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UNIDADE 6

SOCIOLOGIA E
ANTROPOLOGIA
CULTURA E SOCIOLOGIA POLÍTICA

AUTOR
Danilo Eustáquio de Oliveira
Filho
UNIDADE 6

Política

A palavra “política” tem origem grega e expressa a organização do grupo social


que integra a pólis (OLIVEIRA, 2014). Mas você sabe o que é a pólis? Esse termo
designa a cidade. Ou seja: se refere ao local em que um grupo social se encontra
para viver seu cotidiano em conjunto. A organização desse grupo social pode se
dar em termos:

dos valores comuns aos cidadãos;


de uma linguagem comum por meio da qual eles se comunicam;
das normas e regras daquela sociedade;
da definição dos meios para a proteção das fronteiras da cidade;
dos modos como se estabelecem trocas entre os cidadãos;
de uma administração estatal que realiza a organização e a manutenção da
coletividade.

A organização social demanda articulação política. Por meio dela, os cidadãos


negociam entre si, de maneira consciente ou inconsciente, sobre o que deve
reger a vida social. A negociação entre eles expressa o exercício do poder, que
pode se manifestar por meio da persuasão, da coerção e até mesmo da força.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

A ideia do poder é central para você compreender as relações sociais e a


formação do sistema político que sustenta o Estado. Considere o que afirma a
filósofa política alemã Arendt (2001, p. 36):

[...] o poder corresponde à habilidade humana não apenas para agir, mas para
agir em concerto. O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um
grupo e permanece em existência apenas na medida em que o grupo conserva-se
unido. Quando dizemos que alguém está “no poder”, na reali- dade nos referimos
ao fato de que ele foi empossado por um certo número de pessoas para agir em
seu nome.

Por sua vez, Weber (1982) destaca algumas características relativas ao poder. Em
síntese, o poder é realizado pela ação humana. É produzido por uma coletividade
e constrói legitimidade para impor as suas ideias. Quando se trata de poder no
Estado, você pode pensar nos representantes estatais, que, de alguma maneira,
estão autorizados a falar em nome do grupo.

Por isso, somente o Estado teria legitimidade para exercer a força a fim de impor
algo a todos os cidadãos. Como afirma Weber (1982, p. 98): “O Estado é aquela
comunidade humana que, dentro de determinado território — este, o ‘território’,
faz parte de suas características — reclama para si (com êxito) o monopólio da
coação física legítima [...]”.

E você sabe por que o Estado é o único que pode impor suas regras por meio da
força aos membros da sociedade? Porque, pelo menos conceitualmente, o Estado
exerce suas ações de poder a fim de fazer o melhor para manter e organizar a
sociedade.

Ou seja, há um acordo entre os membros da sociedade que estabelece que o


Estado pode agir dessa maneira pelo bem comum. Mas lembre-se de que aqui
está sendo considerada numa democracia. Nesse sistema, os cidadãos elegem
seus representantes e participam das principais decisões sobre o lugar em que
vivem. Segundo Motta (1988), o Estado tem uma organização sociopolítica
permeada por uma estrutura governamental legitimada pelos cidadãos. As ações
estatais devem se basear nas leis para definir os rumos da sociedade. Mas,
mesmo considerando o contexto histórico de construção da legitimidade do
Estado como parte do sistema político de uma sociedade, muitas vezes pode
haver ideias com mais força do que outras.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

As ideias de um grupo que está no poder podem se sobrepor às ideias de um


grupo que não está no poder. Esse processo é chamado de hegemonia.
Entretanto, essa hegemonia não se dá apenas por aspectos formais, nas ações
governamentais e públicas, mas também por aspectos informais, que levam em
consideração questões culturais e sociais.

Por isso, aqueles que não se adequam às normas hegemônicas são considerados
contra-hegemônicos e podem sofrer sanções. Essas sanções podem ser formais
(como a advertência, a multa e a prisão) ou informais (como a exposição pública e
os olhares de reprovação). Portanto, você deve compreender que há uma
estratificação na sociedade que separa diferentes grupos sociais a partir do
poder que eles exercem. Por exemplo, como lembra Franco Júnior (2001), na
Idade Média havia: o clero, classe composta por pessoas ligadas à Igreja Católica;
os nobres, que tinham privilégios e não trabalhavam; e os vassalos, que
trabalhavam para o clero e para a nobreza.

Política como meio de controle social

O Estado como você o conhece hoje surgiu na Europa nos séculos XV e XVI. Antes
desse período, as sociedades se definiam pelo seu aspecto tribal. “Tribo” é o
nome que se dá a um agrupamento humano unido por questões culturais, como
tradição, língua e território. Independentemente do número de membros dessas
sociedades, a figura da chefia realiza a intermediação entre a tribo e a
organização estatal. Ou seja, para ser chefe é preciso ser um grande homem.
Sobre isso, Pougy (2015, p. 1) enfatiza que:

Em “Troca e Poder”, Pierre Clastres toma como ponto de partida a reflexão de


Robert Lowie (1883–1957) em Some Aspects of Political Organization among the
American Aborigines (1948), no qual o autor elenca os principais atributos do
chefe ameríndio, que define como um titular chief. Segundo Lowie, o chefe tem
função apaziguadora; desprovido de poder coercitivo, tem de recorrer à palavra.
Deve ser assim um bom orador, capaz de realizar discursos rituali- zados
diariamente. Além disso, é incapaz de acumular excedente produtivo, devido à
imposição de que seja generoso, doando seus bens ao grupo. Esse grande
homem deveria ser generoso, saber dialogar, ter bravura, receber apoio dos
demais membros e contar com a lealdade da maior parte do grupo para que as
suas decisões políticas fossem cumpridas. Contudo, sua condição não era eterna.
Afinal, os Estados e as chefias também passam por questionamentos, disputas e
até mesmo modificações.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Com o passar dos séculos, as sociedades cresceram, complexificaram as suas


relações sociais e estabeleceram novas formas de encaminhar as decisões
políticas do Estado.

Durante muito tempo, as monarquias absolutistas da Antiguidade Oriental e


Ocidental mantiveram o poder centralizado na figura do rei. Seu governo era
hereditário, mantinha os privilégios dos mais abastados e nem sempre as
decisões políticas representavam o interesse dos diferentes membros da
sociedade.

Veja o que afirma Oliveira (2006, p. 487–488) sobre os governos régios


portugueses:

E este direito hereditário instituído pelas Cortes acabaria por conceder o poder
àquelas mesmas pessoas a quem Deus concederia o poder. De modo que de
Deus e da História resulta a felicidade atual dos povos portugueses. Pereira de
Castro conclui assim que a história só pode confirmar a natureza da monarquia:
de que o poder político seja exercido pelo monarca, e apenas seus sucessores
serão igualmente revestidos por Deus destes régios e supre- mos poderes. É
assim que o discurso do desembargador Pereira formula o poder real pela
assunção simultânea destes dois fundamentos (histórico e natural). Ambos se
reforçam numa narrativa teleológica e tornam imperativo o reconhecimento da
titularidade de D. Maria e a legitimidade de seu reinado.

Então, uma vez no poder, a família do rei criava meios de legitimar a continuidade
da posição de comando. O povo, por sua vez, assistia a esse movimento com
certa insatisfação. Por isso, quando as estruturas sociais começaram a mudar,
com a formação dos comércios e dos entroncamentos de trocas comerciais e o
surgimento das primeiras cidades, esse contexto foi tensionado.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

No fim do século XV, na Europa, o feudalismo dá lugar ao capitalismo mercantil.


Assim, ocorre a ascensão da burguesia e surge uma nova forma organização de
Estado, o Estado moderno. Nele, há soberania estatal, território delimitado,
pessoas que têm um vínculo jurídico com o Estado e unificação de sistemas
(tributário, jurídico e administrativo). Assim:

O que um Estado deve fazer para ser considerado soberano, segundo Weber (op.
cit.), é utilizar bem os recursos que permitem a simulação (lógica da
representação) e o controle dos elementos simulados, a fim de representar
autoridade e simular fronteiras. Analisar a soberania estatal seria, dessa forma,
investigar como os Estados são simulados e simbolicamente representados
(SANTOS, 2017, p. 138).

Outra ideia-chave desse novo Estado é a democracia, que foi retomada da Grécia
de meados do século V a.C. Segundo a sua etimologia, a palavra “democracia”
significa “governo do povo”. Entretanto, quem era considerado povo na sociedade
grega? Em Atenas, apenas parte da população — homens com terras e maiores
de idade — tinha o direito de participar das decisões políticas (somente 30% da
população total). Por isso, para fazer valer a ideia da democracia como princípio,
era preciso ampliar as possibilidades de participação política dos demais
membros da sociedade.

Esses mecanismos de decisões políticas foram se desenvolvendo nas so-


ciedades pós-feudalismo. Em síntese, hoje a democracia pode ser exercida de
duas formas: direta, quando os membros das sociedades decidem diretamente
sobre os assuntos políticos; ou indireta, quando representantes são eleitos para
decidir pelo grupo social que os elegeu.

Assim, o poder é descentralizado entre os membros da sociedade e permite


maior participação política nos processos decisórios. Desse modo, segundo
Bobbio (1986, p. 18),

[...] o único modo de se chegar a um acordo quando se fala de democracia,


entendida como contraposta a todas as formas de governo autocrático, é o de
considerá-la caracterizada por um conjunto de regras (primárias ou funda-
mentais) que estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e
com quais procedimentos.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Assim, a sociedade desenvolve mais autonomia para expor suas ideias, se torna
mais crítica em relação às políticas públicas e também fiscaliza as ações de seus
representantes. Para aproximar essa discussão do contexto brasileiro, Campos
(2006, p. 119) destaca que: “O controle social é um instrumento da democracia
participativa e sua efetivação está associada à capacidade que a sociedade
brasileira tem para impor mudanças nas tradicionais dinâmicas de gestão pública
[...]”.

Organização política no Estado

Se você considerar, por exemplo, a filosofia, vai perceber que o pensamento


humano passa por transformações. Isso ocorre tanto no sentido de se ne- garem
ideias antes consideradas corretas como de se retomarem conceitos e
proposições antigas em novos contextos. Assim, o que é considerado verdade é
ressignificado com o passar dos tempos. Por meio do estudo da história da
filosofia, é possível identificar características de cada período dessa disciplina.

Como explica Chauí (2000, p. 114), há dois tipos de busca pela verdade:

O primeiro é o que nasce da decepção, da incerteza e da insegurança e, por si


mesmo, exige que saiamos de tal situação readquirindo certezas. O segundo é o
que nasce da deliberação ou decisão de não aceitar as certezas e crenças
estabelecidas, de ir além delas e de encontrar explicações, interpretações e
significados para a realidade que nos cerca. Esse segundo tipo é a busca da
verdade na atitude filosófica.

Pensando na busca de uma verdade na política, você pode considerar que as


pessoas nem sempre estão satisfeitas com o desejo e a ação do governo estatal.
Como elas também fazem parte do Estado, têm de expor suas ideias e de se
manifestar para buscar aquilo em que acreditam. Nesse sentido, a participação
política é um meio de também atuar na política estatal.

Para haver participação política de diferentes membros da sociedade, a própria


conceituação de Estado deve evidenciar os meandros para que essa participação
ocorra. Assim, considera-se o Estado como:

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

[...] aparelho político (instituições governamentais e funcionalismo público) que


governa um dado território, cuja autoridade assenta na lei e na capacidade para
usar a força. [...] O aparecimento do Estado marca uma transição-chave na
história da humanidade, na medida em que a centralização do poder po- lítico,
que a formação de um Estado implica, introduz novas dinâmicas nos processos
de mudança social (GIDDENS, 2004, p. 691).

Essas novas dinâmicas nos processos de mudança social reconhecem a


centralidade do poder nos representantes governamentais. Por outro lado,
apresentam formas de descentralização desse poder para que o povo, no sentido
mais amplo da palavra, possa se sentir parte do Estado e atuar nele. Você sabe
quais são os mecanismos por meio dos quais a população pode atuar no sistema
político?

Um desses mecanismos, no Estado democrático, é o voto para a escolha dos


representantes governamentais. Mas a questão do voto também é polêmica,
como sintetiza Bello (2016, p. 468):

O significado do voto correto remete a valores, crenças e preferências dos


eleitores em termos de políticas públicas e do candidato. Dito de outra forma, o
voto correto ocorre quando o voto dado a certo candidato corresponde ao que
seria esperado dadas as preferências políticas e valorativas desse eleitor (LAU;
REDLAWSK, 1997). Adicionalmente, os autores vinculam a atitude de votar
corretamente aos atalhos informativos, quando definem o voto correto como
uma escolha que teria sido feita por meio de condições de informações
completas. É a probabilidade de o eleitor votar em um candidato caso estivesse
totalmente informado sobre este (LAU; ANDERSEN; REDLAWSK, 2008). Trata-se de
uma medida binária e, como tal, assume-se o seguinte axioma: se o eleitor
escolhe o candidato baseado nos seus valores e interesses, ele votou
corretamente. Do contrário, votou incorretamente.

O voto remete a valores e crenças comuns entre o votante e o candidato para a


implantação de políticas públicas. Além dele, há o mecanismo das consultas
públicas. Por meio delas, os membros da sociedade expressam se concordam ou
não com determinada questão apresentadas pelos eleitos.

Outro mecanismo são as manifestações populares. Elas ocorrem quando parte


da população ocupa as ruas do território em que vive para expressar algum
descontentamento ou reivindicação.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Muitas vezes, essas manifestações são pacíficas, mas elas podem ser mais
violentas. Isso depende de como as pessoas percebem a sua vida na sociedade e
de como acham que devem atuar para alcançar o que desejam. Gohn (2014, p.
432) aponta o motivo de algumas manifestações populares no Brasil:

O que os motiva é um sentimento de descontentamento, desencantamento e


indignação contra a conjuntura ético-política de dirigentes e representantes civis
eleitos nas estruturas de poder estatal, assim como as prioridades nas obras e
ações selecionadas e seus efeitos na sociedade.

Nesse sentido, as manifestações populares expressam ideias que estão em


disputa. Essa disputa perpassa um sistema de conceitos e crenças chamado de
ideologia. Aprofundando a questão, Althusser (2004, p. 79) afirma que:

[...] uma ideologia é um sistema (possuindo a sua lógica e o seu rigor próprios) de
representações (imagens, mitos, ideias ou conceitos, segundo o caso) dotado de
uma existência e de um papel históricos no seio de uma sociedade dada [...] a
ideologia como sistema de representações se distingue da ciência visto que a sua
função prático-social tem preeminência sobre a função teórica (ou função de
conhecimento).

Por meio da ideologia, os indivíduos expressam suas relações nas condições de


existência. Como numa sociedade complexa há diversas ideologias que disputam
para fazer valer suas crenças, quem dispõe de mais poder é que consegue,
muitas vezes, fazer com que suas ideias prevaleçam. Nesse sentido, quando você
analisa a ideologia, deve ter em mente que:

Os elementos da ideologia em geral seriam, por assim dizer, a matéria-prima das


ideologias particulares. Numa perspectiva althusseriana, porém, não seriam
isolados no tempo. O próprio terreno da ideologia em geral seria uma espécie de
depósito sedimentar, resultante de outras fases históricas, outras lutas de classe,
outras lutas hegemônicas, constituindo a fonte para a compreensão das lutas de
classe do momento histórico focalizado (XAVIER, 2002, p. 33).

Mapa mental da Federação Brasileira - Estado

Fonte: https://www.passeidireto.com/arquivo/70970953/mapa-mental-
organizacao-do-estado-estrategia

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Assim, a noção de hegemonia é uma questão sociopolítica contemporânea. Como


você viu, algumas ideologias podem ser mais hegemônicas do que outras. Por
exemplo, na Idade Média, prevalecia a ideia da autoridade do rei.

Já no Estado democrático, há os representantes governamentais, de modo que


atualmente a figura do rei não tem o mesmo poder que possuía antigamente.

Cultura de massa e indústria cultural

Nas sociedades contemporâneas, o processo de socialização adquire


complexidade ainda maior por envolver ampla quantidade de pessoas, o uso
avançado da tecnologia, um modo de vida mais corrido e atribulado,
principalmente nos grandes centros urbanos.

Diante de um processo de globalização, no qual o contato entre países e nações


aumenta, algumas sociedades podem disseminar produtos, ideais e hábitos de
forma massificada que são assimilados por outras culturas. Logo, esse processo
impacta o modo como o indivíduo se relaciona com a sociedade em questão.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

O rádio, a televisão, a fotografia, o cinema, e, agora, a internet e os celulares


fizeram com que as trocas culturais entre sociedades diferentes se tornassem
mais proeminentes, e isso influenciou profundamente a sociedade em que
vivemos.mO processo de industrialização, iniciado sistematicamente no começo
do século XX pelo taylorismo e pelo fordismo, possibilitou fabricar mais produtos,
diminuir os custos e o tempo de produção.

Assim, os países com maiores economias, visando o lucro e o aumento do seu


poderio, buscaram outros mercados para distribuir seus produtos, o que
possibilitou que mais países acessassem produtos diferentes da sua cultura. Isso
pode ser positivo pela oportunidade de acesso a variedade de pro- dutos
existentes do mundo, mas nos faz refletir sobre aspectos perversos que
envolvem a economia e o processos de industrialização ao criarem estratégias de
consumo e de venda para convencer os consumidores para consumir seus
produtos.

Ou seja, com a industrialização, houve maior produção a um menor custo, o que


fez com que os preços dos produtos caíssem e se tornassem mais acessíveis para
grande parte da população.

Nesse sentido, evidenciou-se uma difusão cultural de produtos produzidos, os


quais era preciso serem desejados, então as empresas também se concentraram
em criar slogans e propagandas que demonstrassem a utilidade dos produtos ou
mesmo valor simbólico agregado a ele.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Portanto, a publicidade também se desenvolveu bastante nessa época, de modo


a enfatizar a liberdade da escolha individual do consumo, ao mesmo tempo em
que evidenciava esse discurso na exposição de certa cultura. Logo, não eram
consumidos produtos em si, mas bens simbólicos representativos de uma
condição superior do indivíduo em relação ao restante da população.

Ainda que muitos não pudessem acessar esses produtos, eles se tornam objeto
de desejo de grande parte de população que veem as propagandas e são
atraídos pelo discurso expresso no seu conteúdo.

A cultura de massa envolve o oferecimento e a venda dos mesmos produtos, dos


mesmos bens e dos mesmos desejos para pessoas de culturas distintas.

Para enteder a diferença:

Assim, a difusão cultural em uma abrangência global de um produto proposto por


um grupo específico pode ser interpretada como uma política organizada visando
hegemonia de poder econômico, sendo essa uma das consequências da indústria
cultural. Podemos dizer que a industrialização gerou um processo de
homogeneização cultural entre os países que poderiam ter uso comum de bens
por parte da população, como explica Costa (2010, p. 241, grifo nosso):
Ao longo dos séculos ampliaram-se os recursos tecnológicos de reprodução de
originais, não só de textos, mas também de imagens e sons. Assim, no final do
século XX, a indústria cultural já se caracterizava pela produção seriada de bens
simbólicos e imateriais que visava, com fins lucrativos, a um público amplo e
indistinto, pejorativamente chamado de “massa”. [...] “Massa” foi o termo
pejorativo usado pela elite para designar a aglomeração de milhares de pessoas
nas cidades industriais.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Sendo assim, questiona-se a especificidade das vivências das pessoas que


ficariam prejudicadas com a massificação dos costumes, comportamentos e
consumos.

Ao mesmo tempo, entende-se que a disseminação de um mesmo produto por


diferentes culturas e sociedade também implica em uma demonstração de poder
econômico e político de uma nação sob outras, pois adentrar em mercados de
culturas diferentes é resultante de um processo de negociação complexo entre
países.

Assim, a indústria cultural está referenciada por uma disputa por mercados e vive
seus dilemas para se manter competitiva e conquistar novos públicos, como
enfatiza Edgar Morin (1997, p. 25-26):

A indústria cultural deve, pois, superar constantemente uma condição


fundamental entre suas estruturas burocratizadas-padronizadas e a originalidade
(individualidade e novidade) do produto que ela deve fornecer. Seu próprio
funcionamento se operará a partir desses dois pares antitéticos: burocracia-
invenção, padrão-individualidade.

Assim, a circulação de produtos pelos inúmeros países existentes é um caminho


sem volta que, de certa maneira, envolve a cultura local e a popular fazendo com
que os indivíduos escolham – ou sejam incentivados a escolher – quais bens se
identificam e queiram próximo a si para constituir suas identidades.

Em resumo o Mapa Mental da Cultura de Massa:

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DICA DO
PROFESSOR
O vídeo mostra como funciona o sistema político brasileiro.

https://youtu.be/90N6xRU58Vo

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EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
1) Os antropólogos têm em comum com os cientistas políticos o interesse em
organização e sistemas políticos, mas, nesse caso, mais uma vez, a abordagem
antropológica é global e comparativa e inclui os não estados, enquanto os
cientistas políticos tendem a trabalhar com estados-nação contemporâneos e
recentes.

Sobre a questão política, marque a alternativa INCORRETA.

A) A organização política compreende as partes da organização social que se


relacionam especificamente a indivíduos ou grupos que administram as questões
de políticas públicas.

B) A economia não influencia na organização social.

C) A chefia é uma forma de organização sociopolítica intermediária entre a tribo e


o Estado.

D) O Estado é uma forma de organização sociopolítica com base em uma


estrutura formal de governo e em estratificação socioeconômica.

E) As tribos não têm qualquer governo formal nem meio confiável de fazer
cumprir decisões políticas.

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EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
2) Os status adquiridos não são automáticos, porém se baseiam em escolhas,
ações, iniciativas ou circunstâncias e podem ser positivos ou negativos. O grande
homem, curandeiro, senador, criminoso condenado, terrorista, vendedor,
sindicalizado, pai e estudante universitário são exemplos de status adquiridos.

A partir disso, marque a alternativa INCORRETA.

A) O grande homem é uma figura que detém mais poderes que o chefe da aldeia.

B) O chefe da aldeia pode atuar como mediador em conflitos, mas não possui em
regra poder de resolver a questão.

C) Todos estes são atributos do grande homem: generosidade, riqueza,


eloquência, aptidão física, bravura, poderes sobrenaturais e capacidade de
conquistar apoio e lealdade dos demais.

D) As irmandades pantribais são grupos que se estendem por toda a tribo,


abrangendo várias aldeias.

E) Nos dias atuais não encontramos exemplos de grandes homens entre os


políticos.

18
EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
3) Em muitas partes do mundo, a chefia era uma forma transitória de organização
que surgiu durante a evolução das tribos para os estados. Sobre os estados,
marque a alternativa INCORRETA.

A) Os estados uma vez consolidados tornam-se eternos.

B) A formação de estados começou na Mesopotâmia.

C) Os primeiros estados são conhecidos como estados arcaicos ou não


industriais.

D) O Estado pode ser considerado uma unidade política autônoma que abrange
muitas comunidades em seu território, tendo um governo central com poder de
cobrar impostos, convocar homens para o trabalho ou a guerra e decretar e fazer
cumprir as leis.

E) Tanto as chefias como os estados são conceitos que podem se desintegrar no


tempo histórico.

19
EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO

4) A presença da estratificação é uma das principais características distintivas do


Estado. O influente sociólogo Max Weber definiu três dimensões relacionadas à
estratificação social. De acordo com ele, qual é a base do status social?

A) Riqueza.

B) Idade.

C) Prestígio.

D) Altruísmo.

E) Poder.

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EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
5) Os sistemas políticos têm os seus aspectos informais, sociais e sutis junto com
suas dimensões formais, governamentais e públicas. A partir disso, marque a
alternativa INCORRETA.

A) A hegemonia, interiorização de uma ideologia dominante, é uma das formas


pelas quais as elites restringem a resistência e mantêm o poder.

B) Os processos de controle social são apenas os aceitos formalmente.

C) As sanções são sociais bem como governamentais. A vergonha e a fofoca


podem ser sanções sociais eficazes.

D) Mais amplo do que “o controle político” é o conceito de controle social.

E) A expressão “transcrição pública” se refere a interações abertas e públicas


entre dominadores e oprimidos.

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ANOTAÇÕES

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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BALAKRISHNAN, G. (Org.). Um mapa da questão nacional. Rio de Janeiro: Contraponto,2000.

BARTH, F. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, P. Teorias da etnicidade. Seguido
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Fenard. São Paulo: UNESP, 1998.

CASTELLS, M. O poder da identidade. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2008.


DA MATTA, R. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco. 1986.

COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2010.

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<https://trendr.com.br/cultura-popular-sua-diversidade-e-import%C3%A2ncia-
-96446407feec>. Acesso em: 09 nov. 2017.

MORENO, J. C. Revisitando o conceito de identidade nacional. In: RODRIGUES, C. C.; LUCA, T. R.;
GUIMARÃES, V. (Org.). Identidades brasileiras: composições e recomposições. São Paulo:
UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014.

REINHEIMER, P. Identidade nacional como estratégia política. Mana, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1,
p. 153-179, apr. 2007.

SANTOS, M. dos. Festa junina. 2017. Disponível em: <https://militaodossantos.com/>;. Acesso


em: 24 mar. 2022.

XIDIEH, O. et al. Catálogo da feira nacional de cultura popular. São Paulo: SESC, 1976.

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GABARITO
1) A - A organização social demanda articulação política. Por meio dela, os cidadãos negociam entre
si, de maneira consciente ou inconsciente, sobre o que deve reger a vida social e conômica.

2) E - Nos dias atuais encontramos exemplos de grandes homens entre os políticos.

3) A - Independentemente do número de membros dessas sociedades, a figura da chefia realiza a


intermediação entre a tribo e a organização estatal. Ou seja, para ser chefe é preciso ser um grande
homem. Esse grande homem deveria ser generoso, saber dialogar, ter bravura, receber apoio dos
demais membros e contar com a lealdade da maior parte do grupo para que as suas decisões
políticas fossem cumpridas. Contudo, sua condição não era eterna. Afinal, os Estados e as chefias
também passam por questionamentos, disputas e até mesmo modificações.

4) C - Se com Weber o status social é definido pelo prestígio, poder e pertencimento a um grupo
social, no pensamento marxista, a divisão da sociedade, no caso a capitalista, ocorre, em resumo,
entre aqueles que detêm os meios de produção e, portanto, controlam a econômica, a política e,
ideologicamente, a sociedade.

5) B - O controle social é um instrumento da democracia participativa e sua efetivação está


associada à capacidade que a sociedade brasileira tem para impor mudanças nas tradicionais
dinâmicas de gestão pública.

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