à mais interesseira das pessoas.

Esse foi o raciocínio do Tribunal, com o qual o STJ concordou. Assim, o prêmio lotérico, recebido pelo ex-
companheiro, sexagenário, deve ser objeto de partilha, haja vista que: i) se trata de bem comum que
ingressa no patrimônio do casal, independentemente da aferição do esforço de cada um; ii) foi o próprio
legislador quem estabeleceu a referida comunicabilidade; iii) como se trata de regime obrigatório imposto
pela norma, permitir a comunhão dos aquestos acaba sendo a melhor forma de se realizar maior justiça
social e tratamento igualitário, tendo em vista que o referido regime não adveio da vontade livre e
expressa das partes; iv) a partilha dos referidos ganhos com a loteria não ofenderia o desiderato da lei, já
que o prêmio foi ganho durante a relação, não havendo falar em matrimônio realizado por interesse ou
em união meramente especulativa:

DIREITO INTERTEMPORAL PROCESSUAL. IMPUGNAÇÃO À ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA RECURSO


ESPECIAL. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL.PARTILHA DE BENS. COMPANHEIRO SEXAGENÁRIO.
SÚMULA 377 DO STF. BENS ADQUIRIDOS NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL QUE DEVEM SER
PARTILHADOS DE FORMA IGUALITÁRIA. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DO ESFORÇO
COMUM DOS COMPANHEIROS PARA LEGITIMAR A DIVISÃO. PRÊMIO DE LOTERIA (LOTOMANIA).
FATO EVENTUAL OCORRIDO NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL. NECESSIDADE DE MEAÇÃO.
1. Por força do art. 258, parágrafo único, inciso II, do Código Civil de 1916 (equivalente, em parte,
ao art. 1.641, inciso II, do Código Civil de 2002), ao casamento de sexagenário, se homem, ou
cinquentenária, se mulher, é imposto o regime de separação obrigatória de bens (recentemente,
a Lei 12.344/2010 alterou a redação do art. 1.641, II, do CC, modificando a idade protetiva de 60
para 70 anos). Por esse motivo, às uniões estáveis é aplicável a mesma regra, impondo-se seja
observado o regime de separação obrigatória, sendo o homem maior de sessenta anos ou a
mulher maior de cinquenta. Precedentes.

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2. A ratio legis foi a de proteger o idoso e seus herdeiros necessários dos casamentos realizados
por interesse estritamente econômico, evitando que este seja o principal fator a mover o
consorte para o enlace.
3. A Segunda Seção do STJ, seguindo a linha da Súmula n.º 377 do STF, pacificou o entendimento
de que "apenas os bens adquiridos onerosamente na constância da união estável, e desde que
comprovado o esforço comum na sua aquisição, devem ser objeto de partilha" (EREsp
1171820/PR, Rel. Ministro Raul Araújo, Segunda Seção, julgado em 26/08/2015, DJe
21/09/2015).
4. Nos termos da norma, o prêmio de loteria é bem comum que ingressa na comunhão do casal
sob a rubrica de "bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou
despesa anterior" (CC/1916, art. 271, II; CC/2002, art. 1.660, II).
5. Na hipótese, o prêmio da lotomania, recebido pelo ex-companheiro, sexagenário, deve ser
objeto de partilha, haja vista que: i) se trata de bem comum que ingressa no patrimônio do casal,
independentemente da aferição do esforço de cada um; ii) foi o próprio legislador quem
estabeleceu a referida comunicabilidade; iii) como se trata de regime obrigatório imposto pela
norma, permitir a comunhão dos aquestos acaba sendo a melhor forma de se realizar maior
justiça social e tratamento igualitário, tendo em vista que o referido regime não adveio da
vontade livre e expressa das partes; iv) a partilha dos referidos ganhos com a loteria não
ofenderia o desiderato da lei, já que o prêmio foi ganho durante a relação, não havendo falar em
matrimônio realizado por interesse ou em união meramente especulativa (REsp 1.689.152-SC,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 24/10/2017, DJe 22/11/2017).

O STJ estabeleceu que tanto na união estável quanto no casamento (na ementa está apenas união estável,
mas no voto se menciona também o casamento) os valores relativos à previdência privada fechada não
devem ser partilhados, porque se incluem no rol das exceções do art. 1.659, que especificamente em seu
inc. VII exclui da comunhão “pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes”. A previdência
privada fechada seria “renda semelhante”, impartilhável no regime da comunhão parcial de bens.

UNIÃO ESTÁVEL. REGIME DE BENS. COMUNHÃO PARCIAL. PREVIDÊNCIA PRIVADA FECHADA.


PARTILHA. ART. 1.659, VII, DO CC/2002. BENEFÍCIO EXCLUÍDO. O benefício de previdência privada
fechada é excluído da partilha em dissolução de união estável regida pela comunhão parcial de
bens (REsp 1.477.937-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade, julgado em
27/4/2017, DJe 20/6/2017).

ATENÇÃO! MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO DO STJ E PACIFICAÇÃO DO TEMA NA 3ª E 4ª TURMAS!!! Aqui


é mais uma daquelas discussões típicas que envolvem a absorção das regras comerciais pelo CC/2002,
quando houve parcial unificação do Direito Civil com o Direito Empresarial.

De fato, é absurdo exigir outorga conjugal para o aval nos títulos de crédito (lembre que o aval parece com
a fiança, mas tem várias diferenças, sendo a mais importante esta, liga-se a títulos de crédito, ao contrário
da fiança, ligada aos contratos, em geral). No entanto, dura lex, sed lex; o art. 1.647, inc. III, é cristalino.

No entanto, no REsp 1.633.399, o STJ disse que era desnecessário, porque a exigência ia contra a lógica
cambiária (novamente, é verdade). No entanto, o art. 1.647 continuava lá, exigindo a outorga. Com esse
julgado, o STJ chegou a uma solução elegante a respeito do assunto.

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Ao invés de simplesmente ignorar a regra clara do art. 1.647, inc. III, o STJ reconheceu que ele deve ser
aplicado, ou seja, exige-se outorga conjugal para o aval nos títulos de crédito, MAS somente para os títulos
atípicos, regidos pelo CC/2002, sendo desnecessário para os títulos de crédito típicos regidos por leis
especiais:

AVAL. OUTORGA UXÓRIA OU MARITAL. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.647, INCISO III, DO CC/2002,
À LUZ DO ART. 903 DO MESMO DIPLOMA LEGAL. NATUREZA DO INSTITUTO CAMBIÁRIO DO
AVAL. REVISÃO DO ENTENDIMENTO. O aval dado aos títulos de créditos nominados (típicos)
prescinde de outorga uxória ou marital (REsp 1.526.560-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, por unanimidade, julgado em 16/3/2017, DJe 16/5/2017).

Primeiro, o STJ entendeu que, pela leitura do art. 544 (“A doação de ascendentes a descendentes, ou de um
cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança”) é possível a doação de cônjuge ao
outro, e, consequentemente, também do companheiro ao outro. A consequência é que isso significa, em
caso de sucessão, adiantamento da legítima.

Claro que a doação tem de ser do bem individual, já que doar bem comum e não doar dá na mesma, porque,
ao doar um bem comum ele volta para os bens comuns do casal. Trata-se de negócio jurídico impossível.

Para entender, vou direto ao caso. Manoel doou sua parte ideal, 50%, que era sua meação, portanto só sua.
E pode? O STJ disse que sim, porque o art. 544 não proíbe esse ato, no caso da comunhão parcial de bens,
que era o regime de Manoel e Joaquina.

Manoel, ao término da relação, queria partilhar o bem. Seu fundamento, o art. 1.658, que estabelece a
partilha dos bens onerosamente adquiridos pelo casal. Como ele e Joaquina compraram o bem juntos, tinha
de partilhar.

O nó da questão é que Manoel não havia lido a parte final desse artigo, que estabelece “com as exceções
dos artigos seguintes”. E o seguinte, o art. 1.659, inc. I, diz que se excluem da comunhão os bens que
sobrevierem ao companheiro, na constância da união, por doação”. Ou seja, como Joaquina recebeu o bem
por doação, não partilha. Mas não fora o próprio Manoel quem doara o apartamento para a Joaquina? Sim,
e o art. 1.659, inc. I tem exceção, dizendo que se foi o companheiro que doou ele entra na partilha? Não tem
e não diz, então não partilha:

FAMÍLIA. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS.


PARTILHA. IMÓVEL ADQUIRIDO PELO CASAL. DOAÇÃO ENTRE COMPANHEIROS. BEM EXCLUÍDO
DO MONTE PARTILHÁVEL. O bem imóvel adquirido a título oneroso na constância da união
estável regida pelo estatuto da comunhão parcial, mas recebido individualmente por um dos
companheiros, através de doação pura e simples realizada pelo outro, deve ser excluído do
monte partilhável, nos termos do art. 1.659, I, do CC/2002 (REsp 1.171.488-RS, Rel. Min. Raul
Araújo, por unanimidade, julgado em 4/4/2017, DJe 11/5/2017).

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JORNADAS DE DIREITO CIVIL


Como acabei tratando de todos os Enunciados a respeito dos temas ao longo da aula, não me parece
adequado repeti-los aqui.

RESUMO
Direito Conjugal Pessoal

Quais são os requisitos para a união estável?

1. Estabilidade
• Art. 226, §3º, da CF/1988

2. Publicidade
• Art. 1.723 do CC/2002

3. Continuidade
• Art. 1.723 do CC/2002

4. Objetivo de constituição de família


• Art. 1.723 do CC/2002

Quais são os requisitos para o casamento? O que se exige no requerimento de habilitação para o casamento?

I - Certidão de nascimento ou documento equivalente

II - Autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a
supra

III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem
não existir impedimento que os iniba de casar

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IV - Declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se
forem conhecidos

V - Certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória transitada em julgado ou de


anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio

Quais são as causas de impedimentos absolutos ou impedimentos dirimentes (IMPEDIMENTOS)?

I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil


III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante

III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante
V - o adotado com o filho do adotante

IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive

VI - as pessoas casadas

VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte

Quais são os impedimentos relativos ou impedimentos impedientes (CAUSAS SUSPENSIVAS)?

I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal
e der partilha aos herdeiros

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II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses
depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal

III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal

IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a


pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as
respectivas contas

Quais são de anulabilidade do casamento?

I - de quem não completou a idade mínima para casar

II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal

III - por vício da vontade

I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado

II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a
vida conjugal

III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize
deficiência ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em
risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência

IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento

V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e
não sobrevindo coabitação entre os cônjuges

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VI - por incompetência relativa da autoridade celebrante

Direito Conjugal Patrimonial

Quais são os atos que podem ser praticados pelos cônjuges, seja qual for o regime de bens?

I - praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua


profissão, com as limitações estabelecida no inciso I do art. 1.647;

II - administrar os bens próprios;

III - desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu
consentimento ou sem suprimento judicial;

IV - demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados


pelo outro cônjuge sem autorização do outro;

V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao
concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes,
se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos;

VI - praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente.

Quais são os atos que não pode um dos cônjuges praticar, sem autorização do outro (exceto no regime da separação
absoluta)?

I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;

III - prestar fiança ou aval;

IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura
meação.

Quais são os bens que entram na comunhão parcial de bens?

I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de
um dos cônjuges;

II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior;

III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges;

IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;

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V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do
casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.

Quais são os bens que NÃO entram na comunhão parcial de bens?

I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;

II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-


rogação dos bens particulares;

III - as obrigações anteriores ao casamento;

IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal;

V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;

VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;

VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.

Quando se exige a doção do regime da separação obrigatória de bens?

I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração
do casamento
• O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos
bens do casal e der partilha aos herdeiros
• A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez
meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal
• O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do
casal
• O tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou
sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou
curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas

II - da pessoa maior de 70 anos

III - dos que dependerem para casar de suprimento judicial

Quais são os atos que um cônjuge pode praticar, mesmo sem autorização do outro, no regime da separação de
bens?

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I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;

III - prestar fiança ou aval;

IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura
meação.

Quais são os bens excluídos da comunhão universal de bens?

I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu


lugar;

II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a


condição suspensiva;

III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou
reverterem em proveito comum;

IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de


incomunicabilidade;

V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão, os proventos do trabalho


pessoal de cada cônjuge e as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final de mais uma aula! Em se tratando de Direito de Família, consenso é coisa difícil. A doutrina
diverge bastante. A jurisprudência é fundamental, porque nosso legislador não cochilou, dormiu em berço
esplêndido no Livro IV do CC/2002.

Quaisquer dúvidas, sugestões, críticas ou mesmo elogios, não hesite em entrar em contato comigo. Estou
disponível preferencialmente no Fórum de Dúvidas do Curso, mas também nas redes sociais, claro. Estou
aguardando você na próxima aula. Até lá!

Paulo H M Sousa

QUESTÕES COMENTADAS
Direito Conjugal Pessoal

1. (VUNESP / TJ-RS – 2018) Joaquina nasceu com o diagnóstico de síndrome de Down; aos 18 anos,
conheceu Raimundo e decidiu casar. Os pais de Joaquina declararam que somente autorizam o casamento

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se o mesmo for celebrado sob o regime da separação convencional de bens, tendo em vista que a família
é possuidora de uma grande fortuna e Raimundo é de origem humilde. Joaquina, que tem plena
capacidade de comunicação, não aceitou a sugestão dos pais e deseja casar sob o regime legal (comunhão
parcial de bens). Assinale a alternativa correta.
a) Para que possa casar sob o regime da comunhão parcial de bens, deverá Joaquina ser submetida, mesmo
contra sua vontade, ao procedimento de tomada de decisão apoiada.
b) Joaquina poderá casar sob o regime de bens que melhor entender, tendo em vista que é dotada de plena
capacidade civil.
c) O juiz deverá nomear um curador para que possa analisar as pretensões do noivo em relação a Joaquina
e decidir acerca do melhor regime patrimonial para o casal.
d) Joaquina é relativamente incapaz e deve ser assistida no ato do casamento que somente pode ser
celebrado sob o regime da separação legal.
e) Joaquina somente poderá casar se obtiver autorização dos pais que poderá ser suprida pelo juiz, ouvido o
Ministério Público.

Comentários

A alternativa A está incorreta, já que, após a modificação do CC/2002 com o advento da Lei 13.146/2015
(Estatuto da Pessoa com Deficiência), o legislador passou a presumir que a pessoa com deficiência tem plena
capacidade de decidir sobre seu casamento e respectivo regime de bens.

A alternativa B está correta, conforme o art. 6º, inc. I, do Estatuto: “A deficiência não afeta a plena
capacidade civil da pessoa, inclusive para casar-se e constituir união estável”. Logo, Joaquina, sendo maior e
capaz, poderá optar pelo regime de bens que melhor lhe convir, uma vez que possui plena capacidade civil,
de acordo com o novo entendimento legal.

A alternativa C está incorreta, já que mesmo que fosse ela interditada, não caberia ao juiz analisar o regime
de bens, e sim seu curador.

A alternativa D está incorreta, porque a pessoa com deficiência não se enquadra no rol dos relativamente
incapazes previsto no art. 4º do CC/2002.

A alternativa E está incorreta, igualmente, não havendo necessidade de autorização dos genitores da
nubente.

2. (MP-PR / MP-PR – 2018) Não incide causa suspensiva no casamento entre:


a) O cônjuge sobrevivente e o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.
b) O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e
der partilha aos herdeiros.
c) A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do
começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal.
d) O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal.

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e) O tutor e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada,
enquanto não cessar a tutela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.

Comentários

A alternativa A não trata de causa suspensiva, mas de impedimento. A hipótese está prevista no art. 1.521,
inc. VII: “Não podem casar o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio
contra o seu consorte”.

A alternativa B está incorreta, segundo o art. 1.523, inc. I: “Não devem casar o viúvo ou a viúva que tiver
filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros”.

A alternativa C está incorreta, na forma do art. 1.523, inc. II: “Não devem casar a viúva, ou a mulher cujo
casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da
dissolução da sociedade conjugal”.

A alternativa D está incorreta, na dicção do art. 1.523, inc. III: “Não devem casar o divorciado, enquanto não
houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal”.

A alternativa E está incorreta, de acordo com o art. 1.523, inc. IV: “Não devem casar o tutor ou o curador e
os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada,
enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas”.

3. (CESPE / DPE-PE – 2018) De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do
STJ acerca da união estável e casamento, assinale a opção correta.
a) É possível o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, sendo vedado o casamento
civil.
b) A união estável homoafetiva é vedada no ordenamento jurídico brasileiro: união estável consiste de uma
relação entre homem e mulher, contínua e duradoura, com o objetivo de constituição de família.
c) Como não se trata de entidade familiar, a relação entre pessoas do mesmo sexo é uma sociedade de fato,
inclusive com competência da vara cível, e não da de família, para eventual ajuizamento de ação.
d) A união entre duas pessoas do mesmo sexo é reconhecida como entidade familiar, com convivência
pública, contínua, duradoura, com o objetivo de constituição de família, e é de competência da vara de
família o ajuizamento de eventual ação a respeito.
e) Diferentemente do instituto do casamento, a companheira ou o companheiro, na vigência da união
estável, participará da sucessão do outro apenas quanto aos bens adquiridos onerosamente.

Comentários

A alternativa A está incorreta, a partir do julgamento ADPF 132 e a ADI 4277, minudenciado pela Resolução
175/2013, do CNJ, “no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal, são reiterados os julgados
dando conta da viabilidade jurídica de uniões estáveis formadas por companheiros do mesmo sexo. No
âmbito desta Casa, reconheceu-se, inclusive, a juridicidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo"
(REsp 1204425/MG).

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A alternativa B está incorreta, pelo entendimento lançado na ADPF 132 e na ADI 4277, nas quais o Supremo
reconheceu a legitimidade das uniões homoafetivas.

A alternativa C está incorreta, da mesma forma, evidentemente, não havendo mais que se questionar a
respeito do assunto no ordenamento jurídico brasileiro hodierno.

A alternativa D está correta, conforme entendimento referendado pelo STJ já há tempos: "É juridicamente
possível pedido de reconhecimento de união estável de casal homossexual, uma vez que não há, no
ordenamento jurídico brasileiro, vedação explícita ao ajuizamento de demanda com tal propósito.
Competência do juízo da vara de família para julgar o pedido (REsp 827.962/RS)”.

A alternativas E está incorreta, pois, no julgamento do RE 646.721, o STF consignou que “no sistema
constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros,
devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002”.

4. (FCC / TJ-SC – 2017) É nulo o casamento


a) de pessoa que não completou idade mínima para casar.
b) de pessoa com deficiência mental ou intelectual, em idade núbil
c) mesmo expressando sua vontade diretamente, apenas se contraído com infringência de impedimento.
d) de incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento.
e) por infringência de impedimento ou de causa suspensiva.

Comentários

A alternativa A está incorreta, segundo o art. 1.550, inc. I: “É anulável o casamento de quem não completou
a idade mínima para casar”.

A alternativa B está incorreta, já que não há impedimento ao matrimônio da pessoa com deficiência.

A alternativa C está correta, de acordo com o art. 1.548, inc. II: “É nulo o casamento contraído por
infringência de impedimento”.

A alternativa D está incorreta, conforme o art. 1.550, inc. IV: “É anulável o casamento do incapaz de consentir
ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento

A alternativa E está incorreta, porque a violação de causa suspensiva não está no plano da validade, mas da
eficácia, devendo-se adotar regime obrigatório de bens, a teor do art. 1.641, inc. I: “É obrigatório o regime
da separação de bens no casamento das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas
da celebração do casamento”.

5. (CESPE / DPE-AL – 2017) Antônio, de vinte e cinco anos de idade, casou-se com Carla, de treze anos
de idade, que estava grávida quando da realização do casamento. Embora tenha sido consentido pelos
pais de Carla, o casamento foi realizado sem autorização judicial, pois os nubentes não estavam cientes
dessa exigência legal.

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A respeito dessa situação hipotética, assinale a opção correta.


a) Carla poderá confirmar o casamento após o nascimento da criança.
b) É vedada a anulação do casamento unicamente pelo fato de Carla ser menor de idade.
c) Anulado o casamento, este retroagirá à data de sua celebração, não produzindo nenhum efeito.
d) Antônio poderá requerer a anulação do casamento devido ao fato de Carla ser menor de idade.
e) o casamento é nulo, pois Carla não tinha idade núbil e não havia autorização judicial.

Comentários

A alternativa A está incorreta, consoante o art. 1.553: ”O menor que não atingiu a idade núbil poderá, depois
de completá-la, confirmar seu casamento, com a autorização de seus representantes legais, se necessária,
ou com suprimento judicial”. Ou seja, não há que se esperar o nascimento da criança.

A alternativa B estava correta, porque o art. 1.520 (“Excepcionalmente, será permitido o casamento de
quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1.517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal
ou em caso de gravidez”) permitia o casamento nesse caso. No entanto, com a entrada em vigor da Lei
13.811/2019, essa alternativa também se torna incorreta.

A alternativa C está incorreta, sendo desnecessário sequer saber especificamente a respeito. A teoria do fato
jurídico já responde, de modo negativo, já que as anulabilidades têm eficácia apenas ex tunc, não retroativa.
De acordo com o art. 1.561, “Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os
cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença
anulatória”.

A alternativa D está incorreta, porque não há previsão no art. 1.552 para o cônjuge maior de idade requerer
a anulação do casamento. Ademais, novamente, é pressuposto intrínseco da teoria do fato jurídico a
impossibilidade da parte a quem aproveita o negócio (casamento) requerer sua anulação, sob pena de haver
comportamento contraditório e chancela à má-fé.

A alternativa E está incorreta, pois é anulável o casamento de quem não completou idade mínima para se
casar (art. 1.550, inc. I).

6. (FCC / PGM-São Luís (MA) – 2016) Decorre do regime estabelecido pelo Código Civil que:
a) É nulo o casamento por vício da vontade.
b) É anulável o casamento realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da
revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges.
c) É anulável o casamento por infringência de impedimento.
d) É nulo o casamento celebrado por autoridade incompetente.
e) A anulação do casamento dos menores de 16 anos não pode ser requerida diretamente pelo próprio
cônjuge menor por necessitar de seus representantes legais para elaborar tal pedido.

Comentários

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A alternativa A está incorreta, segundo o art. 1.550, inc. III: “É anulável o casamento por vício da vontade”.

A alternativa B está correta, nos termos do art. 1.550, inc. V: “É anulável o casamento realizado pelo
mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo
coabitação entre os cônjuges”.

A alternativa C está incorreta, na dicção do art. 1.548, inc. II: “É nulo o casamento contraído por infringência
de impedimento”.

A alternativa D está incorreta, na forma do art. 1.550, inc. VI: “É anulável o casamento por incompetência
da autoridade celebrante”.

A alternativa E está incorreta, conforme a lição do art. 1.555: “O casamento do menor em idade núbil,
quando não autorizado por seu representante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em cento
e oitenta dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus herdeiros
necessários”. Aqui, cuidado porque a Lei 13.811/2019 não mais permite o casamento de menos de 16 anos
ao alterar o art. 1.520

7. (FCC / DPE-ES – 2016) Podem casar:


a) a pessoa solteira com pessoa separada judicialmente.
b) as pessoas com deficiência intelectual ou mental em idade núbil, expressando sua vontade por meio de
curador.
c) o adotado com a filha biológica do adotante, se autorizados pelo juiz.
d) os afins na linha reta, depois de dissolvido o casamento que determinara o parentesco por afinidade.
e) o adotante com quem foi cônjuge do adotado.

Comentários

A alternativa A está incorreta, já que a separação judicial põe fim à sociedade conjugal, mas não dissolve o
matrimônio. A pessoa separada judicialmente pode, entretanto, manter união estável (que não se confunde
com o casamento).

A alternativa B está correta, na dicção do art. 1.550, §2º: “A pessoa com deficiência mental ou intelectual
em idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu
responsável ou curador”. Importante notar que a legislação faz menção expressa à possibilidade de
casamento da pessoa com deficiência intelectual ou mental em idade núbil, mediante, inclusive, vontade
expressada diretamente.

A alternativa C está incorreta, de acordo com o art. 1.521, inc. IV: “Não podem casar os irmãos, unilaterais
ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive “.

A alternativa D está incorreta, segundo o art. 1.521, inc. II: “Não podem casar os afins em linha reta”.

A alternativa E está incorreta, na forma do art. 1.521, inc. III: “Não podem casar o adotante com quem foi
cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante”.

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8. (FCC / TJ-SE – 2015) A violação de causas suspensivas da celebração do casamento acarreta a:


a) nulidade relativa do casamento.
b) obrigatoriedade do regime de separação de bens, não sendo permitido ao juiz relevá-las em nenhuma
hipótese.
c) obrigatoriedade do regime da separação de bens, exceto no caso de o juiz a relevar, conforme lhe permite
a lei, quando se tratar de viúva grávida antes de dez meses do início da viuvez.
d) obrigatoriedade do regime da separação de bens, exceto se relevadas pelo juiz, quando a lei o permitir.
e) nulidade absoluta do casamento, exceto se relevada pelo juiz, quando a lei o permitir.

Comentários

A alternativa A está incorreta, sendo essa terminologia, inclusive, superada no CC/2002, que trata apenas
das nulidades (vetustas nulidades absolutas) e das anulabilidades (nulidades relativas).

A alternativa B está incorreta, conforme rege o art. 1.523, parágrafo único: “É permitido aos nubentes
solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo,
provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa
tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de
gravidez, na fluência do prazo”.

A alternativa C está incorreta, porque essa não é a única situação que permite alteração judicial, mas,
conforme visto no art. 1.523, em outros casos, igualmente.

A alternativa D está correta, conforme o art. 1.641, inc. I: “É obrigatório o regime da separação de bens no
casamento das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do
casamento”.

A alternativa E está incorreta, mais uma vez, conforme mencionado na alternativa A, sendo que a nulidade
ocorreria nas situações de impedimento, e não de suspensão.

9. (FCC / TJ-AL – 2015) A respeito do casamento putativo, é correto afirmar que


a) não encontra previsão legal, sendo criação da jurisprudência, para regularizar a posse do estado de casado.
b) produz todos os efeitos, embora nulo ou anulável, independentemente de boa-fé de um ou de ambos os
cônjuges, tendo em vista a necessidade de segurança jurídica em matéria de casamento.
c) se não for nulo, mas apenas anulável, se contraído de boa-fé, por ambos os cônjuges, o casamento, em
relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
d) embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação
a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
e) não produz nenhum efeito, porque o casamento se regula por normas de ordem pública.

Comentários

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A alternativa A está incorreta, como se extrai do art. 1.617, textualmente: “A filiação materna ou paterna
pode resultar de casamento declarado nulo, ainda mesmo sem as condições do putativo”.

A alternativa B está incorreta, porque a putatividade decorre exatamente da boa-fé dos contraentes.
Estando eles de má-fé, não se falaria em casamento putativo para eles mesmos.

A alternativa C está incorreta, porque a manutenção dos efeitos relativamente à filiação permanece mesmo
em sendo ele nulo, e, a teor do art. 1.617 supracitado, ainda que ele seja sequer putativo.

A alternativa D está correta, como prevê o art. 1.561: “Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de
boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até
o dia da sentença anulatória”.

A alternativa E está incorreta, já que, obviamente, impossível que a declaração de nulidade de um


matrimônio lhe acarretasse a extinção plena de efeitos, meramente por detalhe técnico.

10. (VUNESP / TJ-MS – 2015) Márcio e Caroline, ambos com 16 (dezesseis) anos de idade, decidiram
que se casariam, considerando a gravidez de Caroline. Noticiaram sua decisão aos pais de ambos, mas o
pai de Caroline recusou-se a autorizar o matrimônio, apesar da aquiescência da mãe de Caroline e dos pais
de Márcio. Assim, foi ajuizada ação para solução do impasse, e, após regular tramitação, sobreveio
sentença autorizando o casamento.
Em relação ao caso concreto apresentado, assinale a alternativa correta.
a) Judicialmente autorizado o casamento entre Márcio e Caroline, será obrigatório o regime legal da
separação de bens.
b) Não corriam prazos prescricionais em desfavor de Márcio e Caroline, em razão de sua idade, mas, com a
celebração do casamento, cessará a causa impeditiva.
c) Com o suprimento judicial, Márcio e Caroline poderão casar-se, vigorando condição suspensiva
consistente no nascimento com vida do filho do casal.
d) Com o suprimento judicial, Márcio e Caroline poderão casar-se, mas o casamento não fará cessar a
incapacidade civil de ambos.
e) A sentença é nula, na medida em que não se admite suprimento judicial em caso de falta de anuência de
qualquer dos pais.

Comentários

A alternativa A está correta, nos termos do art. 1.641, inc. III: “É obrigatório o regime da separação de bens
no casamento de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial”.

A alternativa B está incorreta, segundo o art. 198: “Também não corre a prescrição contra os incapazes de
que trata o art. 3º”.

A alternativa C está incorreta, inexistindo condição suspensiva neste caso.

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A alternativa D está incorreta, pela redação do art. 5º, parágrafo único, inc. II: “Cessará, para os menores, a
incapacidade pelo casamento”.

A alternativa E está incorreta, pela conjugação do art. 1.517 (“O homem e a mulher com dezesseis anos
podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não
atingida a maioridade civil”) e seu parágrafo único (“Se houver divergência entre os pais, aplica-se o disposto
no parágrafo único do art. 1.631”) com o art. 1.631, parágrafo único (“Divergindo os pais quanto ao exercício
do poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo”).

11. (FCC / TJ-PE – 2015) Na habilitação para o casamento, se houver oposição de impedimento, o oficial
a) indeferirá o pedido de habilitação e remeterá o oponente e os nubentes às vias ordinárias em juízo, para
decisão do magistrado
b) encaminhará a oposição ao juiz, sem efeito suspensivo do procedimento, que, depois de regular instrução
e manifestação do ministério público, decidirá até a data do casamento.
c) encaminhará os autos, imediatamente, ao juiz, que intimará o oponente e os nubentes a indicarem provas,
que serão produzidas e, ouvido o ministério público, decidirá.
d) dará ciência do fato aos nubentes para que indiquem provas que desejam produzir, colhendo-as e em
seguida remeterá os autos ao juiz que, ouvido o ministério público, decidirá.
e) dará ciência do fato aos nubentes, para que indiquem provas que desejam produzir e remeterá os autos
ao juiz que decidirá depois da produção das provas pelo oponente e pelos nubentes, com a participação do
Ministério Público.

Comentários

A alternativa A está incorreta, já que não cabe ao oficial indeferir o pedido, mas ao juiz, nos termos do 1.526,
parágrafo único.

A alternativa B está incorreta, conforme o art. 67, §5º, da Lei 6.015/1973: “Se houver apresentação de
impedimento, o oficial dará ciência do fato aos nubentes, para que indiquem em três (3) dias prova que
pretendam produzir, e remeterá os autos a juízo; produzidas as provas pelo oponente e pelos nubentes, no
prazo de dez (10) dias, com ciência do Ministério Público, e ouvidos os interessados e o órgão do Ministério
Público em cinco (5) dias, decidirá o Juiz em igual prazo”.

A alternativa C está incorreta, porque o oficial somente remete a impugnação ao juiz após o oponente já ter
indicado suas provas.

A alternativa D está incorreta, como se extrai do art. 1.530, parágrafo único: “Podem os nubentes requerer
prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos alegados, e promover as ações civis e criminais contra o
oponente de má-fé”.

A alternativa E está correta, pela conjugação do art. 1.530 (“O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus
representantes nota da oposição, indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu”) com
o art. 1.526 (“A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência do

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Ministério Público”) e seu parágrafo único (“Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de
terceiro, a habilitação será submetida ao juiz”).

12. (FCC / TJ-SC – 2015) Joaquim, viúvo, é pai de José, que se casara com Amélia. José e Amélia
divorciaram-se. Três meses após esse divórcio, Joaquim e Amélia compareceram a um Cartório de Notas,
solicitando ao Tabelião que lavrasse uma escritura pública de união estável, escolhendo o regime da
comunhão universal de bens. O Tabelião recusou-se a lavrar a escritura, por reputar inválido o ato. A
recusa
a) justifica-se, mas poderá ser estabelecida a união estável entre os pretendentes depois de transcorridos
trezentos (300) dias do divórcio de Amélia e desde que os bens deixados pelo cônjuge de Joaquim tenham
sido inventariados e partilhados.
b) não se justifica, porque não há qualquer impedimento entre os pretendentes à união estável.
c) justifica-se, porque Joaquim e Amélia não podem estabelecer união estável.
d) só se justifica no tocante à escolha do regime de bens, porque seria obrigatório o regime da separação de
bens.
e) só se justifica no tocante à escolha do regime de bens, porque o único admissível é o da comunhão parcial
de bens na união estável.

Comentários

A alternativa A está incorreta, porque, no caso, Amélia tornou-se parente por afinidade em linha reta de
Joaquim, dado o matrimônio de José com ela.

A alternativa B está incorreta, pois, apesar de o CC/2002 tratar da impossibilidade, nesse caso, de
casamento, o impedimento vale também para a união estável. Fica aí, inclusive, a distinção entre a união
estável (pessoas que podem casar, mas não casam) e o concubinato (pessoas que não podem casar), segundo
variados autores.

A alternativa C está correta, dada a existência de impedimento absoluto existente, presente no art. 1.521,
inc. II: “Não podem casar os afins em linha reta”.

A alternativa D está incorreta, porque a limitação do regime de bens valeria caso o impedimento fosse
meramente relativo, nos termos do art. 1.523.

A alternativa E está incorreta, pelas mesmas razões expostas anteriormente, acrescendo-se, ainda, que na
união estável é possível selecionar regimes de bens outros que não o residual imposto pela lei no caso de
silêncio dos conviventes (“Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-
se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”).

13. (CEFET / MPE-BA – 2015) Assinale a alternativa CORRETA sobre casamento, segundo o Código Civil
Brasileiro:
a) O Ministério Público tem legitimidade para propor ação de decretação de nulidade do casamento do
enfermo mental sem necessário discernimento para os atos da vida civil ou pela infringência de qualquer
impedimento.

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b) O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na desigualdade de direitos e deveres dos
cônjuges.
c) Os parentes afins em linha reta podem se casar, em qualquer hipótese.
d) O casamento sob coação é considerado inexistente.
e) O casamento resultante de gravidez deve ser anulado por motivo de idade.

Comentários

As modificações promovidas pelo EPD anulariam essa questão, hoje. Isso, no entanto, não me impede de
analisar e comentá-la em detalhes.

A alternativa A está incorreta, dada a revogação do art. 1.548, inc. I, que sustentava a correção desta
alternativa.

A alternativa B está incorreta, de maneira evidente, ante a dicção do art. 1.511: “O casamento estabelece
comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”.

A alternativa C está incorreta, de acordo com o art. 1.521, inc. II: “Não podem casar os afins em linha reta”.

A alternativa D está incorreta, conforme o art. 1.558: “É anulável o casamento em virtude de coação, quando
o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal
considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares”.

A alternativa E está incorreta, pela redação do art. 1.551: “Não se anulará, por motivo de idade, o casamento
de que resultou gravidez”.

14. (FAPEC / MPE-MS – 2015) Considerando que Jorge possui 17 anos e deseja se casar com Fátima, a
qual possui 15 anos e está grávida, assinale a assertiva correta:
a) Tendo em vista que ambos não alcançaram a idade núbil atualmente, mostra-se nulo eventual casamento
celebrado entre Jorge e Fátima, pouco importando a autorização materna, paterna ou judicial.
b) É possível o casamento de Jorge e Fátima, desde que ambos obtenham apenas a autorização de seus pais,
independente de autorização judicial.
c) É possível o casamento de Jorge e Fátima, contudo, deverá ser com autorização judicial, tendo em vista
que a última está aquém da idade núbil, sendo aplicável, na hipótese, o regime de comunhão parcial de bens
se outro regime não for escolhido pelos nubentes.
d) Como regra, Jorge e Fátima podem casar no regime de participação final dos aquestos se obtiverem a
autorização de seus genitores, independentemente de a última estar grávida.
e) Jorge e Fátima podem se casar, mediante autorização judicial, sendo aplicável o regime de separação de
bens.

Comentários

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Simplificando as disposições que virão adiante, o entendimento doutrinário assentava a necessidade de


autorização judicial para o casamento de menores, que já atingiram a idade núbil, se os pais não fornecerem
a autorização (suprimento de vontade), antes do advento da Lei 13.811/2019. Caso o casamento que se
pretenda realizar envolva um menor que ainda não atingiu a idade núbil (16 anos), deveria haver autorização
judicial (suprimento de idade), ouvido o MP como fiscal da lei, antes da Lei 13.811/2019. Nesse caso, o
casamento se realizaria apenas de maneira excepcional, e não apenas se preenchidos os requisitos objetivos
constantes do CC/2002 (evitar imposição de pena ou no caso de gravidez, de acordo com o modificado art.
1.520).

A alternativa A está incorreta, como se extrai do art. 1.517: “O homem e a mulher com dezesseis anos podem
casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a
maioridade civil”.

A alternativa B está incorreta, conforme o art. 1.520: “Não será permitido, em qualquer caso, o casamento
de quem não atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código”.

A alternativa C está incorreta, dada a previsão do art. 1.641, inc. III: “É obrigatório o regime da separação de
bens no casamento de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial”.

A alternativa D está incorreta, segundo o supracitado art. 1.641, inc. I, já que exigida autorização judicial.

A alternativa E estava correta, como dito, antes da Lei 13.811/2019, dado que Fátima, para casar, precisava
necessariamente de autorização judicial, sendo ela também necessária para Jorge caso seus pais não
autorizem o casamento. A propósito, vale a leitura do Enunciado 329 da IV Jornada de Direito Civil:
“Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil, para evitar
imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez. Essa permissão merece interpretação
orientada pela dimensão substancial do princípio da igualdade jurídica, ética e moral entre o homem e a
mulher, evitando-se, sem prejuízo do respeito à diferença, tratamento discriminatório”. No entanto, com a
vigência da nova redação ao art. 1.520, não mais se pode falar em casamento, nesse caso, pelo que a
alternativa passa a estar também incorreta.

15. (CESPE / DPU – 2015) Conforme o STF, não se deve considerar a orientação sexual das pessoas no
que se refere à interpretação do conceito de família, de modo que o tratamento dado a casais
heteroafetivos e a pares homoafetivos deve ser isonômico.

Comentários

O item está correto, como se extrai da ADI 4.277 e da ADPF 132, a heteroafetividade ou homoafetividade
dos membros da família é irrelevante para a compreensão do conceito de família.

16. (FCC / DPE-MA – 2015) Sobre a pluralidade do conceito de família, a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, em sua redação original, reconheceu expressamente como entidades
familiares:
a) as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, chamadas pela doutrina de famílias homo afetivas,
conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal no ano de 2011.

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b) apenas as matrimoniais, informais e monoparentais, mas não impede o reconhecimento de outros


possíveis arranjos familiares como decorrência dos princípios e direitos fundamentais.
c) apenas as matrimoniais e informais, equiparando-as expressamente pelo princípio da igualdade entre
cônjuges e companheiros, de modo que qualquer distinção que a lei estabeleça entre o casamento e a união
estável é inconstitucional.
d) as famílias anaparentais, que são aquelas formadas por pessoas sem ascendência ou descendência entre
si, mas que se reúnem com base no afeto e no objetivo de juntos constituírem uma família.
e) as famílias pluriparentais ou recompostas, como aquelas decorrentes de vários casamentos, uniões
estáveis ou outros relacionamentos afetivos de seus membros.

Comentários

A alternativa A está incorreta, na forma do art. 226, §3º: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida
a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento”.

A alternativa B está correta, na forma do art. 226, §§3º e 4º, mencionados nas demais alternativas. No
entanto, como decidiu o STF, a proteção expressa a determinadas relações familiares não impede o
reconhecimento de outras entidades familiares, como a família homoafetiva.

A alternativa C está incorreta, de acordo com o art. 226, §4º: “Entende-se, também, como entidade familiar
a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”.

A alternativa D está incorreta, pois o art. 226 não menciona, em momento algum, as famílias anaparentais,
de maneira expressa.

A alternativa E está incorreta, igualmente, dado que o referido art. 226 também não menciona as famílias
pluriparentais.

17. (CESPE / DPE-PE – 2015) Considerando que Luciana e Carlos sejam casados em regime de comunhão
parcial de bens há dez anos e tenham um filho, julgue o seguinte item.
De acordo com entendimento do STJ, caso Carlos tenha um relacionamento afetivo extraconjugal duradouro
com Carla, se apresentando perante os amigos dela como marido, não será juridicamente admissível o
reconhecimento desse relacionamento como união estável, mas poderá a relação ser enquadrada como
sociedade de fato.

Comentários

O item está correto, conforme o STJ: “DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. AÇÃO DE
RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. RELAÇÃO CONCOMITANTE. DEVER DE FIDELIDADE. INTENÇÃO DE
CONSTITUIR FAMÍLIA. AUSÊNCIA. ARTIGOS ANALISADOS: ARTS. 1º e 2º da Lei 9.278/96. Na hipótese, a
recorrente não logrou êxito em demonstrar, nos termos da legislação vigente, a existência da união estável
com o recorrido, podendo, no entanto, pleitear, em processo próprio, o reconhecimento de uma eventual
uma sociedade de fato entre eles (REsp 1348458/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 08/05/2014, DJe 25/06/2014)”.

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18. (CESPE / TJ-DFT – 2014) A respeito dos institutos da alienação parental e união estável, assinale a
opção correta.
a) Por ausência de previsão legal acerca da união homoafetiva, o TJDFT decidiu que a união de pessoas do
mesmo sexo deve ser reconhecida como sociedade de fato.
b) A jurisprudência do STJ firmou entendimento de que o casamento válido não impede o reconhecimento
da união estável, desde que se comprove a separação de fato ou judicial.
c) O STJ consolidou entendimento de que, por ausência de previsão legal, não se poderá aplicar à união
estável o regime obrigatório de separação de bens para as hipóteses em que, no início do relacionamento,
os conviventes já contem com mais de sessenta anos de idade.
d) A lei enumera de forma exaustiva os atos que configuram alienação parental.
e) A consequência automática do reconhecimento, pelo julgador, da alienação parental é a alteração da
guarda da criança ou adolescente, para fins de preservação da integridade psicológica destes.

Comentários

A alternativa A está incorreta, já que o STF estabeleceu, na ADPF 132, que há igualdade entre as uniões
estáveis heteroafetivas e as uniões estáveis homoafetivas.

A alternativa B está correta, como se extrai do seguinte julgado: “DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. CASAMENTO E CONCUBINATO SIMULTÂNEOS.
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1. A união estável pressupõe a ausência de impedimentos para o casamento,
ou, pelo menos, que esteja o companheiroa) separado de fato, enquanto que a figura do concubinato
repousa sobre pessoas impedidas de casar. 2. Se os elementos probatórios atestam a simultaneidade das
relações conjugal e de concubinato, impõe-se a prevalência dos interesses da mulher casada, cujo
matrimônio não foi dissolvido, aos alegados direitos subjetivos pretendidos pela concubina, pois não há, sob
o prisma do Direito de Família, prerrogativa desta à partilha dos bens deixados pelo concubino. 3. Não há,
portanto, como ser conferido status de união estável a relação concubinária concomitante a casamento
válido (REsp 931.155/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/08/2007, DJ
20/08/2007, p. 281)”.

A alternativa C está incorreta, de acordo com o STJ: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO
DE FAMÍLIA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS.
COMPANHEIRO SEXAGENÁRIO. ART. 1.641, II, DO CÓDIGO CIVIL (REDAÇÃO ANTERIOR À LEI Nº 12.344/2010).
REGIME DE BENS. SEPARAÇÃO LEGAL. NECESSIDADE DE PROVA DO ESFORÇO COMUM. COMPROVAÇÃO.
BENFEITORIA E CONSTRUÇÃO INCLUÍDAS NA PARTILHA. SÚMULA Nº 7/STJ. É obrigatório o regime de
separação legal de bens na união estável quando um dos companheiros, no início da relação, conta com mais
de sessenta anos, à luz da redação originária do art. 1.641, II, do Código Civil, a fim de realizar a isonomia no
sistema, evitando-se prestigiar a união estável no lugar do casamento (REsp 1403419/MG, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/11/2014, DJe 14/11/2014)”.

A alternativa D está incorreta, conforme o art. 2º, parágrafo único da Lei 12.318/2010: “São formas
exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia,
praticados diretamente ou com auxílio de terceiros”.

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A alternativa E está incorreta, de acordo com o art. 6º, inc. V, da referida lei especial: “Caracterizados atos
típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com
genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da
decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir
ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso determinar a alteração da guarda para guarda
compartilhada ou sua inversão”.

19. (MP-MG / MP-MG – 2014) Assinale a alternativa INCORRETA:


a) A prescrição pode ser alegada a qualquer tempo pela parte a quem aproveita.
b) Entre associados, não há direitos e obrigações recíprocos.
c) A inviolabilidade da vida privada da pessoa natural é garantia absoluta amparável judicialmente.
d) A morte presumida na ausência não dissolve o casamento.

Comentários

A alternativa A está correta, conforme o art. 193: “A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de
jurisdição, pela parte a quem aproveita”.

A alternativa B está correta, consoante o parágrafo único do art. 53: “Não há, entre os associados, direitos
e obrigações recíprocos”.

A alternativa C está correta, de acordo com art. 21: “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a
requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário
a esta norma”. Absoluta, aqui, precisa ser compreendida como erga omnes, não como “impassível de
relativização no caso concreto”, claro, já que nem o princípio da dignidade da pessoa humana é princípio
absoluto nesse segundo sentido.

A alternativa D está incorreta, de acordo com o art. 1.571, inc. I, “A sociedade conjugal termina com a morte
de um dos cônjuges”. Se é presumida, não faz diferença alguma.

20. (FCC / DPE-RS – 2014) João e Maria, ele com 16 anos completos e ela com 15 anos e grávida de seis
meses, procuram a Defensoria Pública informando que desejam se casar. No entanto, embora sua mãe
consinta, o pai de Maria não concorda com o matrimônio, negando-se a autorizá-lo por motivação racial,
pois João é afrodescendente. Nesse caso:
a) não será permitido o casamento, uma vez que não é possível obter o suprimento de idade e de
consentimento em favor de Maria, haja vista ser ela absolutamente incapaz.
b) será permitido o casamento, mediante pedido judicial de suprimento de idade em favor de João e pedido
judicial de suprimento de idade e de consentimento em favor de Maria, ajuizado em face de seu genitor.
Será obrigatório o regime da separação de bens, sem comunicação, inclusive, dos aquestos provenientes do
esforço comum.
c) será permitido o casamento, mediante autorização extrajudicial de ambos os pais de João e pedido judicial
de suprimento de idade e de consentimento em favor de Maria, ajuizado em face de seu genitor. Será
obrigatório o regime da separação de bens.

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d) será permitido o casamento, mediante autorização extrajudicial de ambos os pais de João e pedido judicial
de suprimento de idade e de consentimento em favor de Maria, ajuizado em face de seu genitor, cabendo
aos noivos eleger o regime de bens.
e) será permitido o casamento, mediante autorização extrajudicial de ambos os pais de João e da mãe de
Maria, não sendo necessário o pedido judicial de suprimento de idade e de consentimento de Maria, uma
vez que está grávida. Será obrigatório o regime da separação de bens, sem comunicação, inclusive, dos
aquestos provenientes do esforço comum.

Comentários

A alternativa A está incorreta, na forma do art. 1.519 (“A denegação do consentimento, quando injusta,
pode ser suprida pelo juiz), cumulado com o art. 1.517: (“O homem e a mulher com dezesseis anos podem
casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a
maioridade civil”).

A alternativa B está incorreta, pois é desnecessário o suprimento de vontade em relação a João, se seus pais
concordarem com o casamento, podendo prover a autorização competente.

A alternativa C estava correta, nos termos do revogado art. 1.520 (“Excepcionalmente, será permitido o
casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de
pena criminal ou em caso de gravidez”) e nos demais dispositivos mencionados nas demais alternativas.
Agora, com a nova redação do art. 1.520 (“Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não
atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código”), não mais está correta.

A alternativa D está incorreta, consoante regra do art. 1.641, inc. III: “É obrigatório o regime da separação
de bens no casamento de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial”.

A alternativa E está incorreta, pelas mesmas razões já expostas nas demais alternativas.

21. (FCC / DPE-CE – 2014) Maria casou-se com Frederico, que, três anos depois, passou a ingerir bebida
alcoólica em excesso, a ponto de tornar insuportável a vida conjugal. Muito abalada, requereu a anulação
do casamento, alegando erro essencial quanto à pessoa do cônjuge. O pedido de Maria, por esta causa,
deverá ser:
a) deferido, pois incidiu em erro da vontade.
b) deferido, pois o alcoolismo tornou insuportável a vida em comum.
c) indeferido, pois transcorrido prazo decadencial de dois anos para a formulação do pedido.
d) indeferido, pois o erro essencial somente teria se caracterizado se a causa fosse anterior ao casamento.
e) indeferido, pois transcorrido prazo prescricional de dois anos para a formulação do pedido.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pelas razões que vou mencionar na alternativa D, abaixo.

A alternativa B está incorreta, igualmente, pelas razões que vou mencionar na alternativa D, abaixo.

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A alternativa C está incorreta, por aplicação do art. 1.560, inc. III ( “O prazo para ser intentada a ação de
anulação do casamento, a contar da data da celebração, é de três anos, nos casos dos incisos I a IV do art.
1.557”), que menciona a situação do art. 1.557, inc. I (“Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro
cônjuge o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado”).

A alternativa D está correta, já que o art. 1.557, inc. I (“Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro
cônjuge o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado”) é claro ao dispor que o
conhecimento tem de ser ulterior ao casamento, ou seja, a causa é anterior a ele.

A alternativa E está incorreta, mais uma vez, pelas razões que mencionei na alternativa C, acima.

22. (VUNESP / TJ-SP – 2013) A respeito do casamento, é certo afirmar:


a) É vedado, em qualquer circunstância, o casamento de pessoa menor de 16 anos.
b) Enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal, não pode casar o
divorciado, sendo nulo o casamento se assim contraído.
c) O casamento nuncupativo poderá ser celebrado na presença de seis testemunhas que com os nubentes
não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau, devendo ser comunicado à
autoridade judicial mais próxima no prazo de 10 dias.
d) O casamento pode ser feito por procuração outorgada mediante instrumento particular, desde que com
poderes especiais.

Comentários

A alternativa A está correta, pela previsão do art. 1.520, com a redação da da pela Lei 13.811/2019: “Não
será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil, observado o disposto no
art. 1.517 deste Código”.

A alternativa B está incorreta, tratando-se de causa suspensiva, apenas, segundo o art. 1.523, inc. III: “Não
devem casar o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal”.

A alternativa C está correta, na conjugação do art. 1.540 (“Quando algum dos contraentes estiver em
iminente risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu
substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não
tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau”) com o art. 1.541 (“Realizado o
casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em dez
dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração”).

A alternativa D está incorreta, na literalidade do art. 1.542: “O casamento pode celebrar-se mediante
procuração, por instrumento público, com poderes especiais”.

23. (MPE-SP / MPE-SP – 2013) O Código Civil Brasileiro estabelece como idade núbil
a) doze anos.

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b) quatorze anos.
c) dezesseis anos.
d) dezoito anos.
e) vinte e um anos.

Comentários

A alternativa C está correta, na literalidade do art. 1.517: “O homem e a mulher com dezesseis anos podem
casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a
maioridade civil”.

As alternativas A, B, D e E estão incorretas, consequentemente.

24. (CESPE / DP-DF – 2013) Considerando que o estado civil de cada pessoa deve refletir sua realidade
afetiva, em detrimento das formalidades e valores essencialmente patrimoniais, o STJ entende que não é
necessária a prévia partilha de bens para a conversão da separação judicial em divórcio.

Comentários

O item está correto, pela interpretação dada pela Corte ao art. 1.581: “O divórcio pode ser concedido sem
que haja prévia partilha de bens”.

25. (FCC / DPE-AM – 2013) A união estável


a) equipara-se, para todos os fins, ao casamento civil, inclusive no que toca à prova.
b) pode ser constituída entre pessoas casadas, desde que separadas judicialmente ou de fato.
c) demanda diversidade de gêneros, de acordo com recente entendimento do supremo tribunal federal.
d) será regida, em seus aspectos patrimoniais, pelo regime da separação obrigatória, salvo disposição
contrária em contrato firmado pelos companheiros.
e) se dissolvida, não autoriza os companheiros a pedirem alimentos.

Comentários

A alternativa A está incorreta, já que a união estável é união de fato, que depende de demonstração
probatória cabal, ao passo que o casamento dispensa essa prova, já que a certidão de casamento, ao exigir
numerosas formalidades para ser obtida, facilita a prova.

A alternativa B está correta, pois a separação de fato elimina o impedimento matrimonial à união estável.

A alternativa C está incorreta, dado que pode haver união estável de pessoas em relação homoafetiva,
segundo a ADI 132 do STF.

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A alternativa D está incorreta, porque à união estável se aplica, em não havendo regulação específica pelos
companheiros, pelo regime da comunhão parcial de bens, que é o regime geral, como trataremos mais
adiante.

A alternativa E está incorreta, dada a equiparação da união estável ao casamento, inclusive para fins
alimentares.

26. (FCC / DPE-AM – 2013) O divórcio:


a) não pode ser concedido sem prévia partilha dos bens.
b) demanda prévia separação judicial, há pelo menos um ano, ou de fato, há pelo menos dois.
c) só pode ser requerido se comprovada culpa de um dos cônjuges.
d) pode dar ensejo à obrigação de prestar alimentos, a qual não se extingue com novo casamento do
alimentante.
e) não importa restrição aos direitos e deveres decorrentes do poder familiar, salvo na hipótese de
casamento de qualquer dos pais.

Comentários

A alternativa A está incorreta, na forma da Súmula 197 do STJ: “O divórcio direto pode ser concedido sem
que haja prévia partilha dos bens”.

A alternativa B está incorreta, pois, depois da EC 66/2010, não há mais necessidade de prévio prazo de
separação judicial.

A alternativa C está incorreta, porque, segundo a doutrina, o elemento culpa não é mais relevante para o
divórcio.

A alternativa D está correta, segundo o art. 1.709: “O novo casamento do cônjuge devedor não extingue a
obrigação constante da sentença de divórcio”.

A alternativa E está incorreta, já que o novo casamento não restringe direitos ou elimina deveres do pai ou
da mãe.

27. (CESPE / DPE-AL – 2012) De acordo com a jurisprudência, não se deve declarar a união estável entre
duas pessoas que celebrem expressamente contrato de namoro no qual esclareçam o propósito de não
viverem em união estável, sob pena de se violar a boa-fé da parte inocente.

Comentários

O item está incorreto, já que o dirigismo estatal em matéria familiar faz com que a jurisprudência, em dadas
situações, afaste a aplicação desse tipo de contrato.

28. (FGV / PC-MA – 2012) A respeito do instituto do casamento, analise as afirmativas a seguir.
I. Os pais, tutores ou curadores podem revogar a autorização até à data da celebração do casamento.

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II. Quando injusta, a denegação do consentimento, pode ser suprida pelo juiz.
III. Será permitido, excepcionalmente, o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil para evitar
imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez.
Assinale:
a) se somente a afirmativa I estiver correta.
b) se somente a afirmativa II estiver correta.
c) se somente a afirmativa III estiver correta.
d) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
e) se todas as afirmativas estiverem corretas.

Comentários

O item I está incorreto, porque o art. 1.518 (“Até à celebração do casamento podem os pais ou tutores
revogar a autorização”) não se aplica ao caso de curatela, que inclui as pessoas com deficiência, por força de
seu §2º: “A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair matrimônio,
expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador”.

O item II está correto, conforme o art. 1.519: “A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser
suprida pelo juiz”.

O item III está incorreto, de acordo com o art. 1.520, desde a Lei 13.811/2019: “Não será permitido, em
qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste
Código”.

A alternativa B está correta, portanto.

29. (FUMARC / PC-MG – 2011) Considerando-se os aspectos gerais do casamento, é INCORRETO


afirmar que
a) o casamento tem como característica ser um ato personalíssimo, solene, de união permanente, regido por
normas de ordem pública e dissolúvel.
b) o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, sem que se tenha que alegar alguma causa ou mesmo
sem mais prazo algum.
c) o casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas pela legislação vigente, terá́ efeitos civis
se, a requerimento do casal, for registrado, submetendo-se aos mesmos requisitos exigidos para o
casamento civil, contudo, na hipótese de uma das partes falecer, antes do casamento religioso ser
reconhecido, não se pode mais requer os efeitos civis.
d) as causas suspensivas do casamento visam a resguardar interesse público e, portanto, podem ser opostos
por qualquer pessoa capaz até o momento da celebração do casamento.

Comentários

A alternativa A está correta, apresentando a assertiva várias das características do casamento.

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A alternativa B está correta, já que desde a EC 66/2010 é desnecessário aguardar qualquer prazo para a
requisição do divórcio, não sendo necessária motivação há tempos.

A alternativa C está correta, porque, sendo o casamento ato personalíssimo, o falecimento do nubente antes
da requisição de sua eficacização civil impede a atribuição de efeito civil. Nada obstante, não se veda o
reconhecimento de eventual união estável e, em casos-limite, a posse de estado de casado.

A alternativa D está incorreta, como se vê pelo art. 1.524: “As causas suspensivas da celebração do
casamento podem ser arguidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consanguíneos ou
afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam também consanguíneos ou afins”.

30. (CESPE / DPU – 2010) Admitida a existência de união estável e de sua regulação por contrato
escrito, é lícita a disposição acerca do patrimônio adquirido durante uma união estável, com eficácia na
futura sucessão, mas não é lícita com relação ao patrimônio anterior; para este, deve utilizar-se, se for o
caso, escritura pública de doação.

Comentários

O item está correto, porque as disposições patrimoniais que se preveem no contrato têm validade e eficácia
apenas após o vínculo familiar, não se permitindo disposições patrimoniais para a época que antecedia o
enlace. Fica fácil de visualizar essa situação relativamente ao casamento, que somente regula as relações
patrimoniais a partir de sua celebração, nunca relativamente às situações pretéritas.

31. (PGE / PGE-MS – 2005) Analisando as disposições do Código Civil, concernentes às causas
suspensivas do casamento, julgue os itens abaixo:
I - A situação do viúvo ou da viúva que tiver filhos do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos
bens do casal e der partilha aos herdeiros é tratada pela codificação de 2002 como causa suspensiva não
mais como impedimento;
II - O raptor não pode casar com a raptada enquanto esta não se ache fora do seu poder em lugar seguro;
III - As causas suspensivas interferem somente na livre escolha do regime de bens pelos cônjuges, até que se
cumpram as exigidas pelo texto de lei;
IV - O não cumprimento das formalidades previstas na legislação obriga que o casamento seja celebrado pelo
regime legal da separação obrigatória;
V - A menoridade é causa suspensiva.
a) Todos os itens são verdadeiros;
b) Somente os itens I e II são falsos;
c) Somente os itens III e IV são verdadeiros;
d) só os itens II e V são falsos;
e) Só o item IV é verdadeiro.

Comentários

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O item I está correto, na forma do art. 1.523, inc. I: “Não devem casar o viúvo ou a viúva que tiver filho do
cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros”.

O item II está incorreto, porque essa é uma causa suspensiva do casamento na legislação de 1916 (art. 183,
inc. X), não mais presente no CC/2002.

O item III está correto, de acordo com o art. 1.641, inc. I: “É obrigatório o regime da separação de bens no
casamento das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do
casamento”.

O item IV está correto, conforme o art. 1.641, inc. I, supracitado.

O item V está incorreto, consoante se extrai do art. 1.517: “O homem e a mulher com dezesseis anos podem
casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a
maioridade civil”.

A alternativa D está correta, portanto.

32. (FCC / DPE-MA – 2003) Considera-se inexistente o casamento entre:


a) pessoas do mesmo sexo.
b) ascendente e descendente.
c) pessoas que sejam casadas.
d) afins em linha reta ou na colateral.
e) o adotante e quem foi cônjuge do adotado.

Comentários

A alternativa A está incorreta, mas estava, em 2003, correta, pois a diversidade de gêneros era condição
para o casamento. Não mais, portanto.

A alternativa B está incorreta, por se tratar de casamento nulo, nos termos do Art. 1.521, inc. I: “Não podem
casar os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil”.

A alternativa C está incorreta, por se tratar de casamento nulo, nos termos do Art. 1.521, inc. IV: “Não podem
casar as pessoas casadas”.

A alternativa D está incorreta, por se tratar de casamento nulo, nos termos do Art. 1.521, incs. II e IV: “Não
podem casar os afins em linha reta, os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro
grau inclusive”.

A alternativa E está incorreta, por se tratar de casamento nulo, nos termos do Art. 1.521, inc. III: “Não podem
casar o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante”.

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Direito Conjugal Patrimonial

33. (VUNESP / MP-SP – 2017) A legislação brasileira, quanto ao regime de comunhão universal entre
cônjuges, determina que são
a) incluídos na comunhão universal as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com
seus aprestos ou reverterem em proveito comum.
b) incluídos na comunhão universal os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge, percebidos na
constância do casamento.
c) excluídos da comunhão universal todos os bens anteriores ao casamento, pois apenas os bens que forem
adquiridos a partir da celebração do casamento se comunicam integralmente.
d) excluídos da comunhão universal joias pessoais e prêmios personalíssimos havidos ou recebidos por um
dos cônjuges antes ou durante o casamento.
e) excluídos da comunhão universal os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os
sub-rogados em seu lugar

Comentários

A alternativa A está incorreta, de acordo com o art. 1.668, inc. III: “São excluídos da comunhão universal de
bens as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem
em proveito comum”.

A alternativa B está incorreta, na dicção do art. 1.668, inc. III (“São excluídos da comunhão universal de bens
os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659), que remete ao art. 1.659, inc. VI: “Excluem-se da
comunhão os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge”.

A alternativa C está incorreta, segundo o a art. 1.667: “O regime de comunhão universal importa a
comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do
artigo seguinte”.

A alternativa D está incorreta, conforme o supracitado art. 1.667, que não exclui tais bens da comunhão.

A alternativa E está correta, na literalidade do art. 1.668, inc. I: “São excluídos da comunhão universal de
bens os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar”.

34. (CESPE / DPU – 2017) “No mundo contemporâneo (pós-moderno), a família perdeu o caráter
natural, assumindo nova feição, forjada, agora, em fenômenos culturais. A família de hoje representa um
“fenômeno humano em que se funda a sociedade, sendo impossível compreendê-la senão à luz da
interdisciplinaridade, máxime na sociedade contemporânea, marcada por relações complexas, plurais,
abertas, multifacetadas e (por que não?) globalizadas”.
A respeito do assunto objeto do texto precedente, julgue os itens que se seguem, tendo como referência o
entendimento dos tribunais superiores.

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Antes da regulamentação legal da união estável, era necessário para futura partilha igualitária, comprovar o
esforço comum dos companheiros na aquisição do patrimônio coletivo, o que não é mais necessário em
razão da atual presunção de mútua assistência.

Comentários

O item está correto, como se extrai de julgado que analisou situação semelhante à descrita no enunciado
relativamente à alteração levada a cabo pela Lei 9.278/1996: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. UNIÃO
ESTÁVEL. PATRIMÔNIO EM NOME DO COMPANHEIRO. PROVA DO ESFORÇO COMUM. LEI 9.278/96. UNIÃO
DISSOLVIDA ANTES DE SUA VIGÊNCIA. INAPLICABILIDADE. PARTILHA PROPORCIONAL À CONTRIBUIÇÃO
INDIVIDUAL. MODIFICAÇÃO DO PERCENTUAL ESTABELECIDO. ÓBICE DA SÚMULA 07/STJ. A jurisprudência de
ambas as Turmas que integram a Segunda Seção desta Corte é firme no sentido de que, existente a prova do
esforço comum na aquisição ou incremento do patrimônio de qualquer dos companheiros, ainda que
indireta a contribuição, abre-se ensejo à partilha dos bens (Súmula 380/STF). Não se aplicam às uniões livres
dissolvidas antes de 13.05.96 (data da publicação) as disposições contidas na Lei 9.278/96, principalmente
no concernente à presunção de se formar o patrimônio com o esforço comum igualitário, pois aquelas
situações jurídicas já se achavam consolidadas antes da vigência do diploma normativo. A partilha do
patrimônio deve, pois, observar a contribuição de cada um dos concubinos para a aquisição dos bens, não
significando, necessariamente, meação (REsp 174.051/RJ, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 30/04/2002, DJ 01/07/2002, p. 335)”.

35. (CESPE / TJ-AM – 2016) A respeito do direito de família, assinale a opção correta.
a) Dos nubentes que optam pelo regime de comunhão universal de bens não se exige a formulação de pacto
antenupcial, ato solene lavrado por escritura pública.
b) É considerado bem de família, insuscetível de penhora, o único imóvel residencial do devedor no qual
resida seu familiar, ainda que ele, proprietário, não habite no imóvel.
c) O fato de um casal de namorados projetar constituir família no futuro caracteriza a união estável se houver
coabitação.
d) O casamento putativo não será reconhecido de ofício pelo juiz.
e) Se não houver transação em sentido contrário, as verbas indenizatórias integram a base de cálculo da
pensão alimentícia.

Comentários

A alternativa A está incorreta, uma vez que contradiz o parágrafo único do art. 1.640, que dita: “Poderão os
nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à
forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura
pública, nas demais escolhas”.

A alternativa B está correta, conforme o STJ: “EXECUÇÃO FISCAL. ÚNICO IMÓVEL DO DEVEDOR CEDIDO A
FILHO. BEM DE FAMÍLIA. Constitui bem de família, insuscetível de penhora, o único imóvel residencial do
devedor em que resida seu filho ou demais familiares. A circunstância de o devedor não residir no imóvel,
que se encontra cedido a familiares, não constitui óbice ao reconhecimento do favor legal. Inteligência dos

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arts. 1º e 5º da Lei 8.009/90 (EREsp 1216187/SC, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 14/05/2014, DJe 30/05/2014)”.

A alternativa C está incorreta, de maneira óbvia, já que o “objetivo de constituição de família” vai além da
mera projeção da vida no futuro.

A alternativa D está incorreta, segundo boa parte da doutrina. No entanto, a questão está longe de consenso,
como lecionam, por exemplo Cahali e Caio Mario. A questão não me parece equivocada, superficialmente,
mas, como eu disse, creio que não haveria óbice ao reconhecimento, sem impulso processual, nos casos de
nulidade matrimonial.

A alternativa E está incorreta, segundo o STJ: “Os alimentos incidem sobre verbas pagas em caráter habitual,
aquelas incluídas permanentemente no salário do empregado. A verba alimentar incide, portanto, sobre
vencimentos, salários ou proventos, valores auferidos pelo devedor no desempenho de sua função ou de
suas atividades empregatícias, decorrentes dos rendimentos ordinários do devedor. As parcelas
denominadas auxílio-acidente, cesta-alimentação e vale-alimentação, que tem natureza indenizatória, estão
excluídas do desconto para fins de pensão alimentícia porquanto verbas transitórias (STJ - REsp: 1.159.408-
PB, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 07/11/2013, T3 - TERCEIRA TURMA,
Data de Publicação: DJe 25/11/2013)”.

36. (FCC / PGM-São Luís (MA) – 2016) Paulo e Ana moram juntos há 10 anos, em convivência estável e
como se fossem casados. Ademais, Paulo é separado de fato de Camila, tendo nascido desta união Mauro.
Paulo e Ana, durante a profícua união, de comum adquiriram um apartamento no valor de R$ 500.000,00,
uma moto no valor de R$ 100.000,00. Destaque-se que ambos contribuíram financeiramente para a
aquisição dos bens, unidos seus esforços e patrimônio para tanto, todavia decidiram romper o convívio
afetivo por incompatibilidades. Em relação à situação fática exposta, é correto afirmar:
a) Paulo e Ana viveram em união estável, aplicando-se às relações patrimoniais, em regra, o regime de
comunhão parcial de bens, devendo isso ser levado em conta para o rompimento e a partilha dos bens.
b) Percebendo que Paulo era separado de fato de Camila, a relação desenvolvida com Ana realmente se dava
como concubinato e não, de outro lado, como união estável.
c) Na união estável, aplica-se, às relações patrimoniais, sempre o regime da comunhão parcial de bens.
d) Ressalvando-se contrato escrito entre os companheiros, na união estável, aplica-se às relações
patrimoniais, o regime da separação de bens.
e) Já que Paulo era separado de fato de Camila, não se impediria a existência de união estável com Ana,
todavia, os bens não serão divididos entre ambos porque na dissolução de união estável não cabe partilha
de bens.

Comentários

A alternativa A está correta, na forma do art. 1.725: “Na união estável, salvo contrato escrito entre os
companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”.

A alternativa B está incorreta, dado que, segundo a jurisprudência, a distinção entre a união estável e o
concubinato reside exatamente na possibilidade de, na primeira situação, poder haver conversão em

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casamento, ao passo que no segundo, não. Como Paulo estava separado de fato de Ana, não havia
impedimento para que ele se unisse a Ana (em sentido mais amplo, claro).

A alternativa C está incorreta, segundo o art. 1.725 supramencionado na alternativa A.

A alternativa D está incorreta, conforme o art. 1.725 supramencionado na alternativa A.

A alternativa E está incorreta, na dicção do art. 1.725 supramencionado na alternativa A.

37. (FCC / DPE-BA – 2016) Margarida de Oliveira conviveu em união estável com Geraldo Teixeira desde
o ano de 2006, ambos pessoas capazes e não idosos. Não realizaram pacto de convivência. Durante o
relacionamento, Margarida, funcionária pública, recebia salário equivalente a dez salários mínimos,
enquanto Geraldo não realizava qualquer atividade remunerada. Em 2010, Margarida adquiriu, por
contrato de compra e venda, um bem imóvel onde o casal passou a residir. Em 2015, recebeu o valor de
R$ 100.000,00 (cem mil reais), deixado por seu pai por sucessão legítima.
Diante desta hipótese, é correto dizer que Geraldo
a) não tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, uma vez que o bem foi
adquirido sem qualquer participação de Geraldo, mas faz jus à partilha do valor recebido a título de herança
por Margarida, uma vez que o regime de bens aplicável à relação.
b) não tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, uma vez que o bem foi
adquirido sem qualquer participação de Geraldo, e também não faz jus à partilha do valor recebido a título
de herança por Margarida, uma vez que o regime de bens aplicável à relação não contempla herança.
c) tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, independente de prova de
esforço comum, mas não faz jus à partilha do valor recebido a título de herança por Margarida, uma vez que
o regime de bens aplicável à relação não contempla herança.
d) tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, independente de prova de
esforço comum, como também faz jus à partilha do valor recebido a título de herança por Margarida, uma
vez que o regime de bens aplicável à relação contempla herança.
e) tem direito tanto à meação do imóvel adquirido na constância da união estável bem como à partilha do
valor recebido a título de herança por Margarida, desde que prove esforço comum em ambas as situações.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois, segundo o art. 1.725, “Na união estável, salvo contrato escrito entre os
companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”.
Com isso, prevê o art. 1.660, inc. I, que “Entram na comunhão, os bens adquiridos na constância do
casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges”.

A alternativa B está incorreta, pelas mesmas razões da alternativa A, supracitada, pela aplicação combinada
dos arts. 1.725 e 1.660, inc. I, do CC/2002.

A alternativa C está correta, pela conjugação dos dois dispositivos legais supracitados (art. 1.725 e art. 1.660,
inc. I), bem como do art. 1.659, inc. I (“Excluem-se da comunhão, os bens que cada cônjuge possuir ao casar,

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e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu
lugar”).

A alternativa D está incorreta, pelas mesmas razões declinadas na alternativa anterior, especialmente em
relação ao art. 1.659, inc. I.

A alternativa E está incorreta, mais uma vez, pela conjugação dos artigos legais supramencionados.

38. (FCC / DPE-BA – 2016) João, atualmente com 20 anos de idade, foi diagnosticado com esquizofrenia.
Em razão desta grave doença mental, João tem delírios constantes e alucinações, e apresenta dificuldades
de discernir o que é real e o que é imaginário, mesmo enquanto medicado. Em razão deste quadro, em
2014, logo após completar 18 anos, sofreu processo de interdição, que culminou no reconhecimento de
sua incapacidade para a prática de todos os atos da vida civil, sendo-lhe nomeado curador na pessoa de
Janice, sua mãe. Entretanto, ele é apaixonado por Tereza e deseja com ela se casar. Afirmou que em sinal
de seu amor, quer escolher o regime da comunhão total de bens. Levando em consideração o direito
vigente, João
a) não poderá contrair matrimônio de forma válida e nem celebrar pacto antenupcial para a escolha do
regime de bens ainda que tenha o consentimento de sua genitora, pois o casamento seria inexistente em
razão de vício da vontade.
b) poderá contrair matrimônio de forma válida independentemente do consentimento de sua curadora, mas
depende da sua assistência para celebrar validamente pacto antenupcial para a escolha do regime de bens.
c) poderá contrair matrimônio de forma válida e celebrar pacto antenupcial para a escolha do regime de
bens, independentemente do consentimento de sua curadora.
d) não poderá contrair matrimônio de forma válida e nem celebrar pacto antenupcial para a escolha do
regime de bens, ainda que contasse com o consentimento de sua curadora, pois o casamento será nulo de
pleno direito por ausência de capacidade.
e) poderá contrair matrimônio de forma válida independentemente do consentimento de sua curadora, mas
não poderá celebrar validamente pacto antenupcial para a escolha do regime de bens no caso, pois a lei
impõe o regime da separação obrigatória à espécie.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pela previsão expressa do art. 6º, inc. I, da Lei 13.146/2016, o Estatuto da
Pessoa com Deficiência – EPD: “A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para
casar-se e constituir união estável”.

A alternativa B está correta, na forma do art. 6º, inc. I, supracitado, em combinação com o art. 85 do mesmo
EPD: “A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial”.

A alternativa C está incorreta, pois ele precisa de intervenção apenas nos atos negociais e, como o pacto
antenupcial, que é um ato negocial, é exigido em todos os regimes de bens que não o da comunhão parcial,
por força do art. 1.640, parágrafo único (“Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por
qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão

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parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas”), necessitará ele da
intervenção da curadora apenas quanto a esse ato.

A alternativa D está incorreta, e estaria correta se vigessem ainda as regras matrimoniais estabelecidas pela
redação original do CC/2002, antes da entrada em vigor do EPD.

A alternativa E está incorreta, dado que o art. 1.641, incs. I a III, não exige esse regime de bens para
o caso em tela: “É obrigatório o regime da separação de bens no casamento das pessoas que o
contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento, da pessoa maior
de 70 (setenta) anos, de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial”.
39. (VUNESP / TJ-SP – 2015) É correto afirmar que
a) salvo no regime da separação, os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e
rendimentos, para o sustento da família e a educação dos filhos.
b) as causas suspensivas do casamento podem ser opostas por qualquer pessoa.
c) se excluem da comunhão parcial de bens os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge.
d) é obrigatório o regime da separação de bens aos que contraírem matrimônio com inobservância das
cláusulas de impedimento da celebração do casamento.

Comentários

A alternativa A está incorreta, segundo a parte final do art. 1.568: “Os cônjuges são obrigados a concorrer,
na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos filhos,
qualquer que seja o regime patrimonial”.

A alternativa B está incorreta, pela aplicação do art. 1.524: “As causas suspensivas da celebração do
casamento podem ser arguidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consanguíneos ou
afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam também consanguíneos ou afins”.

A alternativa C está correta, conforme o disposto no art. 1.659, inc. VI: “Excluem-se da comunhão os
proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge”.

A alternativa D está incorreta, já que em se tratando de impedimentos, não podem as pessoas casar; impõe-
se o regime de separação de bens nos casos de causas suspensivas, nos casos do art. 1.641, incisos.

40. (FCC / TJ-CE – 2015) Analise as assertivas a seguir:


I. O pacto antenupcial não terá efeito perante terceiros senão depois de registrado em livro especial pelo
oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.
II. É inalterável o regime de bens do casamento, ainda que mediante autorização judicial.
III. No regime da comunhão universal de bens só não se comunicam aqueles herdados ou recebidos por
doação com cláusula de incomunicabilidade.
IV. No regime da comunhão parcial de bens não se comunicam as obrigações provenientes de atos ilícitos,
salvo reversão em proveito do casal.

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V. No regime de separação de bens, ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal
na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto
antenupcial.
Sobre o regime de bens do casamento, é correto o que se afirma APENAS em
a) III, IV e V.
b) I, III e V.
c) I, IV e V.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.

Comentários

O item I está correto, na literalidade do art. 1.657: “As convenções antenupciais não terão efeito perante
terceiros senão depois de registradas, em livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos
cônjuges”.

O item II está incorreto, conforme o art. 1.639, §2º: “É admissível alteração do regime de bens, mediante
autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas
e ressalvados os direitos de terceiros”.

O item III está incorreto, já que a lista do art. 1.668 é bem mais longa. Veja: “São excluídos da comunhão:

I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar;

II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição


suspensiva;

III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem
em proveito comum;

IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade;

V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659”.

O item IV está correto, de acordo com o art. 1.659, inc. IV: “Excluem-se da comunhão as obrigações
provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal”.

O item V está correto, consoante a regra do art. 1.688: “Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para
as despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em
contrário no pacto antenupcial”.

A alternativa C está correta, portanto.

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41. (CESPE / TJ-DFT – 2015) A respeito de institutos relacionados ao direito de família, assinale a opção
correta conforme a legislação de regência e a jurisprudência.
a) É vedada a aplicação da proteção ao bem de família ao imóvel sobre o qual tenha sido constituída cláusula
de usufruto vitalício em favor de genitor do proprietário.
b) A obrigação alimentícia deve ser exonerada com a obtenção da maioridade do alimentado, visto que essa
mudança na capacidade civil extingue, de forma automática, o direito à percepção de alimentos.
c) É obrigatório que o juiz homologue acordo a respeito da partilha de bens em ação de separação judicial,
ainda que o magistrado constate a ocorrência de efetivo prejuízo a um dos cônjuges.
d) É autorizado à genitora retificar o seu patronímico no registro de nascimento de seus filhos após o divórcio,
quando deixar de utilizar o nome de casada.
e) No regime de separação obrigatória de bens, é vedada a comunicação de bens adquiridos na constância
do casamento.

Comentários

A alternativa A está incorreta, na dicção da jurisprudência do STJ: “PROCESSO CIVIL. DIREITO CIVIL.
EXECUÇÃO. LEI 8.009/90. PENHORA DE BEM DE FAMÍLIA. DEVEDOR NÃO RESIDENTE EM VIRTUDE DE
USUFRUTO VITALÍCIO DO IMÓVEL EM BENEFÍCIO DE SUA GENITORA. DIREITO À MORADIA COMO DIREITO
FUNDAMENTAL. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ESTATUTO DO IDOSO. IMPENHORABILIDADE DO
IMÓVEL. A Lei 8.009/1990 institui a impenhorabilidade do bem de família como um dos instrumentos de
tutela do direito constitucional fundamental à moradia e, portanto, indispensável à composição de um
mínimo existencial para vida digna, sendo certo que o princípio da dignidade da pessoa humana constitui-se
em um dos baluartes da República Federativa do Brasil (art. 1º da CF/1988), razão pela qual deve nortear a
exegese das normas jurídicas, mormente aquelas relacionadas a direito fundamental. O caso sob análise
encarta a peculiaridade de a genitora do proprietário residir no imóvel, na condição de usufrutuária vitalícia,
e aquele, por tal razão, habita com sua família imóvel alugado. Forçoso concluir, então, que a Constituição
Federal alçou o direito à moradia à condição de desdobramento da própria dignidade humana, razão pela
qual, quer por considerar que a genitora do recorrido é membro dessa entidade familiar, quer por vislumbrar
que o amparo à mãe idosa é razão mais do que suficiente para justificar o fato de que o nu-proprietário
habita imóvel alugado com sua família direta, ressoa estreme de dúvidas que o seu único bem imóvel faz jus
à proteção conferida pela Lei 8.009/1990 (REsp 950.663/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 10/04/2012, DJe 23/04/2012)”.

A alternativa B está incorreta, conforme a Súmula 358 do STJ: “O cancelamento de pensão alimentícia de
filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios
autos”.

A alternativa C está incorreta, segundo o art. 1.574, parágrafo único: “O juiz pode recusar a homologação e
não decretar a separação judicial se apurar que a convenção não preserva suficientemente os interesses dos
filhos ou de um dos cônjuges”.

A alternativa D está correta, de acordo com o STJ: ”Se a genitora, ao se divorciar, volta a usar seu nome de
solteira, é possível que o registro de nascimento dos filhos seja retificado para constar na filiação o nome
atual da mãe. É direito subjetivo da pessoa retificar seu patronímico no registro de nascimento de seus filhos

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após divórcio. A averbação do patronímico no registro de nascimento do filho em decorrência do casamento


atrai, à luz do princípio da simetria, a aplicação da mesma norma à hipótese inversa, qual seja, em
decorrência do divórcio, um dos genitores deixa de utilizar o nome de casado (art. 3º, parágrafo único, da
Lei nº 8.560/1992). Em razão do princípio da segurança jurídica e da necessidade de preservação dos atos
jurídicos até então praticados, o nome de casada não deve ser suprimido dos assentamentos, procedendo-
se, tão somente, a averbação da alteração requerida após o divórcio. (3ª Turma. REsp 1.279.952-MG, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 3/2/2015)”.

A alternativa E está incorreta, a teor da Súmula 377 do STF: “No regime de separação legal de bens,
comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”.

42. (CESPE / TJ-DFT – 2015) De acordo com a jurisprudência do STJ, assinale a opção correta no que
concerne ao instituto da união estável.
a) Diante da inaplicabilidade de analogia com a legislação referente às relações estáveis heteroafetivas, é
vedado o reconhecimento post mortem de união homoafetiva.
b) Apesar de não estar previsto no Código Civil, o companheiro supérstite tem o direito real de habitação
sobre o imóvel de propriedade do falecido onde o casal residia.
c) É permitida a alienação de bem imóvel adquirido na constância de união estável independentemente da
autorização de um dos companheiros.
d) Em uma eventual ação de alimentos que seja posterior à dissolução de união estável homoafetiva, é
juridicamente impossível o pedido de alimentos formulado pelo ex-companheiro.
e) Caso um senhor, convivente em união estável, preste fiança sem a outorga uxória de sua companheira,
tal fiança será nula.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois o STF estabeleceu, na ADPF 132, que há igualdade entre as uniões estáveis
heteroafetivas e as uniões estáveis homoafetivas.

A alternativa B está correta, conforme o STJ: “DIREITO DAS SUCESSÕES. RECURSO ESPECIAL. SUCESSÃO
ABERTA NA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. COMPANHEIRA SOBREVIVENTE. DIREITO REAL DE
HABITAÇÃO. ART. 1.831 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. 1. O novo Código Civil regulou inteiramente a sucessão
do companheiro, ab-rogando as leis da união estável, nos termos do art. 2º, § 1º da Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro - LINDB. 2. É bem verdade que o art. 1.790 do Código Civil de 2002, norma que
inovou o regime sucessório dos conviventes em união estável, não previu o direito real de habitação aos
companheiros. Tampouco a redação do art. 1.831 do Código Civil traz previsão expressa de direito real de
habitação à companheira. Ocorre que a interpretação literal das normas conduziria à conclusão de que o
cônjuge estaria em situação privilegiada em relação ao companheiro, o que deve ser rechaçado pelo
ordenamento jurídico. 3. A parte final do § 3º do art. 226 da Constituição Federal consiste, em verdade, tão
somente em uma fórmula de facilitação da conversão da união estável em casamento. Aquela não rende
ensejo a um estado civil de passagem, como um degrau inferior que, em menos ou mais tempo, cederá vez
a este. 4. No caso concreto, o fato de haver outros bens residenciais no espólio, um utilizado pela esposa
como domicílio, outro pela companheira, não resulta automática exclusão do direito real de habitação desta,
relativo ao imóvel da Av. Borges de Medeiros, Porto Alegre-RS, que lá residia desde 1990 juntamente com o

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companheiro Jorge Augusto Leveridge Patterson, hoje falecido. 5. O direito real de habitação concede ao
consorte supérstite a utilização do imóvel que servia de residência ao casal com o fim de moradia,
independentemente de filhos exclusivos do de cujus, como é o caso. 6. Recurso especial não provido.(REsp
1329993/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 17/12/2013, DJe
18/03/2014)”.

A alternativa C está incorreta, consoante o STJ: “RECURSO ESPECIAL. DIREITO PATRIMONIAL DE FAMÍLIA.
UNIÃO ESTÁVEL. ALIENAÇÃO DE BEM IMÓVEL ADQUIRIDO NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO. NECESSIDADE DE
CONSENTIMENTO DO COMPANHEIRO. EFEITOS SOBRE O NEGÓCIO CELEBRADO COM TERCEIRO DE BOA-FÉ.
A necessidade de autorização de ambos os companheiros para a validade da alienação de bens imóveis
adquiridos no curso da união estável é consectário do regime da comunhão parcial de bens, estendido à
união estável pelo art. 1.725 do CCB, além do reconhecimento da existência de condomínio natural entre os
conviventes sobre os bens adquiridos na constância da união, na forma do art. 5º da Lei 9.278/96. A
invalidação da alienação de imóvel comum, realizada sem o consentimento do companheiro, dependerá da
publicidade conferida a união estável mediante a averbação de contrato de convivência ou da decisão
declaratória da existência união estável no Ofício do Registro de Imóveis em que cadastrados os bens
comuns, ou pela demonstração de má-fé do adquirente (REsp 1424275/MT, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/12/2014, DJe 16/12/2014)”.

A alternativa D está incorreta, de acordo com o STJ: “DIREITO DE FAMÍLIA E PROCESSUAL CIVIL. UNIÃO ENTRE
PESSOAS DO MESMO SEXO (HOMOAFETIVA) ROMPIDA. DIREITO A ALIMENTOS. POSSIBILIDADE. ART. 1.694
DO CC/2002. PROTEÇÃO DO COMPANHEIRO EM SITUAÇÃO PRECÁRIA E DE VULNERABILIDADE. ORIENTAÇÃO
PRINCIPIOLÓGICA CONFERIDA PELO STF NO JULGAMENTO DA ADPF N. 132/RJ E DA ADI N. 4.277/DF.
ALIMENTOS PROVISIONAIS. ART. 852 CPC. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. ANÁLISE PELA INSTÂNCIA DE
ORIGEM. No Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal, são reiterados os julgados dando
conta da viabilidade jurídica de uniões estáveis formadas por companheiros do mesmo sexo, sob a égide do
sistema constitucional inaugurado em 1988, que tem como caros os princípios da dignidade da pessoa
humana, a igualdade e repúdio à discriminação de qualquer natureza. Como entidade familiar que é, por
natureza ou no plano dos fatos, vocacionalmente amorosa, parental e protetora dos respectivos membros,
constituindo-se no espaço ideal das mais duradouras, afetivas, solidárias ou espiritualizadas relações
humanas de índole privada, o que a credenciaria como base da sociedade (ADI n. 4277/DF e ADPF 132/RJ),
pelos mesmos motivos, não há como afastar da relação de pessoas do mesmo sexo a obrigação de sustento
e assistência técnica, protegendo-se, em última análise, a própria sobrevivência do mais vulnerável dos
parceiros. O direito a alimentos do companheiro que se encontra em situação precária e de vulnerabilidade
assegura a máxima efetividade do interesse prevalente, a saber, o mínimo existencial, com a preservação da
dignidade do indivíduo, conferindo a satisfação de necessidade humana básica. O projeto de vida advindo
do afeto, nutrido pelo amor, solidariedade, companheirismo, sobeja obviamente no amparo material dos
componentes da união, até porque os alimentos não podem ser negados a pretexto de uma preferência
sexual diversa. A conclusão que se extrai no cotejo de todo ordenamento é a de que a isonomia entre casais
heteroafetivos e pares homoafetivos somente ganha plenitude de sentido se desembocar no igual direito
subjetivo à formação de uma autonomizada família (ADI n. 4277/DF e ADPF 132/RJ), incluindo-se aí o
reconhecimento do direito à sobrevivência com dignidade por meio do pensionamento alimentar (REsp
1302467/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 03/03/2015, DJe
25/03/2015)”.

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A alternativa E está incorreta, nos termos do seguinte julgado: “DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. DIREITO
DE FAMÍLIA. CONTRATO DE LOCAÇÃO. FIANÇA. FIADORA QUE CONVIVIA EM UNIÃO ESTÁVEL. INEXISTÊNCIA
DE OUTORGA UXÓRIA. DISPENSA. VALIDADE DA GARANTIA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA N. 332/STJ.
Mostra-se de extrema relevância para a construção de uma jurisprudência consistente acerca da disciplina
do casamento e da união estável saber, diante das naturais diferenças entre os dois institutos, quais os
limites e possibilidades de tratamento jurídico diferenciado entre eles. A exigência de outorga uxória a
determinados negócios jurídicos transita exatamente por este aspecto em que o tratamento diferenciado
entre casamento e união estável é justificável. É por intermédio do ato jurídico cartorário e solene do
casamento que se presume a publicidade do estado civil dos contratantes, de modo que, em sendo eles
conviventes em união estável, hão de ser dispensadas as vênias conjugais para a concessão de fiança. Desse
modo, não é nula nem anulável a fiança prestada por fiador convivente em união estável sem a outorga
uxória do outro companheiro. Não incidência da Súmula n. 332/STJ à união estável (REsp 1299866/DF, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 21/03/2014)”.

43. (FCC / TJ-SC – 2015) Analise as seguintes assertivas sobre o regime de bens do casamento.
I. No regime da comunhão parcial de bens excluem-se da comunhão os proventos do trabalho pessoal da
cada cônjuge.
II. No regime da separação de bens, salvo disposição em contrário no pacto antenupcial, ambos os cônjuges
são obrigados a contribuir para as despesas do casal apenas na proporção dos rendimentos de seu trabalho.
III. No regime da comunhão universal de bens, são excluídos da comunhão os bens herdados com a cláusula
de inalienabilidade.
IV. Nos regimes da comunhão parcial e da comunhão universal de bens, recusando-se um dos cônjuges à
outorga para alienação de bem imóvel, cabe ao juiz supri-la, se não houver motivo justo para a recusa.
V. Salvo no regime da separação de bens, é nula a fiança concedida por um dos cônjuges sem autorização do
outro.
É correto o que se afirma APENAS em
a) II, IV e V.
b) III, IV e V.
c) I, II e III.
d) II, III e IV.
e) I, III e IV.

Comentários

O item I está correto, nos termos do art. 1.659, inc. VI: “Excluem-se da comunhão os proventos do trabalho
pessoal de cada cônjuge”.

O item II está incorreto, dado que o art. 1.688 não estabelece que a contribuição é apenas na proporção do
trabalho, mas também dos bens: “Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal
na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto
antenupcial”.

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O item III está correto, ainda que de maneira controvertida, dada a literalidade da parte final do art. 1.668,
inc. I: “São excluídos da comunhão os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os
sub-rogados em seu lugar”.

O item IV está correto, pela aplicação do art. 1.648 (“Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a
outorga, quando um dos cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la”), aplicável
a todos os regimes de bens, exceto o da separação absoluta bens.

O item V está incorreto, nos termos do art. 1.649 (“A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando
necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação,
até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal”).

A alternativa E está correta, portanto.

44. (VUNESP / TJ-SP – 2015) Em tema de outorga marital ou uxória, é correto afirmar que
a) é válida a fiança prestada durante união estável sem anuência do companheiro, conforme entendimento
do Superior Tribunal de Justiça.
b) o fiador tem legitimidade para arguir a invalidade da garantia fidejussória independentemente de tal
consentimento.
c) a assinatura do cônjuge, na qualidade de testemunha instrumental do contrato, supre a outorga exigida
na garantia fidejussória, conforme o entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
d) é exigível em todos os regimes de bens, e sua ausência implica ineficácia total do contrato.

Comentários

A alternativa A está correta, segundo o STJ: “DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. DIREITO DE FAMÍLIA.


CONTRATO DE LOCAÇÃO. FIANÇA. FIADORA QUE CONVIVIA EM UNIÃO ESTÁVEL. INEXISTÊNCIA DE OUTORGA
UXÓRIA. DISPENSA. VALIDADE DA GARANTIA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA N. 332/STJ. Mostra-se de
extrema relevância para a construção de uma jurisprudência consistente acerca da disciplina do casamento
e da união estável saber, diante das naturais diferenças entre os dois institutos, quais os limites e
possibilidades de tratamento jurídico diferenciado entre eles. A exigência de outorga uxória a determinados
negócios jurídicos transita exatamente por este aspecto em que o tratamento diferenciado entre casamento
e união estável é justificável. É por intermédio do ato jurídico cartorário e solene do casamento que se
presume a publicidade do estado civil dos contratantes, de modo que, em sendo eles conviventes em união
estável, hão de ser dispensadas as vênias conjugais para a concessão de fiança. Desse modo, não é nula nem
anulável a fiança prestada por fiador convivente em união estável sem a outorga uxória do outro
companheiro. Não incidência da Súmula n. 332/STJ à união estável (REsp 1299866/DF, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 21/03/2014)”.

A alternativa B está incorreta, de acordo com o a Súmula 332 do STJ: “A fiança prestada sem autorização de
um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia”.

A alternativa C está incorreta, conforme o STJ: “CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. AUSÊNCIA DE


AUTORIZAÇÃO EXPRESSA QUANTO AOS TERMOS DA FIANÇA PRESTADA POR CÔNJUGE. ASSINATURA
LANÇADA NO CONTRATO DE LOCAÇÃO NA QUALIDADE DE TESTEMUNHA INSTRUMENTÁRIA.

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IMPOSSIBILIDADE DE PRESUMIR A OUTORGA UXÓRIA. SÚMULA 332/STJ. A assinatura das testemunhas


instrumentárias somente expressa a regularidade formal do instrumento particular, mas não evidencia sua
ciência acerca do conteúdo do negócio jurídico. A fiança deve ser interpretada restritivamente, de maneira
que sempre estará limitada aos encargos expressa e inequivocamente assumidos pelo fiador. A ausência do
necessário consentimento do cônjuge para a prestação de fiança somente poderá ser suprida se for realizada
por escrito, por meio de instrumento público ou particular autenticado. A assinatura do cônjuge, na
qualidade de mera testemunha instrumental do contrato de locação, não é capaz de suprir essa exigência
(REsp 1185982/PE, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/12/2010, DJe
02/02/2011)”.

A alternativa D está incorreta, na literalidade do art. 1.647, inc. III: “Ressalvado o disposto no art. 1.648,
nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta, prestar
fiança ou aval".

45. (VUNESP / TJ-SP – 2015) É correto afirmar que


a) salvo no regime da separação, os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e
rendimentos, para o sustento da família e a educação dos filhos.
b) as causas suspensivas do casamento podem ser opostas por qualquer pessoa.
c) se excluem da comunhão parcial de bens os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge.
d) é obrigatório o regime da separação de bens aos que contraírem matrimônio com inobservância das
cláusulas de impedimento da celebração do casamento.

Comentários

A alternativa A está incorreta, conforme o art. 1.568: “Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção
de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos filhos, qualquer
que seja o regime patrimonial”.

A alternativa B está incorreta, dada a redação do art. 1.524: “As causas suspensivas da celebração do
casamento podem ser argüidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangüíneos ou
afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam também consangüíneos ou afins”.

A alternativa C está correta, conforme o art. 1.659, inc. VI: “Excluem-se da comunhão os proventos do
trabalho pessoal de cada cônjuge”.

A alternativa D está incorreta, já que em se tratando de impedimentos, não podem as pessoas casar; impõe-
se o regime de separação de bens nos casos de causas suspensivas, nos casos do art. 1.641, incisos.

46. (CESPE / TJ-PB – 2015) Com relação ao direito de família, assinale a opção correta à luz da
jurisprudência dominante do STJ.
a) O princípio da imutabilidade absoluta de regime de bens é resguardado pelo Código Civil de 2002.
b) A separação de fato não põe fim ao regime matrimonial de bens.
c) É admissível o levantamento do saldo de conta vinculada ao FGTS para a satisfação de crédito alimentar
atual.

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d) A constituição de nova família, independentemente de alteração da possibilidade do alimentante, é causa


suficiente para a revisão do valor da prestação de alimentos prestados aos filhos havidos na união anterior.
e) O curador é competente para fixar a sua remuneração pela administração do patrimônio do interdito.

Comentários

A alternativa A está incorreta, de acordo com o art. 1.639, §2º: “É admissível alteração do regime de bens,
mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões
invocadas e ressalvados os direitos de terceiros”.

A alternativa B está incorreta, conforme o STJ: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL. FAMÍLIA. ANULAÇÃO DE ATOS
JURÍDICOS. BENS ADQUIRIDOS APÓS A SEPARAÇÃO DE FATO POR UM DOS CÔNJUGES. SIMULAÇÃO LESIVA
À PARTILHA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83/STJ. FUNDAMENTO INATACADO. ÓBICE DA SÚMULA 283/STF.
RECURSO NÃO CONHECIDO. A separação de fato põe fim ao regime matrimonial de bens. Precedentes (REsp
678.790/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 10/06/2014, DJe 25/06/2014)”.

A alternativa C está correta, de acordo com o Enunciado 572 do CJF: “Mediante ordem judicial, é admissível,
para a satisfação do crédito alimentar atual, o levantamento do saldo de conta vinculada ao FGTS”.

A alternativa D está incorreta, segundo o STJ: “Direito civil e processual civil. Família. Alimentos. Recurso
especial. Revisão de alimentos. Pedido de redução. Elementos condicionantes. Mudança na situação
financeira do alimentante ou do alimentando. Princípio da proporcionalidade. Constituição de nova família
com nascimento de filho. Desinfluência. Embargos de declaração. Omissões. Novo julgamento. Se não há
prova do decréscimo das necessidades dos credores, ou do depauperamento das condições econômicas do
devedor, a constituição de nova família, resultando ou não em nascimento de filho, não importa na redução
da pensão alimentícia prestada a filhos havidos da união anterior (REsp 1027930/RJ, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/03/2009, DJe 16/03/2009)”.

A alternativa E está incorreta, consoante entendimento do STJ, que veda a autofixarão da remuneração,
pelo curador, determinando-se que ela seja estabelecida pelo juízo.

47. (MPE-SP / MPE-SP – 2015) São pessoas legitimadas a promover a ação de anulação do ato jurídico,
com exceção do:
a) cônjuge, não casado no regime da separação absoluta, por doação remuneratória de bem comum feita
pelo outro.
b) cônjuge, não casado no regime da separação absoluta, em razão de aval ou fiança prestado pelo outro.
c) cônjuge, que tenha se negado à coabitação, na hipótese de casamento realizado pelo mandatário, sem
que ele soubesse da revogação do mandato.
d) herdeiro, por erro substancial na designação do legatário ou da coisa legada na disposição testamentária.
e) neto de filho pré-morto, no caso de compra e venda realizada pelo avô a um de seus filhos vivos, sem o
seu consentimento.

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A alternativa A está correta, de acordo com o art. 1.647, inc. IV: “Ressalvado o disposto no art. 1.648,
nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta, fazer
doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação”.

A alternativa B está incorreta, conforme o art. 1.647, inc. III: “Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum
dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta, prestar fiança ou
aval”.

A alternativa C está incorreta, na dicção do art. 1.550, inc. V: “É anulável o casamento realizado pelo
mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo
coabitação entre os cônjuges”.

A alternativa D está incorreta, como se extrai do art. 1.903: “O erro na designação da pessoa do herdeiro,
do legatário, ou da coisa legada anula a disposição, salvo se, pelo contexto do testamento, por outros
documentos, ou por fatos inequívocos, se puder identificar a pessoa ou coisa a que o testador queria referir-
se”.

A alternativa E está incorreta, na previsão do art. 496: “É anulável a venda de ascendente a descendente,
salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido”.

48. (MPE-SP / MPE-SP – 2015) Sobre o regime de bens do casamento, assinale a alternativa correta:
a) A Código Civil alterou o ordenamento jurídico brasileiro para impor o princípio da imutabilidade absoluta
do regime matrimonial de bens.
b) É vedada qualquer modificação no regime de bens de casamento celebrado antes da vigência do Código
Civil de 2002.
c) A alteração do regime de bens na união estável depende de homologação judicial e prévia oitiva do
Ministério Público.
d) O regime da separação obrigatória de bens do casamento poderá ser alterado pelos nubentes com mais
de 70 anos de idade.
e) Cessada a causa suspensiva da celebração do casamento, será possível aos cônjuges modificar o regime
obrigatório de bens do casamento para o eleito pelo casal.

Comentários

A alternativa A está incorreta, conforme o art. 1.639, §2º: “É admissível alteração do regime de bens,
mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões
invocadas e ressalvados os direitos de terceiros”.

A alternativa B está incorreta, segundo o STJ: “CASAMENTO - REGIME DE BENS - ALTERAÇÃO JUDICIAL -
CASAMENTO CELEBRADO SOB A ÉGIDE DO CC/1916 - POSSIBILIDADE - ART. 2.039 DO CC/2002 -
PRECEDENTES - ART. 1.639, § 2º, CC/2002.(LEI Nº 10.406) I. Precedentes recentes de ambas as Turmas da 2ª
Seção desta Corte uniformizaram o entendimento no sentido da possibilidade de alteração de regime de
bens de casamento celebrado sob a égide do Código Civil de 1916, por força do § 2º do artigo 1.639 do
Código Civil atual. II. Recurso Especial provido, determinando-se o retorno dos autos às instâncias ordinárias,

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para que, observada a possibilidade, em tese, de alteração do regime de bens, sejam examinados, no caso,
os requisitos constantes do § 2º do artigo 1.639 do Código Civil atual (STJ - REsp: 1112123 DF 2009/0041144-
7, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento: 16/06/2009, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 13/08/2009)”.

A alternativa C está incorreta, já que o art. 1.639, §2º, supramencionado, não exige oitiva do MP nem mesmo
na alteração do regime de bens no casamento.

A alternativa D está incorreta, já que a previsão do art. 1.641, inc. II (“É obrigatório o regime da separação
de bens no casamento da pessoa maior de 70 (setenta) anos”) deixa claro que nesse regime não se permite
a mutação, sob pena de violação transversa de lei imperativa.

A alternativa E está correta, de acordo com o Enunciado 262 do CJF: “A obrigatoriedade da separação de
bens, nas hipóteses previstas nos incs. I e III do art. 1.641 do Código Civil, não impede a alteração do regime,
desde que superada a causa que o impôs”.

49. (FCC / MPE-PE – 2014) João, casado com Maria, sob regime da comunhão parcial de bens e Pedro,
casado com Antonia, sob o regime da comunhão universal de bens, fizeram aposta em loteria, sendo
contemplados os varões apostadores com grande soma em dinheiro. Em seguida, ambos resolveram
divorciar-se de suas esposas. Neste caso e para fins de partilha de bens, pode-se afirmar:
a) Maria participará do que João ganhou, por serem casados sob o regime da comunhão parcial de bens, mas
Antonia só participará do que Pedro ganhou, se houver pacto antenupcial, pois a lei não submete essa
hipótese à comunhão de aquestos.
b) Somente Maria participará a título de meação do que o cônjuge ganhou.
c) Somente Antonia participará a título de meação do que o cônjuge ganhou.
d) Maria e Antonia não participarão a título de meação do que eles ganharam.
e) Maria e Antonia participarão a título de meação do que eles ganharam.

Comentários

A alternativa A está incorreta, segundo o art. 1.667 (“O regime de comunhão universal importa a
comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do
artigo seguinte”), dado que o art. 1.668 não prevê a exclusão da comunhão no caso de fato eventual em seus
incisos.

A alternativa B está incorreta, pelas mesmas razões da alternativa anterior, por ausência de previsão de
exclusão nos incisos do art. 1.668.

A alternativa C está incorreta, nos termos do art. 1.660, inc. II: “Entram na comunhão os bens adquiridos por
fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior”.

A alternativa D está incorreta, pela aplicação do art. 1660, inc. II, em relação a Maria e do art. 1.667 em
relação a Antonia.

A alternativa E está correta, pelas mesmas razões explicitadas na alternativa D, supracitada.

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50. (FCC / PGE-RN – 2014)


Pedro e Maria são casados sob o regime da comunhão parcial de bens. Durante a sociedade conjugal, Pedro
recebeu prêmio de aposta em loteria, no valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), resolvendo
divorciar-se de Maria. Até então, possuíam os seguintes bens: uma casa doada pelos pais de Maria a ambos
os nubentes, por ocasião do casamento; um sítio adquirido a título oneroso por Pedro durante a sociedade
conjugal, fruto da economia de seus salários, tendo Maria recebido uma outra casa, por herança de sua mãe,
depois do casamento. Na partilha de bens, em razão do divórcio observar-se-á o seguinte:
a) somente Pedro tem direito ao prêmio que auferiu na aposta e ambos têm iguais direitos sobre os demais
bens.
b) cada um tem direito à metade do prêmio que Pedro auferiu na aposta; ambos têm iguais direitos sobre a
casa doada pelos pais de Maria e ao sítio adquirido por Pedro e Maria tem a propriedade exclusiva da casa
que recebeu por herança de sua mãe.
c) somente Pedro tem direito ao prêmio que auferiu na aposta; ambos têm iguais direitos sobre a casa doada
pelos pais de Maria e ao sítio adquirido por Pedro e Maria tem a propriedade exclusiva da casa que recebeu
por herança de sua mãe.
d) cada um tem direito à metade do prêmio que Pedro auferiu na aposta; somente Maria tem direito sobre
a casa doada por seus pais e à propriedade exclusiva da casa que recebeu por herança de sua mãe e ambos
têm iguais direitos sobre o sítio adquirido por Pedro.
e) ambos têm iguais direitos sobre todos esses bens.

Comentários

Analisemos o que se comunica e o que não se comunica, antes de analisar as alternativas.

Prêmio da loteria – art. 1.660, inc. II: “os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de
trabalho ou despesa anterior”.

Casa doada pelos pais de Maria pelo casamento – art. 1.660, inc. III: “os bens adquiridos por doação, herança
ou legado, em favor de ambos os cônjuges”.

Sítio adquiro onerosamente por Pedro – art. 1.660, inc. I: “Entram na comunhão os bens adquiridos na
constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges”.

Casa de Maria herdada da mãe – art. 1.659, inc. I: “Excluem-se da comunhão os bens que cada cônjuge
possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-
rogados em seu lugar”.

A alternativa A está incorreta, porque o prêmio que Pedro ganhou na loteria se comunica.

A alternativa B está correta, dado que todos os bens se comunicam, exceto a casa de Maria herdada da mãe.

A alternativa C está incorreta, já que o prêmio que Pedro ganhou na loteria se comunica.

A alternativa D está incorreta, pois a casa doada pelos pais de Maria pelo casamento se comunica.

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A alternativa E está incorreta, tendo em vista que a casa de Maria herdada da mãe não se comunica.

51. (FCC / Câmara Municipal-SP – 2014) Em relação ao regime de bens entre cônjuges:
a) no pacto antenupcial, que adotar o regime de participação final nos aquestos, poder-se-á convencionar a
livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares
b) não havendo convenção antenupcial, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os
cônjuges, o regime da comunhão universal.
c) o pacto antenupcial pode ser feito por escritura pública ou por instrumento particular, neste caso desde
que registrado em livro próprio, no Registro Imobiliário do domicilio dos cônjuges.
d) é anulável a convenção ou cláusula de pacto antenupcial que contravenha disposição absoluta de lei.
e) por serem atos formais e solenes, em nenhuma hipótese será permitida a realização de pactos
antenupciais por menores.

Comentários

A alternativa A está correta, segundo o art. 1.656: “No pacto antenupcial, que adotar o regime de
participação final nos aquestos, poder-se-á convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que
particulares”.

A alternativa B está incorreta, na forma do art. 1.640: “Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou
ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial”.

A alternativa C está incorreta, de acordo com o art. 1.653: “É nulo o pacto antenupcial se não for feito por
escritura pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento”.

A alternativa D está incorreta, consoante a dicção do art. 1.655: “É nula a convenção ou cláusula dela que
contravenha disposição absoluta de lei”.

A alternativa E está incorreta, na literalidade do art. 1.654: “A eficácia do pacto antenupcial, realizado por
menor, fica condicionada à aprovação de seu representante legal, salvo as hipóteses de regime obrigatório
de separação de bens”.

52. (FCC / Câmara Municipal-SP – 2014) Maria e José viveram juntos por oito anos. Não tiveram filhos.
Separaram-se e Maria, objetivando meação dos bens que José levou para o convívio, propõe ação
declaratória de reconhecimento de união estável, cumulada com a partilha de tais bens. José contesta
alegando que, como ele era casado, embora separado de fato de seu cônjuge, e não tiveram filhos, não
haveria como configurar-se união estável, por impedimento matrimonial; além disso, os bens seriam
somente dele, José, por terem sido adquiridos antes da alegada união estável. Ao examinar a questão, o
juiz da causa
a) não admitirá a união estável, pela existência de impedimento matrimonial a impedir a conversão em
casamento; também não destinará qualquer bem a Maria, por serem de exclusiva propriedade de José.
b) não admitirá a união estável, pela inexistência de filhos e pela ocorrência de impedimento matrimonial,
mas determinará indenização a Maria pela caracterização de concubinato.

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c) admitirá a união estável por ser irrelevante a ausência de filhos e suficiente a separação de fato para sua
constituição, destinando metade dos bens para Maria, já que, por analogia, o regime de bens na união
estável equipara-se à comunhão total de bens.
d) admitirá a união estável, porque a ausência de filhos é irrelevante e a separação de fato já permite sua
constituição; quanto aos bens, determinará que são apenas de José, porque só se comunicariam aqueles
adquiridos na constância da união estável, à qual se aplicam, nas relações patrimoniais, no que couber, o
regime da comunhão parcial de bens.
e) não admitirá a união estável, pela existência de impedimento matrimonial, uma vez que é preciso estarem
presentes todos os requisitos para conversão da convivência em casamento; no entanto, destinará metade
dos bens para Maria, como indenização moral pelos oito anos de convívio.

Comentários

A alternativa A está incorreta, já que não há, a rigor, impedimento à configuração da união estável, dado
que José está faticamente separado. Há apenas impedimento para o casamento, porque ele casado ainda é.

A alternativa B está incorreta, porque a (in)existência de filhos é irrelevante para a configuração da união
estável.

A alternativa C está incorreta, na forma do art. 1.725: “Na união estável, salvo contrato escrito entre os
companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”.

A alternativa D está correta, conforme dito nas alternativas A, B e C, supramencionadas.

A alternativa E está incorreta, duplamente, pois, como dito antes, não há impedimento à configuração da
união estável, apenas para novo casamento.

53. (VUNESP / TJ-SP – 2013) Com relação ao regime de bens do casamento, é correto afirmar que
a) qualquer que seja o regime de bens, nenhum cônjuge poderá, sem a autorização do outro, alienar ou
onerar bens imóveis.
b) no regime da comunhão parcial, entram na comunhão todos os bens adquiridos na constância do
casamento.
c) excluem-se da comunhão parcial as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito
do casal.
d) a falta de autorização de um cônjuge para que o outro preste fiança, quando o regime não é o da separação
absoluta de bens, torna nula a garantia, podendo essa nulidade ser alegada a qualquer tempo.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pela previsão do art. 1.647, inc. I: “Ressalvado o disposto no art. 1.648,
nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta alienar ou
gravar de ônus real os bens imóveis”.

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A alternativa B está incorreta, segundo o art. 1.658: “No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens
que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes”.

A alternativa C está correta, conforme o art. 1.659, inc. IV: “Excluem-se da comunhão, as obrigações
provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal”.

A alternativa D está incorreta, sendo o ato ineficaz, apenas.

54. (CESPE / DP-DF – 2013) De acordo com a jurisprudência pacificada do STJ, não é possível alterar o
regime de bens de matrimônios contraídos sob a égide do Código Civil de 1916.

Comentários

O item está incorreto, tendo decidido a Corte que, com base nas Disposições Finais do CC/2002, também
podem os casamentos anteriores a 2002 se submeter à alteração.

55. (FCC / PGE-MT – 2011) Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher sempre
podem livremente
a) praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão.
b) administrar os bens próprios do outro cônjuge.
c) desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados com o seu consentimento.
d) reivindicar os bens imóveis comuns, doados pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os
bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco
anos.
e) demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro
cônjuge, ainda que com o seu consentimento.

Comentários

A alternativa A está correta, nos termos do art. 1.642, inc. I: “praticar todos os atos de disposição e de
administração necessários ao desempenho de sua profissão, com as limitações estabelecida no inciso I do
art. 1.647”.

A alternativa B está incorreta, segundo o art. 1.642, inc. II: “administrar os bens próprios”.

A alternativa C está incorreta, na dicção do art. 1.642, inc. III: “desobrigar ou reivindicar os imóveis que
tenham sido gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento judicial”.

A alternativa D está correta, consoante a regra do art. 1.642, inc. V: “reivindicar os bens comuns, móveis ou
imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram
adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos”.

A alternativa E está incorreta, conforme prevê o art. 1.642, inc. IV: “demandar a rescisão dos contratos de
fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com infração do disposto nos incisos
III e IV do art. 1.647”.

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56. (CESPE / DPE-BA – 2010) Aplica-se à união estável o regime da comunhão parcial de bens, não se
exigindo dos companheiros prova do esforço comum para a aquisição dos bens.

Comentários

O item está correto, na forma do art. 1.725: “Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros,
aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”.

57. (VUNESP / TJ-MT – 2009) Diva viveu maritalmente com Roberto entre agosto de 1991 e março de
1993, ocasião em que compraram juntos uma casa situada na rua Aurora. Após um período de separação,
houve uma reconciliação e, visando formalizar a união, Diva e Roberto contraíram matrimônio no dia 17
de janeiro de 1995, firmando pacto antenupcial para a adoção do regime de separação de bens. Durante
o casamento, venderam a casa da rua Aurora e com o dinheiro, Roberto adquiriu em seu nome a
propriedade de uma casa situada na rua Consolação. Ocorre que Roberto hipotecou esse imóvel, sem
outorga de Diva, em razão de seu regime de bens. Diante desses fatos, assinale a alternativa correta.
a) A Diva pertence a metade ideal do imóvel hipotecado, uma vez que foi adquirido por fruto da constância
da união estável, o que deverá ser declarado em juízo.
b) Roberto pode hipotecar o imóvel, visto que casado pelo regime de separação convencional de bens, não
sendo possível opor-se Diva, resguardando-se direito de terceiros.
c) A outorga uxória para a hipoteca não seria necessária se o regime de separação fosse o obrigatório, visto
que afasta eventual comunhão dos aquestos.
d) Diva não deve anuir com a hipoteca, uma vez que o bem não lhe pertence, mas apenas a Roberto, pois
não houve comunhão dos bens adquiridos na constância do casamento.
e) Independentemente do regime de bens, a outorga uxória é sempre necessária para gravar de ônus real o
bem, ainda que este seja o de separação legal ou convencional de bens.

Comentários

A alternativa A está correta, já que a convivência marital (união estável) se deu entre agosto de 1991 e março
de 1993, período em que adquiriram a casa situada na rua Aurora. Assim, aplicável o art. 1.725: “Na união
estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o
regime da comunhão parcial de bens”.

A alternativa B está incorreta, como visto, dado que o bem foi adquirido no período em que vigorou a união
estável entre as partes, não se relacionando com o regime de bens adotado por ocasião do casamento, no
pacto antenupcial.

A alternativa C está incorreta, como estabelece a Súmula 377 do STF: “No regime de separação legal de bens,
comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”.

A alternativa D está incorreta, porque o bem foi adquirido na constância da união estável e, portanto,
incidente o regime da comunhão parcial de bens.

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A alternativa E está incorreta, pois “estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a
administração exclusiva de cada um dos cônjuges , que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real”,
evidencia o art. 1.687.

58. (CESPE / DPE-AL – 2009) É possível que homem e mulher que resolvam manter união estável
estabeleçam entre si regime de bens por meio de um contrato de convivência, negócio jurídico que poderá,
inclusive, ser formalizado por meio de instrumento particular e cuja falta acarretará a aplicação das regras
atinentes ao regime da comunhão parcial.

Comentários

O item está correto, já que o STJ permite a convenção patrimonial na união estável por instrumento
particular e o art. 1.640 (“Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens
entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial”) prevê a aplicação subsidiária do regime da comunhão
parcial de bens.

59. (CESPE / DPE-AL – 2009) Quanto ao direito de família, julgue os itens seguintes.
O regime de bens passa a gerar efeitos a partir do casamento e cessa com o falecimento de um dos cônjuges,
com a separação judicial ou com o divórcio, não sendo possível que a mera separação de fato seja
considerada como razão relevante para alterar qualquer dos efeitos decorrentes do regime adotado, já que,
por si só, a separação de fato não dissolve o casamento, independentemente de sentença.

Comentários

O item está incorreto, pois em que pese a literalidade do art. 1.575 (“A sentença de separação judicial
importa a separação de corpos e a partilha de bens”) mencionar apenas a separação judicial, a separação de
fato também faz cessar a comunhão patrimonial, ainda que faticamente, o que exige prova da data do fato,
portanto.

60. (CESPE / DPE-AL – 2009) Quanto ao direito de família, julgue os itens seguintes.
A união estável é uma realidade fática, de modo que, ao contrário do casamento, essencialmente formal, os
conviventes poderão dispor livremente acerca dos reflexos patrimoniais de sua união e estabelecerem entre
si limitação ao eventual direito de um deles receber pensão alimentícia do outro ou mesmo acerca do direito
de herdar bens um do outro.

Comentários

O item está incorreto, de maneira flagrante, já que o direito aos alimentos é irrenunciável.

61. (CESPE / DPE-AC – 2006) João afirma que viveu junto de Maria — que cuidava apenas dos afazeres
domésticos — por mais de dez anos, até o seu falecimento, ocorrido há dois meses. Afirma ainda que
tiveram dois filhos, que foram por ele reconhecidos. Perguntado se tinham bens, ele respondeu que
compraram um lote de terreno há dois anos, que foi registrado no nome dela e onde construíram uma
casa. No período em que viveram juntos, Maria, que era filha única, recebeu, como herança de sua mãe
viúva, um terreno na cidade de Tarauacá. Ele, por sua vez, junto com irmãos, herdou uma pequena

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propriedade que pertencia ao pai, que era viúvo ao falecer. Com base na legislação pertinente, assinale a
opção correta acerca da situação hipotética acima apresentada.
a) Por não terem sido casados no civil, João não tem nenhum direito com relação ao lote de terreno
registrado no nome de Maria e ao terreno na cidade de Tarauacá.
b) João tem direito sucessório apenas sobre os bens adquiridos a título oneroso durante a convivência com
Maria.
c) João tem direito a apenas metade de todos os bens que pertenciam ao casal, incluindo-se aqueles
herdados por ambos e os que foram por eles adquiridos durante a união.
d) Por possuir bem herdado de seu falecido pai, o direito de Pedro limita-se à metade dos bens que adquiriu
em conjunto com a falecida, durante a união estável.

Comentários

A alternativa A está incorreta, já que os companheiros em questão constituíram união estável, o que gera
comunicação patrimonial.

A alternativa B está correta, porque tal constitui a regra geral mais ampla do regime de comunhão parcial
de bens, aplicável à união estável.

A alternativa C está incorreta, por aplicação do art. 1.659, inc. I: “Excluem-se da comunhão, os bens que cada
cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e
os sub-rogados em seu lugar”.

A alternativa D está incorreta, já que o fato de um ou outro ter herdado algo não altera a forma de divisão
do patrimônio, mas apenas o conteúdo dessa divisão.

62. (CESPE / DPU – 2005) No regime da comunhão universal de bens, comunicam-se os bens adquiridos
na constância de fato e de direito do casamento, mas não aqueles havidos por um só́ dos cônjuges após
separação irreversível de fato do outro, que nenhuma participação teve na aquisição desses bens.

Comentários

O item está correto, já que a comunhão universal de bens trata de uma comunicação entre os bens do casal
enquanto casal; a partir da separação fática, a comunicabilidade cessa, portanto.

63. (FCC / DPE-MA – 2003) Considere as afirmações abaixo sobre o regime de bens entre cônjuges:
I. É admissível a alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos
os cônjuges, devendo ser apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados direitos de terceiros.
II. O regime da separação de bens é obrigatório se a mulher for maior de 50 (cinquenta) anos.
III. Se o da comunhão parcial, incluem-se na comunhão os bens adquiridos na constância do casamento por
título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges e os decorrentes de doação, herança ou legado
em favor de ambos os cônjuges.
IV. É nulo o pacto antenupcial feito por escritura pública se não lhe seguir o casamento.

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V. No regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio, mas à época da
dissolução da sociedade conjugal caber-lhe-á metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na
constância do casamento.
SOMENTE estão corretas as afirmações:
a) I, II e IV.
b) I, III e V.
c) I, IV e V.
d) II, IV e V.
e) III, IV e V.

Comentários

O item I está correto, na forma do art. 1.639, §2º: “É admissível alteração do regime de bens, mediante
autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas
e ressalvados os direitos de terceiros”.

O item II está incorreto, de acordo com o art. 1.641, inc. II: “É obrigatório o regime da separação de bens no
casamento da pessoa maior de 70 (setenta) anos”.

O item III está correto, consoante regra do art. 1.660, incs. I e III: “Entram na comunhão os bens adquiridos
na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges; os bens
adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges”.

O item IV está incorreto, de acordo com o art. 1.653: “É nulo o pacto antenupcial se não for feito por escritura
pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento”.

O item V está correto, pela literalidade do art. 1.672: “No regime de participação final nos aquestos, cada
cônjuge possui patrimônio próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução
da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do
casamento”.

A alternativa B está correta, portanto.

LISTA DE QUESTÕES
Direito Conjugal Pessoal

1. (VUNESP / TJ-RS – 2018) Joaquina nasceu com o diagnóstico de síndrome de Down; aos 18 anos,
conheceu Raimundo e decidiu casar. Os pais de Joaquina declararam que somente autorizam o casamento
se o mesmo for celebrado sob o regime da separação convencional de bens, tendo em vista que a família
é possuidora de uma grande fortuna e Raimundo é de origem humilde. Joaquina, que tem plena
capacidade de comunicação, não aceitou a sugestão dos pais e deseja casar sob o regime legal (comunhão
parcial de bens). Assinale a alternativa correta.

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a) Para que possa casar sob o regime da comunhão parcial de bens, deverá Joaquina ser submetida, mesmo
contra sua vontade, ao procedimento de tomada de decisão apoiada.
b) Joaquina poderá casar sob o regime de bens que melhor entender, tendo em vista que é dotada de plena
capacidade civil.
c) O juiz deverá nomear um curador para que possa analisar as pretensões do noivo em relação a Joaquina
e decidir acerca do melhor regime patrimonial para o casal.
d) Joaquina é relativamente incapaz e deve ser assistida no ato do casamento que somente pode ser
celebrado sob o regime da separação legal.
e) Joaquina somente poderá casar se obtiver autorização dos pais que poderá ser suprida pelo juiz, ouvido o
Ministério Público.
2. (MP-PR / MP-PR – 2018) Não incide causa suspensiva no casamento entre:
a) O cônjuge sobrevivente e o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.
b) O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e
der partilha aos herdeiros.
c) A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do
começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal.
d) O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal.
e) O tutor e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada,
enquanto não cessar a tutela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.

3. (CESPE / DPE-PE – 2018) De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do
STJ acerca da união estável e casamento, assinale a opção correta.
a) É possível o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, sendo vedado o casamento
civil.
b) A união estável homoafetiva é vedada no ordenamento jurídico brasileiro: união estável consiste de uma
relação entre homem e mulher, contínua e duradoura, com o objetivo de constituição de família.
c) Como não se trata de entidade familiar, a relação entre pessoas do mesmo sexo é uma sociedade de fato,
inclusive com competência da vara cível, e não da de família, para eventual ajuizamento de ação.
d) A união entre duas pessoas do mesmo sexo é reconhecida como entidade familiar, com convivência
pública, contínua, duradoura, com o objetivo de constituição de família, e é de competência da vara de
família o ajuizamento de eventual ação a respeito.
e) Diferentemente do instituto do casamento, a companheira ou o companheiro, na vigência da união
estável, participará da sucessão do outro apenas quanto aos bens adquiridos onerosamente.
4. (FCC / TJ-SC – 2017) É nulo o casamento
a) de pessoa que não completou idade mínima para casar.
b) de pessoa com deficiência mental ou intelectual, em idade núbil

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c) mesmo expressando sua vontade diretamente, apenas se contraído com infringência de impedimento.
d) de incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento.
e) por infringência de impedimento ou de causa suspensiva.
5. (CESPE / DPE-AL – 2017) Antônio, de vinte e cinco anos de idade, casou-se com Carla, de treze anos
de idade, que estava grávida quando da realização do casamento. Embora tenha sido consentido pelos
pais de Carla, o casamento foi realizado sem autorização judicial, pois os nubentes não estavam cientes
dessa exigência legal.
A respeito dessa situação hipotética, assinale a opção correta.
a) Carla poderá confirmar o casamento após o nascimento da criança.
b) É vedada a anulação do casamento unicamente pelo fato de Carla ser menor de idade.
c) Anulado o casamento, este retroagirá à data de sua celebração, não produzindo nenhum efeito.
d) Antônio poderá requerer a anulação do casamento devido ao fato de Carla ser menor de idade.
e) o casamento é nulo, pois Carla não tinha idade núbil e não havia autorização judicial.
6. (FCC / PGM-São Luís (MA) – 2016) Decorre do regime estabelecido pelo Código Civil que:
a) É nulo o casamento por vício da vontade.
b) É anulável o casamento realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da
revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges.
c) É anulável o casamento por infringência de impedimento.
d) É nulo o casamento celebrado por autoridade incompetente.
e) A anulação do casamento dos menores de 16 anos não pode ser requerida diretamente pelo próprio
cônjuge menor por necessitar de seus representantes legais para elaborar tal pedido.
7. (FCC / DPE-ES – 2016) Podem casar:
a) a pessoa solteira com pessoa separada judicialmente.
b) as pessoas com deficiência intelectual ou mental em idade núbil, expressando sua vontade por meio de
curador.
c) o adotado com a filha biológica do adotante, se autorizados pelo juiz.
d) os afins na linha reta, depois de dissolvido o casamento que determinara o parentesco por afinidade.
e) o adotante com quem foi cônjuge do adotado.
8. (FCC / TJ-SE – 2015) A violação de causas suspensivas da celebração do casamento acarreta a:
a) nulidade relativa do casamento.
b) obrigatoriedade do regime de separação de bens, não sendo permitido ao juiz relevá-las em nenhuma
hipótese.
c) obrigatoriedade do regime da separação de bens, exceto no caso de o juiz a relevar, conforme lhe permite
a lei, quando se tratar de viúva grávida antes de dez meses do início da viuvez.
d) obrigatoriedade do regime da separação de bens, exceto se relevadas pelo juiz, quando a lei o permitir.

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e) nulidade absoluta do casamento, exceto se relevada pelo juiz, quando a lei o permitir.
9. (FCC / TJ-AL – 2015) A respeito do casamento putativo, é correto afirmar que
a) não encontra previsão legal, sendo criação da jurisprudência, para regularizar a posse do estado de casado.
b) produz todos os efeitos, embora nulo ou anulável, independentemente de boa-fé de um ou de ambos os
cônjuges, tendo em vista a necessidade de segurança jurídica em matéria de casamento.
c) se não for nulo, mas apenas anulável, se contraído de boa-fé, por ambos os cônjuges, o casamento, em
relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
d) embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação
a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
e) não produz nenhum efeito, porque o casamento se regula por normas de ordem pública.
10. (VUNESP / TJ-MS – 2015) Márcio e Caroline, ambos com 16 (dezesseis) anos de idade, decidiram
que se casariam, considerando a gravidez de Caroline. Noticiaram sua decisão aos pais de ambos, mas o
pai de Caroline recusou-se a autorizar o matrimônio, apesar da aquiescência da mãe de Caroline e dos pais
de Márcio. Assim, foi ajuizada ação para solução do impasse, e, após regular tramitação, sobreveio
sentença autorizando o casamento.
Em relação ao caso concreto apresentado, assinale a alternativa correta.
a) Judicialmente autorizado o casamento entre Márcio e Caroline, será obrigatório o regime legal da
separação de bens.
b) Não corriam prazos prescricionais em desfavor de Márcio e Caroline, em razão de sua idade, mas, com a
celebração do casamento, cessará a causa impeditiva.
c) Com o suprimento judicial, Márcio e Caroline poderão casar-se, vigorando condição suspensiva
consistente no nascimento com vida do filho do casal.
d) Com o suprimento judicial, Márcio e Caroline poderão casar-se, mas o casamento não fará cessar a
incapacidade civil de ambos.
e) A sentença é nula, na medida em que não se admite suprimento judicial em caso de falta de anuência de
qualquer dos pais.
11. (FCC / TJ-PE – 2015) Na habilitação para o casamento, se houver oposição de impedimento, o oficial
a) indeferirá o pedido de habilitação e remeterá o oponente e os nubentes às vias ordinárias em juízo, para
decisão do magistrado
b) encaminhará a oposição ao juiz, sem efeito suspensivo do procedimento, que, depois de regular instrução
e manifestação do ministério público, decidirá até a data do casamento.
c) encaminhará os autos, imediatamente, ao juiz, que intimará o oponente e os nubentes a indicarem provas,
que serão produzidas e, ouvido o ministério público, decidirá.
d) dará ciência do fato aos nubentes para que indiquem provas que desejam produzir, colhendo-as e em
seguida remeterá os autos ao juiz que, ouvido o ministério público, decidirá.
e) dará ciência do fato aos nubentes, para que indiquem provas que desejam produzir e remeterá os autos
ao juiz que decidirá depois da produção das provas pelo oponente e pelos nubentes, com a participação do
Ministério Público.

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12. (FCC / TJ-SC – 2015) Joaquim, viúvo, é pai de José, que se casara com Amélia. José e Amélia
divorciaram-se. Três meses após esse divórcio, Joaquim e Amélia compareceram a um Cartório de Notas,
solicitando ao Tabelião que lavrasse uma escritura pública de união estável, escolhendo o regime da
comunhão universal de bens. O Tabelião recusou-se a lavrar a escritura, por reputar inválido o ato. A
recusa
a) justifica-se, mas poderá ser estabelecida a união estável entre os pretendentes depois de transcorridos
trezentos (300) dias do divórcio de Amélia e desde que os bens deixados pelo cônjuge de Joaquim tenham
sido inventariados e partilhados.
b) não se justifica, porque não há qualquer impedimento entre os pretendentes à união estável.
c) justifica-se, porque Joaquim e Amélia não podem estabelecer união estável.
d) só se justifica no tocante à escolha do regime de bens, porque seria obrigatório o regime da separação de
bens.
e) só se justifica no tocante à escolha do regime de bens, porque o único admissível é o da comunhão parcial
de bens na união estável.
13. (CEFET / MPE-BA – 2015) Assinale a alternativa CORRETA sobre casamento, segundo o Código Civil
Brasileiro:
a) O Ministério Público tem legitimidade para propor ação de decretação de nulidade do casamento do
enfermo mental sem necessário discernimento para os atos da vida civil ou pela infringência de qualquer
impedimento.
b) O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na desigualdade de direitos e deveres dos
cônjuges.
c) Os parentes afins em linha reta podem se casar, em qualquer hipótese.
d) O casamento sob coação é considerado inexistente.
e) O casamento resultante de gravidez deve ser anulado por motivo de idade.
14. (FAPEC / MPE-MS – 2015) Considerando que Jorge possui 17 anos e deseja se casar com Fátima, a
qual possui 15 anos e está grávida, assinale a assertiva correta:
a) Tendo em vista que ambos não alcançaram a idade núbil atualmente, mostra-se nulo eventual casamento
celebrado entre Jorge e Fátima, pouco importando a autorização materna, paterna ou judicial.
b) É possível o casamento de Jorge e Fátima, desde que ambos obtenham apenas a autorização de seus pais,
independente de autorização judicial.
c) É possível o casamento de Jorge e Fátima, contudo, deverá ser com autorização judicial, tendo em vista
que a última está aquém da idade núbil, sendo aplicável, na hipótese, o regime de comunhão parcial de bens
se outro regime não for escolhido pelos nubentes.
d) Como regra, Jorge e Fátima podem casar no regime de participação final dos aquestos se obtiverem a
autorização de seus genitores, independentemente de a última estar grávida.
e) Jorge e Fátima podem se casar, mediante autorização judicial, sendo aplicável o regime de separação de
bens.

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15. (CESPE / DPU – 2015) Conforme o STF, não se deve considerar a orientação sexual das pessoas no
que se refere à interpretação do conceito de família, de modo que o tratamento dado a casais
heteroafetivos e a pares homoafetivos deve ser isonômico.
16. (FCC / DPE-MA – 2015) Sobre a pluralidade do conceito de família, a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, em sua redação original, reconheceu expressamente como entidades
familiares:
a) as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, chamadas pela doutrina de famílias homo afetivas,
conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal no ano de 2011.
b) apenas as matrimoniais, informais e monoparentais, mas não impede o reconhecimento de outros
possíveis arranjos familiares como decorrência dos princípios e direitos fundamentais.
c) apenas as matrimoniais e informais, equiparando-as expressamente pelo princípio da igualdade entre
cônjuges e companheiros, de modo que qualquer distinção que a lei estabeleça entre o casamento e a união
estável é inconstitucional.
d) as famílias anaparentais, que são aquelas formadas por pessoas sem ascendência ou descendência entre
si, mas que se reúnem com base no afeto e no objetivo de juntos constituírem uma família.
e) as famílias pluriparentais ou recompostas, como aquelas decorrentes de vários casamentos, uniões
estáveis ou outros relacionamentos afetivos de seus membros.
17. (CESPE / DPE-PE – 2015) Considerando que Luciana e Carlos sejam casados em regime de
comunhão parcial de bens há dez anos e tenham um filho, julgue o seguinte item.
De acordo com entendimento do STJ, caso Carlos tenha um relacionamento afetivo extraconjugal duradouro
com Carla, se apresentando perante os amigos dela como marido, não será juridicamente admissível o
reconhecimento desse relacionamento como união estável, mas poderá a relação ser enquadrada como
sociedade de fato.
18. (CESPE / TJ-DFT – 2014) A respeito dos institutos da alienação parental e união estável, assinale a
opção correta.
a) Por ausência de previsão legal acerca da união homoafetiva, o TJDFT decidiu que a união de pessoas do
mesmo sexo deve ser reconhecida como sociedade de fato.
b) A jurisprudência do STJ firmou entendimento de que o casamento válido não impede o reconhecimento
da união estável, desde que se comprove a separação de fato ou judicial.
c) O STJ consolidou entendimento de que, por ausência de previsão legal, não se poderá aplicar à união
estável o regime obrigatório de separação de bens para as hipóteses em que, no início do relacionamento,
os conviventes já contem com mais de sessenta anos de idade.
d) A lei enumera de forma exaustiva os atos que configuram alienação parental.
e) A consequência automática do reconhecimento, pelo julgador, da alienação parental é a alteração da
guarda da criança ou adolescente, para fins de preservação da integridade psicológica destes.
19. (MP-MG / MP-MG – 2014) Assinale a alternativa INCORRETA:
a) A prescrição pode ser alegada a qualquer tempo pela parte a quem aproveita.
b) Entre associados, não há direitos e obrigações recíprocos.
c) A inviolabilidade da vida privada da pessoa natural é garantia absoluta amparável judicialmente.

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d) A morte presumida na ausência não dissolve o casamento.


20. (FCC / DPE-RS – 2014) João e Maria, ele com 16 anos completos e ela com 15 anos e grávida de seis
meses, procuram a Defensoria Pública informando que desejam se casar. No entanto, embora sua mãe
consinta, o pai de Maria não concorda com o matrimônio, negando-se a autorizá-lo por motivação racial,
pois João é afrodescendente. Nesse caso:
a) não será permitido o casamento, uma vez que não é possível obter o suprimento de idade e de
consentimento em favor de Maria, haja vista ser ela absolutamente incapaz.
b) será permitido o casamento, mediante pedido judicial de suprimento de idade em favor de João e pedido
judicial de suprimento de idade e de consentimento em favor de Maria, ajuizado em face de seu genitor.
Será obrigatório o regime da separação de bens, sem comunicação, inclusive, dos aquestos provenientes do
esforço comum.
c) será permitido o casamento, mediante autorização extrajudicial de ambos os pais de João e pedido judicial
de suprimento de idade e de consentimento em favor de Maria, ajuizado em face de seu genitor. Será
obrigatório o regime da separação de bens.
d) será permitido o casamento, mediante autorização extrajudicial de ambos os pais de João e pedido judicial
de suprimento de idade e de consentimento em favor de Maria, ajuizado em face de seu genitor, cabendo
aos noivos eleger o regime de bens.
e) será permitido o casamento, mediante autorização extrajudicial de ambos os pais de João e da mãe de
Maria, não sendo necessário o pedido judicial de suprimento de idade e de consentimento de Maria, uma
vez que está grávida. Será obrigatório o regime da separação de bens, sem comunicação, inclusive, dos
aquestos provenientes do esforço comum.
21. (FCC / DPE-CE – 2014) Maria casou-se com Frederico, que, três anos depois, passou a ingerir bebida
alcoólica em excesso, a ponto de tornar insuportável a vida conjugal. Muito abalada, requereu a anulação
do casamento, alegando erro essencial quanto à pessoa do cônjuge. O pedido de Maria, por esta causa,
deverá ser:
a) deferido, pois incidiu em erro da vontade.
b) deferido, pois o alcoolismo tornou insuportável a vida em comum.
c) indeferido, pois transcorrido prazo decadencial de dois anos para a formulação do pedido.
d) indeferido, pois o erro essencial somente teria se caracterizado se a causa fosse anterior ao casamento.
e) indeferido, pois transcorrido prazo prescricional de dois anos para a formulação do pedido.
22. (VUNESP / TJ-SP – 2013) A respeito do casamento, é certo afirmar:
a) É vedado, em qualquer circunstância, o casamento de pessoa menor de 16 anos.
b) Enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal, não pode casar o
divorciado, sendo nulo o casamento se assim contraído.
c) O casamento nuncupativo poderá ser celebrado na presença de seis testemunhas que com os nubentes
não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau, devendo ser comunicado à
autoridade judicial mais próxima no prazo de 10 dias.
d) O casamento pode ser feito por procuração outorgada mediante instrumento particular, desde que com
poderes especiais.

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23. (MPE-SP / MPE-SP – 2013) O Código Civil Brasileiro estabelece como idade núbil
a) doze anos.
b) quatorze anos.
c) dezesseis anos.
d) dezoito anos.
e) vinte e um anos.
24. (CESPE / DP-DF – 2013) Considerando que o estado civil de cada pessoa deve refletir sua realidade
afetiva, em detrimento das formalidades e valores essencialmente patrimoniais, o STJ entende que não é
necessária a prévia partilha de bens para a conversão da separação judicial em divórcio.
25. (FCC / DPE-AM – 2013) A união estável
a) equipara-se, para todos os fins, ao casamento civil, inclusive no que toca à prova.
b) pode ser constituída entre pessoas casadas, desde que separadas judicialmente ou de fato.
c) demanda diversidade de gêneros, de acordo com recente entendimento do supremo tribunal federal.
d) será regida, em seus aspectos patrimoniais, pelo regime da separação obrigatória, salvo disposição
contrária em contrato firmado pelos companheiros.
e) se dissolvida, não autoriza os companheiros a pedirem alimentos.
26. (FCC / DPE-AM – 2013) O divórcio:
a) não pode ser concedido sem prévia partilha dos bens.
b) demanda prévia separação judicial, há pelo menos um ano, ou de fato, há pelo menos dois.
c) só pode ser requerido se comprovada culpa de um dos cônjuges.
d) pode dar ensejo à obrigação de prestar alimentos, a qual não se extingue com novo casamento do
alimentante.
e) não importa restrição aos direitos e deveres decorrentes do poder familiar, salvo na hipótese de
casamento de qualquer dos pais.
27. (CESPE / DPE-AL – 2012) De acordo com a jurisprudência, não se deve declarar a união estável
entre duas pessoas que celebrem expressamente contrato de namoro no qual esclareçam o propósito de
não viverem em união estável, sob pena de se violar a boa-fé da parte inocente.
28. (FGV / PC-MA – 2012) A respeito do instituto do casamento, analise as afirmativas a seguir.
I. Os pais, tutores ou curadores podem revogar a autorização até à data da celebração do casamento.
II. Quando injusta, a denegação do consentimento, pode ser suprida pelo juiz.
III. Será permitido, excepcionalmente, o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil para evitar
imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez.
Assinale:
a) se somente a afirmativa I estiver correta.
b) se somente a afirmativa II estiver correta.

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c) se somente a afirmativa III estiver correta.


d) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
e) se todas as afirmativas estiverem corretas.
29. (FUMARC / PC-MG – 2011) Considerando-se os aspectos gerais do casamento, é INCORRETO
afirmar que
a) o casamento tem como característica ser um ato personalíssimo, solene, de união permanente, regido por
normas de ordem pública e dissolúvel.
b) o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, sem que se tenha que alegar alguma causa ou mesmo
sem mais prazo algum.
c) o casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas pela legislação vigente, terá́ efeitos civis
se, a requerimento do casal, for registrado, submetendo-se aos mesmos requisitos exigidos para o
casamento civil, contudo, na hipótese de uma das partes falecer, antes do casamento religioso ser
reconhecido, não se pode mais requer os efeitos civis.
d) as causas suspensivas do casamento visam a resguardar interesse público e, portanto, podem ser opostos
por qualquer pessoa capaz até o momento da celebração do casamento.
30. (CESPE / DPU – 2010) Admitida a existência de união estável e de sua regulação por contrato
escrito, é lícita a disposição acerca do patrimônio adquirido durante uma união estável, com eficácia na
futura sucessão, mas não é lícita com relação ao patrimônio anterior; para este, deve utilizar-se, se for o
caso, escritura pública de doação.
31. (PGE / PGE-MS – 2005) Analisando as disposições do Código Civil, concernentes às causas
suspensivas do casamento, julgue os itens abaixo:
I - A situação do viúvo ou da viúva que tiver filhos do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos
bens do casal e der partilha aos herdeiros é tratada pela codificação de 2002 como causa suspensiva não
mais como impedimento;
II - O raptor não pode casar com a raptada enquanto esta não se ache fora do seu poder em lugar seguro;
III - As causas suspensivas interferem somente na livre escolha do regime de bens pelos cônjuges, até que se
cumpram as exigidas pelo texto de lei;
IV - O não cumprimento das formalidades previstas na legislação obriga que o casamento seja celebrado pelo
regime legal da separação obrigatória;
V - A menoridade é causa suspensiva.
a) Todos os itens são verdadeiros;
b) Somente os itens I e II são falsos;
c) Somente os itens III e IV são verdadeiros;
d) só os itens II e V são falsos;
e) Só o item IV é verdadeiro.
32. (FCC / DPE-MA – 2003) Considera-se inexistente o casamento entre:
a) pessoas do mesmo sexo.

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b) ascendente e descendente.
c) pessoas que sejam casadas.
d) afins em linha reta ou na colateral.
e) o adotante e quem foi cônjuge do adotado.

Direito Conjugal Patrimonial

33. (VUNESP / MP-SP – 2017) A legislação brasileira, quanto ao regime de comunhão universal entre
cônjuges, determina que são
a) incluídos na comunhão universal as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com
seus aprestos ou reverterem em proveito comum.
b) incluídos na comunhão universal os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge, percebidos na
constância do casamento.
c) excluídos da comunhão universal todos os bens anteriores ao casamento, pois apenas os bens que forem
adquiridos a partir da celebração do casamento se comunicam integralmente.
d) excluídos da comunhão universal joias pessoais e prêmios personalíssimos havidos ou recebidos por um
dos cônjuges antes ou durante o casamento.
e) excluídos da comunhão universal os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os
sub-rogados em seu lugar
34. (CESPE / DPU – 2017) “No mundo contemporâneo (pós-moderno), a família perdeu o caráter
natural, assumindo nova feição, forjada, agora, em fenômenos culturais. A família de hoje representa um
“fenômeno humano em que se funda a sociedade, sendo impossível compreendê-la senão à luz da
interdisciplinaridade, máxime na sociedade contemporânea, marcada por relações complexas, plurais,
abertas, multifacetadas e (por que não?) globalizadas”.
A respeito do assunto objeto do texto precedente, julgue os itens que se seguem, tendo como referência o
entendimento dos tribunais superiores.
Antes da regulamentação legal da união estável, era necessário para futura partilha igualitária, comprovar o
esforço comum dos companheiros na aquisição do patrimônio coletivo, o que não é mais necessário em
razão da atual presunção de mútua assistência.
35. (CESPE / TJ-AM – 2016) A respeito do direito de família, assinale a opção correta.
a) Dos nubentes que optam pelo regime de comunhão universal de bens não se exige a formulação de pacto
antenupcial, ato solene lavrado por escritura pública.
b) É considerado bem de família, insuscetível de penhora, o único imóvel residencial do devedor no qual
resida seu familiar, ainda que ele, proprietário, não habite no imóvel.
c) O fato de um casal de namorados projetar constituir família no futuro caracteriza a união estável se houver
coabitação.
d) O casamento putativo não será reconhecido de ofício pelo juiz.
e) Se não houver transação em sentido contrário, as verbas indenizatórias integram a base de cálculo da
pensão alimentícia.

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36. (FCC / PGM-São Luís (MA) – 2016) Paulo e Ana moram juntos há 10 anos, em convivência estável
e como se fossem casados. Ademais, Paulo é separado de fato de Camila, tendo nascido desta união
Mauro. Paulo e Ana, durante a profícua união, de comum adquiriram um apartamento no valor de R$
500.000,00, uma moto no valor de R$ 100.000,00. Destaque-se que ambos contribuíram financeiramente
para a aquisição dos bens, unidos seus esforços e patrimônio para tanto, todavia decidiram romper o
convívio afetivo por incompatibilidades. Em relação à situação fática exposta, é correto afirmar:
a) Paulo e Ana viveram em união estável, aplicando-se às relações patrimoniais, em regra, o regime de
comunhão parcial de bens, devendo isso ser levado em conta para o rompimento e a partilha dos bens.
b) Percebendo que Paulo era separado de fato de Camila, a relação desenvolvida com Ana realmente se dava
como concubinato e não, de outro lado, como união estável.
c) Na união estável, aplica-se, às relações patrimoniais, sempre o regime da comunhão parcial de bens.
d) Ressalvando-se contrato escrito entre os companheiros, na união estável, aplica-se às relações
patrimoniais, o regime da separação de bens.
e) Já que Paulo era separado de fato de Camila, não se impediria a existência de união estável com Ana,
todavia, os bens não serão divididos entre ambos porque na dissolução de união estável não cabe partilha
de bens.
37. (FCC / DPE-BA – 2016) Margarida de Oliveira conviveu em união estável com Geraldo Teixeira
desde o ano de 2006, ambos pessoas capazes e não idosos. Não realizaram pacto de convivência. Durante
o relacionamento, Margarida, funcionária pública, recebia salário equivalente a dez salários mínimos,
enquanto Geraldo não realizava qualquer atividade remunerada. Em 2010, Margarida adquiriu, por
contrato de compra e venda, um bem imóvel onde o casal passou a residir. Em 2015, recebeu o valor de
R$ 100.000,00 (cem mil reais), deixado por seu pai por sucessão legítima.
Diante desta hipótese, é correto dizer que Geraldo
a) não tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, uma vez que o bem foi
adquirido sem qualquer participação de Geraldo, mas faz jus à partilha do valor recebido a título de herança
por Margarida, uma vez que o regime de bens aplicável à relação.
b) não tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, uma vez que o bem foi
adquirido sem qualquer participação de Geraldo, e também não faz jus à partilha do valor recebido a título
de herança por Margarida, uma vez que o regime de bens aplicável à relação não contempla herança.
c) tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, independente de prova de
esforço comum, mas não faz jus à partilha do valor recebido a título de herança por Margarida, uma vez que
o regime de bens aplicável à relação não contempla herança.
d) tem direito à meação do imóvel adquirido na constância da união estável, independente de prova de
esforço comum, como também faz jus à partilha do valor recebido a título de herança por Margarida, uma
vez que o regime de bens aplicável à relação contempla herança.
e) tem direito tanto à meação do imóvel adquirido na constância da união estável bem como à partilha do
valor recebido a título de herança por Margarida, desde que prove esforço comum em ambas as situações.
38. (FCC / DPE-BA – 2016) João, atualmente com 20 anos de idade, foi diagnosticado com
esquizofrenia. Em razão desta grave doença mental, João tem delírios constantes e alucinações, e
apresenta dificuldades de discernir o que é real e o que é imaginário, mesmo enquanto medicado. Em
razão deste quadro, em 2014, logo após completar 18 anos, sofreu processo de interdição, que culminou

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no reconhecimento de sua incapacidade para a prática de todos os atos da vida civil, sendo-lhe nomeado
curador na pessoa de Janice, sua mãe. Entretanto, ele é apaixonado por Tereza e deseja com ela se casar.
Afirmou que em sinal de seu amor, quer escolher o regime da comunhão total de bens. Levando em
consideração o direito vigente, João
a) não poderá contrair matrimônio de forma válida e nem celebrar pacto antenupcial para a escolha do
regime de bens ainda que tenha o consentimento de sua genitora, pois o casamento seria inexistente em
razão de vício da vontade.
b) poderá contrair matrimônio de forma válida independentemente do consentimento de sua curadora, mas
depende da sua assistência para celebrar validamente pacto antenupcial para a escolha do regime de bens.
c) poderá contrair matrimônio de forma válida e celebrar pacto antenupcial para a escolha do regime de
bens, independentemente do consentimento de sua curadora.
d) não poderá contrair matrimônio de forma válida e nem celebrar pacto antenupcial para a escolha do
regime de bens, ainda que contasse com o consentimento de sua curadora, pois o casamento será nulo de
pleno direito por ausência de capacidade.
e) poderá contrair matrimônio de forma válida independentemente do consentimento de sua curadora, mas
não poderá celebrar validamente pacto antenupcial para a escolha do regime de bens no caso, pois a lei
impõe o regime da separação obrigatória à espécie.
39. (VUNESP / TJ-SP – 2015) É correto afirmar que
a) salvo no regime da separação, os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e
rendimentos, para o sustento da família e a educação dos filhos.
b) as causas suspensivas do casamento podem ser opostas por qualquer pessoa.
c) se excluem da comunhão parcial de bens os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge.
d) é obrigatório o regime da separação de bens aos que contraírem matrimônio com inobservância das
cláusulas de impedimento da celebração do casamento.
40. (FCC / TJ-CE – 2015) Analise as assertivas a seguir:
I. O pacto antenupcial não terá efeito perante terceiros senão depois de registrado em livro especial pelo
oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.
II. É inalterável o regime de bens do casamento, ainda que mediante autorização judicial.
III. No regime da comunhão universal de bens só não se comunicam aqueles herdados ou recebidos por
doação com cláusula de incomunicabilidade.
IV. No regime da comunhão parcial de bens não se comunicam as obrigações provenientes de atos ilícitos,
salvo reversão em proveito do casal.
V. No regime de separação de bens, ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal
na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto
antenupcial.
Sobre o regime de bens do casamento, é correto o que se afirma APENAS em
a) III, IV e V.
b) I, III e V.

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c) I, IV e V.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.
41. (CESPE / TJ-DFT – 2015) A respeito de institutos relacionados ao direito de família, assinale a opção
correta conforme a legislação de regência e a jurisprudência.
a) É vedada a aplicação da proteção ao bem de família ao imóvel sobre o qual tenha sido constituída cláusula
de usufruto vitalício em favor de genitor do proprietário.
b) A obrigação alimentícia deve ser exonerada com a obtenção da maioridade do alimentado, visto que essa
mudança na capacidade civil extingue, de forma automática, o direito à percepção de alimentos.
c) É obrigatório que o juiz homologue acordo a respeito da partilha de bens em ação de separação judicial,
ainda que o magistrado constate a ocorrência de efetivo prejuízo a um dos cônjuges.
d) É autorizado à genitora retificar o seu patronímico no registro de nascimento de seus filhos após o divórcio,
quando deixar de utilizar o nome de casada.
e) No regime de separação obrigatória de bens, é vedada a comunicação de bens adquiridos na constância
do casamento.
42. (CESPE / TJ-DFT – 2015) De acordo com a jurisprudência do STJ, assinale a opção correta no que
concerne ao instituto da união estável.
a) Diante da inaplicabilidade de analogia com a legislação referente às relações estáveis heteroafetivas, é
vedado o reconhecimento post mortem de união homoafetiva.
b) Apesar de não estar previsto no Código Civil, o companheiro supérstite tem o direito real de habitação
sobre o imóvel de propriedade do falecido onde o casal residia.
c) É permitida a alienação de bem imóvel adquirido na constância de união estável independentemente da
autorização de um dos companheiros.
d) Em uma eventual ação de alimentos que seja posterior à dissolução de união estável homoafetiva, é
juridicamente impossível o pedido de alimentos formulado pelo ex-companheiro.
e) Caso um senhor, convivente em união estável, preste fiança sem a outorga uxória de sua companheira,
tal fiança será nula.
43. (FCC / TJ-SC – 2015) Analise as seguintes assertivas sobre o regime de bens do casamento.
I. No regime da comunhão parcial de bens excluem-se da comunhão os proventos do trabalho pessoal da
cada cônjuge.
II. No regime da separação de bens, salvo disposição em contrário no pacto antenupcial, ambos os cônjuges
são obrigados a contribuir para as despesas do casal apenas na proporção dos rendimentos de seu trabalho.
III. No regime da comunhão universal de bens, são excluídos da comunhão os bens herdados com a cláusula
de inalienabilidade.
IV. Nos regimes da comunhão parcial e da comunhão universal de bens, recusando-se um dos cônjuges à
outorga para alienação de bem imóvel, cabe ao juiz supri-la, se não houver motivo justo para a recusa.
V. Salvo no regime da separação de bens, é nula a fiança concedida por um dos cônjuges sem autorização do
outro.

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É correto o que se afirma APENAS em


a) II, IV e V.
b) III, IV e V.
c) I, II e III.
d) II, III e IV.
e) I, III e IV.
44. (VUNESP / TJ-SP – 2015) Em tema de outorga marital ou uxória, é correto afirmar que
a) é válida a fiança prestada durante união estável sem anuência do companheiro, conforme entendimento
do Superior Tribunal de Justiça.
b) o fiador tem legitimidade para arguir a invalidade da garantia fidejussória independentemente de tal
consentimento.
c) a assinatura do cônjuge, na qualidade de testemunha instrumental do contrato, supre a outorga exigida
na garantia fidejussória, conforme o entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
d) é exigível em todos os regimes de bens, e sua ausência implica ineficácia total do contrato.
45. (VUNESP / TJ-SP – 2015) É correto afirmar que
a) salvo no regime da separação, os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e
rendimentos, para o sustento da família e a educação dos filhos.
b) as causas suspensivas do casamento podem ser opostas por qualquer pessoa.
c) se excluem da comunhão parcial de bens os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge.
d) é obrigatório o regime da separação de bens aos que contraírem matrimônio com inobservância das
cláusulas de impedimento da celebração do casamento.
46. (CESPE / TJ-PB – 2015) Com relação ao direito de família, assinale a opção correta à luz da
jurisprudência dominante do STJ.
a) O princípio da imutabilidade absoluta de regime de bens é resguardado pelo Código Civil de 2002.
b) A separação de fato não põe fim ao regime matrimonial de bens.
c) É admissível o levantamento do saldo de conta vinculada ao FGTS para a satisfação de crédito alimentar
atual.
d) A constituição de nova família, independentemente de alteração da possibilidade do alimentante, é causa
suficiente para a revisão do valor da prestação de alimentos prestados aos filhos havidos na união anterior.
e) O curador é competente para fixar a sua remuneração pela administração do patrimônio do interdito.
47. (MPE-SP / MPE-SP – 2015) São pessoas legitimadas a promover a ação de anulação do ato jurídico,
com exceção do:
a) cônjuge, não casado no regime da separação absoluta, por doação remuneratória de bem comum feita
pelo outro.
b) cônjuge, não casado no regime da separação absoluta, em razão de aval ou fiança prestado pelo outro.

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c) cônjuge, que tenha se negado à coabitação, na hipótese de casamento realizado pelo mandatário, sem
que ele soubesse da revogação do mandato.
d) herdeiro, por erro substancial na designação do legatário ou da coisa legada na disposição testamentária.
e) neto de filho pré-morto, no caso de compra e venda realizada pelo avô a um de seus filhos vivos, sem o
seu consentimento.
48. (MPE-SP / MPE-SP – 2015) Sobre o regime de bens do casamento, assinale a alternativa correta:
a) A Código Civil alterou o ordenamento jurídico brasileiro para impor o princípio da imutabilidade absoluta
do regime matrimonial de bens.
b) É vedada qualquer modificação no regime de bens de casamento celebrado antes da vigência do Código
Civil de 2002.
c) A alteração do regime de bens na união estável depende de homologação judicial e prévia oitiva do
Ministério Público.
d) O regime da separação obrigatória de bens do casamento poderá ser alterado pelos nubentes com mais
de 70 anos de idade.
e) Cessada a causa suspensiva da celebração do casamento, será possível aos cônjuges modificar o regime
obrigatório de bens do casamento para o eleito pelo casal.
49. (FCC / MPE-PE – 2014) João, casado com Maria, sob regime da comunhão parcial de bens e Pedro,
casado com Antonia, sob o regime da comunhão universal de bens, fizeram aposta em loteria, sendo
contemplados os varões apostadores com grande soma em dinheiro. Em seguida, ambos resolveram
divorciar-se de suas esposas. Neste caso e para fins de partilha de bens, pode-se afirmar:
a) Maria participará do que João ganhou, por serem casados sob o regime da comunhão parcial de bens, mas
Antonia só participará do que Pedro ganhou, se houver pacto antenupcial, pois a lei não submete essa
hipótese à comunhão de aquestos.
b) Somente Maria participará a título de meação do que o cônjuge ganhou.
c) Somente Antonia participará a título de meação do que o cônjuge ganhou.
d) Maria e Antonia não participarão a título de meação do que eles ganharam.
e) Maria e Antonia participarão a título de meação do que eles ganharam.
50. (FCC / PGE-RN – 2014)
Pedro e Maria são casados sob o regime da comunhão parcial de bens. Durante a sociedade conjugal, Pedro
recebeu prêmio de aposta em loteria, no valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), resolvendo
divorciar-se de Maria. Até então, possuíam os seguintes bens: uma casa doada pelos pais de Maria a ambos
os nubentes, por ocasião do casamento; um sítio adquirido a título oneroso por Pedro durante a sociedade
conjugal, fruto da economia de seus salários, tendo Maria recebido uma outra casa, por herança de sua mãe,
depois do casamento. Na partilha de bens, em razão do divórcio observar-se-á o seguinte:
a) somente Pedro tem direito ao prêmio que auferiu na aposta e ambos têm iguais direitos sobre os demais
bens.
b) cada um tem direito à metade do prêmio que Pedro auferiu na aposta; ambos têm iguais direitos sobre a
casa doada pelos pais de Maria e ao sítio adquirido por Pedro e Maria tem a propriedade exclusiva da casa
que recebeu por herança de sua mãe.

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c) somente Pedro tem direito ao prêmio que auferiu na aposta; ambos têm iguais direitos sobre a casa doada
pelos pais de Maria e ao sítio adquirido por Pedro e Maria tem a propriedade exclusiva da casa que recebeu
por herança de sua mãe.
d) cada um tem direito à metade do prêmio que Pedro auferiu na aposta; somente Maria tem direito sobre
a casa doada por seus pais e à propriedade exclusiva da casa que recebeu por herança de sua mãe e ambos
têm iguais direitos sobre o sítio adquirido por Pedro.
e) ambos têm iguais direitos sobre todos esses bens.
51. (FCC / Câmara Municipal-SP – 2014) Em relação ao regime de bens entre cônjuges:
a) no pacto antenupcial, que adotar o regime de participação final nos aquestos, poder-se-á convencionar a
livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares
b) não havendo convenção antenupcial, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os
cônjuges, o regime da comunhão universal.
c) o pacto antenupcial pode ser feito por escritura pública ou por instrumento particular, neste caso desde
que registrado em livro próprio, no Registro Imobiliário do domicilio dos cônjuges.
d) é anulável a convenção ou cláusula de pacto antenupcial que contravenha disposição absoluta de lei.
e) por serem atos formais e solenes, em nenhuma hipótese será permitida a realização de pactos
antenupciais por menores.
52. (FCC / Câmara Municipal-SP – 2014) Maria e José viveram juntos por oito anos. Não tiveram filhos.
Separaram-se e Maria, objetivando meação dos bens que José levou para o convívio, propõe ação
declaratória de reconhecimento de união estável, cumulada com a partilha de tais bens. José contesta
alegando que, como ele era casado, embora separado de fato de seu cônjuge, e não tiveram filhos, não
haveria como configurar-se união estável, por impedimento matrimonial; além disso, os bens seriam
somente dele, José, por terem sido adquiridos antes da alegada união estável. Ao examinar a questão, o
juiz da causa
a) não admitirá a união estável, pela existência de impedimento matrimonial a impedir a conversão em
casamento; também não destinará qualquer bem a Maria, por serem de exclusiva propriedade de José.
b) não admitirá a união estável, pela inexistência de filhos e pela ocorrência de impedimento matrimonial,
mas determinará indenização a Maria pela caracterização de concubinato.
c) admitirá a união estável por ser irrelevante a ausência de filhos e suficiente a separação de fato para sua
constituição, destinando metade dos bens para Maria, já que, por analogia, o regime de bens na união
estável equipara-se à comunhão total de bens.
d) admitirá a união estável, porque a ausência de filhos é irrelevante e a separação de fato já permite sua
constituição; quanto aos bens, determinará que são apenas de José, porque só se comunicariam aqueles
adquiridos na constância da união estável, à qual se aplicam, nas relações patrimoniais, no que couber, o
regime da comunhão parcial de bens.
e) não admitirá a união estável, pela existência de impedimento matrimonial, uma vez que é preciso estarem
presentes todos os requisitos para conversão da convivência em casamento; no entanto, destinará metade
dos bens para Maria, como indenização moral pelos oito anos de convívio.
53. (VUNESP / TJ-SP – 2013) Com relação ao regime de bens do casamento, é correto afirmar que

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a) qualquer que seja o regime de bens, nenhum cônjuge poderá, sem a autorização do outro, alienar ou
onerar bens imóveis.
b) no regime da comunhão parcial, entram na comunhão todos os bens adquiridos na constância do
casamento.
c) excluem-se da comunhão parcial as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito
do casal.
d) a falta de autorização de um cônjuge para que o outro preste fiança, quando o regime não é o da separação
absoluta de bens, torna nula a garantia, podendo essa nulidade ser alegada a qualquer tempo.
54. (CESPE / DP-DF – 2013) De acordo com a jurisprudência pacificada do STJ, não é possível alterar o
regime de bens de matrimônios contraídos sob a égide do Código Civil de 1916.
55. (FCC / PGE-MT – 2011) Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher
sempre podem livremente
a) praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão.
b) administrar os bens próprios do outro cônjuge.
c) desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados com o seu consentimento.
d) reivindicar os bens imóveis comuns, doados pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os
bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco
anos.
e) demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro
cônjuge, ainda que com o seu consentimento.
56. (CESPE / DPE-BA – 2010) Aplica-se à união estável o regime da comunhão parcial de bens, não se
exigindo dos companheiros prova do esforço comum para a aquisição dos bens.
57. (VUNESP / TJ-MT – 2009) Diva viveu maritalmente com Roberto entre agosto de 1991 e março de
1993, ocasião em que compraram juntos uma casa situada na rua Aurora. Após um período de separação,
houve uma reconciliação e, visando formalizar a união, Diva e Roberto contraíram matrimônio no dia 17
de janeiro de 1995, firmando pacto antenupcial para a adoção do regime de separação de bens. Durante
o casamento, venderam a casa da rua Aurora e com o dinheiro, Roberto adquiriu em seu nome a
propriedade de uma casa situada na rua Consolação. Ocorre que Roberto hipotecou esse imóvel, sem
outorga de Diva, em razão de seu regime de bens. Diante desses fatos, assinale a alternativa correta.
a) A Diva pertence a metade ideal do imóvel hipotecado, uma vez que foi adquirido por fruto da constância
da união estável, o que deverá ser declarado em juízo.
b) Roberto pode hipotecar o imóvel, visto que casado pelo regime de separação convencional de bens, não
sendo possível opor-se Diva, resguardando-se direito de terceiros.
c) A outorga uxória para a hipoteca não seria necessária se o regime de separação fosse o obrigatório, visto
que afasta eventual comunhão dos aquestos.
d) Diva não deve anuir com a hipoteca, uma vez que o bem não lhe pertence, mas apenas a Roberto, pois
não houve comunhão dos bens adquiridos na constância do casamento.
e) Independentemente do regime de bens, a outorga uxória é sempre necessária para gravar de ônus real o
bem, ainda que este seja o de separação legal ou convencional de bens.

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58. (CESPE / DPE-AL – 2009) É possível que homem e mulher que resolvam manter união estável
estabeleçam entre si regime de bens por meio de um contrato de convivência, negócio jurídico que poderá,
inclusive, ser formalizado por meio de instrumento particular e cuja falta acarretará a aplicação das regras
atinentes ao regime da comunhão parcial.
59. (CESPE / DPE-AL – 2009) Quanto ao direito de família, julgue os itens seguintes.
O regime de bens passa a gerar efeitos a partir do casamento e cessa com o falecimento de um dos cônjuges,
com a separação judicial ou com o divórcio, não sendo possível que a mera separação de fato seja
considerada como razão relevante para alterar qualquer dos efeitos decorrentes do regime adotado, já que,
por si só, a separação de fato não dissolve o casamento, independentemente de sentença.
60. (CESPE / DPE-AL – 2009) Quanto ao direito de família, julgue os itens seguintes.
A união estável é uma realidade fática, de modo que, ao contrário do casamento, essencialmente formal, os
conviventes poderão dispor livremente acerca dos reflexos patrimoniais de sua união e estabelecerem entre
si limitação ao eventual direito de um deles receber pensão alimentícia do outro ou mesmo acerca do direito
de herdar bens um do outro.
61. (CESPE / DPE-AC – 2006) João afirma que viveu junto de Maria — que cuidava apenas dos afazeres
domésticos — por mais de dez anos, até o seu falecimento, ocorrido há dois meses. Afirma ainda que
tiveram dois filhos, que foram por ele reconhecidos. Perguntado se tinham bens, ele respondeu que
compraram um lote de terreno há dois anos, que foi registrado no nome dela e onde construíram uma
casa. No período em que viveram juntos, Maria, que era filha única, recebeu, como herança de sua mãe
viúva, um terreno na cidade de Tarauacá. Ele, por sua vez, junto com irmãos, herdou uma pequena
propriedade que pertencia ao pai, que era viúvo ao falecer. Com base na legislação pertinente, assinale a
opção correta acerca da situação hipotética acima apresentada.
a) Por não terem sido casados no civil, João não tem nenhum direito com relação ao lote de terreno
registrado no nome de Maria e ao terreno na cidade de Tarauacá.
b) João tem direito sucessório apenas sobre os bens adquiridos a título oneroso durante a convivência com
Maria.
c) João tem direito a apenas metade de todos os bens que pertenciam ao casal, incluindo-se aqueles
herdados por ambos e os que foram por eles adquiridos durante a união.
d) Por possuir bem herdado de seu falecido pai, o direito de Pedro limita-se à metade dos bens que adquiriu
em conjunto com a falecida, durante a união estável.
62. (CESPE / DPU – 2005) No regime da comunhão universal de bens, comunicam-se os bens adquiridos
na constância de fato e de direito do casamento, mas não aqueles havidos por um só́ dos cônjuges após
separação irreversível de fato do outro, que nenhuma participação teve na aquisição desses bens.
63. (FCC / DPE-MA – 2003) Considere as afirmações abaixo sobre o regime de bens entre cônjuges:
I. É admissível a alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos
os cônjuges, devendo ser apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados direitos de terceiros.
II. O regime da separação de bens é obrigatório se a mulher for maior de 50 (cinquenta) anos.
III. Se o da comunhão parcial, incluem-se na comunhão os bens adquiridos na constância do casamento por
título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges e os decorrentes de doação, herança ou legado
em favor de ambos os cônjuges.

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IV. É nulo o pacto antenupcial feito por escritura pública se não lhe seguir o casamento.
V. No regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio, mas à época da
dissolução da sociedade conjugal caber-lhe-á metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na
constância do casamento.
SOMENTE estão corretas as afirmações:
a) I, II e IV.
b) I, III e V.
c) I, IV e V.
d) II, IV e V.
e) III, IV e V.

GABARITOS
Direito Conjugal Pessoal

1. TJ-RS B 17. DPE-PE C


2. MP-PR A 18. TJ-DFT B
3. DPE-PE D 19. MP-MG D
4. TJ-SC C 20. DPE-RS NENHUMA
5. DPE-AL NENHUMA 21. DPE-CE D
6. PGM-São Luís B 22. TJ-SP AeC
7. DPE-ES B 23. MPE-SP C
8. TJ-SE D 24. DP-DF C
9. TJ-AL D 25. DPE-AM B
10. TJ-MS A 26. DPE-AM D
11. TJ-PE E 27. DPE-AL E
12. TJ-SC C 28. PC-MA B
13. MPE-BA NENHUMA 29. PC-MG D
14. MPE-MS NENHUMA 30. PGE-MS D
15. DPU C 31. DPE-MA NENHUMA
16. DPE-MA B
Direito Conjugal Patrimonial

32. MP-SP E 33. DPU C

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34. DPE-RS C
35. TJ-AM B
36. PGM-São Luís A
37. DPE-BA C
38. DPE-BA B
39. TJ-SP C
40. TJ-CE C
41. TJ-DFT D
42. TJ-DFT B
43. TJ-SC E
44. TJ-SP A
45. TJ-SP C
46. TJ-PB C
47. MPE-SP A
48. MPE-SP E
49. MPE-PE E
50. PGE-RN B
51. Câmara Municipal-SP A
52. Câmara Municipal-SP D
53. TJ-SP C
54. DP-DF C
55. PGE-MT D
56. DPE-BA C
57. TJ-MT A
58. DPE-AL C
59. DPE-AL E
60. DPE-AL E
61. DPE-AC B
62. DPU C
63. DPE-MA B

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