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1- A Sociedade e o Estado:
Antes de analisarmos como o Estado (objeto de estudo de nossa disciplina) nasceu e evoluiu,
é necessário compreender a origem da sociedade, pois a criação daquele se deve exatamente à
existência desta.
Para explicar o fenômeno da origem da sociedade, temos duas teorias opostas. Existe a
Teoria da Sociedade Natural, segundo a qual a sociedade seria fruto da própria natureza
humana. Ou seja, os homens são levados por uma força natural (um instinto) a viver em
sociedade.
Porém, há a teoria oposta, que não acredita nesse “elemento natural”, atribuindo o
fenômeno social tão somente à escolha do homem que opta a viver em sociedade e não isolado.
Assim, sustenta que a sociedade é tão-somente a consequência de um ato de escolha. Vejamos
então um pouco mais sobre cada uma das teorias e seus defensores.
Conforme ensina Ricardo A. M. Fiúza ao explicar essa teoria, “o homem é um ser social e
tem necessidade de viver junto ao seu próximo ”. Em virtude dessa "vocação natural" o indivíduo
busca a vida em sociedade.
Dessa forma, o homem possui uma natureza social que o leva a viver em comum com os
seus semelhantes. Essa é a Teoria da Sociedade Natural, que, como foi dito, é uma das teorias que
buscam explicar a origem das sociedades.
É a que tem maior número de adeptos, dentre eles o fundador da TGE, Aristóteles (século
IV a. C) que afirmou “o homem é naturalmente um animal político”. Segundo este, o homem só
alcançaria sua perfeição na vida em comum com outros homens (ou seja, em sociedade). Existem
ainda outros adeptos dessa teoria, como o romano Cícero e ainda São Tomás de Aquino (idade
média).
O homem vive em sociedade por um impulso natural, decorrente de seu instinto. Dessa
reunião de pessoas se verifica a cooperação, que auxilia o indivíduo a atingir seus objetivos com a
ajuda daqueles que compõem determinada sociedade.
Pra essa teoria, o homem que deixar de viver em sociedade seria considerado um ser
diferente, por sua superioridade ou inferioridade, haja vista que esse instinto é inerente a todos os
seres humanos normais. A vida isolada somente se daria em casos excepcionais, pois seria
impossível o homem escolher viver isoladamente do que em sociedade. Para Aristóteles, o homem
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que fosse incapaz de aderir, de se integrar a uma sociedade, faria isso por dois motivos: ou porque
não sente absolutamente essa necessidade, uma vez que basta a si mesmo (um santo, por exemplo),
ou porque tem total inaptidão para se adequar ao grupo, às normas, e assim, seria um bruto, uma
fera.
Santo Tomás de Aquino sintetiza em três postulados toda a ideia a ideia de Aristóteles sobre a Teoria
Naturalista:
Malafortuna: quando só por acidente, como no caso de naufrágio ou de alguém que se perdesse
numa floresta, o indivíduo passa a viver em isolamento.”
Teoria Contratualista
A segunda teoria que tenta a explicar a origem das sociedades, porém, com menor
aceitação na doutrina moderna, é chamada de Teoria Contratualista. Essa teoria tem entre seus
defensores Platão, (autor da obra "República"), Thomas Hobbes (autor obra “Leviatã”) e, Jean-
Jaques Rousseau, autor da obra “O Contrato Social” (conforme já estudamos).
Os motivos pelos quais seria firmado esse acordo de vontades são diferentes de autor para
autor, contudo, são unânimes em dizer que não seria por um impulso natural que o homem
acabaria por formar a sociedade, ou seja, descartam o impulso natural na formação da sociedade.
b) Tipos de Sociedades:
Conforme ensina D. Azambuja, no mundo moderno, o homem, desde que nasce e durante
toda sua existência, faz parte, simultânea ou sucessivamente, de diversas instituições ou sociedades
(grupos sociais), formadas por indivíduos ligados pelo seja parentesco, por interesses materiais ou
por objetivos espirituais, entre outros.
Durante sua vida, passa ainda a fazer parte de outros grupos sociais, alguns criados por ele
mesmo, com fins econômicos, profissionais ou simplesmente culturais, entre outros, como por
exemplo, as empresas comerciais, institutos científicos, sindicatos, clubes, etc. Tais sociedades
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têm por objetivo aprimorar o homem em suas aptidões físicas, morais e intelectuais, e para isso lhe
impõem certas normas, reguladas pelo costume, a moral ou a lei.
O conjunto desses grupos sociais forma a Sociedade propriamente dita. Mas, ainda tomado
neste sentido geral, a extensão e a compreensão do termo sociedade variam, podendo abranger os
grupos sociais de uma cidade, de um país ou de todos os países, e, neste caso, é a sociedade humana,
a humanidade.
Os grupos sociais, acima citados são sociedades. Entretanto, nem todos os grupos humanos
formam uma sociedade. Isto porque, na acepção científica do termo, sociedade é "uma coletividade
de indivíduos reunidos e organizados para alcançar uma finalidade comum”. Supõe organização
permanente e objetivo comum. Por isso, uma multidão, a platéia de um teatro, etc., não são
sociedades: pois, ainda que se lhes reconheça um efêmero objetivo comum, não têm, no entanto
organização, nem são permanentes.
OBS: Alguns autores apontam ainda como um dos elementos necessários para caracterizar uma
sociedade, além da organização permanente e o objetivo comum, “o poder social”, ou seja, a
existência de um poder legítimo, com aceitação dos que se submetem a ele. Este poder age, usando a
coação como forma de assegurar a existência e o bem estar do grupo.
Por conclusão, podemos dizer que uma sociedade é a, união moral dos seres racionais e
livres, organizados de maneira estável e eficaz para realizar um fim comum e conhecido de todos.
Nessa reunião de pessoas ocorre a cooperação, que auxilia os indivíduos a atingirem seus objetivos
comuns.
Dentre as sociedades citadas, uma se destaca das demais: é a Sociedade Política, ou Estado.
O Estado é, portanto, a organização político-jurídica de uma sociedade para realizar o bem
público/comum, com governo próprio e território determinado.
a) Sociedade Natural:
Segundo Darcy Azambuja, o Estado é uma sociedade natural no sentido de que decorre
naturalmente do fato de os homens viverem necessariamente em sociedade e aspirarem
naturalmente realizar o bem geral que lhes é próprio, isto é, o bem público . Por isso e para isso a
sociedade se organiza em Estado.
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Por isso o homem se deu conta de que o meio de realizar tal regime era a reunião de todos em
um grupo específico, que teria por finalidade o bem público. Assim, a causa primária da sociedade
política (Estado) reside na natureza humana.
Com exceção da família, a que, pelo nascimento, o homem forçosamente pertence, mas de
cuja tutela se liberta com a maioridade, em todas as outras sociedades ele ingressa voluntariamente e
delas, se retira quando quer, sem que ninguém possa obrigá-lo a permanecer. Entretanto, da tutela
(proteção, controle, poder) do Estado, o homem não se livra jamais.
Nos dizeres de Azambuja, “O Estado o envolve na teia de laços inflexíveis, que começam
antes de seu nascimento, com a proteção dos direitos do nascituro, e se prolongam até depois da
morte, na execução de suas últimas vontades”.
Assim, o Estado põe sob seu domínio todas as formas de atividade, cujo controle ele
julgue conveniente. Na lógica dessa supremacia se subentende que tudo quanto restar fora de seu
controle é feito com sua permissão.
Nos limites do território que lhe é reconhecido, o Estado exerce a supremacia sobre todas
as demais instituições. De fato o Estado é o supremo e legal depositário da vontade social e fixa
a situação de todas as outras organizações.
c) Coação do Estado:
Devemos compreender que a vida em sociedade exige que o arbítrio individual (a vontade de
cada indivíduo) ceda às necessidades do grupo social. Ou seja, a vida social exige regras de
convivência e comportamentos, sem as quais estabelecer-se-ia o caos social.
Dentre as sociedades acima citadas (grupos sociais), nenhuma delas tem poder direto sobre o
indivíduo e só conseguem dele o cumprimento das obrigações assumidas se o Estado as reconhece. É
o Estado unicamente que dispõe legitimamente da força para tornar efetiva a obediência , ou
seja, dispõe da efetiva coação.
Por certo, essas sociedades dispõem de meios de coação sobre o indivíduo, mas são meios
indiretos. Assim, por exemplo, se um indivíduo não cumpre as normas da Igreja a que pertence, fica
sujeito a certas consequências de natureza moral. Por exemplo, pode sofrer com a perda da estima de
certas pessoas, pode sofrer excomunhão e reprovações. Mas, nenhuma outra coação efetiva e direta
o atinge.
Entretanto, como alerta o autor, “com o Estado, é diferente. Eu não posso furtar às suas
decisões senão a preço de uma penalidade. Não posso em nenhum caso importante me subtrair à
sua jurisdição. Ele é a fonte última das decisões no meio normal da minha existência, e isso dá à
sua vontade uma importância, pra mim maior que dos outros grupos. O estado pode decidir
esmagar-me de impostos, pode opor-se à prática de minha religião, pode obrigar-me a sacrificar
minha vida em uma guerra que eu considere moralmente injusta...”.
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Dessa forma, o Estado se apresenta aos indivíduos e sociedades, com um Poder de Mando.
Esse aspecto coativo é o que distingue as normas dos outros tipos de grupos sociais ; suas
decisões obrigam a todos os que habitam o seu território.
Entende-se que o Estado assim procede para realizar o bem público; por isso e para isso tem
autoridade e dispõe de poder, cuja manifestação concreta é a força. O poder do Estado é o mais alto
dentro de seu território, e o Estado detém o monopólio da força para tornar, efetiva sua autoridade.
Do que até aqui foi dito, podemos inferir uma noção preliminar: Estado é a organização
político-jurídica de uma sociedade para realizar o bem público, com governo próprio e território
determinado.
Por conclusão, Estado é uma sociedade sob uma base territorial, dividida em governantes e
governados, e que, dentro do território que lhe é reconhecido, tem supremacia sobre todas as demais
instituições. Põe sob seu domínio todas as formas de atividade cujo controle ele julgue conveniente.
Os romanos, com o mesmo sentido, tinham “civitas” e “respublica”. Além disso, em latim, a
palavra “status” possuía a significação de situação, condição. Empregavam os romanos
frequentemente a expressão status reipublicae, para designar a situação, a ordem permanente da
coisa pública, dos negócios do Estado. Daí, talvez pelo desuso do segundo termo, tenham os es-
critores medievais empregado Status com a significação moderna.
Mas, ainda muito posteriormente (período pré revolução francesa), na linguagem política e
documentos públicos, o termo Estado se referia de preferência às três grandes classes que formavam
a população dos países europeus, a nobreza, o clero e o povo.
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De forma mais específica ainda, grande parte da doutrina, incluindo Dalmo Dallari e Ricardo Fiúza,
entendem que a palavra Estado, referindo à sociedade política, foi usada pela primeira vez por Maquiavel, em
1513, em sua obra “O Príncipe”.
Assim, conforme ensina Dalmo Dallari: “A denominação Estado (do latim estar firme), significando
situação permanente de convivência e ligada à sociedade política, aparece pela primeira vez em “O
Príncipe” de Maquiavel, escrito em 1513, passando a ser usado pelos italianos sempre ligada ao nome de
uma cidade independente, como por exemplo, Stato de Firenze.”
De modo geral, no entanto, pode-se dizer que no século XVI em diante o termo Estado vai
aos poucos tendo entrada na terminologia política dos povos ocidentais: é o État francês, Staat
alemão, em inglês State, em italiano Stato, em português e espanhol Estado.
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