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TEORIA DO ESTADO

Ciência Política e Relações Internacionais · 3º ano · 1º semestre


Professor David Geraldes Santos · Ano Letivo 2023/24

O PROBLEMA DO ESTADO EM ABSTRATO E SEUS


PRINCIPAIS EIXOS CONCEPTUAIS
O problema do Estado em abstrato é um conceito que remonta à filosofia política e à teoria
política, envolvendo a discussão sobre a natureza, a legitimidade e as funções do Estado.
Trata-se de uma questão complexa e em constante evolução, envolvendo debates sobre como
organizar e governar uma sociedade de maneira justa e eficaz. Diferentes correntes de
pensamento político e ideológico oferecem respostas variadas a essas questões. Os principais
eixos conceituais desse problema incluem: Origem e Legitimidade do Estado; Funções do
Estado; Soberania e Poder; Justiça e Direitos Individuais; Estado e Economia; Democracia e
Participação; Teorias Contemporâneas.
Origem e Legitimidade do Estado
 Teoria Contratualista: Esta teoria sugere que o Estado é uma criação dos indivíduos
que concordam em estabelecer um contrato social para garantir a sua segurança e
ordem.
o Filósofos como Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau
contribuíram para esta abordagem.
o A grande falácia do ser humano é que eles eram por sua essência
individualistas e que apenas de modo tardio, o Homem formou as sociedades
antigas. Fukuyama contraria dizendo que não existe registo nenhum de que o
Homem alguma vez vivou isolado.
o A origem pela qual o Homem se distingue dos outros seres é a palavra, o
lógos, que serve para tornar mais claro o justo e o injusto. É graças à
linguagem que podemos fazer política.
o Fukuyama: Linguagem  Teorização e abstração  Religião (rituais) ; Para
o autor a linguagem levou a ideologia do Estado, mais propriamente dita, a
nacionalidade.

Linguagem, Lógos: O desenvolvimento da linguagem permite a coordenação das ações a curto prazo, uma
possibilidade de abstração e teorização, capacidades cognitivas decisivas que pertencem exclusivamente aos seres
humanos. A capacidade de construir modelos mentais e de atribuir causalidade a abstrações invisíveis é, por outro
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lado, a base para a emergência da religião. A religião, ou crença, existe em todas as sociedades humanas.
 Teoria da Obediência Voluntária: é uma perspetiva na filosofia política que
argumenta que a autoridade do Estado e o poder político são legítimos apenas quando
as pessoas consentem voluntariamente em obedecer às leis e às autoridades do Estado.
o Esta teoria desafia a ideia de que o Estado possui autoridade intrínseca ou
divina sobre os indivíduos e enfatiza a importância do consentimento dos
governados como a base da legitimidade do Estado.
o Questiona a ideia tradicional de que o poder político emana de alguma
autoridade divina ou de um monarca hereditário. Sugere que o poder político
surge do consentimento livre e voluntário das pessoas.
o Muitas vezes é vinculada a um contrato social implícito, no qual os indivíduos
concordam tácita ou implicitamente em obedecer às leis do Estado em troca de
proteção, ordem e outros benefícios da vida em sociedade.

Funções do Estado
 Mínimo vs Máximo: A discussão sobre as funções do Estado varia desde a visão do
Estado mínimo, que defende uma intervenção limitada na economia e na vida das
pessoas, até à visão de um Estado máximo, que argumenta que o Estado deve
desempenhar um papel ativo na regulamentação económica e na promoção do bem-
estar social.
 Estado de Bem-Estar Social: Em muitos países, o Estado desempenha um papel
importante na prestação de serviços sociais (ex: saúde, educação e assistência social),
com o objetivo de melhorar o padrão de vida dos cidadãos

Soberania e Poder
 A questão da soberania diz respeito à autoridade suprema do Estado sobre o seu
território e população, incluindo o monopólio do uso legítimo da força
 Separação de Poderes: Muitas democracias adotam a separação de poderes entre o
executivo, legislativo e judiciário como uma forma de limitar o poder do Estado e
garantir a prestação de contas

Justiça e Direitos Individuais


 A proteção dos direitos individuais e a garantia de justiça são questões fundamentais
na discussão sobre o Estado. Isso envolve o equilíbrio entre a autoridade do Estado e
liberdade individual.

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Paradoxo da Competição, da Cooperação e do Reconhecimento
 Refere-se à ideia de que a competição e a cooperação são elementos conflituosos na
sociedade. Embora a competição e a cooperação possam impulsionar a inovação e o
progresso, a cooperação é essencial para a coexistência pacífica.
 O paradoxo surge da complexa interação entre 3 elementos. Por um lado, a
competição pode levar à cooperação, à medida que as pessoas buscam vantagens por
meio de acordos colaborativos. Por outro lado, a competição desenfreada pode minar
a cooperação e prejudicar a confiança social. Além disso, o reconhecimento
desempenha um papel importante na promoção da cooperação, à medida que as
pessoas são mais propensas a cooperar com aqueles que valorizam e reconhecem a
sua identidade e contribuições.
 Para resolver este paradoxo as sociedades procuram equilibrar a competição e a
cooperação, criando regras e normas que incentivem comportamentos cooperativos,
ao mesmo tempo em que permitem uma competição justa.
 É importante o reconhecimento igualitário de todas as entidades e grupos, evitando a
marginalização e discriminação.

Paradoxo da Competição, da Cooperação e do Reconhecimento


 Refere-se à ideia de que a competição e a cooperação são elementos conflituosos na
sociedade. Embora a competição e a cooperação possam impulsionar a inovação e o
progresso, a cooperação é essencial para a coexistência pacífica.
 Competição: refere-se à procura por recursos, posições e vantagens por indivíduos ou
grupos. Tanto pode ser saudável como destrutiva, dependendo das regras e dos
valores que a orientam.
 Cooperação: Envolve ação conjunta de indivíduos ou grupos para alcançar objetivos
comuns, sendo essencial para a coexistência pacífica e o funcionamento eficaz da
sociedade.
 Reconhecimento: refere-se à necessidade humana de ser valorizado, respeitado e
identificado pela sua cultura, conquistas e contribuições. Desempenha um papel
fundamental na formação da identidade pessoal e coletiva.

Outras Noções
 Altruísmo e Egoísmo: O altruísmo envolve ações benevolentes em benefícios de
outros, enquanto o egoísmo se concentra nos interesses próprios. Na Teoria do

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Estado, o altruísmo muitas vezes relaciona-se com a ideia de que bem comum ou
interesse público.
o Os governos podem adotar políticas altruístas que visam melhorar a qualidade
de vida da população em geral, mesmo que isso exija impostos mais elevados
ou regulamentações que limitem a liberdade individual.
o O egoísmo é a busca de interesses pessoais e individuais que pode ser
associado à busca de poder, riqueza ou influência pessoal sem considerar o
impacto sobre a sociedade como um todo. Governos egoístas podem agir em
benefício próprio ou de grupos privilegiados.
 Poder e Autoridade – Legitimidade e Legalidade: o poder é a capacidade de
influenciar ou controlar enquanto que a autoridade é o poder que é reconhecido como
legítimo e aceitável pela sociedade. A legitimidade é a qualidade que confere
autoridade ao poder, baseando-se na aceitação mora e ética, enquanto que a legalidade
se refere à conformidade com as leis e normas estabelecidas. Juntos, esses conceitos
desempenham um papel central na teoria do Estado e na governança, determinando
como o poder é exercido e aceite numa sociedade.
 O Público e o Privado: A distinção entre o público e o privado é um conceito
fundamental na teoria do Estado e na filosofia política, desempenhando um papel
crucial na organização da sociedade e na governança.
o A definição básica trata de uma separação de esferas de atividades,
interesses e autoridade na sociedade
o A esfera pública engloba atividades e instituições que afetam a sociedade
como um todo, a esfera privada diz respeito às questões pessoais e individuais
que não são da preocupação direta do Estado ou da sociedade em geral. A
esfera privada é vista como um espaço onde os indivíduos têm autonomia e
liberdade para tomar decisões que afetam as suas vidas.
 A Razão de/do Estado – O Problema da Autoridade para a Segurança e para o
Controlo na Liberdade: Uma vez estabelecido o Estado, surge a questão da
autoridade e porque é que os cidadãos devem obedecer à lei e aos regulamentos do
Estado. A legitimidade é fundamental neste contexto e a autoridade do Estado é
legítima quando é aceite pelos cidadãos como sendo justa e moralmente correta.
o A questão do controlo do Estado sobre a liberdade individual é delicada.
Embora o Estado seja muitas vezes necessário para manter a segurança e a
ordem, o excesso de poder estatal pode ameaçar as liberdades individuais.

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o É necessário ainda encontrar um equilíbrio adequado entre a proteção da
segurança pública e a preservação das liberdades civis, isso inclui por
exemplo, a extensão da autoridade policial, a coleta de dados pessoais e a
retenção de informações sensíveis.
 A ideologia do Estado: A ideologia do Estado refere-se à ideia central ou filosofia
subjacente que fundamenta a estrutura e as políticas de um determinado Estado ou
governo. Essas ideologias moldam as crenças, os valores e os objetivos que orientam
as ações do Estado em relação á economia, á sociedade e ao papel do governo.
o Liberalismo, Socialismo, Comunismo, Conservadorismo, Nacionalismo,
Autoritarismo, Fascismo, etc..

O ESTADO
AS ORIGENS DA ORDEM POLÍTICA -Bandos, Tribos e o Estado
 Sociedades Tribais: As sociedades tribais são a forma mais antiga e simples de
organização social. Geralmente consistem em pequenos grupos de pessoas
relacionadas por laços familiares ou étnicos. As sociedades tribais são caracterizadas
por terem uma organização descentralizada, com pouca hierarquia formal. As
decisões são frequentemente tomadas por consenso, e o poder é distribuído de
maneira relativamente igual entre os membros da tribo. A economia é geralmente
baseada em caça e na agricultura de subsistência. Ex. Gigantes em Ulisses
 Bandos: São uma etapa intermédia entre as sociedades tribais e as sociedades com
Estado, geralmente são maiores que as tribos e podem caté ser formadas por várias
tribos. Frequentemente desenvolvem sistemas de liderança mais formais, com líderes
ou chefes e baseadas no consenso e consentimento de todos os membros do bando. A
economia pode-se expandir para incluir a criação de gado e agricultura mais intensiva.
 Sociedades com Estado: Possuem uma fonte centralizada de autoridade, seja na
forma de um rei, de um presidente ou de um primeiro-ministro. Esta fonte de
autoridade nomeia uma hierarquia de subordinados que são capazes, pelo menos em
princípio, de aplicar regras ao conjunto da sociedade. A fonte de autoridade impõe-se
sobre todas as outras no interior do seu território, o que significa que é soberana.
o Todos os níveis administrativos, como as chefias inferiores, perfeitos ou
administradores, derivam a sua autoridade para tomar decisões da sua
associação formal ao soberano.

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o O desenvolvimento é a regra fundamental do Estado. Parece que Fukuyama
olha para a história a analisa como é possível a formação do Estado. Segundo
o Professor, um trabalho que nunca ninguém fez.

Exploração e Conceptualização do conceito de Estado


 A expressão Estado tem sido usada pelos intelectuais para designar políticas que
aconteceram em contextos pré-modernos (ex. Egipto, China)
 Os estados são, em primeiro lugar, unidades políticas com um único centro de
tamanho variável, têm titularidade/capacidade de controlar através da atividade
política um determinado território.
o Indivíduos que vivam nesse mesmo território podem utilizar a violência, mas
se o fizerem sem autorização do centro de poder o mesmo considera o uso
dessa violência ilegítima e regra geral compele os indivíduos a encerrar
hostilidades e a desistir.
 Para qualificar uma unidade política de Estado temos de reconhecer nela um
monopólio legítimo da violência. Uma violência organizada.
o Cada estado para além desta faceta da violência tem como característica
fundamental a soberania, pois o Estado é a autoridade última dentro de um
determinado território, cada Estado não reconhece nenhum poder superior a
ele próprio.
 Os Estados projetam-se a si mesmo com entidades próprias, e a sua existência envolve
sempre uma forma básica de desigualdade.
 Um estado estável traz sempre consigo uma assimetria, entre aqueles que exercem o
poder (uma minoria) e aqueles que são governados (a maioria).
 É o Estado que define o que é a lei: A lei é o único discurso do Estado, mas por
outro lado, todo o Estado se declara a si próprio como sujeito às suas próprias leis, As
suas atividades e os seus órgãos só são considerados válidos se os seus conteúdos e o
modo como foram produzidos estão de acordo com uma determinada lei básica que
nos Estados contemporâneos se denomina de Constituição.
o Sem uma lei consolidada não temos Estado. A consolidação da lei é, regra
geral, o resultado de conflitos entre centros de poder num determinado
território. Cada centro procura promover o seu poder e controlar o seu
territótio.

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 A distinção entre um estado e uma sociedade é a seguinte: o estado é responsável
sobre as práticas políticas de um certo território ao qual se liga uma determinada
sociedade.

Fatores que explicam a Formação dos Estados


1. Na maioria das vezes a abundância é tornada possível graças a avanços tecnológicos
como a agricultura.
2. Em segundo lugar, a escala dessa sociedade tem de ser, em termos absolutos,
suficientemente grande para permitir a emergência de uma divisão do trabalho
rudimentar e de uma elite dirigente.
3. Em terceiro lugar, essa população tem de ser fisicamente constrangida, de maneira
a poder aumentar a sua densidade quando surgirem oportunidades tecnológicas para
tal, bem como a garantir que os súbditos não consigam fugir quando sob coação.
4. E, finalmente, os grupos tribais têm de ser motivados a abdicar da sua liberdade a
favor da autoridade de um Estado. Isso pode acontecer através da ameaça da
extinção física por parte de outros grupos, cada vez mais organizados. Ou pode
resultar da autoridade carismática de um líder religioso. Tudo somado, estes parecem
ser fatores plausíveis capazes de conduzir à emergência de um Estado em locais como
o vale do Nilo.
Existia neste raciocínio uma falácia fundamental, extensível a todas as teorias liberais do
contrato social, uma vez que pressupunha um estado de natureza pré-social no qual os seres
humanos viviam como indivíduos isolados.
 Proposições de Fukuyama: A natureza é que formou o Estado; A sociabilidade
natural humana forma-se em torno de dois princípios: a seleção do parentesco e o
altruísmo recíproco; o ser humano tem uma propensão enorme a criar regras e
respeitá-las e a capacidade de obedecer é um comportamento de economia no sentido
em que reduz significativamente os custos de transação social e permite uma ação
coletiva eficaz; Os seres humanos têm uma propensão natural para a violência; Os
seres humanos, tal como os primatas, por natureza não desejam apenas recursos
materiais, mas apenas reconhecimento.
Com a formação dos Estados nasce um outro fenómeno, que é o da esfera pública, é ela que
monitoriza e que assiste a todos os processos políticos num determinado Estado. É na esfera
pública que se observam as atividades do Estado e onde também se criticam.

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 Através da esfera pública surgem adversários políticos que lutam pelo suporte
eleitoral, um partido pode criticar as políticas de um estado elaborando políticas
alternativas e procurando sucesso no próximo sufrágio.

As Três Regras de Formação do Estado


 Consolidação: Este conceito refere-se ao processo pelo qual uma autoridade
governamental estabelece e reforça o seu controlo sobre um determinado território e
população. Envolve o estabelecimento de um governo centralizado, a aplicação de leis
e a extensão do alcance do Estado. A consolidação ocorre frequentemente através da
supressão de centros de poder locais ou rivais e da criação de uma entidade política
unificada.
o Consolidation is mostly the outcome of open conflicts between two centres
over which one will control which territory.
 Racionalização: A racionalização da governação consiste em organizar e racionalizar
as estruturas administrativas e políticas de um Estado. Normalmente, envolve esforços
para reduzir a burocracia, eliminar redundâncias e aumentar a eficiência no
funcionamento das instituições governamentais. A racionalização tem por objetivo
tornar o Estado mais eficaz, mais eficiente em termos de custos e mais sensível às
necessidades da população.
 Desenvolvimento/Expansão: A expansão do domínio refere-se ao crescimento
territorial e demográfico de um Estado. Isto pode envolver a anexação de novos
territórios, a incorporação de populações adicionais ou o alargamento da influência de
um Estado para além das suas fronteiras atuais. A expansão do domínio traz
frequentemente desafios relacionados com a governação, tais como a integração de
diversos grupos e a gestão do aumento da procura de recursos e serviços.

MATRIZES TEÓRICAS DO ESTADO


Matriz Liberal
Princípios-chave: Separação de Poderes; Democracia Representativa; Economia de Mercado
Resumo: A matriz liberal é fundamentada na ideia do Estado de Direito e na proteção dos
direitos individuais e da propriedade privada; Os teóricos liberais, como John Locke e John
Stuart Mill, enfatizam a limitação do poder estatal e a liberdade individual; O Estado é visto
como uma entidade que deve garantir a ordem, a justiça e a liberdade, mas sem interferir
excessivamente na vida dos cidadãos.
 Variável Dominante: o indivíduo, o que domina o processo social.

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o A matriz liberal, na sua perspetiva dominante, coloca o indivíduo como a
variável central e dominante.
o Ênfase no Indivíduo- A matriz liberal dá prioridade ao indivíduo como a
unidade fundamental da sociedade. O indivíduo é visto como a unidade
autónoma, com direitos individuais que devem ser protegidos.
o Visão Individualista- O liberalismo valoriza a visão individualista em que o
ênfase recai sobre as ações e escolhas individuais. Em vez de focar as leis da
história ou forças coletivas, os analistas liberais procuram entender o
comportamento dos indivíduos em seus contextos.
o Perspetiva Multidisciplinar- O liberalismo não se limita a uma doutrina
económica, mas é uma abordagem que abrange diversas disciplinas, incluindo
filosofia, história, sociologia e metodologia.
o Contrato Voluntário- O liberalismo frequentemente interpreta a sociedade
com base no contrato social voluntário. Implica que os indivíduos
voluntariamente limitem a sua liberdade em prol de um estado social que
protege os seus direitos e interesses individuais.
o Ênfase no Indivíduo sobre Grupos- No pensamento liberal não existem grupos
ou classes que tenham valor superior ao dos indivíduos. O indivíduo é visto
como a classe dominante e o principal motor da vida social.
o Vontade Política do Indivíduo- Na matriz liberal a vontade política do
indivíduo é fundamental. Parte-se do pressuposto de que os indivíduos, ao
agirem de acordo com seus interesses racionais, contribuem para o bem-estar
coletivo.
 Aristóteles e o Liberalismo:
o Embora Aristóteles não seja considerado um liberal clássico, as suas ideias
influenciaram a formação de princípios que posteriormente se tornariam
centrais no pensamento liberal, como a limitação do poder estatal, a proteção
dos direitos individuais e a importância da participação cidadã na política.
o Aristóteles enfatizou a importância de regimes políticos equilibrados e justos,
como a monarquia, a aristocracia e regimes constitucionais. Isso influenciou a
busca por governos limitados e justos no pensamento liberal posterior.
o Reconheceu a importância da história e da evolução política na compreensão
das formas de governo. Isso relaciona-se ao liberalismo, que também
considera a evolução política e a busca por sistemas que protejam os direitos
individuais ao longo do tempo.

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o Estado como uma terceira parte neutra que poderia resolver conflitos e
garantir a justiça  ideia tem paralelos com o liberalismo, que enfatiza a
importância de um governo que protege os direitos individuais e atua como
árbitro imparcial.
o Aristóteles abordou a acumulação de propriedade privada e argumentou que,
se essa acumulação prejudicasse a comunidade, seria injusta  contribui para
a discussão sobre propriedade privada e responsabilidade social que é central
no pensamento liberal.

Matriz Marxista
Resumo: A matriz marxista tem suas raízes nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels, que
criticaram o capitalismo e apropriação privada dos meios de produção; Para os teóricos
marxistas, o Estado é visto como uma ferramenta da classe dominante para manter o controlo
sobre os meios de produção e reprimir a classe trabalhadora; A transformação social é vista
como necessária para superar o capitalismo e estabelecer uma sociedade sem classes, na qual
o Estado se tornaria desnecessário. O Estado, na visão marxista, desempenha um papel
importante na transição para o socialismo e no estabelecimento de uma ditadura do
proletariado.
 Variável Dominante: a classe ou o coletivo
o Classe como Variável Dominante- Na matriz marxista, a classe social
desempenha um papel central e dominante. As classes sociais são grandes
grupos humanos que se diferenciam pela sua posição num sistema histórico,
com base na sua posição social e económica.
o Determinismo Histórico- Uma corrente do marxismo aceita um
determinismo histórico que vai além das decisões individuais. Isso resulta na
conceção da luta de classes como uma necessidade histórica, onde a história é
moldada por forças econômicas e sociais.
o Materialismo Histórico- O materialismo histórico é fundamental no
marxismo e sustenta que o modo de produção económica condiciona todos os
processos vitais da sociedade. A consciência dos indivíduos é determinada
pelo processo social, em oposição à ideia de que a consciência humana molda
a sociedade.
o Reflexo do Regime Político na Luta de Classes- O regime político é visto
como um reflexo da luta de classes na sociedade. A luta de classes é central
para a análise do desenvolvimento político e económico e as classes sociais,

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definidas pela sua relação com os meios de produção, desempenham papéis
distintos na sociedade, com a classe dominante controlando os recursos e a
classe trabalhadora sendo explorada.
o Economia como Política- No marxismo, a economia é vista como uma parte
fundamental da política, e a luta de classes desenrola-se em grande parte na
esfera económica.
 Influência Kantiana
o Marx foi influenciado pelo pensamento de Immanuel Kant em relação ao
projeto crítico.
o Inclui a crítica da razão pura, da razão prática e da faculdade do juízo, cada
um com um foco diferente, que se reflete nas análises marxistas da sociedade.
 Influência Platónica
o Platão semeou as primeiras sementes do comunismo; cada um faz aquilo que
lhe é devido, não existe ascensão de classe; aquilo que é de um é de todos
o Diogo Freitas de Amaral fala sobre esta temática

Matriz Institucionalista
Princípios-chave: Analisar regras, normas e estruturas institucionais que governam as
interações políticas e econômicas.
Resumo: O institucionalismo é uma matriz teórica que se concentra na importância das
instituições, na formação e no funcionamento do Estado; Os teóricos institucionalistas
analisam como as instituições políticas, legais e sociais moldam o comportamento político e
económico. Eles destacam a importância da estabilidade e da eficiência institucional para o
bom funcionamento do Estado e da sociedade.
 Variável Dominante: a "instituição"
o Permanência das Instituições- O institucionalismo destaca que, embora os
indivíduos possam ser transitórios, as instituições tendem a permanecer ao
longo do tempo. Isso significa que as instituições têm uma influência que
perdura nas dinâmicas políticas e sociais.
o Onipresença das Instituições- O institucionalismo reconhece que as
instituições desempenham um papel fundamental em todas as abordagens
políticas. Tanto o liberalismo quanto o marxismo, por exemplo, dependem das
instituições para funcionar. O liberalismo requer instituições que protejam os
direitos individuais, enquanto o marxismo considera a importância das
instituições na procura por uma sociedade sem classes.

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o Tese Pervasiva- A ideia de que as instituições desempenham um papel ubíquo
e pervasivo é central no institucionalismo. Isso implica que as instituições são
um elemento essencial em qualquer análise política e social,
independentemente da perspetiva teórica adotada.

PENSAMENTO ANTIGO
Platão
 Falta-me esta parte

Aristóteles
 Primeiro cientista político, pois em Platão não podemos observar um método
científico a funcionar.
 “Quanto mais uma coisa é comum a um maior número menos cuidado recebe. Cada
um se deve preocupar com aquilo que é seu, quanto ao que é comum há uma menor
preocupação ou apenas na medida do seu interesse particular, aliás, desleixasse ainda
mais ao pensar que outros cuidam dessas coisas.”
 Para Aristóteles todas as coisas nascem com uma certa potência (dynamis) que depois
se desenrola para o ato (entelégencia)
 Um homem só se torna Homem na cidade, assegurando a sua “felicidade”
 Primeiro autor que aborda a questão da Escravatura, definindo em oposição ao
escravo o Cidadão. Não há acordo geral em torno de uma definição única de cidadão.
o Ficando de parte quem se torna cidadão a título excecional, nenhum indivíduo
é só cidadão porque habita num determinado local, é necessário algo mais.
o Existem cidadãos imperfeitos, tal como as crianças que são muito novas para
se inscreverem como cidadãs.
 A cidade é o conjunto de cidadãos suficientes para viver em AUTARKEIA
(Autossuficiência).
 Dentro dos vários tipos de regimes três são fundamentais: a monarquia (tirania); a
aristocracia (oligarquia); a democracia constitucional (democracia não constitucional).
o Quando o único ou os poucos ou os muitos governam em vista do interesse
comum esses regimes serão necessariamente retos.
o Chamamos realeza e monarquia à aquela que visa o interesse comum,
chamando aristocracia à forma do governo dos poucos, seja por governar os
melhores ou por propor o melhor para a cidade e respetivos membros.
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o Os três desvios correspondentes são a tirania (realeza), a oligarquia
(aristocracia) e a democracia (regime constitucional).
o Tirania diz-se ser o governo de um só, com vista ao seu interesse pessoal, já a
oligarquia é a busca do interesse dos ricos e a democracia o interesse dos
pobres. Nenhum destes regimes visa o bem comum.

PENSAMENTO MEDIEVAL
Santo Agostinho
 Muito influenciado por Platão
 Conceção geral da ordem política articulava-se na ideia de existirem duas Cidades: A
Cidade de Deus/Cidade Celeste e a Cidade Terrena:
o Se o Estado é governado por homens que praticam o Bem e amam Deus 
Bom e trabalha para a Cidade de Deus
 Intemporal: não corresponde a nenhum reino terreno; providencia uma
estrutura que visa, essencialmente obrigar os homens e uma paz que
não é autêntica.
 Garante paz e segurança, requisito para a existência política.
o Se o Estado é governado por quem pratica o mal e hostiliza Deus  Mau e faz
parte da Cidade Terrestre/Terrena
 Nenhuma Cidade Terrena poderia ser baseada somente no amor a Deus
 Glorifica Paixão e Prazeres
 Não pode ser considerada parte de uma ordem que levava até Ele
 A ordem é negativa, no sentido em que se centra na repressão do
conflito e nas consequências nocivas do pecado
 Não tem lugar na ordem divina
o As duas cidades estão numa luta constante pela posse do mundo: combate
incessante entre o bem e o mal.
 O Homem é um ser marcado para sempre no pecado e quase tudo o que faz neste
mundo é pecaminoso. Desta visão pessimista resulta uma concessão autoritária e
repressiva do Estado.
o Se o homem é um ser egoísta e mau para o seu semelhante, o Estado deve
servir essencialmente para evitar e reprimir o mal, deve vigiar

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preventivamente os grupos mais inclinados ao crime e punir as infrações e os
delinquentes.
 Santo Agostinho não acredita no progresso histórico, para ele a sociedade e o homem
serão sempre pecadoras. O homem e o Estado não caminham para uma redenção
final.
 O Estado, do ponto de vista de Sto. Agostinho, é apenas uma associação de uma
multidão de seres racionais, unidos por um acordo comum  Pai do Contratualismo
 Agostinho separa a ordem política da ordem divina, sendo a ordem terrestre apenas
dotada de um papel repressivo e opressivo, no que diz respeito à natureza essencial do
homem.
 Sto Agostinho foi influenciada pelo Maniqueísmo (doutrina de um movimento
religioso de origem persa, segundo a qual, a vida, o mundo e o homem, são
dominados pelo conflito entre a luz e as trevas. O deus do Bem e o Deus do mal.)
o O Estado deve ser forte e autoritário  autoridade deve ser aceite e amada
como um benefício

S. Tomás de Aquino
 Influência de Aristóteles
 Os Seres humanos são por natureza animais políticos e o Estado é uma consequência
natural da nossa sociabilidade. Os homens teriam vivido em sociedade mesmo que
estivessem num estado de inocência.
o Sendo um animal político agrega-se a comunidades, nações ou estados.
 O governo é necessário para providenciar uma unidade ordenada, não é mais visto
como um instrumento apenas de repressão, mas é um meio de fomentar a cooperação
efetiva.
o O homem que vive em sociedade não pode apenas ser rei de si próprio, pelo
contrário tem de construir ou aceitar um princípio de governo.
o Exemplo Clássico do Navio: se não houver ninguém ao leme o barco seguirá
um curso e depois outro, de acordo com os ventos sem nunca atingir o seu
destino, para alcançar um porto seguro o navio terá de ter alguém ao leme.
 Se o homem não era mau por natureza o Estado, segundo os Tomistas, tinha de ser
totalmente repensado, não podendo ser instrumento de repressão, mas sim uma
comunidade/associação de homens maioritariamente bem-intencionados.
o Fim do Estado: Promoção do bem comum que inclui a ideia do bem-estar
individual, uma condição económica suficiente e razoável

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 S. Tomás de Aquino, acredita que para viver bem os homens precisam, além da fé em
Deus, de habitação, saúde, um ofício para trabalhar e ainda a suficiência de bens
materiais.
 Distingue claramente a pessoa do Estado, o Estado é uma associação de cidadãos,
estes são só elementos integrantes do estado na medida em que participam dele, mas
não com toda a sua existência. A DEUS O QUE É DE DEUS,
o Categórico: o homem não se integra na comunidade A CÉSAR O QUE É DE

política com todos os aspetos do seu ser  Nunca poderá ser visto ou tratado
como elemento do todo sem autonomia própria
o Ideia fundamental na base da doutrina dos homens face ao Estado e, portanto,
serve de fundamento à rejeição firme de qualquer tirania
 Reconhece que todo o poder vem de Deus, pois a existência de uma autoridade que
governa os povos é uma exigência da lei natural estabelecida por Deus, S. Tomás de
Aquino acrescenta algo de novo: o poder não vem diretamente de Deus para os reis 
poder vem de Deus para o povo que é o conjunto dos seus filhos  se o povo
entender é transferido para os reis: ESTEIRA DO CONTRATUALISMO
 Doutrina da Origem Popular do Poder
o 1º é ao povo que pertence a escolha dos príncipes
o 2º é ao povo ou aos seus representantes que compete fazer as leis humanas
o 3º o regime de governo dos povos não é uma instituição divina, mas humana
 Três Pilares da Obra de Tomás de Aquino
o Pôs termo no plano doutrinário (agostinianismo político)
o Considerou a pessoa humana como algo distinto do Estado, dele fazendo
apenas parte para certos fins, mas sem nunca se integrar nele sem todas as suas
partes e características. Foi ele que abriu o caminho à doutrina dos direitos do
homem, rejeitando qualquer regime político tirano
o Foi ele quem, na esteira de Aristóteles, considerou necessário à felicidade
individual de cada homem e ao bem comum de cada país que todos os
indivíduos gozem dos bens materiais suficientes para levarem uma vida
humanamente digna

Agostinho VS Aquino
 Polémica entre Agostinianos: Os primeiros eram pessimistas, a vida do homem era
marcada desde o início, pelo pecado original. Os segundos achavam que apesar do
pecado original havia no homem muito de bom e positivo. O homem não era mau por

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natureza e por isso o estado tinha de ser completamente repensado: já não podia ser
visto como um instrumento de repressão, mas antes como uma comunidade com que
Deus contava para orientar o destino dos reinos e das nações.
 Unidade Política relevante para o poder político
o Sto. Agostinho  Coletividade
o S. Tomás de Aquino  Individualismo
 S. Tomás de Aquino divergiu de Sto. Agostinho, ao ensinar que o poder espiritual e o
poder temporal são ambos legítimos e necessário.
o Poder da Igreja  Autónomo
o Poder dos Homens  Também tem a sua autonomia
 O Estado foi pensado por duas grandes figuras:
o St. Agostinho (influenciado por Platão) – visão negativa quanto ao Estado, ele
é essencialmente um instrumento de coerção e opressão
o S. Tomás de Aquino (Influenciado por Aristóteles) – visão positiva do Estado,
proporciona um melhor acesso e participação dos indivíduos no divino,
espécie de naturalidade que visa inclinar os homens para o divino, para deus
 POSSÍVEL PERGUNTA: S. Tomás de Aquino foi um dos maiores nomes da
civilização europeia, sublinhe-se o rasgo de inteligência que ele demonstra nos seus
ensinamentos, chegando ao ponto de alguns autores questionarem se foi o dono da
primeira filosofia autêntica da democracia. Comente essa informação.
 POSSÍVEL RESPOSTA: S. Tomás de Aquino foi, sem dúvida, um dos filósofos
mais influentes da história da filosofia e teologia ocidental. Os seus ensinamentos,
particularmente a sua síntese do pensamento aristotélico e cristão na forma do
tomismo, moldaram profundamente o pensamento da Idade Média e tiveram um
impacto duradouro na filosofia, teologia e política. No entanto, afirmar que foi o autor
da primeira filosofia autêntica da democracia pode ser um exagero. S. Tomás viveu
numa época em que a democracia, no sentido moderno, não existia na Europa
medieval. O seu pensamento político estava enraizado nas estruturas sociais e
políticas de sua época, que eram fortemente influenciadas pela monarquia e pela
Igreja Católica. Ele estava preocupado com a ordem, a justiça e a autoridade, e suas
ideias refletiam o contexto histórico em que viveu.
No entanto, isso não significa que fosse um filósofo conservador, elitista ou
antidemocrático. Ele defendia princípios de justiça e equidade que, em alguns aspetos,
podem ser considerados compatíveis com elementos democráticos. Por exemplo,
reconhecia a importância da lei e da autoridade legítima, mas também enfatizava que

16
o poder político deveria ser usado para promover o bem comum. Além disso, ele
acreditava que os governantes deveriam buscar o conselho de especialistas em
questões de política e justiça. A ambivalência no pensamento de S. Tomás em relação
à democracia pode ser atribuída ao contexto histórico em que ele viveu e à falta de
uma democracia como a entendemos hoje. O seu foco estava em criar uma teoria
política que refletisse os valores e as estruturas de sua época, e não em estabelecer os
princípios da democracia moderna. Portanto, afirmar que Santo Tomás foi o autor da
primeira filosofia autêntica da democracia é uma simplificação excessiva de seu
pensamento. Em resumo, embora Santo Tomás de Aquino tenha contribuído para o
desenvolvimento do pensamento político e da teoria da justiça, é importante entender
seu trabalho no contexto de sua época e não exagerar seu compromisso com a
democracia moderna. Ele pode ser visto como um pensador que abordou questões
políticas complexas, mas não como o precursor direto da teoria democrática
contemporânea.

PENSAMENTO MODERNO
MAQUIAVEL
Razão do Estado e Objeto Político
 O Príncipe não pode agir sem razão, mesmo sendo amoral, não é irracional.
 A Razão do Estado, conforme discutida por Platão, envolve o cruzamento e o
surgimento do segredo de Estado.
 Maquiavel focaliza principalmente o objetivo político do cruzamento como único na
formação do Estado.
Gramática do Poder
 O Príncipe é uma gramática do poder que ensina a conquistar, usar e manter o poder,
assim como livros de gramática ensinam a falar, ler e escrever.
Realismo Político e Desprezo por Limitações Morais
 Maquiavel opta pelo realismo político em detrimento do idealismo ético
 Quebra com a tradição ao ignorar e desprezar limitações morais, frequentemente
aconselha à realização de ações imorais
Conceito de Estado por Maquiavel
 Maquiavel usa, pela primeira vez, a palavra “Estado” (status) com o sentido moderno.
 Define o Estado como comunidade política soberana internamente e independente
internacionalmente
Método Científico, Ciência Política e Técnica

17
 Adoção do método científico para analisar a realidade política e compreender as leis
da política.
 Precursor da ciência política moderna, libertando-a das ciências morais, ao analisar
meios pragmáticos de adquirir ou perder o poder.
 O Príncipe não é uma obra moral ou imoral, é um livro técnico (1º da Teoria Política)
 Oferece orientações sobre o que é útil, inútil, correto e errado para conquistar e
manter o poder
Êxito Político como Critério
 Maquiavel destaca que os políticos são julgados pelo sucesso na sua luta pelo poder,
não pela moralidade das suas ações.
Razão do Estado
 Desenvolvimento vigoroso da razão de Estado, onde o mesmo deve seguir as suas
regras próprias de ação, distintas das morais individuais
 Na política, o bem deve ser praticado quando possível, mas o mal quando necessário
para a preservação do Estado.
Desafio Ético da Política
 Desafio Colocado: Até que ponto o sucesso político desculpa os comportamentos
livres da moral?
 Questiona se a política está isenta de um juízo ético e se devemos aprovar governantes
que triunfam contra a moral.
Momento Maquiavélico e a Consciência Política Pós-Maquiavel
 Todo o governante enfrenta a tentação de praticar o mal para adquirir ou manter o
poder, um momento maquiavélico na política.
 Após Maquiavel, os governantes agem com boa consciência, convencidos de que
cumprem o seu dever político

OS TRÊS CAVALEIROS DO CONTRATUALISMO


1. HOBBES
 A sua teoria do Estado pode ser explicada por três preposições. Duas premissas e uma
conclusão.
o Todos os Homens são Iguais
o Os recursos são limitados
o O homem quer todas as coias, mas como as mesmas são limitadas, o estado
natural é igual a um estado de guerra (guerra esta que não é de grupos, mas de
todos contra todos)

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 O Estado surge como um homem artificial e que visa primeiramente a segurança dos
súbditos, a forma do poder é clássica (Soberano no topo/Súbdito em baixo), a
legitimidade vem de baixo para cima, porque se fala em consentimento, enquanto o
poder se exerce de cima para baixo de forma absoluta.
 O “Leviathan”, o nome de um monstro bíblico escolhido para simbolizar o
Estado: No “Livro de Job”, “Leviathan” (ou Leviatã em Português) é identificado
com o crocodilo, em termos tais que consentem uma certa equiparação ao Estado forte
preconizado pelo filósofo.
o O Estado de Thomas Hobbes é um Leviathan, um monstro, “mas é um
monstro que combate outros monstros”, ainda mais perigosos do que ele. Na
verdade Hobbes insiste por diversas vezes em que “a pior incomodidade que
numa forma de governo pode acontecer ao povo em geral é quase insensível
em comparação com as misérias e horríveis calamidades que acompanham a
guerra civil”.
o Esta obra fala nas leis naturais que não podem ser contraditas pelas leis
artificias produzidas pelos homens.
 Concepção pessimista da natureza humana. Para Hobbes, o homem é essencialmente
egoísta, move-se pela procura da sua felicidade, do que seja bom para si e a fim de
não deixar piorar a sua condição tem de procurar aumentar sempre mais e mais o seu
poder.
o Estado da Natureza Humana é pessimista, pintada num quadro negro em que
certamente nos deveríamos interrogar se os homens poderiam se converter ao
estado de sociedade.  O HOMEM É COLOCADO PELA NATUREZA
NESTA PÉSSIMA CONDIÇÃO, MAS DISPÕE DE UMA
POSSIBILIDADE DE SAIR DELA POR VIA DAS SUAS PAIXÕES E
EM PARTE PELA SUA RAZÃO.
 Como alcançar a paz duradoura?
o Hobbes começa a abrir o caminho para a ideia de estado como criação
voluntária dos homens através de um contrato. A renuncia a um direito ode
significar a extinção do mesmo ou a transferência dele para outrem e a
transferência coletiva dos direitos de outros para alguém é para Hobbes o
contrato social. Mas um cotrato só é valido e obrigatório se houver um estado
com um poder comum que obrigam as partes a cumpri-lo, as duas partes, pois
os vínculos naturais são demasiado fracos para travar a ambição, a avareza, a
raiva e as outras paixões dos homens sem receio de um poder coercivo.

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 Teoria da Soberania Absoluta:
o É necessário um poder absoluto, contudo, este poder que se diz vulgarmente
absoluto tem alguns limites. O primeiro é o direito à vida, que é um direito
inalienável.
o A ideia fundamental do segundo limite são os que dizem respeito à
propriedade privada, isto é, para Hobbes, a defesa nacional e a segurança
interna são uma tarefa dos cidadãos.
o Teoria do Estado de caráter autoritário e não totalitário
 Hobbes foi percursor da democracia devido à eleição democrática, legitimação
do povo e o liberalismo marcou a sua vida política pois os homens para ele são
átomos e o soberano não poderia tocar na propriedade privada de cada um.
o Grande Teórico do absolutismo monárquico, percursor dos regimes
monárquicos do séc. XX na medida e que ao lado de um poder político
forte e eficaz, preconizava uma diminuta autonomia da vida individual,

2. LOCKE
 Para Locke todos os homens são iguais (mais não seja porque somos todos filhos de
Deus), no entanto, os recursos são infinitos e sendo assim o Estado de natureza não é
um Estado de Guerra.
o Visão positiva da realidade  O engenho e a inteligência são surpreendentes e
infinitos, logo, os recursos são ilimitados.
o Escreve um ensaio sobre a verdadeira origem, extensão e fim do governo civil.
 Para se poder entender o poder político e derivá-lo da sua origem devemos saber qual
o estado natural do homem  O qual é um Estado de perfeita liberdade de dirigir as
suas ações e dispor dos seus bens e pessoas segundo lhe aprouver, observando
simplesmente os limites das leis naturais.
o Poder Político: Direito de fazer leis, só com a finalidade do bem público.
 Todos os homens são propriedade de um criador pois são sua obra, logo, são
obrigados a executarem a lei natural e compete-lhes, individualmente, ter o direito de
punir os transgressores. É assim que, no estado natural, o homem adquire poder sobre
o outro, mas nunca um poder absoluto ou arbitrário na transgressão da lei natural o
ofensor declara viver numa regra diferente da razão que é aquela medida que Deus
estabeleceu nas ações dos homens.
 O estado de guerra é um estado de inimizade e destruição, a diferença evidente entre o
estado natural e o estado de guerra. No estado de natureza os homens vivem juntos

20
segundo a razão, sem um superior comum sobre a terra, que tenha autoridade para
decidir entre eles, isto é o estado natural do homem.
o A falta de um juiz comum, com autoridade, coloca o homem num estado de
fragilidade. No estado natural não há leis positivas concretas e falta de juízes
com autoridade.
 Deus deu ao homem o mundo em comum e deu-lhes também a razão para se guiarem
por ela e deu também a terra para o seu sustento, todos os frutos que produz
naturalmente e animais que alimenta pertencem ao género humano em comum.
 O fim da lei não é para abolir ou restringir, mas para conservar e ampliar a liberdade.
Onde não há lei não há liberdade porque a lei não é como dizem uma permissão para
todo o homem fazer o que lhe agrade, mas sim a permissão de dispor e regular
segundo a sua razão, ações, possessões e propriedade dentro dos limites das leis
naturais.
o A liberdade é fundada na razão que o homem tem ao conceder-lhe uma
liberdade sem limites, não significa lança-lo aos brutos e abandoná-lo a um
estado miserável.
 Principal fim da União dos Homens em Sociedade: Os Homens constituem um
governo para conservarem mutuamente as suas vidas, liberdades e bens. A falta de lei
estabelecida certa e conhecida, a falta de uma medida em comum para decidir
controvérsias  Falta de no Estado natural não haver um juiz conhecido e indiferente.
 IMPORTANTE: O estado de natureza não é um estado de guerra de todos contra
todos, mas será certamente uma guerra de alguns contra alguns e, portanto, prejudicial
a todos. Não havendo poder político que regule a liberdade da propriedade individual,
não há órgãos de controlo social como os tribunais, é por isso que para Locke o estado
de natureza é insatisfatório (pois não há leis escritas e tribunais)
 Para Locke o estado não pode intervir na vida privada dos indivíduos. O estado deve
limitar-se à vida pública, servindo essencialmente para que não exista disparidade de
critérios nos juízos entre os cidadãos, pois isso traria inseguranças e, por conseguinte,
a injustiça.
o A existência do estado pressupõe a renuncia parcial dos direitos naturais,
delegando no estado o poder de legislar o dever de executar as leis, o poder de
julgar e de punir os criminosos é o sistema de justiça pública, e é este que em
tudo difere da justiça privada típica dos estados de natureza.
 A existência do estado corresponde à vontade contratual dos cidadãos; é uma
transferência de direitos que consiste numa delegação limitada de poderes. A

21
delegação de poderes feita só pode abranger a sociedade política com vista ao bem
público. O estado é visto como uma sociedade de responsabilidade limitada: se
interferir na esfera privada dos indivíduos então perde o estatuto de estado legítimo.
 John Locke foi o primeiro pensador político a sustentar que o homem é no estado de
natureza detentor de direitos naturais que ele considera serem no mínimo os seguintes:
o direito à vida, o direito à propriedade, o direito à liberdade e o direito à saúde. Os
homens criam o estado para proteger melhor a sua vida, a sua liberdade, a sua
propriedade e a sua saúde.

3. ROUSSEAU
 Rousseau tem uma teoria contratualista muito diferente de Locke e Hobbes, para ele
vivemos num estado de natureza, que não é um estado de guerra, nem sequer de
guerra de alguns contra alguns, mas que na verdade é um estado bom.
 Estamos teleologicamente inclinados a formar a civilização, que é uma coisa má e
corrompe os homens, mas está inscrito na nossa natureza desenrolar-se. Não somos
mais felizes em civilização, mas sim tristes; no estado de natureza éramos mais
felizes, mas não o sabíamos, não tínhamos noção de felicidade.
 No estado de natureza surgem múltiplas regras sem medida, sem consistência que os
homens alteram e mudam continuamente. Todas as coisas se encontram num fluxo
permanente, ninguém pode nunca ter a certeza de ser o único em dois instantes da sua
vida.
 Rousseau também passou através do estado de natureza ao estado de sociedade, sendo
que o seu ponto de partida reflete-se em “o homem nasceu livre, mas em toda a parte
se acha emprisionado”. O autor expressa, pelo menos, seis fases do percurso humano
pela história:
o 1ª FASE- ESTADO DE NATUREZA PRIMITIVO: Rousseau entende que
os homens primitivos eram naturalmente livres e bons, inofensivos para os
seus semelhantes e todos viviam em paz uns com os outros (doutrina do
homem selvagem). Os homens, pois, podiam ter continuado sempre nessa
condição – livres, iguais e felizes – sem sentirem necessidade de mudar. Esse
estado era o melhor para o homem e este só dele terá saído por algo que nunca
deveria ter acontecido.
o 2ª FASE – SOLUÇÃO ORIGINAL: O primeiro homem que, tendo
delimitado um terreno por via do “isto é meu”, encontrou pessoas
suficientemente simplórias para acreditar nisso e tornou-se o verdadeiro

22
findador do estado. Os indivíduos formaram famílias, estas construíram casas
e cada um defendia a sua; a caça sucedeu a agricultura e cada um protegia o
seu terreno. A agricultura exigiu cancelas e delimitação de espaço e a
metalurgia habilitou o homem a utilizar o ferro para construir instrumentos
agrícolas e a defender-se dos seus inimigos. Assim, podemos dizer que a
agricultura e a metalurgia foram as duas artes cuja invenção produziu a grande
revolução para a civilização dos homens. O ferro e o trigo civilizaram os
homens; à cultura das terras seguiu-se a sua divisão em lotes e da propriedade
uma vez reconhecida as primeiras regras da justiça. A desigualdade de forças e
talentos entre os homens gerou a desigualdade, o mais forte trabalha mais; o
mais hábil tirava mais partido do que fazia.
o 3ª FASE- O PRIMEIRO CONTRATO SOCIAL: O rico, presume-se, que
para a sua proteção, propôs que todos se unam. Assim, desenvolve-se o
primeiro contrato social. Porém, segundo Rousseau, este não foi um contrato
sério nem honesto, embora tivesse a aparência de uma boa solução, não o era
igualmente para todos.
o 4ª FASE – ESTADO SOCIAL CORRUPTO: Origem da sociedade e das
leis que conhecemos, onde se estabeleceu a lei da propriedade, estabeleceram-
se definitivamente a lei da propriedade e da igualdade. Aceite o contrato foram
escolhidos, ou impuseram-se, um ou mais magistrados para governar o
conjunto, na maior parte dos casos os povos lançaram-se nos braços de um
chefe absoluto, sem condições e sem retorno precipitando-se para a
escravatura.
o 5ª FASE- REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA: Prenunciando-se a poucos
anos de distância a revolução francesa, Rousseau legitima o regicídio, todos os
particulares voltam a ser iguais, porque nada são do que escravos de um
tirano. É um novo estado de natureza caracterizado agora pela lei do mais
forte. O déspota não é governante se não enquanto for o mais forte, logo eu se
possa expulsá-lo, ele não têm mais direito, este estado não se pode confundir
com o estado inicial de natureza. O primeiro era um estado de inocência, o
segundo é um estado da lei do mais forte (excesso e corrupção).
o 6ª FASE – VERDADEIRO CONTRATO SOCIAL: O segundo contrato
social deve garantir a todos a igualdade e a liberdade, este, nada tem a ver com
o de Hobbes ou o de Locke, porque esses são hipóteses explicativas do
passado ao passo que o segundo contrato de Rousseau, o verdadeiro não diz

23
respeito ao passado, mas apenas ao futuro. O novo regime tem de assegurar a
igualdade entre todos os cidadãos, a lei por ser geral e abstrata é garantia da
igualdade jurídica dos cidadãos. Enfim, o novo regime deve por termo à
aliança entre o trono e o altar (igreja/estado). Rousseau ataca vigorosamente a
igreja católica e todas as religiões em geral e preconiza que elas sejam
reduzidas a fenómenos privados e às convicções interior e de cada indivíduo.
 Rousseau rejeita a ideia contra Locke da atribuição do poder legislativo ao
parlamento, só o povo soberano deve poder fazer as leis, reunido em assembleia
universal (chamada democracia direta), por contraste com a democracia
representativa. A vontade de cada um é alienável, o autor lança mais uma das suas
celebres farpas afiadas contra a democracia representativa, o povo pensa que é livre,
mas engana-se redondamente, só é livre no instante da eleição dos membros do
parlamento, logo que eles se encontram eleitos, o povo é escravo, o povo já não é
nada.
 Quanto ao poder executivo também diverge em absoluto de Locke, para Rousseau, tal
função não deve constituir um poder nem agir como órgão, para ele os ministros não
são governantes, mas apenas funcionários, exercem um cargo como delegados com a
sua competência limitada e revogável.
 Numa sociedade a lei é um ato publico e solene da vontade geral, é um pacto
fundamental a que cada um se submete, o objeto das leis é sempre geral, isto quer
dizer que a lei considera os súbditos como um corpo e nunca um homem em
particular, não é preciso por isso perguntar a quem compete fazer as leis, porque elas
são atos da vontade geral e nem o príncipe está acima da lei pois ele é um membro do
estado.

MONTESQUIEU
 Principal intenção: fundar uma verdadeira ciência política, baseada na história de
todos os povos e nações, dos quais pretende estudar as leis, os costumes e as
instituições.
Contributos para a Sociologia Política
 Influência do clima no comportamento dos homens: ar frio  homens fortes e
dinâmicos; ar quente  homens moles e passivos
o Explicação para os países do Sul serem pobres e atrasados e os países do Norte
prósperos e ricos

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 Dimensão do Território e Regime Político: se aquele for grande, as populações têm
tendência para a dispersão, e só um governo forte ou mesmo despótico pode manter o
Estado; se for médio ou pequeno, as populações estão mais concentradas e unidas,
pelo que um governo democrático ou moderado é viável.
 Regime Político: trata-se de algo necessário, qualquer que seja o tipo, sob pena de
inevitável extinção a prazo, a sério da educação política e moral da juventude
 Condenação do luxo que provém da desigualdade na distribuição das riquezas e a
advogar que a “riqueza deve ser dividida com equidade”
 Condenou o vício eterno dos regimes políticos decadentes ou em crise, a corrupção,
porque “o povo julgará sempre intolerável” e poderá mesmo “preferir-lhe uma
tirania que não seja corrupta”
O programa político de Montesquieu
 A legitimidade democrática da nova Monarquia desejada por Montesquieu há-de
provir do consentimento popular originário. A maioria dos autores sustenta que não
há, em Montesquieu, nenhuma ideia de um contrato político na origem do Estado. Na
origem do Estado ele vê um acordo unânime dos indivíduos seus fundadores, através
da fusão das suas vontades. É o que se chama, juridicamente, um contrato.
 O princípio da legalidade é o segundo pilar do liberalismo político defendido pelo
autor. Trata-se de submeter a atuação a atuação e as decisões do Estado e da
Administração pública à lei. O significado político deste princípio é o de procurar
limitar o Poder absoluto.
 Quanto à separação de poderes, foi este o princípio que ficou para sempre associado
ao nome de Montesquieu, na bem conhecida fórmula tripla: “o Legislativo, o
Executivo e o Judicial”. Em relação ao poder legislativo introduziu um elemento
novo: o direito de representação do povo anónimo numa das câmaras do Legislativo.
Este ficaria a ser bicameral: uma Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns.
O mecanismo constitucional da separação de poderes
 “A liberdade política só se encontra nos governos moderados. Mas ela não existe
sempre nos governos moderados. Ela só se encontra aí quando não abusa do poder:
mas é uma experiência eterna que todo o homem que tem poder é levado a abusar
dele; ele irá até onde encontrar limites (…). Para que se não possa abusar do
poder, é necessário que, pela disposição das coisas, o poder trave o poder.”
 Assim, a Constituição deverá ser tal que ninguém seja obrigado a fazer coisas a que a
lei o não obrigue, ou a deixar de fazer aquelas que a lei lhe consinta.
O poder judicial

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 Montesquieu não defende o “governo dos juízes” ou, como se diz hoje, o “ativismo
judicial”. Pelo contrário, para ele, o Poder Judicial deve ser passivo, obediente às leis
e neutro.
 “O juiz não é mais do que a boca que pronuncia as palavras da lei”  apurados os
factos, o juiz só tem de aplicar a lei aos factos, nem mais nem menos.

ADAM SMITH
 A sua obra mais conhecida é “A Riqueza das Nações” onde desenvolve uma visão
abrangente sobre economia e sociedade.
 Embora muitas vezes associado à imagem de um mercado completamente desregulado, a
sua visão era mais matizada.
 O Estado tem um papel legítimo a desempenhar na promoção do bem estar comum e na
correção das falhas de mercado  Função limitada mas vital.
Teoria da Mão Invisível
 Conceito fundamental da obra de Adam Smith. É a ideia de que, num mercado livre e
competitivo, indivíduos, aos procurarem os seus próprios interesses egoístas,
inadvertidamente promovem o bem-estar da sociedade como um todo.
 Mesmo que cada indivíduo esteja à procura do seu interesse próprio, o mercado age como
se uma “mão invisível” estivesse a coordenar as atividades para o bem comum.
o Num mercado competitivo, onde os preços são determinados pela oferta e pela
procura, os recursos são alocados eficientemente, incentivando a produção e a
inovação.
Função do Estado
 Contrariamente à percepção comum, Adam Smith não era um defensor absoluto do
laissez-faire (ausência de intervenção do Estado na economia). Embora enfatizasse os
benefícios do mercado livre, reconhecia que o Estado tinha funções importantes a
desempenhar.
 O Estado deve fornecer defesa nacional e aplicar a justiça por meio do sistema legal.
Essas funções são essenciais para garantir a segurança e a ordem necessárias para o
funcionamento eficiente do mercado.
 É necessário também na provisão de serviços públicos, como a educação e a
infraestrutura. Esses investimentos, argumenta, poderiam aumentar a produtividade da
mão de obra e criar um ambiente propício ao desenvolvimento económico.
 Smith via o Estado como tendo um papel na prevenção de práticas monopolísticas e na
regulação de certas indústrias quando necessário para proteger o interesse público.

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OBRAS ANALISADAS
Vigiar e Punir de Michel Foucault
 Foi Jeremy Bentham que concebeu nas suas obras a prisão perfeita para albergar
prisioneiros, no centro desta prisão tinha quem vigia e à volta as celas.
 O último vestígio da violência pública é a sua anulação, um pano para esconder um
corpo (…) [pág. 20]
 Segundo Foucault, por vezes a disciplina exige clausura, e é por isso que os colégios
seguem o modelo dos conventos, a fábrica assemelha-se também a um convento, o
que se pretende aqui é que à medida que se concentram os meios de produção, etc…,
a ordem e a vigilância se mantenha em todos os operários [pág. 166]
 Todos os Estados crescem através da burocracia que serve principalmente para
vigiar.
 Quem governa, regra geral, quer controlar os aspetos sociais do seu estado, fazendo-o
sempre de forma omnipresente, mas é justamente por causa disto que uma das facetas
desta racionalização é a construção das hierarquias.

Comparative Politics de Daniele Caramani


 É no centro do Estado que a legitimidade se estabelece sobre um certo território e é
onde se detém o monopólio da violência legítima.
o Os Estados que não têm território não são verdadeiros estados e a soberania é
fundamental para a sua existência.
o Os Estados não reconhecem poder interno superior a si e observam os outros
Estados como potenciais inimigos, operando por isso com os seus próprios
recursos e tendo a responsabilidade de definir e perseguir os seus recursos e a
da sua segurança.
 Um Estado exerce o seu poder sobre um certo grupo de pessoas num determinado
território e, como tal, envolve uma certa assimetria entre os que governam e são
governados.
 O primado lei/direito traz duas funções: reprimir comportamentos anti-sociais e
distribuir pelos indivíduos os recursos
o Responsabilidade dos Governantes: Aqueles que governam devem seguir a
justiça e promover esse princípio entre seus súditos.
o Lei Pública e Constituições: A lei pública é um conjunto de costumes
aplicados uniformemente a um grupo de pessoas em um território, sendo
exclusivamente determinada pelo estado. Os estados têm constituições como

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documentos que estabelecem limites para o governo e organizam a estrutura
de poder.
o Unidade e Coerência Estatal: A preocupação de todo o Estado é manter a
sua unidade e coerência, frequentemente expressas por meio de hierarquias
burocráticas. A regra do "C ao Cubo" envolve Comando, Comunicação e
Controlo como elementos essenciais para o funcionamento de qualquer
monopólio de poder.
o Secularização do Estado: Ao longo do tempo, os estados secularizaram-se e
tornaram-se instituições políticas separadas de considerações espirituais. O
estado contemporâneo não se preocupa com a espiritualidade dos governados,
o que resultou na separação entre religião e estado.
 A Taxação, os impostos, etc.. são um mecanismo de redistribuição de impostos que
têm como objetivo evitar a emergência da desunião e interligasse com a preocupação
para com a segurança externa e interna.
 Os estados contemporâneos trazem várias estratégias para a promoção da sua coesão:
o Instituição da Cidadania- ideologia do Estado: Igualdade dos cidadãos
perante a lei.
o Nacionalidade- Estabelece a coesão social e cria, de certa forma, um
sentimento partilhado de solidariedade. É difundido pelo estado por via da
educação, prática simbólica de rituais, etc…

As Origens da Ordem Política de Francis Fukuyama


Análise do Capítulo 29
Fukuyama argumenta que a evolução política segue padrões semelhantes à evolução
biológica e que a democracia é a forma política mais bem-sucedida. Ele acredita que a
história está caminha em direção a uma democracia liberal.
 Natureza Humana:
o Os seres humanos são biologicamente determinados por emoções como ira e
vergonha e a sua natureza é comum e uniforme devido à descendência de um
grupo que viveu cerca de 50 mil anos. No entanto, o seu comportamento
político não é determinista.
 Comportamento Político:
o As decisões políticas seguem padrões recorrentes ao longo do tempo e a
política humana está sujeita a regras e instituições. Os seres humanos não
existem em um estado pré-social; eles sempre vivem em grupos sociais.

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 Instituições Políticas:
o Os seres humanos têm uma inclinação natural para criar instituições. As
instituições políticas variam culturalmente, mas algumas tornam-se
predominantes devido à sua eficácia. A competição política e a pressão
coletiva são importantes para a evolução das instituições.
 Estado Moderno:
o Os estados modernos são impessoais e recrutam com base na competência
técnica em vez de parentesco, são considerados Estados desenvolvidos e
tendem a ser mais complexos e autónomos. Existem quatro critérios para
medir a estabilidade das instituições do estado: adaptabilidade, complexidade,
autonomia e coerência.
 Desenvolvimento Político e Declínio:
o As instituições são criadas para enfrentar desafios competitivos num ambiente,
mas uma vez formadas, tendem a ser preservadas. O declínio político pode
ocorrer devido ao repatriamento das instituições e à rigidez institucional.

Teoria do Estado, Adriano Moreira


Matrizes Teóricas
 O Homem apenas vive em sociedade, todo e cada homem é inevitavelmente sócio de
outro homem
 Aceitar o facto básico que o homem só vive em sociedade não implica que tem de
viver numa sociedade política e nem que o estado é uma sociedade política
necessária
 O estado é um resultado de um instinto, como podemos ver por Aristóteles quando
escreveu que o homem é por natureza um animal político
 Matrizes Teóricas assinaladas por Adriano
o Matriz Liberal
o Matriz Marxista
o Matriz Institucionalista
 Platão e a Ideia de Comunitarismo
o No geral, a teoria do Estado de Platão é caracterizada por um desejo de criar
uma sociedade ideal, onde a governança é baseada na meritocracia, com a elite
sendo composta por filósofos-reis. Ele propõe o compartilhamento de
propriedade e mulheres, bem como o controle da comunicação para garantir a
estabilidade da sociedade.
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o Propriedade Compartilhada: Platão aborda a questão da propriedade,
argumentando que o problema fundamental em questões políticas é a distinção
entre o que é "meu" e o que é "teu". Ele propõe o fim do nepotismo e a ideia
de que as crianças pertencem à cidade (polis), não aos pais. As mulheres
também seriam compartilhadas e pertenceriam ao Estado.

Ética a Nicômaco, Aristóteles


O pensamento de Aristóteles, como expresso na obra "Ética a Nicômaco," aborda vários
conceitos e ideias importantes sobre a ética e a busca da felicidade.
 Finalidade e Bem
o Aristóteles acredita que todas as ações humanas, investigações e práticas
visam um certo bem, ou seja, um objetivo positivo.
o Todas as decisões e práticas estão direcionadas para um fim, mas existem fins
superiores.
 Ética e Política
o Aristóteles relaciona a ética à política. Ele argumenta que a ética é uma das
artes que contribuem para a ciência política, que é a arte suprema.
o A busca da felicidade individual está ligada à construção de uma sociedade
justa e virtuosa.
 Felicidade e Autossuficiência
o A felicidade, de acordo com Aristóteles, está ligada ao conceito de
autossuficiência. Aquele que é verdadeiramente feliz não precisa de nada
mais.
o Distinção entre a alegria momentânea (estar contente) e a verdadeira
felicidade, que é duradoura.
 Natureza Peculiar do Homem
o Aristóteles enfatiza a peculiaridade do ser humano, que é capaz de
autorreflexão e autorreflexão sobre a moralidade.
 A Ética como Ciência Humana
o A ética como uma ciência humana, em oposição a uma ciência exata como a
matemática. A ética lida com a moralidade e a conduta humana.
 Marcas da Felicidade
o Aristóteles argumenta que para ser verdadeiramente feliz, uma pessoa precisa
de certos bens externos, como amigos, família e prosperidade.

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o Obter a felicidade não é um acaso, mas resulta da excelência e da disciplina,
envolvendo hábitos e repetição de ações virtuosas.
 Atividade da Alma
o Aristóteles afirma que a felicidade é uma atividade da alma, e ser feliz envolve
a capacidade de contemplação.
o A contemplação como a atividade mais excelente e nobre da alma.

O Príncipe, Maquiavel – Introdução de Ana Martinez Arancom


 Na visão antiga, a sociedade era considerada um produto natural, regida por leis
inalteráveis, e a história humana estava submetida a essas leis como parte da natureza.
 Na Idade Média, a sociedade e a história eram vistos como elementos de um plano
divino, onde Deus desempenhava o papel principal.
o Com Maquiavel, surge uma nova perspetiva: a organização política é agora
vista como resultado da ação humana, e o homem torna-se o protagonista
responsável, o artífice da história. O Estado deixa de ser um fenômeno natural,
como via Aristóteles, e também não é mais um desígnio divino, mas sim um
produto das ações, planos e trabalho humano.

 Nessa nova abordagem, o Estado é considerado uma entidade artificial, objetivada


como um produto, e a política é encarada por Maquiavel como uma ciência objetiva e
aplicada. A atividade política, segundo Maquiavel, procura o bem comum através de
um Estado forte, bem organizado e equilibrado nas suas tensões.
 Para Maquiavel, um ato é conveniente se beneficia o Estado e inconveniente se o
prejudica, sendo o valor moral indiferente. O político, segundo ele, não deve
ocupar-se de questões éticas, é necessário um conhecimento objetivo e distanciamento
das considerações morais
o Marca a sua abordagem fria em comparação com outros autores.
 O governante bem-sucedido, de acordo com Maquiavel, é aquele que alcança sucesso,
enquanto o mau governante é aquele que fracassa.
 A "virtu" (fortuna), segundo ele, é uma mistura de inteligência, eficácia, capacidade
para alcançar objetivos, amor à pátria e habilidade no desempenho de funções
públicas.
o Essa "virtu" é fundamental para que o príncipe adquira e mantenha o
poder, exigindo habilidade em adaptar-se às circunstâncias, lidar com

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situações novas e possuir sabedoria para dominar o futuro tanto quanto
possível.

Leviathan, Thomas Hobbes


 A natureza fez os homens tão iguais quanto às faculdades do corpo e do espírito que
por vezes mesmo que se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo e
espírito, mais vivo do que o outro, mesmo assim quando se considera tudo isto em
conjunto a diferença entre um e o outro não é suficiente considerar que para que
qualquer possa com base nela reclamar qualquer benefício que o outro não possa
igualmente reclamar.
o Desta igualdade deriva a esperança de atingirmos igualmente os nossos fins.
As paixões que fazem os nossos homens tender para a paz, são o medo da
morte, o desejo daquelas coisas que são necessárias para uma vida confortável
e a esperança de as conseguir através do trabalho.
 O fim último, a causa final e o desígnio dos homens é o cuidado com a sua própria
conservação e uma vida mais satisfeita, porque as leis da natureza na ausência do
estado não são sempre respeitadas e por isso apesar de existirem leis de natureza
como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade ou em resumo fazer aos outros o
que queremos que nos façam. Que apesar das leis da natureza se não for instituído um
poder suficientemente grande para a nossa segurança cada um confiará e poderá
legitimamente confiar na sua própria força.
 Á única maneira de instituir o tal poder comum, capaz de coagir todos para a
segurança suficiente passa por designar um estado como representante das suas
pessoas. É certo que algumas criaturas vivas, como as abelhas e as formigas que
vivem socialmente umas com as outras, sem outra direção sem terem os juízos e
apetites particulares, nem a linguagem através da qual possam indicar umas às outras
o que consideram adequado para o bem comum.

Contrato Social, Jean-Jacques Rousseau


 No estado de coisas não lhe seria permitido discernir nem o bem nem o mal, nem o
homem honesto nem o perverso. A forma como as nossas necessidades mútuas podem
gerar a sociedade em geral, não oferece uma assistência eficaz a este homem que vive
em fluxo permanente.
o A doce voz da natureza deixa de ser para nós, a certo nível, um guia infalível,
nem a independência que que recebemos da natureza, é um estado permanente

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com a civilização, a paz e a inocência escaparam-nos para sempre, antes que
conseguíssemos saborear as suas “delícias”.
 O homem era feliz sem o saber, mas ao mesmo tempo não porque
não sabia que era feliz, só com a civilização se apercebe disso.
 No estado de natureza a terra seria coberta de homens, entre os quais não existiria
praticamente nenhuma comunicação e tocar-nos-íamos em apenas alguns pontos sem
estarmos unidos por nenhum. Cada um permaneceria isolado dos outros, não pensaria
se não por si, o nosso entendimento não poderia desenvolver-se, viveríamos sem nada
sentir, morreríamos sem ter vivido, não existiria nem bondade nos nossos corações,
em moralidade nas nossas ações.
 O homem nasceu livre, mas, no entanto, em toda a parte está aprisionado, aquele que
se julga senhor dos outros não deixa de ser mais escravo do que eles. A ordem social é
um direito que não tem a sua origem numa convenção, as necessidades do homem
excedem as suas faculdades, os objetos dos seus desejos estendem-se e multiplicam-se
e é inevitável que o homem permanece eternamente infeliz em sociedade.
 O contrato primitivo encerra um compromisso recíproco, como os particulares, cada
individuo realiza um contrato consigo mesmo em primeiro lugar, ele torna-se então
membro soberano de si próprio. Já com o povo se passa também algo semelhante, é
que o povo não realiza um contrato se não consigo mesmo.
 Com o contrato social o homem perde a sua liberdade natural, arrancando o seu antigo
estado de animal “estúpido” para inteligente. Em contrapartida, ganha a liberdade
civil e a propriedade de tudo aquilo que possui.

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