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Curso Preparatório 1ª Fase VFK Educação

Concurso de Cartório Disciplina: Direito Civil

Direito Civil para Concurso de Cartório


Responsabilidade Civil

Sumário
1 Conceitos Iniciais ................................................................................................................... 3

1.1 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL OU NEGOCIAL ................................................................ 3

1.2 RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL OU AQUILIANA ...................................................... 3

1.3 ATO ILÍCITO PURO .................................................................................................................... 4

1.4 ABUSO DE (DO) DIREITO:........................................................................................................... 4

2 Elementos da responsabilidade civil extracontratual ou pressupostos do dever de

indenizar 7
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

2.1 CONDUTA HUMANA (ALGUNS FUNDEM COM A CULPA) ............................................................... 7

2.1.1 Ação ................................................................................................................................. 7

2.1.2 Omissão ........................................................................................................................... 7

2.2 CULPA LATU SENSU OU EM SENTIDO AMPLO............................................................................... 7

2.2.1 Dolo ................................................................................................................................. 8

2.3 CULPA EM SENTIDO ESTRITO OU STRICTO SENSU......................................................................... 8

2.3.1 A diferença entre culpa presumida e responsabilidade objetiva ............................... 9

2.3.2 Evolução .......................................................................................................................... 9

2.4 NEXO DE CAUSALIDADE .......................................................................................................... 10

2.4.1 São excludentes do nexo causal .................................................................................. 10

2.4.2 Teorias quanto ao nexo de causalidade: .................................................................... 12

2.5 DANO OU PREJUÍZO ............................................................................................................... 12

2.5.1 Danos materiais (patrimoniais)................................................................................... 13

2.5.2 Danos morais ................................................................................................................ 14

2.5.3 Danos estéticos ............................................................................................................. 16

2.5.4 Danos morais coletivos (art, 6º, IV, do CDC) ............................................................. 17

2.5.5 Danos sociais ................................................................................................................ 18

2.5.6 Danos por perda de uma chance ................................................................................ 18

3 Classificação da responsabilidade civil quanto à culpa ................................................. 20


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3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA ........................................................................................ 20

3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA .......................................................................................... 20

3.2.1 Responsabilidade objetiva por fato ou guarda do animal, de acordo com o art. 936

do Código: 22

3.2.2 Responsabilidade objetiva do dono do prédio ou construção por sua ruína, nos

termos do art. 937 do Código ................................................................................................................... 23

3.2.3 Responsabilidade objetiva do habitante do prédio pelas coisas que dele caírem ou

forem lançadas em lugar indevido .......................................................................................................... 23

3.2.4 Responsabilidade civil do transportador: é objetiva por três razões: ....................... 23

4 Excludentes da Responsabilidade Civil ............................................................................ 25

4.1 LEGÍTIMA DEFESA.................................................................................................................... 25

4.2 ESTADO DE NECESSIDADE OU PERIGO IMINENTE........................................................................ 25

4.3 EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO......................................................................................... 26

4.4 EXCLUDENTES DE CAUSALIDADE .............................................................................................. 27

4.5 CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR E CLÁUSULA DE IRRESPONSABILIDADE ......................................... 27


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1 Conceitos Iniciais

Classificação da responsabilidade civil quanto à origem.

1.1 Responsabilidade civil contratual ou negocial


É aquela relacionada ao inadimplemento de uma obrigação, prevista nos

artigos 389, 390 e 391 do Código Civil:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e


danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado
(descumprimento da obrigação positiva, dar e fazer);
Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por
inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia
abster (obrigação negativa, de não fazer);
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Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os


bens do devedor.
Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o
contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem
não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes
por culpa, salvo as exceções previstas em lei.
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso
fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato
necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

1.2 Responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana


Está baseada no ato ilícito, nos termos do art. 186 do Código Civil de 2002,
bem como no abuso de direito, previsto no art. 187 (lex aquilia de dano, século III a.C.).

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1.3 Ato ilícito puro

(Ou indenizante – classificação do Pontes de Miranda: I – ilícito nulificante [art. 166,


II do Código]; II – ilícito caducificante que gera a perda do direito; III – ilícito
indenizante [art. 186]) do art. 186:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

A fórmula do ato ilícito civil consiste na soma da I - violação de um direito

(equivale a um dever jurídico) mais o II - dano causado; o Código anterior utilizava o


termo “ou”, sem se constituir na soma dos dois aspectos; ou seja, sem dano não há

ilícito civil nem dever de indenizar, nos termos do art. 927, caput do Código:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito ( arts. 186 e 187 ), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
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Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Ex. dirigir bêbado, por si só não é ilícito civil (pode haver ilícito penal ou ilícito
administrativo); por outro lado, dirigir bêbado e atropelar alguém configura, ai sim,
ilícito civil. Existe, assim, o I - dano evento: consiste na violação de um direito alheio;
II – dano resultado: dano em si, expressões de Antônio Junqueira Azevedo.

O art. 186 adotou um modelo culposo, que leva à responsabilidade subjetiva.


Faz também referência ao dolo (ação ou omissão voluntária), bem como à culpa

(negligência/imprudência).

1.4 Abuso de (do) direito:


Previsto no art. 187:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao


exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

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Trata-se de um ilícito equiparado (porque a própria lei fala = também comete

ato ilícito), também denominado como ilícito impuro. O dispositivo adotou a teoria
dos direitos subjetivos, pela máxima: “o meu direito termina onde começa o seu

direito”. Os direitos devem coexistir de forma harmônica, de acordo com a teoria dos
direitos subjetivos.

Consiste no exercício irregular ou imoderado de um direito, presente quando


alguém excede manifestamente três parâmetros:

a) função social ou econômica de um direito;

b) boa-fé;

c) bons constumes.

Os três conceitos são abertos, que consistem em cláusulas gerais a serem

preenchidas pelo julgador no caso concreto. Rubens Limongi França conceitua o abuso

de direito como lícito quanto ao conteúdo e ilícito quanto às consequências, ou seja,


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a ilicitude está na forma de execução do ato (fórmula: lícito + abusivo = ilicitude. Ex.

vedação à greve abusiva).

Ex1. Publicidade abusiva prevista no art. 37 do CDC, que viola os valores sociais;
Ex2. Abuso no processo (lide temerária); Ex3. Abuso no exercício da propriedade ou
ato emulativo (AEMULATIO).

O abuso de direito exige dano? Para os fins de responsabilidade civil sim; para
outros fins, no entanto, não há necessidade de dano, como, por exemplo, o
requerimento de tutela inibitória, como prevê o art. 497, parágrafo único do Código
de Processo Civil de 2015:

Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não
fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou
determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo
resultado prático equivalente.
Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir
a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção,
é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência
de culpa ou dolo.

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O abuso de direito exige culpa? Segundo a doutrina amplamente majoritária o art.


187 do Código adotou o modelo de responsabilidade objetiva, como estabelecido
no enunciado 37 da I JDC).
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2 Elementos da responsabilidade civil extracontratual ou


pressupostos do dever de indenizar

A responsabilidade civil extracontratual tem quatro elementos.

2.1 Conduta humana (alguns fundem com a culpa)

2.1.1 Ação

Culpa in comittendo – regra.

2.1.2 Omissão

Culpa in omittendo – exceção: para que o agente responda é necessário provar


que:
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a) o ato deveria ser praticado (omissão genérica)

b) a omissão em si (omissão específica). Ex. um condomínio edilício


responde por furto ou roubo de veículo praticado no seu interior? Não,
como decidiu o STJ no Ag. Rg. no Ag. 1.102.361/RS, citando o EREsp
268.669/SP, em regra, respondendo apenas como exceções se houver
previsão na convenção de condomínio e se houver comprometimento
com segurança, expresso (assembleia) ou implícito, pois está fora da área
da segurança pública.

Em regra, a responsabilidade decorre de ato próprio e, como exceção, pode se


responder por ato de terceiro (artigos 932 a 933 do Código) ou por ato de animal

(artigo 936 do Código) ou, ainda, por fato da coisa (artigos 937 e 938 do Código) bem
como por produto ou serviço (como previsto no Código de Defesa do Consumidor);

2.2 Culpa latu sensu ou em sentido amplo


Tudo que é latu senso se refere a sentido amplo – e engloba dois conceitos:

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2.2.1 Dolo

Ato intencional praticado pelo agente – para o Direito Civil havendo dolo ou
culpa grave os efeitos são os mesmos, aplicando-se o princípio da reparação integral

dos danos (culpa lata dolus equiparatur).


Assim, são irrelevantes conceitos intermediários entre os dois, como, por

exemplo, o preterdolo;

2.3 Culpa em sentido estrito ou stricto sensu


É a violação de um dever preexistente relacionada a três padrões de conduta:

a) imprudência: falta de cuidado mais ação;

b) negligência: falta de cuidado somada à ação (art. 186 do CC);

c) imperícia: falta de qualificação para o exercício de uma atribuição.


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Em regra, a responsabilidade civil dos profissionais da área da saúde é

subjetiva, pois estes profissionais assumem obrigação de meio, art. 14, §4º do Código
de Defesa do Consumidor:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas
técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando
provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada
mediante a verificação de culpa.

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Tese de Demogue: obrigação de resultado, culpa presumida ou


responsabilidade objetiva; na atual composição do STJ predomina que existe, nesse

caso, a culpa presumida. Ex. médico cirurgião plástico estético (reparador não) pois ele
promete o resultado;

2.3.1 A diferença entre culpa presumida e responsabilidade objetiva

Culpa presumida Responsabilidade objetiva

Com culpa (subjetiva) Sem culpa

Se o réu provar que não teve culpa não Se o réu provar que não teve culpa, ele
responde responderá

Para não responder deve provar


excludente de nexo de causalidade
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2.3.2 Evolução

A culpa presumida, na vigência do Código de 1916, estava prevista três


modalidades:

a) culpa in vigilando;

b) culpa in elegendo: presumida na escolha;

c) culpa in custodiendo: custódia de animal.

No Código Civil de 2002 essas modalidades passaram a ser de


responsabilidade objetiva, como previsto nos artigos 932, 933 e 936 do atual Código.

Na classificação da culpa quanto ao seu grau:


a) culpa lata: é a culpa grave (a pessoa não queria o resultado mas agiu
como se quisesse) – não faz diferença no Direito Civil, porque a culpa
grave leva à reparação integral;

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b) culpa leve; é a culpa intermediária, com a redução equitativa da


indenização, pois há contribuição da própria vítima;

c) culpa levíssima: é aquela no menor grau possível, gerando a redução


equitativa da indenização (maior ainda). Prevê o art. 945 do Código que,
havendo contribuição causal da vítima, a indenização deve ser reduzida,
por: I – culpa concorrente; II – fato concorrente; III – risco concorrente;
dessa forma, a conduta da vítima pode ser fator atenuante do nexo de
causalidade na responsabilidade objetiva;

Culpas não se compensam e deve se verificar o percentual de agir de cada um. Ex.
surfista de trem – culpa ou fato exclusivo da vítima, como decidido no REsp
160.051/RJ; Ex. “pingente de trem” gera culpa ou fato concorrente da vítima, nos
termos do REsp 226.348/SP; Ex. REsp 1.349.849/SP, adotando a teoria do risco
concorrente;
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2.4 Nexo de causalidade


Consiste no elemento imaterial da responsabilidade civil e consiste numa

relação de causa e efeito entre a conduta e o dano (conceito de Aguiar Dias). Pode-se
dizer também que é uma relação de causa necessária.

O que forma o nexo causal? Na responsabilidade subjetiva é a culpa latu sensu;

na responsabilidade objetiva o que forma o nexo é a lei ou a atividade de risco,


segundo o parágrafo único do art. 927 do Código Civil (cláusula geral da

responsabilidade objetiva). Além disso, existem os fatores obstativos do nexo, que


impedem essa relação, que são excludentes do nexo, tanto na responsabilidade

subjetiva como na responsabilidade subjetiva.

2.4.1 São excludentes do nexo causal

a) culpa ou fato exclusivo da vítima. Ex. fumante, INF. 432 do STJ, pois a
empresa de cigarros não responderá pelos danos causados ao fumante;

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b) culpa ou fato exclusivo de terceiro (alguém totalmente estranho à relação


jurídica); Ex. acidente causado pelo criminoso que levou o veículo à mão
armada (o dono do veículo nesse caso não responde); diferente de um
empréstimo do veículo;

c) caso fortuito e força maior: são excludentes previstas no art. 393 do


Código:

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso


fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato
necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

Pontes de Miranda diz que são sinônimos e tratam de eventos não previstos
pelas partes. Por outro lado, Washington de Barros Monteiro e Maria Helena Diniz,

preceituam que: Caso fortuito é evento da natureza ao passo que a força maior é ato
do homem; Finalmente, Orlando Gomes (posição seguida por Sérgio Cavalieri Filho,
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Pablo Stolze Gagliano/Rodolfo Pamplona e Tartuce) sustentam que caso fortuito é o


evento totalmente imprevisível enquanto a força maior é o evento previsível mas

inevitável.
Na análise deve se utilizar a tese do Agostinho Alvim (Sérgio Cavalieri trouxe
de volta), aduzindo que somente não é caso fortuito ou força maior o evento externo,
que está fora do risco da atividade, ou do negócio, do empreendimento, devendo-se

relacionar com eventos internos para tanto, encampada no Superior Tribunal de


Justiça.

Ex1. Assalto a ônibus – após debate no STJ o assalto ao ônibus é evento externo,
segundo REsp 783.743/RJ; Ex2. Assalto a banco é considerado evento interno,
respondendo pelo assalto, segundo REsp 1.284.962/MG, respondendo até o seu
estacionamento. Ex3. Assalto a shopping – evento interno até o seu
estacionamento, conforme REsp 1.269.691/PB. Ex4. Ataque de psicopata a shopping
– também está pacificado (caso Matheus da Costa Meira), o STJ reformou algumas
decisões do TJSP pacificando que se trata de evento externo, como fez no REsp
1.164.889/SP e REsp 1.133.731/SP. Ex5. Súmula 479 do STJ – fraudes e delitos

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praticados por terceiros no âmbito das operações bancárias constituem fortuito


interno, respondendo as instituições financeiras.

2.4.2 Teorias quanto ao nexo de causalidade:


a) teoria da equivalência das condições ou do histórico dos antecedentes
(sine qua non): todos os fatos correlatos diretos ou indiretos, geram a
responsabilidade civil;

b) teoria do dano direto e imediato (art. 403 do Código - Clássica): somente


são reparáveis os danos que diretamente decorrem da conduta do
agente (Agostinho Alvim, Moreira Alves e Gustavo Tepedino) – STF e STJ
que afirmam que esta é a teoria adotada;

c) teoria da causalidade adequada (artigos 944 e 945 – contemporânea): a


atribuição da responsabilidade civil e a fixação do quantum devem ser
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adequadas às condutas dos envolvidas (agente e vítima) – adotada por


Caio Mário, Cavalieri e enunciado 47 da I JDC e também julgados do STF
e do STJ. Na composição atual do Superior Tribunal de Justiça tem
prevalecido essa teoria.

2.5 Dano ou prejuízo


Elemento objetivo.

Os danos podem ser divididos em categorias distintas:


a) danos clássicos: que se subdivide em: danos materiais; danos morais. A
súmula 37 do STJ admite a cumulação dupla das duas espécies;

b) novos danos: tem-se os danos estéticos, os danos morais coletivos, os


danos sociais e a perda da chance.

Obs. algumas categorias de danos pendem de reconhecimento consolidado. A


primeira categoria consiste na teoria dos danos por perda do tempo (desvio
produtivo), tese de Marcos Dessaune, aduzindo que o tempo tem valor jurídico;

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danos existenciais, a partir da doutrina de Carlos Sessarego (Peru), estaria presente


quando há um dano ao projeto de vida ou dano em vida de relação.

2.5.1 Danos materiais (patrimoniais)

São aqueles que atingem o patrimônio corpóreo de alguém, previsto nos


artigos 402 e 404 do Código Civil, quando a lei fala em perdas e danos:

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e


danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente
perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas
e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por
efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei
processual.
Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em
dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e
honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.
Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo,
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e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor


indenização suplementar.
Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

Os danos materiais podem ser assim classificados:


a) danos emergentes ou positivos: o que a pessoa efetivamente perdeu –
dano pretérito que já foi suportado;

b) lucros cessantes ou danos negativos: o que a pessoa razoavelmente


deixou de lucrar – frustração do lucro; art. 948 do Código que prevê a
indenização devida em caso de homicídio:

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir


outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral
e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia,
levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

No inciso II do dispositivo estão presentes os lucros cessantes, havendo


menção aos chamados alimentos indenizatórios; são devidos aos dependentes do

morto, levando-se em conta a vida provável da vítima, definindo a tabela do IBGE


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expectativa de vida de 75/76 anos. O cálculo envolve 2/3 do salário da vítima por mês,

incluindo-se férias, 13º, FGTS, caso a vítima tivesse CTPS, multiplicado pelo número de
anos até a vida provável. REsp 698.443/SP.

2.5.1.1 Aspectos jurisprudenciais sobre alimentos indenizatórios:


a) não cabe prisão civil, STJ HC 182.228/SP; REsp 93.948/SP;

b) súmula 299 do STF, a indenização acidentária (INSS) não excluir a de


direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador – STJ
entende que é irrelevante REsp 406.815/MG – prevalecendo a sua
primeira parte;

c) súmula 246 do STJ – o valor do seguro obrigatório (DPVAT) deve ser


abatido da indenização recebida do causador do dano;

d) súmula 491 do STF: prevê que é indenizável o acidente que causa a morte
de filho menor, ainda que ele não exerça trabalho remunerado. Existe
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uma presunção de lucros cessantes, porque o filho irá trabalhar,


calculando-se 2/3 de um salário mínimo por mês, entre 14 a 25 anos;
recentemente a jurisprudência tem entendido que cabe ainda mais um
terço de um salário mínimo por mês, entre a idade de 26 anos (filho) e
da vida provável dos pais; O REsp 598.327/PR assim define;

2.5.2 Danos morais


São lesões aos direitos da personalidade (Limongi, França, Carlos Alberto Bittar

e Maria Helena Diniz): pode alcançar pessoa natural ou pessoa jurídica (súmula 227 do
STJ), quando correr lesão à honra objetiva e não à honra subjetiva (inscrição indevida

no cadastro de inadimplentes ou dano moral puro sem repercussão patrimonial (caso

coca cola x dolly guaraná).


No dano moral não há a necessidade de sentimentos humanos desagradáveis,

como dor, tristeza, amargura e depressão. Ex: 370 que estabelece que caracteriza dano
moral o depósito antecipado de cheque pós-datado.

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2.5.2.1 Classificações do dano moral

a) quanto ao sentido: pode ser próprio (ou in natura): relacionado com o


que a pessoa sente, como a dor, tristeza, amargura e depressão; ou
impróprio (latu sensu) lesão a direito da personalidade;

b) quanto à necessidade de prova: dano moral subjetivo que necessita ser


provado, como o REsp 1.564.955/SP (relaciona-se à pessoa jurídica; dano
moral; dano moral presumido (in re ipsa), como, por exemplo, morte de
pessoa da família, como previsto no caput do art. 948 do Código, bem
como o uso indevido de imagem sem autorização com fins econômicos
ou comerciais – súmula 403 do STJ;

c) quanto à pessoa atingida: dano moral direto, que atinge a própria


pessoa, a sua honra subjetiva ou objetiva; dano moral indireto ou em
ricochete, atingindo a pessoa de forma reflexa (ex. morte de pessoa da
família; ex. lesão de direito da personalidade do morto; perda de objeto
de estima [preço de afeição com a coisa]);
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Obs. os danos morais não se confundem com os meros aborrecimentos cotidianos;

Obs. mero descumprimento de um contrato não gera dano moral, podendo gerar
dano moral se envolver valor fundamentao previso na CF/88 (moradia – demora na
entrega da casa própria; saúde – contratos de saúde privada);

Obs. encontrar corpo estranho em um produto, diz o STJ que se o produto for
consumido cabe indenização; se não for consumidor há divergência no STJ sobre o
cabimento de danos morais, REsp 1.424.304/SP;

Obs. muitos julgados reconhecem danos morais pela perda do tempo, ou pela
teoria do desvio produtivo, consistindo numa reação para a tese do mero
aborrecimento. Ex. espera excessiva em fila do banco gera dano moral, como
reconhecido no REsp 1.218.497/MT

2.5.2.2 Cálculo dos danos


Sobre o cálculo dos danos, existe, ainda, o método bifásico, do Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, destacado no informativo 470 do STJ, REsp 959.780/ES. Na quarta

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turma do STJ, quando julgou o REsp 1.473.393/SP “caso farça do PCC”. São as

seguintes fases:
a) na primeira fase o julgador deve analisar grupos de julgados do STJ sobre
o tema, chegando-se ao valor padrão;

b) na segunda fase o julgador irá aplicar os critérios do STJ no caso


concreto, aumentando ou diminuindo o valor padrão.

Obs. não se admite o tabelamento dos danos morais no Brasil (tarifação) porque
fere a isonomia constitucional; a quantificação, por outro lado, significa buscar o
valor indenizatório (quantum debeatur) que é realizada por arbitramento do juiz.
Para a fixação do quantum devido o STJ tem alguns critérios, a saber:

a) extensão do dano, como estabelecido no art. 944;

b) grau de culpa do agente e a contribuição causal da vítima;


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c) condições dos envolvidos (sociais, culturais, econômicos e psicológicos);

d) caráter pedagógico, educativo ou até punitivo (desestímulo) – teoria dos


punitive damages do Estados Unidos;

e) vedação do enriquecimento sem causa da vítima, assim como não pode


gerar a ruína do ofensor.

2.5.3 Danos estéticos

De acordo com a súmula 387 do STJ, coloca-se os danos estéticos como


terceira modalidade de dano, separada do dano moral; conceitua-se o dano estético

como uma alteração morfológica da pessoa natural (Tereza Ancona Lopez). Maria
Helena Diniz sustenta que causa um “enfeiamento da pessoa”. Pode ser interno ou

externo, não necessariamente definido como aparente. Exs. Cortes, cicatrizes,


queimaduras, perda de órgão ou de função de um determinado órgão;

Separou-se o dano estético por duas razões: há uma lesão a mais à pessoa
natural e, também, o art. 5º, V, da CF/88 fala de dano moral e, em separado, de dano
à imagem.

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2.5.4 Danos morais coletivos (art, 6º, IV, do CDC)

Atingem vários direitos da personalidade ao mesmo tempo, envolvendo


interesses individuais homogêneos e direitos coletivos em sentido estrito:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados
por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados
perigosos ou nocivos;
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos
e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre
os riscos que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de
2012) Vigência
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos


comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e
cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e
serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências;
IX - (Vetado);
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste
artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência, observado o
disposto em regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)

O principal julgado é o caso das pílulas de farinha (microvilar), REsp


866.636/SP, em 2007, fixando três teses:
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a) o procon tem legitimidade para ajuizar ações;

b) o dano moral não prescinde de dor;

c) o STJ rejeitou a “teoria do evento abençoado”, pois ter filhos é uma


“benção”, o que afastaria a indenização por danos morais, pois haveria
uma frustração do planejamento familiar da mulher.

2.5.5 Danos sociais

Os danos morais coletivos podem ser somados aos danos sociais ou difusos,
pois são acumuláveis, podendo-se afirmar que toda a sociedade é atingida, com

vítimas indeterminadas. Nos danos morais coletivos a indenização se destina às


vítimas, ao passo que nos danos sociais ou difusos a indenização vai para um fundo

ou uma instituição de caridade a critério do juiz.


Antônio Junqueira de Azevedo: os danos sociais são aqueles que causam um

rebaixamento no nível de vida da coletividade, e que decorrem de condutas


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

socialmente reprováveis.

Ex. julgado do TJSP da 4ª Câmara de Direito Privado, apelação 002715-


41.2010.8.26.0564, Rel. Desembargador Teixeira Leite, em 2013. A Amil vinha,
reiteradamente negando a cobertura aos beneficiários, fixando-se R$ 50.000,00 em
danos morais e, de ofício, fixou-se indenização de R$ 1.000.000,00 a título de dano
social ou difuso, ao HC USP, pendente de julgamento no STJ (que já entendeu não
ser possível a fixação de dano social de ofício no JEC, Rcl 13.200/GO).

O STJ, no caso “programa bronca pesada”, julgando o REsp. 1.517.793/PE, em 2018,


expondo menores ao ridículo por não terem pai registral, entendendo-se, nesse
caso, a existência de um “bullying coletivo”.

2.5.6 Danos por perda de uma chance

Têm origem em uma teoria francesa, que admite os danos que decorrem da
frustração de uma expectativa ou da perda de uma oportunidade que possivelmente
ocorreria em circunstâncias normais. A chance deve ser séria e real, como consta do
enunciado 444, da V Jornada de Direito Civil, constando como categoria autônoma.

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Ex. perda de uma chance de vitória judicial, responsabilidade civil de um


advogado.STJ, Ag. Rg. no Ag. 932.446/RS; Ex2. Perda da chance de cura, imputando
a responsabilidade civil de médico, julgado no STJ, no REsp 1.254.141/PR, em 2012.
Ex3. Caso do show do milhão, havia uma pergunta jurídica, que não continha
alternativa correta, julgado no REsp 788.459/BA em 2006, fixando-se indenização
de acordo com as suas chances. Ex4. Investidor indenizado pelo banco que vendeu
ações sem sua autorização, determinado no REsp 1.540.153/RS, em 2018.
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3 Classificação da responsabilidade civil quanto à culpa


3.1 Responsabilidade civil subjetiva
Regra geral no Código de 2002, teoria da culpa com culpa lato sensu.

3.2 Responsabilidade civil objetiva


Segundo a posição majoritária é considerada exceção no Código Civil de 2002,

prevista no parágrafo único do art. 927, teoria do risco, e se verifica


independentemente de culpa, não tendo o autor da ação o ônus de provar a culpa do

réu. A responsabilidade civil objetiva, nesse caso, tem duas origens: 1) a lei (CDC e lei
6938 – danos ambientais) ou atividade de risco (cláusula geral de responsabilidade

objetiva. O risco (definir se a atividade é de risco ou não) deve ser analisado sob três
critérios:
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

a) Estatística;

b) Prova técnica;

c) Máximas de experiência.

A atividade consiste na soma de atos coordenados com finalidade específica

(Túlio Ascarelli); por outro lado, o risco está acima da situação de normalidade e abaixo
do perigo. A principal aplicação da cláusula geral da teoria do risco se dá nos acidentes

de trabalho (TST e STJ).


Principais hipóteses de responsabilidade objetiva no Código de 2002:

a) Abuso de direito (art. 187 do Código Civil);

b) Responsabilidade objetiva indireta ou por atos de outrem, como previsto


no art. 932 do Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e
em sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem
nas mesmas condições;

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III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e


prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão
dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde
se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus
hóspedes, moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime,
até a concorrente quantia.
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente,
ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos
praticados pelos terceiros ali referidos.

Devem ser comprovadas as culpas das segundas pessoas indicadas nos incisos

do art. 932 do Código.


No art. 932, inciso I, deve-se entender por “autoridade” e “companhia” – se o
casal estiver separado, o genitor que não tenha a guarda no momento do ilícito terá
responsabilidade civil? Duas correntes, uma entendendo que sim, o enunciado 450 da

V JDC e o STJ no REsp 1.436.401/MG; a outra entendendo que não, lastreado em José
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Fernando Simão e o STJ no REsp 1.232.011/SC, julgado na terceira turma.

No inciso II, do art. 932, está presente uma relação de pressuposição,


geralmente baseada na confiança contratual, não havendo necessidade obrigatória da

relação de emprego. Os hospitais privados respondem objetivamente pelos danos


causados pelos médicos integrantes do seu corpo clínico, como julgado no REsp

1.145.728/MG; o comodante responde pelos danos causados pelo comodatário no uso


do carro emprestado, como julgado pelo STJ, Ag. Rg. no Ag. 832.567/DF.

Há, ainda, o direito de regresso do responsável contra o culpado; como


exceção, o ascendente não tem direito de regresso contra o descendente incapaz

(filho), pois seria imoral, de acordo com o art. 934 do Código:

Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver
o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do
dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.

Em regra, os casos do art. 932 são de responsabilidade solidária, como prevê

o art. 942 do Código Civil:

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Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de


outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver
mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os
co-autores e as pessoas designadas no art. 932 .

A vítima é quem escolherá contra qual dos responsáveis ajuizará a demanda.


Ressalte-se, ainda, o art. 928 do Código que trata da responsabilidade do incapaz:

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas


por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não
dispuserem de meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser
eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as
pessoas que dele dependem.

Como exceção, a responsabilidade civil do incapaz é subsidiária, respondendo

ele se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou se essas
pessoas não dispuserem de meios suficientes. Aplicando a responsabilidade subsidiária

o STJ julgando o REsp 1.319.626/MG. Além disso, a responsabilidade deve ser


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equitativa para proteger o patrimônio mínimo no incapaz + dependentes.

3.2.1 Responsabilidade objetiva por fato ou guarda do animal, de acordo com o art.
936 do Código:
Responde o dano ou o detentor do animal:

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este


causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.

Tem como excludentes expressas: a culpa/fato exclusivo da vítima e a força maior


(somando-se ao caso fortuito), bem assim a culpa/fato exclusivo de terceiro; o
Código de 2002 não prevê mais a excludente do máximo cuidado que constava do
art. 1527 do Código de 1916, não se tratando mais de culpa in custodiendo;
estamos na presença de uma atividade de risco, como por exemplo um canil, circo,
rodeio, apiário e assim sucessivamente.

Aplica-se, também, em conjunto com o CDC, teoria do diálogo das fontes, no caso,
por exemplo, “Circo Vostok”+Shopping, no REsp 1.100.571/PE; outro caso de
conjunção consiste na responsabilização das empresas concessionários de
rodovias, que respondem objetivamente pelos animais que invadem a pista;
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3.2.2 Responsabilidade objetiva do dono do prédio ou construção por sua ruína, nos

termos do art. 937 do Código

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que


resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja
necessidade fosse manifesta.

A ruína pode ser total ou parcial, sendo objetiva pela aplicação do CDC ou em
virtude do risco-criado (aquele que constrói assume um risco). Aplicação pelo TJRJ no

“Caso Palace II”.


A necessidade de reparos manifesta é considerada irrelevante, neste sentido

Cavalieri Filho, Silvio Venosa, Carlos Roberto Gonçalves e Tartuce.

3.2.3 Responsabilidade objetiva do habitante do prédio pelas coisas que dele caírem
ou forem lançadas em lugar indevido

Responsabilidade civil por defestramento “effusis et dejectis”, a


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responsabilidade objetiva diante de um risco criado. Se a coisa cair de um condomínio

edilício, não sendo possível identificar de qual unidade, responderá todo o


condomínio, assegurado o direito de regresso contra o culpado. Assim prescreve o art.

938 do Código:

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar
indevido.

3.2.4 Responsabilidade civil do transportador: é objetiva por três razões:

a) aplicação histórica;

b) cláusula de incolumidade;

c) aplicação do CDC.

No transporte de pessoas, o transportador responde pelos danos causados às


pessoas e às suas bagagens, sendo nula qualquer cláusula que exclua os danos

provocados. Não se elide a responsabilidade do transportador em caso de culpa de

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terceira, contra quem tenha ação regressiva. Aplicou-se essa teoria ao acidente da gol.
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4 Excludentes da Responsabilidade Civil


4.1 Legítima defesa
Previsto no art. 188, inciso I, como ato lícito:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um
direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a
fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente
quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não
excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Uso moderado dos meios necessários para repelir injusta agressão, atual ou
iminente, contra si ou contra terceiros. Ex. legítima defesa da posse. Estabelecida
no art. 1210, §1º, do Código:
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Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente,
se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1 o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou
restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de
defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à
manutenção, ou restituição da posse.
§ 2 o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de
propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.

Legítima defesa putativa: putare quer dizer crer ou imaginar; a pessoa


imagina que está agindo em legítima defesa, o que não é verdade; tem-se entendido

que há uma responsabilidade civil por ato lícito, porque continua sendo legítima
defesa. Ex. REsp 513.891/RJ e 1.433.566/RS, reafirmando que existindo legítima

putativa haverá o dever de indenizar.

4.2 Estado de necessidade ou perigo iminente


Previsto no art. 188, inciso II, do Código Civil:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

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I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um


direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a
fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente
quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não
excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

O pedestre que arromba (estado de necessidade agressivo – hipótese de


responsabilidade civil por ato lícito) a porta da casa em chamas para salvar uma criança,

terá responsabilidade civil? Em regra, sim, segundo o art. 929, se que causou o incêndio
não foi o dono da casa:

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II


do art. 188 , não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à
indenização do prejuízo que sofreram.

Ainda, o pedestre herói terá ação regressiva contra o culpado pelo incêndio.

Nesse sentido, o REsp 1.292.141/SP, no qual o estado de necessidade gerou uma


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redução equitativa da indenização.

4.3 Exercício regular de um direito


Estabelecido no art. 188, inciso I, do Código Civil e prevê que se trata de um
ato lícito:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um
direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a
fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente
quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não
excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Se a pessoa deve uma determinada quantia, é possível inscrever o seu nome

no cadastro de inadimplentes. Porém, a inscrição indevida no cadastro de


inadimplentes é abuso de direito (exercício irregular de um direito), tornando-se, assim,

responsabilidade objetiva do Código Civil cumulativa com a aplicação do CDC.

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Antes da inscrição do nome no cadastro deve ocorrer a comunicação pelo órgão


que mantém o cadastro, como o SERASA/SPC, de acordo com a súmula 359 do STJ:

SÚMULA 359
Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a
notificação do devedor antes de proceder à inscrição.

O prazo máximo de manutenção do nome da pessoa no cadastro é de cinco anos,


independente da prescrição da execução; se o nome ficar além desse prazo haverá
manutenção indevida no cadastro negativo, como preceitua a súmula 323 do STJ:

SÚMULA 323
A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de
proteção ao crédito até o prazo máximo de cinco anos,
independentemente da prescrição da execução.

Caso a pessoa já tenha tido o nome inscrito (ou ainda tem) por uma legítima
inscrição não pode pleitear indenização por danos morais, consoante a súmula 385
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

do STJ:

SÚMULA 385
Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe
indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição,
ressalvado o direito ao cancelamento.

4.4 Excludentes de causalidade


a) culpa ou fato exclusivo da vítima;

b) culpa ou fato exclusivo de terceiro;

c) caso fortuito ou força maior.

4.5 Cláusula de não indenizar e cláusula de irresponsabilidade


Não é bem aceita pelo Direito Civil, tendo aplicação bem restrita; Aponta
Aguiar Dias. É nula nos seguintes casos:

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a) responsabilidade civil extracontratual: envolve ordem pública, tendo


como fundamento o art. 166, inc. VI, do Código Civil. Ex. condomínio
edilício uma placa que afasta o art. 938 do Código Civil;

b) responsabilidade civil por dolo ou culpa grave: as duas envolvem ordem


pública;

c) responsabilidade contratual: contrato de consumo, nos termos do art. 51,


inciso I, do Código de Defesa do Consumidor, bem como em contratos
de adesão;

d) responsabilidade civil do transportador: art. 734 do Código Civil e súmula


161 do STF;

e) contratos de guarda: negação da função social do contrato. Ex. depósito


e estacionamento.
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Portanto, a cláusula de não indenizar será válida:


a) no âmbito da responsabilidade contratual;

b) contrato civil ou empresarial;

c) contrato paritário ou negociado;

d) apenas quanto aos materiais ou patrimoniais;

e) desde que não seja de transporte ou guarda.

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