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IDEIAS POLÍTICAS NO MUNDO OCIDENTAL

Frequência

1. Distinção entre Ideias e Ideologias, Doutrinas e Conceções


2. Sólon
3. Péricles
4. Platão
5. Aristóteles
6. Cícero
7. Santo Agostinho
8. São Tomás de Aquino
9. Maquiavel
10. Jean Bodin
11.Thomas Hobbes
12. John Locke
13.Revolução Americana
14.Montesquieu
15.Rosseau
16.Revolução Francesa
17.Revolução Americana e Revolução Francesa
18.Revolução Industrial Inglesa

Bárbara Mónica Alves Fernandes, 1.º ano de Relações Internacionais


Resumos

1. Distinção entre Ideias Políticas e Ideologias Políticas,


Doutrinas e Conceções
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Ideias:
Ideias são pensamentos. As ideias são a fonte das ideologias.
(Não andam à procura de votos nem apoiantes).

Freitas do Amaral: ‘’As ideias surgem em torno das interrogações


fundamentais que, desde a Grécia Antiga até aos nossos dias os homens
sempre se puseram a si próprios”.

Ideologias:
São ideias convertidas num projeto político de busca pelo poder.
As ideologias nascem das ideias. [IDEIAS > Ideologias]
Ideologias são uma componente social que tenta conquistar o poder através
dessas ideias. As ideologias são formatadas diretamente para um grupo.

Marcello Caetano: “Ideologias são ideias reduzidas a esquemas de fácil


assimilação e já orientadas numa direção predominantemente prática”.

Por exemplo, eu tenho ideias socialistas, encontro me com alguém que


tenha ideias socialistas também e criamos uma associação para propagar as
nossas ideias. Isso significa a passagem de ideias para ideologias.

Doutrinas:
Doutrinas correspondem aos princípios e valores, que ou
fundamentam a direta intervenção política ou constituem as bases gerais de
futuros programas políticos. São habitualmente apresentadas como
supremas e imutáveis, sendo em muitos casos identificadas pelos seus
proponentes e defensores como possuidoras de uma lógica dogmática e não
suscetíveis de discussão.

Conceções:
Adriano Moreira “conceções políticas são a sistematização, explicação,
generalização, e previsão dos factos, matéria própria da sociologia em
geral, e da ciência política em particular”.

2. Sólon

Sólon foi considerado um dos fundadores da democracia ateniense, tal como


do pensamento da defesa dos direitos individuais e da submissão à lei. Sólon
pretendia sobretudo a “boa ordem”. Algumas formas de como ele procurava
essa boa ordem:
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 Acreditava na existência de Leis e no seu cumprimento pelo governo:

Defendendo a segurança e as certezas jurídicas determinou novas leis


preocupando-se com o seu rigoroso cumprimento por parte dos magistrados e
que vigorassem por cem anos. O conhecimento das leis e a correspondente noção
do que cada um pode ou não fazer são princípios comuns na nossa atual
sociedade, porém na altura não eram, e Sólon tinha intenção de conferir às leis
um papel fundamental no governo de uma cidade. Sólon tinha uma profunda
convicção na existência dessas leis escritas e no governo de agir em respeito com
elas. Acreditava que através de fórmulas escritas poria cobro às injustiças e
desigualdade entre os cidadãos. Afirmava que deveria ajustar de tal forma as leis
a ponto de para os cidadãos se tornar evidente compensar mais cumpri-las do que
quebrá-las.

 Todos são inocentes até à hora de condenação:

Defendia que as penas só deveriam ser aplicadas após julgamento e condenação


judicial, demonstrando empenho em combater o contínuo abuso de poder na sua
aplicação. À lei da força, Sólon preferia a força da Lei, e à justiça individual
contrapunha a justiça legal. Sólon era expressamente um defensor dos direitos
dos cidadãos, inclusive foi precursor do direito à presunção de inocência de
acusados, princípio esse que muitos séculos depois viria a ficar consagrado a
nível constitucional nos Estados democráticos.

 Proibição de empréstimos que pusessem em causa a liberdade


individual do devedor:

Revelando consciência quanto à defesa de um dos mais relevantes direitos


fundamentais do cidadão, nomeadamente a liberdade, determinou a proibição dos
empréstimos que tivessem como garantia a própria liberdade do devedor.
Este assunto é relevante nos dias de hoje a propósito dos problemas decorrentes
da “prisão por dívidas” – que dizem que num empréstimo o credor não se poder
servir da prisão como meio de coação pela salvaguarda dos interesses contratuais.
É também preciso voltar a assinalar o facto de esta matéria tão atual já na altura
ter sido debatida pelos gregos.

3. Péricles

Péricles foi considerado o “Pai da Democracia”. As suas principais ideias


foram retratadas no seu discurso aos mortos em combate, na guerra entre
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Atenas (uma democracia) e Esparta (uma ditadura). A suas ideias são as
seguintes:

 A democracia indica o fim das nossas instituições. Isto significa que


a democracia deve trabalhar para o bem e para o interesse do povo e
não apenas para quem governa e dirige o Estado.

 A lei é igual para todos – ninguém, seja qual for a sua condição
económica ou social está acima da lei.

 Nos assuntos públicos, um espírito de liberdade inspira todas as


nossas ações. Liberdade esta enquanto oportunidade de expressar
opiniões quanto à condução do governo. Sem liberdade, a
democracia não existe e sem a democracia, a liberdade não existe.
Péricles falava da liberdade de intervenção pública e liberdade na
vida privada.

 Devemos saber respeitar o interesse público não por submissão aos


magistrados, mas sim por amor às Leis. A um governo submetido à
vontade dos homens, Péricles contrapõe um governo submetido à
vontade da lei, ou seja, a ideia da Força da Lei e não a da Lei da
Força. É importante o respeito pela lei, respeito esse que a todos
abrangia, ou seja, todos são obrigados a respeitar a lei. Os
governantes são sempre transitórios face às instituições que em dado
momento servem e às funções que desempenham; é o governo da
Lei.

Em suma, através destas ideias, Péricles é identificado por muitos como o


“Pai da Democracia”, regime que sempre defendeu por oposição à
ditadura. Por esta razão é que ele dizia que é preferível lutar e morrer pela
democracia do que a segurança de ficar vivo, mas absolutamente
escravizado em ditadura.
Ideias resumidas:
 Igualdade perante a lei;
 A ideia de liberdade no domínio da opinião e da ação individual nos
assuntos públicos;

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4. Platão

Platão foi um idealista. As suas ideias estão na génese daquilo a que se veio
chamar de “ideias comunistas”. Deu o pontapé de saída na realização do
estado totalitário, que era racional e construtivo.
Platão reconhece um só critério, o interesse do Estado. Assim tudo o que
favorece o estado é bom e justo, tudo o que o ameaça é mau e injusto. Assim
as ações que servem o estado são morais, as ações que o põem em perigo são
imorais.
Desde logo o código moral de Platão é utilitário. Quer isto dizer que primeiro,
é um utilitarismo coletivista ou político; segundo, o critério de moralidade é o
interesse do Estado, ou seja, Platão põe o interesse do estado acima de tudo;
terceiro, o interesse do estado como um fim em si e por último, que os meios
justificam os fins.
Platão olha para a realidade e considera-a errada, e parte dela para a
construção de uma nova sociedade, a Cidade Ideal. Para Platão a cidade tem
a sua origem no facto de cada um de nós não ser autossuficiente, mas ser
necessitado de muita coisa. Partindo disto, como pode ser a cidade
organizada?

 Cidade Ideal

Platão define a sua ideia de cidade perfeita, tendo as seguintes ideias:


- Tarefas repartidas pelos seus habitantes em função das suas aptidões
naturais.
- Uma cidade com 3 classes. A primeira classe são os guardiões ou
governantes (ouro), a segunda classe são os defensores ou militares
(prata) e a terceira classe são os artífices (ferro ou bronze). A cidade
será justa quando nela existirem essas 3 classes, cada uma com as suas
tarefas. Essas classes deviam agir em função da felicidade do conjunto,
do bem de todos. A posição do individuo só era considerada em função
do grupo a que pertencia. O objetivo era alcançar o bem comum. Com
esta divisão da cidade em três classes, Platão antecipa a ideia de
especialização dos recursos humanos.
- Para Platão os governantes/guardiões, tinham de ter determinadas
características: tinham de ser os melhores, os mais firmes e corajosos,
tinham que ter uma boa educação, uma boa natureza e deviam de viver
sem propriedade privada, que as mulheres e os filhos deviam de ser
comuns a todos esses homens. Em suma, a abolição da propriedade
privada e da família seria para destruir o laço individualista de posse e
os sentimentos de egoísmo.

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Em suma, a ideia de cidade ideal seria uma cidade em que o bem-estar
coletivo e a ausência de interesses egoístas individuais, tendo em vista
alcançar a justiça social, que consiste em dar a cada um a função social que
merece pelo conjunto das suas qualidades físicas, intelectuais e morais.
Tudo isto conduziria a uma sociedade inigualitária e igualitária.
Inigualitária porque era uma sociedade dividida em classes, mas ao mesmo
tempo igualitária, porque todos estão orientados para o mesmo fim.
Igualdade tanto nos objetivos quanto nos fins. Aqui a educação tem um
lugar de destaque e por isso ele funda uma escola, a chamada Academia.

 Formas de Governo

Platão apresentou várias formas de governo, entendendo que existiam


formas de governo sãs (boas) e formas de governo degeneradas (más).
Ele foi um dos primeiros pensadores a ter uma visão pessimista do homem, e
entendia que nenhuma forma de governo são se mantém eternamente.
Acreditava que a continuidade leva à degeneração, degradação e à corrupção.
Ele entendia que os homens tinham tendência a se deixar corromper e que
quem se mantivesse muito tempo num cargo inevitavelmente começava a
confundir um cargo publico com um cargo privado, ou seja, a habituação de
alguém num cargo leva à corrupção desse mesmo.

As formas de governo sãs para Platão eram a monarquia e a aristocracia. A


Monarquia era o governo de um só, de um rei sábio e culto, um governo
sofiocrático, e a Aristocracia era o governo de alguns (poucos).
Para Platão, quer a monarquia quer a aristocracia eram bons governos porque
se baseavam na legalidade, ou seja, nem o monarca, nem o grupo, eram
governantes que tinham conquistado o poder contra a ordem legal estabelecida
e estavam a exercer as suas funções para servirem o povo e não para se
servirem a si próprios.
Como mencionado anteriormente, ele defendia a educação para todos e
considerava que para além dessa educação a sociedade devia ser organizada
em função das aptidões de cada um, por isso, dizia que alguns tinham a
aptidão para produzir os bens necessários, outros tinham a aptidão para
guardar a cidade e havia outros com a aptidão para governar. Platão entendia
que a cultura e o saber eram elementos fundamentais na arte da governação, e
que a arte de governar não era para todos, não estava disponível para todos e
só estaria aberta aos mais qualificados, e era contra a ideia de qualquer pessoa
ter a possibilidade de chegar ao poder, daí não acreditar na democracia. Sendo
assim ele defendia as elites, pessoas que estão preparadas para governar e para
exercer a arte da governação.

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Platão defendia que a Monarquia se iria degenerar, se deixar corromper e
vai-se transformar em Tirania, ou seja o rei deixa de ser rei e passa a ser
tirano. A Tirania é o governo de um só que só teria em conta os seus próprios
interesses e não os do povo.
O mesmo acontece com a Aristocracia, que com o tempo se vai degenerar e
se vai transformar na Oligarquia. A Oligarquia é o governo de poucos, que
pretendem enriquecer, preocupados apenas com os seus interesses, excluindo
o povo, os mais pobres. Platão diz que a Oligarquia, que provinha da
degeneração da Aristocracia, como é o governo de poucos e de muito ricos,
portanto de uma minoria, que governa contra a maioria, que são os pobres,
essa maioria mais cedo ou mais tarde vai-se revoltar, vencendo e instaurando
a Democracia, que é o governo de muitos e dos pobres.

Na perspetiva de Platão a continuidade das formas de governo leva


inevitavelmente à existência de ciclos políticos, e foi ele mesmo o primeiro a
prever a existência destes ciclos, a ideia de que uma forma de governo vai
dar origem a outra forma de governo e assim sucessivamente. Havia sempre
uma alternância entre Democracia e Ditadura.
Consideramos atualmente a Democracia como um bem adquirido, mas esta é
algo muito frágil, que precisa permanentemente de uma inovação, para não
cair em degeneração. Platão disse precisamente isso em relação às formas de
governo, ou seja, que quando não têm capacidade de se auto regenerar e
modificar, vai levar à sua própria degradação.

Em suma, Platão defendia:

 Interesse do Estado acima de tudo, o que for para bem do estado é


moral e o que puser o Estado em perigo é imoral. Os meios justificam
os fins.

 Abolição da família e da propriedade privada porque era egoísta.

 Cidade Ideal:
- Uma cidade com 3 classes: guardiões ou governantes (ouro),
defensores ou militares (prata); artífices (ferro ou bronze).
- Os cidadãos tinham de agir em função da felicidade e do bem de
todos, com o objetivo de alcançar o bem comum e a justiça social,
mediante as qualidades físicas, intelectuais e morais de cada indivíduo; 
- Sociedade inigualitária, mas igualitária; 
- Cultura e o saber- elementos fundamentais para a governação (elites).

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§ Formas de governo:
Sãs: Degeneradas:
Aristocracia Oligarquia
Monarquia Tirania
Democracia que leva a Anarquia

5. Aristóteles

Aristóteles foi um dos maiores pensadores de todos os tempos. Começa por


fazer uma reflexão desde a base até ao topo do poder, onde reflete sobre a
seguinte questão: Porque é que existem cidades?

 Sobre o homem, cidade e cidadão

Defende que tanto a cidade como a política surgem como algo natural na
existência. Diz que os homens têm tendência natural para se agruparem, para
viverem em conjunto e para formarem uma cidade. Começando pelas famílias
que se foram agrupando, constituindo aldeias, as aldeias cresceram e
transformaram-se em vilas, as vilas cresceram transformando-se em cidades e
as cidades cresceram e transformaram-se em estados. O Estado existe porque
é isso que é natural, o estado tem uma origem natural, pois é uma associação
de pessoas que querem viver juntas e que vão definir entre si que regras
precisam estabelecer para conviver.
Aristóteles dizia que as pessoas se associavam naturalmente e que depois
realmente poderiam realizar contratos entre elas. (casamento, surgia da
vontade pessoal).
Para Aristóteles, o habitante da cidade, aquele que tem o direito de participar
no governo da cidade e tem estatuto de cidadania, chama-se cidadão. Ou seja,
no fundo o cidadão tem o direito de participar nas deliberações que vão
conduzir à existência das regras que imperam na própria cidade. Devemos a
Aristóteles essa ideia de que ter o estatuto de cidadania equivale a ter a
capacidade de participar nestas decisões, através do voto. Este estatuto de
cidadão era atribuído apenas a determinados tipos de pessoas, excluindo-se
por exemplo as mulheres e os escravos. Para este, toda a sociedade era por
natureza uma sociedade política, não havendo distinção entre sociedade
política e sociedade civil, porque todos os cidadãos são membros da sociedade
e por isso todos eles têm não só o direito, mas também o dever de participar
nas deliberações da cidade. Essa ideia de dever de participação política
conduziu mais tarde à teoria do voto obrigatório. Sendo assim o homem não
era apenas um ser social, era também um ser vivo político.

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 Sobre a família e a propriedade privada

Apesar de Aristóteles ter sido aluno de Platão, traz-nos ideias contraditórias à


do mestre. Era contra a ideia de Platão de que a família e a propriedade
privada eram negativas e que conduziam ao egoísmo e ao individualismo.
Aristóteles acreditava que a família era um elemento natural ao homem e um
pilar fundamental na sociedade. Defendia a existência de propriedade privada,
porque não considerava a posse individual um mal, mas sim algo natural ao
homem, que sentia satisfação quando uma coisa lhe pertencia. O homem tem
um desejo natural de constituir família e propriedade privada.

 Sobre as classes médias

Aristóteles tinha outra ideia fundamental. Tal como Platão, considerava uma
sociedade só com pobres ou ricos muito perigosa, e que para haver uma
sociedade equilibrada é preciso haver um maior número de cidadãos da classe
média. Considerava que uma sociedade onde apenas conviviam ricos e pobres
era uma sociedade sujeita a conflitos e desordens. Sendo assim, a classe média
é uma base essencial à manutenção da paz social e da ordem.
Na ótica de Aristóteles, os cargos deviam ser rotativos, porque quem se
mantivesse muito tempo num cargo tornava-se degenerado e corrupto. A ideia
de perpetuidade de cargos era errada, não deveria haver cargos vitalícios; era
esta a forma de evitar a corrupção. Além disso, se todos têm o dever de
participar na vida política, então tem de haver rotatividade. Segue a lógica de
que a melhor forma de contruir uma cidade é todos nós termos um contributo
para essa mesma, portanto não há esta lógica de “os políticos” e “os
governados”. Temos o dever de trabalhar para esta cidade, não temos apenas o
direito, é um dever cívico.

 Sobre as formas de governo

Tal como Platão, Aristóteles tinha 3 formas de governo boas (sãs) e três
formas de governos más (degeneradas).
Também ele considerava que a Monarquia, o governo de um só, era uma boa
forma de governo, na perspetiva que o rei trabalha para o bem comum.
Considerava também, tal como Platão, que a monarquia, quando se perpetua
por bastante tempo transforma-se em Tirania, forma de governo má em que o
tirano só olha para o seu próprio interesse.
Considerava que a Aristocracia, o governo dos poucos, era um bom governo,
que apesar de ser uma minoria, era uma minoria que trabalhava para o bem
comum. Igualmente se este durasse muito tempo, iria transformar-se numa
Oligarquia, que é o governo de poucos e ricos, que só se preocupavam com
as suas vontades próprias, não no bem comum.

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Vai haver, entretanto, uma distinção muito grande entre Aristóteles e Platão.
Para Aristóteles há uma forma de governo boa chamada Regime
Constitucional. Aristóteles é o primeiro a defender um regime constitucional,
que é o governo de muitos, mas que pensam em todos, ou seja, governo da
maioria que não esquece a minoria. Governam de acordo com a lei. Esta
forma de governo podia-se degenerar numa forma de governo mau chamada
Democracia.
Na democracia à partida somos todos iguais, mas à chegada não somos. Por
exemplo na democracia a escolha é feita através do voto. Diz Aristóteles que o
voto é uma escolha, é uma seleção, e portante se eu estou a selecionar, estou a
dizer que um é melhor que o outro, ou seja estou a diferenciar. Portanto pode
haver uma igualdade à partida, mas não há uma igualdade à chegada. Segundo
Aristóteles, neste aspeto a democracia vai-se aproximar da Aristocracia, ou
seja, o povo vai continuar a selecionar aqueles que considera melhores.
Poderia haver então verdadeira democracia? Ou seja, igualdade à partida e
igualdade à chegada? Sim, se a escolha fosse feita por sorteio.

 Sobre a distribuição de poderes

Estas ideias de Aristóteles vão estar na base do pensamento de John Locke e


de Montesquieu. Para Aristóteles, todos os regimes constam de 3 partes:
 Em 1ª, as magistraturas deliberativas, estas deliberam sobre os
negócios do Estado como por exemplo, a declaração de guerra e de paz,
as alianças e os pactos, as leis, escolha dos cargos.
 Em 2º lugar, temos as magistraturas executivas, nestas temos a
concretização prática das deliberações tomadas na anterior. No fundo é
o desenvolvimento de programas da ação política.
 Em 3º lugar, temos as magistraturas judiciais, em que temos o
exercício da Justiça.
Em suma, Aristóteles define: 1º saber quem delibera e como delibera; 2º saber
quem executa e como executa e em 3º, saber quem julga e como julga. Para
Aristóteles, estes três pontos são a base de uma sociedade sã e justa.
Este propõe ainda uma especialização dos tribunais, por exemplo um tribunal
de contas, um tribunal criminal e um tribunal administrativo.

Em suma, Aristóteles defendia:


- A existência de um Estado era algo natural, assim como a família e a
propriedade privada;
- Todos os cidadãos deveriam participar na vida política;
- Formas de governo sãs: aristocracia e monarquia, degeneradas: tirania e
oligarquia;
- A forma de governo ideal seria um Regime Constitucional, mas esta podia se
degenerar e tornar-se numa democracia. Para ele a democracia não levava a
igualdade a longo prazo.

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- As classes médias eram algo crucial para o bom funcionamento da
sociedade;
- Muito tempo num cargo político levava a corrupção;
- Distribuição em 3 poderes: magistraturas deliberativas, executivas e
judiciais.

6. Cícero
Apesar de se considerar que foi Maquiavel o primeiro a falar da palavra Estado
(com E maiúsculo), a criar essa ideia de Estado, na realidade, aquele que lança as
bases para que mais tarde se venha a falar de Estado é Cícero, quando faz uma
distinção entre o Estado e o Governo. Cícero vem explicar que os governos
passam, mas o Estado continua sempre. (EX: clube de futebol, uma coisa é o
clube, outra coisa é a direção ou o presidente do clube. Estes, por muito
importante que sejam, podem acabar amanhã, mas o clube mantém-se.)

 Sobre o Povo, a Res Pública e o Governo

Cícero diz que o Povo não é um ajuntamento qualquer de pessoas. Cícero veio
dizer que a palavra Povo pressupõe para além dos laços linguísticos, culturais e
históricos. Só podemos falar verdadeiramente de um povo quando há um vínculo
jurídico entre cada um dos cidadãos que constituem um grupo (esse vínculo pode
ser a cidadania). Esta perspetiva de ligação jurídica, mais do que cultural até, é a
ideia relevante e inovadora no pensamento de Cícero. Daí a ideia de o Estado
garantir essa identidade jurídica do povo.
A terceira ideia, é que Cícero por fazer a distinção entre o Governo e Estado,
vem falar de algo chamado a Res Pública. Esta perspetiva de que há a coisa
pública que se distingue do bem particular e que deve se exigir a qualquer
Governo preservar a coisa pública. Esta não esta sujeita à vontade individual de
cada um, esta pertence a todos e a cabe ao Governo geri-la. Há um governo que
tem como função reger o povo, a cidade e a coisa pública.

 Sobre o exercício do poder político

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Cícero refletiu sobre o exercício do poder político. Qual deve ser o
comportamento de um governante? O governante deve sempre governar através
de leis justas, leis que devem privilegiar o bem comum e não apenas o individual.
Em segundo lugar, Cícero entendia que ninguém devia exercer duas vezes o
mesmo cargo sem um intervalo de dez anos. Que um bom governante não deve
exercer o mesmo cargo duas vezes seguidas.
Em terceiro lugar, Cícero entendia que um governante devia de dar sempre o
exemplo, um líder não pode exigir aos liderados um determinado comportamento
se ele não der o exemplo. Um governante não deveria também nem receber nem
oferecer presentes, para não gerar vícios ou difundi-los a outros.

Em suma, Cícero defendia:

- Distinção entre Estado e Governo;


- Um Povo é um grupo de pessoas que partilham uma ligação para além de
cultura e tradições, ou seja, quando existe um vínculo jurídico entre eles;
- Um bom governante deve dar o exemplo, e não deve exercer o mesmo cargo
duas vezes seguidas, deve ser sério e não aceitar presentes.
7. Santo Agostinho

Santo Agostinho era um bispo e notabilizou-se pela sua obra ‘’A cidade de
Deus’’ onde distinguia a cidade de deus e a cidade dos homens. foi dos primeiros
a considerar que o homem era mau por natureza. Foi um dos primeiros
pensadores cristãos da Idade Média.
Principais ideias:

 Sobre a natureza humana:

Este reflete sobre a natureza humana. Autores como Freitas de Amaral


consideram que foi Santo Agostinho o primeiro a dar o pontapé de partida sobre
esta questão. Este autor é um dos que entende que Santo Agostinho tinha uma
visão pessimista sobre o homem, a ideia de que o homem é por natureza mau.
Mas como é que alguém bom (Deus), cria um homem mau? Na sua obra, Santo
Agostinho diz que Deus criou o Homem à sua imagem, mas dá-lhe a liberdade de
escolha, liberdade de decidir que caminho quer seguir, ou seja, o livre arbítrio, de
escolher o bem ou o mal.
Santo Agostinho tinha então esta concessão de que o homem tinha liberdade,
livre arbítrio, para definir o caminho que queria.

 Sobre a origem do poder:

A propósito da origem do poder, se acredita que é Deus que cria o mundo, para
este é também deus que cria o poder, e Santo Agostinho vai ter nesta perspetiva
uma ideia fundamental. Para ele, o poder vem de Deus que o cria para o rei. É
Deus que determina quem é o rei, ou seja, um rei distinguido pela sua força e

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capacidade, é assim porque Deus determinou. Se eu quiser contestar as decisões
do rei, estou a contestar Deus. Ou seja, o rei é rei, não porque os homens
decidiram, mas porque Deus o decidiu. Foi Santo Agostinho que fundamentou e
consolidou as bases do poder do absolutismo, ou seja, eu sou um rei absoluto por
vontade de Deus, e quem protestar contra mim, protesta contra Deus.
Esta era a sua ideia de direito divino providencial – ideia de que tu és o que és
porque Deus assim o decidiu, e não se pode discutir a vontade de Deus, tu és rei
porque Deus assim decidiu. Durante muitos séculos, esta ideia do direito divino
providencial permitiu que os reis pudessem justificar a ideia de que nunca
poderiam ser contestados. É a perspetiva de que tudo o que acontece é fruto da
vontade divina que eu não posso contestar.

 Sobre os fins do poder:

O governante tem a finalidade de garantir a paz e preservar a ordem do seu


território. Não mandam pelo orgulho ou paixão de dominar, mas mandam pela
bondade de cuidarem de todos.

 Sobre a guerra justa

Santo Agostinho é o 1º a defender a ideia de guerra justa. Verifica-se hoje que na


Carta das Nações Unidas que por vezes a guerra é legitima e, esta ideia, vem das
ideias de São Agostinho, a ideia de que a guerra é má, mas que há guerras justas,
que em determinadas circunstâncias a guerra pode ser justificada.
Há a perspetiva de matar alguém, mas de matar em nome do bem e não por mal.
Há guerras justas que são legitimas, e as injustas são ilegítimas.
Quem decide se a guerra é justa? Agora, o conselho das nações unidas, na altura,
era o rei, que possuía a vontade de Deus.

Em suma, Santo Agostinho defendia:


- A origem do poder está em Deus, que vai do Rei para o povo.
- Rei > Povo.
- Deus cria o homem, mas o homem tem liberdade de ser o que quiser.
- Se alguém é rei, é assim porque Deus o decidiu, e ninguém pode contestar isso.
- O fim do poder é garantir a paz e preservar a ordem do seu território.
- A guerra é má, mas há guerras justas e que podem ser justificadas.

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8. São Tomás de Aquino
São Tomas de Aquino provoca uma autêntica revolução ao nível do pensamento
face àquilo que tinha sido defendido por Santo Agostinho. Vai-se inspirar em
Aristóteles, agarra se às suas ideias e converte-as ao Cristianismo.

Este vem procurar conciliar a fé, um dogma, aquilo que não se discute, com a
razão, aquilo que se discute, e vai dizer que não é impossível discutirmos sem
pormos em causa o dogma principal, que Deus existe, que Deus criou o mundo,
mas a partir desse dogma não é impossível que eu discuta que raciocine, que
questione as ideias que resultam dessa minha convicção. Ou seja, ele admite, que
se discutam as ideias, mesmo que estas ideias tenham a mesma fonte que São
Agostinho, que era Deus.
Ao aceitar esta discussão, ele vai iniciar uma escola, a chamada Escolástica, uma
escola baseada precisamente nesta dialética em que as pessoas são ensinadas não
a acreditar naquilo que lhes é ditado, mas são ensinadas de facto a refletir sobre
aquilo que lhes é ensinado.

 Origem do poder:

S. Tomas de Aquino também diz que o poder tem origem divina, mas enquanto
Santo Agostinho dizia que o poder vinha de Deus para o rei, e aquela pessoa é rei
por vontade divina, São Tomás de Aquino vem dizer que Deus criou o poder,
mas não o entregou ao rei, ele entregou o poder ao povo, e o povo é que vai

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transmitir o poder ao rei. A ideia de soberania popular, segundo vários autores
tem a sua origem em São Tomás de Aquino, este é o 1º a defender que o poder
pertence ao povo. O povo pode questionar o rei, pois Deus deu o poder
diretamente ao povo. O rei pode ser deposto caso se vire contra o povo. Há aqui
um rompimento total entre o detentor de poder e o destinatário do poder.

 Fim do poder:

Enquanto para Santo Agostinho o fim do poder era garantir a paz e preservar a
ordem, para São Tomás de Aquino, o fim do poder é apenas instituir uma vida
boa para a comunidade e trabalhar para o bem comum do povo. O governante
deve dirigir os seus principais esforços tendo em vista proporcionar uma vida boa
àqueles que governa. Acrescenta ainda que o rei tem que trabalhar para servir o
povo e para que essa vida boa seja conservada e que progrida.
Em Aristóteles, tudo começa com o povo, em São Tomás de Aquino, começa
com Deus, uma vez que ele criou o mundo e daí o poder.

Em suma,
- São Tomás de Aquino sustenta que o poder tem origem em Deus, mas que o
poder vinha do povo para o rei. Ou seja, Deus transmite o poder ao povo, e o
povo transmite o poder ao rei. O povo pode contestar o rei.
-Admite que se discutam as ideias, mesmo que ponham em causa a existência de
deus.

9. Maquiavel
Maquiavel foi um filosofo, historiador, poeta, diplomata e músico de origem
florentina do Renascimento. É reconhecido como fundador do pensamento e da
Ciência Política moderna, pois deu um contributo muito decisivo para a
existência da mesma. É para muitos o grande criador da ideia de Estado como
dimensão política.

 Surgimento do Estado

As cidades italianas estavam em permanente conflito e a serem conquistadas, e


Maquiavel entendeu que a única forma de sobrevivência era a união entre as
Cidades-Estados, ou seja, elas ganharem dimensão. Mais precisamente juntarem-
se e formar um Estado - a Itália (como hoje a conhecemos). A dimensão era
essencial para a afirmação de um poder político que pudesse competir com as
potências europeias. Maquiavel tinha essa visão da dimensão e assim cria a ideia
de Estado como nós o conhecemos.

 A política separada da moral

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Maquiavel, desde logo, separa o poder da moral. Maquiavel acredita que não é a
correção que o faz ganhar na vida, mas sim a conquista de poder.

Na sua obra, o Príncipe, aconselha o príncipe a não olhar a meios para alcançar
os fins que tenha em vista. A sobrevivência no mundo político exige, ou pode
exigir, atitudes que isoladamente consideradas chocam, ou podem chocar, quem
as observa. Admite que estamos perante a ideia de que os líderes políticos devem
ser avaliados pelos resultados, independentemente dos caminhos trilhados para os
alcançar. Os fins justificam sempre os meios, e como tal, a mentira, a mudança
total de posição face ao que tinha sido previamente dito e prometido, não deverão
nesta perspetiva merecer qualquer tipo de censura ou condenação, desde que o
sucesso seja atingido. Os líderes não devem temer ser criticados pelo mal que
pratiquem e pelas traições que cometam, desde que os seus objetivos sejam
atingidos. Assim, justifica a violência, compreende a tirania e abre as portas à
existência de ditaduras. Tudo o que for necessário para manter o poder, é
legitimo e deve ser feito independentemente de ser ou não moral.

Quem quiser adotar uma conduta de correção, de respeito pela verdade e em


consonância com princípios éticos, não deve optar pela atividade política.
Estamos diante o afastamento total e inequívoco da moral na vida política, e a
rejeição de que este tipo de comportamento possa ser tido por imoral. É, como
sublinha Freitas do Amaral, o fundamento da doutrina amoral de Maquiavel,
conjugada com o princípio da razão de Estado, e é, ainda, a consagração objetiva
de que há um mundo próprio da política e um mundo fora dela.

 A substituição da polis e da respublica pelo Estado

Profundamente empenhado em promover a unificação da Itália, exaltando o


sentimento nacionalista, de uma forma como ninguém o tinha feito até então, ele
faz depender da edificação do Estado a afirmação da futura Nação italiana.
O poder, da forma como o concebe, pode ser encarado como um fim, mas esse
fim tem por objetivo a construção do Estado, tendo em vista o futuro surgimento
da Nação. É um fim visando outro fim e esse outro fim é a Nação. Esta
nascerá depois da afirmação do Estado e este afirmar-se-á pela consolidação e
manutenção do Poder. O poder justifica-se porque a vontade de construir e
preservar a Nação o exigem.
Compreender a teoria do poder e sobre o poder de Maquiavel, implica perceber o
fim dos fins a que dedicou e destinou o seu estudo, a sua observação, o seu
pensamento e os seus textos. E esse fim dos fins era a organização política da
Nação, por isso que Maquiavel foi reconhecido, e justamente, como o pai do
moderno Estado-Nação.

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Em suma:

Maquiavel defendia:
- Primeira ideia de Estado-Nação
- O poder como um fim
- Os meios justificam os fins
- Nada é imoral se for para manter o poder
- O poder é um fim que busca outro fim que é a construção do Estado

10. Jean Bodin

Jean Bodin introduz um conceito novo em França- o conceito de soberania. Este


vem dizer que a soberania é o poder mais importante num território, e que dentro
do território ninguém manda mais que o soberano (quem impõe a soberania: um
rei, um chefe de Estado). É um poder que não está dependente de ninguém fora
do território nem deve nada a ninguém dentro do território. Bodin defendeu o
poder soberano e a monarquia absoluta, mas entendia que o rei não era dono e
senhor de tudo ao ponto de poder fazer de nós o que lhe apetecia. 

O rei é o único detentor do poder político, e está todo concentrado no rei (poder
absoluto) e este tem em posse os 3 poderes: legislativo; executivo e judicial.
Se é o rei que faz a lei, ele tem que se submeter à lei, mas se é ele que a faz,
amanhã pode alterá-la.
Bodin considerava que o rei apesar de ser soberano absoluto, tinha limites na
ação política, ou seja, ele não podia fazer tudo o que quisesse. Ele devia estar

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sujeito a limites, as leis divinas, a perspetiva de que Deus criou o mundo para que
o homem não sofra, logo o papel do rei, mesmo que seja absoluto, deve ser o de
seguir essa regra de Deus, trabalhar para o bem comum.
Bodin veio introduzir a ideia que o rei obedece aos poderes divinos, respeita as
ideais de Deus, mas não deve obediência ao Papa – respeita o. “Uma coisa é
respeitar a Bíblia outra é ter que fazer o que o Padre diz”.

‘’ A soberania é o poder supremo e absoluto na ordem interna, e supremo e


independente no exterior.’’

‘’A soberania é o poder absoluto e perpétuo de um Estado-nação’’.

Importa refletir se a ideia de soberania tal qual foi sustentada por Jean Bodin se
mantém ou não atualmente. Portugal faz parte da União Europeia, integra uma
organização internacional regional sendo que essa organização tem poderes que
lhe foram delegados pelos Estados membros. Se essa organização tem poder vai
buscar poder a alguém, ou seja, aos próprios Estados que criaram a organização.
Estes Estados partilharam a soberania que tinham sozinhos com uma organização
internacional.
Assim, o velho conceito de soberania associado ao estado nacional defendido por
Jean Bodin já não tem hoje na maior parte dos casos tradução objetiva e prática.

Temos que perceber que o conceito de soberania já não tem a mesma aplicação e
tradução prática no séc. XX e XXI.

Em suma:
- A soberania é o poder mais importante num Estado, não é dependente de
ninguém e ninguém manda mais que o soberano num território;
- O rei (soberano) é o detentor de todos os poderes, mas apesar disso tem limites
na ação política- os limites de Deus;
- Hoje em dia a soberania dos Estados está comprometida por organizações.
11. Thomas Hobbes

Thomas Hobbes viveu na guerra civil inglesa no momento em que escreveu a sua
grande obra, “A Leviatã”.

 Origem do Homem
Thomas Hobbes afirma que o ser humano nasce livre e vive num estado natural,
um estado em que cada um de nós é totalmente livre de fazer o que quiser sem
qualquer tipo de limites, o chamado ‘’estado selvagem’’ Concetualiza que o
“estado selvagem” é de maior liberdade, mas ao mesmo tempo de maior
confusão e insegurança, tornando essa liberdade inútil. Na sua ótica, num estado
selvagem, como não existem limites à liberdade, não dá para existir a ideia de
posse, nem de propriedade privada, uma vez que não há lei e ordem, porque
assim pode interferir na liberdade do outro.

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Hobbes veio dizer que num estado natural onde cada um é livre de fazer o que
quiser, essa liberdade vai-se virar contra nós, pois nós não podemos ser
verdadeiramente livres se não houver segurança. Ele tinha uma visão pessimista
do homem e que ele usava a sua liberdade para defender exclusivamente os seus
interesses, que era egoísta.
Hobbes viveu num estado caótico e considerou que a liberdade não lhe serviu de
nada porque vivia em insegurança; ou seja, entre a liberdade e a segurança
escolhia a segurança.

 O Estado e a segurança
Thomas Hobbes veio a colocar a questão da segurança, e de que nós sem
segurança nunca podemos beneficiar da liberdade.
Thomas Hobbes procurou transmitir-nos uma ideia clara e simples: o Estado é
necessário e é útil, é necessário porque se não existir e cada um de nós for dono
de si próprio e fizer aquilo que nos apetece em nome da liberdade, a liberdade
vai-se virar contra nós próprios. Tu não podes viver com liberdade sem
saberes que estás seguro. O valor da segurança é por isso um valor importante,
e quem dá a segurança é o Estado. É uma perspetiva de que o Estado é necessário
para garantir a minha própria vida. A segurança só aparece quando se passa do
estado selvagem para o estado de sociedade, e isto acontece quando um soberano
(rei) toma o poder.

Hobbes vem dizer que é o Homem que cria o Estado, e cria-o porque o Estado é
necessário e útil, porque se eu não tiver Estado, não tenho segurança, e por isso
não sobrevivo. Dizia também que para termos segurança, temos de vender a
liberdade.
Hobbes diz que tem que existir Estado para o nosso benefício, porque se cada um
fizer o que quer, ninguém irá conseguir viver. Ele constrói um raciocínio que nos
leva a perceber porque é que precisamos de ordem.

Em suma:
- O Homem nasce livre, num ‘’estado selvagem’’, onde a sociedade é perigosa
porque onde há muita liberdade há insegurança;
- Segurança como valor mais importante;
- O Estado é necessário para garantir a segurança de todos;
- Hobbes influenciou muitos líderes autoritários (Salazar, Mussolini).
- ‘’É preferível viver em Ditadura do que em Anarquia’’.
12. John Locke
Filósofo e Liberal Inglês, viveu durante o século XVII. O valor fundamental para
si era a liberdade.

 Origem do Homem
John Locke contraria Hobbes quanto à origem do Homem. Enquanto Hobbes
dizia o que o Homem era um ser que em estado natural era egoísta e
individualista, Locke dizia que no estado natural podem existir homens maus,

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egoístas e individualistas, mas apesar dessa existência o normal e racional é que o
homem seja social e racionalmente queria respeitar os direitos dos outros para
que precisamente os seus direitos sejam respeitados. Locke dizia que os homens
nascem bons e maus, não existe uma regra geral.

 Defende a propriedade privada


Locke afirma que a propriedade privada é natural ao ser humano e anterior à
sociedade civil. Acredita que é com o objetivo de garantir esta propriedade que
os homens saem do estado natural e constituem uma sociedade civil. Locke
considerava que um dos direitos naturais fundamentais era o direito à
propriedade. O sentimento de querer possuir algo era natural à essência humana,
e limitar este sentimento seria pôr em causa um direito com que nascíamos, uma
ofensa terrível.

 Defende a delegação do poder


Essa sociedade civil nasce quando os habitantes acordam entre si delegar
administradores para o território. Assim o governo é instituído por meio de um
“contrato social”, sendo os seus poderes limitados e envolvendo obrigações
recíprocas para com a sociedade que o pode depor. Acredita que em vez de
alienarmos o poder (Hobbes), devemos delegá-lo. Quando delegamos o poder em
alguém estamos a construir as bases para edificar um sistema representativo, ou
seja, vou me governar através de representantes, e o poder desses representantes
é um poder meu que delegamos neles. E num estado de sociedade o representante
representa aquele que é o titular do poder, aquele que votou nele. Locke diz que
iremos delegar o poder, mas não o perder. Porque o parlamento de tempo em
tempo é eleito e o poder está separado.

 Defende a Separação de poderes


Nesta altura, a base do poder era o Absolutismo.
Locke afirmava que o poder devia estar repartido e separado – “o poder travado
pelo próprio poder”. Foi seguidor de Aristóteles relativamente à separação de
poderes, afirmando que deveria haver órgãos distintos para julgar, legislar e
executar – esta perspetiva integra o conceito de Checks and Balances. Esta
teoria doutrina que o poder não deverá estar só na mão de uma pessoa, mas sim
separado, para poder haver um sistema de arbitrariedade e para nenhum dos três
ramos poder dominar os outros e ascender a uma ditadura. A principal
preocupação é manter a ordem, calma e segurança.
Locke diz que uma sociedade devidamente organizada não pode ser uma
sociedade onde a justiça é aplicada de modo individual e privada. Não pode
haver justiça privada, a justiça tem de publica, tem de ser global, as leis tem de
ser iguais para todos, portanto quem violar o direito de propriedade e não
respeitar a propriedade de cada um tem de ser julgado por um órgão
independente, os tribunais, por um juiz, e a aplicação da lei, ou seja, a
condenação, a aplicação da sanção tem de ser determinada pelo juiz e não pelo
próprio que foi violado ou violentado, daí Locke dizer que é importante que
passemos para um Estado de sociedade, desde logo para que a justiça não seja

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feita pelas mãos próprias. Locke, nesse sentido, defendia a separação de poderes
da seguinte maneira:

§ Poder legislativo: elaborar as leis- Parlamento


§ Poder executivo: executar as leis- Rei
§ Poder federativo: estabelecer relações internacionais- Rei

O pensamento liberal, especificamente o de Locke, é precisamente que o homem


nasce com direitos. E se nasce com direitos, o poder político tem de os respeitar.
Mas, para que o poder político respeite esse direito, não pode estar concentrado
num único órgão ou pessoa.
A melhor forma de defender os direitos individuais era conseguida através de um
poder que não está todo ele concentrado nas mãos de uma mesma pessoa.
A separação de poderes servia para garantir os direitos individuais de todos.

 Estado
Locke afirmava que o Estado tinha que ser criado com o intuito de defender a
liberdade das pessoas. Tinham que haver regras, sim, mas que servissem para
defender a liberdade e os direitos individuais de cada um.

Em suma, John Locke defendia:


- No estado natural podem existir homens maus, mas apesar disso o normal e
racional é que o homem seja social e bom;
- O direito à propriedade é um direito fundamental ao Homem;
- Em vez de alienarmos o poder (concentrá-lo numa só pessoa), devemos delegá-
lo (separação de poderes);
- Não devemos fazer justiça pelas próprias mãos, a justiça tem que ser global e
para isso é necessário a separação de poderes;
- Poder legislativo: elaborar as leis- Parlamento
- Poder executivo: executar as leis- Rei
- Poder federativo: estabelecer relações internacionais: Rei
- O Homem nasce com direitos e o poder político tem que os respeitar.
- O Estado servia para defender os direitos e liberdades individuais das pessoas.
- A separação de poderes servia para o mesmo.
- John Locke inspirou a Revolução Americana.

13. Revoluçã o Americana


A Revolução Americana, também conhecida como A Independência dos
Estados Unidos, foi declarada pelos colonos no dia 4 de julho de 1776 e marcou
o fim da colonização inglesa às treze colônias americanas. O processo de

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independência dos Estados Unidos manifestou a insatisfação dos colonos com a
política exploratória imposta pela Inglaterra a partir da segunda metade do século
XVIII.

 Contexto
A Colonização Britânica da América começou a formar-se no princípio
do século XVII, através das 13 colónias na América do Norte, que foram a
origem dos Estados Unidos da América. A colonização inglesa na América
assentava na exação do trabalho, a dominação etno-racial, no patriarcado e na
imposição do etnocentrismo na subjetividade inclusive. 

A razão que levou a Inglaterra a tentar a colonização da América do Norte não


foi a ambição de se tornar um Império Colonial, mas sim no interesse no
comércio e na superpopulação da nação, pois muitas pessoas foram para lá à
procura de liberdade religiosa porque na Inglaterra sofriam de perseguições
religiosas.

 Causas da Revolução
- Guerra dos 7 anos (disputas coloniais entre França e Inglaterra);
- Contestação ao sistema de exclusividade do comércio;
- Insatisfação pelo lançamento de impostos sobre o chá, açúcar e papel selado;
- Confrontos com o exército inglês;
- Ausência de representação das colónias no parlamento inglês;
- Sobrecarga fiscal

 Principais acontecimentos
- Os colonos, descontentes, reagiram a estes acontecimentos com a chamado
Boston Tea Party (1773). Os colonos disfarçados de índios assaltaram, em
Boston, alguns navios que se encontravam carregados com chá e lançaram a
carga ao mar. Deram assim inicio à Revolução Americana;
- Em 1774, no Congresso de Filadélfia, são exigidas as
mesmas liberdades e direitos que a Metrópole, bem
como o fim da exclusividade colonial. Forma-se um
exército liderado por George Washington;
-No dia 4 de julho de 1776, realiza-se o 3.º Congresso
de Filadélfia: a Declaração de Independência. Escrita
por Thomas Jefferson, Samuel Adams e Benjamin
Franklin, foi inspirada nos ideais iluministas.
- Seguem se várias batalhas com os ingleses (batalha de
Lexington, batalha de Saratoga, etc)
 Consequências
- Tratado de Versalhes (1783): a Inglaterra reconhece a
independência das 13 colónias;
- Fim da dependência inglesa;
- Formação da primeira república democrática;

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- Aprovação da primeira Constituição liberal (1787) que definia como
princípios:
§ A garantia dos direitos e liberdades dos cidadãos;
§ A soberania da nação;
§ A separação entre a Igreja e o Estado;
§ A separação tripartida de poderes.

 A Constituição Americana liberal de 1787


A Revolução Americana foi uma Revolução Liberal, pois designa o movimento
de revolta contra a restrição das liberdades e dos direitos. Define a liberdade do
individuo como um princípio supremo e inalienável. Define a limitação do poder
político, num sistema presidencialista. Defende que o Homem possui direitos
naturais, fundamentais, que não podem ser restringidos ou postos em causa por
nenhum poder.
Os direitos e liberdades do Povo e o exercício do poder político estão
consagrados na Constituição Americana, aprovada em 1787.

 Impacto da Revolução Americana


A independência e o novo modelo de organização política dos EUA tiveram um
grande impacto na Europa e na América Central e do Sul. A Revolução
Americana constituiu o modelo de uma nova sociedade e inaugurou um período
de revoluções no Ocidente- as Revoluções Liberais.

 Influência de Locke 
A revolução Americana de 1776 é claramente influenciada pelas doutrinas
de Locke: princípios de igualdade, direitos naturais do homem, soberania do
povo e direito de revolta da população. Os direitos naturais aos quais Locke se
refere são o direito à vida e o direito a propriedade privada – presentes na
declaração da independência americana. Foi baseado nestes e nos princípios
supracitados teorizados por Locke que os emigrantes a residir na colónia
britânica se revolucionaram e ergueram a atual maior potência. Estes princípios
deram à Revolução Americana uma ideia de superioridade moral que se
conjugou com uma teoria do governo em liberdade.

14. Montesquieu

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Montesquieu veio a seguir a Locke, sendo um grande admirador seu e também de
Aristóteles. Montesquieu inspira-se muito nas ideias de Aristóteles e vai dar
ainda um passo em frente em relação ao que Locke tinha defendido.

Montesquieu parte também do pressuposto que existem direitos naturais que não
podem ser ultrapassados. Além disso, concorda com a ideia de que a liberdade
individual é um valor que não pode ser posto em causa pela parte de nenhum
poder político.

 Qual é a grande inovação de Montesquieu face ao que já tinha sido


defendido por John Locke?

Montesquieu vem autonomizar o poder judicial. Vem dizer que o poder tem de
ser repartido em três:
§ o poder legislativo, ou seja, o poder de fazer as leis,
§ o poder executivo, o poder de as executar;
§ o poder judicial, que tinha de ser autónomo e independente dos restantes.

Aquilo que nós hoje conhecemos como uma das trave-mestres dos estados de
direito – a separação de poderes – vamos buscá-la, essencialmente, apesar de não
exclusivamente, a Montesquieu. Devemos ter os três poderes e os tribunais
devem ser independentes de quem legisla e de quem governa.

Montesquieu vai fazer uma separação total e absoluta do poder judicial do


executivo. Esta separação de poderes ainda hoje é vista como um dos elementos
fundamentais caracterizadores de um estado de direito e é algo essencial no
pensamento liberal.

A ideia essencial (“correta”) é que temos direitos que nos são inerentemente
naturais. Mas temos que lutar para que estes direitos sejam reconhecidos pelo
direito político, para que sejam assegurados no seio da sociedade.

Em suma, Montesquieu defendia:


- Limitação do poder absoluto: nem o rei, nem os restantes órgãos do governo e
da administração pública, poderão atuar com sacrifício ou desprezo dos direitos
individuais dos particulares - em especial, a vida a liberdade e a propriedade;
- Separação de poderes: foi este o princípio que ficou para sempre associado ao
nome de Montesquieu, na bem conhecida fórmula tripla: o Legislativo, o
Executivo e o Judicial. Se o poder se concentrar nas mãos de uma só pessoa, a
corrupção ganha palco.
- Reforma o poder judicial: O poder judicial tem que ser passivo, obediente às
leis e neutro. O juiz só tem de aplicar a lei aos factos, nem mais nem menos. Ou
seja, o poder judicial tem que ser independente do poder executivo.
15. Rousseau

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Rosseau vem contrariar bastante as ideias do pensamento liberal clássico. Jean
Jacques Rousseau introduz em termos muito objetivos as bases daquilo que mais
tarde será defendido e sustentando por muitos dos precursores dos pensamentos
comunistas.

 Origem do homem
Rousseau reconhece a existência de um estado natural. Mas, ao contrário de
Thomas Hobbes, diz que o homem é bom num estado natural. A sociedade é que
o vai perverter. O Homem, na sua iniciação, está habituado a ser bom, está
habituado a partilhar, está habituado a ter tudo em comum.

 Propriedade privada
Rousseau não concorda com a ideia de que o homem nasce com direito à
propriedade. Afirmava que no estado natural a tendência do homem é a de
partilhar, como se fazia nas tribos antigas. É o homem que inventa a propriedade
privada, quando decide construir um muro para delimitar o seu território.
Considera que os homens, quando nascem, não tem diferenciação, pois não tem
propriedade privada. Quando a ideia de propriedade privada nasceu é que se
originaram as desigualdades entre os homens. Rousseau dizia que a partilha é a
essência natural dos homens.

 Democracia direta
Rousseau vai construir uma tese dizendo que, se o homem é bom e a sociedade o
perverteu, nós temos a obrigação de lutar para a construção de uma sociedade
que crie o homem-novo, uma tentativa de ir ao encontro do homem bom que a
sociedade perverteu. Com base nestes pressupostos, Rousseau vai defender o
regresso à democracia direta. Rousseau não acreditava na delegação de poderes,
não acreditava no sistema representativo. Enquanto Locke e Montesquieu dizem
que o poder do rei tem de ser dividido pelos três poderes, Rousseau diz que a
soberania tem de ser do povo – soberania popular (convocaria assembleias,
aquilo que hoje chamamos de referendos). Se o povo quer manter o poder, não o
pode delegar.
A verdade é que todos estes pensadores abraçavam se na ideia de que aquilo que
é comum pode e deve ser mais relevante do que aquilo que é individual, uma
ideia iniciada com Cícero.
Rousseau era, então, um defensor da democracia direta, como ela existia na ágora
da Grécia Antiga, onde os cidadãos se reuniam para deliberar e decidir.
Rousseau defendia que a partir do momento que se realiza uma vontade
maioritária, a vontade da minoria desapareceria e seria englobada pela vontade da
maioria. Uma vez expressa a vontade da maioria, seria a vontade geral
“Governo do povo, pelo povo, para o povo”

16. Revoluçã o Francesa


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 Contexto e causas:
- No século XVIII, o reinado de Luís XVI caracterizava uma monarquia
absolutista (poder ilimitado e de origem divina);
- Luís XVI e a sua corte gastavam enormes quantias para sustentar os seus
privilégios;
- Influências das ideias iluministas no desejo por reformas políticas e económicas
e os ideais liberdade, igualdade e fraternidade;
- Fome, mau quadro económico francês;
- Divisão da sociedade francesa, pois não havia mobilidade social e a posição
social dependia do nascimento (clero, nobreza e povo);
- A burguesia sentia se prejudicada pela intervenção do Estado na economia.
- O clero e a nobreza não pagavam impostos.

A Revolução Francesa – que eclodiu em 1789, dezesseis anos depois da


independência das colônias americanas e apenas dois anos após a aprovação da
Constituição dos EUA (1787) – foi, das três, a mais profunda, a mais complexa e
a que mais marcou as mentalidades e as instituições europeias.

É certo que, em muitos aspectos, a Revolução Francesa se assemelha bastante à


americana: passagem do absolutismo para o liberalismo político; abolição dos
privilégios feudais; extinção dos estatutos especiais da Nobreza e do Clero;
Constituições escritas; reforço das garantias jurídicas do cidadão frente ao
Estado.

Mas a Revolução Francesa foi muito diferente - e mais radical - do que as outras
duas, em vários aspectos essenciais:
1) Foi vivida e sentida pelos Franceses, após mil anos de monarquia
aristocrática e depois absoluta, como um ato de repentina libertação
individual de cada súbdito transformado em cidadão
2) Na sua primeira fase, liberal, a Revolução Francesa produziu documentos de
significado e alcance universal, sobretudo a “Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão”, de 16 de agosto de 1789, que foi sendo repetida por
toda a Europa e, a seu tempo, no resto do mundo;
3) Nesta fase moderada – reconhecimento de direitos e liberdades individuais,
Constituição escrita, separação dos poderes –, a Revolução francesa foi
saudada em toda a Europa (com exceção da Inglaterra) como um “momento
ímpar” da História Universal: nesse sentido se pronunciaram de imediato, na
Alemanha, nomes tão geniais como Göethe, Kant e Hegel;
4) Foi a Revolução Francesa, bem como os seus continuadores diretos que
estabeleceu as bases do atual Direito público e privado europeu continental
(nas áreas do Direito Constitucional, Administrativo, Civil e Penal);
5) A Revolução Francesa gerou, e instalou duradouramente, o dualismo ou
bipolarização políticos em cada país - direita/esquerda,
conservadores/radicais, moderados/radicais, individualismo/coletivismo, via
eleitoral/via revolucionária, paz interna/terror;

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6) A Revolução Francesa - com os seus ideais, princípios e normas, alastrou a
toda a Europa: primeiro, em consequência de invasões militares (Itália,
Bélgica, Espanha, Portugal) e, depois, mediante contágio ideológico
(Alemanha, Áustria, Suíça). Do nosso continente seguiu para a América
Latina e, de fevereiro a outubro de 1917, procurou instalar-se na Rússia. Em
Portugal foi revivida, emocionalmente, por três vezes: com a Revolução
liberal (1820), com a Proclamação da República (1910) e com o 25 de Abril
(1974);

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17. Revoluçã o Americana e Revoluçã o Francesa

Um último conjunto de semelhanças e diferenças marcou as Revoluções


Americana e Francesa.
§ Se ambas as Revoluções tiveram na base um forte desejo de liberdade, a
América proclamou sempre que, além da liberdade, pretendia assegurar
aos seus filhos a busca da felicidade individual; diferentemente, a França
declarou a si própria e ao mundo que, além da liberdade de cada um,
queria que o Estado atuasse no sentido de garantir a igualdade entre todos
os homens.
§ Os EUA apostaram no liberalismo económico e na concorrência para
aumentarem a riqueza individual do maior número; ao passo que a França
e a Europa em geral apostaram no intervencionismo crescente do Estado
para reduzirem o mais possível as desigualdades sociais.
§ O american dream ainda hoje consiste na divisa “liberdade e felicidade”,
enquanto o idéal européen pretende alcançar “liberdade e a igualdade”.
§ Devido a isso, na América, os dois principais partidos são um partido
conservador (chamado «Republicano») e um partido liberal (chamado
‘’Democrático’’), ao passo que na Europa os principais partidos são os
conservadores-liberais e os socialistas democráticos; daí, enfim, que na
América a educação, a saúde e a segurança social sejam
predominantemente privadas e, na Europa, predominantemente públicas.
§ Revolução Americana: a liberdade e felicidade, as duas grandes ideias
fundamentais do constitucionalismo norte-americano. Igualdade perante a
lei, todos somos livres e iguais perante a lei, mas essencialmente liberdade
e felicidade, tens que ser livre e ter a liberdade de ser feliz, respeitando a
lei, e a liberdade do outro. Portanto, a perspectiva de que eu tenho direito
a felicidade, a felicidade é uma coisa individual, é subjetiva, é de cada um,
perspectiva individualista.
§ A Revolução Francesa vem dizer liberdade e igualdade, vem dizer que
o grande objetivo da revolução é combater as injustiças e as desigualdades
sociais. A perspetiva dos franceses era de liberdade e igualdade, mas não
era a igualdade dos americanos que era a igualdade perante a lei, era uma
igualdade social, a ideia de combate às desigualdades e injustiças sociais,
com uma perspectiva de igualizar a sociedade e fazer com que a sociedade
trabalhe para que a diferenciação seja o menor possível.

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18. Revoluçã o Industrial Inglesa
 Contextualização

Por Revolução Industrial, compreende se o período de grande desenvolvimento


tecnológico que foi iniciado na Inglaterra a partir da segunda metade do século
XVIII. Com o tempo, esse desenvolvimento espalhou-se para outras partes do
mundo, como a Europa Ocidental e os Estados Unidos. Assim, surgiu a indústria,
e as transformações causadas por esta possibilitaram a consolidação do
capitalismo.
A Revolução Industrial ficou marcada pelo desenvolvimento tecnológico e de
máquinas que transformou o estilo de vida da humanidade.

 Maiores transformações

A economia, a nível mundial, sofreu grandes transformações. Esta era, de um


modo geral, praticamente agrária e passou a ser de produção industrial em massa,
o que levou a concentração de bens num grupo social, a burguesia (os
capitalistas, ricos), sobrepondo-se ao proletariado (os trabalhadores).
O processo de produção de mercadorias acelerou-se bastante, já que a produção
manual foi substituída pela utilização da máquina a vapor. O resultado foi o
estímulo à exploração dos recursos da natureza de maneira excessiva, uma vez
que a capacidade produtiva aumentou. Produzia se bens em massa e de uma
maneira extensiva.

 Os trabalhadores

A Revolução Industrial também impactou as relações de trabalho, gerando uma


reação dos trabalhadores, cada vez mais explorados no contexto industrial. Os
seus salários diminuíram, uma vez que se deu mais utilidade às máquinas. Os
trabalhadores viam se a aceirar turnos de trabalho bastante extensivos que
podiam durar até 16 horas e eram obrigados a trabalhar em trabalhos perigosos,
sem nenhuma segurança e com pouquíssimas condições. Eram fortemente
explorados em prol da obtenção de lucro.

 Respostas à Revolução Industrial

Em pouco tempo e como uma resposta a toda uma massa responsável pela
produção de riqueza na era industrial, surgiram novos ideais. Vivenciando bem
essa época, Karl Marx e Friedrich Engels atuavam como importantes
pensadores sobre as contradições que marcavam a sociedade burguesa.

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Paralelamente, vários trabalhadores aglomeravam-se em pequenas sociedades,
interessadas na luta contra a miséria e na desigualdade de sua própria classe.

Rodeados por tantas manifestações de transformação, Marx e Engels realizaram a


produção do chamado “Manifesto Comunista”. 

 O Manifesto Comunista

Pontos principais:

 Luta de classes. Para Marx e Engels, a sociedade burguesa moderna surgiu


das ruínas da sociedade feudal e não aboliu os antagonismos de classe,
pois estabeleceu, de mesma maneira, novas classes, a burguesia e o
proletariado, com condições de opressão que não existiam no passado.

 “O proletariado não só́ era a classe explorada pela burguesia, criadora da


riqueza que esta convertia em capital, como era a classe que crescia com o
próprio capital”.

 O Estado nasce dos antagonismos entre as classes, sendo que para a classe
burguesa o Estado constitui se em prol dos interesses dela e sobrepõe-nos
aos do proletariado. (‘’Os capitalistas criaram o Estado para se defender e
estão se nas tintas para os direitos dos trabalhadores’’).

 ‘’Mais importante do que a nacionalidade, mais importante do que a


nascença, é a condição do operariado, e todos os operários tem de se
juntar e revoltar contra o Estado.’’

 Luta de operários contra capitalistas. (‘’proletários de todo o mundo uni-


vos’’).

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