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A Sociedade e o Estado

Paulo Gustavo Bastos de Souza Estudante

O conceito de Sociedade e Estado, na linguagem dos filósofos e estadistas,


têm sido empregados ora indistintamente, ora em contraste, aparecendo então
a Sociedade como círculo mais amplo e o Estado como círculo mais
restrito.  Sociedade vem primeiro; o Estado, depois.

A Sociedade, algo interposto entre o indivíduo e o Estado, é a realidade


intermediária, mais larga e externa, superior ao Estado, porém inferior ao
indivíduo, como medida de valor.

O conceito de Sociedade tomou sucessivamente três caminhos no curso de


sua caminhada histórica. Foi primeiro jurídico, com Rousseau; depois
econômico, com Marx e enfim, sociológico, com Comte.

No mundo moderno, o homem, desde que nasce e durante toda a existência,


faz parte, simultânea ou sucessivamente, de diversas instituições ou
sociedades, formadas por indivíduos ligados por parentesco, interesses
materiais ou objetivos espirituais. Elas têm por fim assegurar ao homem o
desenvolvimento de suas aptidões físicas, morais e intelectuais, e para isso
impõem certas normas, sancionadas pelo costume, a moral ou a lei.

A primeira em importância, a sociedade natural por excelência, é a família, que


o alimenta, protege e educa. As sociedades de natureza religiosa, ou Igrejas, a
escola, a Universidade, são outras tantas instituições em que ele ingressa;
depois de adulto, passa ainda a fazer parte de outras organizações, algumas
criadas por ele mesmo, com fins econômicos, profissionais ou simplesmente
morais: empresas comerciais, institutos científicos, sindicatos, clubes, etc. O
conjunto desses grupos sociais forma a Sociedade propriamente dita. Mas,
ainda tomado neste sentido geral, a extensão e a compreensão do termo
sociedade variam, podendo abranger os grupos sociais de uma cidade, de um
país ou de todos os países, e, neste caso, é a sociedade humana, a
humanidade.

Contudo, há uma sociedade, mais vasta do que a família, menos extensa do


que as diversas Igrejas e a humanidade, mas tendo sobre as outras uma
proeminência que decorre da obrigatoriedade dos laços com que envolve o
indivíduo; é a sociedade política, o Estado.

De modo mais analítico, pode-se dizer que uma sociedade é a união moral de
seres racionais e livres, organizados de maneira estável e eficaz para realizar
um fim comum e conhecido por todos os interessados.

O Estado, portanto, é uma sociedade, pois se constitui essencialmente de um


grupo de indivíduos unidos e organizados permanentemente para realizar um
objetivo comum. E se denomina sociedade política, porque tendo sua
organização determinada por normas de Direito positivo, é hierarquizada na
forma de governantes e governados e tem uma finalidade própria, o bem
público. E será uma sociedade tanto mais perfeita quanto sua organização for
mais adequada ao fim visado e quanto mais nítida for, na consciência dos
indivíduos, a representação desse objetivo, a vontade com que a ele se
dedicarem.

Com exceção da família, a que, pelo nascimento, o homem forçosamente


pertence, mas de cuja tutela se liberta com a maioridade, em todas as outras
sociedades ele ingressa voluntariamente e delas se retira quando quer, sem
que ninguém possa obrigá-lo a permanecer. Da tutela do Estado, o homem não
se emancipa jamais. O Estado o envolve na teia de laços inflexíveis, que
começam antes de seu nascimento e se prolongam até depois da morte. No
mundo moderno, o Estado é a mais formidável das organizações; a contextura
das vidas humanas se insere solidamente no quadro das suas instituições,
porque não existe esfera alguma de atividade, ao menos em teoria, que não
dependa de sua autoridade. O Estado moderno é uma sociedade à base
territorial, dividida em governantes e governados, e que pretende, nos limites
do território que lhe é reconhecido, a supremacia sobre todas as demais
instituições.

O Estado aparece, assim, aos indivíduos e sociedades, como um poder de


mando, como governo e dominação. O aspecto coativo e a generalidade são
fatores que distinguem as normas por ele editadas; suas decisões obrigam a
todos os que habitam o seu território. Não se confunde, pois, nem com as
sociedades em particular, nem com a Sociedade, em geral. Os seus objetivos
são os de ordem e defesa social, e diferem dos objetivos de todas as demais
organizações. Para atingir essa finalidade, que pode ser resumida no conceito
de bem  público, o Estado emprega diversos meios, que variam conforme as
épocas, os povos, os costumes e a cultura. Mas o objetivo é sempre o mesmo
e não se confunde com o de nenhuma outra instituição.

Subtende-se e supõe-se que o Estado assim procede para realizar o bem


público; por isso e para isso tem autoridade e dispõe de poder, cuja
manifestação concreta é a força. Sem dúvida, em outras formas de sociedade
também existe a autoridade e o poder. Mas, o poder do Estado é o mais alto
dentro de seu território, e o Estado tem o monopólio da força para tornar efetiva
sua autoridade.

As normas que organizam o Estado e determinam as condições sociais


necessárias para realizar o bem público, constituem o Direito, que ao Estado
incumbe cumprir e fazer cumprir. Logo, o Estado é a organização político-
jurídica de uma sociedade para realizar o bem público, com governo próprio e
território determinado.

Em qualquer momento da existência e em qualquer ponto da terra em que se


encontre, o homem está sujeito à soberania do Estado, e se foge à soberania
de um é para cair sob o poder de outro Estado. O Estado se diferencia das
demais sociedade basicamente pelo seu caráter de necessidade, e porque,
dominando-as no terreno jurídico, deve harmoniza-las no sentido das
finalidades próprias: o bem público.

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Paulo Gustavo Bastos de Souza - Estudante do 7º Semestre do curso de


Direito da Universidade Federal do Ceará

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