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ASSOCIAÇÃO DE ENSINO E CULTURA DE MATO GROSSO DO SUL

mantenedora das
FACULDADES INTEGRADAS DE TRÊS LAGOAS

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Ciência Política

A Sociedade e o Estado

1. Conceito de Sociedade

Quando nos deparamos com essa palavra em busca de um conceito

que possa esclarecê-la satisfatoriamente, a reflexão crítica nos compele de

imediato a fazer menção dos autores que se insurgem contra aquilo que

em geral se denomina Sociedade. Sanchez Agesta e Maurras pertencem a

essa categoria. O primeiro assevera com ênfase que não há Sociedade,

“termo abstrato e impreciso, mas Sociedades, uma pluralidade de

grupos da mais diversa espécie e coesão” e o segundo, Sociedade de

sociedades e não Sociedades de indivíduos.

Toennies diz que a Sociedade é o grupo derivado de um acordo de

vontades, de membros que buscam, mediante o vínculo associativo, um

interesse comum impossível de obter-se pelos esforços isolados dos

indivíduos, esse conceito é irrepreensivelmente mecanicista.

Del Vecchio entende por Sociedade o conjunto de relações

mediante as quais vários indivíduos vivem e atuam solidariamente em

ordem a formar uma entidade nova e superior, oferece-nos ele um

conceito de Sociedade basicamente organicista.

Duas teorias principais disputam a explicação correta dos

fundamentos da Sociedade: a teoria orgânica e a teoria mecânica.

Os organicistas procedem do tronco milenar da filosofia

grega. Descendem de Aristóteles e Platão.


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Na doutrina aristotélica assinala-se, com efeito, o caráter

social do homem. A natureza fez do homem o “ser político”, que não pode

viver fora da Sociedade.

Os primeiros, por se abraçarem ao valor Sociedade, são

organicistas; os segundos, por não reconhecerem na Sociedade mais

que mera soma de partes, que não gera nenhuma realidade suscetível de

subsistir fora ou acima dos indivíduos, são mecanicistas.

a. Sociedade e comunidade

Em Sociedade e Comunidade (Gesellschaft und Gemeinschaft),

estuda Toennies essas duas formas básicas de convivência humana,

diametralmente opostas.

A Sociedade supõe, segundo aquele sociólogo, a ação conjunta e

racional dos indivíduos no seio da ordem jurídica e econômica; nela, “os

homens, a despeito de todos os laços, permanecem separados”.

Já a Comunidade implica a existência de formas de vida e

organização social, onde impera essencialmente uma solidariedade feita de

vínculos psíquicos entre os componentes do grupo.

A Comunidade é dotada de caráter irracional, primitivo, munida e

fortalecida de solidariedade inconsciente, feita de afetos, simpatias, emoções,

confiança, laços de dependência direta e mútua do “individual” e do “social”.

Afirma Toennies que, sendo a Comunidade um “todo valorado”,

cada indivíduo tomado insuladamente é algo falso e artificial. Bobbio, no

Dicionário de Filosofia (Dizionario di Filosofia) escreve com clareza que a

comunidade é um grupo oriundo da própria natureza, independente da

vontade dos membros que o compõem — a Família, por exemplo.5


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Na Comunidade a vontade se torna essencial, substancial, orgânica.

Na Sociedade, arbitrária. A Comunidade surgiu primeiro, a Sociedade apareceu

depois. A Comunidade é matéria e substância, a Sociedade é forma e ordem.

Na Sociedade, há solidariedade mecânica, na Comunidade, orgânica.

A Sociedade se governa pela razão, a Comunidade pela vida e pelos instintos. A

Comunidade é um organismo, a Sociedade, uma organização (Berdeaeff) ou

segundo Poch, citado por Agesta, na Comunidade (a Família, por

exemplo) a gente é, na Sociedade (uma sociedade mercantil, por exemplo) a

gente está . Diz Agesta que “simbólica ou alegoricamente a Comunidade é

um organismo, a Sociedade um contrato”.

b. A Sociedade e o Estado

Os conceitos de Sociedade e Estado, na linguagem dos filósofos e

estadistas, têm sido empregados ora indistintamente, ora em contraste,

aparecendo então a Sociedade como círculo mais amplo e o Estado como

círculo mais restrito. A Sociedade vem primeiro; o Estado, depois.

A Sociedade, algo interposto entre o indivíduo e o Estado, é a

realidade intermediária, mais larga e externa, superior ao Estado, porém

inferior ainda ao indivíduo, enquanto medida de valor.

A expressão Sociedade, depois de haver sido usada pela primeira

vez por Ferguson com o nome de sociedade civil (civil Society), se firma no uso

político graças ao aparecimento da burguesia.

Rousseau o que distinguiu com mais acuidade a Sociedade do

Estado.

Por Sociedade, entendeu ele o conjunto daqueles grupos

fragmentários, daquelas “sociedades parciais”, onde, do conflito de interesses

reinantes só se pode recolher a vontade de todos (volonté de tous), ao passo que


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o Estado vale como algo que se exprime numa vontade geral (volonté générale),

a única autêntica, captada diretamente da relação indivíduo-Estado, sem

nenhuma interposição ou desvirtuamento por parte dos interesses

representados nos grupos sociais interpostos.

c. Conceito de Estado

O Estado como ordem política da Sociedade é conhecido desde a

antigüidade aos nossos dias. Todavia nem sempre teve essa denominação, nem

tampouco encobriu a mesma realidade.

A polis dos gregos ou a civitas e a respublica dos romanos eram

vozes que traduziam a idéia de Estado, principalmente pelo aspecto de

personificação do vínculo comunitário, de aderência imediata à ordem política e

de cidadania.

No Império Romano, durante o apogeu da expansão, e mais tarde

entre os germânicos invasores, os vocábulos Imperium e Regnum, então de uso

corrente, passaram a exprimir a idéia de Estado, nomeadamente como

organização de domínio e poder.

Daí se chega à Idade Média, que, empregando o termo Laender

(“Países”) traz na idéia de Estado sobretudo a reminiscência do território.

O emprego moderno do nome Estado remonta a Maquiavel,

quando este inaugurou O Príncipe com a frase célebre: “Todos os Estados,

todos os domínios que têm tido ou têm império sobre os homens são

Estados, e são repúblicas ou principados”.

Acepção filosófica
Aos primeiros pertence Hegel, que definiu o Estado como a

“realidade da idéia moral”, a “substância ética consciente de si mesma”, a

“manifestação visível da divindade”, colocando-o na rotação de seu


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princípio dialético da Idéia como a síntese do espírito objetivo, o valor social

mais alto, que concilia a contradição Família e Sociedade, como instituição

acima da qual sobrepaira tão-somente o absoluto, em exteriorizações

dialéticas, que abrangem a arte, a religião e a filosofia.

Acepção jurídica
Viu Kant no Estado apenas o ângulo jurídico, ao concebê-lo

como “a reunião de uma multidão de homens vivendo sob as leis do

Direito”.

A definição de Del Vecchio, do ponto de vista exclusivamente

jurídico, satisfaz, principalmente quando ele, separando o Estado da

Sociedade, nota, com toda a lucidez que o Estado é o laço jurídico ou

político ao passo que a Sociedade é uma pluralidade de laços.

Jean-Yves Calvez, inspirado em Burdeau e após comentar-lhe

a concepção de Estado, conclui: “O Estado é a generalização da sujeição

do poder ao direito: por uma certa despersonalização”. Desenvolvendo

as idéias de Burdeau, intenta então demonstrar que o Estado só existirá

onde for concebido como um poder independente da pessoa dos

governantes.

Acepção sociológica
Para Oppenheimer o Estado, pela origem e pela essência, não passa

daquela “instituição social, que um grupo vitorioso impôs a um grupo

vencido, com o único fim de organizar o domínio do primeiro sobre o

segundo e resguardar-se contra rebeliões intestinas e agressões

estrangeiras”.

Duguit Define o Estado, em sentido geral, como toda

sociedade humana na qual há diferenciação entre governantes e

governados, e em sentido restrito como “grupo humano fixado em


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determinado território, onde os mais fortes impõem aos mais fracos sua

vontade”

Outro jurista-sociólogo do tomo de von Jehring destaca

também no Estado o aspecto coercitivo. Com efeito, diz esse autor que o

Estado é simplesmente “a organização social do poder de coerção” ou “a

organização da coação social” ou “a sociedade como titular de um poder

coercitivo regulado e disciplinado”, sendo o Direito por sua vez “a

disciplina da coação”.

O conceito marxista de Estado. Marx e Engels explicam o Estado

como fenômeno histórico passageiro, oriundo da aparição da luta de classes

na Sociedade, desde que, da propriedade coletiva se passou à

apropriação individual dos meios de produção. Instituição portanto que

nem sempre existiu e que nem sempre existirá. Fadado a desaparecer, o

poder político, como Marx o definiu, é “o poder organizado de uma classe

para opressão de outra”.

Da mesma forma, assinala Engels que a presente Sociedade,

enquanto Sociedade de classes, não pode dispensar o Estado, isto é,

“uma organização da respectiva classe exploradora para manutenção de

suas condições externas de produção, a saber, para a opressão das

classes exploradas.”

d. Formação do Estado

Diz-se que faz parte da natureza humana associar-se com outras

pessoas, semelhantes a si, e, aos poucos, assim, formar uma sociedade.

Conforme vai aumentando o agrupamento, por conta da própria natureza

humana, surgem necessidades de criação de regras e líderes, a fim de que as

pessoas possam se organizar. Conforme o crescimento do grupo, as relações


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interpessoais entre os integrantes vão ficando mais complexas, de forma que as

regras e a forma de liderança vão ficando mais abrangentes também. Existem

numerosas teorias que tentam explicar a origem do Estado, mas duas teorias

principais para explicação da origem da sociedade:

(i) teoria natural; e

(ii) teoria contratual.

1. Teoria natural

Segundo esta teoria, também chamada de não contratualista, a

sociedade surge de forma espontânea, atendendo as necessidades do impulso

associativo natural do homem. Para esta corrente, a existência da organização

humana em sociedade se dá de forma amplamente independente à formação do

Estado em si. O maior precursor desta teoria foi Aristóteles, o qual afirmou

que“o homem é, por natureza, um animal social.”

Por natureza, e não por mero acidente, o homem deve associar-se a

outros de sua mesma espécie. Afirmou também que “o homem é um animal

político”, ou seja, além de associar-se a outros de mesma espécie, deve travar

relações e trocas com eles, organizando-se entre si. O homem se diferencia dos

outros animais em razão do raciocínio e dos diferenciais meios de comunicação

que pôde desenvolver (a fala, a escrita e a arte, por exemplo).

Por estes motivos, é capaz de organizar-se em uma sociedade

complexa, de forma que confluem para a mesma finalidade: a sobrevivência e

coexistência de forma mais harmônica possível.

2. Teoria contratual

Segundo esta teoria, os homens têm uma vontade primária de se

associar, mas o fazem através de um contrato social. Assim, a existência da

organização humana em sociedade se daria de maneira ligada à formação do

próprio ente-Estatal.
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Não surge naturalmente a sociedade, pois que, naturalmente, haveria

desordem e caos. Seria necessário, então, um acordo de vontade entre as partes

decorrente da necessidade de estabelecer regras explícitas entre os indivíduos.

Assim, nas palavras de Luciano Robinson Calegari “a criação do Estado teria

sido motivada por fatores outros que não a necessidade de convivência dos

homens entre si, pois esta existia previamente; mas sim, a complexidade

crescente das relações sociais, bem como dos conflitos de interesses que

eclodiam no seio da sociedade que, desse modo, ameaçavam a paz social.” Esta

teoria segue o principio de que o homem é mau por natureza e, para que ele

não exerça esta maldade em detrimento de outros homens, seria necessário que

se firmasse um contrato, o qual estipula punições caso o homem cometa as

maldades que são inerentes à sua natureza A partir deste contrato, a sociedade

se desenvolve com saúde e organização ao passo que o homem tem medo das

punições previstas no contrato e o respeita por isso. Hobbes (1588-1679)

acreditava que o contrato foi feito porque o homem é o lobo do próprio homem.

Há no homem um desejo de destruição e de manter o domínio sobre

o seu semelhante (competição constante, estado de guerra). Por isso, torna-se

necessário existir um poder que esteja acima das pessoas individualmente para

que o estado de guerra seja controlado, isto é, para que o instinto destrutivo do

homem seja dominado. Neste sentido, o Estado surge como forma de controlar

os “instintos de lobo” que existem no ser humano e, assim, garantir a

preservação da vida das pessoas. Para que isso aconteça, é necessário que o

soberano tenha amplos poderes sobre os súditos. Os cidadãos devem transferir

o seu poder ao governante, que irá agir como soberano absoluto a fim de

manter a ordem.

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