a)Sociedade e Direito
Segundo Fernando Loureiro Bastos1, a relação entre Direito e poder político é estreita
e complexa, dado que, por um lado, a organização do grupo humano que subjaz a uma
determinada comunidade é o resultado do exercício do poder político e, por outro lado,
nos grupos humanos que se pretendem organizados, existe a necessidade de normas ou
regras que possam ser utilizadas como padrões de conduta pelos indivíduos que os
compõem, sendo estas produzidas através dos mecanismos do Direito que são detidos e
exercidos pelo poder político.
Segundo Fernando Loureiro Bastos2, a noção de poder impõe que se faça a distinção
entre: poder do homem sobre a natureza e poder do homem sobre o homem. Deve ser
sublinhado que o poder do homem sobre o homem pressupõe a existência de uma
relação entre seres humanos, na medida em que se traduz na potencialidade da alguém
impor aos outros um determinado comportamento.
O fundamento para a existência e para o exercício do poder político pode ser encontrado
na necessidade de encontrar mecanismos destinados à resolução dos conflitos de
interesses resultantes do acesso aos bens finitos.
1
LOUREIRO BASTOS, Fernando, Ciência Política – guia de estudo, Associação Académica da Faculdade de
Direito de Lisboa, 1999, p. 26.
2
LOUREIRO BASTOS, Fernando, Ciência Política – guia de estudo, Associação Académica da Faculdade de
Direito de Lisboa, 1999, p. 21 a 23.
3
REBELO DE SOUSA, Marcelo e GALVÃO, Sofia, Introdução ao Estudo do Direito, 4ª edição, Lisboa, 1998,
pp. 17 e 18.
Seguindo Cristina Queiroz4, o Estado apresenta-se como a forma normal de
organização das sociedades políticas. Trata-se de um instrumento ou artifício que serve
de suporte ao exercício do poder. Este é essencialmente exercido “em nome” do Estado.
Mas o conceito de Estado detém ainda outros sentidos. Designa, por exemplo, o “poder
central” por oposição ao “poder local”. E designa ainda os “governantes” por oposição
aos “governados”. Evoca-se deste modo, os “poderes públicos” no seu conjunto. Por
exemplo, quando se afirma que “o Estado é responsável pela manutenção da ordem”.
Neste sentido, o domínio do Estado opõe-se ao domínio da sociedade civil, composta
pelos particulares e sujeitos privados. É a tradicional oposição entre o domínio da
“sociedade” e o domínio do “governo”, relevada, entre outros, por HABERMAS e
OUTHWAITE.
Enfim, por “Estado” designa-se a “sociedade política organizada”. Por exemplo, quando
referimos o “Estado português”, o “Estado alemão” ou o “Estado francês”. É neste
último sentido que procederemos ao estudo do conceito de ‘Estado”. Com efeito, o
Estado apresenta-se como uma forma de “racionalização” e “generalização” do político
nas sociedades modernas e actuais.
Jellinek distingue como tipos fundamentais de Estado o Estado oriental, Estado grego,
Estado romano, Estado medieval e o Estado moderno. Jorge Miranda5 acolhe esta
distinção, na senda de Jellinek, chamando-lhe antes tipos históricos de Estado. Vejamos
então as suas características segundo Jorge Miranda6.
4
QUEIROZ, Cristina, Direito Constitucional – As instituições do Estado Democrático e Constitucional,
Coimbra Editora, 2009, p. 23 a 24.
5
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, tomo I, 6ª edição, Coimbra Editora, 1997, pp. 50 e
51.
6
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, tomo I, 6ª edição, Coimbra Editora, 1997, pp. 49 a
100, segundo a selecção substancial já efectuada por LOUREIRO BASTOS, Fernando, Ciência Política –
guia de estudo, Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1999, p. 119 a 130.
Estado oriental
forma monárquica (que combinada com a teocracia, leva a que o monarca seja
adorado como um deus);
Estado grego
Estado romano
os cidadãos romanos têm certos direitos básicos: ius suffragii (direito de voto em
assembleias populares); ius honorum (direito de aceder às magistraturas); ius
connubi (direito de contrair casamento legítimo); ius commercii (direito de
celebrar actos e negócios jurídicos) e o ius militiae (direito de servir na
legião/exército);
a progressiva atribuição dos direitos aos estrangeiros e a formação do ius
gentium como conjunto de normas reguladoras das relações em que eles
intervêm;
Durante a Idade Média, não é possível considerar a existência de Estado, pois a “ ordem
hierárquica da sociedade traduz-se numa hierarquia de titularidade e exercício do poder
político, numa cadeia de soberanos e vassalos, ligados por vínculos contratuais”.
Daí resulta:
que além das grandes abadias monacais, as estruturas urbanas autónomas que
vão surgindo – comunas ou concelhos, corporações de mesteres, universidades,
etc. - cada qual com a sua função, formam-se e desenvolvem-se à margem de
qualquer estrutura administrativa centralizada;
que os direitos não são atribuídos individualmente, mas sim enquanto membros
dos grupos em que se integram; são direitos em concreto e em particular, como
expressão da situação de cada pessoa; direitos que se apresentam como
privilégios, regalias, imunidades que uns têm e outros não, ou direitos
institucionais, em vez de direitos atribuídos genericamente a todas as pessoas.
Estado moderno
7
De notar, e em sentido diverso, o Estado Islâmico, em que os poderes temporal e espiritual se
fundem numa unidade.
O Estado moderno vai surgir com a crise do sistema político medieval a partir dos
séculos XIII – XIV. Embora se manifeste de forma distinta nas diversas partes da
Europa, podemos dizer que o processo da criação dos Estados europeus se encontra
concluído no momento da assinatura dos Tratados de Vestefália (1648), que puseram
termo à Guerra dos Trinta Anos. Na base do Estado moderno vai estar o conceito de
soberania, desenvolvido por Jean Bodin.
Estado estamental
Estado absoluto
Após o final da II guerra mundial a evolução do Estado tem de ser compreendida tendo
em consideração os seguintes aspectos:
c) Estado e Nação
Por outro lado, no que respeita às relações entre Estado e Nação pode ser dos seguintes
tipos:
2.Elementos do Estado
- O território;
- O poder político.
Até fins do século XVI, não existia Estado no sentido em que hoje é entendido pois não
existia um território fixo, um poder que se exercia sobre o território e não existia um
vínculo de nacionalidade. Só a partir do século XVI, surge o Estado moderno ou
Europeu, no sentido que hoje lhe damos. Ele surge na Europa com a idade moderna e
sob as ruínas do fundamentalismo. Teve por base o desenvolvimento da economia
mercantil e a libertação da sociedade civil do domínio temporal da Igreja e apoiou-se na
concentração do poder nas mãos do príncipe e no despertar da consciência nacional que
vai permitir encontrar um fundamento e um fim despersonalizado para o poder. Ao
contrário do que acontecia nas sociedades primitivas onde a autoridade política era em
regra o prolongamento da autoridade familiar e das sociedades feudais onde o poder era
fortemente personalizado, quem assegura o poder é uma instituição despersonalizada: o
Estado.
O Estado moderno é pois uma instituição social dotada de um poder racional separado
da pessoa dos governantes e sentido pelos governados.
2.1.O Povo
a) Cidadania ou Nacionalidade
11
LOUREIRO BASTOS, Fernando, Ciência Política – guia de estudo, Associação Académica da Faculdade
de Direito de Lisboa, 1999, pp.133- 134.
Existem basicamente dois critérios quanto à atribuição da cidadania: o critério do ius
sanguinis, que tem na sua base os laços de sangue ou de filiação, e o critério do ius soli,
que tem na sua base o local de nascimento.
É usual distinguir entre aquisição originária da cidadania, que produz efeitos desde o
nascimento, e aquisição derivada da cidadania, que produz efeitos a partir de um
momento posterior.
- etc..
Deve ser tido em consideração que podem existir situações de cidadania dupla ou plural
e de apatrídia ou de apolídia. No primeiro caso, um indivíduo é considerado por mais de
um Estado como seu nacional. No segundo caso, um indivíduo não é considerado por
nenhum Estado como seu nacional.
2.2.O Território
O poder do Estado sobre o seu território há-de ser indivisível, inalienável e exclusivo.
13
LOUREIRO BASTOS, Fernando, Ciência Política – guia de estudo, Associação Académica da Faculdade
de Direito de Lisboa, 1999, pp. 135 a 137.
14
LOUREIRO BASTOS, Fernando, Ciência Política – guia de estudo, Associação Académica da Faculdade
de Direito de Lisboa, 1999, pp. 137 e 140.
O poder político é exercido por um conjunto de órgãos do Estado que são poderes
constituídos e que devem actuar na estrita observância das competências previstas na
lei, estando por isso limitado pelo Direito.
O poder político soberano deve ser entendido como um poder político que é supremo e
independente e que, em conformidade, não está dependente de qualquer outro poder
político.
Segundo Fernando Loureiro Bastos15, o poder político soberano deve ser entendido
como um poder político que é supremo e independente e que, em conformidade, não
está dependente de qualquer outro poder político. Daqui resulta a distinção com raiz no
Direito Internacional, entre Estados soberanos, semi-soberanos (ou com soberania
reduzida ou limitada) e não soberanos.
Podemos considerar estados não soberanos por não disporem de soberania externa os
Estados Federados e como estados semi-soberanos (ou com soberania limitada), que
têm ius imperium, mas delegam uma parte das suas competências externas os seguintes:
Estado exíguo ou microestado, Estado protegido, Estado vassalo, Estado confederado.
4. Formas de Estado
Seguindo Cristina Queiroz18, o Estado pode assumir duas formas: Estado Unitário e
Estado composto.
O Estado federal é composto por um certo número de entidades cujo nome varia – os
Estados federados, cantões, Länder –, que têm a aparência de um Estado (constituição,
parlamento, governo, tribunais), mas que se encontram privados de soberania nas suas
relações com o exterior.
- “numa estrutura de participação, em que o poder político central surge como resultante
da agregação dos poderes políticos locais, independentemente do modo de formação”.
21
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, vol. III, 3ª edição, Coimbra, 1994, pp. 270 e 271.
22
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, vol. III, 3ª edição, Coimbra, 1994, p. 274.
23
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, vol. III, 3ª edição, Coimbra, 1994, p. 274.
4.3. Estados Unitários Simples e Estados Unitários Complexos
Segundo Fernando Loureiro Bastos24, no Estado Unitário deve ser feita a distinção
entre Estado unitário centralizado (Estado unitário simples) e Estado unitário regional
(Estado unitário complexo). No primeiro, existe apenas um poder político estadual,
enquanto no segundo existe um fenómeno de descentralização política (que se traduz na
atribuição a entidades intra-estaduais de poderes ou funções políticas, que são exercidas
paralelamente/ao lado daquelas exercidas pelos órgãos estaduais).
Governo
24
LOUREIRO BASTOS, Fernando, Ciência Política – guia de estudo, Associação Académica da Faculdade
de Direito de Lisboa, 1999, p. 142.
25
QUEIROZ, Cristina, Direito Constitucional – As instituições do Estado Democrático e Constitucional,
Coimbra Editora, 2009, p. 170.
Segundo Cristina Queiroz26, os regimes políticos apontam para o modo como, na
prática, se articula o sistema de rotações entre os órgãos superiores do Estado com vista
ao funcionamento dinâmico e global da arquitectura constitucional do conjunto,
tomando em consideração as concepções fundamentais das relações entre o indivíduo e
a sociedade política cuja ideologia o poder político tem por missão verter na ordem
jurídica.
Segundo Fernando Loureiro Bastos27, a contraposição clássica que era feita no âmbito
dos regimes políticos distinguia entre monarquia e república. Actualmente a distinção
entre estes regimes tem por base o modo como é designado o Chefe do Estado. Assim:
O regime é ditatorial quando o poder político é detido por uma pessoa ou por um
conjunto de pessoas que o exercem por direito próprio, sem que haja participação ou
representação da pluralidade dos governados.
26
QUEIROZ, Cristina, Direito Constitucional – As instituições do Estado Democrático e Constitucional,
Coimbra Editora, 2009, p. 170.
27
LOUREIRO BASTOS, Fernando, Ciência Política – guia de estudo, Associação Académica da Faculdade
de Direito de Lisboa, 1999, pp. 187 a 191.
Segundo Cristina Queiroz28, os sistemas de governo, identificados com a estrutura
político-constitucional tal como esta resulta do texto constitucional (:”constituição em
sentido instrumental”), recobrindo a organização, o funcionamento e a inter-relação dos
órgãos superiores do Estado, podem ser estudados quer numa perspectiva jurídica quer
numa perspectiva fáctica, “rectius” política.
- separação de poderes;
- responsabilidade política.
Além do chefe do Estado, existem os secretários de estado que são meros colaboradores
do Presidente e exercem funções predominantemente administrativas.
Assim:
28
QUEIROZ, Cristina, Direito Constitucional – As instituições do Estado Democrático e Constitucional,
Coimbra Editora, 2009, p. 170.
• o Chefe de Estado é eleito por sufrágio universal e directo;
O poder judicial, por seu lado, pertence a um supremo tribunal, cujos juízes são
designados pelo Presidente sobre proposta e com o consentimento da câmara alta do
parlamento (Senado). O Presidente da República eleito por sufrágio universal é
simultaneamente o chefe do Estado e chefe do governo, competindo-lhe nesta qualidade
assegurar o exercício da função executiva.
Legitimado que é por sufrágio universal, o Presidente da República não pode ser
destituído pelo Parlamento, excepto por acusação criminal. Por sua vez, também o
Parlamento eleito de igual modo por sufrágio universal é independente do Presidente.
Este não pode dissolvê-lo, nem pode fazer parte dele.
Neste sistema, o chefe de Estado não pertence ao governo nem detém qualquer
intervenção na política governamental. A política geral do governo é definida pelo
Conselho de Ministros sob orientação do chefe do executivo (primeiro-ministro).
Assim:
O poder executivo neste sistema está dividido por dois órgãos: o chefe do Estado que
não tem responsabilidade política e exerce apenas poderes formais, muitas vezes de
simples representação; e o governo que dirige a acção do poder executivo, assumindo a
direcção política sob a orientação do chefe do Estado.
O governo resulta das eleições directas e universais, pois a sua nomeação obedece aos
resultados das eleições parlamentares. Na medida em que o governo é investido pelo
chefe do Estado e com o apoio do parlamento, o governo só pode exercer as suas
funções, se tiver a confiança deste ou, dito de outra forma, se tiver o apoio da maioria
dos deputados.
O parlamento eleito directamente pelos cidadãos, dispõe de muitos meios para controlar
a acção do governo, além de ter a faculdade de elaborar leis, sem as quais o executivo
não poderia governar. O Parlamento pode exigir ao Governo as explicações que entenda
serem necessárias; podem criticar a acção governativa e apresentar moções de censura,
de confiança, etc..
A ligação estreita entre o governo e o parlamento pressupõe que estes dois órgãos
colaborem nas funções do Estado. O executivo colabora na função legislativa e o
Parlamento na função governativa, dando ao Governo meios para agir.
Os sistemas mistos
Os dois sistemas de que falamos são sistemas puros.
No entanto, há sistemas de governo que não são mais do que uma mistura de
características do sistema presidencialista e parlamentar e que são designados por
sistemas mistos, como o caso do sistema semipresidencialista. Esses sistemas de
governo mistos podem assumir uma preponderância dos elementos presidencialista
(França), ou podem revestir uma predominância dos elementos parlamentares, ou até
podem assumir o equilíbrio dos dois sistemas, tudo dependendo das características
concretas do Estado em questão.
No caso português o chefe do Estado não integra o governo, embora tenha competência
para o demitir depois de ouvido o Conselho de Estado. Para um esquema de
funcionamento do sistema semipresidencial português ver o ponto seguinte.
A separação de poderes, cuja teorização remonta aos séculos XVII e XVIII, primeiro
com Locke, depois com Montesquieu, encontra-se como tal inscrita no artigo 16º da
“Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” francesa de 1789: “Toda a
sociedade na qual a separação de poderes não se encontre assegurada (…) não tem
Constituição”.
29
QUEIROZ, Cristina, Direito Constitucional – As instituições do Estado Democrático e Constitucional,
Coimbra Editora, 2009, pp. 55 a 109.
Separados e distribuídos os poderes irão limitar-se reciprocamente através de um
sistema engenhoso de “freios” e “contrapesos” (checks and balances).
O poder legislativo
Em teoria o poder legislativo cria as leis, regras de natureza geral e abstracta, dotadas de
relativa permanência, editadas pela assembleia representativa dos cidadãos no Estado.
O poder executivo
Entre nós, o direito de dissolução não é atribuído pela Constituição ao Governo, mas ao
Presidente da República (cf. Artigo 133º, al. e) da CRP). Uma solução que se afasta da
regra geral aplicável em regimes de base parlamentar. Neste sentido, pode dizer-se, o
legislador constituinte português optou por um modelo semelhante ao francês, mais
próprio de regimes presidencialistas (ou semipresidencialistas) do que do sistema
parlamentar.
O poder judicial
- Elaboração e
execução do
Orçamento do
Estado
- Iniciativa de lei e
de referendo
1.1.Natureza e características
1. O que é poder constituinte – ele revela-se sempre como uma questão de poder, de
força ou de autoridade política, que está em condições de, em determinada situação
concreta, criar, garantir ou eliminar uma constituição percebida como lei fundamental
da comunidade política;
3. Como proceder para elaborar e aprovar uma constituição – será por procedimento
legislativo-constituinte através de uma assembleia eleita de propósito para fazer essa
constituição ou por um processo referendário-plebiscitário em que o povo decide a
aprovação como lei fundamental de um texto que foi submetido à sua aprovação.
Art. 285º n.º 1 - A iniciativa pertence aos deputados e não aos grupos parlamentares
nem ao PR..
2 – COMPETÊNCIA
Art. 284º n.º 1 - As revisões “ordinárias” apenas podem acontecer 5 anos após a
revisão, antes deste prazo, por maioria de 4/5 dos deputados em efectividade de funções.
4 – NORMALIDADE CONSTITUCIONAL
Art. 289º + 19º n.º 8 – as revisões apenas podem ocorrer em situações de normalidade
5 – FORMALISMO DA APROVAÇÃO
Art. 285º n.º 2 – apresentado um projecto, qualquer outro a ser apreciado na mesma
Art. 286 n.º 1 – é necessária uma maioria de 2/3 dos deputados em efectividade de
funções.
Art. 286º n.º 2 – as alterações aprovadas serão reunidas numa única lei de revisão.
6 – PROMULGAÇÃO
Art. 286º n.º 3 – O Presidente da República não pode recusar a promulgação de uma lei
No entanto:
Portuguesa:
Quanto à aos princípios estruturantes do Estado Português - alíneas a) a c), e h) a
o);
Seguindo Santos Justo30, o Estado de Direito tem na jurisdicidade a sua essência: ubi
civitas, ibi ius. o Direito fundamenta-o e define as suas competências.
Na sua história podemos destacar três etapas que traduzem a luta contra a
arbitrariedade e pela jurisdição da sua actividade:
1º a luta contra o arbítrio judicial. O liberalismo foi buscar à Idade Média argumentos
contra o arbítrio que os juízes gozavam na administração da justiça, para ajustarem a
pena às circunstâncias em que os delitos eram cometidos e à posição social dos
delinquentes (4). Os abusos dos juízes, que tratavam com brandura os poderosos e ricos
e severamente os pobres e desamparados, foram invocados no século XVIII na defesa
30
SANTOS JUSTO, A., Introdução ao estudo do Direito, 6ª edição, Coimbra Editora, 2012, pp. 93 a 95.
da estrita vinculação do juiz à lei: o juiz deve ser “uma máquina de julgar, um autómata
jurídico” (LEGAZ Y LACAMBRA);
2º a instauração duma justiça administrativa que controle os actos da Administração.
Traduz um protesto contra a prática administrativa do Estado absoluto e significa um
voto de confiança na justiça;
3º a institucionalização dum controlo jurisdicional das leis. Implica a consideração de
que o legislador deve respeitar um direito superior que a Constituição consagra: e
podendo o acto legislativo ser inconstitucional, impõe-se a sua apreciação por uma
instância jurídica que pode ser ou não especial.
Percorridas estas fases, ergue-se o Estado de Direito (material) como o Estado que
realiza a concepção personalista de justiça e se caracteriza por quatro notas
fundamentais (segundo LEGAZ Y LACAMBRA):
3.Classificações de Constituição
Diz-se rígida a Constituição que, para ser revista, exige a observação de uma forma
particular distinta da forma seguida para a elaboração das leis ordinárias.
- Impede que a Constituição possa ser alterada levianamente sob a pressão de quaisquer
acontecimentos circunstanciais;
32
FERREIRA DA CUNHA, Paulo, Direito Constitucional Geral, Quid Juris, 2006, p. 52.
- Impede que a Constituição formal e instrumental seja ultrapassada pela realidade
constitucional, tornando-se obsoleta, e de certo modo ilegítima, e nesse sentido
potenciando a sua própria derrogação.
Em suma, os fins de Segurança e Justiça que o Estado Direito pretende alcançar exigem
estabilidade ao ordenamento jurídico e à confiança e fiabilidade do mesmo, o que só
pode ser garantido mediante a rigidez dos princípios estruturantes deste ordenamento;
mas, por outro lado, é imperioso a existência da possibilidade formal de revisão, ainda
que dentro de regras mais apertadas, no sentido de impedir que a Constituição seja
ultrapassada pela realidade constitucional. Com efeito, a par da rigidez, uma
flexibilidade controlada de revisão, é a melhor garantia da perpetuação da própria
Constituição.
33
GOMES CANOTILHO, J.J., Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 5º edição, Almedina, p. 217 a
219.
34
FERREIRA DA CUNHA, Paulo, Direito Constitucional Geral, Quid Juris, 2006, p. 53.
4. Sinopse da história Constitucional Portuguesa
Com adiantamos e agora concretizaremos, logo nos primeiros anos da sua gestação o
constitucionalismo nacional trava relacionamento com três textos constitucionais,
entremeados por uma restauração absolutista e por alguns anos de luta civil.
A Lei de 1822 expressa, no seu artigo 1º, os propósitos em razão dos quais fora
constituída: “A Constituição Política da Nação Portuguesa tem por objecto manter a
liberdade, segurança e propriedade de todos os portugueses”.
35
Nesta sinopse seguiremos os ensinamentos de QUEIROZ, Cristina, Direito Constitucional – As
instituições do Estado Democrático e Constitucional, Coimbra Editora, 2009, pp. 207 a 236.
36
Há quem entenda não devermos apelidar a Constituição de 1933 de Republicana por força de se tratar
de uma Constituição autoritária, no entanto formalmente o regime político é republicano.
de Estado, e o poder judicial é entregue a juízes, esquema que se reproduziria, com
algumas alterações, em todas as nossas constituições liberais, à excepção da Carta
Constitucional de 1826 (a que esteve mais tempo em vigor).
As Cortes são eleitas bienalmente, por sufrágio masculino, indirecto, secreto e quase
universal, em exclusão das mulheres, dos analfabetos, dos frades, criados de servir e
mais algumas classes, nos termos do disposto no artigo 33º. O parlamento é unicameral,
não existindo qualquer espaço para uma representação da nobreza qua tale.
Entre a ascensão e queda do ideal vintista, entre a sua corrente mais radical e a mais
moderada, interpõe-se uma concepção majestática do exercício do poder, encarnada no
Príncipe D. Pedro, uma outra legitimidade, monárquica, que se manifesta pela outorga à
Nação, por “beneplácito régio”, de uma nova Carta Constitucional. A Carta de 30 de
Abril de 1826 não arranca, como o texto de 1822, de um poder constituinte nacional,
centrado numa assembleia constituinte, nem mesmo, como no caso da Constituição de
1838, de um pacto entre o Rei e a Assembleia, mas da vontade do monarca, e sobretudo,
das necessidades do tempo.
Deste modo, podemos dizer que esta Carta institucionaliza uma nova forma de governo,
a monarquia constitucional, pois em vez de atribuir ao rei uma função secundária de
titular do poder executivo, eleva-o a figura central da vida política do país.
A Carta de 1826 representa no marco das Constituições portuguesas o texto que mais
tempo esteve em vigor, modelando as nossas instituições políticas num momento de
crise preludiadora do nascimento do constitucionalismo.
Nos anos de 1828-1834 D. Miguel assume a chefia do Estado como monarca absoluto.
É a interrupção do regime constitucional. A 15 de Agosto de 1834, finda a guerra civil,
é reposta em vigor a Carta Constitucional (segunda vigência), que perdurará até à
revolução setembrista de 1836. Esta revolução derruba o governo, abole a Carta
Constitucional e declara em vigor a Constituição de 1822.
Aceitada e jurada pela Rainha D. Maria II, mas decretada, à semelhança do texto de
1822, por Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes, o texto de 1838 resulta de um
compromisso entre as forças de 1822 e de 1826, de um pacto entre os princípios
monárquicos e da representação nacional. Será por isso, no dizer de Jorge Miranda, o
texto constitucional de maior equilíbrio e rigor técnico do período monárquico
português. É, ainda, um texto mais curto e sobretudo mais moderado.
Portugal, em 5 de Outubro de 1910, intenta relançar de novo essa “ponte” com a Europa
e, mais uma vez, o paradigma político, o arquétipo escolhido, centrar-se-á nas
instituições políticas da França, republicanas, laicas e tumultuosas.
O texto de 1911, fruto do poder constituinte unilateral da Nação, é aprovado por uma
“Assembleia Nacional Constituinte”, eleita por sufrágio secreto, facultativo e directo,
com base em círculos eleitorais.
O poder judicial era atribuído aos Tribunais, nos termos e por força do disposto nos
artigos 6º e 56º e seguintes da Constituição.
Salazar faria aprovar por plebiscito nacional, em 19 de Março de 1933, uma “nova
Constituição” para uma “nova “ República, rompendo definitivamente os laços que
ainda o uniam a 1911. Na verdade, o voto foi declarado obrigatório, considerando-se
como tendo dado tacitamente o seu voto concordante os eleitores que não tivessem
comparecido e não tivessem provado impedimento legal. Numa palavra, a abstenção
contou como voto a favor.
A Constituição de 1933 no período da sua vigência foi de igual modo objecto de várias
alterações.
A primeira revisão constitucional ocorre em 1982, tendo sido bastante extensa e trazido
modificações à maior parte das disposições constitucionais, tendo-se centrado sobretudo
no sistema de órgãos políticos. Segundo Jorge Miranda37, globalmente, assinalaram a
revisão:
37
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, vol. I, Coimbra Editora, 1997, p. 377.
A sétima revisão constitucional, aprovada em 2005, aditando um novo arrigo permitiu a
realização de referendo sobre a aprovação de tratado que vise a construção e o
aprofundamento da União Europeia.
Sobre o valor jurídico do preâmbulo a doutrina distribui-se por três posições 39: a
tese da irrelevância jurídica; a tese da eficácia idêntica à de quaisquer disposições
constitucionais; entre as duas, a tese da relevância jurídica específica ou indirecta, não
confundindo preâmbulo e preceituado constitucional. De acordo com a primeira tese, o
preâmbulo não se situa no domínio do Direito, situa-se no domínio da política ou da
história; de acordo com a segunda, ele acaba por ser também um conjunto de preceitos;
de acordo com a terceira, o preâmbulo participa das características jurídicas da
Constituição, mas sem se confundir com o articulado.
2 – O princípio Democrático
3 – O princípio da Socialidade
38
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, vol. II, Coimbra Editora, 2000, p. 236.
39
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, vol. II, Coimbra Editora, 2000, p. 239.
4 – O princípio da Unidade do Estado
Todas as normas da Constituição são normas jurídicas vinculantes, embora nem todas
sejam do mesmo tipo e do mesmo grau.
A terceira tipologia refere-se às normas de criação, ou seja, aquelas que criam novos
órgãos.
40
QUEIROZ, Cristina, Direito Constitucional – As instituições do Estado Democrático e Constitucional,
Coimbra Editora, 2009, pp. 15 e 16, 126 a 131.
As normas sobre direitos fundamentais garantem os direitos do cidadão no estado,
incluindo ainda a garantia de determinadas instituições jurídico-privadas ou de certas
decisões valorativas. São normas de conduta para a acção estadual e normas de
delimitação para a ordenação das relações entre o cidadão e o estado.
42
REBELO DE SOUSA, Marcelo, Ciência política. Conteúdos e métodos, Coimbra, 1989 , p. 81.
43
REBELO DE SOUSA, Marcelo e GALVÃO, Sofia, Introdução ao Estudo do Direito, 4ª ed., Lisboa, 1998 ,
p.27.
44
REBELO DE SOUSA, Marcelo, Ciência política. Conteúdos e métodos, Coimbra, 1989 , p. 81.
Logo, as funções do estado servem para prosseguir os fins do mesmo.
Como adiantamos, as funções do Estado são as actividades levadas a cabo pelos órgãos
do poder político, com vista á realização dos fins ou objectivos consagrados na
Constituição.
As funções já identificadas não estão totalmente separadas, mas sim entram em relação.
Com efeito, a função política, nomeadamente a legislativa, serve para fazer as leis que
serão postas em prática pela função governativa e administrativa e cujo incumprimento
será julgado pela função jurisdicional.
A separação de poderes, cuja teorização remonta aos séculos XVII e XVIII, primeiro
com Locke, depois com Montesquieu, encontra-se como tal inscrita no artigo 16º da
“Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” francesa de 1789: “Toda a
sociedade na qual a separação de poderes não se encontre assegurada (…) não tem
Constituição”.
Princípio da separação de poderes consiste em que cada órgão de Estado exerça uma
função de Estado. Ao Parlamento cabe a função legislativa; ao órgão executivo
(Governo) a função administrativa; ao órgão judiciário (tribunais) compete-lhe a
jurisdicional. Com esta separação limitar-se-ia de forma eficiente o poder. Apesar de se
manter ainda este princípio da divisão de poderes ele sofreu algumas alterações,
perdendo a sua rigidez inicial do ponto de vista orgânico, pois a função legislativa
deixou de ser monopólio do parlamento, por várias razões que podemos resumir nas
seguintes:
a) Razões de maior tecnicidade que a lei passou a exigir e que os deputados, muitas
vezes não tinham competência a nível técnico para legislar nessas matérias;
47
QUEIROZ, Cristina, Direito Constitucional – As instituições do Estado Democrático e Constitucional,
Coimbra Editora, 2009, pp. 55 a 109.
b) A celeridade que a produção legislativa foi exigindo cada vez mais, apesar disso os
órgãos parlamentares mantiveram sempre e mantêm ainda o primado da competência
legislativa.
3.1.Noção
O Estado enquanto pessoa colectiva actua através de órgãos. Órgão do Estado, segundo
Jorge Miranda, é “o centro autónomo institucionalizado de emanação de uma vontade
que lhe é atribuída”48.
Assim, órgãos do Estado são as entidades às quais a ordem jurídica reconhece o poder
de manifestar a vontade imputável ao Estado. Cada órgão diferencia-se dos demais pelo
conjunto de poderes jurídicos que recebe para prosseguir os seus fins e estrutura-se em
função desses poderes e insere-se na estrutura do Estado.
Com efeito, o estado manifesta-se na vida jurídica através dos seus órgãos e os titulares
dos seus órgãos quando actuam nos termos da lei produzem actos imputáveis aos órgãos
e que como tais passam a ser imputados ao Estado. Isto significa que a vontade do
indivíduo que actua como órgão do Estado é imputada ao Estado.
3.2.Elementos constitutivos
48
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, vol. V, Coimbra, 1997, p. 45.
49
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, vol. V, Coimbra, 1997, p. 53.
1 – A instituição (ou ofício), ou seja, na definição de HAURIOU, a ideia de obra ou de
empreendimento que se realiza e perdura no meio social;
O órgão não pode actuar sem ser em conformidade com a competência que está prevista
na lei.
a) singulares / colegiais;
b) simples / complexos;
a) deliberativos / consultivos;
b) a se / auxiliares;
50
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, vol. V, Coimbra, 1997, pp. 65 a 68.
c) de competência originária / de competência derivada;
jurisdicionais;
a) externos / internos;
c) primários / vicários;
d) centrais / locais;
De acordo com o artigo 108º da CRP, o poder político pertence ao Povo, sendo exercido
nos termos da Constituição. Aqui está consagrado o princípio da soberania popular (ver
também a propósito artigo 2º e 3º, número 1). Os órgãos de soberania exercem o poder
político em nome do povo. Neste sentido temos uma democracia representativa e
participativa (cf. também artigo 2º in fine e artigo 3º, nºs 1 e 2).
1. Presidente da República
2. Assembleia da República
3. Governo
4. Tribunais
- o artigo 111º, n.º 1 que recorda o princípio da Separação de Poderes (sem esquecer a
actual interdependência entre os mesmos) e
• representação protocolar
III. nos actos de indulto e comutação de penas e atribuição de ordens honoríficas - art.
134º, f) e i) ;
V. no exercício das funções de Comandante Supremo das Forças Armadas - art. 134º a).
Por outro lado e de acordo com o artigo 127º, nº 3, o Presidente da República é também
o garante da Constituição, podendo requerer a fiscalização da constitucionalidade das
normas.
PODERES DE CONTROLO
Do ponto de vista da sua actividade, a Assembleia funciona por legislaturas, que têm a
duração de 4 anos, ou seja, 4 sessões legislativas (cf. artigo 171º, nº 1 da CRP).
• art. 147º
• art. 152º, 2 - os deputados são representantes todo país e não do círculo pelo qual
foram eleitos.
51
QUEIROZ, Cristina, Direito Constitucional – As instituições do Estado Democrático e Constitucional,
Coimbra Editora, 2009, pp. 60 e 61.
4 - órgão colegial unicameral:
b) n.º mínimo de 180 e máximo de 230 deputados, eleitos por círculos eleitorais,
plurinominais ou uninominais, de forma a assegurar a representação proporcional
segundo o método de Hondt
o Presidente da AR - art.175º
5 - órgão arbitral - deve assegurar uma estrutura harmonizante das várias tendências
representadas.
O GOVERNO
Entre nós, o direito de dissolução não é atribuído pela Constituição ao Governo, mas ao
Presidente da República (cf. Artigo 133º, al. e) da CRP).
1 – Órgão executivo
- artigo 200º n.º 1 a) – define as linhas gerais das política governamental e a sua
execução
- art. 187 n.º 1 – o Primeiro-ministro é nomeado pelo P.R. “tendo em conta os resultados
eleitorais” para a A.R.
- art. 187 n.º 2 – os Ministros e Secretários de Estado são nomeados pelo P.R. sob
proposta do Primeiro-ministro.
- artigo 163º d), e e) – A A.R. tem poderes para apreciar o programa de governo e votar
moções de confiança e censura ao governo.
- artigo 169º - a AR tem poderes para “apreciar” os actos legislativos do Governo que
não sejam da competência exclusiva deste
- artigo 200º n.º 1 a) – definir as linhas gerais das política governamental e a sua
execução
2 – Função administrativa
OS TRIBUNAIS
São considerados pela Constituição como um dos órgãos de soberania e têm por função
administrar a justiça.
1 – Poder separado - artigo 202º n.º 1 - dois sentidos: o poder judicial pertence
exclusivamente aos Tribunais, os Tribunais apenas detêm o poder jurisdicional.
2 – Órgão independente
- artigo 165º - interna e externa – a sua organização é garantida pela reserva de Leis da
Assembleia da República
1 - Princípio da hierarquia
52
QUEIROZ, Cristina, Direito Constitucional – As instituições do Estado Democrático e Constitucional,
Coimbra Editora, 2009, pp. 15 e 16.
2 - Princípio da competência
1º - Princípio da Hierarquia
Princípio da hierarquia – a ideia básica deste princípio é que os actos normativos (leis,
decretos-leis, decretos legislativos regionais e regulamentos) são todos actos
normativos, mas não têm todos a mesma hierarquia, ou seja existe uma pirâmide
jurídica que a Constituição ordena de acordo com os seguintes princípios:
2º - Princípio da competência
1 – Nenhuma fonte de direito pode atribuir a outra um valor do qual ela própria não
detém.
3 – Nenhuma fonte pode dispor do seu próprio valor jurídico, quer acrescentando, quer
diminuindo.
4 – Nenhuma fonte pode transpor para o Estado outros actos de real valor.
Nota: Nenhuma fonte de direito pode criar outras fontes com eficácia igual, ou superior
à dela própria, apenas pode criar fontes de eficácia inferior.
2 – Os regulamentos derrogatórios das leis, mesmo que a lei autorize a sua revogação
por fonte regulamentar.
OS ACTOS NORMATIVOS
1 - Leis Constitucionais
2 - Leis Orgânicas
Não se trata de uma lei diferente das outras leis da assembleia da república, elas são leis
ordinárias ou comuns, ficando desse modo posta de lado a ideia de existir um escalão
entre a lei constitucional e as leis ordinárias. Apesar da sua natureza de lei ordinária, a
Constituição confere-lhe a natureza de leis reforçadas (artigos 112º, n. 3, 280º, n. 2,
alínea a) e 281º, alínea b).
As leis orgânicas estão vinculadas ao princípio da tipicidade, pois só a lei constitucional
pode atribuir forma especial, valor reforçado e reserva material a certos tipos de actos
legislativos.
Sempre que a Constituição reservar por lei orgânica a disciplina jurídica de uma certa
matéria, então o legislador orgânico é competente nessa matéria em termos exclusivos.
Assim serão inconstitucionais as leis orgânicas de autorização, leis orgânicas de bases e
leis orgânicas limitadas ao regime geral de certas matérias.
Embora não sejam as únicas, as leis orgânicas exigem maioria qualificada de dois terços
dos deputados presentes e portanto um largo consenso parlamentar, para a superação do
veto político do Presidente da República (artigo 136º, n. 3).
3 - Leis de Bases
São leis que consagram as bases gerais de um regime jurídico, deixando a cargo do
executivo os desenvolvimentos desses princípios.
Sobre um ponto de vista material as leis de bases constituem directrizes e limites dos
decretos-leis.
Nos termos desse mesmo artigo (165, n. 2), a lei de autorização também tem de definir
o seu sentido, ou seja tem de estabelecer os princípios orientadores do governo para
emanar esses decretos-leis.
Uma outra espécie de limites materiais, é a de que a lei de autorização não pode incidir
sobre matérias necessariamente reguladas por lei formal, nesses casos estamos perante
matérias de especial sensibilidade política, cujo regulamento deve ser atribuído
exclusivamente e indelevelmente ao parlamento (artigo 161º e 164º).
Também não pode ser objecto de autorização a emanação de actos que a assembleia da
república pratica sob uma forma diversa de lei, tais como moções, censuras e
resoluções.
CESSAÇÃO DA AUTORIZAÇÃO :
- a demissão do governo
- o termo da legislatura
-a dissolução da AR
Estamos aqui perante uma relação de confiança, entre o órgão parlamentar e o governo,
motivo pelo qual a autorização caduca, com a alteração de qualquer desses órgãos.
5 - Leis Estatutárias
As leis estatutárias são as leis da assembleia da república que, aprovam os estatutos
políticos, administrativos das regiões autónomas (artigo 226), os estatutos ocupam uma
posição hierárquica privilegiada devendo considerar-se como leis reforçadas (artigos
226º, n. 2 e 280º, n. 2, alínea b)).
6 - Leis reforçadas
Leis reforçadas – algumas das categorias de leis cabem no conceito de leis reforçadas,
como é o caso das leis orgânicas, leis de autorização, leis de bases e leis estatutárias. O
artigo 112 nº 3 dispõe que “ Têm valor reforçado, além das leis orgânicas, as leis que
carecem de aprovação por maioria de dois terços, bem como aquelas que, por força da
Constituição, sejam pressuposto normativo necessário de outras leis ou que por outras
devam ser respeitadas.”
7 – Leis de enquadramento
8 - Decreto-Lei
As leis regionais são sempre leis de competência especial, sob o ponto de vista espacial
e sob o ponto de vista material.
a) Pelos princípios fundamentais das leis gerais da República (artigo 227, n. 1, alínea a))
1) só podem incidir ou versar sobre matérias de interesse específico da região - art. 112º
n.º 4 e 227º;
10 - Regulamentos
11 - Decretos
- Decretos do Governo (artigo 134º, alínea b)) - Aqui podemos distinguir entre decretos
regulamentares, que precisam de promulgação do Presidente da República e decretos
simples que apenas exigem a assinatura do Presidente da República.
Do ponto de vista dos Estados nacionais tem-se assistido nos últimos tempos a uma
“europeização” e “internacionalização” crescente dos ordenamentos jurídicos
internos. Tal resulta inequivocamente da qualidade de Estado-membro da União
Europeia que Portugal e outros estados europeus detêm e também como membros de
outras organizações de carácter internacional.
Direito da União Europeia na hierarquia das fontes de direito
Figuras afins
- o dos que aceitam essa aplicação limitadora, nomeadamente, José Carlos Vieira
de Andrade e Jorge Miranda, apresentam como argumento o facto de na ausência de
uma cláusula geral de limitação dos direitos fundamentais inscrita na CRP, ser sempre
possível que tal preenchimento possa ser feito segundo os termos da DUDH, apelando-
se à respectiva função integradora;
- o dos que rejeitam essa aplicação, nomeadamente, J.J. Gomes Canotilho e Vital
Moreira, que não admitem que a invocação da DUDH possa ser feita com um espirito
limitador ou constringente do sistema de direitos fundamentais, unicamente se
enquadrando a mesma função integradora num sentido mais favorável ao cidadão e
contra o poder.
Noção de inconstitucionalidade
a) Directa ou Indirecta
Directa quando uma norma infraconstitucional viola directamente a
Constituição ou os seus princípios – artº 277 CRP. Por exemplo, violação de
uma lei de autorização legislativa por um decreto-lei no uso dessa
autorização legislativa, o vício será de inconstitucionalidade directa por
violação dos limites impostos pela Constituição (artº 165 CRP).
Indirecta quando uma norma viola normas interpostas. Uma norma
infraconstitucional contraria a Constituição pelo fato de contrariar uma
norma a que a Constituição atribui um valor superior ao da primeira, vicio
que também podemos classificar como de ilegalidade. Por exemplo, a lei de
autorização pode exigir a obtenção de um parecer prévio da comissão
parlamentar competente para o assunto a disciplinar pelo decreto-lei, para a
sua publicação, caso não se obtenha esse parecer, haverá então
inconstitucionalidade indirecta.
c) Total ou parcial
Total quando a inconstitucionalidade abrange todo o ato normativo.
Parcial quando a inconstitucionalidade abrange parte do ato normativo,
algum ou alguns artigos. Pode contudo conduzir à inconstitucionalidade total
do diploma se se reconhecer que as restantes normas deixam de ter
significado, sentido ou justificação por si só.
d) Originária ou superveniente
Originária quando uma norma infraconstitucional contraria uma norma da
Constituição que lhe é precedente.
Superveniente quando uma norma ordinária, inicialmente constitucional,
passa a inconstitucional por entretanto entrar em vigor uma norma
constitucional que a contraria. Só releva se for material.
. Classificação da fiscalização
- Quanto ao modo de impugnação encontramos:
Na fiscalização por via principal, o único processo a ser dirimido é o da
fiscalização da constitucionalidade. É permitido aos cidadãos ou a certas
entidades a impugnação de um ato normativo inconstitucional,
independentemente da existência de qualquer litígio.
Na fiscalização por via incidental, há um processo que corre os seus termos em
tribunal e, sendo levantada a questão da inconstitucionalidade de uma norma, o
processo principal fica suspenso, até que essa questão se decida em processo
incidental.
Ou pode ser uma fiscalização em concreto e é feita por via incidental (artº
280 CRP).
No decurso de um processo judicial pode suceder que o juiz:
- se recuse a aplicar uma norma, por a considerar inconstitucional ou ilegal;
- aplique uma norma cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade tenha sido
suscitada por uma das partes (artº 280 nº 1 als. a) e b) CRP).
No primeiro caso, se o juiz se recusa a aplicar uma norma constante de
convenção internacional, lei, decreto-lei, decreto legislativo regional ou
decreto regulamentar, o Ministério Público é obrigado a recorrer e tem de o
fazer directamente para o Tribunal Constitucional (artº 280 nº 3 CRP).
Se a norma constar de diploma com qualquer outra forma o recurso nem é
obrigatório, nem directo para o Tribunal Constitucional. Ou seja, o
Ministério Público pode recorrer, mas não directamente, só o fará para o
Tribunal Constitucional depois de esgotados todos os recursos ordinários.
O Ministério Público é ainda obrigado a recorrer para o Tribunal
Constitucional das decisões que apliquem uma norma anteriormente julgada
inconstitucional ou ilegal por esse Tribunal (artº 280 nº 5 CRP).
No segundo caso, se o juiz aplica uma norma cuja inconstitucionalidade ou
ilegalidade tenha sido suscitada durante o processo, só poderá recorrer para o
Tribunal Constitucional a parte que tenha suscitado a questão e depois de ter
procedido à exaustão dos recursos ordinários.
O processo principal fica suspenso, quando é suscitada a questão da
inconstitucionalidade ou ilegalidade, e o juiz do tribunal recorrido terá que
conformar a sua decisão com o acórdão que o tribunal de recurso,
normalmente o Tribunal Constitucional, proferir sobre a questão.
Se a norma for declarada inconstitucional ou ilegal, sê-lo-á com efeitos
particulares, ou seja, não será aplicada ao caso em concreto em julgamento,
mas continuará em vigor para os restantes casos, até ser anulada, revogada
ou suspensa.
Porém, se o Tribunal Constitucional tiver julgado a mesma norma
inconstitucional ou ilegal em três casos concretos, pode declarar a sua
inconstitucionalidade ou ilegalidade com força obrigatória geral (artº 281 nº
3 CRP), passando assim da fiscalização sucessiva concreta para a
fiscalização sucessiva abstracta. É o único caso em que o Tribunal
Constitucional atua por iniciativa própria e não a requerimento.
e) A fiscalização da constitucionalidade por omissão vem prevista no artigo
283º da CRP. É também realizada pelo Tribunal Constitucional mas a
requerimento do Presidente da República, do Provedor de Justiça ou dos
Presidentes das Assembleias Legislativas Regionais. Se o Tribunal
Constitucional verificar a existência deste tipo de inconstitucionalidade
limita-se a dar conhecimento do fato ao órgão legislativo competente, limita-
se a recomendar, não podendo actuar pelo órgão competente.